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História Girl Meets Evil - Pai.


Escrita por: Ghost_Fanfics

Notas do Autor


Hey gente <3

Quero agradecer a todo mundo que comentou que queria a maratona <3 Obrigada <3 assim eu posso ter certeza de que devo continuar com as postagens <3 Obrigada de verdade <3 Obrigada também pelos favoritos e pelas leituras, a todo mundo que está aqui comigo, sejam as fantasmas que me acompanham quietinhas ou as leitoras ativas aqui nos comentários <3 vocês são lindas <3 obrigada também pelas mensagens de apoio <33333 Foi muito lindo ler o que escreveram pra mim, obrigada por me entenderem <333

Queria dizer que vou me esforçar pra merecer a leitura de vocês <3333 FIGHTING <33

Música do capítulo: Jumpsuit - Twenty One Pilots

Capítulo 82 - Pai.


Fanfic / Fanfiction Girl Meets Evil - Pai.

Jeon Jungkook's P.O.V.

Ela é o alívio com o qual sempre sonhei.

Não há dor insuportável quando estou ao seu redor. Encontro o sossego e a paz que preciso em sua voz, em seu corpo, em seu carinho. Seu abraço e seu beijo são meu conforto. Ela me dá segurança. Ela é o sentimento vivo que me faz sentir capaz de superar qualquer obstáculo, enfrentar qualquer batalha. Ela causa terremotos em mim, mas é a única que acalma minhas tempestades. Ela não é só minha namorada. É uma companheira. Ela é a singularidade, minha eternidade. Ela é tudo para mim.

Mas, o odor que sinto por seu corpo é diferente. Esse cheiro é de um Alfa Lúpus e é quase igual ao meu, mas não pertence a mim. E eu sei que, para que isso aconteça, é necessário um grau de parentesco entre mim e o dono desse cheiro. Aí, não preciso de mais do que um segundo para deduzir. Ele. De repente me lembro de mim mesmo, quando criança. Eu era apenas um mendigo à porta de casa, esperando que ela se abrisse para que eu recebesse a visita de um pai.

Lembro-me das cinzas que queimaram em meu peito porque a porta nunca se abriu.

Raiva, violência, tristeza, silêncio.

Eu sou feito dessas cinzas.

E achei que ia ser sempre assim, mas agora há um inferno em minha alma. Minha voz se transforma em memória.

Lembranças queimam as cinzas em meu raciocínio, sussurram quantas vezes já pensei sobre ele. Quantas vezes desejei que ele não tivesse me abandonado? Quantas vezes me perguntei sobre quem ele era? Quantas vezes chorei por querer que ele estivesse ao meu lado? Quantas vezes me senti sozinho sem ele? Quando comecei a odiá-lo por ter me deixado para trás? Quando comecei a desprezá-lo por não ter tido a coragem de assumir suas responsabilidades com Omma, no momento em que ela mais precisou?

***

Flashback: Capítulos 22, 71 e 79.

"Sei que é besteira e que eu já sou grande demais para desejar isso, mas... Se Appa não tivesse ido embora, talvez eu tivesse um irmãozinho, ou dois."

"Quem é meu pai? Eu nunca perguntei isso diretamente a Omma."

"Meu Appa foi embora e nos deixou. Isso é tudo o que eu sei dele."

"Não conheci meu pai. Ele não significa nada pra mim. Se ele nunca quis saber de mim, também não quero saber dele."

"Não sinto falta de um pai."

"Eu sei que a droga do meu pai está vivo e por aí, e só escolheu ser uma ausência na minha vida, porque foda-se, o "Jungkook é forte. Ele não precisa de um pai"."

"Por que meu pai sumiu sem deixar rastros? Por que ele ignora minha existência? O que havia de errado comigo para que ele me largasse? Ele sabe quem eu sou, qual é meu nome, onde moro. De acordo com Omma, ele sabe tudo sobre mim. Por que nunca me visitou?"

***

Minha voz se repete em ecos e gritam em meus ouvidos.

Meus olhos ardem.

Por isso há um inferno em minha alma.

Estou preso em um labirinto cheio de corredores e portas, onde vergonha, ódio, dor e mágoas colidem. E a única saída é a pior. Tenho medo de me afogar nessas chamas outra vez, mas não posso me acovardar e fugir. O certo a fazer é enfrentá-lo, e é isso que eu preciso fazer. É o que eu vou fazer. Ao contrário dele, não sou um covarde que se esconde. Nunca temi enfrentar ninguém, essa não será a primeira vez.

Reviro a mochila que __________ trouxe. Pego a roupa que ela escolheu para mim. Fito-a de esguelha e a encontro já vestida, e ela está tão bonita. Veste um moletom rosa grande demais para ela, peça que roubou do meu armário. Seu semblante é preocupado, mas ela não fala nada. Também não a incito a falar, porque não quero discutir. Ela é meu porto-seguro, não posso perdê-la.

Desenrolo a toalha da cintura e visto uma roupa íntima, uma camiseta preta e uma calça larga e clara. Alinho o cós abaixo do umbigo. Calço as meias e os All-Stars, amarro os cadarços. Busco um chapéu preto na mochila e passo a mão pelo cabelo ainda úmido. Agito os dedos nos fios quase secos e coloco o chapéu. Volto a fitá-la e encontro seu olhar vigilante ainda sobre mim.

— Por favor, Jungkook... Não vá. — Ela pede.

— Não adianta argumentar de novo, __________-ah. Preciso falar com ele e tem que ser agora. — Solto o ar pela boca e sinto o peso desconfortável em meu peito. — Eu te amo e sempre te escuto, mas dessa vez... Não dá. Esse cara passou dos limites e esse lance é entre nós dois. Por favor, me entenda. — Franzo o cenho. Ela se aproxima de mim.

— Só não quero que se precipite. Não quero te ver machucado, ou mais triste do que está agora. Você não está bem, Jungkookie... — Ela passa as mãos pela gola redonda da minha camiseta e eu engulo em seco. — Não se precipite.

— Não estou me precipitando. — Retruco, inexpressivo.

— Mas está de cabeça quente e com o peso de tudo o que já aconteceu.

— Monstrinha, pode ter certeza de que vou tirar um peso das costas quando falar com ele.

— Hm... Está com raiva de mim por não ter dito que ele estava aqui... Antes? — Ela pergunta, insegura. Deixo os ombros caírem.

Esse é o tipo de dúvida que ela só tem porque eu sou um babaca impulsivo.

— Claro que não, Monstrinha. — Ergo as mãos e a seguro pela cintura. — Meu lance é com esse filho da puta.

— Não o chame assim, Jungkook.

— Aish. — Faço uma careta e ela escorrega as mãos por meu abdome. — E eu vou chamá-lo de quê? Não sugira "pai". Ele não é.

— Tudo bem... — Ela aperta os dedos em volta do meu umbigo. — Mas, por favor, por favor, por favor... Não transforme essa história em um circo. Não brigue com ele, não faça uma confusão aqui. Por favor. Estamos em um lugar público e é o trabalho da sua mãe. E ela está doente, internada. Pense nela, antes de confrontá-lo, por favor. — E esse é o tipo de preocupação que ela só tem porque eu sou um babaca impulsivo. — Não seja um babaca impulsivo.

— Não vou. — Respondo com um quase sorriso, agradecido por sua sinceridade.

Ela não tem medo de falar qualquer coisa para mim.

— Eu te amo, seu idiota. — A Monstrinha dedilha os piercings em minha orelha e sorri. — Você vai ficar bem?

— Não. Mas, quando não estiver bem, sei pra onde vir.

— Não precisa vir, eu vou até você. — Ela dá um peteleco no meu queixo. — Cuidado.

— Certo, Omma. Mais alguma recomendação?

— Na verdade, eu tenho. Faça isso terminar bem.

A fúria venenosa e corrosiva que espalha por minhas veias não é superior ao conselho.

Mas, não vou parar.

— Se isso não terminar bem, a culpa não será minha. 

***

Atravesso os corredores com a respiração pesada, as mãos trêmulas e os olhos embotados.

Sigo quieto, silencioso, talvez um pouco soturno. Passo por médicos, enfermeiros e pacientes que enchem os corredores que levam à cantina do hospital, e respondo aos cumprimentos e acenos de "bom dia" porque ninguém tem nada a ver com minhas tragédias particulares. Finjo que estou bem e sorrio para que ninguém se sinta mal, mesmo os que me ferem.

Assim, eu sigo. E, à medida que me aproximo da cantina, ensaio as palavras para dizer, como fiz em todas as vezes nas quais pensei no meu pai por todos esses longos dezenove anos de vida. É tanto. A cada passo que dou, ouço um turbilhão de pensamentos que me bombardeiam. Nem sei mais dizer o que sinto. Se é ansiedade ou medo, fúria ou vingança.

Só sei que tudo o que eu quero é socar a cara desse infeliz, para perguntar como ele teve a coragem e a ousadia de vir até aqui, como se sempre tivesse estado conosco, quando, na real, ele nos abandonou justamente por ser um covarde. Um zumbido se forma em meus ouvidos e meu estômago se aperta. Minhas mãos suam e eu já vejo a porta da cantina. Sinto nervosismo.

Falta só mais um passo.

Chego.

Ergo o queixo para esquadrinhar a cantina ampla e branca do hospital. Ela está praticamente vazia e são quase 6 da manhã. O balcão tem apenas um atendente, que limpa a superfície com uma flanela branca e uma garrafa de higienizador. Duas mesas estão ocupadas. Em uma delas, médicas conversam e bebem copos de suco. Na outra, dois homens vestidos em ternos caros e amarrotados falam entre segredos e sussurros. Parecem discutir algo muito sério. Um deles é Kwon Ji Yong. O outro é um Alfa Lúpus.

Vejo quando suas narinas se dilatam.

Seus olhos se erguem imediatamente, se cravam em mim.

Ele sente minha presença como eu sinto a dele. Sabemos quem somos. Fecho os punhos para que minhas mãos não tremam, mas engulo em seco. Estou anestesiado, travado, mas me concentro para encará-lo como ele faz comigo. Preciso confessar que sinto medo. Então, noto. Reconheço vestígios de mim em cada traço de seu rosto. Somos parecidos. Não, somos quase iguais. Os cabelos, os olhos, o nariz, a boca. É quando descubro que não tenho nenhum traço da minha mãe.

Ao fitá-lo, sinto como se estivesse em uma máquina do tempo que me levou ao futuro para que eu visse a mim mesmo com alguns anos a mais. E meu palpite é de que ele vê a si mesmo em mim, em seu passado. A expressão do homem derrete e seus olhos se enchem, iluminados. Ele está tão paralisado quanto eu, mas, diferente de mim, parece fascinado. Eu só sinto dor. Ele se levanta sobressaltado. Kwon Ji Yong olha para trás, me vê e também se levanta, preocupado. Ele alisa a gravata mal vestida e faz um sinal para que o homem o acompanhe.

Não consigo me mexer, respirar. Não consigo nem sequer piscar.

Meu coração retumba e faz o corpo inteiro vibrar.

Eles se aproximam de mim e sei que agora é o momento de encará-lo...

...De uma vez por todas.

— Jungkook, ahm... Já comeu alguma coisa, filho? — O pai da Monstrinha pergunta e tenta um sorriso, quando se aproxima o suficiente para que seja ouvido sem gritar. Ele tenta se comportar com naturalidade, e eu me pergunto sobre quais seriam as intenções do Sr. Kwon. — Quer comer? Eu pedi comida pra você. Imaginei que viria à cantina.

Eles param à minha frente e eu cravo os olhos no Sr. Kwon.

— Não estou com fome.

— Hm... Sabe o que sua mãe diria se...

— Não estou com fome. — Repito.

— Certo... Não precisa comer agora. — Kwon Ji Yong pigarreia e olha do homem para mim. — Jungkook, ahm... Eu queria te apresentar um amigo meu. Qing Ji Sung. Ele... É... Ele mora na Bulgária, somos parceiros de negócios. Ahm... Ele está aqui pra... — Desvio o olhar para o homem que ele tenta me apresentar. Há riscos vermelhos em suas íris fixas em meu rosto. — Acho que é melhor que se apresente, Sung.

O pai da Monstrinha tenta fazer uma ponte entre nós?

Ele quer que eu abrace esse filho da puta e o aceite como meu pai?

— Não preciso de apresentações, Sr. Kwon. Eu sei quem ele é. — Sr. Kwon franze o cenho e seu sorriso tênue de desfaz. Ele parece entender que suas habilidades como negociador serão dispensadas agora. Fito o homem, que ainda tem a atenção fixa em mim, aparentemente fascinado. Minhas narinas tremem. Sim, é exatamente esse cheiro que eu senti em __________. Meu faro nunca me enganou. Um calafrio se alastra por minha nuca. Aponto para algum lugar às minhas costas. — Minha conversa com você é lá fora.

— Agora? — O homem pergunta, polido e compreensivo.

Solto uma risada amarga.

— Quer esperar mais dezenove anos?

Os lábios do homem se esticam, mas não é um sorriso.

É algo mais desconfortável que isso.

— Como quiser, Jungkook.

Em sua voz, meu nome soa familiar e melódico, como se ele estivesse habituado a mencioná-lo, por mais que não esteja. Assinto, sem demonstrar qualquer emoção no rosto. Lanço um olhar para Kwon Ji Yong, que me observa sem falar nada. Seu semblante de traços longos e aristocráticos permanece pacífico, mas sei que ele quer me dizer para ser compreensivo. Ignoro-o. Volto-me para o outro, que agora espera meu próximo passo. Enfio as mãos nos bolsos e estalo o pescoço, para mostrar que não vou cumprimentá-lo.

O homem parece entender a mensagem em cada pequeno gesto meu. Olho para Kwon Ji Yong uma última vez e ele parece me advertir para não criar nenhuma confusão. Mais um. Não sou louco a esse ponto, por mais que eu queira. Travo o maxilar e me viro. Avanço pelo corredor outra vez, na direção da recepção do Hospital Geral de Juggi. Sinto o homem caminhar às minhas costas, mas não tenho coragem de olhar para trás. Se o fizer, sei que vou desmoronar. E eu não posso desmoronar.

Eu posso morrer, mas não posso desmoronar. Se o mundo inteiro quiser me parar agora, vai ter que me segurar pela garganta e me erguer no ar. Vai ter que me amarrar pelas costas e quebrar minhas duas mãos. Vai ter que furar meus olhos, costurar minha boca, me jogar às traças. E, ainda assim, eu vou continuar até o fim. Até o fim. Ninguém vai me parar. Se a pressão vem de todos os lados, já aprendi a cair. E aprendi a parte mais difícil, também.

Eu aprendi a me levantar.

Corredores e portas e pessoas se transformam em borrões. Vejo apenas as portas largas de vidro da recepção, que se abrem e se fecham com o fluxo de gente que entra e sai. Ouço seus passos, minha respiração e a frequência alta nos ouvidos. Um nó asfixia minha garganta e eu ouço tudo o que já pensei em dizer ao meu pai quando o encontrasse. São gritos que me lembram do quanto já sofri por todas as vezes em que quis ter um pai.

Saímos do hospital.

O sol ainda nasce no horizonte quando a brisa gelada do início da manhã sopra por meu rosto. Caminho até a extremidade da calçada, próximo ao estacionamento privativo do hospital, onde estão estacionados dois carros. Um deles é o meu Porsche. Paro de andar sob a luz amarelada de um poste, ao lado do carro. Ainda tenho a mesma postura destemida, com as mãos nos bolsos, mas, em meu interior, não tenho mais forças para suportar qualquer coisa sem explodir. O homem para ao meu lado e também fica em silêncio.

Não sei quanto tempo passamos assim.

Ele é o primeiro a falar.

— É seu? — O homem aponta para o Porsche com o queixo.

— É.

— Bonito. — Ele fala. Pigarreia.

— É.

Há um momento de silêncio.

Ele volta a falar.

— Ji Yong te deu?

— Sim.

— Ele parece gostar muito de você.

— Sim.

Ele me trata como filho, é o que eu penso. Mas, sei que esse homem sabe disso.

Então, há outro silêncio, mais profundo. Grita muito mais alto que nossas vozes.

Ouço seu resfolegar, outro pigarrear. Ele se mexe, desconfortável.

— Escute, Jungkook... Eu não tenho a intenção de incomodá-lo. — O homem começa. Permaneço quieto, com os olhos atentos a uma mariposa sobre o capô negro e respingado pela chuva que caiu até agora há pouco. — Sei que não quer me ver, que não deseja ter minha presença aqui. Eu te entendo. Eu também me rejeitaria, se fosse você. E não vim pedir perdão, porque não acho que mereço isso. Não quero forçar minha aproximação, eu te respeito. — A voz tem um sotaque diferente. É cansada e grave. Treme. É familiar. — Só vim porque senti medo de que estivessem em perigo. Já é difícil suportar a distância de vocês. Eu... Eu não aguentaria perdê-los e...

Ele não diz mais nada.

A mariposa deixa a superfície fria e molhada do metal e voa para longe da vista.

— Sei.

— Eu sei que falhei com você e com sua mãe, mas... — Ele continua. — Não quero invadir a privacidade de vocês, só precisava ver se estavam seguros de verdade. Hm... Você está bem? — Meus olhos se estreitam por causa do sorriso incrédulo. — Jungkook...

Entreabro os lábios e respiro por eles. Ergo a cabeça e tiro uma mão do bolso, puxo a aba do chapéu até que ela cubra meus olhos. Estalo o pescoço tenso e sinto os músculos dos ombros e das costas doloridos.

Preciso ser direto. 

— Você tem razão. — Murmuro, rouco.

— Em quê? — Ele soa quase esperançoso.

— Quando eu era criança, tudo o que eu mais queria era te ver. Queria sua presença. — Fixo a atenção em um dos faróis do carro e sinto sua agitação. — Você tem razão. Eu não quero te ver, nem quero sua presença aqui. E, sim, eu te rejeito. Que bom que não veio pra me pedir perdão, porque eu não aceitaria. E eu nunca permitiria que você forçasse uma aproximação que não quero. — Viro-me para ele e ergo o queixo. Temos a mesma altura, mas eu sou mais magro. — O que eu tenho pra te dizer é simples, claro e direto. Você vai me ouvir?

Olho em seus olhos. São vermelhos como os meus, só que mais escuros.

— Vou ouvir tudo o que quiser me dizer. Você merece dizer. — Seu rosto deveria ser mais rígido, porque sua aparência é mais poderosa do que a de qualquer outro Alfa que cruzou meu caminho, mas, e eu não sei explicar como, vejo uma parede tênue de emoções latentes nele. É uma sensibilidade quase transparente. Ele está sofrendo. E eu também não sei explicar o que sinto com isso. Não é náusea, nem satisfação. Só me sinto mal. — Pode me dizer qualquer coisa.

— Certo. Eu não quero nada de você, nada. Nada. Não quero contato e não quero dinheiro. Eu nunca quis nenhum dinheiro. E eu não preciso de você. Nunca precisei e não vai ser agora que eu vou precisar.  — Murmuro com frieza e sustento seu olhar. — Mas, preciso te pedir duas coisas. E se eu não amasse tanto, não teria nem isso pra falar com você. E aí, você nunca nem me veria. Está entendendo?

Sua testa se franze.

— Pode me pedir qualquer coisa, Jungkook. Eu nunca negaria um pedido seu.

Rio pelo nariz com ironia.

— Sei.

— Estou falando a ver...

— Primeira coisa que eu vou pedir. Minha mãe não vai saber que você esteve aqui, de forma alguma. Eu quero você longe das nossas vidas, do jeito que você escolheu fazer. Volta pra porra do inferno que você saiu. — Meu nariz se enruga na lateral e eu aponto para ele. Sua mandíbula treme, mas ele acena em silêncio. — Segunda coisa. Você falou com a __________? — Pergunto, apesar de saber a resposta.

O homem estreita o olhar por um segundo.

Então, sorri e confirma com um aceno.

— Ela é linda, Jungkook. — O Alfa Lúpus engole com dificuldade. — Mas, como funciona isso? Vocês namoram? Ou você só a marcou porque... Ahm... Perdão. — Ele se atordoa. — Desculpe, é íntimo demais. Não vou te perguntar isso. Eu sei que Mi-cha aceitaria de olhos fechados, mas... Ji Yong não parece ser a pessoa mais liberal que eu já conheci pra aceitar que o enteado namore a filha dele e...

— Se está me falando isso, sabe que ela é Ômega. — Corto o assunto.

O homem pigarreia e assente.

— Ah, sim. Com certeza. Cuidei de Ômegas por minha vida inteira, Jungkook. Eu conheço tudo o que se há pra saber sobre isso e... Nunca, nunca na minha vida vi algo assim. Uma Ômega saudável. É tão inconcebível que... E Ji Yong é um Beta, o que torna tudo ainda mais confuso. — Ele sorri incrédulo. — Quando cheguei ao corredor do quarto de Mi-cha e a vi... Fiquei espantado. Essa menina tem uma benção.

— Não é uma benção. É uma maldição. — Corrijo-o. Chego, finalmente, ao motivo pelo qual engoli meu desprezo e minha fúria por esse homem e vim até aqui para falar com ele. Kwon __________. — E ela é meu segundo pedido.

— Não entendo.

— É simples. Como você mesmo disse, ela é única. E, como qualquer raridade, ela corre riscos. Tem muita gente gananciosa por aí, que pode querer estudá-la, usá-la, possui-la. E, se você tem dignidade, como Omma diz que você tem, vai esquecer que a viu e que ela existe e que é uma Ômega. — É minha vez de romper a voz, arranhada e quase trêmula. — __________ é a mulher que eu amo e ela é tudo pra mim. Se alguma coisa acontecer a ela, eu não... Eu não... Não suportaria.

Meus olhos se enchem.

Penso em todas as possibilidades nas quais Alfas ao redor do mundo descobrem uma matriz para desenvolver mais Ômegas produtos de uma maldição tão nefasta. Penso nesses Alfas matando vidas Betas para repovoar o mundo com Ômegas amaldiçoados. Penso nesses mesmos Alfas usando a minha Monstrinha como abelha rainha, como reprodutora. Eu não sei o que faria caso isso acontecesse. Encaro o homem, que me analisa silencioso.

Meus olhos ardem.

— Responda. Vai me atender? — Falo mais sério.

Você tem minha palavra.

— Ela vale de alguma coisa?

Suas narinas se dilatam.

— Você é meu sangue, Jungkook. É meu primogênito e é meu único descendente Alfa Lúpus. — Ele faz uma careta. — Você é mais que isso. É meu filho. Você pode não acreditar, não tiro sua razão, mas você e sua mãe são a única família que eu tenho e eu os amei por todos os dias da minha vida. Não houve dia nesses 19 anos em que eu não tivesse o pensamento em vocês, onde quer que estivessem. Você não sabe, mas eu te vi crescer. Posso parecer um estranho, mas você não tem noção da dimensão do amor que eu...

— Sabe mesmo o que é amor? — Pergunto sem qualquer emoção na voz.

Ele se empertiga.

Sei.

— Então nada de mal vai acontecer com __________ por algo que você deixou ou fez acontecer.

— Não sei nem da existência dela. — O homem me assegura. — Isso é tudo o que tem pra me pedir?

— É.

— Você ama mesmo essa menina. — Ele exibe um esboço de sorriso. Não emito reação, e seu sorriso se vai. — Nada de mal acontecerá a você, a Mi-cha ou a ela. Se ela é sua família, também é minha.

Permaneço inexpressivo.

— Agora, cai fora.

Ele vacila.

— Jungkook...

— Olha aqui, cara, vou te explicar uma coisa. Eu não fui educado com você porque estou abrindo um espaço pra conversa. Você me viu crescer? Me ama? Foda-se. — Dou de ombros. — Foda-se você, seu amor e seu dinheiro. Eu não te conheço. Vai se foder. Você pode achar que é meu pai, mas está longe disso. Só te fiz esses dois pedidos por causa das pessoas que eu protejo, mas você me perdeu no dia em que escolheu deixar minha mãe sozinha. E eu só não afundo minha mão nessa sua cara porque a __________ implorou pra que eu não fizesse isso. Então, cai fora enquanto eu ainda estou respeitando a vontade dela.

Ele recua e me escuta em silêncio.

Fungo e enfio as mãos nos bolsos da calça outra vez.

O tal de Qing Ji Sung volta a me olhar. Ele assente, resignado.

— Não vou te importunar mais.

— Nem me enfrentar você quer. — Murmuro. — Eu acabei de te desrespeitar de todas as formas possíveis e você nem revidou.

Ele encolhe os ombros.

— Sei que mereço seu ódio e nunca tive essa natureza violenta dos Alfa Lúpus.

— Bom pra você. — Resmungo.

Algum pedacinho de mim queria que ele explodisse, para que eu não me sentisse tão totalmente desprezado.

— Não, Jungkook. Talvez, se eu fosse como você, não teríamos essa conversa hoje. Talvez eu fosse seu pai e ainda estivesse com sua mãe. Aí você namoraria sua Ômega e viveria em paz com ela. — Ele se mexe. — Era o que eu queria. Ser como você.

O homem me dá as costas e parte.

Ele se vai. Cravo os olhos em suas costas e o observo se afastar. O nó em minha garganta cresce até se tornar insuportável, até ele sumir. Só então eu desmorono. Sento-me na calçada, à frente do Porsche, e enfio a cabeça entre os joelhos. O vazio me corrói e espalha mais dores por meu corpo. Tremo visivelmente. O sol desse domingo nublado sobe por trás das nuvens para me tirar da escuridão, mas estou destruído. Destruído. Não ouço, não vejo, não sinto. Sou feito de vazio.

Não consigo nem chorar.

Até vê-la sair pela porta da recepção. Ela corre até mim, se senta ao meu lado, segura meu braço, encosta o queixo em meu ombro e me sacode. Sinto seu toque em minhas costas, em minha nuca. O cheiro de caramelo e baunilha me devolve algo. O poder de sentir. E aí eu sinto tudo de uma só vez. A violência da sensação me faz querer gritar de dor. E eu deixo vir tudo o que prendi desde que saí do banheiro do hospital. Aninho a cabeça em suas pernas e choro como poucas vezes fiz.

Dói. Dói tanto que é difícil respirar.

E essa dor parece ser infinita, porque tem me perseguido por toda a vida.

Não consigo acreditar no quanto eu odeio... Meu pai.

***

__________ P.O.V.

 

Celular do Jin
Querida, como está o meu bebê?
A srta. Jeon acordou?
Estou pensando em passar no hospital

Você
Jungkook tá abatido
Ela acordou há pouco
Venha, Oppa, por favor.

Celular do Jin
Certo, vou levar uns bolinhos de arroz
Quando meu bebê está triste, dou comida
Levo flores pra Srta. Jeon?

Você
Fiquei sabendo que ela gosta de lírios brancos

Celular do Jin
Então é o que eu vou levar
Amorzinho, e você? Está bem?
Onde está?

Você
Ainda estou no hospital
Mas vou pra casa pra tomar banho
Trocar de roupa e trazer roupas pro Appa
E pro Jungkook

Celular do Jin
Sei... Ah querida, temos que conversar

Você
Sobre o quê?

Celular do Jin
Eu... Eu meio que previ esse incidente
Com a Srta. Jeon... Muito tempo atrás.

Você
Como assim, previu?

Celular do Jin
Tive um presságio de que algo de mal
Aconteceria
Se o Jungkook se envolvesse com uma Ômega
Que cruzaria o caminho dele...
E... Agora sei que meu presságio foi sobre a mãe dele

Você
O... O JK sabe disso?

Celular do Jin
Namjoon falou pra ele...

 

***

Flashback: Capítulo 19.

— O grande problema é que o presságio de Jin foi um mau auspício. Conhecer um Ômega não te fará bem, Jungkook. Algo de ruim vai acontecer se você se envolver com um Ômega.

***

 

Não consigo responder a última mensagem de Seokjin.

Bloqueio e ligo a tela do celular diversas vezes. Vejo o dia, segunda-feira. Vejo a hora, 14:53 h. Cubro a boca com a mão e sinto a língua secar. Estou sentada, encolhida no corredor dos apartamentos do CTI. Não consigo acreditar que eu sou mesmo culpada por tudo de ruim que está acontecendo na vida de Jeon Jungkook, e o peso em meus ombros se torna mais difícil de suportar. Se antes eu já sentia que tudo isso era por minha causa, essa é minha certeza. E eu só queria que esse pesadelo acabasse de uma vez.

Sinto o celular vibrar mais vezes, com mais mensagens do Jin, mas não respondo.

Esforço-me para não chorar, agora.

A porta do quarto da Srta. Jeon se abre e eu tento me recompor. Sei que é Jungkook que se aproxima e se senta ao meu lado, com uma postura abatida. Mas, diferente do que eu faria para consolá-lo, não consigo me mexer. Não movo um músculo. Eu sou culpada por seu sofrimento, meu Deus. O que eu devo fazer?! Devo terminar nosso namoro e pedir que ele nunca mais se aproxime? Não quero feri-os outra vez, eu o amo demais para vê-lo sofrer dessa maneira por minha causa. E já sofri o suficiente em minha vida.

Posso administrar a saudade que sentirei dele quando o afastar.

É o que eu devo fazer?

— Monstrinha, está sentindo dor nas costas? — Ele pergunta, ao meu lado. — Parece um manequim, toda dura. Que foi?

— Hm... Nada. — Murmuro.

— Omma está bem melhor, sabe? — Jungkook suspira, cansado. — Ela disse que não se lembra de nada do que aconteceu no sábado, então... Não temos nenhuma pista. Mas, não vou parar de procurar. Vou encontrar alguma coisa... Não aguento mais ficar no escuro.

Sinto seu carinho em meus cabelos e seguro o choro outra vez. O peso agora é terrível.

A culpa é minha.

— Me perdoa, Jungkookie... — Olho-o, mas Jungkook está embaçado.

— O... O quê? Perdoar o quê, Monstrinha?

Jungkook me solta e se levanta. Ele coloca as mãos nos bolsos do jeans e eu só entendo sua atitude impulsiva quando vejo Appa despontar no corredor. Ele vem até nós e, por sua cara, está tão debilitado quanto eu e Jungkook. Mas, há algo diferente em seu rosto. É uma determinação que vejo cruzar seu rosto e vez em quando. É como se Appa tivesse tomado uma decisão importante.

E isso me deixa ainda mais aflita.

— Oi, Appa...

Ele pigarreia e olha de mim para Jungkook.

— Aconteceu alguma coisa, Sr. Kwon? — Jungkook pergunta, mais retraído.

— Não aconteceu nada... Ainda. Só vim avisar que vou deixá-los sob os cuidados de alguns guarda-costas, porque preciso fazer uma viagem importante. É inadiável. Vou passar alguns dias fora, mas darei notícias sempre que puder. E, por favor, me falem tudo o que acontecer aqui. — Não consigo acreditar que ele vai nos abandonar em uma crise familiar desse jeito.

Eu e Jungkook enrugamos as testas em movimentos sincronizados.

— Viagem à trabalho? Mas o senhor está fazendo vi...

— Não, filha. Eu não os deixaria assim por causa do trabalho. — Kwon Ji Yong respira fundo. — Jungkook, por favor, cuide da sua mãe e da sua irmã.

— Não estou entendendo, Sr. Kwon... Aonde o senhor vai? — Meu namorado se aproxima de Appa e os dois se encaram.

— Não aguento mais ver vocês sofrerem. Vou proteger minha família.

— O que... — Começo a falar, mas Appa me interrompe.

Seus olhos brilham, ferozes e decididos.

— Vou resolver essa palhaçada de uma vez por todas. Eu juro.

***


Notas Finais


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Esse cap ficou melhor que o último? Juro que to me esforçando pra escrever mais e melhor <333 E dessa vez não teve cliffhanger, é só isso mesmo <3 Espero que tenham gostado <333 #MaratonaGME #Carnaghost #BlocoDasFanfiqueiras <333333 YEEY
Obrigada pelo carinho <333

~~Ghokiss


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