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História Eu tentei - Fora de mim- Loucura ou desejo?


Escrita por: Eric_Elgae

Notas do Autor


Oie pessoas queridas.

Desculpem a demora. Foi o carnaval que atrasou nossa vida. Fui brincar por aê e acabou que nem lembrei que tinha que postar.

O capítulo de hoje está MUITO tenso.

Muito.

MUITO!

A cena de agora está pesada. Gore. Hard. Creepy.

Não sei, muitos podem achar que não tem nada demais e é exagero meu. Eu achei muito tensa, nem sequer revisei, portanto peço mil perdões se houver algo errado, me avisem que eu corrijo assim que der.

Então mais uma vez:

* * * * * * * * * * * * AVISOS* * * * * * * * * * * *

Capítulo com MUITO conteúdo pesado, palavrões, e morte.

* * * * * * * * * * * * CONSIDEREM-SE AVISADOS * * * * * * * * * * * *

Boa leitura, nos vemos lá embaixo.

Capítulo 18 - Fora de mim- Loucura ou desejo?


Fanfic / Fanfiction Eu tentei - Fora de mim- Loucura ou desejo?

Suspirei cansado, mas quanto antes eu me resolvesse com Shun, antes me veria livre daquela situação.

-Tá... Eu... Eu sempre fiz terapia com Saori, isso você sabe.

-Sei.

-Lembra daquela vez que fui internado... Que te falaram que sofri uma agressão?

-Um roubo? Acharam suas roupas não sei aonde...

-Não foi um roubo. Shun, acho melhor que se sente.

Saga pareceu preocupado. Ele me encarou.

-Tem certeza que está pronto pra isso?

-Eu... Shun merece saber a verdade.

Fechei os olhos, respirei fundo e de uma vez soltei tudo.

-Eu sou apaixonado pelo Seiya. Sempre fui. O fato de nunca acreditar que um dia poderia ter algo com ele me fazia buscar relações aleatórias com estranhos e me submeter a tudo que eles quisessem. Por causa disso, passei por inúmeras situações bizarras, encobertas por Saori a meu pedido. Quando fui agredido ela achou que eu estava indo além do que ela podia me oferecer de tratamento. Aí comecei a me tratar com Saga, que não tem muito tempo me receitou um remédio controlado. Me envolvi com uma mulher estranha e perigosa recentemente na tentativa de esquecer o Seiya. E sou bissexual. Acho que é tudo.

Quando abri os olhos, Shun estava boquiaberto, a expressão de choque no rosto, os olhos arregalados. Ele me encarou por um longo tempo sem dizer nada, apenas ficou ali, paralisado.

-Essa é a hora que você diz alguma coisa Shun.

Saga pousou a mão no meu braço e meneou a cabeça em negativa.

-Espere um pouco. Ele está chocado, é muito para processar assim, de uma vez.

Shun ficou parecendo um peixe, abrindo e fechando a boca várias vezes. Me encarava como se eu fosse um ET. Apesar do aviso de Saga, eu fiquei impaciente.

-Fala logo alguma coisa. Briga comigo, chora, mas reage. Odeio esse silêncio todo.

Shun fechou a boca, engoliu em seco e se levantou. Ele saiu do quarto me encarando, mas não disse uma palavra. Saga se levantou.

-Eu vou falar com ele. Irei pedir a uma enfermeira que venha olhar esse seu quadro de fotofobia. Tente descansar, em breve eu devo voltar, está bem? 

-Sim...

Mas eu não estava bem. Nem um pouco. Eu não sei dizer, eu não... Eu nunca imaginei que contaria aquilo para alguém além de Saga e Saori. Eu jamais pensei em me abrir para o Shun... E nos poucos segundos que tive para pensar, achei que ele...

Iria agir como sempre. Iria ser compreensivo, iria ficar com os olhos molhados e iria me abraçar e dizer que tudo ia ficar bem.

Demorou alguns minutos até que alguém aparecesse. Uma enfermeira simpática checou meus sinais, pressão, glicemia...

-Está sentindo alguma coisa, querido?

-Além da dor de cabeça por causa da luz?

-Isso. Qualquer coisa que estiver sentindo eu preciso saber.

-Eu... Estou com um pouco de dor na barriga. Mas acho que é nervosismo.

-Que tipo de dor? É tipo uma cólica ou é dor de barriga de ir ao banheiro?

-Tipo uma cólica. Mas ainda acho que é de nervosismo, eu... Meio que tive uma discussão com meu irmão.

-Entendo... Posso checar isso? Levará um segundo.

Ela levantou a túnica e massageou minha barriga devagar. Ao toque havia sim uma ligeira dor ao redor do umbigo.

-Estranho... Bem, vamos ter que cuidar disso.

-É algo sério?

-Não a princípio, mas não podemos descartar nenhuma possibilidade. Consegue abrir os olhos um pouco?

Ela acendeu uma lanterna no meu olho, fez algumas anotações e saiu. Logo menos eu a vi voltar com uma seringa.

-Vou tomar injeção?

-Não querido, administrarei isso direto no soro. É um remédio para dor abdominal e um analgésico simples. Você deve se sentir mais relaxado em dez ou quinze minutos.

-Então não vou tomar nenhum calmante ou coisa do tipo?

-Por enquanto não. Manterei as luzes apagadas, e voltarei aqui em uma hora para ver como você está. Se o seu médico permitir e você ainda estiver acordado, eu lhe dou algo para descansar.

-Ok...

Ela sorriu de forma meio automática e saiu.

Fechei os olhos e respirei fundo. Fiquei ali, pensando sobre toda a situação.

Seiya machucado. Shina quase morta. Shun descobrindo a verdade.

O que houve com a minha vida?

Por que eu estava passando por aquilo?

O risco de um processo...

Kanon que fingira ser aliado era um traidor. Pandora, que foi a melhor coisa que me aconteceu nesses dias era doente. Talvez até mais do que eu.

Pandora...

Eu não nego que me envolvi com ela de maneira mais profunda do que gostaria. Mas não é como se eu estivesse apaixonado. Não.

É que eu estava cansado de pensar em Seiya. De me imaginar com ele. De buscar em outros o que queria que ele me proporcionasse. E pensar no quanto aquilo estava impossível de acontecer além dos meus sonhos me dava vontade de morrer ultimamente.

Mas ao conhecer Pandora...

As coisas mudaram. Eu não sei como, mas ela me envolvia. Me envolvia de forma que com ela eu esquecia Seiya. Eu só me concentrava nela.

Eu me sentia homem de novo.

E ela me fazia pensar que poderia haver alguém além da Esmeralda. Foi a primeira mulher com quem eu passei mais de uma noite desde que Esmeralda havia morrido.

E foi bom. Sabe, não foi fantástico, apaixonante ou mirabolante. Mas foi bom.

Tanto que eu me entreguei com vontade ao sexo que tínhamos. Um sexo coreografado, onde cada uma sabia que movimento fazer. Um jogo de sedução onde os dois ganhavam. Eu sentia que ela se entregava como eu me entregava.

E era tão bom me sentir vivo com ela.

E foi relembrando de nossos momentos que eu acabei caindo no sono outra vez.

-- -- --- -- --

Quando acordei não abri os olhos. Havia vozes no quarto. Fiquei quieto e apurei os ouvidos. Falavam baixo, mas como julgavam que eu dormia, pude ouvir com clareza. Saga, Saori e Shun estavam discutindo algo.

-O médico da emergência está junto comigo nesse caso Shun, não se preocupe.

-Mas Saga... E se ele tiver alguma sequela? Eu não saberia lidar sabendo que fui culpado...

Saori interviu, a voz firme.

-Não aceito que se culpe por algo que nem aconteceu ainda Shun. Ikki é forte, isso se deve apenas por uma combinação infeliz de incidentes. Verá que logo menos tudo voltará ao normal.

-Mas Saori...

-Shun, deixemos que ele acorde e vejamos o quadro. Pode ser que tudo já tenha passado. Mas ainda assim eu vou solicitar uma tomografia. Esse exame será mais detalhado do que o último e então saberemos se aconteceu algo na cabeça dele. Mas pela minha experiência posso garantir que não.

-Mas essa dor na barriga... E a coisa de ter dor de cabeça com a luz...

-Quadros passageiros, reações aos medicamentos... Podem ser várias coisas ou pode não ser nada. Ele vai ficar mais dois dias aqui.

-Desse jeito ele vai sair junto com o Seiya e a Shina, ou até depois.

-Não é para tanto. Shun, já disse que não há necessidade de alarde. Seu irmão ficará bem.

O que quebrou meu coração foi a frase seguinte de Shun.

-Não sei se isso é verdade, Saga. Não depois de tudo que ele me contou... Céus...

-Shun...

-Se ele tivesse se aberto comigo? As coisas poderiam ser diferentes?

-Não podemos dizer como as coisas seriam. Quem sabe? Talvez ele houvesse procurado tratamento mais cedo, mas até aí... Você não é um deus que possa fazer milagres por ele, Shun. Se quer fazer algo, seja compreensivo como sempre foi.

-Eu sempre darei todo meu apoio ao Ikki. Mas isso não muda o fato que estou magoado.

Mexi as pernas e gemi baixo. Todos silenciaram e eu fingi acordar.

-O que...

Saori se aproximou, sorridente.

-Bom dia Ikki. Ou melhor, boa tarde. Como se sente?

-Eu... Acho que bem.

-A luz está incomodando?

-Não como ontem.

-E sua barriga?

-Por enquanto não dói. Que horas são?

-Já passa da hora do almoço.

-Eu dormi tanto assim?

-Dormiu... Mas achamos que foi por conta dos remédios, do estresse... Não há com o que se preocupar por enquanto.

-Quero ir embora. Hoje é o dia previsto para minha alta, certo?

-Não ainda. Depois que apareceram essas dores... Bem, Saga decidiu mantê-lo aqui ainda. Vai fazer exames mais complexos que são feitos em regime hospitalar. Então...

-Vou ficar aqui. Entendi.

Fechei a cara para Saori, que mirou Saga com uma expressão ansiosa.

-Não quer sair agora e depois voltar e correr o risco de ficar entubado ou em coma, quer?

-Só quero sair um pouco dessa cama, Saga.

-Mas isso eu posso ver. Shun, poderia acompanhar Ikki em uma volta ao redor do hospital?

-Claro que sim.

-Então o que acha de almoçar primeiro? Faça uma refeição. Depois eu e Shun te acompanhamos.

-Humph.

-Isso é um sim. Shun, pode pedir a refeição para Ikki?

-Sim Saori.

-Eu te acompanho, preciso pedir algumas coisas as enfermeiras...

Shun e Saga saíram do quarto. Saori se aproximou e pegou minha mão, afagando-a gentilmente.

-Vai ficar tudo bem. Só fique calmo, eu também estou aqui com você.

-Estou preocupado por ficar aqui. E por você perder tempo comigo, sendo que tem seus negócios para cuidar.

-Meus negócios mais importantes são o bem estar das pessoas que eu amo.

O jeito com que Saori falou aquilo despertou algo estranho em mim, e eu senti repentinamente uma estranha vontade de chorar. Mas consegui conter a emoção.

-Obrigado... Por falar nisso...

Ela sorria de maneira terna. Era minha amiga, não a minha psicóloga que estava ali.

-E Seiya e Shina?

-Seiya está bem. Acordou hoje pela manhã, reclamando de tudo como sempre e fazendo um drama enorme por estar engessado. Vai fazer manha com certeza, estou pensando em como irei cuidar de vocês.

-Você não precisa fazer isso, Saori. Somos adultos, sabemos nos virar. Você não é nossa mãe.

-Não sou mesmo. Mas sou responsável pelos moleques que me cercam, pois vocês agem como adolescentes rebeldinhos as vezes. Precisam de mim para controlá-los.

Tive que rir. Mas me lembrei de algo que me preocupou.

-E a Shina?

-Acordou também. A cirurgia realmente foi um sucesso, mas por causa da dor pedi que a mantivessem dormindo o máximo de tempo possível. Ela é forte e não reclamou de nada, mas eu a conheço o suficiente para saber que aquilo era teimosia. Não é algo que exija um coma, mas ela vai tomar alguns calmantes até que o inchaço passe definitivamente.

-Ela... Lembra...

Saori exibiu uma expressão sombria.

-Não. Ela estava muito bêbada, e os exames detectaram um nível anormal de álcool no sangue dela. Ela sequer se lembra das coisas antes de você chegar. Seiya já a visitou e... Bem, ninguém dos envolvidos se lembra de você por perto.

Pisquei algumas vezes. Saori parecia ler meus pensamentos.

-Por um lado isso é ótimo, pois não há provas que apontem que você fez nada. Porém...

-Eles sequer sabiam que eu estava ali. Tudo que houve foi uma grande...

-Confusão.

Fiquei quieto. Por um lado eu me sentia aliviado. Por outro...

-Antes que pense besteiras, deixe-me perguntar uma coisa.

-Sim...

-Gostaria de visitar Seiya?

Eu a encarei, realmente confuso.

-Eu... Não sei se seria uma boa ideia.

-Para todos os efeitos, você o encontrou primeiro... Cuidou dele durante a festa. Pode ser que ao vê-lo ele se lembre de algo. Seria bom também para te tranquilizar, sei que está preocupado com ele ainda apesar de te mantermos informados do bem estar dele...

-Eu... Posso mesmo?

-Ele irá gostar de vê-lo. Façamos assim: você almoça, vai vê-lo e depois sai com Shun. Eu preciso resolver algumas coisas na empresa, e não voltarei hoje, mas pedirei que liberem a visita. Se quiser visitar Shina depois também...

-Pode ser.

-Vai ver que tudo ficará bem. E Shaka e a polícia só irão falar com você quando Saga disser que você tem condições. Nada antes disso.

-Muito... Obrigado. Saori?

-Sim?

-Por que... Por que faz isso?

-Isso o que?

-Por que me defende? Mesmo sabendo que eu realmente bati na Shina?

-Por que sei que não era você em seu estado normal. Por que acredito na sua inocência. Por que conheço você e quero que você fique bem. E por que como sua amiga, minha obrigação é fazer de tudo que estiver ao meu alcance para cuidar de você.

Não havia o que retrucar. Apenas sorri sem graça.

-Obrigado.

-- -- --- -- --

Saga e Shun voltaram juntos. Saori os informou de seus planos e com a concordância unânime, ela se despediu, avisando que voltaria apenas na noite do dia seguinte. Saga ficaria cuidando de tudo. Enquanto comia eu observava ele e Shun. Não aguentei e decidi perguntar:

-Saga?

-Pois não?

-Você tem outros pacientes, não tem?

-Sim.

-E por que ficou aqui, me acompanhando? Não parece que você sequer tenha ido para casa.

-Eu te disse que cuidaria de você. E isso exige acompanhamento prioritário. Remanejei os casos mais brandos, e encaminhei os outros a alguns colegas. Além de atender um pedido direto de Saori, preciso manter um olho em meu irmão. Não estou com cabeça para mais nada além de você e essa... Situação com Kanon.

-Me... Desculpe por isso tudo.

-Não se desculpe por isso.

-Mas se vou ficar aqui... Você poderia ir para casa, já conhece a equipe do hospital e sabe como serão feitos os exames e tudo mais. Não precisa descansar um pouco? Seus olhos estão... Um tanto quanto vermelhos.

-Mesmo?

Shun concordou comigo.

-Bem... Se Shun ficar em sua companhia enquanto eu estiver ausente...

-Claro que fico.

-Mas Shun, e a academia? Você também não pode parar sua vida por minha causa.

-Digamos que June vai me ajudar com isso. Apesar de não ser a área dela, ela vai ficar por lá para nos dar uma força.

Sorri genuinamente feliz por ele.

-Isso é ótimo, mas é bom que você vá lá olhar as coisas, e você precisa descansar também. Pelo menos a noite eu quero que você vá para casa.

-Ikki, isso...

-Saga, não me sentirei bem se achar que estou atrapalhando vocês.

Ele trocou um olhar com Shun.

-Vamos ver como você se sai com Seiya. Dependendo da sua reação, eu digo se poderemos te deixar sozinho.

Terminei de comer e finalmente os encarei.

-Vamos então?

-- -- --- -- --

Não irei detalhar o que houve na visita a Seiya e Shina.

Não há necessidade. Mesmo. Nós nos vimos, eles perguntaram por que eu estava ali também, mas nenhum deles pareceu lembrar de nada. Brincamos sobre nossa má sorte e descontrole na bebida. Senti-me aliviado por vê-los bem, apesar de Shina parecer ligeiramente zangada comigo. Mas como ela estava com dor e não parecia mesmo lembrar de nada, achei que era o incomodo da cirurgia.

Por eu parecer tranquilo, Saga foi para casa. Ele se manteve o tempo todo com o olhar analítico que me irritava, mas ao avisar que iria trocar de roupa e descansar um pouco foi muito gentil.

Shun saiu comigo, demos uma volta ao redor do hospital e ele expos toda a raiva que sentiu de mim.

Mas a raiva dele era por que ele achava que eu não confiava nele. Ele achava que se eu tivesse sido mais... Acessível, tivesse exposto meus sentimentos, compartilhado o peso, eu não iria sofrer tanto.

Concordei com ele. Mais para deixá-lo calado. Jurei que as coisas seriam diferentes e ele pareceu sossegar finalmente.

A única coisa estranha que aconteceu naquele dia foi a presença de uma enfermeira.

A enfermeira que levou minha comida, trouxe a cadeira de rodas sem necessidade para que eu fosse ver Seiya e Shina, e nos acompanhou durante todo o tempo era estranha. Tinha cabelo Chanel loiro, e olhos verdes de um tom escuro. Usava calça branca e era... Bem...

Rechonchuda, meio desengonçada. Respirava pesado, como se estivesse cansada. Usava uma blusa de manga comprida. Não respondia nada com mais de uma palavra e dava a impressão que iria desmaiar a qualquer minuto. Ela nos acompanhou no passeio, e em determinado momento Shun decidiu parar e nos sentamos. Ela suspirou aliviada quando Shun disse que iríamos tomar um pouco de sol. Sentou-se num banco próximo e simplesmente pareceu entrar em coma.

Nesse meio tempo, Shun me questionou sobre meus sentimentos com Seiya. Não menti, contei brevemente sobre como me sentia e contei alguns casos que tive com homens por causa do desejo de achar algo dele nos outros. Shun ficou desconfortável ao ouvir sobre o cachorro e Jango, mas escutou tudo até o fim.

E a enfermeira roncava. Do nosso lado.

Shun achou que deveríamos voltar, pois estava quase anoitecendo. Mas eu sei que ele queria, aliás, precisava ficar um pouco sozinho para descansar e assimilar tudo aquilo. Com a gentileza que lhe era habitual, ele acordou a nossa acompanhante... Peculiar. E nós voltamos para o quarto.

Shun se despediu e foi embora. A enfermeira voltou com meu jantar e finalmente a ouvi falar.

-Vai passar a noite aqui mais um dia?

-Sim, ao que parece. Fiz exames básicos hoje a tarde, mas amanhã cedo farei uma tomografia...

-Há sim...

Ela me olhava com um misto de... Não sei, parecia raiva e desprezo.

Mas não havia nenhum motivo para isso.

-Então hoje não terá acompanhantes?

-Os dispensei. Precisam descansar.

-Entendo... Bem, a moça que o acompanha colocou seguranças na porta do seu quarto também. Não há motivos para imaginar que algo ruim vá te acontecer com toda essa vigilância, não?

-De fato. E devo agradecer a você e suas colegas. Estou sendo muito bem tratado.

-Não precisa agradecer. Apenas fazemos o que precisa ser feito.

Eu não me senti bem com o tom dela. Era estranho, mas familiar...

-Eu irei checar sua ficha. Boa refeição.

Ela saiu sem aguardar resposta. Eu comi tranquilo e pouco antes de acabar ela voltou.

-Já está acabando? Muito bom.

-Sim.

-Bem, por conta do exame você não poderá tomar nenhum remédio que possa alterar sua atividade cerebral. Mas preciso saber se sente alguma dor.

-Hoje senti dor de cabeça ainda, e apesar de não falar senti um pouco de dor na barriga.

Ela deu um sorriso quase de triunfo.

-Mas isso deveria ter sido relatado. Nesse caso vou te dar o remédio para dor abdominal em um soro pequeno. Isso não deve interferir no exame...

-Mas já passou, eu agora...

-Vai tomar o remédio para dor. Para ter uma noite... Hã... Tranquila.

Ela saiu levando a bandeja com o prato vazio e eu a vi sorrir. E eu estranhei. Mesmo.

Mas com certeza eu me sentiria mais calmo sabendo que havia algo para evitar uma possível dor correndo nas minhas veias. Eu estava certo de que nada iria aparecer de ruim nos exames do dia seguinte.

Portanto quando ela voltou e aplicou o soro e o remédio nele, eu a agradeci tranquilo.

-Não por isso, rapaz. Agora, tente descansar, sim?

-Pode deixar.

-Mais tarde eu passo aqui para verificar se tudo está bem.

-Obrigado.

-Não agradeça. Ainda. Fique bem, Ikki.

Aquela mulher me deu arrepios. E não dos bons, isso eu garanto. Havia uma aura estranha ao redor dela, não sei dizer.

Senti um alívio imenso quando ela saiu.

-- -- --- -- --

O que eu vou relatar agora pode ser meio estranho.

Digo estranho por que eu não estava lá muito consciente quando tudo aconteceu. Na verdade, eu não me lembro de quase nada, tudo passou como se fosse um filme na minha cabeça, mas um filme que eu tivesse visto há muitos anos.

A maior parte do que eu conto aqui, eu digo por que eu vi depois de ter acontecido.

Não só eu... Como quase todo o mundo.

Enfim, espero que consigam acompanhar meu raciocínio. Logo menos vocês vão entender o que eu quero dizer.

-- -- --- -- --

Depois que fiquei sozinho me peguei pensando sobre a conversa com Shun.

Eu não contara a ele exatamente tudo que estava sentindo. Não mesmo.

O relógio do quarto marcava nove e meia da noite. Eu via o soro pingar lentamente, a enfermeira estranha não colocou um pequeno. Pelo contrário, colocou um dos grandes.

Bom, de qualquer forma uma hora aquilo acabaria e eu ficaria livre. Enquanto isso, eu iria rememorando tudo.

Na verdade eu fingi muito naquele dia. Ver Seiya foi algo...

Me encheu de tristeza. Por uns minutos eu me senti entregue a uma espécie de desespero, uma certeza sem igual de que eu jamais teria uma chance com ele. Era quase como se eu visse outro eu me chamando de idiota se quisesse permanecer acreditando que haveria esperança.

Depois me senti mal ao ver o que havia feito com Shina. Ainda não conseguia acreditar que era eu quem a havia ferido.

Fiquei remoendo um pouco as coisas. Não lembro bem quando foi que adormeci, mas não demorou muito.

Acordei em um pesadelo.

-- -- --- -- --

-Acorde.

Ao olhar em volta estava tudo confuso. Parecia que uma câmera estava procurando o foco, tudo girava e eu ouvia um zumbido irritante.

-Se consegue me ouvir, responda.

-Sim, eu ouço...

Minha cabeça girou ao tentar virá-la para o lado e eu me senti tonto como nunca.

-Espere um pouco antes de se mover.

Eu não reconheci aquela voz, mas obedeci.

-Que... Horas...

-Hora de você responder algumas perguntas. E sem mentir. Está me entendendo?

-Eu... Sim...

-Muito bom. Feche os olhos.

Era involuntário. Eu simplesmente obedecia aos comandos daquela voz feminina. F não conseguia saber de quem era.

-Você está aqui por conta de um acidente, correto?

-Sim.

-Você se machucou ao cair de uma escada?

-Não.

-O que houve?

-Meu irmão... Me bateu... Por que eu estava batendo em uma mulher.

A dona da voz pareceu respirar profundamente.

-E por que você bateu em uma mulher?

-Eu não sei.

-Sabe...

Havia desprezo naquela voz? Eu não saberia dizer.

-Sabe sim. Diga as palavras verdadeiras...

-Eu...

-Você agrediu uma mulher por causa de outro homem, não é isso?

-Eu não sei. Me disseram que eu bati nela mas não disseram o motivo.

-E seu eu te dissesse o motivo?

-...

-Você bateu nela por que é gay.

-Não. Não sou gay.

A voz parecia nervosa, havia um tom de confusão.

-Como não?

-Eu saio com homens e mulheres. Sou bissexual.

-Há, isso pra mim não diz nada. No fim das contas, você gosta de outros homens.

-Não.

-PARE DE MENTIR SEU DESGRAÇADO!

Tentei abrir os olhos, mas eles pareciam colados.

-Diga a verdade. Você é gay e bateu nela por que tem inveja.

-Inveja?

-Inveja de ela ser bonita. Inveja da feminilidade. Inveja por que ela vai sempre atrair muito mais homens do que você. Sua bicha podre...

-Eu não sou bicha. Eu sou bissexual.

-É tudo a mesma merda. Você quase matou aquela moça por que ela estava dando em cima do seu homem, não é isso?

-Eu não tenho homem nenhum.

-JÁ MANDEI PARAR DE MENTIR SEU MALDITO!

Ouvi uma respiração funda e ofegante.

-Não acredito que consiga mentir no seu estado. Qual o seu nome?

-Ikki.

-Mora com quem?

-Sozinho.

-Com o que você trabalha?

-Sou formado em educação física e tenho uma academia.

-Você é solteiro?

-Sim.

-Esteve namorando ultimamente?

-Não.

-Seu desgraçado...

-O que?

-Você se envolveu com alguém recentemente?

-Sim.

-Homem ou mulher?

-...

-Responda.

-Mulher.

-E não está mais junto com ela?

-Não.

-Por quê?

-Por que ela pode me atrapalhar.

-Atrapalhar em que?

-Em... Em...

Minha boca estava meio dura.

-Diga logo.

-Em ficar com o rapaz que eu gosto.

Eu sei que vai soar estranho, mas eu senti como se alguém me batesse, me estapeasse. Mas era estranho, não... Não doía, entendem?

Eu não sei explicar.

-Você... É... Apenas... Outra dessas pragas...

A respiração ofegava. Havia algo quente correndo devagar pelo meu ombro e braço direito. Mas eu realmente não saberia dizer o que era.

-Muito bem. Vamos terminar o serviço que você não conseguiu terminar.

-O que?

-Levante-se. Devagar.

Obedeci, ainda de olhos fechados. Eu estava meio que fazendo tudo de forma automática.

-Abra os olhos sua anta.

Finalmente consegui abrir os olhos. Tudo estava indo e vindo do foco, como se você apagasse e acendesse a luz repetidas vezes. Quando consegui me estabilizar um pouco, dei de cara com a enfermeira loira.

-Melhor assim. Agora, você vai vir comigo...

Ela pegou o soro do suporte. Tinha uma prancheta encaixada debaixo do outro braço. Pegou o braço que tinha o soro com certa brutalidade.

-Agora ande ao meu lado, e todo mundo que se dirigir a você responda apenas que sente muita dor.

-Muita... Dor...

-Exato.

Começamos a caminhar, e era estranho que quando eu me apoiava nela, sentia uma maciez fora do comum. Ao abrir a porta d quarto, nos deparamos com dois seguranças. A enfermeira não titubeou.

-Vocês aí, podem ajudar?

-Pois não?

-O rapaz vai precisar fazer um exame de urgência, está se queixando de dor de cabeça severa. Preciso achar um médico para autorizar o exame de emergência e preciso que avisem no laboratório para deixarem tudo pronto. Vocês podem me ajudar?

-Senhora, nós estamos aqui...

-Para fazer a segurança dele, eu sei disso. Isso inclui ajudar em uma emergência, não?

-Mas os outros enfermeiros...

-Não repararam no horário? A essa hora estão passando pelos quartos checando os outros pacientes, só a recepcionista está lá na frente e eu preciso de ajuda agora. Olhem para esse rapaz...

Muito vagamente me lembro de encarar duas figuras gigantes.

-É... Senhor? Como se sente?

-Muita... Dor...

-Ele vai ter um colapso em breve se não quiserem ajudar. Eu me viro, mas vocês expliquem pra quem contratou vocês que a culpa dele morrer ou ir para o CTI foi dos dois por negarem socorro.

Eles se entreolharam, concordando com acenos de cabeça.

-O que temos que fazer?

-Primeiro de tudo, preciso de uma cadeira de rodas. Na recepção no térreo deve ter alguma livre, sempre tem. E algum médico que venha aqui, podem chamar por lá se não tiver nenhum disponível. E preciso que vão ao laboratório no último andar e peçam ao técnico que estiver por lá para preparar tudo para uma tomografia de emergência.

Um dos seguranças já havia saído para pegar a cadeira de rodas, o outro encarava a enfermeira, confuso.

-Desculpa, o técnico de que tem que fazer o que?

-Céus... Traga um técnico que estiver lá para cá o mais rápido possível. E vocês dois, se não estivermos por aqui quando voltarem eu devo ir com o rapaz ao subsolo para prepará-lo para os exames. Mas se forem rápidos, estaremos aqui ainda.

Ninguém a questionou. Quando eles entraram no elevador que ficava não muito longe do meu quarto, ela sorriu satisfeita.

-Idiotas. Se eu mando pegar uma cadeira para levar para fazer exames, como concordam que eu iria direto para outro lugar fazer qualquer coisa? Por isso não confio em qualquer um...

Com um puxão brusco, ela começou a caminhar comigo pelo corredor largo e branco. O teto do corredor era de cor creme, e as luzes fluorescentes davam um tom de solidão ao lugar. Eu lembro de me apoiar na parede enquanto prosseguia.

-Onde...

-Vamos visitar uma conhecida sua. Alguém que você precisa... Hum... Rever.

-Preciso... Rever...

-Sim, seu idiota. Mas agora, falando baixo, me conte...

-Conto...

-Qual o nome do rapaz por quem você está apaixonado?

-Se... Seiya...

-Seiya?

-É...

-E ele quer ficar com você? Ele também é doente?

-Seiya não é doente... Ele não...

Mesmo naquele estado estranho, eu ainda consegui demorar a aceitar a situação.

-Ele não me quer.

-Hum... Ele é normal, então? Digo, ele não é gay?

-Não...

-E ele... Tem namorada?

-Não... Não sei... Ele teve... Ele fez... Sexo com a Shina.

-Shina... A moça que você bateu?

-Eu não queria... Não lembro... Mas é ela sim...

A enfermeira parecia ansiosa.

-Certo... Você sabia que ele a visitou?

-Não...

-Visitou hoje. Eu os vi juntos, sabia?

-Viu o Seiya...?

-Sim seu idiota. Eu vi o Seiya com a Shina. Os dois estão juntos, sabia?

Parei por um segundo, confuso com tudo aquilo. Parecia haver uma escada na minha frente, de repente.

-Seiya está... Com a Shina?

-Eles são muito íntimos ao que parece. Formam um casal muito bonito.

-Casal...

-Ande, não mandei você parar. Estamos quase chegando.

-Chegando...

-Ao seu destino. Agora ouça bem, sabe por que o tal Seiya NUNCA...

E ela foi bem enfática nesse nunca, isso me pareceu claro naquele momento.

-... Nunca iria querer você?

-Não...

-Por que ele não é um viado doente. Ele sabe que o normal do mundo é um homem ficar com uma mulher. Ele jamais iria olhar para uma aberração como você com outro olhar que não fosse de desprezo... No máximo, piedade. Mas não pense no Seiya agora.

-Não?

-Não... Quero que pense na Shina.

-Na... Shina...

-Sim. Por que, veja bem... Ela fez com ele tudo que com certeza você já desejou fazer. Pense comigo Ikki... Bem, você não deve estar podendo fazer isso muito bem, mas me ouça.

-Te ouvir...

-Essa Shina... Beijou a boca que você deveria beijar. Tocou a pele que você desejou tocar. Foi tocada pelo tal Seiya como você imaginou ser tocado. Está me ouvindo?

-Te ouço...

-Você não poderá ficar com o tal Seiya... Mas pode provar o que restou dele nela.

Era tudo MUITO confuso.

-Co... Como?

-Ao invés de procurar uma atitude do seu amado em outros machos... Busque o que ele deixou naquela mulher. Eu estou aqui para te dar essa oportunidade.

 O silêncio que se seguiu foi estranho. Não me pergunte quanto tempo durou, mas logo eu me vi em frente a uma porta parecida com a do meu quarto.

-Chegamos. Vamos resolver seu futuro aqui Ikki.

-Meu... Futuro?

-Sim...

Naquele instante, eu não sei por que me lembrei da Pandora. Mas a porta do quarto se abriu e nós entramos.

-Diga boa noite a Shina, Ikki.

Com muito custo reparei que estávamos em um quarto. Ouvi um clique, como se alguém batesse algo.

Era a enfermeira trancando a porta.

-Ikki, me escute muito bem. Essa mulher pode ao mesmo tempo representar sua libertação... Ou sua condenação.

-Como é?

-Shina vai ficar com o seu homem se você não fizer algo.

A enfermeira me colocou próximo a cama onde Shina repousava. Ela deu a volta e ficou de frente pra mim, enquanto Shina dormia tranquilamente entre nós dois.

-O problema Ikki, é que ela está aí pronta para interferir entre você e seu amado. Se ela morresse... Talvez você tivesse uma chance com Seiya...

-Se a Shina... Morrer?

-Sim...

Shina estava deitada com um curativo ao redor do rosto. Usava a roupa de hospital, mas não estava acordada. Os aparelhos no quarto faziam um barulho irritante.

A observei por longos minutos. A enfermeira deu a volta na cama e sussurrou em meu ouvido.

-Olhe só para ela... Tão tranquila. Tão calma. Deve ser por que sabe que venceu...

-Venceu?

-A disputa pelo tal Seiya. Como foi mesmo que você disse hoje à tarde?

Ela parecia estar se divertindo enquanto falava.

-Ela estava cobrando ele por uma transa que ele devia, o que quer dizer que eles já haviam transado anteriormente...

-Não... Eu disse isso? Quando?

-Sim. Disse hoje para o seu irmão. E ela é muito bonita, não acha? Imagino o quanto deve ter se divertido com ele... Isso não te deixa com raiva?

-Raiva...

-Isso te dá muita raiva. Ela é uma maldita, não acha?

-Maldita...

-Ela fez com ele tudo que você jamais fará... Isso não te deixa bravo?

-Eu... Não... Sei...

Ela sussurrou de maneira mais perigosa ainda.

-Deixa sim. Te deixa muito irritado. Cheio de vontade de se vingar.

-Me vingar?

-Ela deveria pagar Ikki. O que acha que ela merece?

-Ela deve pagar... Sim... Pagar...

Lembro vagamente de ouvir alguns comandos da enfermeira. Mas quando digo vagamente é vagamente mesmo.

-Se eu fosse você, retirava ela do seu caminho.

-Do meu... Caminho...

-De um jeito que ela nunca mais te atrapalhe.

-Co... Como?

Acho que ela sorria.

-Acabe com ela. É tão fácil... Ponha as mãos em volta desse pescocinho... E aperte.

Senti-me zonzo.

-Vamos Ikki. Se aproxime... Coloque suas mãos em volta do pescoço dela, bem devagar... E aperte com força. Será rápido, eu garanto.

-Não... Eu não...

-Você não vai matá-la querido. Vai apenas tirá-la do caminho. Não quer ter uma chance com Seiya?

-Seiya... Meu Seiya...

A mulher riu, um riso estranho e conhecido.

-Seu Seiya... Isso, apenas force suas mãos ali e o Seiya será todinho seu. Simples.

O silêncio só era quebrado pelo barulho das máquinas do quarto. Sem conseguir me controlar, me coloquei ao lado da cama e observei Shina.

Minhas mãos tremiam até sentirem a pele dela na minha.

Era quente.

-Agora aperte. Ikki. Aperte com vontade. Com força. E rápido, como se sua vida dependesse disso.

Eu vi algo piscando, vermelho, mas ignorei.

-Olhe para ela e faça isso. Ela vai te agradecer também.

-Ela?

-Sim. Ela quer descansar, e deixar o Seiya só para você. Mas precisa de ajuda. Apenas com esse... Carinho forte você vai ajudá-la.

Ainda assim eu hesitei. Shina começou a se mexer, sua cabeça virou para o lado algumas vezes.

-Ande logo Ikki. Aperte. Com força, rápido.

Comecei a pressionar. Minhas mãos se cruzavam atrás do pescoço fino dela. Acho que a vi abrir os olhos verdes e me encarar com um misto de surpresa e medo.

-Ikki... O que...

-APERTE LOGO!

A pressão veio sem que eu conseguisse controlá-la. Shina segurava em meus braços, ainda senti que ela arranhou, mas era algo fraco.

Não demorou muito.

Ela me encarou até o instante em que parou de se debater e suas mãos se soltaram dos meus braços.

Foi mais ou menos quando senti que algo que oferecia resistência aos meus polegares recuou um pouco. Quase pude juntar as mãos com o pescoço dela entre elas.

Shina morreu estrangulada na minha frente pelas minhas próprias mãos.

Seus olhos ficaram abertos e me encaravam de forma estranha. Eu apenas encarava aqueles olhos verdes arregalados...

Eu não sabia o que pensar. Eu não conseguia pensar.

-Muito bem Ikki. Você a tirou do seu caminho.

-Eu...

A voz da enfermeira era tranquila. Ela tinha algo na mão, que colocou no parapeito da janela e continuou falando.

-Não se afaste. Não terminou ainda.

-Eu... Eu... A Shina...

-Você matou a Shina. Mas isso foi apenas o começo.

-Começo?

-Se eu fosse você a faria pagar.

-Pagar?

-Por ter ficado com seu homem, seu idiota. Nos próximos cinco minutos a atividade cerebral vai acabar de vez e os órgãos vão relaxar. Ela com certeza vai sujar a cama. Eu a faria pagar por ter se aproveitado do seu amor enquanto ela ainda estivesse quente.

-Pagar... Como...

A loira sorria de forma maquiavélica.

-Olhe bem para ela. Tire essa camisola para vê-la melhor.

Eu acho que estava um pouco trêmulo. Fui puxando a camisola de forma atrapalhada, e finalmente pude mirar Shina nua.

Ela era perfeita. A cintura fina dividia de forma graciosa seu tronco das pernas torneadas. As coxas alvas se juntavam de maneira perfeita com seu sexo, depilado com certeza há pouco tempo, exibindo uma lista da espessura de um dedo de pelos púbicos. As unhas dos pés ainda exibiam o esmalte verde metálico que ela adorava usar.

Os seios dela eram volumosos. Não sei por que achei engraçado o formato da auréola, pouca coisa maior que os mamilos que eram pequenos. O umbigo dela também era pequeno, quase parecia desenhado na barriga dela, fina e levemente marcada.

Shina era linda.

-Vê bem esse corpo perfeito? Pois bem, foi aí, nela, que o seu amado passeou... Nela que ele se embriagou de prazer. Tudo que você poderá provar um dia já esteve aí, bem diante dos seus olhos...

Eu não estava raciocinando nada naquele momento, e mesmo assim achei aquilo estranho.

-Ikki, você pode provar o que restou do gosto do Seiya... Se transar com ela.

-Transar com a Shina...

-Basta fodê-la. Ou melhor, fazer amor com ela, sentindo tudo que Seiya já sentiu... Mas precisa fazer isso depressa...

-Eu... Não... Quero...

-Há, você quer sim. Você quer foder essa putinha, pegar o restinho do gosto do corpo do cara que você ama. Por que você é uma bicha doente, Ikki. Uma bichinha podre e doente que faria de tudo pra ter um resto de qualquer coisa que possa ter sobrado do homem que você ama nela. Agora, repita comigo...

Eu não conseguia fazer nada além de obedecer.

-Eu...

-Eu...

-Ikki...

-Ikki...

-Matei essa mulher...

-Matei essa mulher...

-Por que ela ficou...

-Por que ela ficou...

-Entre mim e o homem que eu amo...

-Entre mim e o homem que eu amo...

-Muito bom. Agora você vai ganhar uma recompensa por ser um bom garoto.

-Recompensa...

-Isso. Tire a sua camisola.

Não senti nada ao obedecê-la. Apenas lembro vagamente de ver um monte de pano aos meus pés.

-Agora pense no seu amado. Imagine que vocês estão juntos em um momento íntimo.

-Seiya...

-Isso. Diga o nome dele várias vezes. Diga tudo que quer fazer com ele, sem medo. Fale devagar e pausadamente.

-Eu... Quero o Seiya...

-Claro que você quer... Agora, que tal se masturbar enquanto fala o que gostaria de fazer com ele?

Mecanicamente comecei a me tocar, sem realmente sentir nada. Parece que demorei um pouco para ficar excitado.

-Agora diga, Ikki... Gostaria de ser chupado pelo Seiya?

-Ser... Chupado...

-Isso. Seria bom, não seria?

-Seiya... Me chupando...

-Pois é... Mas quem chupou ele foi a Shina. Olha que sorte, você pode saber como ele se sentiu com o pau na boca dela.

-Posso?

-Pode... Ponha seu pau na boca dela, Ikki.

Um arrepio percorreu minha espinha, e disso eu me lembro. Ao olhar para a cama, vi que Shina estava na mesma posição, um braço caído para fora da cama e outro ao lado do corpo. A cabeça ainda olhava para cima, os olhos abertos sem brilho no olhar.

Nua. Algo pingava da lateral da cama.

-A Shina...

-Vá até a cama, puxe o corpo dela um pouco e foda a boca dela. Pense que o jeito que você fará isso, é como gostaria que o Seiya fizesse em você.

-Não... Não...

-Foda ela como gostaria de ser fodido seu viadinho de merda. Ande logo, não tenho a vida toda.

Debilmente, puxei com alguma dificuldade o corpo dela, de forma que as pernas ficaram caídas pra fora da frente da cama. Com alguma dificuldade virei a cabeça dela para a direita, de frente para mim.

Um cheiro fétido subiu ao meu nariz. Devo ter feito uma careta, pois a loira logo falou:

-A bexiga e os intestinos relaxaram a essa altura, ela está cagada e mijada... Mas quem vai se importar com isso, não? Abra a boca dela.

Minha mão tremia.

-Abra a boca dela, ainda está mole por enquanto.

Obedeci. De fato, não houve resistência. Um fio de saliva começou a escorrer.

-Abra mais. Deixe bem aberta.

Os dentes brancos faziam contraste com a cavidade escura. Os olhos não me encaravam diretamente, mas me davam arrepios assim mesmo.

-Agora foda essa boca. Foda como você foderia se fosse o Seiya na sua boca. O que você gostaria que ele fizesse?

Hesitante, com dificuldade, puxei a cabeça dela em direção ao meu membro. Era estranho, apesar de no momento parecer normal, era molhado e ainda quente, os dentes dela atrapalhavam, ficavam arranhando a todo instante.

-Ruim desse jeito, não é? Segure a parte de cima da boca, e puxe a língua para frente.

Descontrolado, fiz o que ela mandava.

-Agora é só foder... Mas diga, diga tudo que adoraria que Seiya fizesse com você.

E realmente eu só conseguia pensar em Seiya. Eu fechei os olhos e o vi ali, me chupando com gosto...

Depois eu estava chupando ele, e ele se contorcia de prazer...

-Bate com o pau no rosto dela... Com força.

E eu bati.

-Bom não é?

-Sim... Bom...

Eu dizia as coisas que era mandado dizer, mas sentir mesmo algum prazer não lembro de sentir. A loira ria, ria com vontade.

A maldita voz me soando sempre familiar.

-Agora, enquanto fode a boca dela bem rápido, enfie a mão nela.

-A mão...?

-Isso. Ponha sua mão dentro dela. Onde o pinto do seu amado entrou. Entrou e saiu diversas vezes... Pode-se dizer que foi ao paraíso. E agora você vai ir também...

-Paraíso...

-Isso. Vamos, enfie a mão nela. O mais fundo que puder.

Levei minha mão ao sexo de Shina. Meus dedos vagarosamente percorreram a linha de pelos púbicos que desembocava no topo de sua vagina.

-Tão perto... Agora se enfie aí, vamos logo.

Afastei um pouco as pernas dela de forma desengonçada.

Observei o sexo dela úmido e um pouco sujo com as fezes por conta do modo atrapalhado com que manejei o corpo anteriormente. Coloquei um dedo.

Dois.

Logo menos metade da minha mão se movia dentro da vagina dela.

Não havia muita resistência. O vai e vem logo acabou com a umidade natural que havia ali, e minha mão parecia arranhar a intimidade dela.

-Continue com mais força. Logo vai sangrar um pouco, e vai facilitar o seu... Acesso...

De fato. Um cheiro ferroso se misturou a urina e as fezes, e minha mão ficou vermelha, coberta por um sangue grosso e muito vermelho.

-Pronto. Ela está prontinha para você.

-Pronta...

-Para você. Agora, meta nela. Meta nela como se fosse a última foda da sua vida. Meta nela como se você estivesse metendo no seu grande amor.

-Meter nela como...

-Como se fosse no seu Seiya. Isso. Vamos, falta pouco.

Eu não conseguia enxergar muito bem. Saindo da boca dela e retirando a mão de seu sexo, me coloquei em frente a cama e afastei mais ainda suas pernas.

Tudo que lembro de enxergar mal e porcamente era sua intimidade coberta de sangue. E o buraco antes róseo com certeza, escuro, arroxeado e manchado de carmesim.

Meu pau se direcionou a massa de carne e sangue.

-Enfie com vontade. Com força. E chame o nome dele.

-Seiya...

-Isso. Vamos lá, vontade Ikki. Diga, quem você está fudendo?

-Se... Seiya...

A primeira estocada foi direta, sem nenhum tipo de resistência.

-Diga mais alto.

-Seiya...

-Agora meta como se fosse com ele. Forte, homem mete sem frescura. Força!

E eu fui e voltei, chamando por Seiya, me afundando naquela poça de sangue, na carne machucada, no corpo débil e amolecido daquela que um dia fora uma amiga, e agora tinha morrido pelas minhas mãos.

-Seiya... Seiya...

Não sei quanto tempo durou. Mas eu apertei com força. Xinguei. Bati e estapeei o corpo sem vida.

Até que o clímax chegasse.

-Muito bem. Agora você vai saber como é beijar o Seiya.

-Beijar... Seiya...

-Ela o beijou. No fundo dos lábios dela você vai encontrar o gosto dele. Mas precisa ter vontade. Você tem vontade Ikki?

-Eu tenho...

-Tem vontade de saber como é o gosto do Seiya?

-Tenho vontade...

-Então...

A voz da loira se aproximou do meu ouvido. Eu ainda estava penetrando Shina debilmente.

-Morda a boca dela. O lábio inferior. Morda até arrancar um pedaço. Aí você vai sentir...

-Eu vou sentir...

-Vai sentir o sabor dele. Do seu Seiya.

Eu me afastei um pouco. Observei aquela casca vazia, mutilada, desconjuntada.

Não era mais a Shina.

-Vamos. Estamos a um passo de acabar com tudo...

Me aproximei e segurei a cabeça dela entre as mãos. Pude sentir lágrimas correndo, mas por que elas corriam, eu não saberei dizer.

-Morda.

Lentamente me aproximei do rosto dela. Os olhos sem brilho fixavam o vazio acima de nós, como se passassem por mim me ignorando por completo. A boca frouxa estava aberta em uma expressão similar a de susto.

Com um dedo afastei a língua mole que parecia de um cachorro pendurada para fora. Encaixei o lábio inferior dela entre meus dentes. Estava me sentindo sufocado.

-Morda.

No primeiro momento nada aconteceu.

-Mais uma vez. Força.

Nessa segunda vez um pouco de sangue escorria entre meus dentes.

-Vamos. Força. Não quer sentir o gosto do seu amado?

Com essa frase, mordi uma vez mais e a carne cedeu.

Eu tinha um pedaço do lábio de Shina na boca.

-Agora mastigue.

Eu estava me afastando e lembro de bater as costas na parede. Caí sentado no chão, e o pedaço de lábio caiu entre as minhas pernas.  

-Não acabou ainda. Vamos, mastigue isso aí. O gosto do seu amado vai estar no final.

-Não...

-Masturbe-se e mastigue. Isso é uma ordem.

Não sei se realmente me masturbei, mas fiquei mexendo no meu membro enquanto mastigava sem vontade e sem força aquilo que um dia fora uma parte da boca da Shina. A loira ria com gosto, a luz vermelha piscava diante de mim.

-Olha bem pra ela. Guarde essa imagem na memória. Agora vou trazer seu amado...

-Seiya...

-Continue a mastigar. E esforce-se para gozar, ele adoraria te ver gozando. Não quer fazer ele feliz?

-Quero... Seiya...

-Então se masturbe. Quando a porta se abrir, faça de tudo para gozar, e lembre-se: não pare de mastigar...

Não lembro de muita coisa depois disso.A porta se abriu e parecia que a loira gritava ao longe. E continuei obedecendo e me masturbando...

Seiya...

Meu amor...

Ia ficar feliz ao me ver gozar...

Meu Seiya...

Quanto tempo aquilo durou, não sei te dizer. Mas de repente a porta foi aberta.

Uma luz forte inundou o quarto. Tudo ficou mais zonzo ainda.

Uma cabeleira castanha como a dele estava bem próxima.

-SEIYAAAAA...

Antes de perder a consciência, ainda ofereci o orgasmo que me tomou a ele. A minha semente se espalhou pela minha barriga, e a sensação toda distorcida que me assaltou foi embora em um escuro quieto, cheio de vozes que me chamavam ao longe e iam ficando cada vez mais caladas.

Mas que eu não conseguiria responder.


Notas Finais


Pois é...
Por que o Ikki chegou a esse ponto?
E essa enfermeira loira? Quem essa diaba é?
O que vai acontecer agora? Depois desse... Combo problema?
No próximo tem mais... O fim da paz do Ikki em definitivo.
E as explicações para toda essa situação, claro.

Tudo de ótimo para vocês que tem me acompanhado, comentado, favoritado, e lendo mesmo que sem se expressar diretamente. Um cheiro e até semana que vem ^^


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