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História Coração de Espuma - Estranho


Escrita por: FresadelaLuna

Notas do Autor


Amores, aviso que apartir de hoje vou postar essa fic a cada duas semanas por motivos de que eu preciso estudar pro meu curso. Prefiro postar em um período mais longo com boa produção do que curto e corrido.
Espero que vocês entendam❤️

Capítulo 2 - Estranho


Fanfic / Fanfiction Coração de Espuma - Estranho

Do Kyung-soo desde o dia em que naufragou começou a usar um brinco em formato de cruz na orelha esquerda, pois dizia que os demônios sussurravam nela e o símbolo servia para espantá-los. Não adiantava.

Seu pai morreu dias depois tentando fazer o mesmo percurso do Pico de Salmões, dessa vez, sozinho.

O que restava ao garoto agora era o pequeno cordão de algas secas com um pingente cristalizado por âmbar de uma flor desconhecida, onde uma de suas pétalas acomodava a menor concha do mundo. Não sabia de onde aquele objeto veio, nem quando o conseguiu, só lembrava de acordar todas as manhãs com ele em sua pequena estante que, agora que cresceu, parecia menor.

Olhando para o relógio em seu pulso esgueu-se da cadeira, deixando o livro de capa dura de Herman Melville para trás, sobre a mesa de madeira redonda e grossa, com suas lascas em sulcos fundos onde deveriam estar todos os materiais de pesca. Distanciado de sua antiga casa, muitas coisas já haviam lhe ocorrido e mal notara isso até o momento em que ultrapassou a porta da pequena choupana que abrigava seu pai e os tripulantes nos fins das viagens longas e tortuosas.

O cheiro de grama úmida surgiu em meio ao vento que rufava baixinho, trazendo junto com ele o som das ondas batendo nas rochas na beira do oceano. A pouco menos de dez metros encontrava-se os picos rochosos com Ophelia o esperando.

Desde o falecimento, decidiu completar idade suficiente para prosseguir com o trabalho do pai e foi o que fez.

De cabelos cortados acima das orelhas, Do Kyungsoo arrumou a camiseta branca de frio e envolveu-se na jaqueta de plástico grosso, pondo o chapéu escuro de abas largas que cobria parcialmente sua visão dos raios solares que irradiava  em boa parte do campo aberto em detrimento da redoma de árvores coníferas.

Kine estava a poucos metros dele, carregando pela trilha de pedra, as cordas e caixas de madeira que pediu para que levasse até a embarcação. Provavelmente Memrise já o estava esperando com o motor ligado e isso o deixava mais aliviado. Um dos motivos por não ingressar mais nenhum integrante em seu grupo formado de tripulantes era que ninguém conseguiria seguir as ordens ou fazer as coisas como aquela dupla fazia. Eles eram excepcionais em seu trabalho e isso o deixava contente.

Puxando as lapelas frias para frente, Kyungsoo seguiu a passos firmes em direção a Ophelia, mas parou quando se aproximou, estabilizando-se acima das rochas com musgos e mineraloides lascados pelo impacto das marés.

O oceano parecia ter duplicado de tamanho desde que crescera e isso o assustava, uma vez que por ter ultrapassado alguns centímetros, deveria sentir-se tão grande quanto. Não foi o que aconteceu. O medo ainda o tomava como um alcoólatra ao embebedar-se com sua garrafa de cerveja favorita. Havia algo no fundo do mar, ele bem sabia, mas não tinha ideia do que era.

Após o falecimento do único homem que amou na vida, Kyungsoo soube de boatos de que quem deixou Ophelia em alto mar e destruiu sua família ao levar seu pai para longe foram as sereias, senão isso, um monstro tão grande quanto o do Lago Ness. Besteira, era o que dizia para si mesmo sempre quando podia. Por mais que desse conta de quantos livros alusivos a monstros marinhos lia, ainda assim era cético demais para acreditar. Imaginava que apenas o fato de trazer os peixes com respeito para a superfície e de ali conseguir o seu sustento, estava tudo bem.

O mundo era repleto de seres perigosos para se acreditar em alguns totalmente imaginários.

- Ei, Kine! - gritou ele do alto, pulando para as outras declividades de rochas - Hoje vamos procurar atum, dizem que há vários vindos do sul, as correntes estão a nosso favor!

Fascinado por ler mapas, sabia quando as correntes marítimas surgiriam com mais intensidade para levá-los até às migrações de peixes mercantis, ou quando não conseguiria contar com parte deles pela saída de espécies para reprodução.

Afirmando com a cabeça, a garota antes adolescente agora era uma adulta de olhos grandes e rosto rijo, embora seu porto e feição não tenha mudado muito nos últimos tempos.

Pulando acima das pequenas rochas sedimentares, Kyungsoo viu a ligação entre uma delas e a proa, pulando para o seu interior num salto pequeno, parando a poucos metros da cabine poeirenta onde o mesmo Memrise de anos atrás cutucava o nariz.

A ordem para que adentrassem os oceanos foi feita com um aceno de cabeça e Ophelia logo pôs-se ao curso das águas.

A vista era sempre a mesma: uma cadeia de montanhas a leste com uma linha pálida horizontal a oeste. No entanto, mesmo que enxergasse a mesma paisagem todos os dias, ainda sentia o frio na barriga ao avistar as bacias e ver como os cordões de vento batiam contra a superfície azulada até desaparecer céu.

Foi com o mesmo entusiasmo de anos que pescou os peixes necessários para vender na cidade, usando suas gigantescas redes e devolvendo ao mar qualquer animal pego por ela que não fosse específico de sua venda. O trabalho demorou mais do que deveria, pois Kine sempre tinha de separar os pescados, Memrise atiçar os arpões para algum imprevisto e Kyungsoo juntar novamente os aparelhos de pesca até verem-se com caixas de madeira gigantescas que seriam guardadas nos cascos.

Ao fim da tarde com a luz do sol sendo diminuída conforme adentrava as montanhas que rodeavam a pequena feira em meio a floresta temperada, o novo capitão de Ophelia decidiu dar o restante da noite de folga para Memrise e Kine, colocando gelo seco dentro dos baldes de peixes no qual foram transferidos. Com isso, não tardou a ir para o único lugar que te deu abrigo durante todos esses anos.

O Bar Tritões parecia um albergue a primeira vista, com o teto caindo aos pedaços e uma quantidade numerosa de pescadores mal humorados procurando um momento de descanso. O local demonstrava ser melhor do que aparentava. Mesmo que as paredes de madeira lascadas balançassem os candelabros presos preguiçosamente a elas e o chão rangesse conforme andavam sobre ele justamente pela locação ter sido estruturada acima de um buraco desconhecido, todos vinham para cá no final do expediente árduo de uma longa busca por animais marinhos.

As cuspideiras estavam cheias perto do balcão e as mãos grossas e feridas com as fendas negras seguravam fortemente as asas de vidro dos grandes copos de cerveja espumosa e amanteigada.

O cheiro de cigarro e suor emanava pelo bar quando Kyungsoo avistou o canto onde sempre ficava, totalmente vazio, no entanto, para isso teria de atravessar o salão amarelado e gosmento com rostos conhecidos e carrancudos para chegar até o seu destino, portanto acenou para o barman na sua pedida rotineira de gim-tônica com limão e esperou do lado de fora.

A vista não era muito diferente de antes, pois o mar se abria a pouco menos de vinte metros dali. Ainda podia-se ouvir as gaivotas e boa parte dos tripulantes de embarcações maiores transportando seus peixes para os contêineres enferrujados do outro lado da baía.

Cerrou os olhos para tentar enxergar os dois faróis que vieram da estrada à sua direita, em meio ao breu que surgia conforme a noite se erguia, trazendo com ela a serração exacerbada de um vale minúsculo no qual viviam.

Em meio a iluminação falha da picape vermelha que bem conhecia, Kyungsoo bufou, sabendo que o crepúsculo seria longo apenas com a presença de Kim Jun-myeon.

Kim Jun-myeon nada mais era do que um oportunista vendido pela imprensa quando tomou o cargo de investigador por uma revista interiorana e ganhou destaque ao prender um mendigo das redondezas dizendo que ele era um dos monstros marinhos que procuravam durante décadas. Obviamente aquele estúpido estava errado, mas isso não fez com que aquele pobre homem tenha sido torturado por experimentos durante tempo demais para que, quando descobrissem a verdade, o deixassem vegetar num hospício qualquer.

No entanto, desde a morte de Do Jong-hae, sua editora procurava causas mais profundas além dos mistérios que acercam o pico montanhoso e seus cemitérios de barcos, o que levou o investigador a se intrometer cada vez mais na vida de Kyungsoo, o importunando sempre que podia.

Aquele dia não era diferente.

Recebendo o gim pela janela do lado de fora muitíssimo próxima do balcão onde o barman estava, o marinheiro afirmou com a cabeça em agradecimento, jogando o chapéu para trás da cabeça, deixando-o pendurado nas costas pelo cordão preso a sua garganta.

Em pequenos saltos indiferentes Kyungsoo desceu os três degraus do bar e parou a poucos metros da estrada de terra vermelha, avistando a picape se aproximar sem emitir nenhum som — parecia querer passar por despercebido —, mas não foi possível, pois antes de conseguir estacionar, algo acertou o capô com força ao correr sem precedentes, espatifando o corpo contra os faróis antes de cair no chão com brutalidade.

O primeiro contato não havia sido nada motivador. Quase cuspindo a bebida, Kyungsoo andou apressado até Jun-myeon que saiu do carro rapidamente, enfiando os dedos finos de escritor nos cabelos lisos e olhando para o corpo nu no chão com desespero e preocupação.

- Vo-você viu, não viu? Ele surgiu do nada! Do nada!

Sem ação, Do franziu o cenho e recuou um passo. Sua mente se forçava a se lembrar, mas não sabia exatamente do quê.

A poucos centímetros de seus pés havia um corpo que se encolhia totalmente nu e poeirento, gemendo de dor por alguma parte do corpo acertada. Mal dava para enxergar o rosto em meio a cabeleira castanha e úmida que caía sobre o torso franzido.

- E-eu v-vou chamar a ambulância, fique aqui Kyungsoo, eu preciso de uma testemunha.

A essa altura do campeonato boa parte dos clientes do bar já haviam saído para fora, muitos olhando pelas janelas abóbadas o que aconteceu, mas poucos se aproximavam.

A exatos dois metros dali Memrise se escondeu em meio às sombras, olhando de esguelha para o humano caído.



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