História Debingos: um amor policial - Confusão de pensamentos

                       Narrador

POV DOMINGOS

Ao sair porta afora, me questiono a respeito do que estaria acontecendo comigo, pois sempre fui tão seguro de mim e cuidadoso que nunca sequer imaginei tomar uma atitude tão insana. No caminho para casa, ao atravessar a rua encontro Mariana:

•Mariana: Domingos? Errou a direção de casa?

•Domingos: Óh não, eu... Eu vim fazer uma visita rápida a Débora...

Percebo que ela se surpreende, pois arqueia a sobrancelha, mas apenas acena e se despede. Antes que ela possa se afastar, a alerto:

•Domingos: Tente descobrir o que está havendo com ela... Não quis me dizer, talvez porque não tenhamos intimidade...

•Mariana: Deixe comigo... Tentarei descobrir o que está havendo... 

Domingos não percebera, mas estava com a boca borrada com o batom de Débora, um vermelho vivo. Mariana o alerta contendo o riso:

•Mariana: Antes de ir para casa procure um espelho e água para limpar o borrado do batom da Débora... Sua esposa não vai ficar nem um pouco satisfeita... Tenho o pano aqui... Não se preocupe em devolver...

Tento dizer algo, mas as palavras fogem juntamente ao vento frio que assopra em minha direção. Ela percebe e me tranquiliza:

•Mariana: Não precisa dizer nada... Estava mais do que evidente que isso aconteceria novamente, mais cedo ou mais tarde... Agora vá, antes que tenha problemas matrimoniais...

Saio a agradecendo com o olhar e a vejo bater a porta de Débora, mas como ela mesma disse, estava mais do que na hora de voltar para casa. Mas antes, preciso procurar um local aonde tenha espelho e água para limpar o "estrago" deixado por ela. Por sorte ou ajuda do Cara lá de cima, encontro um lugar adequado.

POV DÉBORA

Logo que Domingos saiu me sentei no sofá em choque. Devem ser os primeiros sintomas pós - beijo... Isso existe? Ficando em meio a tantos pensamentos desconexos, batidas à porta me trazem de volta à realidade. Ao abrir me deparo com Mariana:

•Débora: Mári! Ainda bem que veio...

•Mariana: Já estou sabendo do beijo...

•Débora: Como sabe?

•Mariana: Acabei de esbarrar com ele no caminho... Como isso aconteceu dessa vez? Perigo de elevador dentro dessa casa não tem, ao menos que eu saiba...

Dou um tapa de leve em seu braço e me permito sorrir com as bobagens ditas por ela. Nos sentamos no sofá e começo a contar como tudo aconteceu:

•Débora: Tudo isso aconteceu devido um pesadelo... 

•Mariana: Como assim?

•Débora: Não gosto nem de me lembrar... Acordei assustada e peguei o celular telefonando para um número qualquer. Quando ouvi a voz do outro lado da linha desliguei na mesma hora...

•Mariana: Aí ele ficou preocupado e veio até aqui...

•Débora: Exato... Fui completamente grossa com ele quando chegou... Estava garoando e disse que não precisava ele vir pessoalmente, pois telefone existia para as pessoas se comunicarem...

•Mariana: Não acredito que fez isso... O cara sai da casa dele no meio da madrugada preocupado com você e o agradece assim?

•Débora: Calma... Ainda não acabei... Ele entrou, percebeu o remédio para dor de cabeça ali encima e perguntou o que estava acontecendo... Contei a ele que a barra estava pesada demais e acabamos nos abraçando.

•Mariana: Pare de enrolar e chegue na parte interessante de uma vez... Como aconteceu esse bendito beijo?

Acho graça de sua pressa e a recrimino com o olhar, mas continuo:

•Débora: Certa hora, a luz acabou e me abaixei para achar uma vela com o auxílio do celular. Como nem tudo é perfeito, acabei tropeçando e só não fui ao chão porque ele me amparou. 

•Mariana: Agora sim está começando a ficar interessante... Continue!

A vejo bater palmas entusiasmada e reviro os olhos contendo o riso:

•Débora: Nessa hora que ele perdeu o juízo, tirou a vela da minha mão e praticamente me empurrou de encontro a parede... O resto você pode deduzir...

•Mariana: To completamente chocada! E você, como está depois disso tudo?

•Débora: Completamente confusa... De mãos atadas, sem ter o que fazer... E agora? Um lado meu grita que está tudo fora de lugar e que ele vai atrapalhar...

•Mariana: E o outro lado? Diz pra você jogar essa insegurança de lado e correr atrás do Detetive... Acertei?

•Débora: Quando você não acerta? Mas eu não posso tomar atitudes precipitadas como uma inconsequente... 

•Mariana: Sabe o que eu acho? Que demorou até demais para um segundo beijo acontecer... Débora: você é adulta, dona de si e de um escritório de sucesso, conquistou suas coisas por mérito próprio então, por quê não dar uma chance para si mesma? Encontre a chave certa para que seu coração  e se abra para o amor...

•Débora: Que mágica é essa que você faz que as minhas dúvidas e anseios se reduzem pouco a pouco quando conversamos? Fico tão mais leve quando está por perto... Não sei o que seria de mim sem você...

•Mariana: Olha só: quando encontrei com ele, o ouvi dizer que você não parecia estar nada bem quando ele apareceu...

•Débora: Prefiro não lhe envolver nisso... Entenda, por favor...

•Mariana: Tem a ver com a Rebeca, não é?

•Débora: Por favor Mári, não insiste...

•Mariana: Está bem...  À propósito, acho que vou ter de dormir aqui...

•Débora: Fique à vontade! Você é sempre muito bem vinda...

Com tudo ajeitado, as duas se despedem e Mariana é a primeira a dormir. Débora, ao contrário do que esperava, não conseguiu pregar os olhos pensando no ocorrido no início da madrugada. 

Enquanto isso...

Domingos volta para casa e há apenas uma luz acesa. É surpreendido por Luciana, que o esperava em desagrado:

•Luciana: Posso saber por onde andou?

•Domingos: Dar uma volta... 

•Luciana: Volta cheirosa... Que perfume é esse, Domingos? Não vai me dizer que você foi no meio da madrugada para a casa daquela...

•Domingos: Chega Luciana... Você não vai começar a gritar feito louca e acordar os vizinhos e o nosso filho, vai? Esse perfume é meu: neutro. Serve para ambos os sexos. Satisfeita?

Noto que, mesmo depois da explicação, ela segue desconfiada, mas desiste de discutir, ao menos por hora. Sigo para o quarto de Léo, que dormia tranquilamente. O observo e penso em como uma criança pode ser tão adorável. Dou um breve beijo em sua cabeça e sigo para o banho, pois depois de uma madrugada "turbulenta", apenas uma boa dose de água bem fria para pôr os pensamentos em ordem. Durante a ducha tenho recordações dela: seu olhar marcante que mais parece tentar desvendar minha alma, o jeito altivo, a gargalhada que é música aos meus ouvidos e claro, o beijo capaz de me deixar completamente zonzo. Saio do banho transtornado com minhas lembranças e me preparo para dormir. Ledo engano meu em supor que conseguiria pregar os olhos esta noite, tendo em vista a confusão de pensamentos que me aturdiam. Por fim, resolvo checar o celular numa esperança silenciosa de algum sinal dela. Arrisco mandando uma mensagem:

•Domingos: " Tenha uma boa noite, advogada mandona. Estarei contando as horas para Léo me perturbar para que o leve ao escritório. Beijo"

A mensagem logo chega às mãos de Débora, mas o barulho acaba acordando Mariana:

•Mariana: Mensagem de trabalho a essa hora?

Débora sorri sem perceber e Mariana pula da cama para ler a tal mensagem:

•Mariana: Óh Meu Deus! É do Domingos! Responde!

•Débora: Melhor não... Deixa ele pensar que não recebi...

•Mariana: Que maldade...

Mariana faz uma cara maliciosa e não consigo evitar o riso. Jogo uma almofada em sua cara e me entrego ao sono logo em seguida, assim como ela.

POV DOMINGOS

Após mais uma atitude inconsequente, não espero resposta e decido dormir, pois algo me diz que o dia de manhã será mais turbulento do que a madrugada passada.