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História Escape - Capítulo 9


Escrita por: pfthoranxx

Capítulo 10 - Capítulo 9


Fanfic / Fanfiction Escape - Capítulo 9

Mary's POV

Estava no meu quarto ocupada com o trabalho de história e cansada o suficiente para terminar no dia seguinte, mas o melhor seria acabar de uma vez por todas e ficar livre. Meu pai chegou do trabalho por volta das 9:00 p.m enquanto James já dormia e minha mãe ocupava o quarto dela. Ouvi quando meu pai subiu as escadas e se dirigiu ao seu quarto, não demorando a ouvir gritos e xingamentos provindos do cômodo. Eu já devia estar acostumada com as constantes discussões entre meus pais.

Porém, o tom de voz de ambos aumentava a cada minuto que se passava, fazendo James acordar assustado e começar a chorar. Ele ainda era pequeno para entender o que acontecia e não o culpava por se assustar tão facilmente.

Parei o que fazia, deixando o computador por um momento e me dirigi ao quarto do pequeno. Liguei o interruptor da luz e logo o vi sentado na cama enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto delicado e seus gritos de angústia aumentavam. Lhe segurei contra meu peito enquanto sua cabeça se apoiou no meu ombro e seus pequenos braços abraçaram meu pescoço. Comecei a balançar seu corpo contra o meu para frente e para trás levemente, tentando fazê-lo parar de chorar, mas nada adiantava. Nada que eu fizesse deixava-o mais calmo.

A única solução era tirá-lo dali, afinal eu desconfiava que meus pais terminariam com a discussão logo. Desci as escadas com James no colo e me dirigi a porta, pensando onde poderia ir com ele à aquela hora da noite. Eu sabia onde poderia ir e não precisaria caminhar muito. Coloquei James no chão, segurando sua mão e fazendo-o caminhar ao meu lado assim que ele parou de chorar. Percorremos poucos metros até alcançarmos a casa de dois andares quase no fim da rua.

Toquei a campainha e logo a porta foi aberta por quem eu esperava ver. A figura de Harry apareceu na minha frente, me analisando por alguns instantes antes de seu olhar abaixar para James que se mantinha ao meu lado. Seu peitoral estava exposto e apenas uma calça de moletom cobria a parte debaixo do seu corpo, deixando evidente as tatuagens espalhadas pela parte frontal do seu corpo e braços.

— Achei que quando disse que podia aparecer a qualquer hora você não fosse levar a sério. — ele disse.

— E eu achei que o que disse era verdade. — rebati, mesmo sabendo que ele não falava sério.

— Sabe que no fundo estou apenas brincando. — ele esboçou um sorriso e fui obrigada a imitar seu ato. — Entra.

Ele abriu um pouco mais a porta, me dando passagem enquanto James acompanhava meus passos. Assisti quando Harry fechou o material de madeira e caminhou na minha direção.

— Deixa eu adivinhar. — ele fechou os olhos, usando apenas uma mão, fingindo se esforçar para pensar. — Mais uma briga do casal Sullyvan.

— Exatamente. Um ponto para o Harry. — brinquei vendo-o sorrir com o jogo bobo.

— Isso não devia mais ser novidade.

— Não mesmo, mas dessa vez o James acabou se assustando com toda a confusão.

Meu olhar voltou-se para James que se mantinha quieto todo esse tempo, vendo Harry repetir meu ato. O rapaz alto se abaixou ficando quase na altura do meu irmão enquanto segurava sua mão em um leve aperto e vendo o pequeno esboçar um sorriso tímido com a saudação.

— Uma hora isso deve parar. Vai acabar afetando-o de alguma forma. — disse erguendo-o do chão enquanto usava apenas um braço para carregá-lo.

— Diga isso a eles!

O segui até sala e ocupamos um dos sofás do cômodo, me sentei na sua frente podendo ter uma visão direta do seu rosto. Ele pôs meu irmão sentado em seu colo para que pudéssemos conversar.

— Onde está a Gemma? — perguntei.

— Ela saiu para jantar com as amigas. Eu espero, realmente, que sejam só meninas.

— Você precisa parar com esse ciúme. E daí se não tiver só meninas? Deixe ela aproveitar um pouco. — eu disse e Harry soltou uma risada abafada.

— Já que você está aqui, tem algo que eu quero lhe contar. — ele disse, erguendo o olhar até meu rosto.

— O que aconteceu?

— Louis teve uma ideia hoje mais cedo pra descobrimos algo a mais sobre o Niall e eu acabei aceitando.

— Por favor, me diga que não fizeram nada imprudente. — pedi, receosa com o que Harry tinha a dizer.

— Não foi nada demais. Apenas o seguimos depois da aula.

— Vocês o quê? — indaguei exasperada e James me olhou assustado. — Vocês o quê? — ao perceber meu erro, voltei a falar com um tom de voz mais baixo e controlado.

Eu realmente não esperava aquilo de Harry. Eu o conhecia muito bem para saber que seguir as pessoas não era de seu feitio. Susan mesmo disse, quando estávamos espionando Niall na semana passada, que Harry não aceitaria se submeter a esse tipo de coisa e por isso não podia contar com a ajuda do namorado.

— Saímos da aula bem a tempo deles deixarem a faculdade. Louis parece estar levando esse plano de ter mais informações bem a sério e sugeriu que seguíssemos eles, alegando que isso nos ajudaria a saber de mais coisas. — explicou calmamente.

Me perguntei se ele sabia o que eu r Susan tínhamos feito há alguns dias e mesmo que eu quisesse lhe questionar sobre isso não tinha o direito, pois caso minha amiga não tivesse contado nada eu seria a responsável por uma briga do casal. Eu não tinha esse direito. Era algo que ela devia dizer a ele quando achasse que fosse o momento certo.

— O que descobriram? — perguntei curiosa.

— Nada demais, a princípio. Mas foi Liam quem dirigiu e ele fez um trajeto maior para chegar a casa enquanto podia ter pegado o caminho que leva a floricultura na zona leste da cidade. — eu sabia onde ficava a floricultura. Era em uma zona mais afastada da cidade e levava uns vinte minutos de carro saindo da faculdade. — Paramos a quatro casas de distância da deles para não perceberem que estávamos por perto.

— Eu não vejo nada demais nisso. — disse confusa ou talvez impaciente demais querendo saber de uma vez por todas o que Harry descobriu com toda essa façanha.

— Isso é porque você não me deixa terminar. — seu tom de voz um pouco irritado por conta da minha inquietação. Ele soltou um suspiro antes de continuar. — Quando o portão de abriu havia mais um carro na garagem, mas isso não foi o que mais nos chamou a atenção. Várias armas de tamanhos e tipos diferentes estavam penduradas na parede. Além de alguns equipamentos de segurança e monitoramento estavam expostos sobre prateleiras.

Uma sensação estranha percorreu pelo meu corpo, como uma onda de calor coberta por uma camada fria que me provocava arrepios e inquietação. Era algo que eu não sabia explicar. Eu já devia esperar que o que Niall escondia de nós não era algo sem importância, mas não importava o quanto eu me preparava. Sempre acabava me surpreendendo ainda mais com ele.

— Isso é insano. Por que motivo eles teriam tantas armas em casa? — indaguei erguendo as sobrancelhas.

— Eu não sei, mas Liam foi muito cauteloso ao fechar o portão e ficava olhando para todos os lados como se soubesse que estava sendo seguindo. — disse Harry. — Eu não o culpo. Com tantas armas em casa também teria medo de ser pego em flagrante.

— Acha que isso significa alguma coisa? Quero dizer, Louis pode ter razão em pensar que eles são traficantes ou algo do tipo.

— Acho pouco provável. Holmes Chapel não é o melhor lugar para se esconder. Todos aqui se conhecem e se estivessem fugindo logo as pessoas saberiam a respeito deles.

— É você pode ter razão. — no fundo eu só queria que ele estivesse certo. A ideia de Niall ser um criminoso era perturbadora demais para mim.

— Eu gravei tudo pelo celular. — Harry puxou o celular do bolso e selecionou o video para que eu pudesse assistir. — Você devia dar uma olhada.

Ele me entregou o aparelho e se manteve ao meu lado para conseguir ver também. Dei o "play" e o vídeo começou. Tudo o que Harry havia me descrito aparecia na filmagem e o mais curioso foi ver a casa de Niall.

Ela era no final da rua  e se destacava no meio das outras residências ao redor. Era grande e bem cuidada. Não seria algo tão estranho se eles não tivessem um motivo para morar em um bairro afastado, manter armas em casa, morar em um lugar vistoso demais para quem tenta se esconder, se era essa mesma a intenção deles.

— Eu não sei o que dizer. Tudo isso é estranho demais. — admiti, entregando o celular a Harry. — Eu só não consigo entender é que se eles quisessem fazer alguma coisa porque estariam se arriscando desse jeito? Se expondo em um lugar público como a faculdade e se aproximando de nós. Niall não teria motivo algum para me defender de Brad ou começar uma amizade conosco.

— Talvez eles não queiram fazer nada. Talvez sejamos apenas nós quem estejamos tirando conclusões precipitadas e achando que eles estão planejando alguma coisa. — o rapaz tatuado voltou sua atenção para James que usava o dedo indicador para contornar sua tatuagem de barco no braço esquerdo. O pequeno parecia se divertir com o desenho permanente

Era obrigada a concordar com Harry. No fundo tudo o que queríamos era descobrir de uma vez por todas quem Niall era que podíamos estar cometendo o erro ao pensar absurdos sobre ele. E se ele não fosse quem achávamos que podia ser? E se ele só tivesse um tio militar que tem licença para guardar armas em casa? Só poderíamos descobrir isso com o tempo.

— Acho que devíamos esquecer um pouco isso. — eu disse. — Se tiver alguma coisa para ser revelada iremos descobrir isso com o tempo.

— Não vejo como podemos fazer isso com Susan todo o tempo no nosso pé. — confessou e eu não pude deixar de rir.

— Se você mantê-la ocupada o tempo todo não precisaremos nos submeter aos planos malucos dela.

— Não sei. Acho que isso não vai funcionar. — admitiu, jogando seu corpo para trás e passando a mão por entre os seus longos cabelos.

— Confie em mim. Apenas beije-a pelo maior tempo que conseguir e pronto. Terá mantido a mente e a boca dela bem ocupada.

— Prometo que vou pensar. — ele sorriu divertido e cai na gargalha ao perceber o quão idiota o meu plano era.

Harry abaixou seu olhar para James que estava quieto em seu colo, agora medindo o tamanho da sua pequena mão com a de Harry, tentando mantê-la aberta em cima do joelho do rapaz que assistia o entretimento do meu irmão com uma expressão pensativa.

— Uma bebida para relaxar? — sugeri divertida.

— Por favor, temos uma criança aqui. — ele tapou os ouvidos de James e rimos da brincadeira idiota. — Está com fome?

— Sim, eu aceito comer alguma coisa.

Nos levantamos e andamos até a cozinha. Harry colocou James sentado em uma das cadeiras enquanto procurava nos armários um pacote de biscoito. Peguei duas latas de refrigerante na geladeira, vendo-o retornar a mesa e distribuir o biscoito encontrado em um pequeno prato, entregando a James duas unidades e sorrindo com a animação do pequeno. Voltamos a conversar sobre assuntos aleatórios e quando me dei conta o relógio já marcava 10:15 p.m. Eu precisava voltar para casa.

— É melhor eu ir. Já está tarde e é uma questão de tempo até James dormir de novo. — eu disse, me levantando da cadeira e jogando as latas de refrigerante vazias no lixo.

— Tudo bem. Eu levo vocês até a porta. — Harry imitou meu ato e pegou James no colo.

Nos dirigirmos até a porta da frente e paramos quando ouvimos a maçaneta ser girada e o objeto foi empurrado para dentro. Logo a figura de Gemma surgiu no nosso campo de visão.

— Mary. — disse um pouco surpresa, mas logo esboçou um sorriso sincero. — Que bom lhe ver aqui.

— Oi, Gemma. — sorri brevemente.

— Como está? — ela perguntou enquanto me abraçava.

— Estou bem, só vim fazer uma visita para o seu irmão. — olhei de relance para Harry que se mantinha parado ao meu lado e com James no colo.

— Hey, você também está aqui. — falou sorridente assim que percebeu a presença de James.

Ela começou a fazer cócegas no pequeno que se contorcia nos braços de Harry e parecia se divertir com a simples brincadeira. Eu admirava Gemma. Ela era uma pessoa muito legal e cresci com ela e Harry. Não éramos tão próximas como eu era do rapaz alto, mas considerava-a como parte da minha família. Logo as brincadeiras com meu irmão cessaram, pois ela afirmou estar cansada e subiu para o seu quarto.

— Nos vemos amanhã, certo?  —indaguei enquanto Harry me entregava James.

— Claro. — seus lábios esboçaram um simples sorriso e ele passou um dos braços por cima dos meus ombros, puxando-me para si e me envolvendo em um abraço. — Fique bem.

Agradeci por tudo e em poucos minutos cheguei em casa. Tomei cuidado para não fazer muito barulho, visto que a casa estava escura e meus pais pareciam já estar dormindo. Levei James até seu quarto e ao chegarmos no cômodo ele começou a fazer manha.

Quelo domi com você. —disse enquanto eu o colocava no chão para arrumar sua cama.

— Mas você tem o seu quarto para isso. É aqui que deve dormir.

— Mas eu quelo fica com você, Maly. — fez beicinho implorando para eu deixasse.

— Tudo bem, mas não faça barulho. — cedi assim que percebi que ele começaria a chorar.

Voltamos ao quarto e o coloquei deitado na minha cama. Levou poucos minutos para ele dormir e eu tive oportunidade para usar o banheiro e trocar de roupa. Após estar pronta, me deitei ao lado do pequeno e não demorou em eu acabar do mesmo jeito que ele.

(...)

No dia seguinte, eu tive certa dificuldade para acordar já que passei a noite em claro. James não teve uma boa noite de sono e assim como ele acabei acordando várias vezes durante a noite sempre que o pequeno se mexia inquieto. Harry tinha razão. As constantes brigas dos meus pais estavam o afetando cada vez mais.

Quando cheguei da aula, percebi que meu irmão precisava dormir e por isso o levei até o seu quarto para que ele pudesse descansar um pouco. Assim que o coloquei em sua cama e me certifiquei de que ele dormia profundamente, desci as escadas e resolvi me deitar no sofá. Eu não dormiria como James, mas podia descansar por alguns minutos antes de fazer meu trabalho de física.

Estava distraída com o celular quando ouvi a porta sendo aberta. Levantei-me para ver que era minha mãe quem havia chegado. Ao mesmo tempo em que ela tirava o blazer e colocava em um dos cabides próximo à entrada.

— Não sabia que vinha mais cedo para casa. — comentei vendo-a caminhar até a cozinha.

— As vendas não foram muito boas hoje e o movimento estava fraco. — disse colocando sua bolsa na cadeira. — Resolvi vir para casa descansar um pouco.

Ela não tinha o costume de fazer isso e por tal razão continuava achando sua vinda para casa estranha, mas preferi não falar nada e achei mais produtivo voltar a me deitar no sofá. Porém, antes que eu pudesse me deitar novamente, ouvi sua voz estridente me chamar.

— Maryanne, onde está o seu irmão? — deixei a sala para poder lhe responder em um tom normal. Eu já havia ouvidos gritos demais em menos de vinte e quatro horas. — Não me diga que o colocou para dormir a essa hora. Você sabe que mais tarde ele estará disposto demais.

— Sim, eu o coloquei para descansar um pouco. Já que ele não conseguiu dormir a noite, por uma razão que você com certeza deve saber. — provoquei-lhe.

— Do que você está falado? — indagou confusa.

— É, talvez você tenha gastado toda a sua energia com a discussão de ontem a noite e agora não consegue nem se quer pensar no que possa ter levado o seu filho a acordar no meio da noite. Ou talvez você nem saiba que ele acordou, o que é bem mais provável.

— Eu não vejo nada de errado nisso. Afinal, é seu dever cuidar do seu irmão. — disse tirando o celular de dentro da bolsa. — Eu trabalho o dia todo, chego cansada em casa e ainda tenho que aguentar esse tipo de coisa.

— Acho que você está confundindo os papéis aqui. Você é a mãe dele não eu. — desafiei, não medindo as consequências de ter dito isso. — Talvez se você não trabalhasse tanto, não estaria tão cansada. E teria mais tempo para cuidar do seu filho.

— O que você disse?! — é claro que ela havia entendido muito bem, mas talvez custasse acreditar que falei algo do tipo.

— Isso mesmo o que ouviu. Você não pensa em mais nada além de dinheiro. — eu não pretendia quebrar nosso contato visual. — A sua vida é só trabalho e dinheiro. Você esquece que tem um filho de dois anos e que também tem responsabilidades como mãe.

— Não fale desse jeito comigo, Maryanne. — ordenou voltando a gritar

— Eu só estou falando a verdade. — eu sabia que era errado da minha parte falar desse jeito, mas minha mãe também estava errada. Eu não aguentava mais.

— A verdade? — agora ela parecia confusa e sua voz baixou o suficiente para parecer mais pacífica.

— Sim. — afirmei com a cabeça. — Você não se importa com seus filhos. Não quer saber se eu e James estamos bem ou como ele se sente em relação a ter uma mãe tão ausente. — ela continuava em silêncio, tentando absorver tudo o que eu dizia. — Eu faço o papel de mãe melhor que você. — eu dei uma pausa, mas não desviei o meu olhar do seu. — Nessa família só o que importa é dinheiro e mais nada.

— Isso é um absurdo! — protestou. — Você está sendo injusta. Eu trabalho para sustentar as suas mordomias e de seu irmão.

— O James tem apenas dois anos. Um absurdo é você dizer que ele tem mordomias. Ele tem necessidades.  — falei como se estivesse ensinando uma criança o alfabeto. — Ele precisa de uma mãe que esteja aqui quando ele estiver doente ou chorar por sentir a sua falta. Quando quiser brincar com alguém que não seja eu. Ele sente a sua falta.

Eu já estava farta de tudo aquilo. Nada mudou em anos e tudo indicava que a situação não iria mudar, mas eu precisava me impor. Eu podia sentir as lágrimas pesadas ao ponto de transbordarem dos meus olhos e foi preciso segurá-las se não quisesse que minha mãe visse minha fraqueza.

Sem que eu esperasse ou tivesse tempo para me preparar senti uma colisão rápida e convicta na minha bochecha esquerda, fazendo minha cabeça virar para o lado com o impacto e foi só uma questão de tempo para eu sentir uma ardência percorrer meu rosto. Levei minha mão cuidadosamente ao lugar atingindo pelo tapa, sentindo a quentura dominar minha pele. Suspirei pesadamente e voltei vagarosamente o rosto na sua direção, capturando seu olhar atento em mim.

— Já chega! — seus olhos expressavam um sentimento que eu não conseguia identificar. Parecia algo como ódio e decepção. — Não vou mais aturar isso.

— Claro que não vai. — ri debochada. — Você não aguenta ouvir a verdade.

Sem lhe dar ouvidos saí da cozinha em passos rápidos, pisando com firmeza no assoalho. Subi os degraus da escada quase correndo e meus pés fizeram o caminho até o meu quarto. Bati a porta bruscamente e não me importei com o estrondo que ela fez.

A raiva tomava conta de mim, me destruindo por dentro. Eu não queria chorar, mas naquele momento pareceu que eu não tinha controle sobre o meu corpo e mente. Eu não costumava discutir desse jeito com minha mãe e preferia ficar calada a ter que gastar minha energia falando coisas que eu sabia que não iriam adiantar. Ela nunca me ouvia e continuava a mesma, sempre se importando mais com os outros do que com sua própria família.

Enquanto minhas lágrimas cessavam minha mente perdida na tranquilidade e no silêncio do lugar  voltou à realidade quando ouvi um barulho repentino. Virei rapidamente na direção da janela e soltei um grito de susto quando um vulto pulou sobre a janela e seus pés bateram no chão, agilmente.

— Calma! — pediu estendendo os braços na minha direção e movimentando as mãos no ar. — Sou eu. Apenas eu.

— Qual é o seu problema? — indaguei irritada e percebi um sorriso divertido se formando em seus lábios, mesmo que ele tentasse escondê-lo. — Caso você não saiba, usamos a porta da frente para entrar em casa. A janela tem outra finalidade.

— Eu usaria a porta da frente, mas sua mãe está em casa e como ela me expulsou da última vez suponho que não gostaria de me ver aqui novamente. — disse como desculpa para entrar no meu quarto pela janela e sem me avisar, causando-me um grande susto.

Seus olhos passeavam pela extensão do meu quarto, reparando em todos os detalhes. Desde as paredes repletas de porta-retratos até a escrivaninha desarrumada e cheia de papéis e livros da faculdade. Era a primeira vez que Niall visitava o meu quarto e ele parecia disposto a olhar para todos os cantos a fim de conhecê-lo a fundo.

Aproveitei que o rapaz estava de costas para mim e, deixei que meu olhar passasse pelo seu corpo. E assim, não pude deixar de reparar na sua aparência. Uma calça jeans preta, T-shirt branca e moletom cinza o vestiam de um forma simples, mas perfeita para contrastar com a cor de seus olhos. Seus cabelos estavam arrumados da mesma maneira de acostume, permitindo-me enxergar seu rosto com mais clareza, devido a claridade que irradiava na sua pele, quando ele virou de lado.

— Mesmo assim, você devia ter me avisado que vinha. Pelo menos, eu podia ter me preparado para essa entrada triunfal. — eu disse encarando suas costas.

— Wow! Parece que alguém não está tendo um bom dia.

— Não mesmo. — murmurei.

Ele se virou na minha direção e meus olhos se elevaram o suficiente para ver seu rosto de frente para mim com um leve sorriso estampado em seus lábios rosados. Ele parecia animado ou, simplesmente, ainda achava graça do susto que me provocou. Porém, quando seu olhar se desviou do meu e ele encarou a minha bochecha esquerda, sua expressão endureceu e uma ruga se formou entre as sobrancelhas.

Eu sabia onde seu olhar estava focado e mesmo que tenha tentado abaixar a cabeça para esconder o hematoma, Niall levou sua mão ao meu queixo e levantou meu rosto para ter uma visão melhor desse. Ele girou levemente minha cabeça e a marca avermelhada ficou totalmente evidente.

— Como conseguiu isso? — perguntou encarando o machucado.

— Eu briguei com a minha mãe. — demorei certo tempo para responder seu questionamento.

Se meus olhos podiam demonstrar minha vulnerabilidade eu não podia dizer, mas que Niall conseguiu captar minha tristeza através deles, eu tinha certeza. Pois, sem que fosse preciso permissão, ele me puxou para mais perto e seus braços me envolveram em um abraço acolhedor. Ele sabia que eu não estava em meu melhor estado.

Fechei os olhos para reprimi as lágrimas que senti se formarem em baixos desses e me concentrei no cheiro de Niall para libertar minha mente das cenas de minutos atrás. Minha cabeça encostada em seu peito permita um maior contato entre ambos, e tive liberdade para rodear seu tronco. O silêncio ainda predominava quando sua voz, finalmente, se fez audível.

— Quer me contar como isso aconteceu? — indagou baixinho, próximo ao meu ouvido, fazendo um arrepio percorrer meu corpo ao ouvir sua voz.

— Eu falei algumas coisas que não a agradaram e essa foi a sua resposta. — respondi. —Não é novidade nós discutirmos e o motivo é sempre o mesmo.

Seu silêncio demonstrava o quanto ele estava confuso com minhas palavras. Eu precisaria lhe esclarecer  tudo se quisesse que ele entendesse sobre o que estava falando.

— Minha mãe, muitas vezes, só se importa com a sua situação financeira e acaba esquecendo que tem uma família.

— Acredito que ela ainda se lembra das pessoas que ama. — disse.

— Eu não sei. Já estou acostumada a esse jeito dela, mas eu acabo pensado em James. Ele é tão pequeno para entender. — um nó se formou na minha garganta e eu senti meus olhos marejados novamente. Mas eu não queria chorar, não mais.

— Acha que ele sente falta dela? — questionou.

— Eu tenho certeza. — suspirei pesado tentando controlar as lágrimas que tentavam escapar dos meus olhos de qualquer maneira.

Niall pareceu sentir meu desconforto e nos afastou o necessário para fitar meus olhos. E então, percebi que olhar para os olhos de Niall era como se perder na imensidão de um oceano. Sem fim e profundo.

— Não fique assim. — pediu deixando uma carícia no meu braço. — Acredite, eu não gosto de lhe ver desse jeito.

— Desculpe. — minha voz quase inaudível se não fosse pelo silêncio que se estabeleceu no cômodo. — Eu não devia estar enchendo sua mente e tomando seu tempo com os meus problemas.

— Mary. — ele respirou fundo me soltando gentilmente. — Ficar com você não é tomar meu tempo. Eu que apareci aqui, não foi?

Senti o rubor subir pelas minhas bochechas, e sorri tímida, abaixando o rosto para Niall não perceber que eu estava corada. Porém, ao erguer a cabeça pude perceber que ele me fitava durante todo esse tempo, não sendo discreto nem ao ponto de desviar o olhar assim que eu lhe fitasse também.

— Eu queria dizer que entendo o que você está passando agora, mas eu não posso. Eu tinha uma boa relação com meus pais. — disse. — Mas se isso serve de consolo, depois de um tempo algumas coisas acabaram acontecendo e digamos que nossa relação nunca mais foi à mesma.

— Que coisas? — talvez fosse errado de a minha parte lhe fazer tantas perguntas pessoais, mas eu estava curiosa para saber um pouco mais sobre Niall. Porém, eu não esperava sua reação ao ouvir meu questionamento.

— Eu não gosto de tocar no assunto. — disse inquieto, passando os dedos entre o cabelo loiro. — É uma ferida que não cicatrizou. Mas, pelo menos, eu acabei aprendendo a viver com as consequências do passado.

A sua declaração não deixava de ser estranha, mas eu não tinha o direito de julgá-lo por querer esconder alguma coisa de mim. Afinal, ele tinha seus segredos e eu sabia disso. Assenti antes de ele se afastar e me dar as costa, caminhando pelo quarto.

Talvez eu nunca fosse entendê-lo, mas eu podia aceitar que ele precisava da sua privacidade. Eu já havia aceitado suas mentiras, por que não aceitar isso também? Provavelmente, era a parte mais fácil da história toda.

— Às vezes, procuro outros motivos para me deixarem feliz. — declarou passando os dedos pela borda do porta-retrato com uma foto minha. — A vida pode não ser fácil, mas sempre há alguma saída para os problemas.

— Eu não acho que haja uma para o meu problema. — confessei.

— Você pode pensar assim, mas não é a verdade. — ergui uma sobrancelha, confusa com as suas sábias palavras. — Todos podem mudar, Mary. Principalmente a sua mãe.

— Acho isso um pouco difícil de acontecer. — murmurei. — Ela é assim a anos, por que mudaria?

— Eu não sei. — ele deu de ombros.  — Mas acredito que ela possa.

Ele até podia ter razão, mas continuava achando que uma mudança não seria algo fácil de acontecer. Por outro lado, a discussão com minha mãe não parecia tão clara na minha mente como há alguns minutos atrás, eu parecia estar esquecendo aos poucos o que acontecera. Acreditava que a conversa com Niall ajudou muito.

— Mas, afinal, o que você veio fazer aqui? — perguntei querendo mudar de assunto.

— Eu só queria lhe ver. — confessou. — Achei que você poderia querer uma companhia e resolvi vir.

— Ou talvez algo só lhe dissesse que eu precisava que você viesse. — arrisquei supor.

— E você realmente precisava? — indagou voltando a me encarar, com um olhar curioso e ao mesmo tempo ansioso pela minha resposta.

— Parece que sim.



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