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História Essência da Verdade - É tão irreal, o que eu sinto


Escrita por: Laisve e MorganaLFay

Capítulo 46 - É tão irreal, o que eu sinto


Fanfic / Fanfiction Essência da Verdade - É tão irreal, o que eu sinto

 

A festa se desfez bem rápido com a partida de todos em um espaço de tempo relativamente curto.

Aiolia aguardou o último táxi partir para só então observar as fotos que havia tirado nesta noite. Apesar de seu charme Lyfia declarou estar realmente cansada e necessitada urgente de repouso. Ele a compreendia, trocaram contatos e ela partiu com o restante de sua equipe. Era um grupo bem coeso e peculiar. O gigante que havia permanecido ao pé da escada do início ao fim da festa lhe endereçou um olhar agudo, não agressivo, mas passível de especulação e ele não ignorou. 

Assim que o motorista que havia chamado pelo celular estacionou, conferiu os dados do aplicativo com a placa e detalhes do veículo e embarcou no táxi agradecendo, rumo a sua casa. Estava completamente desperto. Seguiu observando as imagens e não tentou refrear que seu olhar se demorasse sobre a figura de um dos convidados quando este aparecia nas imagens. E ele aparecia em diversas das fotos tiradas por ele e das que outros haviam enviado. 

Suspirou apertando os lábios. Todas as pessoas em algum momento já pensaram sobre o que mudariam em suas vidas se a elas fosse permitido retornar no tempo. Ou a maioria das pessoas, pensava… Para o mais novo dos Íroas este tipo de raciocínio sempre o carregava para a mesma tarde de chuva; como a que começava a cair agora, leve e fria; no auge de seus 17 anos. Sabia que era muito jovem, naquela época, para saber que as consequências de suas atitudes poderiam reverberar pelo resto de sua vida. Não se culpava pela decisão e sim pelo que a havia motivado. Foi um covarde. E aparentemente teria que amargar essa perda eternamente. 

Condenado a assistir de camarote todos os caminhos e percalços e torcendo, sinceramente torcendo, pela felicidade da pessoa de quem sempre gostou. 

Às vezes buscava se consolar com a dúvida, não sabia também se teria funcionado, não sabia de nada. Era apenas isso… Um dia ele foi correspondido. Mas perdeu sua chance, atropelado pelos passos largos da vida. Essa entidade que não espera por ninguém, que não tem clemência ou piedade. A incansável e profunda experiência de viver, colhendo frutos e semeando tempestades… Mesmo quando o desejo é o tempo bom. 

O que não daria para poder voltar no tempo e mudar o que disse. Mudar seu olhar assustado, seu gesto culpado que foi compreendido como desprezo. Sua fuga intempestiva. Até hoje seu coração ameaçava estourar em seu peito toda vez que se permitia apenas sentir aquela presença, fingir por alguns segundos que tinha direito de desfrutar da companhia… Dele. Quantas vezes quis abrir seu coração e se refreou por não se considerar digno… Ou por não ter esse direito. Perdeu sua chance. Engoliu em seco. Correu o dedo pela tela desviou seu olhar e guardou o aparelho no bolso. Mudou de ideia no minuto seguinte e retirando o telefone novamente efetuou uma ligação.  

— Alô, Defteros, Aiolia aqui… Você e Dohko já despacharam o moleque? Saindo daí agora… Hnmm… — Ouviu  que era dito pelo primo sorrindo — Pois é. Acabei sozinho. — Segurou a risada ao ouvir a resposta de Defteros, com certeza Dohko liberava o bom lado dele, não era sempre que se encontrava tão animado ou bem humorado. — Sim, sei onde é, encontro com vocês lá. Até já! 

Desligou sério. Não podia voltar para casa ainda, aproveitar o fim da noite com os dois mais novos melhores amigos da família com certeza seria divertido, poderia beber tudo finalmente.

— Mudanças de planos, tudo bem para você me levar para a Rua do Coliseu?

— Sem problemas, Patrão — Respondeu o motorista sem conter seu riso malicioso e já dando seta para entrar no próximo retorno.

Aiolia agradeceu e respirou fundo, logo desembarcaria em uma das regiões mais boêmias e badaladas da Cidade. Dohko e Defteros realmente não brincavam em serviço. 

Um pouco de alívio e alegria, era o que precisava. 

 

 

***

 

 

Suspirou desgostoso ao olhar uma última vez para o celular e registrar que havia mais uma mensagem do maldito Italiano. Ângelo parecia estar excepcionalmente animado aquela noite e Shura não podia negar que a ideia de desviar mais uma vez seu destino e passar algum tempo contemplando o sorriso sacana, entorpecente, e desbravando aquele corpo que já conhecia bem, não lhe pareciam uma perspectiva ruim, muito pelo contrário. 

Acreditava inclusive, que Máscara se divertiria ao ouvi-lo contar sobre as dançarinas acrobáticas, o “chega pra lá” que Seiya levou de Afrodite, e acima de tudo o inédito interesse de Kardia pelo Diretor. Tinha quase certeza que nesse ponto Ângelo se mostraria muito interessado, afinal, não estava ele mesmo adentrando esse terreno. 

Podia até mesmo imaginar a face curiosa e atenta que ele faria, entre um beijo e outro, enquanto o ouvia falar e sussurrava em seu ouvido: “Você deveria falar com mais frequência Bello, gosto dos sons que saem da sua boca… De todos eles.” 

Reconheceu o arrepio que acometeu seu corpo e não pôde deixar de morder a parte interna da bochecha ao notar que havia recebido mais uma mensagem do Cabrón. Respirou fundo, havia decidido seu destino. 

Estava prestes a responder a mensagem, quando a tela do celular se iluminou e finalmente recebeu a resposta de Shaka. 

Acreditou piamente que o marido já estivesse dormindo, e sentiu uma onda de desprezo por si mesmo, somado a um embrulho no estômago ao perceber o que intencionava fazer. Parte de si creditou o mal estar a bebida, a outra parte, aquela mais sincera, deixou claro o quão repulsivo era o seu papel dentro daquela trama intrincada que havia se habituado a desempenhar. 

Recostou no banco do carro e respondeu Máscara da Morte com uma negativa, não podia desviar seu caminho, não aquela noite. Fechou os olhos assim que viu pelo aplicativo de mensagens que o Italiano digitava algo. Aguardou a resposta… Ela não veio. 

Provavelmente ele tinha desistido. Essa possibilidade o incomodou como nunca antes, afinal, não esperavam nada um do outro. Não era como se fossem um casal, ou se nutrissem algo além do puro desejo. Certo? Sua mente não soube responder. 

Colocou o aparelho no colo e estalou os dedos. Seria realmente melhor se ele desistisse… Se ambos desistissem… 

Ouviu a voz do motorista avisando que tinham chegado ao seu endereço, olhou pela janela do carro e agradeceu. Desceu, caminhando devagar, quase como se estivesse indo para o próprio julgamento. Ouviu o som do celular e ao olhar o aparelho leu a mensagem: Tudo bem, Bello. Sempre que quiser… E quando quiser.  

Inferno! 

Olhou pra trás vendo o carro se distanciar, uma vontade absurda de correr e gritar quase o dominou. 

Pelos deuses, ele queria, ele sempre queria! E se sabia disso, porque ainda estava ali? 

Parou na porta olhando por alguns segundos a maçaneta antes de colocar a chave, respirou fundo, estava em casa. Essa constatação não trouxe a sensação de alegria e calmaria que costumava trazer. Talvez, e só talvez, fosse verdade o que diziam sobre o lar ser o lugar onde o coração está. Por mais brega e piegas que a ideia fosse, não pôde deixar de imaginar como se sentiria se ao abrir aquela porta encontrasse aquele belo par de olhos terracota e o sorriso profano mais bonito que já contemplou. Balançou a cabeça em uma tentativa de espantar a ideia. Estava em casa no final das contas e alguém o aguardava. 

Assim que abriu a porta percebeu a claridade que emanava da sala e não pôde conter o suspiro cansado que saiu de seus lábios, sentia-se mais confortável em meio a escuridão. Fechou a porta atrás de si, massageou as têmporas antes de cumprimentar o esposo que estava sentado no sofá munido do que parecia um livro, vestindo apenas uma cueca boxer branca e a surrada camisa verde que já havia sido sua, os cabelos presos em um coque alto, displicente.

Sorriu desanimado, Shaka era sem dúvida alguma uma bela visão, quanto a isso não havia dúvida.

— Boa noite Rubio! — Shura cumprimentou deixando os sapatos próximo a porta. 

— Boa noite! — Shaka o olhou sobre os óculos de aro arredondado. — Como foi a despedida? 

— Tranquila. — Beijou os lábios do esposo. — As moças eram ótimas dançarinas e acrobatas. 

— Acrobatas? — Questionou sorrindo levemente. — Não pensei que o público hétero e bi fosse se interessar por acrobacias.  

— Nem eu… — Deu de ombros indo até a cozinha. — Achei que já estaria dormindo. Você costuma ser bem regular nos seus horários. 

— É… — Fechou o livro acompanhando os movimentos de Shura. — Fiquei sem sono e resolvi ler…

— Posso fazer um chá pra você. — Sugeriu bebendo um copo de água encostado na bancada da cozinha. 

— Já bebi algumas xícaras…

Shura olhou com atenção para o marido e notou um quê de ansiedade nele. Mais uma vez via o Rubio incomodado depois de sair com o famigerado amigo francês. Em momento algum Shaka havia dito que sairia com Camus, mas tinha certeza que era com ele o tal café que mencionou que iria tomar. Sem perceber crispou os lábios, não estava em condições de cobrar nada. Mesmo assim, não conseguia impedir a crescente onda de irritação que estava se formando.

— Saga parece estar namorando… — Comentou desviando o olhar de Shaka, focando no copo de água em suas mãos. — Um rapaz muito gentil, diga-se de passagem, Afrodite. 

— Jura? Não pensei que ele fosse do tipo que namora… 

— Nem eu. Parece que as pessoas mudam. — Voltou a encarar o esposo. — Como está Camus?

— Bem. — Respondeu depois de alguns segundos. — E Aiolos? 

— Animado, como sempre. — Deixou o copo vazio dentro da pia. — Perguntou por você. Inclusive ficou na dúvida se eu tinha te convidado.

— Explicou que não é muito meu tipo de evento?

— Nem precisei… — Sentou ao lado de Shaka. — Ele te conhece minimamente… — Olhou o livro que estava no colo do marido. — Aqui

— É um quadrinho que fala em certa medida sobre a passagem do tempo e como algumas coisas permanecem, se modificam, enfim… — Explicou esticando o livro na direção de Shura. 

— Parece interessante… — Fez menção de pegar o livro quando viu um cartão em cima da mesa de centro, passou os olhos brevemente lendo o conteúdo. — Presente do Camus?

Observou o esposo se mexer no sofá pegando o cartão e colocar dentro do livro. Estalou os dedos repetindo aquele que era seu mantra há pelo menos três meses: “Não estou em condições de cobrar nada.”

— Foi sim. Ele me deu esse livro pouco antes da mudança. Posso te emprestar se quiser ler, sempre deixo na estante.

— Agradeço. — Deu um riso nasalado. 

— Algum problema Shura?

— O que você acha?

— Não sei… Por isso estou perguntando. Quer me dizer algo?

Sim, tinha muita coisa que ele gostaria de falar naquele momento e a principal delas girava em torno daquela amizade que sempre lhe despertou indefectível desconforto.

Nunca compreendeu muito bem as intenções de Camus para com Shaka, mas era nítido que o esposo dedicava uma atenção especial ao amigo de longa data. No fundo, sabia muito bem que existia algo ali, e se condenava por não ter externalizado com mais ênfase sua insatisfação, mas agora era tarde. Já não se sentia íntegro suficiente para exigir o que quer que fosse e isso era reflexo direto da segunda coisa que precisava contar ao Rubio. 

— Bebi demais, só isso. 

— Custo a acreditar. Já te vi consumindo doses alarmantes de álcool…

— Algumas coisas não precisam ser ditas, Shaka. — Tentou levantar do sofá, sendo impedido.

— Como o que, por exemplo? — Colocou uma das mãos no ombro do marido. 

— Deixo isso para sua conclusão. 

— Certo… — Colocou o livro na mesa de centro. — Como seus olhares preocupados e conspiratórios para o seu celular, ou o cheiro de cigarro que às vezes sinto em suas roupas?  

— Não seria mal exemplificar com a atenção descabida que você dá para o seu amigo francês e a falta de tato dele para entender que você não é um homem solteiro. 

— Algumas coisas precisam ser ditas, Shura. Você não pode ficar calado o tempo todo. 

— Meu silêncio nunca te incomodou antes, ao menos até onde eu sabia.

— Assim como a minha amizade não parecia te incomodar. Ao menos não ao ponto de te deixar nervoso. — Olhou para as mãos de Shura que continuava estalando os dedos. — O que está acontecendo? 

— Diga-me você Rubio. — Levantou do sofá se desvencilhando da mão de Shaka que continuava em seu ombro, encaminhando-se para o quarto. — Você que parece averso ao silêncio. 

— Aversão alguma. — Seguiu Shura até o quarto. O semblante demonstrando toda a contrariedade com relação às atitudes do esposo. — Você sabe que eu aprecio e muito o seu jeito de ser. 

— Então, me explica porque você preferiu ir tomar café com o seu amigo ao invés de ir comigo a despedida? Ou porque assim que transamos você foca seu pensamento naquele francês? Sou um homem compreensivo Shaka, mas ter você falando de Camus logo após o sexo me faz pensar se por acaso não estava pensando nele durante todo o tempo. Me foge o entendimento de tamanha devoção.

Shaka empalideceu levemente, mas não desviou o olhar de Shura que abria os botões da camisa com clara irritação. 

— Você está imaginando coisas… — Falou em um fio de voz. 

— Estou? — O tom seco. 

Não, definitivamente ele não estava. Foi a última coisa que Shaka pensou antes de abraçar o marido, que após breves segundos correspondeu ao enlace com igual intensidade. Sabiam reconhecer o que estava escondido por trás do brilho afiado dos olhos de Shura e do inquisidor de Shaka, a culpa. 

Aquele sentimento que parecia transbordar em ambos, de tal modo que já não sabiam o que realmente os incomodava e o que era a tentativa de espelhar suas frustrações.

Não era à toa que estavam juntos há mais de um ano, entendiam-se de uma forma quase singular, excetuando suas peculiaridades, tinham uma personalidade semelhante e sabiam sim registrar a culpa, o receio, o medo, a mágoa e acima de tudo a necessidade de compreensão. 

Queriam e precisavam ser compreendidos dentro de suas questões, mesmo que não fossem verbalizadas.

Afastaram-se minimamente, encarando-se com intensidade.

— Vem… — Shaka chamou conduzindo Shura até a cama. — Vou te mostrar a real devoção... 

Continuavam a desejar outros olhares, mas não se furtavam de apreciar o que tinham a sua frente e até mesmo a culpa que conseguiram ler um no outro, servia como acalento para aquele momento em que ainda não tinham a coragem para colocar em prática aquilo que precisavam fazer. 

 

 

***

 

 

Esteve tranquilo durante tantos dias, imerso na aura calorosa que emanava de Milo. Perto dele sentia que apenas os melhores aspectos de sua essência se destacavam. 

Vinha se dedicando com afinco ao trabalho e a faculdade. Guardando todo dinheiro que conseguia, afinal o pai ainda que ausente sempre o ajudou financeiramente. Estava contente com sua vida, não estava? Mesmo Isaak parecia menos angustiado e por mais que nunca houvessem desentendido de verdade, nem as pequenas desavenças do dia a dia vinham acontecendo.

A vida seguia em um ritmo completamente inédito de bonança. 

Hyoga suspirou alcançando mais uma lata de cerveja. Perdeu as contas de quantas bebeu. Isaak havia enviado uma mensagem há algum tempo avisando que estava indo para a casa de Bian e Io. Ficava genuinamente feliz por ele ter tão bons amigos. Não podia, entretanto, deixar de refletir que ele mesmo, não possuía nenhum vínculo mais profundo com mais ninguém. Isto nunca havia sido motivo para qualquer preocupação. Agora, por motivos que não admitia abertamente isso emergia. 

Essa inesperada aparição de Pandora, como que invocada por algum passo equivocado de sua parte. Não que a detestasse, eles não tinham mais nada a ver um com o outro. E a impulsiva mensagem para Ikki. Cobriu os olhos com o braço lamentando mais uma vez. Não deveria ter feito isso…

Gostaria imensamente que Milo estivesse ali com ele. A ironia da imagem recebida há pouco foi tanta que o desestabilizou. Deveria rir, não é? Imaginava que faria sentido se divertir com o fato de que uma de suas ex namoradas da adolescência era agora uma dançarina extremamente sensual, e segundo a mensagem de Milo uma “garota encantadora!”. Ironias… Olhou mais uma vez a fotografia. 

Inferno eles chegavam a ser parecidos!

Nunca percebeu ter um “tipo” que lhe chamasse mais a atenção. Se bem que Eire também era loira e de cabelo cacheado… Ela no entanto, tingia os cabelos originalmente castanhos. Mesmo assim, isto não chegava a configurar um padrão… Ou não? Namorou duas morenas de cabelos lisos também. Quase riu ao lembrar desse detalhe. De qualquer forma, era quase perturbador analisar que Milo e Freya carregavam características física marcantes, poderiam até ser da mesma família.

Estremeceu. Sentia um constrangimento crescente.

Só podia ser uma coincidência bizarra, essas coisas aconteciam eventualmente. Era provável que existisse inclusive algum algoritmo para calcular a probabilidade de que pessoas completamente randômicas esbarram umas nas outras durante a louca jornada da vida. 

De qualquer forma se incomodou em um nível que nem julgava ser capaz. Não queria Milo ao lado de Freya, de ninguém… Sabia que estava sendo infantil, naquele momento não se importava. Estava exausto demais para ser maduro, ou sequer civilizado.

Freya estava ainda mais linda do que se lembrava e Hyoga não suportava a ideia de perder seu homem para uma ex namorada mais uma vez. Estava provavelmente bêbado. Mais uma mensagem de Milo: “Você já deve estar dormindo, já estou chegando em casa. Celular ficando sem bateria. Nos vemos amanhã? Boa noite” Leu sentindo o coração apertado. Respondeu: “Estou acordado ainda”. 

Fechou os olhos por um tempo indeterminado massageando suas têmporas. Tentava relaxar lembrando de doces momentos nos braços do Deus Grego com quem vinha se encontrando e sorriu ao sentir o aparelho vibrar novamente em sua mão, estava esparramado no sofá, as latinhas de alumínio se acumulando na mesinha à sua frente. 

Sentiu todo corpo tremendo quando leu a mensagem “Estou aqui” antes mesmo de reconhecer o remetente seu corpo ergueu-se por vontade própria e foi até a janela um nó na garganta e o coração acelerado. Como se houvesse voltado no tempo, atordoado reconheceu lá embaixo ninguém menos do que Ikki.

Teve que se apoiar para não cair. Podia sentir o olhar dele sobre si. Mesmo a distância mesmo com a pouca luz.

Todo álcool pareceu deixar seu organismo instantaneamente. 

Puxou a cortina devagar a fechando e caminhou até o interruptor apagando as luzes. Sentou-se no chão olhando para o aparelho em sua mão e após buscar o contato o colocou na orelha. Sentia que havia causado essa situação por ter agido de forma impulsiva, a vida sempre responde com coice seus deslizes, deveria já estar mais calejado nesse ponto.

Do outro lado pode ouvir a respiração do homem que poderia estar a seu alcance em poucos passos. Isto já foi tudo o que mais quis. 

— Você me odeia? — O moreno perguntou com a voz carregada de receio e pesar. 

— Não. — Hyoga imediatamente respondeu sentindo os olhos se enchendo de lágrimas. Estava sendo honesto — Mas… 

— Mas não me ama mais… — Ikki completou abatido — Eu já entendi Hyoga. Não vou insistir mais, está tudo acabado. Sabemos a quem culpar por isto, afinal… Por favor, me perdoe. Não vou mais te procurar, aparecer por aqui. 

— Ikki… Me desculpe também. Não se culpe mais, prometa, apenas… — Sua voz falhou e ele respirou profundamente antes de continuar — Se cuide por favor e procure um caminho para ser feliz. Eu sei que você é uma pessoa maravilhosa. Precisa deixar outras pessoas descobrirem isso também.

Depois destas palavras a linha permaneceu silenciosa por alguns momentos. Apenas a respiração baixa de ambos.  

— Hyoga, eu te amo. Adeus. 

 

Desligou sem dizer mais nada. Não havia nenhum motivo. Mais uma vez agiu por impulso. 

Saiu da casa de Camus e ao chegar na sua não conseguia parar de pensar em Hyoga. Então lá estava ele, depois de dirigir até ali no meio da madrugada e observar a luz acesa pela janela por longos minutos até ter coragem de enviar a derradeira mensagem.

Sabia qual seria o resultado. Será que precisava ter seu coração esmigalhado mais uma vez? No fundo soube… Precisava dizer que o amava. Nunca havia confiado em si mesmo o bastante para assim o fazer.

Deletou o contato do loiro de seu celular. Entrou no carro e iniciou seu caminho de volta para casa. Hyoga estava livre para voar, viver um amor acolhedor como ele merecia. 

E quanto a Ikki, secou a lágrima solitária que lhe cortou o rosto ornado por um sorriso triste.

Finalmente aceitou: A ele só restava renascer das cinzas

 

 

 

Continua... 


Notas Finais


A conturbada relação de Ikki e Hyoga, que se passa alguns meses antes de EdV, pode ser conferida aqui:

https://www.spiritfanfiction.com/historia/revelia-20210169


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