Era pouco mais de seis horas quando o Sol resolveu dar as caras pela primeira vez naquele dia, não que isso tenha sido um fator tão importante para Junhee que já estava acordado desde as quatro. Foi quase um desafio ter conseguido fazer Chan dormir, não o culpava, ele mesmo mal conseguiu pregar os olhos. As semanas passaram voando, julho já não estava mais em seu início.
E o dia pelo qual não queriam que chegasse, chegou.
Era o dia do julgamento.
Chan atingira um nível de nervosismo no dia anterior, que Junhee sequer sabia que existia, assistiu o namorado andar de um lado para o outro recitando cada uma das palavras as quais usaria no dia seguinte, o viu passando o terno três vezes, para se certificar que não houvesse nada de errado e como se não bastasse ligou sete vezes para Seungyoun somente para ter certeza de que tudo estava sob controle.
Por mais que Jun tivesse dado seu máximo para fazer a Wonnie se distrair, parecia que a ligação dela com o irmão era forte o suficiente para que ela compartilhasse da mesma angustia sem sequer saber o que acontecia, bom, sabia superficialmente, tentaram explicar da melhor forma possível e com as palavras mais doces que encontraram, mas assim como os outro dois, ela estava com muito medo.
Percebendo que não chegaria a lugar nenhum apenas encarando o teto, decidiu se levantar e começar a aprontar as coisas. O julgamento estava marcado para 10 da manhã, estava perto demais.
Deu uma olhadinha no quarto da pequena garotinha e sorriu ao perceber que ela parecia dormir tranquilamente, seu semblante exalava calma. Passados alguns segundos, o sorriso se transformou em uma pontada no peito.
E se aquela fosse a ultima vez que poderia a ver seu rostinho daquela forma, ultima vez que prepararia café para si ou ultima vez que a acordaria com cócegas e carinhos?
Doía demais pensar dessa forma, prometera que não deixaria nada de ruim acontecer com eles e realmente gostaria de cumprir sua promessa, seu maior desejo era simplesmente os proteger de tudo, mas chegou um ponto, o qual as coisas não estavam mais sob seu domínio, não dependia apenas de si e isso era mais do que frustrante.
Chegou pertinho da cama da menina e abaixou, tirou alguns fios teimosos que estavam por cima de seus olhinhos e ajustou sua cabeça no travesseiro.
– Bom dia princesa! – se inclinou para deixar um breve selar em sua testa que provocou que a mesma abrisse seus olhinhos já sorrindo. – O que você acha de me ajudar a preparar o café?
– Posso mesmo ajudar!? – levantou seu tronco rápido, demonstrando animação. Jun sempre a chamava para o ajudar pois sabia que aquilo deixava a pequena feliz, ainda mais quando se tratava de algo na cozinha, ela tinha um talento nato para fazer bagunça, mas sempre ajudava a limpar depois. – O Chan já acordou? Vamos fazer uma comida bem gostosa para ele!
Sem que percebesse seus olhos se encheram de lágrimas, não queria que ela percebesse que ele também estava sensível, precisava se mostrar forte e passar força para eles. Secou suas bochechas com a mão e colocou Wonyoung rapidamente em seu colo para que pudesse esconder o próprio rosto.
– Vamos sim, bebê!
Depois de passar com ela no banheiro para que lavasse o rostinho da pequena e escovasse seus dentinhos, foram para cozinha. A colocou sentada na bancada e a deu a tarefa de passar manteiga em algumas torradas e geleia nas outras.
– Junnie, a gente vai hoje naquele lugar grande que vocês me falaram? – perguntou curiosa, depois de ver que Jun estava mais atrapalhado do que de costume, ele nunca tinha confundido como fazer seu leite.
O coração do mais velho sentiu um aperto, não queria contar para ela tão cedo, quando estivessem para sair ia ser o melhor momento, mas agora não daria para mentir. A garotinha estava olhando pra si com seus grandes olhinhos brilhantes e a cabeça levemente inclinada.
A vontade de chorar retornou mais uma vez.
– Sim, meu amor, é hoje... – pensou em algumas frases positivas e motivacionais para mostrar que estava tudo certo, mesmo que não pudesse fazer nada para garantir que realmente ficasse, mas cada uma das palavras que havia pensado, se perderam quando chegou pertinho da criança. – E-Eu... Eu... O Chan...
– Junnie por que tá chovendo nos seus olhinhos? – Wonnie colocou suas duas mãozinhas na bochecha do mais velho secando cada uma das lágrimas desciam. – Não precisa chorar! Vai ficar tudo bem né? Você prometeu que ficaria e eu confio em você, hoje eu vou voltar pra casa com vocês, eu sei que vou!
Todas as emoções que estava tentando guardar, praticamente explodiram do seu peito e já não conseguia controlar mais as lágrimas ou seus movimentos. Colocou a pequena em seus braços e a abraçou como se fosse o último, acariciou seus fios apreciando o seu cheirinho de colônia infantil que não desgrudava da mesma.
– Oh Deus, eu achei que não fosse possível amar tanto assim alguém, como eu amo você e o bobão do seu irmão. – deu uma voltinha, fazendo a pequena soltar um risada alta e o abraçou ainda mais forte. Confiava na promessa dele pois se sentia bem perto dele mas a cima de tudo sabia que assim como ela mesma seu irmão se sentia protegido e no meio do caos, não existia sensação melhor do que essa. – Eu, o Channie e o tio Seungyoun vamos fazer de tudo para ninguém te tirar da gente, okay?
– Também te amo, muito! – disse e logo depois se impulsionou um pouco para cima no colo do mais velho para que conseguisse deixar um beijinho na testa do mesmo, copiando o que ele sempre fazia com ela. – Eu tenho que voltar, não posso deixar o príncipe Junnie cuidando do castelo sozinho.
– Você tem toda razão princesa, eu não vou ser capaz de fazer nada sem você. – a colocou novamente na bancada, enquanto gesticulava e utilizava uma espécie de voz teatral. – Mas e o seu irmão, ele é o que?
– Claramente o bobo da corte né! – Chan entrou na cozinha ainda com os olhinhos fechados e falhando em tentar arrumar os fios rebeldes que estavam apontados para todos os lados, aquela simples imagem colocou um sorriso ainda maior no rosto dos outros dois, que já estavam ali.
– Nao, não! Você também é um príncipe Channie, mas você fica o dia todo fora, então eu e o Junnie cuidamos do castelo. – disse já abrindo os próprios bracinhos, para dar um abraço no irmão. – Você é tipo um príncipe viajante, mas tá sempre perto quando a gente precisa e quer estar junto!
– Senhor, eu vou chorar de novo. – Junhee sussurrou pra si, morrendo de amores pela pequena.
– AÍ MEU DEUS! – a pequena gritou, assustando os dois mais velhos que estavam prestes a se cumprimentar. – Channie você acordou muito rápido, a gente ia preparar um super café para você, agora você já viu tudo, estragou a surpresa!
– E como que eu não ia acordar com os dois gritando e rindo aqui na cozinha? – beliscou a barriga da garotinha a fazendo se contrair pra fugir das cócegas. – E você, que cara amuadinha é essa? – abraçou o namorado por trás, logo recebendo carinho nos braços.
– A pequena ali já me fez chorar três vezes hoje, acho que eu não to preparado...
– Olha, eu sou a última pessoa que tem moral para falar de positividade nesse momento mas, vamos nos esforçar para pensar no melhor. Sei que as chances não são grandes, mas se a gente não acreditar, o que vai nos restar? – virou o corpo do outro e o deu um selinho. – Meu coração tá para explodir e minha ansiedade também, mas vamos mentalizar coisas boas. O mundo já foi muito cruel comigo e com ela, seu que está nas horas das coisas boas acontecerem.
– Você está certo! Vou colocar uma música e a gente vai fazer o melhor café da manhã do mundo!
Dito e feito. Passaram a próxima hora fazendo torradinhas, fizeram ovos mexidos, cortaram várias frutas, prepararam suco de laranja, fizeram alguns pãezinhos e cortaram alguns pedaços do bolo que Chan tinha feito no dia anterior enquanto surtava no telefone com Seungyoun. Tudo isso enquanto cantavam e dançavam as músicas favoritas da rádio e mais algumas aberturas dos desenhos da Wonnie, que os três sabiam as letras até o contrário.
Abraço para cá, beijinhos para lá e muito muito carinho foi envolvido enquanto preparavam a comida.
– Jun, coloca a gravata em mim? – Chan apareceu na porta do banheiro já inteiro trocado e riu da situação a qual os outros dois estavam.
Wonnie estava brincando com alguns animaizinhos de borracha enquanto Jun estava secando o cabelo da pequena, tinha uma escova em uma mão e na outra o secador, se não o conhecesse juraria que trabalhava com aquilo, estava em uma pose quase que profissional.
– Espera dois minutinhos amor, já estou acabando. – falou um tanto mais alto, para que o outro escutasse mesmo com o barulho do secador.
O assistiu finalizar e prender um tufinho de cabelo na parte de cima com uma presilha da mesma cor do vestido que ela estava usando.
– Não sabia que era possível alguém ficar tão atraente desse jeito... – Jun se aproximou já pegando a gravata que estava em cima da cômoda, ajustou as lapelas e começou a dar o nó.
– Tá falando isso porque você não se vê todo de branco antes de ir trabalhar, as vezes eu acho que eu to alucinando, você é lindo demais.
– Aí exagerou... – assim que finalizou, fechou o terno e arrumou na parte de trás para que o acinturamento ficasse correto. – Mas mesmo de terno continua com carinha de bebê, né?
– Sai fora, nessa casa só tem um bebê! – empurrou o namorado que estava se inclinando para o beijar.
– Sim sim, nosso gatinho! – Wonyoung passou por eles com o gato no colo que agora também tinha um lacinho igual o dela.
– Vou terminar de me trocar, acho melhor a gente terminar de arrumar as coisas para já ir! Acho que é um momento legal para você conversar com ela e sabe... caso aconteça algo...
Chan assentiu e seguiu em direção a sala, onde a pequena estava com o gatinho em seu colo, enquanto assistiam juntos algum desenho bobinho.
– Posso me sentar aqui com vocês? – perguntou engrossando a voz para parecer sério.
– Seria uma honra ter sua companhia, principe Chan! – deu batidinhas no lugar ao seu lado para que o maior se sentasse.
– Aceito com gratidão o lugar oferecido, mas quero pedir encarecidamente para princesa se sentar no meu colo, pois quero conversar bem pertinho dela.
Wonnie estranhou um pouco porque ele parecia tenso, mas não pensou duas vezes antes de se posicionar no colo alheio quando o mesmo se sentou no sofá.
– Agora brincadeiras a parte, acho que você já sabe o que o tato veio falar para você né? – a puxou mais para pertinho e já era capaz de perceber suas mãos tremendo e o coração aumentando a velocidade de batimentos a cada segundo. – É meio difícil encontrar quaisquer palavras para dizer como se fossem as últimas, eu sei que não são as últimas. Mesmo que o pior aconteça hoje, eu vou até o inferno para conseguir te ter por perto e garantir que nunca nós percamos contato, não vou permitir que nada e nem ninguém nos separe. Nós somos o complemento um do outro, lembra? – com a mão que não estava a abraçando secou as suas e as lágrimas da pequena que também já saiam. – A gente se completa e por isso eu não sou nadinha sem você. Seu sorriso é o motivo pelo qual eu tenho força de levantar todos os dias e continuar lutando mesmo que o mundo todo esteja indicando para eu desistir. A sua inteligência e criatividade só me fazem te admirar mais dia após dia, nunca vi uma garotinha de três anos tão esperta quanto você. E o seu amor é o que eu agradeço todos os dias por ter para mim. – Wonnie agarrou seu pescoço e agora chorava alto, aquilo não poderia estar acontecendo, a situação não parecia ser tão real até aquele momento. Era um pesadelo, só poderia ser, nenhuma realidade poderia ser tão dolorosa na cabeça da pequena garotinha. – Sei que a vida é cheia de provações para todos e que eu venho sofrendo com isso já faz um longo tempo, mas ela nos da coisas muito boas e preciosas, nem preciso me esforçar para ter a certeza que o melhor presente que eu já ganhei, foi você! – deixou um beijinho em seus cabelos, saiam tantas mas tantas lágrimas que seu terno já deveria estar molhado. – Quero que você nunca se esqueça que você é a pessoa mais importante para mim e que eu sempre vou estar do seu lado, mesmo que um pouquinho longe. Sei que você está também comigo, o tempo todo, aqui no meu coração e eu também estarei no seu. Prometo te devolver em dobro tudo isso que você já me proporcionou, okay? – mesmo com ela relutante, ele conseguiu fazer com que ela o olhasse, os dois mal conseguindo enxergar tamanha quantidade de lágrimas que continuavam a sair. – Sei que eu falo tanto isso para você que essas três palavrinhas já nem devem ter tanto significado para você, mas saiba que eu amo muito você e que por isso e por saber que a força do amor jamais vai superar qualquer outra, te prometo que tudo vai ficar bem.
– C-Chan... E-Eu n-não quero t-te... perder – proferiu tentando lutar contra os soluços, estava chorando alto, seu coração doía, não conseguia entender o motivo por sempre perder as pessoas a sua volta, essas coisas não aconteciam com seus amiguinhos, não conseguia entender por que era tudo tão difícil. – Eu te amo mais!
Jun estava parado na batente da porta assistindo tudo silenciosamente, estava com a mochilinha amarela de Wonyoung nas costas e apenas esperava o momento tão lindo como aquele se cessar, era hora de ir.
Nunca sentiu tanto medo como naquele momento.
Esperou os dois ficarem mais calmos, refez o penteado da pequena e seguiram para o tribunal regional.
Chegaram lá cerca de meia hora antes do prazo e encontraram Seungyoun sentado em uma das cadeiras logo na entrada. Estava vestido tão formalmente que nem parecia o garoto que servia bebidas e jogava flertes na parte da noite, ele estava com uma postura séria e mesmo sem ter se formado já parecia um advogado completo.
– Bom dia! – se levantou para os cumprimentar e pegou Wonnie no colo para brincar com a mesma. – Como que vocês estão? Sei que a gente já repassou isso diversas vezes ontem, mas não esqueçam: não se mostrem com medo, caso contrário ele vai achar que vocês escondem algo ou que não tem segurança para ficar com ela, o advogado vai ficar lá o tempo todo com vocês. A assistente social que visitou vocês semana passada, saiu da sala dele tem alguns minutos, então tudo que ela precisava relatar, já aconteceu. Ele vai fazer algumas perguntas sobre o que ela passou para ele, a maioria seu advogado vai responder, mas você pode se pronunciar também. Fiquem tranquilos, não tem audiência e o juiz é um velhinho super simpático, acredito que vá da tudo certo, tenham fé.
– Estamos torcendo para que tudo de certo! Obrigado de verdade por tudo Seungyoun, tanto eu como o Chan agradecemos por todo o apoio e toda a paciência que você teve. Se você não tivesse vindo até nós, provavelmente só nós atentaríamos quando o serviço social ligasse lá. Obrigado mesmo.
– Fiz tudo de coração, não se faz necessário agradecer. Considero o Chan um dos meus melhores amigos e isso é o mínimo que eu poderia fazer depois de todas as vezes as quais ele ficou do meu lado e me deu apoio. Eu peço desculpas, na verdade, por não poder ter feito mais por vocês!
Chan não conseguia dizer nada naquele segundo, repassava cada uma das palavras do mais velho em sua cabeça, precisava se concentrar nisso para simplesmente não surtar. Apenas abraçou o amigo com o restante de força que tinha, o agradeceria melhor mais tarde, mas no momento era a única forma que conseguia.
– Bom, vou levar a Wonnie para conversar com a assistente social uma última vez, não vou sair do ladinho dela. Jaja vocês vão entrar. Boa sorte, vou estar torcendo daqui com ela!
Se despediram brevemente da pequena, em menos de 10 minutos estariam naquela sala, a decisão estava a poucos passos dos dois.
Jun se virou para trás e trocou um olhar com o advogado que estava conversando com a secretária do local, recebeu a resposta que estava aguardando e se voltou para Chan que de um segundo para o outro parecia estar prestes a surtar.
– Amor e se eu me embolar todo quando o juiz me perguntar algo, ele vai achar que se eu não consigo sequer responder uma pergunta, eu não vou saber cuidar de uma criança e...
– Ei, calma vida, olha para mim! – Jun segurou delicadamente o rosto alheio, o fazendo parar de se mexer. – Não se preocupa, você não vai precisar falar nada okay? Eu vou estar do seu lado, só segurar minha mão e fica calminho.
– Mas o Seungyoun disse que se o juiz...
– Eu sei, pequeno, mas se precisar responder sobre algo, pode deixar que eu respondo.
– Hyung, isso não faz sentido, por que você responderia por mim?
– Me dá sua mão, meu amor. – tirou uma das mãos do rosto alheio e entrelaçou com a mão do mesmo. –Eu só não te falei antes porque eu estava aguardando a confirmação do advogado, quando a gente cruzar aquela porta ali, eu vou assumir o pedido da tutela da Wonnie, okay?
– Espera... Junnie como assim? Você tá brincando?
– Jamais brincaria com isso! – fazia um carinho singelo no rosto de Chan, tentando o tranquilizar. – Desde que o Seungyoun disse que as chances de você conseguir ganhar o processo eram baixas, eu comecei a pesquisar alternativas, não sei se você lembra que ele comentou que existiam diferentes tipos de tutela e que uma delas não entrava no seu caso, mas ela entra no meu, que é a tutela dativa, a qual o juiz entrega a tutela para alguém que ele acredita ser capaz de cuidar dela mesmo que não tenha ligação sanguínea.
– M-Mas Jun...
– Assim que eu pesquisei sobre, eu liguei para o Seungyoun e para o advogado para me certificar de que isso era verdade, eles me confirmaram, o Cho disse que apenas não apresentou essa opção pois não sabia se eu estava disposto para tal, mas eu estou!
– Jun eu não posso aceitar que você faça tamanho sacrifício, o que te faz pensar que as chances são maiores?
– Amor, eu fui atrás de tudo que estava pendente que pudesse ser um empecilho. Fui atrás dos documentos provando que eu já havia me alistado no exército, trouxe o meu diploma de formação em medicina veterinária, peguei meus comprovantes de renda e os documentos do carro. As únicas coisas que faltavam era o emprego fixo e o apartamento, certo? Bom, eu fui atrás do Jaehyun morrendo de vergonha por estar indo pedir um emprego de verdade e ele apenas riu e me mostrou que o contrato para me efetivar já havia sido impresso e que eles estavam apenas esperando o Johnny mandar fazer uma plaquinha amarela com meu nome para colocar na minha sala, eu nem te contei isso, agora eu tenho uma sala só para mim. E sobre o apartamento, meu pai já deu entrada na compra de um perto da faculdade, ele é bem maior e fica mais pertinho tanto do meu trabalho como da sua faculdade. – Deu um beijinho na testa do mais novo e prosseguiu – Não faz essa carinha, meu pai acompanhou todos os dias o que tem acontecido e ele se sentiu mais do que na necessidade de dar o primeiro presente como vovô, ele ficou super animado com a ideia de ter uma netinha e ele quer muito conhecer vocês.
– E-Eu não sei nem o que dizer. Não posso pedir que você faça isso por mim, não se sinta na obrigação. São muitas responsabilidades e eu não quero que você se sinta pressionado para assumi-las. Não tenho nenhuma dúvida do seu amor por mim e por ela, mas se você decidir fazer isso, não tem mais volta. E se você não quiser fazer, tudo bem, você não precisa se comprometer assim, eu entendo.
– Você é muito bobinho, já tomei essa decisão tem dias e eu tenho certeza de que não vou me arrepender. Vocês dois são meus tesouros e eu prometi que iria protegê-los com tudo que eu tivesse e é isso que eu estou fazendo, não por obrigação, longe disso. Estou fazendo por amor.
– Jun eu não sei como agradecer por tudo isso, eu vou ser grato eternamente por todo esse esforço, não sei se vai dar certo mas obrigado por tudo, eu não teria chegado tão longe sem você. – uniu seus corpos o abraçando calorosamente. – Eu te amo.
– Também te amo, meu amor. – se separou e segurou o rosto alheio com ambas as mãos mais uma vez. – Preciso que você respire bem fundo e fique calmo, porque a gente vai levar nossa princesinha de volta para casa hoje!
*»»——⍟——««*
Doyoung encontrava-se deitado em sua própria cama, com as pernas para o alto, apoiadas na parede, vestia algum pijama qualquer enquanto segurava o celular com muita preguiça para que pudesse terminar de ver o último episódio de alguma série norte americana sobre algum clichê romântico, mesmo que lá no fundo, sentisse uma agonia dentro de si por ver cenas como aquela, e ele sabia muito bem o motivo daquilo.
Estava quase fechando os próprios olhos e deixando o sono lhe vencer quando sentiu o celular vibrar, então novamente abriu os olhos puxadinhos e pode ver em seu tela que as mensagem eram enviadas por Taeil.
As vezes se arrependia de ter compartilhado seu número com o mais velho, pois em qualquer caso, Taeil era o tipo de pessoa que enchia o celular de mensagens até ser respondido, e não havia algo no mundo que irritasse mais Doyoung.
– Ah, mas que saco! – Grunhiu ao ver que já havia recebido 12 mensagens, e quando se deu ao trabalho de abrir a conversa, quis gritar. Sair era a última coisa que queria e deveria fazer naquela tarde.
Por alguns segundos, seus olhos voltaram a fechar mas logo foi assustado por uma ligação de Moon Taeil, e infelizmente, essa ele teve que atender.
– Alô? – Coçou os próprios olhos – Vou bem e você? Sair? Não sei não...
– Vamos, estou com saudades! – Taeil dizia ao outro lado da linha.
– Você me viu ontem na última aula... Eu não sei não, eu queria almoçar e passar o restante do dia estudando, sabe?
– Vamos, eu te ajudo! Só queria te ver.
– As pessoas já vão começar a desconfiar da nossa proximidade, Taeil! – Mas nenhum argumento convenceria o Moon, e Doyoung sabia muito bem disso, a cada dia ficava mais frustrado pela insistência sem fim, e sabia que talvez houvesse algo por trás daquilo, pois tinha certeza que ninguém se apegava assim tão rápido, ou será que Moon Taeil era só mais um cara carente? Doyoung odiava esse tipo.
No final, acabou por ceder, e definitivamente odiava aquilo, até porque realmente queria estudar naquela tarde e por mais que Taeil tenha se oferecido em ajudar naquilo, ambos sabiam muito bem que no final das contas, não estudariam coisa alguma.
Levantou-se e foi tomar um banho rápido, só para ter certeza de últimos casos, e logo vestiu uma roupa comum que consistia em uma bermuda preta e um moletom laranja com algumas frases em preto, então apenas pegou a próprio mochila onde levava consigo um estojo e uma agenda que continha todos os conteúdos que deveriam ser estudados, e logo saiu do próprio quarto.
Colocou seus airpods para ter certeza que não teria de lidar com fundos sonoros e assim seguiu até o refeitório, onde comprou uma salada com frango, que comeu do trajeto do refeitório até a biblioteca, por alguns segundos, pode sentir seu coração doer com a ideia de ver Jinyoung lá, então apenas fez uma breve reza para ser o dia de folga do mesmo.
Assim que adentrou ao local, deu de cara com Taeil em seu melhor sorriso, se cumprimentaram brevemente sem muitos toques para que não levantassem muitas suspeitas e seguiram até alguma mesa.
– Então, hoje eu precisava estudar o trabalho da...
– Donnie! – Ouviu Taeil o interromper.
– O que disse? – Arregalou os olhos.
– Donnie? – Taeil riu – Não vamos estudar, não é?
– De onde tirou esse apelido? Não pode me chamar assim! – Tremeu – E eu vim aqui para estudar hoje...
– Certo, não está mais aqui quem falou! – Acariciou levemente a bochecha de Doyoung – Mas é sério mesmo que você quer estudar?
– O que você quer fazer então, Taeil? – Se afastou levemente do toque do mais velho.
– Você sabe muito bem o que eu quero... – Sorriu malicioso, vendo Doyoung revirar os olhos.
– Certo, vai ter o que quer, mas quem vai dar desta vez é você! – Colocou a mochila nas costas novamente e saiu caminhando, vendo Taeil se manter estático na mesa – Você vem ou não?
– Ah, certo... Mas para onde vamos? – Taeil tinha um sorriso nos lábios e Doyoung adoraria acabar com ele nas próximas horas, se possível o deixaria sem andar pelos próximos dias, talvez assim Taeil parasse de o chamar parar sair.
– Você vai ver! – Continuou caminhando.
Doyoung caminhou até o próprio dormitório e pediu para que Taeil o esperasse do lado de fora. Com a porta devidamente fechada, Doyoung começou a vasculhar pelas coisas de Yuta, até que achasse um cartão semelhante a um de crédito, e não conteve um sorriso sacana ao tê-lo em mãos. Se tratava de um cartão que dava acesso aos estúdios musicais para os alunos do curso de música, para que pudessem o usar em determinado horário durante as férias, e assim manter os ensinamentos em prática.
Assim que passou o cartão pelo sensor e teve a porta destravada, Doyoung puxou Taeil para dentro e trancou a porta rapidamente.
– Estamos num dos estúdios? – Taeil questionou, olhando em volta.
– Isolamento acústico, Taeil! – Deu um leve tapinha na parede e sorriu, caminhando até uma das cadeiras ali e sentando-se.
Poucos minutos foram necessário para que Doyoung já não vestisse mais sua bermuda e cueca, e para que Taeil já se encontrasse ajoelhado a sua frente.
– Você poderia ao menos me dar um beijo antes, não? – Taeil acariciava as coxas alheias.
– É o que você quer? – Se aproximou, roçando seus lábios aos do mais velho, mas logo se afastando – Mas as coisas não vão ser sempre como você quer, então fique quieto antes que eu te faça ficar de um jeito nada agradável!
Levou seus dedos compridos até os fios macios de Taeil e os segurou com firmeza enquanto usava a outra mão para segurar seu próprio membro, batendo o falo nas bochechas de Taeil, que manteve sua boca aberta, procurando pelo membro alheio.
Taeil não demorou em chupar com delicadeza do membro de Doyoung, vez ou outra o colocando na boca até o fim, fazendo como que se engasgasse levemente, mas não que Doyoung se importasse, apenas forçou mais a cabeça de Taeil contra seu quadril, o ouvindo grunhir.
– Só desse jeito para você ficar quieto, não é? Preciso te por no seu lugar para você parar de achar que tudo e no seu tempo ou na hora que você quer... – Retirou o próprio membro da boca alheia e depositou um tapa fraco no rosto de Taeil – Pode continuar chupando, essa vai ser a sua única lubrificação.
E logo pode sentir o músculo quente e molhado de Taeil contra seu membro, deslizando suavemente por todo o comprimento, o deixando cada vez mais lubrificado. Quando Doyoung sentiu que não demoraria para atingir o próprio ápice, puxou Taeil para cima e o apoiou na mesa, abaixando as calças do mesmo e afastando suas pernas.
– Hoje você pode gritar! – Dito e feito, assim que afundou o próprio membro no interior de Taeil, o ouvir gritar.
Taeil aguentou até o último segundo até a dor se tornar prazer, sentindo Doyoung investir com força em si, nunca havia transado tão bruscamente, mas não diria que não havia gostado, pois a cada tapa que fazia sua pele arder, se sentia mais excitado, suas pernas já fraquejavam mas Doyoung o segurava com tanta força que jamais vacilaria. A cada minuto sentia seu corpo ser marcado num local diferente, a ardência e a dor de cada toque, mal conseguia manter os olhos abertos ou a própria boca fechada, coisa aproveitada por Doyoung, que não hesitou em afundar os próprios dedos na boca de Taeil.
Quando atingiram o próprio ápice, foi como um alívio mas ainda sim, um desespero, pois por mais suados, cansados ou machucados, não queriam se soltar um do outro, Taeil gostava da sensação do pescoço sendo apertado e das estocadas fortes, do quadris se chocando.
Doyoung poderia sentir raiva, mas sentia o dobro em tesão e por mais que não fosse lá tão paciente, adorava um companhia para uma boa foda.
*»»——⍟——««*
Como qualquer período de férias, os dias passaram voando, bem diferente dos dias comuns que pareciam demorar absurdos, com aquelas semanas longas e os meses infinitos. Os trinta dias passaram como se fossem apenas 5, Taeyong só se deu conta de que o tempo estava passando já no penúltimo dia de férias. Em dois dias a sua rotina já voltaria completamente ao normal, iria para faculdade, eventualmente buscaria o Mark na escola e ficaria com o mesmo de tarde na maioria dos dias da semana, se Jaehyun fosse fazer algum plantão, iria dormir com o pequeno, mas esses casos eram mais raros.
Felizmente largou mão da procrastinação e fez todos os trabalhos e tarefas nos primeiros dias de folga, sabia que se não fizesse logo no começo provavelmente só faria no último dia, era sempre assim. Mas a única coisa que não saia de sua cabeça era a sua apresentação do seu trabalho de conclusão de curso. Já havia concluído todas as matérias, precisava apenas entregar os trabalhos das férias e apresentar seu trabalho final e estaria formado, finalmente teria seu tão esperado diploma.
Parecia fácil e de fato seria se o tema proposto não fosse tão vago e extremamente sentimental. Fez diversas pesquisas, mas acabava não chegando a lugar algum, infelizmente o google ainda não tem a capacidade de lhe indicar o significado de felicidade para cada pessoa, o máximo que ele pode te oferecer é que a felicidade é um substantivo feminino, que pode significar:
1. qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar. ou 2. boa fortuna; sorte.
E isso, particularmente, não ajudava em nada.
Fez as mais diversas filmagens de tudo que via na frente, algo seria útil quando parasse para editar seu trabalho, quando tivesse uma luz sobre o que seria.
O ator principal da maioria dos seus vídeos tinha sido Mark. Se aproximou mais do que nunca do pequeno durante as férias, como esse ficava o dia todinho em casa, não tinha outra alternativa senão o acompanhar. E por esse mesmo motivo, não tinha muito tempo para sai por aí gravando, então acabava se limitando as gravar as coisas que estavam pertinho de si, que incluíam principalmente o Mark, Jaehyun, o Yuta que sempre aparecia à noite para lhe fazer companhia e até Doyoung que o chamava para almoçarem eventualmente.
No começo Mark ficava envergonhado com a presença da câmera, ficava se escondendo atrás das almofadas, do sofá ou de qualquer cosia que encontrasse na sua frente no momento, suas bochechas ficavam em um tom rubro adorável e isso só fazia com que Taeyong quisesse ainda mais gravar o pequeno daquela forma tão adorável. Mas em pouco tempo, ele se acostumou, já fazia poses e vários teatrinhos não frente das câmeras. Chegou um ponto de que já afirmava que queria fazer um vlog com o Taeyong e assim foi feito, gravaram um dia todinho, desde a hora de acordar, a ida no mercado e no parquinho, até a hora de dormir.
Jaehyun não era tão ligado a tecnologia como Taeyong, então estranhava as vezes quando olhava para o lado e o mais novo estava com uma câmera de vídeo profissional do seu lado, as vezes ele aprecia com algumas tão grandes que chegava a ser assustador. Foi filmado cozinhando, assistindo televisão, atendendo telefonemas, mas principalmente brincando com Mark, chegou um ponto que já estava começando a achar que estava em alguma espécie de reality show, mas não se incomodava.
As férias em si, foram bem tranquilinha lá no apartamento do Jaehyun. Ele continuava trabalhando o dia todo, mas tentava voltar pra casa mais cedo pra ficar mais tempo com seu filho. Ficou feliz que Taeyong deixou de lado a história da aliança, sabia que se fossem conversar sobre isso, o orgulho de ambos não o deixariam ceder e acabariam apenas se machucando, então nesses dias pode ter uma companhia maior também do mais novo, estavam dormindo juntos com muita frequência agora e isso o deixava bem feliz, no fundo aguardava que mesmo com as férias achando esse hábito se mantivesse.
Nesse exato segundo, estavam os três na salinha que era destinada para Mark brincar e assistir seus desenhos, a qual era toda acolchoada. O pequeno estava se divertindo com um livrinho interativo, não sabia ler ainda, mas aquele livro era feito mais para ver as imagens e brincar com elas, então nenhuma palavra estava fazendo falta naquele momento.
Taeyong estava deitado com a cabeça no colo de Jaehyun, que fazia carinho singelo nos fios do mais novo sem sequer reparar. Lee estava concentrado em filmar Mark com seu celular, tinha esquecido a câmera dentro do quarto do mais velho e se recusava a se levantar para ir buscar, então o celular teria que ser suficiente.
Captava o semblante adorável do menino, enquanto ele desvendava os mistérios de cada uma das páginas do livrinho que tinha ganhado. Hora ou outra soltava um risinho por ter conseguido fazer o que a página propunha e os dois adultos não poderiam estar babando mais do que estavam ali.
– Olha o sorrisinho dele amor, filma isso! – Jaehyun sussurrou para que Mark não escutasse, por mais que estivessem a menos de 30 cm de distância.
– Ele é fofo demais, não é? – se inclinou um pouco para conseguir pegar um ângulo melhor da criança, mas assim que percebeu o sorriso radiante de Jaehyun, redirecionou a câmera para o maior. – Acho que ele não é o único que é uma graça...
– Ei, não me filma assim! – em um rápido movimento, começou a fazer cócegas na cintura de Lee, que rapidamente começou a se contorcer enquanto dava risada.
– Cócegas no Taetae! – Mark se levantou, deixando seu livrinho de lado e subindo na barriga do loiro que ainda estava tentando escapar das mãos de Jaehyun. – Papai, continua, ele tá super feliz!
– Mark isso é um super ataque, preciso que você se concentre!
– I-Isso é... m-muito injusto! – Taeyong dava seu máximo para falar enquanto ria e mesmo os outros dois não estando recebendo cócegas, estavam rindo junto. – Certo, Chega!
Taeyong custosamente conseguiu se levantar ainda com mark em seu colo, agora estava ele em pé com Mark e Jaehyun de joelhos a alguns passos deles.
– Certo Jaehyun, agora eu tenho uma arma...
– Taetae, eu não sou uma arma, eu sou o Mark!
Mark estava com seus bracinhos cruzados olhando para Taeyong mas ainda com um sorrisinho no rosto. Jaehyun se levantou com os braços para cima, como se estivesse se entregando.
– Certo, certo! Me rendo, agora que você está com o Mark eu não posso fazer nada. – deu uma piscadela, que fez Taeyong desviar o olhar no mesmo segundo, se sorrisse mais um pouco suas bochechas começariam a doer.
– É! Agora você tá com o Mark e ele não pode fazer nada! – Mark disse decidido. – Espera aí... O papai não pode fazer nada... Não Taetae, isso tá errado!
– Mas é muito puxa-saco né... Vou lembrar disso quando você pedir para eu ficar mais com você, viu! – estava com um bico, fingindo estar triste.
– Eu acho que, na verdade, os dois puxa-sacos somos nós dois... – se aproximou e colocou sua mão esquerda na cintura do mais novo. – Não conseguimos ficar longe e sempre pedimos para você ficar mais...
– É, eu acho que eu sou irresistível mesmo! – não precisou se inclinar muito pra roubar um selinho de Jaehyun e não precisou um segundo para escutar um protesto de Mark por ter visto aquilo acontecer de tão perto.
Acabaram se sentando de novo e ajudaram Mark a terminarem de ler o livro. Taeyong disse que precisava ir embora e os dois só deixaram quando Lee insistiu que ele realmente precisava ir por estar lá desde a sexta-feira, sem sequer ter passado no seu apartamento uma vez sequer. Inclusive estava usando roupas do Jaehyun naquele momento.
Nem se atentou em pegar todas as suas coisas, provavelmente teria que voltar mais tarde para buscar algumas coisas que deixou para trás e outras não se importava de ficarem ali, a propósito, estaria de volta no dia seguinte.
Após sair do apartamento de Jaehyun, Taeyong checou o relógio de pulso, um de última geração que havia ganhado de sua mãe, o mesmo era muito bonito e tinha utilidades bem divertidas, mas somente um relógio que marcasse as horas já seria o suficiente, mas não daria importância a aquilo. Assim que checou o horário, viu que o horário de almoço não estava assim tão longe.
– O que eu vou comer hoje? – Colocou a mão sobre os bolsos de seu jeans, logo pescando sua carteira. Não havia nada em seus armários além de uma quantidade ridícula de tranqueiras destinadas a si e a Yuta. Precisava de comida de verdade.
Aproveitou que já estava por ali e chamou o elevador, logo adentrando ao mesmo quando a porta se abriu. Pegou o próprio celular e começou uma lista de coisas úteis que deveria comprar, e mal reparou quando já se encontrava no saguão de sua torre. Acenou para Minho assim que passou pela portaria e logo já se encontrava na rua, colocou seus fones que por sorte também estavam consigo e colocou a primeira música que achou em alguma de suas playlists.
O mercado não ficava assim tão longe, então em poucos minutos de caminhada, já se encontrava dentro do mesmo, e não poderia ser mais grato por isso, pois o sol estava extremamente forte lá fora e o ar condicionado do mercado era uma espécie de salvação para pedestres. Já dentro do mercado, Taeyong caminhava pelos corredores, pegando tudo que julgava ser útil e não esquecendo de conferir sua lista. Não pode deixar de notar algumas garotas uniformizadas o olhando de longe enquanto riam baixinho, a cena era quase cômica, não pode deixar de lembrar de sua época de escola.
– Olá, me desculpe atrapalhar... Mas é que minha amiga te achou muito bonito! – Viu uma das garotas se aproximar enquanto apontava para outra menina no meio do grupo.
– Me desculpem, garotas... – Taeyong esboçou um grande sorriso – Mas eu sou bem mais velho do que vocês, e eu também sou gay.
Observou um bico nos lábios das garotas mas logo um sorriso, então apenas acenou para as mesmas e saiu do corredor, não contendo uma risada, mas não a do tipo maldosa.
Terminou de pegar tudo que lhe fosse necessário e caminhou até o caixa, onde pagou por todas suas compras e logo já se encontrava na rua quente, segurando duas grandes sacolas reutilizáveis que teve de comprar ali mesmo.
– Se eu fosse você, correria para chegar em casa logo! – Taeyong pode ouvir Minho assim que passou pela portaria do condômino.
– Hm? – Encarou o mais velho por alguns segundos com uma expressão um tanto confusa.
– Não posso te contar o que é, só vai logo para casa... – Fechou o vidro que os dividia.
Taeyong mal havia entendido, mas se tinha algo em sua casa, precisava ver logo o que era, então rapidamente começou a correr até o saguão da torre de seu apartamento, adentrando ao elevador e apertando o último botão, que ia até o andar das coberturas. Quando parou em frente a porta de seu próprio apartamento, hesitou por alguns breves segundos.
Assim que abriu a porta com cuidado, ainda mantendo-se um pouco afastado, afinal, poderia ser um bandido em sua casa, mas confiava em Minho, quando viu quem se encontrava no sofá de sua sala de estar, desejou que fossem 40 bandidos. Se tratavam de seus pais, em carne, osso e dinheiro, ao vivo e em cores.
– Yongie... – Sua mãe se aproximou já com os braços devidamente abertos para um abraço.
Taeyong mal teve reação, e quanto sentiu o contato que já não sentia fazia anos, apenas soltou as sacolas no chão e retribuiu o abraço com certa força enquanto sentia os olhos marejarem. Podia ter raiva guardada dentro de si, podia sentir-se tão chateado em relação aos pais, mas não poderia negar um abraço a sua própria mãe, pois no final, aquilo era tudo o que Taeyong mais queria.
– Como está grande, e bonito... O que fez com seu cabelo? – O pai se aproximou.
– Já faz anos que eu sou loiro, pai... – Soltou um sorriso fraco, retribuindo o abraço do pai também.
– Pare de fazer perguntas idiotas, leve as compras dele até a cozinha! – O clima entre marido e mulher nunca fora um dos melhores, e parecia piorar com os anos.
– Mas então... O que estão fazendo aqui? – Sentou-se no sofá entre os dois pais, sendo acariciado por ambos.
– Viemos te ver, meu bem...
– Mas agora? – Não queria ter de lidar com aquela situação mas precisava, não queria transformar a primeira visita em anos numa grande confusão, mas não tinha outra alternativa, não conseguiria guardar aquilo para si – Sabe quanto tempo que eu não sinto um abraço seu, mãe? Quanto tempo não olho nos seus olhos, pai?
– Meu amor, podemos conversar isso numa outra hora? – Pode sentir uma leve carícia nos seus fios enquanto o pai falava.
– Não, não podemos deixar para depois, tudo sobre mim é deixado para depois, eu sei que não sou a prioridade número um de vocês, mas ao menos uma vez, a gente pode conversar?
– Certo, nos diga o que quer dizer! – Pode ouvir o leve som da mulher engolir a seco, pode sentir uma hesitação, e Taeyong nunca havia visto a mulher hesitar ou fraquejar, em nada.
– Vocês são meus pais, mesmo que não saibam agir como tais na maioria das vezes... Eu os amo, e é por isso que me dói tanto, porque eu amo vocês e não os presentes caros, não os boletos pagos! – Levantou-se, começando a andar em círculos pela sala – Vocês não são lá os melhores pais do mundo, e também não vou dizer que sou o melhor filho do mundo, mas tudo o que eu fiz foi para ganhar a atenção que vocês nunca me deram, para ter o que todas as outras crianças tinham, menos eu! Poderia perder horas jogando na cara de vocês tudo isso, mas eu não vou fazer isso, eu amadureci tanto nos últimos meses que vocês não fazem ideia, eu estou cuidado de uma criança maravilhosa, estou quase me formando, não poderia estar mais feliz... Vocês são os únicos nós soltos em minha vida, enfim, só quero dizer que se vieram aqui para pagar minha conta de luz e me dar um celular novo, a porta está aberta para irem embora...
O silêncio tomou conta do apartamento por bons segundos, mãos trêmulas e respirações ofegantes, Taeyong nunca havia se sentido tão nervoso em sua vida.
– Viemos aqui por diversos motivos, Taeyongie... – A mulher se levantou – Para mim, não é muito fácil dar o braço a torcer e dizer esse tipo de coisa, mas vamos lá... Sei que não fomos os melhores pais, e por mais difícil que seja, quero que me perdoe por tudo, que nos perdoe... Mas queríamos contar que seu pai vai deixar a diretoria da empresa dele, estamos envelhecendo, ele principalmente, e nós queremos mudar as coisas, queremos tentar novamente, sei que pode estar um pouco tarde, mas nós queremos tentar!
– Vamos nos esforçar, podemos não ser os melhores e nem dizemos isso com frequência, mas nós te amamos, Tae... – Sentiu o pai o abraçar com força.
Um abraço entre os três durou por longos minutos, Taeyong pode sentir uma lágrima escapar de seu rosto, aquilo seria um começo de uma grande mudança, uma mudança da qual esperou desde sempre, por toda a sua vida, sabia que algumas coisas não seriam fáceis, mais aos poucos, tudo daria certo.
O abraço logo foi interrompido pela campainha soando alto pelo imóvel, e antes que Taeyong pudesse abrir a porta, a mesma foi aberta, revelando Mark com um carregador portátil na mão e um leãozinho de pelúcia na outra, pelúcia que havia sido de Taeyong por toda sua infância.
– Taetae... Você esqueceu lá em casa... – Tinha um sorriso no rosto mas assim que viu duas pessoas desconhecidas ao lado de Taeyong, hesitou um pouco.
– Mark, essa é minha mamãe e meu papai, vem aqui! – Aproximou-se do pequeno, o pegando no colo – Pai, mãe... Esse é o Mark, eu sou babá dele!
– Esse é o seu leãozinho? Seu pai ficou jogando naquelas máquinas de shopping por 3 horas só para consegui-lo! – A mulher sorriu com a lembrança tão antiga – Oi, Mark... Você é um menino muito bonito!
– O leão está em boas mãos... – Taeyong sorriu, olhando Mark nos olhos.
Todos sorriram vendo Mark encarar a pelúcia, ali existiam 3 gerações e todas dariam seu melhor para cuidar da seguinte.
Taeyong sentia um peso sair de suas costas, sabia que as coisas não estavam em seu nível máximo, mas que ficariam bem.
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