História Ei, Vossa Alteza (Min Yoongi) - Capítulo 15

Min Yoongi

A situação não é tão ruim. Pelo menos é o que eu quero acreditar.

Odeio ceder às vontades de garota mimada que é Verônica, mas... Eu não posso, e nem quero, interferir desta forma na vida de S/N. E deve haver algum jeito de entrar num meio termo, algo que eu possa fazer.

Pois isso que, quando cheguei e nom casa e pude me trancar no quarto, o melhor lugar para pensar e organizar minhas idéias, cheguei à conclusão que poderia ceder às vontades de Verônica e, depois do jogo, voltaria a falar com Merllya. Talvez ela fique chateada, brava, ou até mesmo muito magoada, mas creio que se eu pedir desculpas, e porventura lhe contar a verdade, ela possa me perdoar.

Com esse plano em mente, peguei meu celular e digitei o nome de Verônica no Kakao Talk, já que seria perda de tempo procurá-la naquele mar de contatos.

[Min Yoongi  — 19:23] ➤  Fechado.

[Park Vê — 19:24] ➤  Fechado? O que está fechado?

Fechei meus olhos, respirando fundo para que não transformasse aquilo numa briga digital.

[Min Yoongi  — 19:24] ➤  Farei o que quer, Verônica. E você vai deixar S/N em paz.

A reposta demorou alguns minutos para vir, então um resquício de esperança passou pela minha mente, pensando que, talvez, Verônica tivesse criado juízo e notado que aquela idéia era absurdamente infantil e deplorável.

Mas a garota se mostrou bem mais patética do que eu achava.

[Park Vê  — 19:28] ➤  Tá. Lembrando que você vai ter que fazer direitinho, Yoongi, ou tudo acabado.

Não quis responder sua última mensagem, apenas visualizei e saí do aplicativo, deixando o celular de lado.

Agora eu tenho mais com o que me preocupar, tipo... Como me afastar de S/N amanhã? Ainda mais se isso é a última coisa que quero fazer nesse momento.

Achei que seria difícil falar para Merllya que eu não queria mais ficar consigo. Porque diferente das outras vezes que fiz, com outras garotas, eu não queria ter de dizer aquilo. Eu me recuso a dizer em voz alta que, talvez, bem talvez mesmo, improvável, mas talvez provável, eu possa estar sentindo algo diferente por Merllya. E é foda ter que dispensar ela depois de estarmos nos dando tão bem.

Todavia, Verônica pareceu bastante animada para cuidar daquilo, lógico que estaria, como eu pensei que ela deixaria aquele tipo de coisa nas minhas mãos? Eu tentei recuar e argumentar, dizer que não precisava de tudo aquilo, que nem ela poderia ser tão cruel assim e que preferia conversar com Merllya sozinho, para poder explicar de um jeito menos... Impactante. Mas Verônica nunca escondeu a cobra que sempre foi, e não seria agora que esconderia.

Por isso que, quando Merllya entrou no refeitório com SunMi e TaeHyung — ainda não sei como ele começou a ficar mais próximo das duas do que de mim —, Verônica se sentou ao meu lado e envolveu meu pescoço em seus braços magros.

Não senti nada com sua aproximação, apenas o desejo de afastá-la imediatamente de mim.

O que me fez realmente sentir algo, ainda que algo ruim, fora ter olhado para os olhos de Merllya por breves momentos; pois no instante seguinte Verônica puxou meu rosto e beijou-me. Foi por pouco tempo, mas eu pude perceber o espanto nós olhos da princesa.

E de certa forma eu agradeço por Verônica ter sido rápida, porque eu não queria ver por mais tempo o olhar surpreso de S/N se transformar em algo pior, como mágoa.

Pela primeira vez, abri meus olhos por alguns segundos durante o beijo com a garota, vendo seus cílios longos e pretos, aumentados por algum rímel caro, fechados. Já beijei muitas garotas sem realmente desejá-las, mas nunca contra a minha vontade como estou tendo de fazer agora.

– Sabe o que fazer. – sussurrou a morena em meu ouvido, antes de afastar seu corpo do meu e olhar além de mim, para algo que a fez sorrir.

Quando Verônica saiu e eu virei meu rosto, finalmente vi o que a tinha feito sorrir. Meus amigos. SunMi e TaeHyung. Sem S/N.

Senti vontade de respirar fundo quando a imagem dela correndo, talvez com os olhos marejados, fugindo daquela situação passou pela minha cabeça. Mas eu não o fiz.

– Que porra é essa, Min Yoongi? – SunMi questionou alarmada assim que alcançou a cadeira ao meu lado e se jogou sobre ela. TaeHyung fez o mesmo, só que à minha esquerda.

– O que?

– Não se faça de sonso! Você e aquela garota lá!

– Verônica? – assentiram. – O que tem?

Ambos os rostos pareceram hesitar com aquela pergunta minha. Ainda que fosse difícil olhar os dois ao mesmo tempo por estarem em lados opostos, eu conseguia dividir minha atenção muito bem.

E como se não bastasse ter de suportar ter Merllya decepcionada, parece que eu também teria de suportar meus amigos decepcionados. Se eu falasse para eles a verdade, jamais me deixariam fazer algo assim, ou iriam me xingar antes de fazer alguma besteira.

– Como assim o que tem? Você não estava ficando com a Lya? – desta vez, eu que balancei a cabeça positivamente. – E como pôde ficar com a Verônica assim do nada? Tipo, tudo bem que você não é lá muito confiável, mas achei que a S/N merecia um tratamento diferente.

Ela merece um tratamento diferente.

– Ué, e eu dei, não? A gente ficou uns três dias, só nós. Agora acabou.

SunMi desceu a postura desolada, e eu me senti horrível por deixá-la assim. Nunca achei que sentiria tal coisa, ainda mais por ela, que não era nem sequer revelevante na minha vida.

Afim de acabar logo com aquele diálogo desconfortável, respirei fundo e comprimi meus lábios por um momento, antes de levantar meu rosto e tentar transparecer uma paz que eu não estava sentindo.

– Ah, qual é gente, vocês sempre souberam que eu e Verônica temos algo... Diferente. Ela é especial, e infelizmente isso ninguém pode negar.

Se antes SunMi parecia desolada, agora ela parece furiosa. Seus olhos castanhos viraram chamas, e eu senti eles me queimando, junto com o pesar da culpa. A garota se levantou sem dizer mais nada, apenas jogou a cadeira para trás com seu corpo e saiu pisando fundo para longe de mim.

TaeHyung, que permanecera ao meu lado em silêncio, finalmente soltara um ruído indicando que estava vivo e prestando atenção na conversa. Um suspiro.

Ele se levantou, e então olhou para meu rosto. Achei que veria compreensão, ou até mesmo algo mais libertino, mas tudo que ele fez foi olhar para o chão e balançar negativamente sua cabeça.

– Desta vez você realmente vacilou, Yoongi.

Foi tudo que disse antes de sair caminhando pelo corredor. TaeHyung nunca me julgou pelos meus feitos, nem pelas piores merdas que eu já fiz. E agora eu realmente percebo o quão decadente essa situação é. E não gosto de estar sentindo isso.

• Merllya •

Quando vi Yoongi, abri um sorriso maior que meu rosto. Mas logo meus olhos caminharam para algo ao seu lado, e meu sorriso morreu.

Verônica passou seus braços ao redor de seu pescoço, e por um momento tive a impressão de que Yoongi me olhara nos olhos e demonstrara algum incômodo, como se algo ruim estivesse acontecendo.

Não faça isso.

Fora o que quis gritar, antes de ver Verônica aproximar seus lábios dos de Yoongi e o beijar. O beijou foi correspondido, e aquilo me fez desmoronar. Senti algo diferente, algo que nunca senti antes, algo como dor, decepção e ódio ao mesmo tempo. E não é bom.

Os dois se afastaram depois de alguns minutos e, parecendo tão chocados quanto eu, SunMi e TaeHyung olharam para mim.

– Vamos até lá! – SunMi propôs, firme.

– Agora. – TaeHyung incentivou, parecendo ainda mais decidido que minha amiga.

Só que eu não consegui me mover, mesmo com o incentivo dos dois, e os olhares impacientes, tudo que fiz foi negar com a cabeça. Então, ao invés disso, fui para direita e contornei algumas mesas. Agradeci por Min Yoongi não ter tentado me procurar com olhos, ou ao menos ter olhado em volta por pura curiosa, assim ele não percebera quando me sentei numa mesa próxima a sua. A tempo de ver nossos amigos chegarem perto dele e Verônica se afastar.

TaeHyung ficou em silêncio, enquanto SunMi confrontava Yoongi.

E eu só conseguia olhar para a superfície branca a minha frente, usada para os alunos colocarem suas bandejas com comida e lancharem. Porém, por mais que meus olhos não estivessem no trio, meus ouvidos estavam claramente focados nas vozes.

– Ah, qual é gente, vocês sempre souberam que eu e Verônica temos algo... Diferente. Ela é especial, e infelizmente isso ninguém pode negar.

A saliva desceu queimando pela minha garganta como se fosse bebida destilada. Junto com ela desceram algumas lágrimas, e meu nariz ardeu. Não precisei escutar mais nada, se é que tinha algo a mais para escutar, apenas me levantei da cadeira em que estava e saí andando pelo refeitório. Contornando a linha horizontal entre as duas fileiras de mesas para poder me afastar o máximo possível deles e sair pela porta de trás sem que Yoongi me visse.

Depois de cruzar as grandes portas traseiras do local, escutei elas se abrirem novamente, mas não precisei olhar para trás para saber que era SunMi, e talvez TaeHyung, vindo atrás de mim afim de me consolar. E odeio admitir isso, mas estou precisando de colo.

°•°

– Ele é um babaca. – SunMi ralhou comigo deitada no banco e com a cabeça em seu colo.

Estamos no jardim, junto com TaeHyung. O banco é grande o suficiente para acomodar nós três, então, estou deitada com a cabeça no colo de SunMi e parte das pernas sobre TaeHyung. Estranhamente ele se tornou próximo de nós duas, não tanto quanto é de Yoongi, mas é aqui que ele está agora. E não com o amigo idiota.

– Prefiro não ofender ele, ainda é o meu melhor amigo. – o menino disse, recebendo de mim um olhar reconfortante.

SunMi deu de ombros, não pareceu irritada por TaeHyung preferir se poupar de ofender seu amigo. Acho que ela se colocou no lugar do mais alto, como se eu fosse Min Yoongi.

Mas a realidade é que eu não sou, ou seja, Min Yoongi é "fodidamente" um babaca. E eu me sinto a pessoa mais burra do planeta por confiar nele.