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História Escarlate - Atrito Inicial


Escrita por: mrs_hoshino

Capítulo 1 - Atrito Inicial


Fanfic / Fanfiction Escarlate - Atrito Inicial

A lua pálida iluminava o caminho da garota, cujos cabelos esbranquiçados refletiam a luz prateada que passava por entre as árvores sob o céu negro. Ela olhou para trás, certificando-se de que o som de passos que ouvia não passava de sua imaginação já traumatizada.

Ela estava cansada, estava andando já fazia dois dias inteiros, e sequer conseguira descansar por cinco minutos sem que fosse interrompida por monstros ou andarilhos violentos. Olhou para as árvores que contornavam o terreno descampado, não era a melhor ideia de lugar para repousar, mas ao menos era um lugar. Ela se arrastou até a árvore, suas pernas já se entregando ao cansaço... Foi quando viu uma luz no alto de um monte próximo, deveria ser uma vila ou um acampamento. Forçou-se a caminhar mais um pouco, sentindo seus músculos queimarem ainda mais conforme subia o caminho de terra batida, já conseguia avistar uma construção no centro do local, parecia um ponto de observação ou de reunião...

A chama da fogueira tremeluzia fraca, ela perguntou a si mesma como tinha sido capaz de vê-la de tão longe...

— Tem alguém aí? — gritou, enquanto se aproximava timidamente da fogueira e alimentava a chama com um resto de lenha que estava ao lado.

A resposta não veio. Apenas o som do fogo quebrava o silêncio, dando um ar solitário ao que ela deduziu se tratar de um acampamento. Olhando em volta, era possível ver duas tendas, uma de cada lado da construção, que pareciam estar em muito bom estado para terem sido abandonados.

Enquanto pensava nisso, dois guerreiros faziam o mesmo caminho que ela fizera momentos antes.

— Já temos jantar para duas noites soldado, tivemos sorte... — o mais velho disse vitorioso, passando a mão pelos cabelos loiros.

O homem atrás dele carregava dois carneiros, um em cada ombro. Os cabelos negros caíam sobre os olhos enquanto bufava. Ele encarou seu mestre e ia dizer algo quando notou que a chama da fogueira deles estava mais alta do que quando saíram, o que o fez parar bruscamente. Próxima às chamas, tinha uma garota de cabeça baixa, parecia estar calma demais para uma intrusa.

— Senhor... — O moreno encarou o homem à sua frente, que também tinha parado. — O senhor recrutou mais alguém quando foi à cidade?

— Não, mas não seria de todo ruim... — O mais velho tinha um sorriso malicioso nos lábios, analisava a jovem à distância enquanto passava a mão em sua barba malfeita. — Poderíamos tirar algum proveito disso...

— Mas senhor...

Tarde demais, ele já se adiantara e chegara ao acampamento poucos segundos depois, atraindo a atenção da jovem, que saltou assustada com o barulho. Os dois homens olharam intrigados, e até encantandos, para a estranha de corpo magro e pele e cabelos claros. Não era comum encontrar guerreiras nos dias atuais, as mulheres costumavam ficar com a tarefa de primeiros socorros, mas mais incomum ainda era encontrá-las afastadas de seu clã. No entanto… ela não era uma guerreira, sequer era ‘humana’, se deram conta ao olharem pro topo de sua cabeça onde viram um par de orelhas felpudas tão claras quanto o cabelo onde se camuflavam.

A garota, por sua vez, analisou rapidamente os dois desconhecidos e donos do território onde ela estava. Podiam ser de grande ajuda como também podiam ser perigosos, afinal, por qual outro motivo estariam abandonados num acampamento isolado? Talvez tenha sido um erro… O guerreiro da esquerda era mais jovem e pouco mais baixo que o outro, tinha cabelos escuros na altura dos ombros e olhos tão escuros quanto. Sua postura era dura como seu olhar, talvez fosse do exército… Mas o que fazia tão longe? Melhor, o que fazia com uma armadura incompleta e amassada cobrindo seu corpo que, ao menos onde os olhos dela alcançavam, estava coberto de feridas e cicatrizes? Um soldado não se apresentava nesse estado nunca…

O outro homem, por sua vez, parecia ter muito mais classe e carisma, os cabelos loiros curtos e a barba malfeita talvez ainda fizessem muitas moças prestarem atenção quando passava…

Ela se deu conta de que estava encarando-os e eles, no seu direito, esperavam alguma explicação para ter uma estranha em seu território. Fez uma reverência desajeitada, preparado-se para fugir caso não tivessem gostado de encontrar uma intrusa em seu território e resolvessem atacá-la. Pan Gu estava em guerra, era normal pessoas morrerem por muito menos que isso...

— Perdoem-me, não quis invadir o território de vocês... E-eu só...

— Não precisa disso... — ele riu, estendendo-lhe a mão direita — Sou Nabucodo, ex-líder da resistência da Cidade das Feras e atualmente o responsável por este acampamento.

— Sou Luna, é um prazer conhecer o homem que defendeu nossa raça.

Ela apertou a mão que lhe tinha sido estendida, analisando o homem enquanto este continuava a falar sobre seu papel no inicio da guerra que abalava toda Pan Gu. O homem parecia ter uns 40 anos mais ou menos, apesar de tantos anos em combates ele não tinha assim tantas cicatrizes, o que a surpreendeu... Como um homem tão vivido podia estar praticamente ileso?

— ...mas você pode ficar se desejar. Somos só eu e meu soldado por aqui, ficará até mais segura.

— Eu não pretendo ficar muito, só estava descansando um pouco antes de continuar minha jornada... — Luna passou a mão pela bainha da espada em sua cintura instintivamente ao se lembrar do que vinha sendo sua "jornada"

— E quanto a se juntar a nós? Comida, abrigo, companhia e o prazer de servir a Pan Gu nesta guerra. — Nabucodo era bem persistente, sorria amigavelmente para Luna, que recuou assim que ele deu um passo em sua direção.

Ela analisou o lugar a sua volta mais uma vez e cruzou os braços na frente do corpo para pensar um pouco. Poderia descansar por um tempo e seria bom finalmente não ter de se preocupar em ser atacada a cada minuto... E se tentassem algo contra ela.... Bem, sua espada ainda era afiada o bastante pra dar conta.

— Tudo bem. — disse por fim, fitando Nabucodo com seus olhos azuis e sorrindo. — E então, o que posso fazer pra ajudar?

— Por hora só proteja o acampamento, ok? Fataliz é o responsável pelo jantar e já já deve começar a prepará-lo — falou a ultima sentença mais alta, em tom de ordem para o moreno, que apenas bufou e dirigiu-se a saída do acampamento para buscar a caça do dia que haviam deixado no caminho. — Após isso, redividiremos todas as tarefas... — Nabucodo sentou-se próximo à fogueira. Analisava, curiosamente, o corpo da garota ao seu lado. Não era comum ver uma feiticeira assim, "perdida" e usando armas para se defender, ainda mais naquela parte de Pan Gu.

— Fataliz? — Sentiu a força de cada sílaba daquele nome ao dizê-lo em voz alta, era um nome que remetia a força e poder, mas não necessariamente algo bom. Era como ‘Caos’...

Luna subiu até o topo da construção, sentando-se no peitoral do segundo andar e se dando conta de que ali era um ótimo ponto de observação: dava para enxergar até o rio que estava a uns bons 30 minutos de distância, talvez mais.

— Sim, o soldado que estava comigo... — Nabucodo se levantou, olhando para onde Luna estava, na inútil tentativa de conseguir uma boa vista do corpo dela, logo desistindo.

Ele foi para sua tenda e começou a tirar sua armadura, enquanto isso, Fataliz finalmente voltava ao acampamento com os carneiros a tira colo, levando-os para o primeiro andar da construção, onde eles costumavam guardar e preparar os mantimentos.

A feiticeira o observava de longe, aparentemente não tinha sido notada pelo moreno. Logo saltou, caindo bem na frente da entrada de onde ele estava.

— Fataliz, né... — Luna tentou puxar o assunto, encolhida junto à porta. — Pelo visto trabalharemos juntos por um tempo e...

— Escute, eu não gosto de estar aqui. Também não te conheço e não confio em você... — Ele se virou para ela, os olhos ainda mais enegrecidos pela iluminação ruim da sala — Pode seduzir aquele idiota se quiser, mas agradeceria se não fizesse o mesmo comigo.

Luna paralisou, sem conseguir encontrar uma resposta para aquilo. Os olhos negros de Fataliz atingiam seus olhos azuis com tal agressividade que quase doía... Ela se recompôs, forçando um sorriso. Não queria parecer indefesa, ainda mais para alguém que tinha acabado de agredi-la assim.

— Não se preocupe, não distrairei vocês mais tempo que o necessário. E quanto a seduzir alguém, saiba que só perco meu tempo com quem valhe a pena. — Ela piscou para ele, retirando-se e indo para a fogueira.

Assim que a garota saiu, Fataliz baixou a cabeça, soltando um suspiro pesaroso. Ele tinha sido duro, duro até demais, mas quanto menos se aproximassem dele melhor seria... Para ele e para os outros principalmente.

Recordou-se de seu antigo clã, uma memória que ele gostaria de esquecer...

Os corpos de seus companheiros mutilados, o chão tingido de sangue... E o sorriso de satisfação em seus lábios antes de voltar a si.

Ele rosnou e sacudiu a cabeça, tentando se concentrar nos pedaços que cortava do carneiro e separava dos ossos e da pele. Poucos minutos depois  estava feito. Ele carregou tudo até a fogueira numa bandeja de prata, evitando o olhar da feiticeira que o encarava do outro lado. Ela, por outro lado, mantinha seus olhos firmes sobre aquele desconhecido... Algo na energia dele atraía bastante o seu interesse.

— Até que enfim! — A voz de Nabucodo chamou a atenção de ambos, que olharam para ele. — Vamos nos servir logo!

 


Notas Finais


Espero que tenham gostado!
Não esqueça de deixar seu comentário com sua opinião sobre a aventura que acaba de começar ;)


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