Hantengu esperou Muzan por horas para passar o relatório de sua missão. Estava junto de Nakime com sua face velha que fazia parte de seu kekkijutsu. Tentava diálogo com a Oni, mas ela só o ignorava.
A Biwa foi tocada e Muzan apareceu com jaleco branco em sua frente, havia acabado de sair de um hospital quando o sol estava nascendo.
- Espero que tenha novidades.
- Sim meu Mestre! O nome dele é Tanjiro Kamado, deve completar 21 no verão que se aproxima. É o primogênito de uma família de 6 filhos, nasceu com uma marca na testa igual à do pai. A família sempre vendeu carvão por gerações, todos na montanha conheciam os Kamado.
- E o que mais?
- Quanto aos brincos, aquele velho não soube responder - Hantengu matou o Senhor Saburo - Disse que o avô desse moleque também usava. Pelo jeito, só ele se tornou caçador na família.
- Está bem. Saia daqui.
Hantengu obedeceu e Muzan começou a preparar mais experimentos em sua mesa enquanto pensava nos brincos passados por gerações.
- Kokushibo.
A Biwa foi tocada depois do chamado suave e a Lua Superior 1 apareceu com a mesma reverência.
- Sim Mestre?
- O que fez com seus brincos de hanafuda?
- Joguei de um penhasco - uma resposta simples e direta com a respiração constante.
Muzan odiava aquilo. Nunca conseguiu achar uma fraqueza sequer daquele ex caçador, nem quando o surpreendia.
- Ótimo. Pode ir.
O Oni partiu para seus aposentos e ficou pensando que alguém deveria ter achado os brincos, mas seria muita coincidência a marca e a espada serem iguais. Tanjiro sobreviveu a batalha do trem Mugen e agora, além do Templo dos Caçadores, o lírio-aranha azul, seu novo objetivo era matá-lo.
Outro ex-caçador passou a viver na Fortaleza, transformado por Kokushibo depois de uma batalha. Kaigaku era outro inútil que não sabia onde ficava o Quartel. Mas diferente de Kokushibo ele realmente não sabia.
Assim que encontrou a Lua Superior 1 perambulando pela floresta, se viu na oportunidade de se tornar Hashira, já que estava na classe kinoe. Mas Kokushibo não queria lutar com ele e com apenas um golpe da Respiração da Lua, Riku caiu com um corte profundo no peito que dilacerou seus órgãos.
Suplicou pela vida e permitiu que o demônio lhe transformasse. Kokushibo desdenhou dele e atendeu seu pedido antes que Muzan chegasse e fizesse, afinal os dois estavam na mesma região.
Riku passou a se chamar Kaigaku e respondia diretamente a Kokushibo, mesmo seu novo Mestre lhe tratando com indiferença. Não gostou da atitude do caçador, o correto era ele ter tirado a própria vida e não pedir para se tornar um demônio.
Ao mesmo tempo que trabalhava para Muzan não ler seus pensamentos, se divertia com a incapacidade dele de conseguir.
Em seu quarto, que era imenso, havia uma árvore de ipê rosa com teto mais baixo fazendo os galhos e flores banharem todo o ambiente que tinha uma luz lilás. Colocou uma xícara de chá quente a seu lado - por puro enfeite, pois não tomava - e começou a meditar.
Com o passar dos anos, principalmente depois do último dia que encontrou seu irmão, relances de sua vida foram sumindo da mente. Então, temendo que esquecesse de tudo e parasse com a respiração constante, pediu a Nakime que instalasse a árvore. Não era de verdade, tudo fazia parte do kekkijutsu dela, mas já era suficiente para se lembrar do Mestre Koji e seus dias de treinos no Quartel.
Mantenho essa pequena parte de seu passado, entendia porquê deveria se manter atômico para Muzan a todo instante.
- Entre - disse ele sem esperar a batida na porta.
Akaza arrastou a porta e entrou reverenciando seu superior. O respeito que os Onis tinham por Kokushibo era o mesmo que Muzan, afinal ele era o segundo Oni mais poderoso do mundo.
- Se veio perguntar da sua filha, eu também não me lembro.
- Mas Kokushibo-dono…
- Não.
Foi difícil convencer Muzan a aceitar sua filha na Fortaleza, só conseguiu depois de jurar que encontraria o lírio-aranha azul. Muzan não prometeu a segurança dela perante Douma e Gyokko, viciados em mulheres e crianças respectivamente. Mas por ter permitido, nenhum outro Oni que passava pela Fortaleza tentava comer a menina. Principalmente Nakime, que era cegamente leal a Muzan, então como ele permitiu cuidava dela de bom grado.
Akaza fazia agora a mesma posição de súplica que fez a Muzan para Kokushibo. Deitado no chão com as mãos em prece diante dele.
- Kokushibo-dono por favor, eu me lembro de quando eu viajava… Ela ficava em seus cuidados junto da Nakime. Me ajude a me lembrar do nome dela.
- Mesmo que eu me lembre, o que vai fazer? Não pode sair da Fortaleza… Lamento, não posso ajudar. Por favor, me dê licença.
**
Quando não estava na Fortaleza à procura do lírio-aranha azul, a criança vivia grudada em Nakime. Exceto um dia que corria brincando sozinha pelos corredores, tombou com Douma que abriu um sorriso maléfico pronto para devorá-la.
- Se encostar nessa menina... - Douma sentiu um calafrio pela voz firme e rude de Kokushibo em sua orelha - eu mesmo mato você - ele estava com as mãos no punho da espada nichirin.
- Kokushibo-dono! hihihi, eu estava brincando com ela - a menina estava visivelmente assustada - não me lembro do nosso Mestre lhe passar ordens para "protegê-la".
- E não precisa. Saia daqui.
Douma bufou pela oportunidade perdida e saltou pelas escadas e corredores da Fortaleza. Kokushibo acompanhou com os olhos antes de respirar fundo e virar para a menina que ainda estava ali parada assustada, seu rosto mudou dos seis olhos para como um dia foi Michikatsu.
- O que está fazendo correndo sozinha? - pegou ela no colo - Onde está Nakime?
Um leve som de Biwa e ele foi arrastado para a porta de um novo cômodo. Entrando desdenhou do ambiente.
- Uma cozinha Nakime?
Ela estava preparando lámen e ovos.
- Diferente de nós, ela come comida humana.
- O que é isso, árvore? - pegou um brócolis na mesinha e a Oni deu um tapa na mão dele.
- Brócolis caipira, nunca viu?
- Arrogante… - Olhou para a menina no colo sorrindo que fez o mesmo - Está com fome? - Ela confirmou com a cabeça - Essa menina não fala?
- Não.
- Enquanto estava aqui cozinhando... - colocou ela no chão - Ela quase morreu, sabia?
- Enquanto você não estiver na Fortaleza, meu trabalho é apenas mantê-la longe de Douma e Gyokko.
- "Enquanto eu não estiver"?
- Protegeu ela, não a protegeu?
- Sim, mas…
- Então ótimo!
Meia hora depois, Akaza apareceu com uma cesta de verduras, levou um pequeno susto vendo o rosto humano de Michikatsu, se esquecera como era e achava que aquela marca na testa fazia parte da face demoníaca.
Diante da filha, ele também se mostrava como Hakuji.
- Você demorou.
- Kokushibo-dono! - reverenciou - Não esperava vê-lo.
A menina correu para o colo do pai, só emitia pequenas palavras com ele.
- Não demore mais para voltar, Nakime estava ocupada e Douma não sei porquê passeava pela Fortaleza, ela poderia ter morrido - se levantou caminhando para a porta.
- Não vai acontecer de novo Kokushibo-dono. E obrigado.
O Oni assentiu com a cabeça e saiu da cozinha para seus aposentos.
**
Kokushibo se lembrava sim da menina, principalmente por ser uma situação recente. E depois desse dia observando Nakime alimentá-la, passou a ver seus dois filhos nela por ela apenas estar vivendo.
A levava para seu quarto onde lhe dava chá e ensinou a meditar, ela dormia calmamente em seu colo sob a luz hipnotizante do quarto.
Ela foi expulsa da Fortaleza quando completou 8 anos, numa noite que Muzan chamou Nakime e coincidentemente estava junto de Akaza, Kokushibo, Hantengu e Daki, a Lua Superior 6, que brincavam com a menina.
Muzan odiava que seus onis ficassem juntos, então proibiu aquelas reuniões mandando Akaza se livrar da menina ou ele mesmo iria comê-la.
Daki tentou relutar com a decisão, já estava apegada a garota, mas seus argumentos quase a fizeram perder a vida. Muzan secretamente também sentia apego pela garotinha, pois quando ela era um bebê, ficava admirando ele fazer experimentos.
Já havia conquistado tudo então pensou - "porquê não uma família?" - entrou finalmente na provocação de Tayoumaru de que ele não tinha uma esposa ou filhos.
Mas seu trabalho como rei dos Onis e manter suas Luas Superiores afastadas era mais importante.
**
Akaza foi para seu quarto sem respostas, e se sentindo inútil, sentou-se chorando em silêncio como Hakuji onde tudo da sua filha estava arrumando no guarda roupa.
Precisava novamente convencer seu Mestre a lhe conceder a missão do lírio-aranha azul. Mas uma distração no estômago o fez voltar a face demoníaca, não comia a quase dois meses.
No Quartel General
Obanai estava sentado na varanda de sua mansão apreciando a lua tímida às vésperas do inverno e tomando chá, Kaburamaru se rastejou até ele e usando seu kekkijutsu, sentou-se como mulher a seu lado. Acostumado com aquela aparência pálida e feminina, olhou para ela com desdém.
- O que lhe aflige? - Sua boca não se mexia, mas era nítida sua voz na mente.
- Por que não me contou? - Olhou para ela com raiva.
- Sobre o que?
- O demônio que fez essas suturas… Foi Muzan não foi? - silêncio - Eu sabia… Demorei muito para perceber. Eu lembro de uma janela abrindo do nada ao lado dele e você contou sobre a Fortaleza Dimensional.
- Se você soubesse naquela época, o que faria? - A voz em sua mente parecia nervosa - Era apenas uma criança medrosa.
Ele não respondeu.
- Desde sempre as pessoas me protegem até mesmo o próprio demônio. Eu sou fraco.
- Você é a pessoa mais forte que eu conheço.
- Você só conhece a mim! - Ele se levantou e ela voltou a ser uma cobra para segui-lo - Não! Quero ficar sozinho.
Obanai seguiu pelas pequenas luzes do Quartel até a mansão Kanroji, a última mansão antes do cinerário e a barreira dos fundos. Mitsuri estava fazendo o mesmo que ele na varanda de seu quarto de pijamas e acariciando seu cachecol.
- Lembranças do Senhor Kanroji? - perguntou ele entrando no quarto.
- Sim - sorriu - e de Kyojuro também… O Quartel está vazio sem ele.
- Tudo está mais quieto... Ele falava demais. - se sentou ao lado dela que colocou os pés em seu colo.
- Está sem a faixa…
Ele colocou as mãos no rosto com pressa e envergonhado, queria se levantar para buscá-la, mas Mitsuri o segurou com os pés.
- Está tudo bem, sabe que eu não me importo - acariciou o rosto dele.
- Eu já lhe contei sobre meu Clã?
- Brevemente.
- O que quero contar também é que fui cuidado por um demônio depois que me cortaram… Esse demônio entrou em minha cela e fez suturas.
- Como sabia que era um demônio?
- Eu via ele comendo as outras crianças… Foi Muzan.
- MUZAN!?
- Sim. Kaburamaru confirmou.
- Mas porque ele faria isso?
- Eu não sei, deve ter ficado com pena de mim… Me contou uma história engraçada.
Obanai estava frustrado, mas com Mitsuri se sentia confortado. Contou para ela sobre a história dos irmãos apaixonados e por fim como se sentia fraco. A Hashira era a única que ele tinha uma apreciação, achava ela engraçada e muito meiga ao mesmo tempo que admirava aquela força de guerreira.
- Iguro-san… Você se tornou um caçador poderoso, não tenha dúvidas. Sua Respiração é única.
- Isso não é nada. Só me tornei o que sou por causa de Kaburamaru. Os movimentos do Inverno foram modificados por ela.
- Nosso Mestre já lhe disse que você é extremamente habilidoso, então não acho que tudo gira em volta dela. Olha… - Tirou os pés do colo dele e chegou mais perto ficando frente a frente - Sei que nenhuma palavra minha pode lhe confortar por ter vindo de uma família complicada ou por se sentir fraco. Porque essa fraqueza que sente é por não ter chegado a tempo naquele trem, não é? - ele abaixou a cabeça - mas você está aqui vivo deixando a memória do seu irmão respeitada. E Muzan pode ter cuidado de uma criança que irá matá-lo, entende as contradições do destino? Então não pense negativamente. Aqueça seu coração.
Pela primeira vez Obanai sorriu para ela com aquela última frase.
Mitsuri desde nova sentia atração por ele e quando treinavam juntos com Kyojuro, tentava chamar sua atenção. Ele nunca dava bola, até que desistiu da ideia, mas foi aí que Obanai começou a dar "bom dia" para ela porque sentiu falta das faladeiras da Hashira e então os dois se aproximaram.
Ela de novo acariciou seu rosto e Obanai fechou os olhos deixando uma lágrima cair - por favor, não chore. Olhe para mim - ele abriu os olhos novamente - eu adoro seus olhos - não precisava dizer mais nada, os dois pediam por aquele beijo. Lento, sincero e parecendo que os dois estavam com saudades um do outro.
Obanai olhou para ela com mais firmeza, levantou e a pegou no colo, levando-a para dentro. Sempre que tinham seus momentos juntos, parecia a primeira vez. Dois apaixonados.
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