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História Coração Gelado - Agora Estamos Quites


Escrita por: JaneViesseli

Capítulo 29 - Agora Estamos Quites


Enquanto caminhava de volta para sua casa, Maximilian se perguntou dezenas de vezes se tinha mesmo visto o que viu. Ao olhar para os olhos de Jane naquele momento, ele não encontrou a mesma confusão que sempre enxergara no castelo, causada pelo cheiro humano contido em sua camuflagem. Ali, sem qualquer influência de seu dom, ele viu algo muito parecido com "reconhecimento", mas não tinha certeza se aquilo era real ou apenas uma alucinação causada por sua sede, que já arranhava a sua garganta e mexia com seus instintos de caça.

— Alec nunca me contou como se transformaram – diz ele quando chegaram à porta dos fundos e entraram na cozinha, tentando ser casual enquanto massageava o braço recém-curado somente para ter certeza de que estava bem.

— Ele não tem permissão para contar! – explica simplista, caminhando em direção à sala e sendo seguida pelo camaleão.

— E quem o proibiu? – questiona, mesmo que já soubesse da resposta. Jane se vira em sua direção, olhando rapidamente para a poltrona e dando três passos para a esquerda a fim de ajustar o seu ângulo com o móvel.

— Eu – responde finalmente, empurrando o peito de Maximilian com um movimento rápido e o fazendo cair desengonçadamente sobre o assento.

— O que está fazendo? – retruca com uma carranca, achando aquele comportamento bastante anormal.

— Você está com sede, gastou tudo o que tinha com a regeneração. Já pensei em tudo! Escolha quem quiser e eu trarei até você – propõe Jane de repente.

— Que bobagem, eu posso muito bem caçar sozinho – rebate, sentindo-se um tanto ofendido.

— Sei que pode, mas está sedento demais para caçar em um local com tantas pessoas. Quando seus instintos tomarem conta, não conseguirá ser discreto.

Maximilian estreita os olhos. Onde ele tinha ouvido aquelas palavras antes?

Jane levanta as sobrancelhas como se sugerisse alguma coisa e então um fragmento da festa de Notte Rossa lhe vem à mente. Aquelas tinham sido as suas palavras quando a vampira não estava em condições de caçar pela cidade, e agora ela as estava repetindo porque ele estava numa situação parecida.

— Escolha quem quiser – responde com um sorriso torto, participando do seu joguete e fazendo-a esboçar um sorriso igual. Tal feito o impressionou.

— Não saia daqui! – comanda Jane por fim, saindo pela porta da frente em direção à cidade, aproveitando-se da escuridão da noite para se esconder.

O camaleão se ajeita em sua poltrona, aguardando e tentando esmiuçar o que estava acontecendo. Jane estava diferente. Seu comportamento estava mais solto e ela até mesmo sorrira para ele, coisa que nunca havia feito enquanto estavam no castelo. Ele não sabia quando aquilo tinha começado, fora algo tão gradual e sutil, que ele não tinha percebido a mudança até aquele momento. Se não fosse pela emboscada e os eventos que o sucederam, talvez ele demorasse ainda mais tempo para reparar.

O que ele tinha visto em seu olhar, afinal? Será que ela o reconhecia? Tinha se lembrado dele? Não, aquilo era impossível, a pouco tempo Jane dissera com todas as letras que não havia se lembrado de nada.

— Talvez ela apenas esteja me aceitado como um companheiro de clã, tratando-me da mesma forma que seu irmão – pensa ele, passando os dedos pela barba rala enquanto ainda tentava compreender o que estava se passando ali. A resposta não era clara, mas algo certamente tinha mudado em sua forma de vê-lo e tratá-lo, porque a vampira estava fora de seu bloqueio desde a luta e não o tinha machucado como tantas vezes ameaçou fazer.

Pensando mais nisso, Maximilian se deu conta de que devia a Jane tanto quanto ela devia a ele. Ele a ajudou com sua sede e ela estava pagando esta dívida agora. Ela o salvou daquela estranha emboscada e agora ele sentia que também deveria quitar sua pendência...

Longe dali e mais próxima ao centro da cidade, enquanto esperava por uma vítima em potencial, Jane também refletia sobre a emboscada. Alguém ordenou a morte do camaleão. Ela não estava inclusa como alvo, apenas ele. Aqueles estranhos vampiros falaram em outra língua, achando que não entenderia, e ela não conseguia se livrar do pensamento de que o seu mestre estava por trás de tudo.

Aro, mais do que ninguém, era quem queria Maximilian morto.

Jane sacode a cabeça levemente, apertando suas têmporas para se livrar daquela ideia absurda. Era impossível que Aro incumbisse um segundo grupo de vampiros de matá-lo, quando ela ainda estava ali, viva e atuante, tendo carta branca para aniquilá-lo assim que a missão de Andrômeda terminasse. Aro não faria algo por suas costas, visto que confiava nela e a tinha como braço direito de sua liderança, mas a insistente suspeita ainda estava ali, no fundinho de sua mente, a cutucando...

Uma pessoa entra em seu campo de visão, tão embrulhado em seus agasalhos que mal dava para saber se era homem ou mulher, e caminhando devagar para não escorregar na neve, provavelmente retornando de algum lugar.

Nevava naquele momento. Jane passou a mão pelos cabelos constatando que estavam molhados, e, com dedos ágeis, desfez o penteado que usava, preferindo deixá-los parcialmente presos. Seus olhos vermelhos não desgrudaram de seu alvo em nenhum segundo, enquanto as mãos trabalhavam nos fios dourados.

A vítima em potencial sai da rua principal e entre numa viela, cuja iluminação tornava-se ainda mais turva por causa do tempo, dando à vampira a brecha que precisava para atacar. Com passos rápidos ela se aproxima, mal sentindo o deslize da neve sob seus pés, aproximando-se das costas humanas e tocando o seu ombro.

Jane percebeu se tratar de um homem assim que ele se virou. Seu cheiro era bom, e, apesar de não considerar aquela uma de suas melhores presas, a vampira o achou adequado o suficiente para pagar sua dívida com Maximilian.

— Você serve – sussurra, pouco antes de empurrar o corpo humano contra a parede e desacordá-lo no mesmo instante.

Mesmo sendo baixa e tendo menos músculos que seu irmão, Jane ainda era uma vampira e seus golpes sempre seriam letais para um ser humano comum. O homem tinha batido a cabeça, ela podia sentir o cheiro de sangue saindo de um possível corte, mas conteve o impulso de prová-lo. Aquela vítima não era dela e não pegaria uma gota sequer para si.

Com um puxão forte ela levanta o corpo do chão, colocando-o sobre os ombros e correndo sob as luzes turvas para fora da cidade, em direção às árvores e, consequentemente, à casa de Maximilian. Quando em sua segunda vida Jane imaginou que faria uma coisa daquela? Caçar para ajudar outro vampiro? Nossa, as coisas realmente estavam saindo de seu controle...

— Não estou ajudando, estou quitando uma dívida! – corrige-se mentalmente, enquanto corria sob a neve profunda com agilidade, como se o peso extra não significasse nada.

Quando Jane retorna à casa, cerca de uma hora e meia depois, ela lança o corpo humano no chão, conferindo se o seu coração ainda batia e o agarrando pelo colarinho do casaco, arrastando-o pelo restante do caminho e entrando pela porta dos fundos.

Na cozinha, Maximilian já a esperava. Havia escutado os seus passos ao contornar a casa e a seguira, ansioso, com os olhos negros cintilando em expectativa. A vampira iça o pobre humano para cima da mesa e se afasta, deixando-o avaliar sua presa.

O camaleão circula a mesa de madeira, lentamente, analisando e apreciando o cheiro que o humano exalava. Ele sente o cheiro de sangue em questão de segundos, o que instantaneamente mexe com seus instintos e salienta os seus caninos. A queimação em sua garganta aumenta, forçando-o a se aproximar do corpo inerte e deitar a cabeça sobre o seu peito, para ouvir as batidas de seu coração.

Todo vampiro tinha um fetiche ao se alimentar. Jane gostava de ouvir os gritos de suas vítimas, e lembrava-se, do primeiro banquete que ele participara em Volterra, que Maximilian gostava de ouvir o coração delas batendo antes de afundar os dentes em suas peles.

A vampira o assiste com interesse, circulando a mesa vagarosamente para melhorar seu ângulo de visão e rapidamente fazendo contato visual com ele. O camaleão a encarava com um misto de sensualidade e ansiedade em seu rosto sedento, enquanto se levantava do tórax masculino e abria o casaco de sua vítima, para ter acesso fácil ao seu pescoço.

— Obrigado – agradece ele, com a humanidade e a ferocidade se misturando em seu tom de voz, sorrindo e mostrando seus caninos.

— Bon appetite! – responde ela, assistindo, na sequência, os dentes de Maximilian perfurarem a pele do humano em direção a jugular.

Quando a primeira onda de sangue desceu por sua garganta, o vampiro fechou os olhos no mesmo instante, deliciando-se com o que fora posto em sua mesa e sentindo um alívio imediato em suas entranhas. Jane, por outro lado, sequer piscava, mantendo os olhos vermelhos grudados nele.

A forma possessiva com que ele agarrava o corpo desacordado, os músculos retesados por baixo da camisa preta de mangas compridas, os olhos fechados em êxtase, os lábios pressionados contra a pele humana, tudo isso aprisionava os olhos de Jane, como se cada parte dele estivesse tentando seduzi-la.

Maximilian ergue a cabeça assim que absorve a última gota de sangue de sua presa, deixando-a tombar para trás enquanto ajeitava o corpo, sentindo-se revigorar com o líquido rubro que percorria suas veias e se espalhava por seus membros. Ele lambe os lábios levemente e abre os olhos, finalmente voltando a si e encarando Jane, que já estava com o seu punhal em mãos e preparava-se para se desfazer dos vestígios de sua caçada.

Ela se libertara de seu intenso transe no momento em que o camaleão se colocou de pé novamente, saindo da cozinha antes que ele soubesse que estava sendo observado e que a pegasse em flagrante. A turbulência estava ali novamente, em seu interior, quando Jane apanhou a adaga que estava na sala e voltou para a cozinha, forçando o rosto a expressar seriedade.

Sem dizer palavra alguma, ela fechou o casaco do humano anônimo e o arrastou para fora, levando-o para o mais distante possível e o descartando com uma apunhalada no pescoço, no local exato em que Maximilian o mordera, ocultando os vestígios de sua mordida e forjando um assassinato.

A vampira retornou lentamente para a residência, observando o céu noturno e a neve que não parava de cair, para que tivesse tempo de silenciar as estranhas sensações que percorriam seu interior.

Maximilian estava na sala quando ela chegou à casa, sentado em sua poltrona e refletindo sobre algo que ela não tinha interesse em saber. Ele sai de seus devaneios assim que seus lindos cabelos loiros entram em seu campo de visão e a encara. Seus olhos estavam vermelhos novamente e o braço devidamente restaurado e operante, trazendo à vampira uma estranha sensação de alívio, como se estivesse finalmente se livrando de algo bastante preocupante.

— A dívida da Notte Rossa está paga! Está se sentindo melhor? – pergunta Jane, esboçando seu costumeiro sorriso que parecia ser angelical e diabólico ao mesmo tempo.

— Sim. Obrigado, Jane – responde Maximilian, estreitando os olhos com desconfiança, estranhando a pergunta e achando aquele sorriso bastante suspeito.

— Bom! – conclui a vampira, concentrando-se na mente do camaleão e infligindo-lhe uma pequena parcela de dor, que durou exatos 5 segundos, mas que o fizera se contorcer sobre a poltrona. – Isso foi por bloquear o meu dom! – explica, oferecendo a ele uma pequena pausa antes de enviar-lhe outra onda de sofrimento, que durou o dobro do tempo e o vez tombar do assento, de joelhos no chão. – E isso, foi por ter roubado o meu posto no clã!

Em ambas as vezes, a vampira sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao ouvi-lo gritar. Na primeira vez em que sentira aquilo, ela mal sabia que vampiros podiam tremer daquela forma, porém, agora acreditava que parte de seu subconsciente deveria tê-lo reconhecido logo naquele dia e não quisesse ouvi-lo sofrer. Tal reação continuava a acontecer sempre que ouvia seu lamento.

Maximilian estava ofegante depois de ambos os ataques. Havia sido pego de surpresa, mas aguentara firme para não bloquear os poderes da vampira novamente, mesmo que seus instintos gritassem para que ele bloqueasse tudo e se protegesse. Ela merecia tê-los de volta depois de livrá-lo daquela emboscada e não lhe restava mais dúvidas sobre isso.

Jane se senta no sofá ao lado da poltrona e cruza as pernas, fazendo-o soltar uma risada nasalada com sua atual situação. Da forma com que caíra no chão, prostrado e quase de frente para o local onde ela estava sentada, a impressão que dava era a de que ele estava se ajoelhando diante dela, como um servo costumava fazer diante seus senhores no passado.

A vampira levanta as sobrancelhas levemente, percebendo a mesma coisa e gostando da pequena coincidência de suas posições. No entanto, apesar da cena divertida, sua voz foi dura ao dizer:

— Se fizer outra idiotice que me desagrade, ou se me desobedecer, vou machucá-lo de novo! – ameaça, e, apesar de Maximilian ainda não consegui-la enxergar como um perigo para sua existência, acreditou em suas palavras, porque tinha aprendido que era assim que as coisas funcionavam com Jane Volturi.

Ele concorda com a cabeça, massageando aqui e ali para se certificar de que não estava ferido, já que a dor que se alastrara por seu corpo havia sido bastante real.

— Seu corpo está inteiro – explica ela, enquanto ele se levantava e se sentava ao seu lado no sofá. – A aflição ocorreu apenas no campo da mente, o que já é o bastante para imobilizar até o maior dos vampiros.

Jane torce o nariz subitamente, não entendendo porque estava explicando as particularidades de seu dom pra ele, quando deveria rir de sua insistência em encontrar ferimentos que não existiam.

— A dor é tão grande que parece real. Você não faz ideia do que é sentir o seu poder em ação, a sensação de estar sendo queimado, corroído pouco a pouco... – comenta distraído, apenas para não perder aquela gostosa aproximação que eles estavam tendo.

— Eu sei exatamente como é – rebate Jane seriamente, chamando a atenção dele, mas não fazendo menção de explicar o seu ponto de vista.

A vampira apoia o cotovelo no braço do sofá e ampara a cabeça, fechando os olhos em seguida, como se fosse um humano buscando uma posição agradável para dormir. Ela podia sentir os olhos de Maximilian sobre si, perscrutando o seu rosto em busca de alguma informação a mais, ainda não tendo coragem de fazer-lhe a mesma pergunta que fizera a Alec, sobre as suas histórias.

Por algum motivo desconhecido, ela realmente esperou que ele perguntasse.

— Jane, eu não pretendo mais bloquear o seu dom. Considere isso um pagamento por ter me livrado daquela emboscada – sussurra ele depois de um minuto inteiro de silêncio, quando finalmente se convenceu de que seu corpo não estava ferido de verdade.

— Então, agora estamos quites! – responde ela sem se mover ou abrir os olhos, intimamente feliz por ter o controle de seu poder novamente. A raiva de outrora sumira completamente e, em seu lugar, havia apenas a satisfação e a sensação de vitória, por vencer o seu primeiro embate naquela missão e por ter salvo Maximilian.



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