Aoi estava preparando almôndegas para o almoço, Zenitsu entrou na cozinha em silêncio para pegar alguns bolinhos ao Tanjiro que não queria se alimentar desde o funeral de Rengoku. Nunca imaginou que seria possível ver o amigo não abrir um sorriso, mas entendia a dor que ele sentia. Estava se sentindo impotente.
Os três se afetaram muito com a partida do Hashira, ele era uma pessoa amigável e gentil, e para Zenitsu, o som que ele emanava era como um abraço sincero num dia frio.
- Tanjiro! Trouxe os bolinhos que gosta, que tal comer um pouco?
- O SENHOR KAMADO DESAPARECEU! - A jovem enfermeira lhe assustou e estava chorando na ala hospitalar.
- Como assim desapareceu? Ele estava aqui agora!
- OS FERIMENTOS DELE NÃO ESTÃO CURADOS E ELE SAIU CORREDO! ELE É MUITO TEIMOSO MESMO A MESTRA SHINOBU PEDIDO PRA ELE FICAR DE REPOUSO!
- Calma, calma! Pra onde ele foi com aquela barriga perfurada?
**
Não muito longe do Quartel, Tanjiro caminhava com pressa pela baía da cidade com o endereço que Obanai lhe deu, era a casa onde morou com a família Rengoku. Mas Tanjiro não quis esperar sua recuperação e partiu assim que o Hashira deixou a Mansão Borboleta.
A casa também era uma mansão, instalada em uma viela rica na cidade, estava com toda a barriga se contorcendo quando finalmente chegou na casa, Senjuro estava varrendo a entrada e teve certeza que era o irmão de Kyojuro, o jovem era muito parecido com seu Mestre e os dois tinham a mesma idade.
- Senjuro… É você?
Ele se virou, parecia distraído.
- Sim, eu sou Senjuro. Quem é você?
- Meu nome e Tanjiro Kamado - reverenciou - fui o Tsuguko do seu irmão e estou aqui para lhe trazer uma mensagem que ele pediu.
- Que mensagem? O que foi? Você tá bem? - Tanjiro estava pálido e tremia, chegando mais perto de Senjuro se assustou com a semelhança com Kyojuro e queria chorar.
- NADA DISSO! - Uma voz velha e grossa saiu de dentro da mansão - ESSAS MENSAGENS NÃO TEM MAIS NENHUM VALOR!
Shinjuro estava furioso com um cantil na mão e vestes de dormir, parecia cansado e que havia corrido uma maratona, exalava um cheiro de álcool e tristeza.
- Ninguém mandou ele virar um espadachim, nem tinha talento - tomou um gole do saque - tanto que morreu! Era um inútil! Ou nasce um gênio ou acaba sendo morto por um - mais um gole e dessa vez babando.
Senjuro acuou e começou a chorar de novo.
- E vê se você vai trabalhar! O funeral já acabou, para de ficar chorando!
- Espera! - Tanjiro se colocou entre os dois - Você não acha que está sendo cruel? Seu filho morreu, devia respeitar ele!
- E quem é você? Dê o fora da minha casa e para de amolar o Senjuro!
- Eu sou Tanjiro Kamado, caçador! Fui Tsuguko do seu filho!
Shinjuro largou o cantil, seus olhos arregalaram porque reparou nos brincos que Tanjiro usava além do uniforme. Seu corpo começou a tremer e as palavras demoraram para sair - você… - apontou - VOCÊ É UM CAÇADOR DO SOL? RESPONDA!
- O que? Caçador do Sol? Que história é essa?
Tanjiro não teve tempo de se defender, Shinjuro correu para imobilizá-lo no chão.
- Pai para com isso! Ele já tá machucado!
- SAIA DAQUI! - Deu um tapa no filho que caiu com dor no rosto.
- Não machuca ele seu monstro! - Tanjiro deu um chute no estomago dele e se levantou rapidamente agora os dois estavam de novo frente a frente - Por que está agindo desse jeito, insultando seu filho morto e batendo no outro! Qual é o seu problema?
- Desgraçado! Veio aqui nos insultar depois de tudo que passamos!
- Eu não vim aqui pra isso!
- Um praticante da Respiração do Sol jamais ajudaria alguém. Acha que eu não sei tudo sobre esses brincos? Vocês são mesquinhos e arrogantes, nunca ensinaram ninguém a dominar a respiração! Tudo está nos livros!
**
Mas diferente, Yoriichi sempre teve prazer em ensinar, o problema é que nenhum caçador aprendia perfeitamente suas técnicas. Somente a família Rengoku dominou parte dela porque Munjuro foi o único a estudar dia após dia o que Tayoumaru lhe ensinou.
Yoriichi também deixou o Templo por conta desse empecilho, ninguém mais aprendeu suas 12 formas do Sol. E Michikatsu passou pelo mesmo problema, ninguém aprendia a Respiração da Lua, porém o mais próximo que conseguiu foi ter presenciado uma nova cor de espada surgir. A cor roxa tinha a mesma frieza que a sua.
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- A técnica da Respiração do Sol é a mais poderosa, a única capaz de derrotar aquele demônio e a mais perigosa de ser dominada! Para de se achar porque usa essa técnica eu te ponho no seu lugar!
- COMO É QUE EU VOU ME ACHAR DEPOIS DO QUE ACONTECEU? EU DARIA TUDO PARA CONSEGUIR DOMINAR ESSA FORÇA MAS TO CARREGANDO O FARDO DA MINHA PRÓPRIA FRAQUEZA! CALA ESSA BOCA! NÃO OUSE FALAR MAL DO MEU MESTRE! - Partiu para agredi-lo com um soco.
- TANJIRO NÃO! ELE ERA UM HASHIRA!
Não deu tempo de recuar com a informação, Shinjuro afastou seu braço com um golpe e deu outro certeiro em seu rosto, Tanjiro ia caindo, mas segurou as vestes de Shinjuro que quase ficou nu no meio da viela e usou o impulso para dar uma cabeçada. Os dois caíram no chão e Senjuro teve que apartar outra investida da briga.
**
Já dentro de casa, Tanjiro se desculpou pela briga.
- Não se preocupe, meu pai vai ficar bem. Ele até voltou a tomar o saque dele. Tome, beba um pouco de chá… E obrigado - murmurou - por defender o meu irmão… Me conta como foram os últimos momentos dele?
Os dois conversaram por alguns minutos e Tanjiro contou tudo sobre a noite no trem Mugen.
- Então ele foi corajoso até o fim… Obrigado por me contar - reverenciou.
- Não por favor, me perdoe. Eu não consegui fazer nada por ele.
- Por favor, não fique sofrendo - Senjuro estava sorrindo e chorando - não foi culpa sua. E ele sabe disso também.
Senjuro se levantou e pegou três pequenos livros vermelhos que na capa estavam escritos “Anotações do 20º, 21º e 22º Hashira das Chamas” respectivamente.
- Sobre o que meu pai falou da Respiração do Sol, está nesses livros, foi assim que meu irmão estudou para ser um caçador. Talvez tenha mesmo algo da sua Hinokami Kagura.
Tanjiro abriu, mas ali não tinha mais nada. Todas as folhas dos três cadernos estavam manchadas, rasgadas e enrugadas.
- Tanjiro me perdoe, com certeza meu pai que fez isso…
- Tudo bem Senjuro, não se sinta mal por isso.
- Mas você veio de longe por isso, os segredos da Respiração do Sol… Eu queria poder te ajudar.
- Você me ajudou muito! Agora sei exatamente o que tenho que fazer, treinar mais! Eu até sei performar toda a dança do meu pai, mas usar ela com a Respiração das Chamas é difícil, meu corpo fica quente e travado depois do golpe. Ainda não estou preparado para isso. Melhorou muito com a respiração constante, mas não o bastante. Naquele dia, eu me senti totalmente fraco, eu queria ficar forte e ajudar o Senhor Rengoku, mas meu corpo não se mexia por nada. Mas eu vou vencer isso e um dia - encheu os olhos de lágrimas - vou me tornar um Hashira poderoso assim como o Senhor Rengoku, é uma promessa!
- Sabe, sempre foi difícil pro meu irmão encontrar um Tsuguko que aprendesse a risca o que ele ensinava. Ninguém aprendia a Respiração das Chamas como nosso Clã, então por isso o normal seria eu ser o Tsuguko dele. Mas mesmo eu passando pela Seleção Final, a minha nichirin nunca mudou de cor. E é fato que elas mudam de cor, quando se tem um certo nível de habilidade com a espada e tem algo para oferecer a ela - entrou em prantos novamente - mesmo eu treinando muito, nada acontecia. Então desisti de ser um caçador, eu não tenho talento. Sei que isso vai quebrar o ciclo do nosso Clã como dominantes das Chamas e manchar nossa história, mas eu sei que se ele iria me perdoar…
- Você deve seguir o caminho do seu coração Senjuro, foi isso que ele pediu para eu lhe dizer.
Na despedida, Senjuro prometeu tentar restaurar os livros como também procurar outras anotações dos antigos Hashiras das Chamas.
- Tenho certeza que meu pai sabe onde tem, eu lhe envio uma carta se encontrar algo… Eu fiquei feliz com a nossa conversa - reverenciou - muito obrigado por ter vindo aqui.
- Imagina, eu que agradeço.
- Tenho uma coisa para te dar - tirou um pequeno pano do quimono e desembrulhou - é o guarda mão da espada do meu irmão. Por favor, aceite!
- Não Senjuro, eu não posso aceitar!
- Por favor Tanjiro, quero que fique com você. Você era o Tsuguko do meu irmão e um dia será a sua proteção.
Tanjiro pegou o guarda mão com carinho e emocionado agradeceu o presente do novo amigo. Os dois se despediram com um forte abraço naquele fim de tarde e Tanjiro caminhou despreocupado e com o coração leve até o Quartel.
Senjuro foi até o quarto do pai para lhe dizer a mensagem do irmão, abrindo a porta o pai de novo foi arrogante.
- Eu não quero saber! Deve ser ele fazendo reclamações de mim. Me deixe em paz!
- “Por favor, eu quero que ele se cuide” - disse fechando a porta levemente - foram as palavras que ele escolheu deixar pro senhor…
Shinjuro estava sentado olhando o entardecer e pela primeira vez chorou pela morte do filho. “Eu vou viajar meu pai, mas eu volto. Por favor se cuide”, as últimas palavras que Kyojuro lhe disse radiante. Pegou o cantil de saque e jogou longe, agora estava sem a esposa e sem seu primogênito. Arrependido, queria voltar no tempo e apreciar aquele último momento com o filho.
**
Entrando no Quartel e indo direto para a mansão borboleta, estava muito cansado de caminhar e com dor na barriga. Entrando no pequeno caminho de terra da mansão, uma figura alta de máscara estava lhe encarando com duas facas na mão. Era seu ferreiro, furioso novamente por ele ter perdido a espada recém forjada.
- MEU DEUS! SENHOR HAGANEZUKA!
- VOCÊ PERDEU A MINHA ESPADA! VOCÊ FICOU MALUCO? - O ferreiro correu atrás dele feito um demônio - VOCÊ NÃO MERECE NADA! SEU INÚTIL TÁ ACHANDO QUE EU SOU ALGUM PALHAÇO?
- NÃÃÃO POR FAVOR ME PERDOA, FOI SEM QUERER! - Corria dele circulando toda a mansão.
- EU VOU MATAR VOCÊ! DOIS DIAS DE FORJADA E VOCÊ PERDEU A MINHA BELÍSSIMA ESPADA! SEU MOLEQUE IDIOTA!
Haganezuka o perseguiu a noite toda até Aoi conseguir abrir o portão lateral da mansão e socorrer o caçador.
**
No almoço contou da sua visita a Senjuro e como fugiu do ferreiro.
- Se não fosse a Srta. Kocho ele estaria me perseguindo até agora…
- Você teve sorte. Não saia mais assim ferido, seus pontos poderiam abrir.
- Sim, obrigado Aoi. Vou me cuidar mais…
- Alguém vai querer repetir?
- Eu quero! - gritou Inosuke que logo ficou vermelho.
Aoi pegou seu prato e colocou mais comida e dessa vez o caçador comeu devagar. Tanjiro e Zenitsu se entreolharam.
- Aí tem coisa - murmurou Zenitsu.
- Com certeza… O que deu nele? E olha só pra ela, ta sorrindo. Ela tá sempre brava.
Zenitsu fingiu tosse para tomar a atenção da caçadora.
- Então… O que aconteceu com o Senhor Haganezuka?
- Ah eu dei uns espetinhos de almôndegas pra ele. Ele adora, já se acalmou e assim que terminar de comer, irá voltar para a Vila e forjar sua nova espada Tanjiro.
- Obrigado de novo Aoi.
- E Tanjiro, essa Respiração do Sol, tem algo haver com a sua Hinokami Kagura?
- Eu tenho certeza que sim… Mas preciso de mais informações sobre ela e treinar mais!
- Se sair novamente sem a permissão de um superior - a voz doce e alegre de Mitsuri assustou os três - vai levar uma punição.
- Kanroji-Sama! - Se levantou e reverenciou a Hashira, os amigos fizeram o mesmo - Me perdoe, mas eu precisava muito ir ver Senjuro.
- Podia fazer isso depois de recuperado...
- Posso ajudar, Mestra? - Perguntou Aoi.
- Ah eu adoraria comer também - sorriu e Aoi preparou um prato - e depois, vamos para a nova área de treinos. Vim aqui mostrar para vocês, então nada de se limitar ao quintal da mansão borboleta e às caminhadas pelas colinas do Quartel.
- É aquela obra toda fechada atrás da Mansão Borboleta? Já está pronto? - perguntou Zenitsu
- Sim, levou alguns anos - falou enrolado com muito arroz na boca - Iguro-san nos doou sua herança então o Mestre usou para reforma de todo aquele campo atrás da mansão.
Os meninos ficaram empolgados e esperaram a Hashira terminar os cinco pratos de comida, ficaram intrigados com tanta comida para uma mulher menor que eles - Mestra Kanroji sempre comeu muito, reflexos das lutas - comentou Aoi. Mas só Inosuke e Zenitsu foram liberados para treinar, Tanjiro precisava repousar por conta dos pontos no abdômen.
Mitsuri seguiu na frente saltitando, ela tinha uma presença amigável e um cheiro estranho que misturava alegria e saudade, Zenitsu comentou que ela emanava um som de flores caídas pelo vento. E os três comentaram sobre seus olhos que eram muito bonitos e claros.
Subindo uma escadaria cheia de árvores depois da mansão borboleta Mitsuri foi contando sobre os treinos no Quartel.
- Há muito tempo, o espaço de treino era exatamente atrás do grande Templo, mas à medida que o número de caçadores foi aumentando tivemos que nos limitar a usar todo o Quartel ou pequenos espaços como a Mansão Borboleta. Lá eram treinados os caçadores das Flores e na Mansão das Chamas por exemplo, eram treinados os caçadores das Chamas e assim por diante.
Terminando a escadaria havia um pequeno pátio parecido com o da Seleção Final, coberto por glicínias e um grande portão japonês vermelho mais a frente. Passando por ele - meninos, bem vindos ao local de treinamento! - Outra escadaria enfeitada com glicínias banhava um enorme declive, e no solo haviam inúmeros pátios identificados com círculos ou quadrados onde vários caçadores treinavam com os Hashiras e outros Mestres observando.
Antes do solo, ainda descendo as escadas, haviam dois outros grandes pátios embutidos no subsolo imitando uma caverna com uma placa “Respiração do Som”. Uzui estava sentado em um cume observando os caçadores da caverna direita meditar.
- Senhor Uzui! - Chamou Tanjiro acenando.
Ele fez sinal de silêncio enquanto os outros caçadores olharam para ele irritados.
- A Respiração do Som requer um forte treinamento com a audição - murmurou Mitsuri - você devia vir aqui um dia Zenitsu, seria ótimo.
- Sim Senhora.
Os três estavam boquiabertos e não sabiam para onde olhar primeiro, se eram os grandes espaços ou os treinos dos caçadores.
- Todos aqui são caçadores? - Perguntou Inosuke.
- A maioria não. Estão sendo preparados para a Seleção Final perante as respirações, olhe lá - apontou para a esquerda dele - A Respiração do Vento.
O pátio do Vento era construído como um círculo e um portão verde e bancos na entrada. Sanemi estava de braços cruzados observando os caçadores enquanto outro Mestre conduzia os movimentos. Ele olhou para os meninos e cumprimentou Inosuke
- Veio treinar finalmente, preguiçoso?
- Só se for pra arrebentar a sua cara! - Inosuke ficou por lá enquanto se defendia dos golpes do Hashira.
- Uau, Mestra Kanroji é enorme! - Comentou Tanjiro.
- Sim, e é lindo.
- A RESPIRAÇÃO DO TROVÃO! - Zenitsu gritou não por ler a placa, mas por reconhecer os movimentos da Primeira Forma do Trovão que os futuros caçadores estavam aprendendo.
Estavam sendo conduzidos por um samurai de cabelos e longa barba branca, ele pulou no pátio e começou a imitar o movimento. Os caçadores tiravam da bainha uma espada de madeira muito rápido e guardavam novamente.
- Ele deve adorar não é? - Comentou a Hashira sorrindo.
- Com certeza, foi o avô dele que o ensinou.
- Aqui no Quartel temos apenas o Mestre Shima ensinando a Respiração, pelo que parece que ele lutou junto do avô de Zenitsu. Todos eles vão para a próxima Seleção Final…
Mitsuri percebeu que Tanjiro se distanciou dela em silêncio, ele parou em frente ao portão vermelho escrito “Respiração das Chamas” e o pátio em forma de círculo completamente vazio.
- Ah… Sinto muito, querido - pousou as mãos no ombro dele - eu também sinto falta do Kyojuro, Também fui Tsuguko dele, mas não aprendi a respiração como você, então não ganhei o título de Caçadora das Chamas e adaptei… - Tanjiro encheu novamente os olhos de lágrimas - A Respiração das Chamas é muito especial, somente o Clã Rengoku a dominada desde a criação e o ultimo Hashira, teve apenas um filho, Shinjuro. E consequentemente a linhagem foi diminuindo.
- Eu queria poder dominar perfeitamente a Respiração e vendo esse lugar vazio, queria poder ensinar os outros.
- Mas você já conhece os movimentos, é um menino muito dedicado, tenho certeza que irá se sair bem - Mitsuri beijou sua testa deixando ele envergonhado.
- Obrigado Kanroji-sama.
Ao lado da Respiração das Chamas estava a Respiração do Inverno e Obanai olhava para os dois de braços cruzados parecendo irritado.
- Iguro-san! - Mitsuri o chamou saltitando - como estão os treinamentos?
- Bem - não tirou os olhos do Tanjiro, ele foi até o Hashira e o reverenciou.
- Igora-san, obrigado por me deixar o endereço de sua casa.
- Mas não disse que era para ir lá nessas condições. E se na volta você tivesse encontrado um Oni? Está sem a sua espada, não faça mais isso.
- Eu sei… Me perdoe - reverenciou.
Iguro estava exalando um cheiro de ciúme e ele olhou de relance para a Hashira, ela parecia admirar o caçador.
- Na verdade, ele encontrou o Senhor Haganezuka furioso - Mitsuri queria rir envergonhada.
- Isso com certeza é pior que um Oni…
- Senhor Iguro - Obanai parecia entediado e irritado com sua presença - como funciona a Respiração do Inverno?
- O oposto das Chamas.
Obanai se virou e desceu o cume do pátio.
- Não liga pra ele, querido. Às vezes ele fica irritado de repente.
Mas Tanjiro não se importou, Iguro tinha um cheiro de confiança e gostava dele.
Passeou mais um pouco pela área observando cada respiração, um total de 200 pessoas incluindo caçadores e não-caçadores treinavam ali. E a maior concentração deles estavam divididos entre a Respiração da Pedra e a Respiração da Água.
- Murata!
- Tanjiro! Como está? - Murata desceu do pátio para abraçá-lo - Kanroji-sama! - Reverenciou.
- Me recuperando.
- Soube que sua classe aumentou, meus parabéns!
- O que? Minha classe?
- Não sabia?
- Ah Tanjiro! Me perdoe - começou Kanroji - eu esqueci completamente de avisar vocês, acho que fui enfeitiçada pela comida da Aoi. Vocês três agora estão na classe Kanoe. Por ter derrotado a Lua inferior 1.
- Uau, isso é muito bom, quase chegando na sua classe Murata.
- Nada disso, eu subi mais duas com os treinos do Senhor Tomioka, agora sou Hinoto. Vai ter que trabalhar muito pra me alcançar - os dois riram
- Mas Kanroji-sama. Achei que o critério para ser Hashira era derrotar um dos Doze Kizuki.
- Sim, você tem razão. Mas só ganha o posto de Hashira, depois da classe Kinoe e se você manter seu equilíbrio de respiração e habilidades. Você cumpriu o que o Mestre lhe pediu derrotando um dos Doze Kizuki, mas sua disciplina com a Respiração da Água ainda é baixa, junto de seus amigos. E você se feriu na batalha. Sei que foi para salvar Inosuke, mas poderia ter salvo ele de outro jeito, golpeando o condutor por exemplo.
- Ah, entendo…
- Você não raciocinou direito na hora. Para ser um Hashira, é preciso ter pensamento estratégico muito eficiente.
- Igual ao Senhor Rengoku, ele deduziu na hora que o trem era um Oni e nos deu ordens.
- Exatamente! Então trabalhe duro para ser como Rengoku e escolha logo que respiração quer dominar.
- Sim Senhora.
- Você vai conseguir Tanjiro - encorajou Murata - olha só minha espada, parece um pouco com a sua agora - ele tirou da bainha e ela tinha o mesmo cheiro peculiar que a de Tomioka junto da lâmina azul e preta - está enfeitiçada. Agora posso fazer as novas formas da água.
- Caramba e tem novas?
- Sim, Mestre Tomioka que criou. Não é demais? Você devia aprender. Acho que a sua espada preta não vai precisar ser enfeitiçada.
- Adoraria aprender… Nossa, tenho que aprender tanta coisa!
Os dois conversaram bastante aquela tarde e Tanjiro também contou sobre sua visita à mansão Rengoku.
- E na Mansão das Chamas, já procurou algo por lá?
- Não. Está fechada.
- Acho que como Tsuguko do senhor Rengoku, o Mestre pode lhe permitir visitar. Pergunte a ele.
Mitsuri deixou ele passear pela área com Murata até chegar ao último lugar da visita. Atrás da Respiração da Pedra descendo outro cume de escadas, ficava um jardim onde Caçadores estavam alinhados apontando armas e flechas em alvos desenhados à frente.
- Tanjiro, este é o Esquadrão das Armas!
Os Caçadores usavam o mesmo padrão de uniforme com um colete roxo por cima.
- Esse esquadrão é para os caçadores que não se adaptaram com nenhuma respiração, mas ainda sim querem seguir carreira. E te digo, eles são excelentes, um forte apoio nas missões em grupos. Suas armas são revestidas de aço nichirin.
O sol já ia se pôr e eles ficaram observando o treino do Esquadrão. Nunca havia visto uma arma, apenas ouviu boatos do exército usando na Grande Guerra, aqueles sons dos tiros lhe deixou um pouco assustado e ficou imaginando milhares deles nessa guerra. Os caçadores estavam terminando o treinamento e Tanjiro sentiu um cheiro conhecido subindo a escadaria.
O jovem insistente que queria uma katana na Seleção Final, trombou com ele de propósito. Estava mais forte e mais alto - Foi bom ver você também viu! - Ele o olhou de canto com raiva e seguiu em frente com mais caçadores para fora do campo.
- Vocês se conhecem? Aquele é o Genya Shianazugawa. Irmão do Sanemi.
- Sim. Estávamos juntos na Seleção Final.
- Podia tentar fazer amizade com ele…
- Ah, não obrigado - massageava o ombro.
- Por que? Ele é tão sozinho… Não tem ninguém além do irmão, da uma chance.
A voz doce da Hashira fazia qualquer um mudar de ideia e ele prometeu pensar na situação.
- Kanroji-sama, posso te perguntar uma coisa?
- Claro.
- Eu sinto um forte cheiro de saudade vindo da Senhora… Você perdeu alguém?
Tímida e emocionada, colocou a mão no cachecol.
- Sim… Meu pai. Eu sinto muita falta dele.
- Ele faleceu?
- Sim - respondeu depois de uma pausa - junto dos meus cinco irmãos… Dois onis invadiram nossa aldeia, só eu sobrevivi. Consegui lutar com eles antes da Mestra Kanae chegar e me salvar.
**
Aos dez anos, Mitsuri era a caçula do Mestre Kanroji na aldeia em que moravam. Ele também era líder dessa comunidade e treinava todos por lá, mas foi invadida por dois onis que usavam kekkijutsu. Desde pequena sempre teve muita força e ela conseguiu se defender dos ataques junto do pai, antes dele ser golpeado e mordido.
Abraçou o corpo do pai e já esperava pela morte com aqueles onis investindo de novo para comê-la. Mas Kanae chegou no mesmo segundo e matou os dois com um corte simples no pescoço e atirando o outro entalado pelo telhado, ele queimou no sol que já estava nascendo.
Kanae se posicionou de costas para ela guardando a espada na bainha, ia entrar na casa da frente quando ouviu seu choro. Ela se virou e viu a garotinha abraçada ao pai.
- Minha nossa… Você está bem?
Ela ajudou Mitsuri a enterrar os corpos sempre tentando apartar o choro. Na hora de ir embora, Mitsuri correu até em casa para pegar o cachecol.
- Agora podemos ir? - Ela mencionou que sim e deu as mãos para a Hashira - Vou te levar para um lugar seguro. Você vai conhecer minha irmã, ela tem quase a sua idade, tenho certeza que serão muito amigas.
Mitsuri continuou em silêncio e olhou para trás insinuando voltar - vamos, querida. Está tudo bem! - no Quartel conheceu Rengoku que aos 17 anos estava prestes a se tornar um Hashira. Mitsuri nunca se adaptou a Respiração das Flores, adorava lutar como seu pai te ensinou e isso chamou a atenção do futuro Mestre das Chamas.
Depois da sua Seleção Final sua katana ficou vermelha, mas ela não gostava das lâminas e preferia as lutas. Kyojuro então a presenteou com um chicote e ela adaptou os golpes usando a força da respiração. Foi um trabalho duro para seu ferreiro revestir seu novo chicote de couro com nichirin. Ele ficou vermelho e quando se tornou Hashira, aquela arma virou uma das mais assustadoras para os onis.
**
- Não conheci a Hashira Kanae, mas todos falam muito bem dela…
- Ela era encantadora, realmente.
- E sinto muito mesmo pela sua família. Também perdi a minha família, sei como se sente.
- Está tudo bem… Esse cachecol é a última lembrança que tenho do meu pai. Ele era um Mestre de artes marciais.
- Foi com ele que você aprendeu a lutar? - Perguntou empolgado.
- Foi sim! Ele era um grande homem! Mas chega de lembrar do passado - deu um longo suspiro - vamos voltar, está na hora do jantar e você precisa repousar, quando se recuperar, eu e Iguro iremos acompanhar seus treinos com a Respiração das Chamas, está bem? Conhecemos pouco, mas o suficiente.
- Muito obrigado Kanroji-sama! Eu adorei o passeio - reverenciou.
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