História Eu sei o que você é - Harry Potter e o Mistério De Qual É Esse Pokemon

– Vocês ficaram sozinhos e…? – Jeonghan perguntou gritando, quase como Demi Lovato em suas performances ao vivo.

– O que você quer dizer com esse "e"? – perguntei indignado e o sorriso de Jeonghan se desfez mais rápido que aquele casamento da Britney Spears. – Ele provou o quanto é vampiro, oras.

– Como assim, cara? – gritou e pegou um dos seus Matokis* em cima da cama, jogando na minha direção.

Agradeço ao padroeiro Kibum por Jeonghan ter uma mira pior do que o meu mapa astral e acabar acertando seu estojo próximo da janela.

– Você pirou, garoto? – eu disse afastando a cadeira com rodinhas. – O que diabos você queria que eu fizesse?

– Eu fico impressionado com sua capacidade de ser bv. – ele revirou os olhos. – Você ouviu isso, Joshua?

Joshua não estava nem aí pra nossa conversa, isso era um fato. Desconfio inclusive que ele só foi pra casa do Jeonghan naquela tarde pra ver quantos Pokémons existiam ali pra que ele pudesse capturar, mas mesmo assim ele balançou a cabeça, sem tirar os olhos da tela do celular.

– Claro. – murmurou completamente desinteressado. – Como você pôde, Kwan? – disse automático e eu revirei os olhos para aquilo, me voltando para Jeonghan.

– Você realmente está me dizendo isso depois de eu te contar que ele estava olhando para o livro como se fosse o menu de um restaurante caro? – perguntei, levantando uma sobrancelha.

– Boo, meu querido. – ele disse com a voz calma demais, como um daqueles bichos antes de dar o bote. – A única coisa que ele quer provar é você. – completou.

Eu estava em um conflito interno entre ficar envergonhado com aquilo e montar uma resposta à altura quando Joshua tirou os olhos do celular - pela primeira vez desde que cheguei, o que me leva a concluir que o quarto do Jeonghan tem Pokemon a beça.

– Hannie, – chamou naquela voz açucarada que quase me fez vomitar. – Já contou pra ele?

Opa, me interessei.

– Me contou o que?

– Shua, por que você foi falar isso? – perguntou com um aegyo nojento que definitivamente não combinava com ele e qualquer ser humano na terra conseguiria perceber o quão falso ele é.

– Me desculpa, babe. – menos Hong Jisoo, é claro.

Acho que vou vomitar.

Me levantei da cadeira pronto pra sair do quarto e quem sabe conseguir desinfetar os olhos quando passei ao lado da janela e o pensamento de me jogar dali pareceu uma tentação.

Meus olhos passaram rapidamente pela paisagem e então uma coisa aconteceu.

Algo que eu realmente não estava esperando.

Nem em um milhão de anos.

Chwe Hansol Cullen das Trevas estava ali no quintal vizinho. Mas isso ainda não foi o motivo pra que um gritinho abafado saísse da minha boca e eu acabasse com a minha bela bunda no chão com o susto.

– O que aconteceu? – Jeonghan perguntou me ajudando a levantar.

Tentei formular alguma frase mas só sílabas soltas saíam da minha boca enquanto eu apontava freneticamente para a janela, provavelmente parecendo Miley Cyrus sob efeito de maconha.

Jeonghan foi até a janela e eu pude ver quase que em câmera lenta quando seus olhos arregalaram me provando que eu não estava alucinando.

– Puta merda. – e sim, meus caros, essas são as únicas palavras para reagir a cena do lado de fora.

O garoto vampiro estava com uma mangueira nas mãos, trajando uma regata e os braços à mostra estavam fazendo a coisa mais natural que podiam estar fazendo com aquele sol.

Brilhando.

OS BRAÇOS DE CHWE HANSOL ESTAVAM BRILHANDO ENQUANTO ELE SEGURAVA UMA MANGUEIRA!

Ele ligou a torneira e começou a molhar os braços, fazendo com que Jeonghan fizesse uma expressão de interrogação que provavelmente estava espelhada na minha.

– Vampiros sentem calor? – indagou.

Eu estava pronto para perguntar qual o problema dele e essas curiosidades fora de hora - já que, pelo amor de Selena Gomez, Cullen Hansol estava no quintal vizinho BRILHANDO - quando ele me impediu com a frase que faria meu coração parar de bater por um instante.

– ELE TÁ TIRANDO A CAMISA SEUNGKWAN! – e senhoras e senhores, era uma vez Boo Seungkwan.

Jeonghan estava dando um daqueles típicos gritos/sussurros de fangirls que não querem que o professor descubra que elas estão vendo foto do ultimate quando eu o empurrei um pouco mais pro lado.

Ele estava ali, ao vivo e em brilho, no alcance dos meus olhos o resultado das mil e uma atividades extracurriculares que Hansol fazia.

– Joshuji, traz meu óculos escuros que estão em cima da mesinha. – Jeonghan pediu ainda naquele tom de fangirl que não quer chamar atenção.

Poucas coisas me deixavam sem palavras, como ser expectador daquele Cullen perdido tomando banho de mangueira à luz do sol. Eu me sentia no clipe de call me maybe versão crepúsculo ou vendo os diamantes do vestido da Beyoncé ao vivo.

Mas é claro que como a alegria da minha vida é de Bella em Lua Nova e não de Bella na segunda parte de Amanhecer, Jisoo não entendeu que a situação pedia discrição e soltou um "puta que pariu" em alto e bom som, assustando Jeonghan que estava apoiado na janela e com o pulo de gato que viu um pepino que ele deu, deixou cair o seu lightstick preciosíssimo do EXO com um barulho considerável de sua mesinha, fazendo o coração do meu amigo parar e ele esquecer da parte da discrição, soltando um grito de desespero.

E Hansol mesmo com aquela carinha de .jpg ouviu e acabou olhando pra cima.

E é por isso que meu preferido agora é o Seungcheol.

Eu queria poder dizer que meus reflexos foram rápidos o suficiente pra me esconder e fingir que não estava vendo aquilo, mas acho que algo dentro de mim deu algum tipo de curto circuito porque eu só consegui ficar olhando pro abs brilhante do garoto vampiro.

Isso até Jeonghan me puxar e fazer com que eu caísse de bunda no chão.

– Você é burro? – foi o que ele perguntou quando o olhei com minha melhor cara de indignação enquanto ele esticava o braço pra pôr o lightstick multicolorido em seu lugar.

Eu poderia muito bem responder que burro era ele por deixar Jisoo capturar os Pokemons na sua casa, mas deixei ele sem resposta pelo simples fato de que eu estava me perguntando o mesmo sobre mim quando percebi o que estava fazendo.

Que vacilo, Seungkwan.

– Ei. – eu disse quando percebi um fato importantíssimo que não estava fazendo sentido ali. – Por que diabos o vampiro está no quintal vizinho?

– Era isso que eu tinha que te falar. – revirou os olhos. – Seu crush é meu vizinho.

Espero que ninguém tenha escutado os gritos que dei após aquela frase pois provavelmente achariam que o próprio Robert Pattinson havia entrado no quarto e tinha uma fã louca ali dentro.

Mais tarde, após um surto de 20 minutos e depois de Jeonghan finalmente se convencer que sim, Hansol era um vampiro e ainda por cima se oferecer para me ajudar a provar isso pro resto do planeta terra estávamos sentados em um canto do quarto perto da tomada onde seu notebook vivia, já que infelizmente a vida não é um mar de rosas e a bateria do maldito duraria pouco longe da coleira. Enquanto isso, Jisoo estava sentado na cama renomeando os seus monstros capturados naquele dia.

– Então aqui, lista de coisas que provam que alguém é um vampiro: Brilhar, não comer alho, mãos frias, velocidade, mudar a cor dos olhos, ser muito bom em tudo, faltar aulas para caçar e ler pensamentos. – Jeonghan listou enquanto conferia em seu bloquinho de notas.

– Algumas ainda não consegui confirmar. – respondi marcando mentalmente um X na frente dos itens. – Acho que ainda falta coisa nessa lista.

– Isso foi tudo que consegui achar na internet e nesses livros. – choramingou apontando para a coleção de crepúsculo que eu tinha dado pra ele depois que ficaram meio velhinhos e comprei outros.

– Acho que tem uma seção de livros de vampiro na biblioteca da escola. – olhei para o horário no notebook do meu melhor amigo poligâmico. – Acho que ainda está aberta.

– Você é uma borboleta muito linda. – Jisoo disse olhando para a tela do celular. – Seu nome vai ser Baekhyun. – digitou.

Esquisitão.

Ouvi a porta abrir, me chamando atenção. Seungcheol entrou no quarto com sacolas nas mãos e um sorriso animado no rosto que logo se desfez ao dar uma boa olhada em Jeonghan super concentrado em seu notebook ao meu lado e nós dois sentados no chão com todos os livros de Crepúsculo abertos e Jisoo acariciando seu celular.

Olhou pra mim com um grande ponto de interrogação no rosto, mas a preguiça de explicar o que estava acontecendo me fez optar por dar de ombros.

– Quem é a borboletinha mais linda do papai? – Joshua começou a usar a voz de gatinhos e bebês fofos. – É você, é sim. – apontou para a tela.

– Eu nem vou perguntar nada. – disse chamando atenção dos outros dois que logo correram na direção dele como se não se vissem a 84 anos, fazendo com que eu aproveitasse o momento e catasse minhas coisas.

– Eu acho que está na minha hora. – comentei enquanto Jeonghan beijava ele pegando as sacolas sorrateiramente. – Tchau, aqui já tá cheio de gay e eu não gosto de gay. – disse quando estava passando pela porta.

– Ué, mas eu não sou gay, longe de mim. – Cheol rebateu rindo. – Meus namorados que são. Eu sou bi!

– Não esquece de me mandar o que achar. – Jeonghan disse quando eu já estava quase descendo as escadas.

– Tá! – gritei de volta e saí da casa do meu melhor amigo, mas não sem antes dar uma olhada no vizinho e constatar que não tinha ninguém ali.

Quando cheguei na biblioteca o sol começava a se pôr e eu tentava recuperar o ar da caminhada como se fosse um porco cansado. Eu definitivamente preciso de um motorista, ou quem sabe de exercícios. Se bem que treinar coreografia de girlgroup também é um exercício, certo?!

Sabe se lá Deus por que a biblioteca fica aberta até tão mais tarde, mas tratei de não me prender muito nessa pergunta quando senti o ar condicionado do lugar tocar minha pele. Me dirigi até o balcão onde Wonwoo das trevas lia um livro com a cara emburrada habitual.

– Wonnie. – o chamei e ele levantou os olhos da página com um olhar tão gótico que My Chemical Romance começou a tocar na minha mente. – Onde ficam os livros sobre vampiros?

– Hey, Seungkwan. – Alguém disse atrás de mim e a expressão de Wonwoo se tornou ainda mais sombria mesmo que eu não achasse que aquilo fosse possível. – Se quiser posso te levar até lá. – era o pseudo-lobo, que pela primeira vez não me recebeu ali com um sorriso que exibia seus 300 dentes ou estava agarrado em Wonwoo. Eu apenas assenti e ele me acompanhou.

– Problemas no submundo? – Wonwoo não parecia o tipo que viveria num paraíso, e a minha parte que ama os animais não se conteve, já Mingyu parecia um filhotinho que havia ficado de castigo por fazer xixi no tapete da sala.

Eu quase afaguei as orelhas deles só pra não o ver tristonho daquele jeito.

– Sim. – ele suspirou. – Quer dizer, eu acho, não sei porque ele está daquele jeito. – Coçou a nuca e apontou pra seção de fantasia da biblioteca. – Estava tudo bem até algumas horas atrás e de repente isso.

– Entendo. – assenti. – Compra um álbum da Evanescence pra ele ou avisa do boato de que My Chemical Romance está voltando, aposto que ele vai ficar animado e volta a falar com você. – sempre apele pros ídolos do seu crush, anotem.

– Obrigado, Seungkwan. – ele riu divertido. – Aqui estão os livros. – ele apontou para uma das estantes e eu segurei meu instinto de dizer "bom garoto" depois de agradecer quando ele se afastou com o sorriso de sempre no rosto.

Virei para a estante e quase tive vontade de chorar. Os livros estavam empoeirados demais, fala sério, ninguém mais lê nessa escola?

Isso resultou numa crise alérgica escandalosa, porque não conseguia ficar apenas com os espirros e ficava soltando falsetes involuntários. Como se isso não bastasse eu ainda derrubei uns títulos quando tentava alcançar um livro no alto da estante. Quando finalmente o toquei, alguém do outro corredor o puxou ao mesmo tempo. Eu já escolhia uma pérola do meu repertório rico de ofensas quando vi quem era.

O elfo das trevas de aparência fofa.

Jihoon.

Ele puxava o livro com uma expressão ameaçadora fazendo com que eu me perguntasse como aquele diabinho de um metro e meio conseguia alcançar aquilo tão bem enquanto eu estava penando na ponta dos pés.

O garoto estava prestes a abrir a boca provavelmente para lançar alguma praga em mim quando eu acabei, por algum motivo que talvez só Kibum, meu padroeiro, pudesse responder, escorregando no vento e meu destino em direção ao chão como a carreira de alguns estava certo.

Mas antes que meu belo rosto pudesse encontrar seu destino alguém que tenho certeza que não estava ali instantes antes envolveu os braços na minha cintura, me salvando exatamente como naquela música do BTS.

– Oi, Kwan. – Hansol disse, com um sorriso tão natural que não parecia que eu estava pendurado nele.

Minha primeira reação foi morrer ali mesmo e, vendo que meu corpo sem vida olhava estático pra ele, o Cullen me ajudou a ficar de pé.

– O que você tá fazendo aqui?! – perguntei como um desesperado antes de exibir o meu melhor sorriso. – Oi, Hansolie.

– Vim pegar umas HQs que vi aqui mais cedo. –  disse depois de rir. – E você? Pensei que ia ficar com aquele seu amigo de cabelo longo hoje. – deu um daqueles típicos sorrisos de "eu sei que você estava me vendo semi nu na frente da minha casa".

– Ahn... – sorri amarelo antes dos meus olhos caírem sobre uma das coleções atrás dele. – Eu resolvi seguir seu conselho e começar a ler. – passei por ele pegando um dos livros de Harry Potter e mostrando pra ele que novamente riu.

– Bom, acho que você não quer começar pelo último. – disse pegando o livro da minha mão, não sem antes seus dedos frios tocarem os meus.

Frios.

Dedos frios.

Gelados feito picolé.

Contive a high note que quis dar e estampei um sorriso que torcia para não parecer lá muito macabro enquanto ele pegava outro livro e me entregava.

– Aqui. – ele sorriu então cheguei a conclusão de que não estava parecendo um psicopata.

– Ah, eu esqueci de pesquisar a ordem. – expliquei e ele riu. – Espero não ficar tão perdido quanto acho que vou ficar com isso.

– Eu até explicaria agora mas falei pra minha mãe que voltaria logo. – sorriu.

– Ah, eu também. – menti e começamos a andar na direção do balcão.

– Aposto que você é da Grifinória. – ele comentou e eu o olhei com um ponto de interrogação na cara que ele provavelmente não percebeu já que continuou falando. – Eu sou da Lufa-Lufa.

Tudo bem, ou aquilo era o nome de algum tipo de Clã ou o nome dos ajudantes do Willy Wonka em A Fantástica Fábrica de Chocolate.

Ou talvez fosse o Clã dos ajudantes do Willy Wonka.

– Nossa! – fingi surpresa. – Que legal.

E ele começou a falar sobre o quanto a Lufa-Lufa era legal e eu não estava entendendo nada, então quase ajoelhei no chão e gritei um amém quando chegamos no balcão – onde Mingyu ainda estava com aquela expressão de cachorrinho triste – e Hansol entregou a carteirinha da biblioteca para Wonwoo que estava em seu altar das trevas habitual, anotando os números das revistinhas sem nem olhar na cara do vampiro direito.

Será que o Wonwoo é team Jacob? Bom, ainda bem que ele não é mais meu crush e não tenho que lidar com esse tipo de preferência porque é claro que o Edward é melhor.

– Pode me emprestar a caneta um minuto? – o vampiro pediu para o gótico me tirando do devaneio momentâneo.

Wonwoo murmurou qualquer coisa quando entregou a caneta e alguns segundos depois senti os dedos frios do Cullen segurando meu braço livre e anotando algo ali.

– Se tiver alguma dúvida é só me mandar uma mensagem. – sorriu antes de devolver a caneta para o dono e agradecer. – Agora eu tenho que ir. – comentou apontando para a saída.

– Até mais, Hansolie. – respondi e já estava pronto para pegar a carteirinha da biblioteca na mochila quando os lábios dele deixaram outro beijo em minha bochecha, mas agora com uma plateia.

– Até amanhã. – e foi embora.

Simples assim.

Começo a desconfiar que esses beijos são apenas para ter um pequeno gostinho de mim.

Virei na direção de Mingyu que me olhava sugestivamente.

– O que foi? – perguntei indignado.

– Nada. – ele desviou o olhar que não demorou para cair sobre Wonwoo e fazer a carinha fofa e triste novamente.

– Então tá. – murmurei para aquele filhote de lobo esquisito.

– Achei que quisesse os livros de vampiro. – Wonwoo falou, me lembrando do motivo de eu estar ali.

– Vou pegar. – foi a única coisa que eu falei antes de voltar à seção vampiresca onde pude ver Jihoon levando um banquinho para o lugar onde normalmente as pessoas liam e tudo fez mais sentido de repente.

Peguei alguns dos livros que achei mais importantes e já estava prestes a colocar Harry Potter de volta na prateleira quando vi no meu braço os números tão obscuros quanto a alma de Wonwoo.

Se for pra tirar dúvidas com o próprio vampiro não vai ser uma experiência tão ruim, certo?

Coloquei o livro junto com os outros e depois de verificar se nada mais me chamava a atenção, segui até o imperador gótico pra sair o mais rápido possível daquele lugar com cheiro de emo e cachorro que caiu da mudança.