Kim Taehyung.
— Eu só espero que você não esteja se esquecendo.
Suspirei, enquanto me distraía com a caneta entre os dedos, ouvindo a voz de minha mãe do outro lado da ligação.
— Não, não estou esquecendo. — Respondi sem o mínimo de ânimo.
— Eu sei que você é um homem ocupado agora, mas ele ainda é o seu pai, estando vivo ou morto.
— Eu sei…
Fiquei em silêncio.
Era tão repetitivo, como poderia simplesmente esquecer?
— Taehyung?
— Senhora?
A ouço suspirar.
— Filho, eu sei que é difícil para você, para nós também é e sempre vai ser, mas precisamos fazer isso, não custa visitá-lo, é somente uma vez no ano. — Disse.
Umedeci os lábios.
— Encontro vocês lá ao meio dia.
Me despedi e encerrei a chamada.
Liberei o ar dos pulmões, passando as mãos pelo rosto e tentando manter o resquício de entusiasmo que ainda me restava.
Eu mal pude dormir na noite passada, nem a anterior, e temo que nem nesta noite eu consiga passar em casa…
Um bater na porta soou.
— Entre…
A porta foi aberta.
— Com licença, como vai o meu cardio favorito?
Revirei os olhos, forçando o sorriso mais falso que eu conseguia.
— Oi.
— Nossa, que mal humor é esse? Vi você poucas vezes pela clínica hoje, não vai me dizer que só ficou aqui dentro? — Perguntou.
A vi se aproximar e apoiar as mãos na mesa, inclinando-se um pouco.
— Não fui muito necessário até agora, então achei que não teria problema passar o tempo livre aqui. — Dei de ombros.
— Oh, e fazendo o que exatamente? — Ergueu a sua sobrancelha direita.
— Você é muito curiosa, não acha?
— Só um pouquinho. — Piscou para mim. — Enfim, já que ainda está aqui, eu gostaria de saber se…
Levantei-me.
— Não, eu não vou cobri-la de novo! — Disse antes que ela terminasse de falar.
A morena formou um bico nos lábios, sendo tomada por uma expressão melancólica.
— Magoou… — Choramingou. — Aigoo, eu precisava mesmo desse dia livre…
— E eu preciso muito regular o meu sono, já estou praticamente a semana inteira dentro deste hospital, eu tenho uma vida também, Meg.
A mais velha assentiu, sorrindo simpática.
— É, tem razão, tenho que parar de abusar de você, desculpe. — Reverenciou-me.
Não queria soar grosso, mas o cansaço está deixando-me louco, preciso de ao menos uma noite inteira dormida, e organizar a minha vida fora desse ambiente.
Porém, ela não tem culpa, e não é como se não tivesse me cobrido várias vezes também.
Meg é uma grande amiga e parceira de trabalho que possuo aqui desde que retornei, ela já tem os seus trinta e quatro anos, mas se não me mostrasse a identidade eu jamais acreditaria que ela possui tal idade, é uma mulher muito bonita e posso afirmar que tem um certo charme, porém… mesmo que eu desejasse muito afundar o meu rosto naqueles seios enormes, preciso fazer de conta que não me importo, afinal, descobri faz pouco tempo que ela é homossexual, e detalhe, casada.
Suspirei, e dessa vez não sorri falso a ela, não tem culpa dos meus problemas.
— Meg, você sabe que eu não me importo, sempre que você precisar de mim, eu espero estar sempre disposto a ajudar, mas dessa vez, eu realmente preciso dessa folga, tudo bem? Nós podemos negociar depois.
— Não há problema, é que irei comemorar o meu aniversário de casamento com a Chee, somente queria poder chegar um pouco mais cedo, mas mesmo assim obrigada. — Me reverenciou mais uma vez.
Ergui as sobrancelhas.
— Sério? Que legal, meus parabéns. — Bati palmas de modo baixo. — Há quanto tempo estão juntas? — Perguntei, enquanto retirava o jaleco.
— Hummm… estamos completando dois anos agora! — Disse animada. — Planejamos uma noite só nossa, estou ansiosa!
Ri, pegando o meu celular e rumando acompanhado por ela até a porta.
— Ah… por acaso… vocês duas não teriam lugar para um convidado a mais? — Enunciei, sugestivo.
Recebi um leve soco em meu ombro.
— Pervertido! Nada disso! Seremos apenas nós duas, nada de homens. — Exclamou. — Mesmo que você seja bonitinho.
— Que pena, eu não me importaria em ficar apenas observando, juro que sou um bom espectador, seria como se eu nem estivesse lá. — Continuei.
— Kim Taehyung!
Gargalhei.
— É brincadeira!
— Acho bom. — Cruzou os braços. — Aliás, por que não procura alguém para você também? Faz tempo que não lhe vejo acompanhado, por acaso não está se descobrindo gay, está?
Arregalei os olhos, fechando a porta atrás de mim.
— Não. — Respondi. — Na verdade estou meio que sem tempo para isso, por esse motivo não posso cobri-la dessa vez, preciso comemorar o meu aniversário de tesão acumulado. Até logo! — Acenei, afastando-me.
Ela riu, acenando de volta.
Pus os meus pés para fora do hospital, arfando, finalmente, livre desse lugar por pelo menos duas noites.
[...]
12:56.
Era sempre a mesma coisa, vínhamos aqui, prestávamos nossas orações, minha mãe discretamente chorava, deixavámos flores, conversávamos um pouco ali e depois íamos embora.
Sinceramente, eu queria não precisar mais vir neste cemitério, é desconfortável, mesmo que eu tenha de aceitar que ele se foi, ainda dói bastante quando paro para ficar pensando, é por esse motivo que eu evito o quanto posso e ocupo a minha mente ao máximo. Acho que nunca vamos superar a falta que ele faz, e como as nossas vidas mudaram depois daquela notícia.
— Você já vai? Por que não vem fica um pouco conosco em casa? — Eunjin segura em meu braço.
Viro-me para ela, acariciando o seu cabelo e beijando o topo de sua cabeça.
— Eu queria muito, mas…
— Deixe-o, Eunjin, já é o suficiente ele ter vindo. — Disse a minha mãe, parecia um pouco chateada.
Não estava sendo ingrato, ou rejeitando passar um tempo com elas, é só que… é aniversário do meu pai, e eu não quero ficar naquela casa, tudo naquele ambiente me faz lembrar dele, e elas não iriam ajudar, afinal, com certeza ficariam falando e recordando dele, e não é isso que eu quero, já chega de ficar me lamentando!
Eunjin assentiu, soltando-me.
— Sinto a sua falta, Taehyung, me sinto sozinha, você costumava passar mais tempo conosco, sei que o seu trabalho é complicado, mas você ainda tem uma família… — Declamou a mais nova, olhando-me com uma expressão de choro.
Meu Deus, o que está acontecendo comigo? Me sinto tão… bagunçado, juro que quero consertar a situação, só ainda não sei por onde começar.
— Eu sei, prometo compensar vocês duas depois, pode ser? Cuide da nossa mãe, sabe como ela fica depois que visita o nosso pai.
— Deveria cuidar dela comigo, mas entendo o seu lado. Então por favor, nos visite logo!
Assenti.
Eu não morava mais na casa dos meus pais, assim como o meu irmão mais velho, me mudei, tive de fazer isso, por motivos de trabalho, e da minha vida pessoal também, precisava do meu próprio espaço e minhas próprias responsabilidades.
É libertador, mas às vezes perturbador, sou a única pessoa que me cobra ali, e quem diria, eu me forçando a limpar a casa e fazer a minha própria comida…
Me despedi delas, nosso outro irmão infelizmente não pôde vir, está em uma viagem à trabalho, mas tenho certeza que não se esqueceu e está fazendo a parte dele como filho também, aliás, não é como se esse túmulo fosse se mover daqui, ele pode vir quando quiser e prestar as suas orações.
Adentrei em meu carro, dando o fora dali, mas aquela energia pesada parecia ter impregnado em cada canto do meu corpo.
[...]
22:45.
Como eu deveria estar, dormindo, agarrado ao meu travesseiro, repousando o meu corpo e recuperando toda a energia que havia gasto. Mas como realmente estou?
Fazendo o típico de uma sexta à noite, sentado em uma mesa de pub, ingerindo do quarto whisky.
Estou sendo incompetente comigo mesmo, eu sei, mas por algum motivo, até mesmo ficar sozinho na minha própria casa estava me deixando pior do que já me sinto, e bom… não tive muitas alternativas, não quero incomodar ninguém, ao menos o movimento aqui é interessante, além de típico.
Levei o copo aos lábios, ingerindo aquele líquido que desceu quente pela minha garganta, fazendo-me fechar os olhos por um instante.
— Oi, gatinho… está sozinho?
Abri os olhos, só pode ser palhaçada…
Virei-me, observando aquela silhueta dos pés a cabeça, e foi inevitável não esboçar um sorriso
— Oi, estou, mas você pode mudar isso, se quiser… — Respondi.
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