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História Crônicas de Heróis - Problemas


Escrita por: UchihaAika

Notas do Autor


Oi pessoal!
Tive um pequeno atraso para publicar esse capítulo, espero que me desculpem por isso, mas essa semana e esse final de semana foram super corridos para mim.

Capítulo 21 - Problemas


Itachi

 

 

 

Não havia tido qualquer tipo de paz durante todo aquele dia, após saber do desaparecimento de seus irmãos. Temia o pior, ainda que tentasse não pensar sobre os riscos que corriam desde a morte de seus pais, um assassinato realizado dentro do castelo sem que ninguém notasse. Se seus irmãos também estivessem mortos, Itachi talvez nunca conseguisse seguir com a própria vida em paz.

Madara havia enviado patrulhas da guarda da cidade para procurar ao redor dela e para questionar as pessoas sobre qualquer coisa que tivessem visto, e desde cedo da manhã os grupos andavam pela cidade, mas mesmo agora, com o sol quase se pondo, ainda não haviam retornado com as notícias.  

– Fique calmo, tenho certeza de que eles estão bem.

Shisui tentava acalmá-lo, mas aquilo não adiantava muito com Itachi.

– Como pode ter tanta certeza? – Questionou, e seu primo suspirou.

– E como você pode ter tão pouca fé?! Acredite, se algo ruim houvesse acontecido a eles já saberíamos. Notícias ruins chegam rápido.  

Itachi não respondeu mais nada a Shisui, mas permaneceu apreensivo. Ficou ainda mais nervoso quando as patrulhas enviadas por seu tio passaram sob o segundo portão do castelo, com suas armaduras cinzentas iluminadas pelos últimos raios alaranjados do sol daquele dia que acabava.

Correu de seu quarto e desceu as escadas rapidamente, pulando vários degraus. Correu pelos amplos corredores escuros, enxergando apenas a luz distante da porta principal do castelo, onde alguns homens se reuniam. Ao chegar lá, resfolegando, viu que eram seu tio Madara, Sor Darui e Mestre Yerian que lá estavam, aguardando o comandante da patrulha que agora subia a escadaria até o local onde o rei e parte de seu conselho se encontravam.

–  Ao que me consta, eles trazem notícias sobre Príncipe Sasuke e Naruto.  –  Segredou-lhe Mestre Yerian, enquanto os cavaleiros da patrulha estregavam seus cavalos aos cavalariços do castelo.

–  Vossa Graça  –  Disse o comandante após retirar o meio elmo que utilizava, curvando-se diante de Madara.  –  temos notícias do paradeiro de vosso sobrinho e de vosso protegido. A patrulha ouviu cavaleiros e libertinos que andam pelas ruas da cidade na noite, e eles relataram ter visto duas crianças de capa negra que encontraram um cavaleiro na saída da cidade. O cavaleiro, segundo eles, era Sor Hatake. Dizem que foi Sor Hatake quem mais chamou atenção pois a ele todos conhecem, já as crianças nada eram além de estranhos, talvez nem fossem crianças, mas apenas homens baixos ou mulheres. O curioso é que as pessoas questionadas pela patrulha não estavam juntas, o que significa que várias pessoas viram isso, e então só pode ser verdade. Para onde quer que Príncipe Sasuke e Naruto tenham ido, estão acompanhados pelo Sor Kakashi Hatake.

Madara coçou o queixo, e Itachi não sabia se sentia alívio ou se temia ainda mais o que poderia ter ocorrido.

–  Acompanhados por Kakashi… Acredito que isso significa que estão bem, mas de qualquer forma, envie uma tropa em busca deles. Antes disso, envie-os para a casa de Sor Hatake, em busca de qualquer pista sobre seu paradeiro.

Sentiu-se melhor por saber que buscariam por seus irmãos, mas ainda assim tinha uma grande preocupação. Se quisessem Sasuke e Naruto mortos, àquela altura de nada adiantaria mandar patrulhas, ambos já teriam tomado tal infeliz destino. Tal pensamento certamente não permitiria que Itachi dormisse aquela noite. Já havia perdido seus pais, não aguentaria perder a única família que lhe restava.

–  Eu também vou! –  Itachi determinou

–  O que está falando, Itachi? – Madara questionou.

–  Não conseguirei dormir à noite de qualquer maneira, e preciso fazer algo... preciso encontrar meus irmãos.

Madara olhou para os conselheiros, e depois voltou a olhar para Itachi.

–  Faça como achar melhor, mas traga as informações até mim antes de fazer qualquer coisa.

Itachi assentiu, e rapidamente partiu para os estábulos, onde seu corcel negro foi selado para que ele pudesse acompanhar os cavaleiros restantes.

Partiu com a última tropa para a cidade sob os últimos raios de claridade daquele dia, enquanto o restante dos cavaleiros da patrulha tomou o rumo de suas casas. Desceram a colina da Fortaleza primária pela estrada íngreme de terra batida entre a parte inferior do castelo, e depois o restante do caminho do lado de fora da muralha, onde iniciava a cidade. Quando alcançaram a raiz da colina, caminharam entre ruas sinuosas envoltas por edifícios altos, com mulheres nas janelas que, conforme a noite chegava, tiravam as blusas e mostravam os seios para os que passavam.

Itachi apenas ignorava aquilo, pois estava ansioso por qualquer informação sobre seus irmãos. Voltaram a subir a colina da Fortaleza Secundária, entre ruas estreitas e sem muito movimento, com pouca iluminação de archotes em alguns cantos esporádicos. Pararam diante de uma porta amarela, um local minúsculo com paredes de madeira, sem segundo pavimento. Quando arrombaram a porta, encontraram apenas uma casa pequena, com uma cama e um baú em um canto, e uma fornalha minúscula com lenha velha no interior. Um pedaço de papel branco sobre o baú destacava-se, já que não havia nada mais pela casa. Itachi tomou a liberdade de pegar o papel antes que qualquer um fizesse aquilo, e encontrou uma carta assinada por Sasuke. Não tinha dúvidas de que aquela caligrafia era a de seu irmão, pois havia ensinado ele a escrever e conhecia sua letra melhor que ninguém.

Itachi leu cuidadosamente as palavras de seu irmão, e a cada linha tinha maior certeza de que havia sido ele o escritor. Sasuke dizia que ele e Naruto não tinham lugar naquele castelo, e por isso haviam partido em sua tão sonhada aventura. Pediam para que ninguém fosse atrás deles, pois se desejassem, voltariam por conta própria. Diziam que não estavam em risco pois estavam sob os cuidados do experiente cavaleiro Kakashi Hatake.

Aquelas palavras cortavam o coração de Itachi, especialmente porque ele sabia que era culpa sua. Sasuke e Naruto sempre falavam em partir para aventuras, desde pequenos, mas Itachi havia dado o pontapé para que fizessem isso quando, ainda naquela semana, renunciara seu posto de rei legítimo. Nada mais que fizesse poderia deixar Sasuke mais decepcionado quanto sua renúncia havia deixado, e por isso sentindo-se tão deslocado.

–  Essa carta é do meu irmão... Ele e Naruto fugiram. – Avisou ao comandante.

–  Devemos levar isso até o rei, então.

–  Sim. –  Itachi respondeu.

Levariam a carta até Madara, e ele certamente ordenaria um grupo de busca até seus irmãos. Itachi entendia que era o sonho deles, mas ainda assim eram apenas crianças que não sabiam o que faziam.

Partiu com a patrulha de volta para o castelo, o mais rápido que as ruas estreitas e íngremes permitiam. Quanto antes a tropa de busca fosse enviada atrás de seus irmãos, maior a chance de voltarem para casa em segurança. Itachi faria questão de partir juntamente com a tropa, pois se ele avia feito os dois partirem, ele devia fazer os dois voltarem.

Ao chegar no salão principal, encontrou Madara com os cabelos desgrenhados e utilizando um roupão de seda negro. O rei havia sido tirado de seu sono, e não parecia muito alegre com isso, mas ainda assim estava ali, esperando a chegada dos cavaleiros da patrulha.

Todos curvaram-se diante do rei, e o capitão estendeu a carta que haviam encontrado, com todo o respeito e cortesia, até seu rei.

–  Vossa Graça, encontramos esta carta na casa de Kakashi Hatake.

–  Foi escrita por Sasuke, não tenho dúvidas. –  Itachi confirmou.

Madara começou a ler a carta, e Itachi esperou com paciência.

–  A tropa irá atrás deles agora, não irá?  –  Questionou a Madara quando percebeu que ele havia terminado de ler as palavras de Sasuke. Não fez questão de pegar a carta de volta, afinal, não queria ter consigo aquilo que intensificava sua culpa.

–  Não há por que, Itachi. Os meninos escolheram esse caminho.

Itachi não podia acreditar no que ouvia.

–  Eles são crianças! Deixará que escolham por conta própria viver em uma loucura dessas, sob grandes perigos?!

Madara segurou seu ombro.

–  Eles não são tão crianças quanto pensa, Itachi. Com a idade deles você já tinha tomado sua decisão de não ser rei, caso não se recorde.  –  Ele mal podia lembrar. Como o tempo havia passado tão depressa?  –  Os meninos estão passando por momentos difíceis desde a morte de Mikoto e Fugaku, vivem presos nesse castelo sem perspectiva de futuro… para eles, uma nova jornada deve ser algo grandioso. Eles têm muito a aprender, e aliás, descobrirão nesse meio tempo que o mundo lá fora não é a maravilha que imaginam. Você verá, logo eles estarão de volta, com o rabo entre as pernas, dizendo nunca mais querer sair de nossas proteções.

–  Como pode ter tanta certeza?  –  Questionou. Era difícil para ele acreditar que qualquer coisa podia amedrontar Naruto e Sasuke, tão destemidos desde muito novos.

–  Porque eu já conheci o mundo lá fora, muito bem aliás, e ainda assim resolvi voltar. Aquele lugar não é tão encantador como todos pensamos.

–  É perigoso! Eles podem não ter a chance de voltar!

–  Querido sobrinho, acha que eu permitiria que meus outros dois amados sobrinhos sofressem risco de vida? Lembre-se que Sasuke sempre me foi estimado, e Naruto ainda mais, tanto que mesmo após a morte de Mikoto o mantive aqui, tomando a responsabilidade de assumi-lo como meu protegido. Eu permito que eles fiquem lá fora porque sei que ao lado de alguém como Kakashi, eles estarão a salvo. Aquele cavaleiro tem grande valor, como poucos, talvez nenhum da guarda real. Seus irmãos estão em boas mãos. Eles pediram para que não fôssemos atrás, e assim faremos. Deixe-os viver.

Itachi sabia que aquele era o desejo de ambos, mas ainda assim o preocupava a nova perspectiva. Agora que sabia que Naruto e Sasuke estavam vivos, sabia também que eles ficariam distantes por um longo período, talvez nunca voltassem. Era aquilo que o entristecia: a perspectiva da solidão. Parte de sua família estava morta, e a outra parte distante, para talvez nunca mais voltar. É esse o preço que pagamos após tomar decisões difíceis?

Itachi precisara escolher entre sua liberdade e a companhia de sua família. Inicialmente não sabia estar escolhendo entre as duas coisas, mas agora percebia que havia sido desse jeito, e ponderava se havia escolhido o certo.

Talvez sim, talvez não. Era provável que apenas o tempo lhe trouxesse aquela resposta.

 

 

 

 

Sasuke


 

 

Viajavam há três dias, e Sasuke sentia-se aliviado por não ter tropas Uchihas em seu encalço. Ele e Naruto haviam pensado apenas em fugir, e não em justificar, mas Kakashi lhes sugerira que deixassem uma carta dizendo que haviam partido por escolha própria, e que estavam acompanhados por ele. A carta havia ficado na casa de Kakashi, mas como os três haviam sumido ao mesmo tempo, era provável que tivesse sido encontrada. Aquilo ele agradecia ao cavaleiro, que agora os guiava pelos estranhos caminhos de Austerin.

Naqueles três dias, haviam parado em apenas uma estalagem na primeira noite de viagem, após isso passaram por um vilarejo ou outro, minúsculas concentrações de casas e plantações que nem mesmo um nome possuíam, mas em nenhum dos vilarejos tinham parado, apenas seguiram viagem e acamparam entre árvores ou dentro de florestas densas. Nesses acampamentos, além de o sono ser desconfortável, ele era parcial, pois sempre alguém precisava ficar acordado fazendo guarda. Havia ladrões em qualquer canto, e além disso, diversas espécies de animais poderiam oferecer riscos. Para atrapalhá-los, precisavam sempre fazer fogueira, pois ainda estavam ao sul, e ali sempre fazia frio, mesmo no verão. Embora não fosse tão intenso naquela estação, ele ainda predominava, especialmente durante a noite.

Kakashi explicava para eles tudo o que sabia, e não sabia pouca coisa. Conhecia aqueles lugares quase como se fossem palma de sua mão, e quando necessário, sabia cortar caminho entre as matas. Agora, guiava-os em direção aos limites entre as terras Uchiha e Inuzuka.

A aventura não era uma aventura propriamente dita, na verdade. Se estivessem apenas Naruto e Sasuke, provavelmente seria, mas Kakashi mantinha vigilância dura sobre eles, não permitia que andassem sozinhos nem que fizessem qualquer coisa que julgassem interessantes, pois considerava-as perigosas. Aquilo incomodava Sasuke em demasiado, pois nada podia ser tão perigoso como Kakashi supunha. Tinha certeza de que o cavaleiro estava sendo super protetor com eles pois sabia o quanto suas vidas eram consideradas valiosas e como ele seria culpado caso qualquer coisa acontecesse, mas Sasuke havia saído do castelo justamente para ver-se livre daquela visão de cuidado sobre sua vida, e Kakashi estava estragando tudo. Sentia-se um pouco mais livre, mas ainda assim preso a qualquer coisa que o continha.

–  Nós estamos chegando em Vila d’Ouro, e pararemos lá esta noite, conheço uma boa estalagem. Entretanto, vocês não devem sair de perto de mim por um segundo sequer, entenderam?  –  Falou Kakashi. Sasuke estava cansado de precisar estar o tempo inteiro perto de cavaleiro. Observou seu rosto sereno iluminado pelo sol e sentiu ainda mais raiva. Ele apenas ficava tão calmo porque não era ele aquele que precisava ser cuidado.

–  Por que não devemos?  –  Questionou. Kakashi abaixou-se levemente diante dele e mostrou seu olho esquerdo, que era atravessado da sobrancelha à bochecha por uma cicatriz em relevo na pele, com um tom mais escuro.

–  Ganhei essa cicatriz aqui, e por pouco não perdi o olho. Sejam cuidadosos. Aqui vivem apenas mercenários que fariam de tudo por dinheiro e, também, pessoas muito ricas, que se não gostarem de você por qualquer coisa que faça, mandarão algum mercenário matá-lo. E eles não terão pena por serem meninos de dez anos. Então, fiquem perto de mim e façam o que eu mando.

Sasuke revirou os olhos, pois nada daquilo poderia ser verdade. Estava mais para uma lenda urbana que Kakashi havia levado a sério demais. Quanto à cicatriz em seu olho, ele era um cavaleiro, se não tivesse uma cicatriz ou outra Sasuke duvidaria de quão bom cavaleiro era.

–  Você acredita nisso?  –  Sussurrou para Naruto, que deu de ombros.

–  Acredito, por que ele mentiria? Me parece bem verídica a história.

Sasuke revirou os olhos e não disse mais nada. Naruto era sempre mais lento para entender algumas coisas, e provavelmente ainda não havia percebido o cuidado extremo que Kakashi estava tendo com eles, a ponto de tomar sua liberdade.

Bem, ele ainda não percebeu, mas em algum momento perceberá.

Continuaram o caminho pela estrada de terra batida entre as altas árvores da Mata Gheil. Havia sido nomeada daquela maneira pelos magos e então permanecido, durante toda a história. Itachi havia dito uma vez para Sasuke a origem do nome da mata, mas ele não conseguia se recordar, e preferia não lembrar de Itachi naquele momento. Ainda se sentia extremamente decepcionado com o irmão mais velho, e não sabia quando seria capaz de perdoá-lo.

Uma pedra apareceu em seu caminho, e ele seguiu chutando-a até que finalmente alcançassem a tal Vila d’Ouro. Aparentemente, era verdade se tratar de uma vila onde muitas pessoas ricas moravam. Era ampla, com ruas de terra batida e algumas de pedras cinzentas, as casas eram todas de pedra com grandes portas e janelas coloridas. Em primeiro momento, Sasuke não podia notar nenhuma construção de madeira.

Notou, mais tarde, após muito andar pela rua principal, a estalagem onde ficariam que era feita de madeira, mas era um edifício amplo que ocupava grande parte da rua, e havia vários outros estabelecimentos menores ao redor.

Havia muitas pessoas na rua, tantas quanto costumava ver nas ruas de Torreal. Ali, entretanto, a cidade era mais bonita que a capital de Austerin, e até mesmo mais limpa, ainda que houvesse muita sujeira. Até mesmo as pessoas pareciam mais agradáveis de serem observadas, ainda que houvesse muitos que deixassem claro em sua aparência que se tratavam de mercenários.

Sasuke estava encantado com a cidade, e mesmo quando entraram na estalagem com a noite caída sobre eles, não conseguia parar de observar a rua através da janela aberta, por mais frio que estivesse naquele momento.

–  Que temos para a ceia?  –  Kakashi perguntou à estalajadeira. Faltavam-lhe alguns dentes na boca e talvez por isso não sorrisse nada.

–  Guisado de carne com batatas, pernil e cebolas assadas e pão de ervas, e também cerveja.

Kakashi entregou algumas moedas de bronze para a mulher.

–  Traga-nos três pratos com tudo e três canecas de cerveja. Há algum quarto disponível para os três?

A mulher ergueu uma sobrancelha e passou os olhos sobre Naruto e Sasuke.

–  Sim, temos um com uma cama grande o bastante.

Kakashi entregou mais duas moedas de bronze que seriam suficientes pelo quarto, e a mulher partiu.

–  Guisado de carne com batatas! Eu amo isso!  –  Naruto exclamou. Kakashi sorriu de canto.

–  Aproveite pois a partir de agora isso será raro. Temos bastante bronze e prata, e algum ouro, mas isso não durará para sempre e precisa ser economizado.

–  Quando nossas moedas acabarem, o que faremos?  –  Naruto questionou, e Kakashi deu de ombros.

–  Sou um cavaleiro andante, e vocês ocupam papel de meus escudeiros agora. Podemos oferecer trabalhos a Senhores ou em aldeias, a fim de conseguir dinheiro. Não é difícil, sempre há alguém que precisa dos serviços que prestamos.

Não vim até aqui para ser escudeiro de ninguém.

–  Você parece bastante relaxado quanto a isso, então acreditarei em você.  –  Disse Naruto, antes de abrir um de seus imensos sorrisos para a caneca de cerveja que chegava. Logo depois veio a comida, e parecia para Sasuke o prato mais delicioso que alguma vez já havia provado, mesmo que fosse simples comparado aos banquetes servidos em Latíbulo da Fênix.

Quanto mais a noite caía, mais cheia ficava a estalagem. Parecia haver muitos viajantes passando por aquela região, e não apenas cavaleiros, mas também mulheres e homens comuns. Quando Sasuke observou novamente para fora através da janela aberta, percebeu que diferentemente de Torreal, as pessoas continuavam nas ruas mesmo após o sol se pôr, e havia música, fumaça e muito barulho. Era tentador observar o lado de fora, saber o porquê de aquelas pessoas sentirem-se tão seguras em uma vila solitária enquanto na grande capital, onde devia ser mais seguro, todos trancavam suas casas antes mesmo que o sol desaparecesse por completo.

–  Esse guisado está maravilhoso! É o melhor que já comi em toda minha vida!  –  Naruto falava para Kakashi, sem tirar a atenção de seu prato. O cavaleiro ria e respondia qualquer coisa, para Sasuke estava mais difícil ouvir, pois Naruto estava entre ele e Kakashi, e havia muito barulho na estalagem.

Soube que se quisesse conhecer a cidade, aquela era sua única oportunidade. Todos estavam distraídos demais com a comida, e o barulho e o movimento da estalagem não permitiriam que qualquer ausência fosse notada com facilidade.

Esgueirou-se para o corredor, a mesa em que estavam era próxima da porta, o que tornava tudo mais fácil. Logo Sasuke já estava no lado de fora, ouvindo os sons de risos e gritos, sentindo os mais diversos cheiros de comidas. Não pôde deixar de notar que era o único de seu tamanho no lado de fora, não havia qualquer criança em seu campo de visão, e mulheres, apenas acompanhadas, geralmente por um ou mais homens. As presenças predominantes naquelas ruas, iluminadas por archotes, tochas e lâmpadas de querosene, eram as presenças de homens. Entre eles havia diversos tipos, desde os mais maltrapilhos até os mais bem vestidos e com aparência senhorial, mas nenhum parecia dirigir uma expressão amigável ao ver Sasuke na rua.

Ele ignorou os poucos olhares que vez ou outra dirigiam-se para ele e seguiu o caminho entre as ruas amplas, cercadas por casas altas e estabelecimentos repletos de pessoas em seu interior.

Os homens nas ruas riam, bebiam e jogavam, para Sasuke não pareciam estar fazendo qualquer coisa ameaçadora como Kakashi supunha que fariam. Aquilo fez com que se sentisse irritado, pois concluiu que o cavaleiro mentia para manter sobre ele e Naruto a proteção excessiva que era exercida dentro do castelo. Havia fugido para ver-se livre das muralhas, e agora elas o perseguiam, onde quer que fosse. Talvez devesse chamar Naruto de uma vez para nos livrarmos disso enquanto podemos.

Sasuke virou uma rua à esquerda, levemente íngreme, que dava alcance a uma torre baixa com o andar superior aberto. Dali, poderia ter uma boa visão da vila, e até mesmo observar lugares que seriam mais interessantes para conhecer durante aquela noite.

A rua em que entrara, no entanto, era menos iluminada e menos movimentada que aquela em que se encontrava antes. Havia uma lâmpada ou outra em algumas paredes de residências, o que criava focos de luz separados e mantinha o breu entre eles, especialmente sem a luz da lua. No entanto, ainda havia algumas pessoas que passavam vez ou outra ao seu lado, e podia sentir os olhos deles sobre si, embora não os enxergasse na escuridão.

–  NÃO!  –  Ouviu um grito, e teve certeza de se tratar de uma voz feminina.

–  Cale a boca e as coisas serão mais fáceis para você.  –  Uma voz masculina respondeu. Sasuke sentiu um desconforto extremo quando, com os olhos acostumados à escuridão, percebeu que havia três homens ao redor de uma mulher. Os três a mantinham presa na parede, e um deles havia rasgado as amarraduras da parte da frente do justilho que ela utilizava, e também as blusas que tinha por baixo. Pelas roupas que utilizava, era evidente que não se tratava de uma simples dama, mas por mais forte que fosse não poderia dar conta dos três sozinha.

–  Me solta, seu imundo!  –  Ela gritou, e cuspiu no rosto dele. O homem devolveu-lhe uma bofetada na face que abriu seu lábio inferior em um risco profundo e vermelho.

–  Eu disse que as coisas podem ser mais fáceis se calar essa merda dessa boca! Não devia estar na rua uma hora dessas, agora fique quieta!  –  Ele segurou um de seus seios desnudos entre os dedos, e ela gritou. Havia desespero em seu grito, e aquilo pareceu cortar Sasuke ao meio e acordá-lo. Precisava fazer algo! Todas aquelas pessoas que passavam não davam atenção nenhuma àquilo, por quê?!

Eu não permitirei que isso aconteça! Tinha uma espada embainhada presa ao cinto, e sabia como utilizá-la. Tudo o que precisava era que sua voz saísse da garganta.

–  Deixem-na em paz!  –  Gritou, sem saber de onde havia vindo a coragem. Mas era necessária, e ele tinha certeza de que não se arrependeria mais tarde.

Dois dos três homens olharam em sua direção, enquanto o terceiro sequer largou a mulher desesperada para olhá-lo. Os dois que o enxergaram, riram entre si. Um deles era velho, com uma horrenda cara repleta de cicatrizes, e o outro era uma montanha de músculos com um grande nariz quebrado. Não teria muitas chances contra eles, percebera tarde demais. Mas eles não poderiam matá-lo, afinal era o príncipe, e não podia deixar que fizessem mal àquela mulher.

–  A mocinha quer nos dizer o que fazer. Vá para a casa, mocinha, não é hora para você estar na rua.  –  Disse o velho.

Sasuke retirou sua espada da bainha, e percebeu que sua mão tremia. O homem alto riu ainda mais.

–  Quer nos impedir, mocinha?! Última chance para guardar essa espada e ir para casa com sua mamãe. Caso assim não o faça virará a mocinha que realmente é antes de morrer.

Sasuke parou de tremer, e segurou o punho da espada com mais força. Não podia voltar para a sua mãe, então os mataria, ou no mínimo os ordenaria a pararem. Correu na direção dos homens com a espada em mãos, e brandiu-a na direção da enorme perna do homem musculoso. Decepá-la-ia, caso o homem velho não tivesse interferido com sua espada, defendendo o golpe de Sasuke. Não fez muita força para empurrá-lo com espada e tudo, e Sasuke caiu no chão, sentado, ridiculamente. Antes de pôr-se em pé, o velho chutou seu queixo com uma força descomunal, e sua visão ficou completamente negra. Sentiu o gosto do sangue invadir sua boca sem deixar qualquer espaço, logo escorrendo quente por seu queixo, e seus dentes doíam tanto que talvez alguns estivessem quebrados, embora não tivesse sentido eles serem quebrados. Ainda sem enxergar nada, sentiu seu corpo ser erguido por alguém, que segurava o colarinho de seu gibão e a amarração de sua capa negra, a capa da Casa Uchiha.

–  Eu sou o príncipe!  –  Gritou.  –  Sou Sasuke Uchiha! Soltem-me agora ou pagarão por isso.

Ouviu as gargalhadas, dessa vez dos três homens, enquanto a mulher gritava para que não o machucassem, alegando ser apenas um menino. Apenas um menino, e ainda estúpido.

–  E eu sou o Rei Madara, e você atrapalhou meu coito, moleque de merda. Agora vai pa –  O homem não terminou a frase. A visão de Sasuke voltava aos poucos, turva, mas ele sentiu um líquido quente respingar em seu rosto e escutou o terrível som do aço rompendo carne e tendões. Seu corpo caiu ao chão com um baque desagradável que machucou a coluna, e logo ele ouviu o som de metal se chocando.

Alguém segurou suas costas, e outra pessoa examinou seu queixo e depois sua boca com suaves mãos revestidas de uma pele como seda.

–  Está bem, foi apenas um machucado, mas nenhum dente foi quebrado, e nenhum osso.  –  Ouviu a voz da mulher dizer.

–  Ótimo.  –  A voz de Naruto respondeu. Sasuke agora enxergava tudo mais nitidamente, e percebeu que Kakashi havia cortado a garganta do homem velho que chutara seu queixo, havia também aberto a barriga do homem que tocava na pobre mulher antes, e suas entranhas estavam todas jogadas ao chão, expostas para o mundo. Agora, ele enfrentava o homem musculoso, que a Sasuke parecia o mais difícil.

–  O que deu em você para me defender, garoto?! Sequer me conhece! E ainda dizendo ser o príncipe! Se não fosse por seus amigos, nós dois teríamos sido violados e mortos!  –  Ela o repreendia. Sasuke, aturdido, rangeu os dentes.

–  Eu salvei você! Devia me agradecer! Por que está dizendo essas coisas?!

Com a visão já normalizada, ele viu a confusão no rosto da moça.

–  Não entende? Eles são da Companhia Vermelha! Depois do que está acontecendo aqui, eu desaparecerei da cidade, e vocês devem fazer o mesmo!

–  O que é a Companhia Vermelha?  –  Naruto questionou.

–  Ah, então vocês realmente nunca estiveram aqui? Não deviam simplesmente vir a essa vila sem saber nada sobre ela! É uma vila perigosa!

Sasuke sentiu os olhos de Naruto fixos nele, sem nenhuma alegria.

–  Nós sabíamos que era perigosa, mas este aqui é um teimoso.  –  Disse ele, apontando para Sasuke. A mulher deu um meio sorriso.

–  Percebi. Teimoso e estúpido. De qualquer forma, a Companhia Vermelha é uma companhia de mercenários que tem o controle dessa cidade. Eles fazem o que querem aqui, eu realmente nunca deveria estar na rua a essa hora, é por isso que não se veem mulheres desacompanhadas por aqui. Mas falhei, e paguei por isso. Agora, acredito que não voltarei tão cedo para Vila d’Ouro, e vocês também não, aconselho.

As roupas da mulher ainda estavam rasgadas, mas ao menos já cobriam as partes de seu corpo que deviam estar cobertas.

O som de ossos sendo quebrados levaram os olhos de Sasuke à luta de Kakashi. O cavaleiro havia jogado a cabeça de seu oponente contra a parede, e o homem agora jazia, com o crânio provavelmente partido. Kakashi limpou o sangue da espada na roupa do homem e a embainhou novamente, e então seus olhos negros, repletos de ira, voltaram-se para Sasuke. Naquele instante ele soube que teria um grande problema.

 


Notas Finais


O que acharam da teimosia do Sasuke? HAHAH
Menino bem problemático esse.
Espero que tenham gostado do capítulo, até o próximo fim de semana :*


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