História Escape - Capítulo 12

Mary's POV

A primeira aula do dia seria de matemática e eu estava ansiosa para ir para a sala. Afinal, era uma das minhas matérias preferidas. Fechei a porta do armário, coloquei a mochila nas costas e comecei a andar em direção a sala. Não tinha visto nenhum dos meus amigos ainda e achei tal fato um pouco estranho.

— Mary! — parei de andar e olhei para trás, vendo Niall caminhar em minha direção. Ele segurava uma das alças da mochila para que essa não caísse de seus ombros.

— Só podia ser você. — sorri enquanto ele se aproximava.

O episódio de algumas semanas não voltou a se repetir e eu estava orgulhosa de Niall por ele estar realmente se esforçando para ficar longe de qualquer problema. A ausência de Brad ajudava para o loiro ficar mais calmo, mas por um lado eu achava o sumiço do meu ex-namorado muito suspeito. Ele devia estar armando algo. Mesmo assim achei melhor não pensar nisso para não encher minha cabeça com coisas desnecessárias.

— Isso era para ser ruim? — seus lábios se curvaram em um leve sorriso.

— É claro que não. — retribuiu o gesto. — Você viu os outros por aí? Eu cheguei há algum tempo, mas não encontrei nenhum deles.

— Não. Eles devem estar atrasados. — ele deu de ombros.

De certa forma, era estranho não ter um assunto para conversar com Niall logo de manhã. Costumávamos passar a maior parte do tempo juntos ou com nossos amigos, mas naquele momento não tínhamos nada para falar a respeito. Talvez nossas mensagens da madrugada tenham acabado com qualquer assunto que ambos podíamos discutir um com o outro. Teríamos que achar novas coisas das quais falar a partir daquele dia.

— Sabe, eu estava pensando que nós dois nunca saímos. — Niall disse, de repente, captando minha atenção.

— Do que você está falando? E quanto à ida ao boliche na semana passada? — minha expressão se tornou confusa.

— Eu quero dizer, nós nunca saímos sozinhos. Apenas eu e você.

— Oh... — eu não sabia o que dizer a respeito. Eu deveria ter uma resposta, afinal?

— Acho que isso deveria acontecer o mais breve possível. — disse Niall com naturalidade. — Se você quiser, é claro.

— Como um encontro? — a ideia me parecia boa, mas não esperava tal convite de Niall. Admito que não pensei que ele fosse me propor algo como isso.

— Pense como quiser. — ele deu de ombros. — O que acha de hoje a noite?

— Ah! Por mim tudo bem, mas...

— Ótimo. Eu lhe pego as 8:00 p.m. — disse sem me dar tempo para perguntar onde iríamos ou o que eu deveria vestir.

Mordi o lábio inferior assim que ele se afastou, ansiosa para o nosso passeio. Talvez o convite tenha me pegado de surpresa, mas Niall teve uma ótima ideia. Eu deveria lhe dar todos os créditos.

(...)

As aulas que tive não foram as melhores em comparação aos outros dias da semana. O tempo demorava à passar e quando o sinal da hora do intervalo soou todos se apressaram pra sair da sala, fartos de passarem tanto tempo em uma sala de aula. Louis me acompanhou até a cantina, contando piadas durante o caminho ou imitando o modo de andar das pessoas que passavam por nós.

— Pare, Louis, por favor. — pedi, não aguentando mais rir do jeito que ele imitava uma garota ruiva desajeitada que passava por nós no mesmo instante. Tinha que admitir que ele fazia igualzinho.

Logo avistamos Harry, Susan e Sophia ocupando uma das mesas da cantina. Juntamo-nos a eles e aos poucos os outros chegaram. Entretanto Niall e Liam não apareceram nem na cantina e desconfiei que algo de errado estava acontecendo. Mesmo assim, preferi ignorar tal fato pelo menos durante a refeição com meus amigos.

— Estou ansioso para o jogo de basquete. — Harry admitiu enquanto dava uma mordida do seu sanduíche.

— Eu também. — Susan concordou. — Não vejo a hora de chegarmos as quartas de final.

— Mas dessa vez sem violência, não é, Susan?! — Sophia repreendeu a loira. — Já basta você ter discutido com a Jeniffer no último jogo.

— A culpa não é minha se ela é tão ruim ao ponto de errar um passo como aquele. — ela protestou. — Não entendo como ela conseguiu entrar para o time.

— Mesmo assim, você não precisava ter brigado com ela daquele jeito.

— Sophia, querida. — Louis se manifestou. — Ela bem que mereceu.

A garota desistiu de tentar convencê-la do seu ato desnecessário e balançou a cabeça negativamente, vendo a loira e Louis trocarem um high five. Foi necessário voltar para a sala quando o intervalo acabou, e agradeci por dessa vez as horas parecerem passar mais rápido. Arrumei meu material e me dirigi para o estacionamento onde, provavelmente, meus amigos estariam. Em seguida, Susan apareceu juntamente com Niall e Liam, mas ela não ficou muito tempo, visto que seu pai já estava esperando-a na entrada da faculdade.

— Bom, meus amores, eu já vou indo. — disse se despedindo de todos. — Nos falamos mais tarde.

— Acho que sua mãe chegou, Sophia. — Liam informou analisando um carro que parou próximo a entrada.

— É verdade. — fui a última a receber um beijo na bochecha antes da garota caminhar para direção oposta. — Tchau, pessoal.

Tive uma curta conversa com os rapazes antes de Liam perceber que não tinha mais tempo para ficar conosco e precisava ir embora.

— Nós precisamos ir, não é, Niall? — O moreno indagou ao primo, já sabendo a resposta que receberia. Às vezes, eles pareciam se comunicar por algum tipo de código secreto. Aquilo era realmente intrigante.

— Sim. — ele assentiu se despedindo dos rapazes, assim como Liam. Um arrepio percorreu meu corpo quando Niall se aproximou de mim e levou a sua boca a poucos centímetros de distância da minha orelha. — Não se esqueça de estar pronta no horário.

— Não esquecerei. — eu sabia muito bem ao que ele se referia. O rapaz se afastou e tive a oportunidade de analisar seu rosto estampado com um leve sorriso.

— Nos vemos amanhã. — disse Liam, deixado que Niall fosse logo atrás dele.

Porém, antes de alcançá-lo o loiro olhou para trás e me lançou um sorriso tão discreto quanto o abrir de uma flor na manhã de verão. Eu sabia que ele olhava para mim pelo jeito que seus olhos se fixaram nos meus por poucos segundos antes de ele voltar a andar e sumir do meu campo de visão assim que entrou no carro.

— Hazza, será que você pode me dar uma carona? — minha atenção voltou para os dois garotos ao meu lado e ouvi o pedido de Louis. — Lottie fez o favor de bater o carro e eu não tenho como voltar para casa.

— Sem problemas.

— Eu também preciso ir. Minha mãe já deve estar saindo pra trabalhar e eu tenho que ficar com James. — falei.

— Tudo bem. — disse Harry. — Nos falamos depois, não é? — assenti e o rapaz tatuado me abraçou com carinho, deixando um beijo na minha testa.

Deixei o campus assim que me despedi de Louis e em poucos minutos já estava em casa. Ao adentrar a sala vi minha mãe descendo as escadas com James no colo.

— Mary, já estou indo. — informou me entregando o pequeno para que eu o pegasse de seus braços. — Qualquer coisa ligue para mim ou para seu pai.

— Garanto que não haverá nenhum problema. — minhas palavras recheadas de humor ao me dirigir a minha mãe.

— Assim espero. — disse ríspida.

Subi com James no colo e deixei minha mochila no quarto para que eu pudesse comer alguma coisa. Eu não tinha nenhum trabalho para fazer ou prova para qual estudar,  então, teria o dia livre. Passei o resto da tarde com meu irmão e ao entardecer decidi levá-lo ao parque. Ele se divertiu como sempre e no final não queria ir embora. Portanto, eu precisei ser mais paciente que o normal para convencê-lo a voltar. Ao chegarmos a casa a escuridão tomava conta do céu e meu pai já havia chegado do trabalho. Achei melhor não interrompe-lo, visto que ele parecia ocupado no seu escritório, e subi para dar banho em James.

Minha mãe chegou em casa depois de certo tempo que meu irmão já estava pronto e brincava em seu quarto. Deixei-o se divertindo e resolvi me arrumar quando percebi que estava perto do horário de Niall passar para me buscar. Comecei a procurar alguma roupa no closet, mas não estava achando nada adequado para a ocasião.

— Aonde você vai? — me assustei ao ponto de dar um leve sobressalto ao ouvir sua voz soar no cômodo silencioso. James estava parado junto a porta, segurando um ursinho de pelúcia enquanto me observava.

— Eu vou sair. — respondi mexendo entre os cabides a procura de um vestido.

— Com quem?

— Com o Niall. — finalmente achei algo que parecia apropriado e que não usava a algum tempo.

— O seu namolado? — perguntou.

— Ele não é meu namorado, James. — ri nasalado, não conseguindo evitar o humor que suas palavras me provocaram. — Ele é só meu amigo.

— E po que você vai sai com ele?

— Por que é isso que os amigos fazem. — estendi o vestido preto na cama para que não amassasse. — Eu preciso tomar banho, então vá para o seu quarto brincar. — o empurrei de leve até o corredor vendo-o tomar o caminho para o seu quarto.

Após ter tomado banho, troquei de roupa e coloquei alguns acessórios que achei que pudessem combinar com peça de roupa. Enquanto esperava Niall fiquei conversando com Susan por mensagem e na maior parte da conversa ela perguntava se eu estava nervosa. Não pude evitar rir da sua ansiedade quando era eu que devia estar assim.

De repente, o barulho da campainha sendo tocada soou pela casa e meus lábios se curvaram em um sorriso. Peguei minha bolsa de cima da cama e desci as escadas com cuidado, temendo tropeçar nos meus próprios pés. Ao chegar ao andar de baixo vi meu pai saindo do escritório para abrir a porta, mas impedi que ele desse qualquer outro passo.

— É para mim. — informei, lhe dando liberdade para voltar ao cômodo enquanto eu abria a porta da frente.

Quando o exterior foi revelado vi Niall com as mãos no bolso e com a lateral esquerda do seu corpo encosta ao batente da porta. Uma  camisa social azul escura com estampa e calça jeans preta lhe vestia, juntamente com uma bota da mesma cor da calça. Seus cabelos mais arrumados que o normal, cada fio em seu lugar formando um perfeito topete. Céus, eu tinha que admitir; ele estava lindo.

Seu olhar caiu sobre meu corpo, me analisando de cima abaixo e quando seus olhos encontraram os meus pude perceber o brilho que eles exibiam.

— Eu não sabia o que vestir. Você n...

— Você está linda, Mary. — senti o rubor nas minhas bochechas e precisei abaixar a cabeça para Niall não perceber o quão envergonhada eu havia ficado com o elogio.

— Obrigada. — sorri tímida. — Você também não está nada mal.

— Eu faço o que posso. — ele encolheu os ombros e ambos deixamos uma risada escapar. — Pronta para ir?

— Claro. — levei alguns minutos para fechar a porta e lhe trancar, logo guardando as chaves na pequena bolsa de mão.

Niall continuava a minha espera, usando o celular como forma de distração. Ao me ver se aproximar, guardou o aparelho no bolso e estendeu a mão para me ajudar a descer os pequenos degraus que nos levariam ao jardim e, em seguida, ao lado de fora da casa.

Não consegui evitar um sorriso que logo foi afastado quando umedeci meus lábios para disfarça-lo. Niall estava nervoso. Eu sabia disso porque sua mão estava suada e deixou um rastro úmido pela palma da minha quando ambas se tocaram.

Felizmente o rapaz não pareceu notar a minha observação e me guiou para o acostamento onde o carro estava estacionado. Niall abriu a porta do carona e assim que entrei ele voltou a fecha-la e deu o contorno no carro, ocupando o lugar do motorista logo em seguida. Tomei liberdade para ligar o rádio e comemorei internamente quando uma das minhas músicas preferidas começou a tocar. Porém, Niall não parecia gostar muito do que ouvia.

— Você não gostou da musica, não é? — eu observei diminuindo o volume.

— Não gosto muito, mas se você gosta eu não me importo de ouvi-la. — disse com os olhos fixos no trânsito e sorri com a sua gentileza.

Preferi não aumentar o volume, visto que ele tinha aceitado ouvir, mas não queria abusar da sua boa vontade. Pouco tempo depois, paramos em frente a um estabelecimento iluminado e deduzi que fosse o restaurante que Niall havia escolhido.

— Chegamos. — sorriu, desligando o carro e tirando o sinto de segurança. — Não saia.

Eu não entendi muito bem o seu pedido, mas preferi não discutir e fiz o que ele mandou. Minha porta foi aberta sem que eu esperasse e quando olhei para o lado Niall estava parado ao lado do veículo esperando que eu saísse. Sua mão se estendeu na minha direção, pedindo para que aceitasse a sua ajuda.

— Obrigada. — murmurei já do lado de fora, enquanto ele acionava o alarme do carro.

— Senhorita... — ele estendeu seu braço de uma forma divertida.

Ri com seu ato e usei uma das mãos para contornar e segurar seus bíceps. Niall não era tão forte quanto Harry, por exemplo, mas tinha seus músculos evidentes e eu estava gostando de senti-los naquele momento. Ele nos conduziu para a entrada do restaurante enquanto eu analisava o lugar.

A estrutura lembrava uma casa, assim como muitos locais em Holmes Chapel. Um jardim com bancos de madeira ocupava a entrada, rodeada com grades e luminárias no início. O nome Geoger & Dragon estava destacado em letras douradas dando um ar sofisticado para o estabelecimento. Eu era guiada para a pequena escada que nos levaria até a porta da frente. O material de madeira robusto foi aberto pelo garçom antes que Niall tocasse a maçaneta e recebemos um cumprimento do funcionário. Escolhemos uma mesa mais ao fundo enquanto nos acomodávamos e recebíamos o cardápio. Fizemos nossos pedidos e o garçom pediu licença após anotar tudo o que foi solicitado.

— Eu já vim aqui com meus pais. — comentei, analisando o interior. — Ótima escolha.

— Harry disse que você gostaria daqui. — disse.

— Você falou com Harry sobre nosso jantar? — perguntei surpresa. Eu não e esperava que Niall comentasse com meu amigo nosso encontro.

Ele assentiu enquanto o garçom se aproximava com as nossas bebidas e depositava em cima da mesa, servindo os copos com o conteúdo de vinho.

— Você conhece esse vinho? — indagou analisando o líquido escuro na taça fina.

— Nunca experimentei. — admiti. — Mas me parece bom.

Ele elevou a taça na altura do rosto me convidando para um brinde e logo depois desfrutando da bebida. Eu tinha razão. O vinho era um dos melhores que já havia tomado e Niall foi muito bom na sua escolha.

— O que achou? — perguntou após ter tomado certa quantidade.

— É delicioso. — disse depositando a taça sobre a mesa novamente. — Posso lhe perguntar uma coisa?

— Claro.

— Como fez para Liam não descobrir que sairíamos esta noite? Eu sei que ele não gostaria de saber que anda ocupando seu tempo comigo.

Ele parou de contornar a borda taça com o dedo indicador, assim como fazia antes, e teve sua atenção presa em meu rosto.

— Como sabe que ele não gostaria?

— Ele pode estar andando conosco, mas não significa que ele aceite isso da sua parte. — ambos sabíamos que isso era verdade. — Qualquer um percebe que ele não gosta da sua relação comigo.

— Liam é uma pessoa difícil de lidar. Ele pode ser um ótimo primo, mas é complicado aceitar tudo o que ele impõe.

— Ele é seu primo, não seu pai. — observei um pouco irritada com o jeito que ele tratava Niall muitas vezes.

— Ele se preocupa comigo, só isso. — disse por fim, dando um gole da bebida à sua frente. — E respondendo a sua pergunta: eu disse que sairia com uma garota. Só não disse que era com você.

Eu podia ser uma preocupação para Liam, afinal ficar tão amiga de Niall não parecia uma boa ideia para ele. Eu só não sabia se devia teme-lo por isso ou apenas ignorar o seu excesso de cuidado.

— Acha que ele tentaria lhe impedir caso soubesse? — questionei.

— Provavelmente, mas ele não conseguiria. — Niall deu um leve sorriso, tendo seus olhos presos nos meus antes de tomar um último gole de vinho.

— Devo me sentir honrada por isso? — indaguei divertida e Niall riu. — Afinal, você teve que arrumar uma desculpa para sair comigo.

— Eu realmente queria passar um tempo com você. Sabe, longe de todos. — ele não parecia tão nervoso como achei que ele estivesse, pelo contrário, Niall me parecia bem descontraído e suas palavras sempre tinham um grande efeito sobre mim.

Nossa comida chegou pouco tempo depois e tivemos a oportunidade de experimentar pratos novos. Eu podia já ter ido lá com meus pais, mas não conhecia a metade dos pratos que havia no cardápio.

— Como estão às coisas com a sua mãe? — perguntou enquanto levava certa quantidade de peixe e purê à sua boca.

— Pouca coisa mudou depois daquele dia. — admiti um pouco decepcionada. — Ela não parece ter pensado na nossa discussão e não mudou em relação a James e eu.

— Você sabe que essa mudança só pode partir dela. — assenti. — Mas eu estou aqui se quiser conversar. Sabe disso, não é? — indagou estendendo a sua mão até a minha e deixando uma leve carícia sobre a minha pele.

— Sim. — sorri tímida. — Afinal você é meu ouvinte.

— Claro. — ele riu com o novo apelido

Durante a refeição continuamos com  nossa conversa descontraída, como era de se esperar, e permiti-me esquecer dos meus problemas. A situação com minha mãe, as constantes brigas dos meus pais e até mesmo a implicância de Liam, pareciam não significar muito naquele momento. Eu tinha que admitir que nunca pensei que Niall poderia ser capaz de fazer eu me sentir tão descontraída.

— Você não vai comer mais nada? — Niall perguntou me tirando dos meus devaneios.

— Eu... Eu acho que não. — fiquei atrapalhada ao lhe responder. — Já
estou satisfeita.

O clima no ambiente não podia ser melhor, uma música de fundo tocava no local e mais pessoas já tinham chegado ou ido embora e nós continuávamos lá, conversando e rindo das histórias um do outro.  Aquilo me deixava relaxada e eu estava adorando estar ali. Porém, quando me dei conta já se passava das 10:30 p.m e mesmo assim eu não queria ir embora. Poderia passar a noite toda por ali.

— Temos que ir para aula amanhã. — reclamei dando um gole da minha bebida. Eu devia parar ou acabaria bêbada.

— Pensei que você gostasse da faculdade.

— Eu gosto, mas o fato de acordar cedo não me agrada muito. — Niall poderia pensar que eu era preguiçosa, mas apenas não gostava de ficar de pé tão cedo dia após dia.

— Acredite, é muito melhor aprender na faculdade ou escola do que aprender sozinho em casa. — ele observou.

— Como assim? — fechei o cenho não entendendo onde ele queria chegar.

— Eu já tive aulas particulares quando estava no ensino fundamental, tinha um professor e estudava em casa.

— E isso não era bom? — a ideia me parecia ser ótima. Eu gostaria de ter um professor apenas para mim.

— Eu não achava. — negou com a cabeça. — Era muito chato ter que ficar olhando para o professor e ele para mim, e, além disso, não tinha ninguém para conversar durante a aula. — ele torceu o nariz e ri com a sua expressão.

— Nunca tinha pensado nisso. — agora o que Niall dissera fazia sentindo. Pode, realmente, ter sido um saco para ele ter que estudar dessa maneira.

Após certo tempo, decidimos que o melhor a se fazer seria ir embora, afinal, eu não gostaria de estar cansada ao acordar no dia seguinte. Porém, tudo se tornou um problema na hora de pagar a conta. Niall não queria aceitar minha ajuda e preferia pagar tudo sozinho.

— Eu vou pagar também, Niall. — insisti determinada em ajudá-lo nas despesas.

— Claro que não. — ele continuava resistindo. — Eu pago.

— Não entendo por que não posso pagar.

— Do lugar de onde eu venho não é assim que funciona. Não seria gentil de a minha parte deixar você pagar a conta. — disse me fitando. — Eu lhe convidei, portando arco com as despesas.

— Tudo bem. — cedi por fim. Se ele queira tanto pagar eu não insistiria mais. — Mas da próxima vez nós dividimos.

— Como quiser. — sorriu me fazendo imitar seu gesto.

Ele se levantou da mesa e disse que iria ao balcão da recepção pegar a conta. Esperei até que ele voltasse e quando parecia que tudo estava acertado, ele voltou se oferecendo para me ajudar a se levantar. Agradecemos ao garçom pelos serviços e nos dirigimos à parte de fora do restaurante, onde o carro estava estacionado.

— Talvez você não devesse saber disso, mas eu não gostaria de ir embora. — eu disse sem jeito, vendo Niall caminhar ao meu lado com as mãos no bolso.

— Não temos que ir se você não quiser.

— O que quer dizer? — indaguei confusa.

— Se quiser posso lhe mostrar um lugar... Especial. — ele parou assim que nos aproximamos do carro. — Acho que você vai gostar.

— Eu adoraria. — fiquei animada com a ideia e sorri como resposta.

Entramos no veículo e Niall seguiu em alguma direção que, a propósito, eu não conhecia. Quanto mais o carro se desloca mais tensa eu ficava. Estávamos do outro lado da cidade ao qual eu nunca tinha ido. Eu estava tentando confiar em Niall, mas preferi me manter em alerta. Seguidos até nos aproximarmos de um lago e suspirei aliviada quando reconheci o lugar em que costumava pescar com meu pai quando era mais nova.

A nossa frente estava um cais com alguns barcos flutuando sobre água e me lembrei quando meu tio velejava com seu pequeno barco aos finais de semana ou feriados em família. Eu adorava quando ele me convidada para dar um passeio no meio da tarde.

O carro foi estacionado e descemos sem cerimônia. Niall caminhava na frente, pronto para abrir a pequena grade que nos separava da ponte, enquanto eu o seguia. Ele empurrou a estrutura metálica para que eu pudesse passar primeiro e agradeci com um breve aceno de cabeça. Niall me conduziu até o final da plataforma de madeira, passando pelas lanchas e barcos durante o caminho e nos sentamos no final da ponte. Nossos pés quase se encostando à água gelada e me provocando uma onda de frio.

— Então esse é o seu lugar especial? — questionei analisando o céu negro coberto com diversas estrelas. Aquela sem dúvida era uma das noites de outono mais bonita.

— Venho aqui quando preciso pensar. — disse desviando o olhar das estrelas para o meu rosto. — Me sinto relaxado de certa forma.

— É incrível. — sorri admirada. A visão que tínhamos do céu e do lago era fantástica. Niall tinha motivos para gostar tanto do lugar.

— Você é a primeira pessoa que eu trago aqui. — revelou me deixando surpresa.

— Sério? — ergui as sobrancelhas. Ele assentiu e deixei um sorriso bobo escapar.

O jeito como Niall observava o céu era encantador, um sorriso discreto surgiu em seus lábios quando sua atenção ficou presa em algumas estrelas maiores. Eu não tinha certeza se poderia ser isso, mas era o que mais chamava a atenção e, provavelmente, devia significar algo para ele.

— Está vendo aquelas estrelas? — aponto para cima. Assenti, com a atenção presa no ponto onde ele indicara. — Meu pai me ensinou sobre todas as constelações quando eu era menor.

— Isso é maravilhoso. — admiti e Niall abaixou o olhar para o meu rosto. E por mais que eu ainda olhasse para o céu sabia que ele me fitava. — Acho lindo o jeito como elas se alinham e preenchem o céu com o seu brilho.

Ele sorriu, provavelmente, satisfeito por eu pensar da mesma maneira que ele. Os instantes seguintes foram aproveitados com Niall me falando o que sabia sobre todas as constelações e como acabou gostando do assunto. Eu tinha que admitir que ele me surpreendeu ao explicar sobre algumas delas.

Enquanto falava sobre as Três Marias senti seus braços caírem nos meus ombros, me deixando surpresa com seu ato, mas ao mesmo tempo feliz por ele se sentir mais confortável para fazê-lo. Minha cabeça repousou sobre o seu ombro direito enquanto eu ouvia mais histórias. Aquilo era reconfortante e, de alguma maneira, eu gostava de estar tão perto de Niall.

— Acho melhor irmos embora. — ele disse baixinho, nos mantendo na mesma posição. — Já está tarde e eu não quero que seus pais fiquem preocupados.

— Você sabe que eles não ficariam. — foi preciso erguer minha cabeça para lhe fitar. — Mas e melhor nós irmos mesmo.

Ao encontrar meu olhar com o de Niall percebi que ele me observava a algum tempo. Seus olhos azuis, que mais pareciam safiras, presos nos meus. Seu rosto iluminado pela luz branca que a lua imitia deixava-o ainda mais encantador. Eu sabia que ele estava cada vez mais perto, como se fosse uma ação involuntária para ambos, e, por algum motivo, eu não queria recuar.

Nossa aproximação foi interrompida com o barulho do celular de Niall a soar pelo ambiente calmo e silencioso. Separamos-nos no momento em que ele foi obrigado a pegar o aparelho do bolso, se atrapalhando um pouco para acha-lo. Ele praguejou alguma coisa antes de deslizar o dedo pela tela.

— Desculpa, é uma mensagem do Liam. — disse frustrado, digitando alguma coisa na tela e fazendo a luz do visor iluminar seu rosto.

— Não precisa se desculpar. — pedi um pouco sem graça. De repente, Niall parecia tão estranho. Ele não parecia o mesmo de alguns minutos atrás.

— Agora realmente precisamos ir. — seu tom de voz aflito enquanto guardava o celular no mesmo lugar de antes. — Liam já sentiu minha falta e vai começar a desconfiar se eu não voltar logo.

— Tudo bem. — concordei, recebendo sua ajuda para me levantar.

Rapidamente entramos no veículo e em poucos minutos Niall estacionou na frente da minha casa. Ele não demorou a abrir a minha porta e me conduzir para fora do automóvel.

— Você vai ficar bem? — perguntou, me fazendo questionar por que tinha dúvidas sobre isso.

— Sim. — assenti. — Por que eu não ficaria?! — ele apenas deu de ombros e me guiou até a entrada da casa.

— Obrigado pela noite. — disse assim que paramos próximo ao portão. Seu tronco encostou-se ao material metálico enquanto tinha a sua atenção presa em mim. — Eu me diverti muito.

— Foi você quem teve a ideia de sairmos juntos. Não dê os créditos a mim. — sorri o vendo imitar meu ato.

— Só achei que seria legal fazermos algo diferente.

— Foi uma ótima ideia. — um sorriso sincero se espalhou pelos seus lábios, vendo um brilho tomar conta do seu olhar.

— Vem cá. — pediu, abrindo os braços e esperando que eu me aproximasse.

Sem muito tempo para pensar, meus braços rodearam seu tronco mantendo minha cabeça encostada em seu peito quente. Ele me acolheu  com seus braços maiores e mais fortes que os meus, me mantendo confortável com nosso simples gesto, mas que me causava um grande efeito. Niall tinha um dos melhores abraços. Afastei-me o suficiente para continuar a nos manter próximos um do outro.

— Boa noite, Niall. — sussurrei, logo, me aproximando do seu rosto e dando um beijo demorado na sua bochecha direita. O vi fechar os olhos como se quisesse aproveitar a sensação que meu beijo podia lhe causar.

— Boa noite. — disse quando me afastei e ele deu um sorriso de leve. — Nos falamos amanhã.

Concordei quando Niall abriu o portão para que eu pudesse passar e nos despedimos pela última vez. Já no jardim, olhei para ele e o vi entrar no carro e sumir do meu campo de visão logo em seguida. Eu não estava cansada, mas só queria ir para meu quarto e dormir o resto da noite.

Me esforcei para não fazer barulho ao abrir a porta e me deparando com a escuridão do interior, deixei meus sapatos no chão antes de subir as escadas. Porém, ao me virar dei um sobressalto ao ver meu pai parado no topo da escada, observando cada movimento meu. Ele ligou a luz do corredor superior para me enxergar melhor.

— Isso é hora de chegar em casa, Maryanne? — questionou irritado. Eu podia ver sua expressão séria a me encarar e respirei fundo antes de subir os degraus.

— Não está tão tarde. — tentei me defender.

— Por onde esteve?

— Eu estava com o Niall. — eu disse ao passar por ele e me dirigir até o quarto.

— Você usou camisinha, pelo menos? — questionou e eu sabia que ele estava prendendo o riso. Por um minuto eu realmente achei que ele estava bravo por eu chegar tarde.

— Por Deus, nós não fizemos nada disso, pai. — ele acompanhava cada passo meu e parou quando adentrei o meu quarto.

— Então qual o motivo de tanta demora?

— Acabamos nos distraindo e não percebi que já estava tarde. Só isso. — respondi me sentando na cama para tirar os acessórios que ainda usava. — Mais alguma pergunta? — indaguei irritada.

— Acho que você está bem. — disse por fim e concordei balançando minha cabeça positivamente. — Boa noite e tenha bons sonhos.

— O mesmo. — ele fechou a porta e finalmente me deixou sozinha, longe de mais perguntas paternas.

Acima de tudo, eu era obrigada a admitir que meu pai sempre foi mais compreensível do que minha mãe. Talvez fosse por isso que eu me dava melhor com ele. Troquei de roupa, colocando um short e uma T-shirt fina e em seguida me deitei na cama. Fechei os olhos na tentativa de dormir, mas acabei pensando em como tinha sido minha noite com Niall. Ele era ótimo rapaz e me sentia bem quando estávamos juntos. Daquele jeito ele nem parecia a pessoa que vinha mentindo sobre si mesmo nas últimas semanas.