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História Crônicas de Heróis - Histórias passadas


Escrita por: UchihaAika

Notas do Autor


Oi :D

Capítulo 20 - Histórias passadas


Konan

 


 

Ela corria pelos corredores de sua casa, que não era tão grande, mas possuía muitos deles. A porta estava trancada, e não tinha outro lugar para ir, podia apenas correr, pois sabia que seu pai estava logo atrás. Quando a encontrasse, seu mundo acabaria. Quando ela sentiu a energia de sua ametista entre uma das mãos, soube que ainda tinha alguma chance de sobreviver.

Continuou a correr, mas logo sentiu que suas forças estavam acabando, e seus temores foram confirmados quando não havia mais nada além de parede à sua frente, e ela não tinha mais para onde fugir. Um grito formou-se em seu peito, mas ela o segurou. Tinha a ametista em suas mãos, portanto não tinha mais motivos para ter medo.

Pressionou as costas contra a parede, e seu pai surgiu em seu campo de visão, repleto de ódio. Ela sentiu uma gota de suor escorrer por sua testa, e segurou a pedra entre a mão escorregadia com mais força.

–  Você é uma vergonha, tal como sua mãe! Eu sempre disse que você nunca sairia de seu nível, Konan! Você foi suja e manchou o nome de nossa família, e agora vai pagar por isso!

–  Eu apenas fiz o que era necessário!  –  Respondeu. Sentia o choro preso em sua garganta, mas não conseguia chorar. A sensação era horrível, seu peito e sua garganta pareciam estar queimando em um sentimento que causava um desconforto extremo.

–  Necessário para você, sua vagabunda egoísta! É igual à Fiora! E eu sempre disse que nossa família não tem espaços para bruxas como ela!

Konan sentiu raiva ou medo, não sabia ao certo, pois seu pai chegou perto, e ela não tinha dúvidas de que a mataria. Mas também sabia que não era uma bruxa. Ela podia utilizar o poder delas contido na pedra, mas não era uma delas.

–  Não sou uma bruxa!  –  Gritou, e ergueu a pedra um sua direção. Houve uma explosão de luz, extremamente clara, a tal ponto que Konan precisou fechar os olhos para não ficar cega.

E então acordou, com o coração acelerado como os passos de mil cavalos. Seu quarto estava começando a ficar claro pela luz da alvorada, e não havia ninguém ao seu lado na cama. Ela sentiu uma repentina vontade de chorar, e não tinha ideia do motivo pelo qual havia sonhado com aquele dia. Era estranho, pois desde sua mudança para o castelo, por mais traumático que houvesse sido seu último encontro com o pai, ela nunca havia tido um sonho com aquele momento. O que na verdade não era exatamente um sonho, era como uma lembrança, com muito pouco dos elementos fantasiosos que sempre acompanhavam os sonhos.

Konan chamou uma de suas aias para trazer água quente e encher sua tina com sais perfumados, e depois ficou mergulhada ali por um longo tempo, até que o dia amanhecesse por completo. Somente então levantou-se, secou o corpo com as suaves toalhas importadas, e vestiu a roupa mais quente que possuía. Percebeu o dia escurecer e, quando olhou pela janela, notou que grossas nuvens cinzentas tapavam o céu e impediam o sol de iluminar o mundo. Além do frio, provavelmente uma nevasca se aproximava, para deixar tudo ainda pior.

Do alto da montanha, Konan observou o movimento da cidade que descia íngreme, quase encravada na rocha. Lá a agitação era constante, os cidadãos eufóricos já tão cedo da manhã. Distraiu-se por muito tempo a observar Ninho do Gavião em toda a sua amplitude, que mal soube quanto tempo havia se passado quando uma de suas aias entrou em seu quarto, acompanhada do Mestre Sábio.

–  Minha Senhora, trago tristes notícias.

Aquilo alarmou Konan. Pensou logo nas palavras de sua irmã, e seu coração congelou. Yurin e Inoren foram os primeiros pelos quais ela temeu, e depois Yahiko. Sentiu que o sonho com seu pai havia sido um mau presságio, pois era a única explicação possível.

–  Diga.  –  Ordenou, com a voz em um fio.

–  Seu pai faleceu esta manhã.

Terrivelmente, Konan sentiu um grande alívio, e quase suspirou diante daquelas pessoas que nada sabiam sobre a relação conturbada que tinha com o pai. Ainda assim, por mais aliviada que estivesse, havia um quê de tristeza que a invadia, e talvez até sentisse culpa, como Yahiko sempre supunha que ela sentiria, mas não pelos motivos que ele imaginava.

–  Quando será o velório?  –  Questionou.

–  Já está ocorrendo, ocorrerá até amanhã pela manhã. Seria aconselhável que a Senhora comparecesse, ao menos por algum tempo.

Konan assentiu, pois sabia que tinha aquela obrigação enquanto filha e enquanto Senhora de Ninho do Gavião. Caso não comparecesse ao velório de seu próprio pai, os comentários na cidade não seriam nada agradáveis, e ela não desejava aquele tipo de comentários sobre sua pessoa.

–  Devo preparar Inoren e Yurin para acompanhá-la?  –  Questionou o Mestre.

–  Não. Um velório não é um lugar para duas crianças. Deixe que eles permaneçam em suas rotinas.

–  Acredito que Lorde Inewin a acompanhará, pois seu pai foi mestre de armas do castelo por muitos anos.

Aquilo, ela não tinha como evitar. Inewin sempre tivera uma grande admiração pelo pai de Konan, assim como Inoichi, mas este nunca estava no castelo, ao menos não enquanto Inewin estivesse em condições de governar em seu lugar.

–  Tudo bem, estarei esperando por ele no pátio.

Konan vestiu um vestido de veludo negro com renda bege sobre a manga do antebraço, caindo até abaixo de sua cintura. Deixou o cabelo solto e coloriu os lábios com um tom claro de vermelho, para enfim ir até seu destino daquele dia. Abriu o porta-joias e observou a ametista, chegou a tomar o cordão entre as mãos para colocá-lo ao redor do pescoço, mas ponderou bem antes de qualquer coisa.

Seria no mínimo um desrespeito levar ao seu enterro o instrumento que o levou à morte enfim.

Kirara poderia estar lá, e Konan poderia precisar de proteção, mas continuava sendo um desrespeito ao seu pai.

Mordeu o lábio inferior, sentindo a energia da pedra tomar conta de seu corpo.

Bem, mesmo em vida nunca houve um respeito mútuo entre nós afinal.

Fechou o cordão ao redor do pescoço e a ametista pendeu pesada contra sua pele alva. Era um peso agradável, pois ela sabia que devia tudo àquela pedra. E mesmo que tivesse ferido seu pai a ponto de vê-lo morto tão jovem, sabia que por ter feito aquilo era que ainda estava viva.

Inewin a esperava próximo à liteira, sobre seu corcel prateado. Ele era extremamente parecido com Inoichi, embora aparentasse mais jovialidade por sorrir com frequência, e indubitavelmente fosse um suserano mais responsável às terras do Norte de Austerin. Naquele momento, contudo, o cunhado de Konan não sorria.

–  Sinto muito pelo seu pai. Ele era um grande homem.

Devo dizer que talvez você sinta mais que eu?

Konan abaixou a cabeça.

–  Sem dúvidas era.

Entrou na liteira de cortinas carmesim com pequenos gaviões bordados em azul escuro, as cores da Casa Yamanaka e seu símbolo. O velório de seu pai acontecia na casa onde viviam, que estava com as grandes portas abertas, e cheia de pessoas. Ele costumava ser bastante conhecido pela cidade, especialmente por ser um cavaleiro de renome, já que por anos havia sido mestre de armas do castelo de Ninho do Gavião. Apenas saíra de lá quando debilitado pela doença, o que acontecera pouco antes do casamento de Konan com Inoichi.

Se seu pai não fosse mestre de armas do castelo, Konan nunca teria conseguido chegar até Inoichi.

Quando entrou na velha casa, muitos curvaram-se diante da presença da Senhora. Os poucos que não se curvaram foram seus dois irmãos, Karui e Horen. Nenhum deles fazia questão de esconder o desgosto em vê-la ali, mas ela realmente não se importava.

Caminhou até onde estava o corpo de seu pai, e o observou por um período relativamente longo. Seu rosto estava pálido e inchado, com alguma diferença do que ela lembrava, mas ainda assim capaz de trazer memórias de um passado longínquo.

Seu pai era um homem distante, enquanto a mãe de Konan ainda vivia sob seu teto e, também, sob mentiras. Após o nascimento de Karui, a última filha deles, a mãe de Konan revelou-se em sua verdade irremediável: era uma bruxa. E embora amasse o pai de Konan, não poderia mais ficar ali. Ele, contudo, a odiara naquele instante, e se pudesse a teria matado. Bruxas eram odiadas por muitos humanos, vistas com más olhos, e o fato de a mãe de Konan ter escondido aquela verdade por tanto tempo apenas piorava as coisas.

Então, o pai que era distante, tornou-se terrível. Ele costumava dizer que suas filhas não deviam ser nada acima nem abaixo do que eram, o que significava que casar-se-iam com um homem qualquer que fosse do mesmo nível dele, nem acima nem abaixo. Aquela perspectiva, para Konan, era frustrante. Inicialmente não desejava depender do casamento para crescer, mas logo percebeu que, sendo uma mulher, não possuía outros meios, e o  que ela queria era ser uma mulher grande.

Mas seu pai sempre colocava suas expectativas ao chão. Ele dizia que ela não era ninguém, e que para piorar tudo, tinha sangue de bruxa, o que a tornava ainda menor. Talvez nunca arrumasse um marido, ele dizia, e ainda achava que aquele destino era melhor para ela. Quando Kirara partiu, ele decidiu de uma vez que suas filhas não se casariam, e viveriam para sempre naquela maldita casa. E ninguém devia ousar contestá-lo, pois ele agredia, verbalmente e por vezes fisicamente.

Konan começou a detestá-lo tanto que, naquele momento, decidiu que seria alguém grande, alguém maior que ele, para que ele não pudesse nunca mais levantar a voz ou a mão para ela novamente. E, certamente, seu irmão mais velho ajudava a aumentar seu desejo de viver distante daquele lugar.

Observou Horen no outro lado do pátio, com os olhos sempre fixos nela, como se a qualquer momento ela fosse realizar algum movimento perigoso. Devia tê-lo matado também quando teve a chance. Talvez de todos ele fosse o que Konan mais detestava.  Falava coisas horríveis para ela, dizia que como o pai nunca a casaria, seria ele o primeiro a tê-la como mulher. Ela costumava ter pesadelos com aquilo, e tinha nojo de Horen apenas por pensar que ele podia vir a cumprir as promessas.

Percebeu que sua mão tremia de raiva apenas pelas lembranças que tinha, e levou-a até o cordão com a ametista. A coragem apenas existira em sua vida no momento em que a mãe entregara aquela pedra em suas mãos. Antes disso era fraca e sem atitude nenhuma além de chorar diante das palavras rudes do pai e do irmão, quando agredida nunca respondia. E ela demorou ainda para conseguir a coragem que lhe faltava para agredir alguém como resposta por agressões recebidas. Uma vez que essa coragem existiu, seu pai adoeceu, e a partir daquele dia ele viveu apenas pelo dia de sua morte, repleto de rancor.

–  Kirara esteve aqui?  –  Perguntou para Karui, que olhou-a com desprezo.

–  Ela não esteve e nem estará, pois ao contrário de você, tem vergonha. Aliás, seria até mais sensato caso ela aparecesse, e não você, já que ela não é a responsável pela morte de meu pai.

Konan sorriu de canto, observando os olhos inchados da irmã mais nova, agora com dezoito anos, e ainda não casada. Diferente de Konan ela parecia aceitar aquilo bem o suficiente para chorar pela morte do terrível patriarca.

–  Suas lágrimas me comovem. Não por sua tristeza, mas por seu comodismo. Aceitar as agressões dele nunca foi algo que me agradou, menos ainda as de Horen. Você é ainda jovem e não a odeio de todo, então no dia em que precisar ser salva desse irmão mais velho terrível que temos, pode correr até meu castelo.

Sua irmã ficou vermelha, Konan não sabia se de raiva ou vergonha. Talvez Horen tenha feito com ela o que prometia fazer a mim, afinal. Não posso duvidar, pois ele é um nojento.

–  Ninguém precisou me agredir pois eu não sou uma bruxa como você.

–  Eu também não sou uma bruxa, e veja só… se não tivesse fugido, não sei o que teria me acontecido.

–  Se não tivesse fugido, papai ainda estaria vivo!

–  Vivo, me batendo, me impedindo de seguir minha vida… Talvez seja melhor que esteja morto de uma vez.

A irmã segurou seu pulso com força.

–  Por que está aqui?! Vá embora de uma vez! Nunca se importou com ele, não se importará agora depois de morto!

Konan deu de ombros.

–  Não gostaria do povo falando que a Senhora do Ninho não compareceu ao velório do próprio pai. Mas realmente, já passa da hora de estar protegida em meus aposentos.

Caminhou até Inewin, que ainda despedia-se de seu pai, e avisou que partiria, pois não estava disposta a ficar observando o próprio pai morto. Aquilo era tudo mentira, o que ela não estava disposta era a ficar mais tempo naquela velha casa, sob os olhares atentos de Horen e as palavras estúpidas mascaradas de medo lançadas por Karui.

Conforme a liteira subia para o topo da montanha, Konan lembrava-se da última vez em que havia feito aquele caminho, quando ainda morava na casa de seu pai. Ela fugia dele. Havia acabado de utilizar a ametista para mantê-lo distante, e havia acontecido qualquer coisa em uma explosão de fogo saída da pedra que lançou seu pai abaixo, de um dos corredores abertos do segundo pavimento da casa, até o chão de granito no andar de baixo. Ele estava estatelado no chão, desmaiado, com sangue saindo da boca, e ainda assim tudo o que Konan pensava em fazer era correr para longe dali. Assim, fez o caminho até o Ninho, onde correu até os braços de Inoichi e chorou, dizendo que o pai queria matá-la por ter dormido com ele e por tê-lo feito deixar a primeira esposa.

Inoichi era um bom homem naquela época. A consolou de todas as maneiras existentes, e disse que daquele dia em diante ela não sairia mais do castelo, pois seria sua esposa.

Konan soube que havia ganhado tudo o que lutara para conseguir. Havia feito seu pai acreditar que ela queria ser uma das acompanhantes da Senhora Nora, primeira e infértil esposa de Inoichi, e tornou-se amiga dela. Arrumava seus cabelos, maquiava seu rosto, ajudava-a a escolher o mais belo vestido para o dia… mas observava Inoichi com olhos tímidos, e utilizava sua pedra sempre no pescoço, sabendo que aquilo a tornaria ainda mais encantadora. Ela tinha perfeita noção da fraqueza do Lorde por mulheres, assim como sabia da grande beleza que possuía. E não demorou para ir para a cama com ele em uma noite, e em outra, e em mais outra… e enfim convencê-lo a deixar a infértil esposa e tomá-la como sua, para que pudessem construir uma família.

Nora devia odiá-la, onde quer que estivesse agora. A família certamente havia a escondido em algum canto, pois uma esposa devolvida era humilhada, por mais que houvesse bons motivos para a devolução. Konan era, de fato, odiada por muitas pessoas, mais do que amada. Talvez apenas seus filhos a amassem, e Yahiko. Mas ela não se importava realmente com aquilo, pois tinha tudo o que desejava, e o amor das únicas pessoas que precisava. O restante era facilmente ignorado.

E por isso as palavras de sua irmã a incomodavam tanto agora. Tudo o que ela tinha, era pouco, e por isso podia ser perdido com maior facilidade. Assim, ela precisava ter cuidado dobrado consigo mesma e com as pessoas que amava. Não suportaria perder qualquer um deles.

 

 

 

Ino

 

 

Estava sentada sobre o gramado, sentindo o calor do sol esquentar seu corpo espantando o frio que fazia naquele dia, com as companhias de Sakura, Fyona e Soreia. As outras duas eram meninas do vilarejo que, vez ou outra, juntavam-se a ela e a Sakura para conversas estúpidas, mas a única que podia dizer que verdadeiramente era sua amiga, era Sakura. Fyona era, assim como Ino, uma bastarda, mas era claro em seus olhos acinzentados que era bastarda de um Hyuuga. Ao menos ela tem um sangue que pode ajudá-la a ser grande um dia.

Já Soreia, morava com o pai e os irmãos, pois a mãe havia morrido no nascimento do irmão mais novo dela. Ino tinha pena da menina, ainda que sua companhia fosse irritante. Ela sabia que tinha vivido todo aquele tempo sem seu pai, mas viver sem sua mãe era doloroso demais apenas para se imaginar.

Ainda assim, as duas pareciam sempre alegres demais, e falavam sobre os assuntos mais impróprios. Ino tinha completado onze anos há pouco tempo, e Sakura ainda tinha dez, enquanto Fyona tinha doze anos e Soreia tinha treze. Esta, já sangrava como uma mulher adulta, e tinha grandes seios. Portanto, seus assuntos por vezes soavam impróprios a Ino, mas sua curiosidade sempre fazia com que perguntasse cada vez mais.

Os olhos de Soreia brilhavam toda vez que ela observava Haki, um rapaz do vilarejo que trabalhava próximo aos pomares. Era por isso que elas passavam o tempo livre ali, para que Soreia pudesse observar seu amor e trocar sorrisos com ele o dia inteiro. A última história dela havia deixado Ino assustada: a garota contara em detalhes sobre a primeira noite que havia passado com ele em uma cama. Ino não entendia muito bem nada daquilo, mas lembrava-se de que alguma parte do corpo dele entrava no corpo dela, e aquilo era doloroso, mas depois agradável. Sakura fizera caretas enquanto Soreia contava, e ela limitara-se a dizer que Sakura era apenas uma criança que nada sabia.

–  Soreia, se você passou uma noite com ele tão cedo, vocês se casarão, não é mesmo?  –  Questionou Fyona. Ino percebeu que os o sorriso da menina mais velha era cheio de esperanças.

–  Sim! Eu jamais permitiria que isso acontecesse se ele não fosse se tornar meu esposo! Tenho treze anos e já sou mulher feita, e ele tem quatorze. Ele disse que assim que o inverno passar, pedirá ao meu pai autorização para nos casarmos!  Vocês sabem, não é bom noivar no inverno.

Havia aquela história de que quando o noivado ocorria no inverno, o casamento estava fadado a ser tão frio quanto a estação do ano. Ino não tinha certeza se acreditava naquilo, mas era sempre melhor evitar qualquer problema.

–  Incrível! Eu sonho com o dia de meu casamento!  –  Disse Fyona, com os olhos perdidos em qualquer ponto além de onde estavam.

–  Ah, é? E você ao menos sabe com quem se casará?  –  Questionou Soreia, com desdém na voz.

–  Bem…  –  Começou Fyona.  –  Eu realmente sonho com o dia em que Deidara pedirá minha mão!

Soreia deu uma gargalhada estrondosa.

–  Sério?! Deidara parece uma menina, não acredito que acha ele bonito! Um dia desses eu o chamei de Ino!

Ino detestou o comentário, e revirou os olhos. Faria qualquer comentário reclamando do que Soreia havia dito, mas antes que pudesse, ela continuou:

–  E quanto a você, Sakura? Com quem pretende se casar?

As bochechas de Sakura tomaram um tom forte de vermelho com aquela pergunta. Ino, por sua vez, sabia bem qual seria a resposta de sua amiga. Ela tinha olhos apenas para Sasori, e sonhava com o dia em que ele perceberia aquilo, mas Ino achava que ele já tinha percebido.

–  Eu… Gosto muito do Sasori. Se for para casar, gostaria que fosse com ele.

Ino achou que a amiga não desejava fala aquilo, mas não teve tempo de defendê-la. Ainda assim, estava irritada com Soreia.

–  Sasori… é, ele é bem bonitinho. Na verdade acho que vocês combinam.  –  Disse a menina.

–  E por que é que você tem que achar alguma coisa sobre isso?  –  Ino perguntou, ainda irritada com as conversas estúpidas de Soreia sobre casamentos. Ela achava que podia dar opinião na vida alheia, mas na verdade não podia falar nada já que mal tinha controle sobre a própria vida.

Soreia arqueou uma sobrancelha e sorriu.

–  O que foi, Ino? Sente-se incomodada por ser a única sem um pretendente?

Talvez Ino estivesse bufando de raiva, mas não sabia ao certo. A única certeza que tinha era de que quem quer que fosse seu pretendente, seria muito melhor que Haki, mais poderoso, e elevaria Ino a um nível superior ao de Soreia. Sim, isso! Eu sou bonita o suficiente, perfeitamente capaz de me casar com um grande Senhor!

Ino sorriu e podia sentir o gosto da vitória em suas palavras.

–  Eu tenho sim pretendentes, e muitos, aliás! Mas nenhum definido ainda, é claro. A única certeza que tenho, e de que ele será um grande Senhor, enquanto você permanece aqui plantando nabos com o pobre Haki!

Soreia ainda sorria.

–  E você acha mesmo que alguém que mora no lado externo das muralhas poderá se casar com um Lorde? Acorda, Ino! Se continuar sonhando com isso, vai ficar sozinha para sempre!

–  Isso é o que você pensa, Soreia! Espere e verá! Agora ande, Sakura! Vamos embora!

Puxou Sakura pela mão, e quando estavam distantes o suficiente das outras duas, a amiga ria.

–  Do que é que você está rindo, Sakura?

–  Da mentira que contou para elas, do que mais seria? Elas ficaram assustadas com a possibilidade de que você esteja falando alguma verdade e que acabe acima delas no futuro.

Ino não evitou sorrir ao pensar sobre aquilo.

–  E quem foi que disse a você que eu estava mentindo? Eu estava falando a verdade! Me casarei com um fidalgo e assim terei um grande futuro, e manterei você próxima. Fyona talvez, mas quanto a Soreia, farei com que se arrependa de dizer que Deidara se parece comigo!

Sakura riu mais ainda naquele momento. – Não é engraçado! – Ino protestou.

Após conversar com Sakura por alguns minutos, resolveu ir para casa. Havia tomado uma importante decisão naquele dia, e não apenas Sakura e as outras duas estúpidas deviam saber, mas sua mãe acima de todos.

Yarui estava próxima à fogueira acesa no chão da cozinha sobre as lenhas. O frio estava intensificando conforme o sol abaixava, e a mãe de Ino estava cada vez mais friorenta.  Pois não podia ser diferente, com todo o peso que vem perdendo. Talvez de tanto trabalhar, ela havia se tornado só pele e ossos, podia-se notar suas clavículas evidenciadas à distância.

–  Ino, você chegou! –  Disse ela sorrindo. Seu rosto pálido estava agora iluminado pela luz alaranjada da fogueira.  

–  Sim, mãe! E hoje eu tomei uma decisão importante que certamente mudará nosso futuro.  

–  E que decisão é essa?  –  Questionou Yarui. Ino sentou-se diante dela ao lado da fogueira e abriu seu melhor sorriso. Tinha certeza de que a mãe aprovaria seus grandes planos para o futuro.

–  Casar-me-ei com um Lorde! Seja ele de Hyunin ou não, eu tenho certeza de que posso fazer isso, afinal todos dizem que sou bonita e inteligente. Assim, não precisaremos mais viver nesse local desprotegido.

Ino esperava que sua mãe sorrisse ao ouvir aquilo, mas seu rosto pareceu escurecer de tão sério. As expressões de sua magreza estampadas no rosto ficaram ainda mais evidentes, e Ino temeu sua ira sem nem saber por que razão ela não gostara de ouvir aquilo.

–  Nem pense nisso, Ino. Pense em qualquer coisa, menos isso.

Ino não entendeu.

–  Por quê? Viver em um castelo deve ser algo maravilhoso, ser respeitada como uma grande Senhora também. Eles possuem uma vida muito melhor que a nossa.

–  Talvez possuam. Mas não passei a vida inteira dizendo para você sempre crescer por suas próprias pernas?! Para nunca depender de um homem?! Você esqueceu de todas as histórias que contei?! Esqueceu-se da elfa Loríwen?! Lembre-se do que aconteceu a ela por confiar em um fidalgo!

Yarui parecia extremamente nervosa, como poucas vezes havia estado.

–  Mas era diferente… a história de Loríwen pode ser mentira…

Yarui segurou seus ombros.

–  Não era!  –  Gritou, olhando profundamente em seus olhos. Ino estranhava tanto a reação de sua mãe que estava prestes a chorar quando ela pareceu ter consciência de sua agressividade. Suspirou, e largou os ombros de Ino.  –  Por muitas vezes me perguntou sobre seu pai, e eu sempre dei respostas vagas. Pois se deseja conhecer uma história real sobre mentiras e fidalgos, então assim será. Seu pai era um Lorde, Ino. Não um simples Senhor de pequenas terras, mas um suserano, de terras imensas, talvez uma das maiores de toda a Letoria.

Ino pensou que sua mãe poderia estar mentindo, mas não havia nenhum sinal de mentira em seus olhos. Pelo contrário, ela estava prestes a chorar, segurando as lágrimas presas nos olhos azuis para não ficarem tão evidentes.

–  Quem era ele?  –  Ino questionou.

–  Você não precisa saber disso, porque ele não merece que você saiba.

Ino perguntou-se se era Lorde Hiashi Hyuuga, mas não parecia fazer sentido. Embora Hiashi fosse Lorde de uma das maiores proporções de terra de Letoria, ele era um Hyuuga, e não tinha cabelos loiros. Os cabelos loiros de Ino vinham de seu pai, certamente, pois os de Yarui eram negros e hirsutos, repletos de cachos bem definidos, enquanto os de Ino eram finos fios lisos e claros como fios de ouro.

–  Tudo o que precisa saber, é que ele disse que me amava, e prometeu deixar a esposa para casar-se comigo, e então teríamos filhos e governaríamos juntos suas terras… Entreguei-me a ele por isso e, quando descobri que tinha você em meu ventre, ele me mandou embora da cidade, pois sabia que meu pai me mataria caso descobrisse. Deu-me apenas dinheiro e esqueceu naquele mesmo instante todo o amor e o futuro que me prometera. Ele era um mentiroso, e viu em uma jovem garota bonita a oportunidade de saciar seus desejos apenas, nada além disso. É isso que fidalgos veem em mulheres como nós, Ino. Somos apenas objeto de desejo, uma carne diferente daquele que eles têm em sua cama todas as noites, que logo depois não servem para mais nada, e eles voltam para suas esposas, como se nada houvessem feito de errado. É por isso que você não deve duvidar quando conto as histórias para você, porque eu vivi isso mais do que ninguém. E por essa razão também você deve valorizar a experiência que tive para nunca precisar passar por algo como isso, Ino. É uma experiência dolorosa e infeliz.

Sua mãe derramou uma lágrima ou outra enquanto contava a história, mas então as controlou até com certa frieza. Ino tinha certeza de que ela não mentia, e lhe parecia que seu pai era um ser mentiroso e monstruoso, quem quer que fosse. Realmente não desejava conhecê-lo, não fazia falta nem mesmo saber seu nome. Ainda tinha o sonho de ser uma Senhora, mas poderia esquecê-lo com o tempo, e viver das flores como sua mãe, já que tinha vocação para os arranjos.

Yarui acariciou seu cabelo e seu rosto.

–  Se quiser ser uma Senhora faça isso por si própria. Junte um exército e invada o castelo, tome o posto de quem quer que seja o Senhor. Mas não dependa de um casamento para isso, Ino. Casamentos são mentiras em nossa sociedade, rótulos de poder, onde somente isso importa: o poder. E você, minha pequena, assim como eu, não possui poder algum.

Após falar aquilo, Yarui tossiu. Sua tosse parecia normal, mas logo tornou-se violenta, e Ino sentiu-se preocupada.

–  Mãe! Está tudo bem?

Quando a mãe de Ino tirou a mão de frente da boca, ela estava repleta de sangue. Ino sentiu o terror dominá-la.

–  Você tossiu sangue?!  –  Questionou.

–  Sim… Mas não é nada. Deve ser o clima frio e seco.

Ino não podia ter certeza daquilo, e o medo a dominou. Abraçou sua mãe, nervosa, e não saiu de seus braços por um longo tempo. Yarui era a única família que tinha. Se a perdesse, estava sozinha no mundo, e não queria estar sozinha. Queria ter sempre sua mãe por perto, a pessoa que mais lhe era importante.


Notas Finais


Hoje vocês conheceram a Ino, que eu amo também <3
Espero que tenham gostado dela tanto quanto eu :D
Beijos e até mais :*


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