História Codename - First Glance

Agosto de 2017, Xangai, China.

Yixing estreitou os olhos e respirou fundo, apertando firmemente a bola na mão que faria o arremesso. O sol estava absurdamente quente naquele dia, sentia o couro cabeludo sufocado debaixo do seu boné com a logo do Eastsea. O suor escorria por suas têmporas enquanto ele se concentrava ao máximo para fazer sua jogada.

A arquibancada favorável gritava seu nome em uníssono, podia ver as garotas histéricas erguendo placas com suas iniciais e aquilo sempre o fazia abrir um sorrisinho debochado. Se elas ao menos soubessem que ele estava longe de sentir atração por mulheres, talvez não desperdiçassem tanta energia apenas torcendo por ele.

Zhang Yixing era o melhor pitcher do Eastsea, sua boa fama ia muito além de seu rosto bonito e corpo atlético. Tinha muito talento para interpretar o rebatedor adversário e quase sempre era bem sucedido em fazer um strike. Assim que foi dado o sinal, ele tomou impulso e lançou a bola com uma postura impecável. Apesar de ter sido um lançamento perfeito, daquela vez o adversário foi capaz de rebatê-lo e logo saiu correndo em direção à primeira base.

Seu trabalho havia acabado momentaneamente e restava aos seus companheiros de time que impedissem que o corredor alcançasse a terceira base. Durante aquele breve momento que teve antes do próximo lance, Yixing pode olhar a multidão com um sorriso no rosto.

Ele adorava aquilo. Amava a sensação de estar rodeado por tantas pessoas e de ser, mesmo que momentaneamente, o centro da atenção delas. Claro, a decisão de se dedicar o baseball e entrar na liga profissional não havia sido tomada com base apenas em sua satisfação em ser alvo de olhares, ele amava o esporte, embora também fosse muito bom em usufruir da fama subsequente.

O jogo seguiu e Yixing, precisou tirar seus olhos do público, ainda faria mais um arremesso antes do fim daquele tempo.

Na arquibancada do time adversário, J1nx mastigava um chiclete sem muita empolgação. Estava disfarçado, assim como sempre estava quando saía de seu esconderijo. A ocasião pedia um traje apropriado, portanto daquela vez suas camisetas planas haviam sido substituídas por uma do time visitante. Um boné virado para trás e os óculos de sol com armação transparente, fiéis companheiros em atividades diurnas, completavam o que seria o disfarce perfeito para se misturar na multidão.

Não era fã de esportes, preferia muito mais usufruir seu raro tempo livre com cultura pop japonesa e blockbusters americanos. Era difícil entender o entusiasmo que todas aquelas pessoas desperdiçavam apenas para torcer por um esporte repleto de regras e sem acontecimentos interessantes. Era só a droga de um jogo, para ele, aquilo não valia o esforço de derreter sob o sol de 30 graus do verão de Xangai.

Apesar de suas ressalvas com o esporte, não fazia diferença se J1nx estava se divertindo ou não, afinal, estava ali a trabalho. Seus olhos castanhos se voltaram para o telão em que mostrava o placar e logo em seguida focaram no mostrador de seu smartwatch. Estava quase na hora.

Os times trocariam de posição para dar início a uma nova rodada e seria ali, naquele momento, que tudo aconteceria.

- J, está tudo posicionado. – A voz de Yifan soou chiada na escuta encaixada em sua orelha.

- Ainda falta um arremesso. – O barulho da torcida era tão alto, que os homens ao seu lado não ouviram sequer uma sílaba do que dissera para o ponto eletrônico.

- Certo. Então você liga o troço, quero ir logo para casa. – Resmungou. Yifan era um preguiçoso, ainda assim, nunca negava ajuda a J1nx.

J1nx na verdade era Kim Junmyeon, um dos melhores hackers da Coreia do Sul. Seu codinome significava que quem quer que tivesse que encará-lo estaria com muito azar. Era perito em ser sorrateiro, a inteligência sul-coreana já passara por maus bocados tentando rastreá-lo. Por causa de seu sucesso em derrubar sistemas e invadir computadores com informação ultra preciosas, J1nx era procurado em ao menos cinco países da Ásia. Apesar disso, nunca faltavam clientes em busca de seus trabalhos.

Era excelente em descobrir segredos para quem se interessasse, mas, é claro, ele só o faria em troca de um bom pagamento. Se iria quebrar leis, preferia que saísse muito bem recompensado, mesmo que nem sempre com dinheiro. J1nx, melhor do que qualquer pessoa, sabia do valor incalculável de uma boa informação.

Por conta de suas inúmeras infrações, ele vivia na surdina, se arriscando em passeios apenas quando a cidade dormia. Na maior parte do tempo ficava trancado em seu apartamento, contudo, em situações especiais como aquela, ele se dava ao luxo de agir durante o dia.

Seu alvo da vez estava na ala VIP da arquibancada da torcida do Eastsea rodeado por seguranças e bajuladores, o primeiro ministro da China, Li Keqiang. J1nx soltou um suspiro pesado. Não gostava de se envolver com gente muito importante, aquilo sempre trazia os olhares para si e iniciava uma perseguição cansativa, algo que ele, particularmente, detestava.

Geralmente, evitava mexer com esse tipo de pessoa, pois não era algo muito favorável para seus negócios. Entretanto, naquele caso, havia sido convencido pelo que encontrara nos arquivos do senhor Li. Aquele era um homem que não era digno de ocupar um cargo de confiança, ele merecia cair e J1nx não se opunha a derrubar aquele tipo de gente.

A arquibancada em que estava foi subitamente preenchida por uma onda de lamentos, enquanto o lado do Eastsea ovacionava com todo fervor. No telão, o pitcher do Eastsea sorria charmoso para a câmera, exibindo uma covinha pouco discreta. Havia feito três strikes e eliminado o último rebatedor da rodada. A torcida adorou, mas J1nx apenas abriu um pequeno sorriso em deboche. Era só a droga de uma bola indo da mão de um cara para outro.

Os jogadores começaram a trocar de lugar no campo, o que significava que enfim chegara a hora de agir. J1nx se levantou e começou a caminhar despreocupado na direção dos banheiros, ninguém parecia consciente de sua presença ali. Perto da saída da arquibancada, ele discretamente levou o indicador ao relógio, lançando no telão e em toda rede de televisão nacional em que aquele jogo era transmitido, que a mão direita do presidente era na verdade um pedófilo.

✤

Antes que a nona e última rodada do jogo pudesse acontecer e terminar na vitória evidente do Eastsea, tudo parou. Yixing viu todos os olhares se fixando no telão e foi inevitável que também se virasse para ver o que causara aquilo.

Uma voz alterada saía das caixas de som acusando o primeiro ministro de abusar de inúmeras crianças, citando números e contatos de Li Keqiang que eram responsáveis por acobertar e gerenciar seus crimes.

No telão, fotos eram exibidas em slide, seguidas de um pequeno vídeo gravado escondido. Um longo momento de comoção atingiu o público, que logo se transformou em uma ensurdecedora onda de vaias e xingamentos para o primeiro ministro.

Os seguranças de Li imediatamente iniciaram uma tentativa desajeitada de desconectar o telão e de tirar o ministro dali sem causar mais estragos. Entretanto a polícia já estava posicionada para levá-lo para dar explicações. Apesar de Li ter sido rapidamente escoltado para fora do estádio, ainda precisava ser resolvido o problema do telão e da transmissão. Por esta razão, os técnicos pediram que fosse dado um tempo mais longo até que o sistema normalizasse.

Os jogadores saíram em direção do vestiário, todos compartilhando entre si não apenas o choque da descoberta, mas também a dúvida de quem poderia ter invadido o sistema daquela forma.

Yixing os seguiu até certo ponto, mas parou na entrada do vestiário. Algo em sua mente parecia ter clicado e o fez olhar para trás. Toda a torcida adversária se encaminhava para a saída para desfrutar do intervalo, ou ao menos tentar desfrutar, após aquele choque. Entretanto, o olhar de Yixing se focou em um único homem que ainda não estava se movendo.

Era impossível distinguir sua expressão de onde estava, mas Yixing sentiu algo dentro de si se alterar levemente. Era um homem jovem, isso Yixing pode ver mesmo à distância, usava boné para trás e óculos escuros. Tinha os braços cruzados diante do peito e parecia dedicar um leve momento para observar a situação.

Por um breve segundo, Yixing pode jurar que ele também o encarava de volta. Embora tudo pudesse ser uma invenção de sua cabeça.

- Gege, você não vem? – O rosto juvenil de Sicheng surgiu na porta, fazendo com que tivesse um leve sobressalto.

- Oh, sim, estou indo. – Respondeu, embora seu corpo ainda tivesse levado um bom momento até sair do lugar. Yixing procurou pelo homem na arquibancada uma última vez, mas ele já não estava mais lá.

✤

O que acontecera durante aquele jogo tomara conta dos noticiários durante toda a semana, assim como também se tornara o assunto número um em todas as rodas de conversa. O primeiro ministro era um pedófilo, aquilo era o suficiente para render horas de discussão sobre a confiança dos homens do presidente e conspiradores.

Apesar de se preocupar com os reflexos daquela notícia sobre a República da China, Yixing preferia não comentar sobre assuntos políticos com as pessoas. Era cansativo e as pessoas costumavam levar as coisas de forma muito intensa para o lado pessoal. Achava melhor poupar sua mente daquele tipo de estresse, especialmente quando a final do campeonato estava tão próxima.

Era uma segunda feira à noite e Yixing não tinha nada para fazer, tampouco para assistir. Se ligasse para qualquer um dos seus colegas de time, eles certamente teriam um programa para lhe incluir, mas não estava muito interessado em interagir socialmente naquele momento.

Contudo, estava entediado demais em casa e gostaria de se ocupar. Yixing acabou optando por dar uma volta de carro e parar em algum lugar para jantar, assim poderia usufruir um pouco de tempo consigo mesmo e também aproveitar a brisa suave da noite de verão.

Empolgado com a própria ideia, enfiou os tênis nos pés e partiu em direção ao estacionamento assoviando e agitando as chaves no ar. Do lado de fora, não havia uma única nuvem no céu e as ruas estavam iluminadas e movimentadas.

Tinha planos de ir até Nanjing Lu e jantar por lá, estava quase salivando pensando no que escolheria para comer, quando seu carro começou a morrer durante o trajeto. Foi obrigado a encostar e soltou um resmungo de derrota ao constatar que estava parado numa rua com pouco movimento. Yixing conferiu o painel, ao menos o problema não era gasolina, o que era algo um pouco pior de se constatar.

Ele revirou os olhos e saiu do carro, com sorte talvez encontrasse um torcedor do Eastsea por ali que lhe desse uma ajuda de imediato, mas provavelmente ele teria que chamar o guincho.

Havia fumaça saindo do capô de seu carro, Yixing não entendia nada de mecânica, então nem mesmo tentou abrir para ver se poderia resolver o problema, já que ele não se recordava sequer de como uma vela se parecia. Sacou o celular do bolso para ligar para o seguro, mas foi surpreendido com a tela completamente preta. Sem bateria.

- Isso é brincadeira? – Ele falou incrédulo para a tela do celular, talvez na esperança de que o aparelho subitamente se acendesse e lhe pedisse desculpas pela brincadeira de mau gosto. Nada disso aconteceu.

Yixing suspirou e olhou ao redor na esperança de encontrar alguém disposto a ajudá-lo. Não encontrou exatamente uma pessoa, mas havia uma pequena loja de conveniência na esquina em que certamente teria alguém com um telefone para lhe ajudar.

Ele trancou o carro e correu até a conveniência como se ela fosse a porta para sua salvação. Era um pequeno mercadinho e àquela hora da noite não havia quase ninguém, além de um único rapaz que discutia fervorosamente com a senhora no caixa.

- Escute, você cobrou errado, veja. – Ele apontava para a etiqueta com o preço e em seguida para o monitor. – Aqui está escrito dez yuans, você está me cobrando quinze.

A senhora agitou a cabeça freneticamente em uma negativa e falou que o valor do código de barras é que era o certo. O rapaz não parecia muito convencido, mas seu domínio do mandariam não era muito bom. O fato de ser estrangeiro significava que a senhora não ia ajudá-lo a pagar mais barato.

- Boa noite. – Yixing interrompeu a discussão e ficou sem jeito quando os dois se voltaram para ele com cara de quem estava interrompendo algo muito importante.

A senhora era um pouco rechonchuda, devia estar na casa dos cinquenta anos. Tinha cabelos grisalhos e usava óculos no estilo tartaruga. Aparentava ser uma velhinha simpática, desde que não argumentassem contra os preços do seu estabelecimento.

Já o rapaz... Yixing engoliu seco quando olhou para ele. Tinha cabelos escuros e uma franja generosa que se partia em dois sobre sua testa, sua tez era pálida, mas não do tipo que parecia adoentada, era uma cor clara que contrastava lindamente com seus cabelos e olhos escuros. As bochechas eram levemente proeminentes e a boca pequena. Era muito bonito, mas mais do que isso, fazia com que Yixing sentisse uma estranha sensação de déjà-vu.

- Meu carro quebrou, infelizmente meu celular também está sem bateria, será que podem me emprestar um telefone para que eu possa contatar o seguro?

A senhora imediatamente falou que emprestaria o celular por cinco yuans. Já o rapaz olhou muito fixamente para Yixing por um instante, fazendo-o questionar se ele o estava reconhecendo como jogador de baseball.

- Eu empresto. – Ele sacou o celular do bolso do moletom e desbloqueou a tela. – Qual o número?

Então Yixing se deu conta de que o número estava salvo em seu celular, morto no momento.

- Ahh, eu não sei decorado. – Yixing bateu na própria testa, se sentindo um pouco constrangido por estender ainda mais o pedido de favor. – Deve ter um cartão no meu carro, se puder me acompanhar até lá...

O rapaz suspirou e pediu um momento para resolveu a discussão com a senhora no caixa. Ele estava tentando comprar uma pequena refeição congelada e cerveja, mas a senhora voltou a agitar a cabeça em uma negativa. Yixing então achou apropriado intervir.

- Escute, ela não irá fazer mais barato para você por causa do preço na etiqueta, ainda mais porque você parece ser de fora.

- Ah, não. – Lamentou derrotado. Ele provavelmente tinha os quinze yuans, mas sem pensar duas vezes, Yixing tirou a carteira do bolso e pagou pela compra dele.

- Xie xie! – Agradeceu educadamente com as duas mãos unidas diante do peito.

O rapaz sorriu amarelo e também agradeceu, um pouco a contragosto.

- Obrigado. – Disse a Yixing enquanto saíam pela porta da conveniência. – Eu poderia ter pago, sabe? Só achei injusto ela me cobrar algo diferente do que estava na etiqueta.

- Entendo. – Yixing disse com um meio sorriso. – Mas, por favor, não se preocupe com isso. – Ele o olhou parecendo um tanto desconfortável, aquilo fez com que Yixing sorrisse um pouco mais largamente. – Você está me reconhecendo. – Aquela não foi uma pergunta.

- Sim, você é o pitcher do Eastsea. Eu me lembro de você daquela partida.

Era claro que lembrava, Yixing era o astro do time, embora esperasse que ele desse como justificativa os inúmeros outdoors com sua cara estampada espalhados por toda a China. Naquele instante, Yixing sentiu de novo, aquela secura na boca e aquele sentimento intenso de já ter topado com aquele homem antes.

Mesmo que tivesse a plena certeza de que nunca o vira antes, sentia que ele era familiar.

- Você está correto, sou Zhang Yixing, pitcher do Eastsea, você quer um autógrafo?

Um pequeno sorriso se formou no rosto do outro.

- Não, obrigado. Se eu pegar o seu autógrafo provavelmente será apenas para vendê-lo depois na internet.

- Ouch! Essa doeu. Não gosta de baseball?

- Nada contra seu trabalho, mas esporte está longe de ser algo que vá me entreter.

- É mesmo? Então o que entretém você?

Ele abriu um largo sorriso e deu de ombros. Não falaria mais do que aquilo.

Chegaram ao carro e Yixing rapidamente vasculhou em busca do cartão do seguro, o rapaz o passou o celular e ele enfim pode ligar e pedir que fossem buscar seu carro.

- Seu celular, muito obrigado.

- Por nada. – Disse devolvendo o aparelho para o mesmo bolso do moletom em que ele estivera antes. – É um prazer ajudar. Sabe, se ia pagar quinze yuans pela minha refeição, sairia mais barato se você tivesse pago apenas cinco pelo celular da senhora.

- Oh, é verdade! Não pensei nisso! – Os dois riram em uníssono e Yixing sentiu um calor confortável em seu peito. – Agora me dei conta de que nunca perguntei seu nome.

- É melhor que não pergunte. – Respondeu com o sorriso, mas Yixing via algo mascarado ali.

- Não vai dizer seu nome? – Yixing franziu o cenho, mas continuou sorrindo, um tanto incrédulo.

- Você não quer saber meu nome, pitcher Zhang Yixing. – Ele deu as costas, pronto para partir.

- Espere! – Yixing mordeu o lábio, não sabia o que estava fazendo flertando com aquele cara estranho. – Fique um pouco, ao menos até o guincho chegar aqui. É ruim ficar sozinho nessa escuridão.

- Você tem medo do escuro?

- Se eu disser que tenho, você fica?

Ele olhou por cima do ombro com um sorriso que Yixing não poderia definir com outra palavra além de radiante. Um lindo sorriso, bonito demais para que Yixing não retribuísse com um sorriso tão largo quanto. Naquele instante, soube que ele ficaria.

✤

- Você pode me chamar de J, sabe, para não ficar estranho conversar comigo. – Junmyeon não sabia porque estava dando a inicial do seu nome verdadeiro para aquele cara, podia facilmente ter mentido um nome qualquer, ele não duvidaria.

Entretanto, havia algo sobre aquele cara que parecia mexer consigo. Era difícil mentir para ele, assim como também era quase impossível negar alguma coisa àquele sorriso de covinhas. Seria saudável evitar aquele cara.

- J? Certo, é J então. Eu sou Zhang Yixing.

- Você já disse isso. – Rir foi quase natural.

- Ah, é verdade. – Yixing subitamente sentira o estômago rugir alto, tinha certeza que J também havia ouvido. Havia saído de casa para jantar, mas seu carro havia ido para o prego e ele não conseguira comer nada. Devia ter se lembrado de comprar algo na conveniência, mas a fome não havia sido sua primeira preocupação quando estava lá. – O que você tem aí nessa sacola? Alguma comida?

- Uma lasanha congelada e cervejas, não acho que dê para comer a lasanha aqui sem ajuda de um micro-ondas, mas posso abrir a cerveja.

Os dois estavam sentados na calçada, ao lado do carro. Yixing não gostava de beber de estômago vazio, tampouco quando dirigia, mas, bem, não tinha mais carro para dirigir naquela noite.

Yixing observou enquanto ele abria a lata de cerveja e lhe passava. Depois de tomar um gole, ambos respiraram fundo, como se aquele único gole fosse suficiente para espantar o cansaço que ambos sentiam.

Junmyeon sabia que ele tinha muitas perguntas, a curiosidade estava estampada em seu rosto, mas também havia uma certa cumplicidade no modo em que ele o encarava que o fazia se sentir bem ali. Estava acostumado a ser evasivo com todas as pessoas, entretanto, não pode recusar a dividir uma cerveja na calçada com Zhang Yixing.

- Me parece que você tem muitas perguntas. – Ele disse depois de tomar mais um gole. – Eu não posso responder nenhuma delas.

- Nenhuma?

- Bem, talvez uma ou duas, dependendo do que você quiser saber.

Yixing apertou os lábios e o encarou muito demoradamente, pensando.

- Sendo assim, eu tenho duas perguntas.

- Okay.

- Você estava na arquibancada do jogo em que houve o escândalo do primeiro ministro?

Junmyeon franziu o cenho levemente e aquilo o denunciou, sim, ele estava. Restava saber se ele diria aquilo para Yixing.

- Sim, eu estava lá. Por que perguntou?

- Porque desde que o vi hoje à noite, não pude me livrar da sensação de que já o tinha visto antes.

- Mas você me viu? Tinham centenas de pessoas no estádio.

Yixing tomou um gole de sua cerveja e agitou a cabeça de um lado para o outro, já podia sentir o leve torpor do álcool agindo sobre seu corpo.

- Provavelmente é apenas loucura minha.

- Você desperdiçou uma pergunta com loucura?

- Desperdicei? – Yixing deu de ombros. – Agora já está feito, mas eu tenho outra pergunta.

- Então pergunte.

- Você está livre na sexta?

A primeira reação dele àquela pergunta foi o choque. Por um instante esperou que Yixing risse daquilo e dissesse que era apenas uma brincadeira, mas olhando bem em seus olhos, Junmyeon soube que aquilo era sério.

- E-eu... – Ele devia negar. Ele mal saía de casa para compras, encontros estavam fora de cogitação, contudo, uma pequena parte dentro de si havia entrado em combustão apenas com aquela possibilidade. Se viu hesitando, gaguejando, justo ele que era excelente com as palavras. – Eu não posso Yixing, me desculpe.

- Por que? Você é hétero? – Ele soou honestamente magoado. Yixing sentia que estava alterado pelo álcool e sua tendência a falar abobrinhas pelos cotovelos era bem maior.

Junmyeon riu a ponto de suas bochechas ficarem cor de rosa. Provavelmente era uma péssima ideia ficar bêbado com um cara que acabara de conhecer, mas também era tão divertido. Yixing era divertido e só ele sabia o quanto sua vida era carente de diversão. Mas era melhor não arriscar, aquele era um luxo do qual ele não podia desfrutar.

- Você é muito doce, Yixing, mas eu não vou a encontros.

- Por que não? – Yixing falava com um garoto manhoso e Junmyeon achou prudente afastar a lata de cerveja dele. Infelizmente, ela já estava completamente vazia.

- Você não é do tipo que bebe muito, não é mesmo? – Junmyeon sorriu, mas havia um certo pesar em seu tom. Yixing era adorável e ele gostaria muito de sair com ele.

O farol do caminhão do guincho enfim brilhou no fim da rua e ambos soltaram um suspiro em uníssono. Junmyeon se colocou de pé e ofereceu a mão para Yixing se levantar. Yixing se levantou, mas então suas mãos continuaram lá, tocando uma à outra.

- Obrigado por me fazer companhia e pela cerveja.

- Não foi nada, você pagou pela cerveja. – Junmyeon o lembrou e lhe sorriu, fazendo com que Yixing pontuasse novamente em seu pensamento que o sorriso dele era lindo.

- Boa noite então.

- Boa noite.

Junmyeon enfim soltou sua mão e de um passo para trás, começando seu caminho para casa. Yixing se virou e acenou para o guincho, quando se voltou para vê-lo indo embora, ele já não estava mais lá.

- Por acaso você se teletransporta? – Yixing falou em voz baixa para si mesmo e sorriu sozinho.

Em contrapartida, enquanto entrava em seu pequeno apartamento alugado naquela rua, o hacker J1nx não estava sorrindo. De alguma forma ele sentia como se seu coração estivesse partido, mas a culpa era unicamente dele mesmo.