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História Girl Meets Evil - Silêncio.


Escrita por: Ghost_Fanfics

Notas do Autor


Hey,

Antes do capítulo, eu queria pedir desculpa.
Sei que não serve como justificativa, mas demorei mais do que devia pra postar por insegurança. Sempre que eu escrevia, apagava e pensava que eu devia mesmo parar de escrever, porque não levo jeito. Lembrava de coisas que me disseram, coisas que eu li. Que estou fazendo tudo errado e que cometo erros absurdos. Que eu sou superestimada, que não sou criativa, que a história é ruim, que fic hétero é sempre a mesma bosta, que eu não sou boa o suficiente, que não devia ter nenhuma view, favorito ou comentário. Que eu devia apagar a fic e dar o plot pra uma pessoa que sabe escrever. Que eu devia desaparecer, parar de falar com as pessoas, porque ninguém quer ser meu amigo, porque eu não sou ninguém, sou só um encosto.
Já sugeriram que eu devia morrer.
Foi cruel.
Nunca reclamo disso porque não quero trazer coisas ruins pra vocês. A mensagem que tento passar todo dia é de amor e esperança. Quero alegrar vocês. Mas, acho que ouvi tanto em silêncio, pedi tantas desculpas e tentei tanto não me importar, que isso se acumulou e eu entrei em colapso.
Fiquei com medo de postar um capítulo e ler mais mensagens de ódio. Me perdoem.
Eu queria ser mais forte, sabe? Me desculpem. Estou num momento frágil e acabei não aguentando. Juro que vou me esforçar pra fazer o meu melhor e merecer a leitura de vocês. Vocês são maravilhosas e sempre me dão força, sempre me dão apoio, dizem coisas lindas pra mim. Eu não devia me importar com o hate porque tenho muita gente legal ao meu redor... Foi mesmo uma fraqueza. Sinto muito.

Só quero que saibam que eu estou falando de pessoas que tentaram me machucar. Críticas construtivas sempre serão aceitas, e eu sempre sigo as dicas que vocês me dão. Só fico triste quando me dizem que eu devia me isolar ou morrer, porque passei anos tentando não querer isso.
Eu não estou bem, mas vou ficar. Achei que me acostumaria com isso, mas ainda dói.

Só sei que, independente de tudo, não vou desistir.
Eu amo escrever.
Obrigada por me perguntarem se eu estava bem.
Vocês são meu remédio. <3

Música do capítulo: Jamais Vu - BTS (Foi o que me deu força pra seguir, terminar esse capítulo e postar. <3)

Capítulo 87 - Silêncio.


Fanfic / Fanfiction Girl Meets Evil - Silêncio.

__________ P.O.V.

Às vezes, silêncio significa paz e segurança. Aquieta angústias, tira pesos dos ombros e põe sorrisos em bocas que já não se achavam capazes de emitir alegria. Às vezes, silêncio significa ausência. Um lugar vazio onde deveria haver algo, alguém. Quebra corações com saudade e abandono. Às vezes, silêncio significa tristeza, raiva e frustração. É violento e envenena, nos mergulha em um abismo depressivo.

É escuro, vazio. Deixa-nos sem direção, sem chão, sem fim, sem nada.

Aprisiona a alma e rouba a alegria, a vida, tudo.

Esse é o silêncio que escuto agora.

A brisa fria circula pelos corredores e sussurra entre nós. As sombras da noite se agigantam nas janelas e dançam no chão. O medo se levanta em meu interior. O perigo desperta a magia em minhas veias. Ele sabe. Appa sabe muito mais do que sempre deixou à mostra. Está em cada detalhe dele. Na lama dos sapatos, na roupa amarrotada, no casaco úmido, nos cabelos ensebados, nas olheiras profundas.

Seus olhos se estreitam e pulam de mim para Jungkook.

Penso em como imaginei esse momento. Não era pra ser assim. Ensaiei palavras e argumentos para convencê-lo, confiei na presença da Srta. Jeon para ficar ao nosso lado. Então, Appa não nos rejeitaria. Meu medo seria uma insegurança tola. Ficaria tudo bem. Mas, pela forma que ele nos olha agora, não sei o que esperar. Não consigo distinguir as emoções que atravessam seu rosto.

Vocês... Vocês estão mesmo... — Ele gagueja.

A sensação de perigo se intensifica e a fumaça espirala por minhas veias, cresce abaixo da pele para me proteger. Meus olhos ardem e eu abro a boca para me defender. Appa nunca me olhou tão profundamente e isso me paralisa. Quando reúno coragem para falar, Jungkook se precipita e enfrenta o futuro padrasto, ou futuro sogro. Sei que ele quer me proteger.

Jungkook só quer me proteger.

— Sr. Kwon, precisamos conversar. — Há tranquilidade em sua voz.

A resposta é um sorriso sombrio.

— Não. — Appa soa pouco amistoso, ainda parado à soleira da porta. — Não precisamos.

Eu preciso. — Jungkook se corrige. — Tenho que explicar... — Ele se empertiga, paciente. Não combina com seu jeito estourado, mas sei que age assim para me preservar. — ...O que está acontecendo entre mim e...

— Appa, nós... — Começo a falar.

Kwon Ji Yong sorri, irônico, e nos cala.

— Acha que eu não sei o que estou vendo? Que eu nunca desconfiei de nada? Que eu sou cego? — Ele nos rodeia com o modo polido e negociador em uma versão passiva-agressiva. — Não sou tão idiota.

A palavra pesa e nos cala em um silêncio tóxico.

Um arrepio cruza minhas costas e a energia pulsa bem abaixo da minha pele, pronta para me proteger de qualquer ameaça. Tento me conter, porque tenho que remendar o rumo dessa conversa. Não quero ver meu pai e meu namorado em uma briga, uma discussão sobre mim. Seria o fim para nós e eu não quero que seja.

— Appa, por favor. Não achamos que o senhor é um... Idiota. — Faço uma careta. — Eu e Jungkook só... Precisamos explicar.

Jungkook me olha de esguelha e concorda com um aceno.

— É justamente por respeito ao senhor, que acho que podemos conversar civilizadamente. — Jungkook completa. — Aí posso pedir...

— Se seu pedido tiver algo a ver com minha filha, é melhor ficar calado. Não estou com cabeça pra pensar nisso agora.

A atmosfera se torna mais pesada e o ar vira uma prisão.

O silêncio borbulha e enche os olhos com todas as palavras que as bocas não falam. Eles se encaram e eu ouço a nuca de Jungkook estalar quando ele inclina a cabeça para o lado e respira fundo. Ele se aproxima de Appa. Eles se aguardam, se estudam, não se movem. Abro a boca para falar, mas eles já não me ouvem. A tensão toma conta de nós e eu me sinto como o silêncio.

Invisível.

— Sr. Kwon, sinto muito, mas __________ é maior de idade. Ela não precisa da sua autorização pra fazer qualquer...

— Claro. Como não pensei nisso? — Appa o corta. — Acha que eu sou idiota, que minha filha tem total controle sobre a própria vida e que você pode fazer o que quiser debaixo do meu teto.

— Eu não disse isso. — Jungkook retorque.

— Não precisa falar, quando demonstra. — Appa revida.

— Appa, Jungkook, por favor... Por favor, parem com isso. — Peço.

— Quieta. — Appa aponta para mim. — Eu me resolvo com você depois.

Meu corpo se resfria. As espirais de fumaça ainda circulam abaixo da pele, perigosas.

Meu coração bate com força dentro do peito.

— Não. Essa conversa é sobre mim e acho que posso opinar...

— Monstrinha... Espera. — Jungkook pede. Trocamos um olhar. Entendo e me calo. — Sr. Kwon, isso é ridículo.

— Quem você pensa que é pra falar desse jeito comigo, Jungkook? — Appa estreita o olhar com sarcasmo e meu estômago se embrulha. Se eles continuarem assim, essa discussão não terminará bem. Preciso pará-los. — Eu falei com você!

— Eu só quero me explicar! — Jungkook rosna, mais alto, e sua voz ecoa nos corredores vazios.

Segundos de silêncio nos atravessam e eu fecho os punhos.

Não posso me manter calada.

— Appa, Jungkook, essa discussão não vai levar ninguém a lugar nenhum! Parem com isso!

— Espera, __________. Já falei. — Jungkook retruca, mais ríspido. Mordo os lábios. Eu sei que ele não tem a intenção de ser grosso comigo, por isso não fico brava. Mesmo assim, ele percebe e suspira. — Por fav...

— Eu não tenho tempo pra isso. Vocês não fazem ideia do que está acontecendo, por isso querem me parar agora, pra me explicar essa bobagem entre vocês dois. Eu não tenho tempo. Preciso resolver coisas mais importantes. — Appa interrompe nosso curto diálogo.

Jungkook se vira para ele, mais debochado.

— Pode ter certeza de que eu sei. Provavelmente é o senhor que não tem noção do que está acontecendo.

— Não diga isso, Jungkook. Vai soar prepotente. — Appa rebate e os dois se olham com animosidade.

— Appa, por favor... — Imploro. Ele nem me olha. É como se eu não estivesse aqui. Sou apenas uma mulher invisível, que não pode falar por si mesma. Sou um assunto a ser resolvido entre homens e devo ficar calada para não falar nenhuma merda.

Travo o maxilar.

Sei que Jungkook não pensa dessa forma, mas Appa com certeza sim.

— E o que sabe, Sr. Kwon? — Jungkook pergunta.

— Mais do que imagina. — Appa vasculha o rosto de Jungkook, inexpressivo. Não consigo respirar. O que ele sabe? — Jungkook, você é parte da minha família e eu tenho muito orgulho de ter participado da sua criação, de poder te chamar filho, de ter visto seu crescimento, de ver o homem que se tornou. Eu te amo e te respeito. Por isso, mesmo que tenha quebrado minha confiança, estou disposto a conversar sobre isso... De vocês. Só não posso agora. Não tenho tempo pra essa bobagem. Amanhã...

— Confiança? Eu não quebrei sua confiança. Sei que cuidou de mim, e sou muito grato por isso, mas...

— Não parece muito grato nesse momento. — Appa rebate com uma calma perturbadora.

As palavras cortantes de Appa pesam sobre os ombros de Jungkook. Eu o olho de soslaio e calafrios descem por meu corpo. A sensação de perigo agita minha pele e poros. A energia vibra em meu interior e ameaça transpirar e exalar ao meu redor. Porque a calma de Kwon Ji Yong despertou a agressividade de Jungkook e acendeu seus olhos. Vermelhos como os de um Alfa.

Engulo em seco e busco o rosto do outro, ainda parado à soleira da porta.

Pálido, com os lábios entreabertos e os olhos arregalados e fixos nos de Jeon Jungkook.

— Eu e __________ não somos irmãos! Não somos irmãos! O que temos não é uma bobagem e não pode ser tão errado pra que nos julgue dessa forma! Eu não quebrei sua confiança! — A cada palavra de Jungkook, a expressão de Kwon Ji Yong se quebra mais. Não. Não. — Sou muito leal ao senhor, e sei agradecer por tudo o que fez na minha vida e na da minha mãe! Não sou ingrato! E, aliás, eu nunca pedi nada ao senhor. Nunca. Nunca te fiz nenhum mal! E se está preocupado com sua filha, saiba que...

Jungkook... — Appa sussurra com o olhar vidrado. — Você...

Jungkook fecha os pulsos e seu corpo se enrijece.

Ele continua a falar sem hesitar.

As íris estão vermelhas como rubis.

— ...E se está preocupado com o bem-estar, com a felicidade e a segurança da __________ e acha que eu poderia fazer algum mal a ela, saiba que eu seria incapaz de fazer isso. Eu a protejo. Protegeria de qualquer um que tentasse machucá-la. Eu daria minha vida em troca da dela sem pestanejar. Não é modo de falar. Se a vida dela dependesse do meu sacrifício, eu faria. Eu sou leal a ela. Não sou só apaixonado pela sua filha. Eu a amo. — Jungkook toma um fôlego quando a voz falha. —  Essa é a única verdade que eu conheço.

Minha garganta embarga.

Quero abraçá-lo e dizer que o amo da mesma maneira.

Jungkook solta o ar pela boca e deixa os ombros caírem. Percebo o esforço que fez para encarar Appa e dizer tudo o que ele disse. O peso que escapa de suas costas, porém, cai sobre Kwon Ji Yong, que ainda o encara com o mesmo choque silencioso, ainda mais perigoso do que quando ele ainda rebatia as investidas de Jungkook para falar sobre nós. E eu sei que é por causa dos olhos.

Dos olhos vermelhos.

— Você... — Ele balbucia. — Você é um Alfa... — A postura relaxada de Jungkook se empertiga outra vez e ele me olha de lado. Volta a fitar Appa, cujos olhos estão cravados no rosto dele. — É por isso... É por isso... — O alarme se torna medo, desespero. Kwon Ji Yong deixa a mala pequena cair no chão com um baque oco e leva as mãos à cabeça, pentenado os cabelos ensebados com os dedos. — É por isso... Como eu pude... Como eu... Não... Não... Não... — Ele ergue o olhar e eu percebo a parede brilhante nos olhos escuros.

São lágrimas.

— Appa...

— A culpa... A culpa é minha... — Ele fala com os lábios entreabertos, trêmulos. — Eu não sabia... Eu não sabia... Se eu soubesse, não... Não teria deixado acontecer... Eu não... — Ele olha Jungkook de relance e volta para mim. — Eu não sabia... Eu...

— ...Não sabia de quê? — Pergunto, com medo.

— Eu... Eu... Preciso... Preciso te explicar. — Appa pestaneja. — Um dia, em Seul, eu vi magia em você. Não sabia o que fazer e me desesperei. Não sei como mascarar magia pra afastar caçadores. Só havia um lugar que eu conhecia que era totalmente impregnado dessa merda e que poderia te camuflar. Essa casa. Foi por isso que, quando voltamos pra Juggi, viemos pra cá. Eu odeio esse lugar. Odeio. Essa casa é traumática, mas ela te protege. Ela camufla seus poderes. — Ele ri, amargurado. — Depois de um tempo aqui, percebi que a magia estava avançando em você. E a maldição... Também. — Ele sabe de tudo. — À essa altura, você já deve saber tudo sobre isso, né?

Sei. — É tudo o que eu consigo dizer.

Eu sei de tudo. Só não imaginava que ele também sabia.

— Sua mãe me disse pra evitar esse assunto com você, por isso não falei nada antes. Eu fiz a vontade dela. Só que... Eu reparei que havia alguma coisa errada meses atrás. Um dia vi que você estava diferente... Estranha. Lembra?

***

Flashback: Capítulo 20.

— Está mesmo tudo bem? Estou preocupado com você e sei quando algo te incomoda... Aqueles pesadelos pararam?

— Eu estou bem, Appa. De verdade. Nunca mais tive pesadelos. Lembro muito pouco dos que tive. Lembro-me de ser com Omma e Jisoo... E acho que elas me chamavam... tentavam falar comigo.

— O que falavam? — Appa usa um tom mais paciente e macio. Seus olhos estão atentos à rua e as duas mãos seguram o volante com precisão. Ele mexe a boca repetidas vezes, sem emitir som.

— Não consigo me lembrar do que diziam. Mas, era desesperador.

— Filha. — Ele me chama, e eu cravo os olhos em seu rosto, confusa. — Quero que me prometa que, se algo acontecer com você, algum desses pesadelos, ou sei lá... Qualquer coisa ruim... Me diga. Não me deixe sem saber se algo te importunar. Quero estar por perto pra ajudar. Você é tudo que me resta, além de Mi-cha e Jungkook.

 

***

— Eu lembro. — Ainda falo com receio.

— Então, antes de você viajar pra Seul, eu vi. Seus olhos. Eu não sei explicar como acontece... Não sei nada sobre A.B.O. Mas... Eu sei que os olhos mudam de cor. Alfa, vermelho. Ômega, azul. E eu vi seus olhos... Naquele dia, na minha frente, eles mudaram de cor. Azul intenso. Não era natural. Era Ômega. E eu conheço a história da maldição. Foi aí que eu percebi que v... — Um ofegar corta sua voz. — ...Que você estava em perigo. A maldição e a magia... Eu só permiti que viajasse porque aumentei muito a segurança e só com homens treinados pra te proteger de caçadores. — Ele revira os olhos. — Como se fosse isso possível.

***

Flashback: Capítulo 43.

— Jungkook tem sido um bom Oppa?

— Sim, Appa. Ele cuida de mim.

— Eu sei que sim. Sacrificar um fim de semana só porque você quer ir à Seul? Aish, ele é mesmo um bom irmão. Sinto muito orgulho por chamá-lo de filho. — Os olhos de Kwon Ji Yong brilham e eu baixo a cabeça. — Isso não quer dizer que não me orgulhe de você. — Ergo os olhos até o rosto dele e Appa franze a testa. — Você é meu filhotinho, __________. — Ele analisa meu semblante e olha fundo nos meus olhos. — Eu só quero te proteger. Eu morreria se você se machucasse...

As palavras murcham em sua boca.

— ...Que foi? Appa?

— V-você... — Os olhos continuam fundos nos meus. — É... Está cada vez mais parecida com sua mãe. — Suas pálpebras tremem, como se ele envelhecesse dez anos em apenas um piscar de olhos.

 

***

— Quando você voltou de Seul, eu fiquei muito mais em alerta. Eu vi que tinha algo diferente. A magia em você ficou muito mais forte. Muito mais. Muito. Eu nem sei explicar... Não sou perito em bruxaria, mas me forcei a aprender algumas coisas pra sobreviver. A magia que eu vi em você... Não era como a da sua mãe, nem da sua irmã. Parecia um imã de caçadores, era gigantesco. Foi aí que eu comecei a me preocupar de verdade com a sua vida. Então, no dia que o Sehun me ligou e falou que eu precisava voltar pra Juggi, pro hospital... A primeira coisa em que pensei... Foi em você. Eu achava que eles tinham te pegado. Quase infartei no telefone.

Kwon Ji Yong esfrega o rosto, exausto.

***

Flashback: Capítulo 79.

— Ah, alô, Sr. Kwon? — A voz de Sehun corta meus pensamentos e eu o olho. — Sim, é importante. Está em Juggi, senhor? — Há uma curta pausa e Sehun me olha. — Ah, então... Vai ter que voltar pra cidade agora, direto para o hospital geral da cidade. — Há outra pausa e ele franze o cenho. — Não, não. Srta. Kwon está bem... Foi a Srta. Jeon. Ela sofreu um atentado... Ela está viva, mas a encontramos na... Na fonte. E os criminosos deixaram uma mensagem.

 

***

— Naquele dia, eu estava em Seul. Nunca dirigi tão rápido. Nunca senti tanto medo. Nunca me culpei tanto por não estar aqui. Mas, eu nunca pensei sobre os motivos. Achei que a magia e a maldição tinham aflorado naturalmente e que os feitiços que Sunhee fez em você haviam acabado. — Ele meneia a cabeça mais rápido e fita Jungkook, entorpecido. — Não sabia que o filho da Mi-cha era... Um Alfa. Se eu soubesse, teria parado vocês. Teria separado os dois enquanto ainda tinha tempo... Aí, você estaria segura.

Jungkook dá mais um passo na direção dele.

Transtornado. Trêmulo. Destruído.

Seu rosto se avermelha.

— Eu tava certo? A maldição dela só aflorou por minha causa? — Jeon Jungkook aponta para si mesmo.

Kwon Ji Yong inclina a cabeça e fecha os olhos por um segundo.

Ele assente.

Ele fala:

— E se continuar com ela, não sei quais serão as consequências.

Suas palavras se transformam em um silêncio sepulcral.

Perco o chão. As sombras crescem sobre nós. A compreensão sombria me afasta de Jungkook e cava um abismo entre nós. Cravo os olhos em sua nuca, no corpo tenso em uma postura rígida e cheia de um sentimento odioso. Remorso, arrependimento, culpa. Não. Não. A magia serpenteia com mais força em minhas veias, orquestrada pelas palavras que me dizem que devo me separar de Jungkook para sobreviver. Não. Se eu me separar dele, perco minha chance de sobreviver. Essa é a única certeza que tenho.

E é investida em minha confiança, que ergo a cabeça e a voz.

— Appa... — Chamo-o, e ele me olha. Escolho as palavras. — Jungkook nunca me faria mal.

— Ele não. Mas, os caçadores sim.

— Eu posso protegê-la. — Jungkook tenta, Appa meneia a cabeça.

— Vocês não entendem mesmo o que eu estou falando...

— Appa, eu não vou me separar do Jungkook. — Falo mais firme. — Não há necessidade de...

— Um caçador nunca falha. Não há erros e uma missão sem sucesso. Nem quando eles caíram diante da bruxa Wang da família de Sunhee, eles falharam. Wang Juran morreu. Jisoo e Sunhee morreram porque faziam parte do ritual pra chegar na Ômega amaldiçoada. Se quer saber, nem com Mi-cha, eles falharam. Eles não queriam matá-la. Queriam avisar. Não entendi no começo, mas agora... Eles marcaram Mi-cha pra dizer que sabiam que você é mesmo a herdeira da maldição da bruxa Wang e que você — ele aponta para Jungkook — é a peça que faltava pra completar o ritual. Não sei porque, mas... Vocês não podem continuar juntos. É perigoso.

— Eles querem me matar também? — Jungkook estreita o olhar.

— Sinto muito, Jungkook. — Appa baixa a cabeça. — Eu tentei afastar o perigo de vocês.

Acirro o maxilar e ergo o queixo.

— Appa. — Chamo-o. Minha voz ecoa pelo vestíbulo e ele me olha. — Onde esteve esse tempo todo?

Não é uma pergunta. É uma acusação.

Sua sobrancelha se arqueia.

— Por que?

— Sou apenas uma filha preocupada. — Falo com a mesma inexpressividade dele.

Ele sente.

— Filha, eu tive que tomar uma atitude... Fui atrás de quem eu achava que poderia interceder por mim e me ajudar e acabar com essa história. Não quero que minha família morra. Não quero viver aquele pesadelo de novo. Só quis proteger vocês e...

Entre em casa.

Ordeno, seca.

As palmas das minhas mãos formigam e a luz do lustre acima de nós sofre com a interferência. Zumbe e pisca, antes de voltar ao normal. A aura elétrica flui ao meu redor, invisível. Consigo sentir pelas ondas de arrepios nos poros, em explosões de energia que escapam das veias e rolam na pele. Dou um passo. O ar se dissipa ao meu redor e a gravidade perde o valor. Sinto mechas de cabelo flutuarem ao redor dos ombros. Dou outro passo. Meus olhos focam os dele, vidrados e atordoados.

Dou mais um passo.

— Passe pela porta. — Falo. — Agora.

Minha voz sofre a mesma interferência que as lâmpadas do lustre.

Nunca senti tanto medo, dor e angústia. Nunca senti tanto poder. Lembro-me de como o feitiço que pus na porta da casa de Yoongi arremessou Lisa para trás e a repeliu. Pus o mesmo feitiço na porta do casarão assim que cheguei, antes de tentar abrir a porta do quarto de Jisoo. E quero testá-lo agora. Por isso nunca senti tanto medo. Não quero descobrir quem ele é.

Se ele for um caçador.

— Monstrinha... Você acha que... — Jungkook me chama, não o olho.

— Kwon Ji Yong, se não passar por essa porta, saiba que conheço todos os feitiços dessa a quem você chama de "bruxa Wang" com tanto desprezo. E a maioria deles é letal. E ela os escreveu num momento de loucura. Pra se proteger. Pra matar quem entrasse no caminho dela. Pra se libertar. E eu não tenho medo de usar nenhuma gota de poder pra acabar com quem tentar ameaçar a vida do Jungkook, da Srta. Jeon, dos meus amigos e a minha. E eu espero que o senhor esteja nessa lista quando passar pela porta.

O ar pesa ao nosso redor e eu mexo os dedos. Ouço as rajadas de vento do lado de fora. Elas empurram o corpo de Kwon Ji Yong para frente. Ele dá um passo desequilibrado e me olha enfurecido.

— Está me ameaçando, __________?

Sorrio.

Nunca estive tão quebrada por dentro.

— Depende. Quem é você?

***

Min Yoongi's P.O.V.

A noite começa. As luzes da cidade invadem as janelas e criam intervalos de sombra e luz em meu caminhar displicente ao redor da cama. Meu rosto se ilumina e se esconde a cada passo. Enfio uma mão no bolso da calça de moletom e passo a outra pelos cabelos na nuca.

Paro quando estou de frente para a cama. Deixo apenas metade do rosto iluminada por um refletor do prédio vizinho e miro seu rosto. Lisa está presa em minha cama. Meio deitada, meio sentada, ela tenta se erguer em uma posição menos humilhante para me enfrentar. Ouço os estalos das molas da cama e sua respiração ofegante. O medo desenha os contornos de seu rosto e ela sustenta meu olhar.

Por um momento, vejo honestidade, inocência, dignidade e verdade em seus olhos. Por esse momento, me sinto mais piedoso, como se ela pudesse ser ainda mais bonita do que é. Então, a desconfiança sopra em meus ouvidos. Não sei se ela está sendo sincera, ou se está tentando me enganar. Não sei se estou encarando um demônio disfarçado... Ou um anjo.

Não sei se ela é inocente, ou se faz parte do grupo de monstros que matou Jisoo. Se ela me usou para nos espionar e se seu tempo comigo foi um jogo para me distrair. Se seu coração algum dia acelerou por minha causa, ou se bateu apenas para me machucar. Não sei se ela já havia calculado tudo quando me abordou na livraria, ou se realmente se interessou em mim. E por que eu me importo com isso?

Não sei se ela me pegou para me quebrar e mentir para mim e, porra, não acredito que tenho que lidar com isso.

Não sei quem ela é e o que quer.

E não sei porque me irrita tanto o fato de não saber.

— Yoongi... — Meu nome é uma súplica em sua boca e eu a olho. — Me solta, por favor... Esse negócio tá doendo.

— Você tem seu tempo. Explique-se. — Murmuro, duro. Ela gagueja, não fala. — Estou esperando.

— M-mas eu não sei nem o que explicar... Eu não sei o que... — Ela percebe o sorriso que se forma no lado mais visível e iluminado do meu rosto e para de falar. — O que...

— Quer que eu explique pra que você possa pensar em uma mentira nova pra me contar?

Ela franze o queixo, ofendida.

— Bem que a __________ disse que você sabe ser irritante quando quer.

Não consigo acreditar que é assim que ela me enfrenta. Petulante e destemida. E não acredito que não consigo me irritar com isso.

Quem está preso e refém na cama de quem?

— Você tem coragem. — Mantenho uma mão escondida no bolso da calça de moletom e olho para porta por cima do ombro. Volto-me para ela e passo a língua pelo lábio inferior. Ergo a mão livre e arrasto o polegar pela narina. — Namjoon e __________ colocaram um feitiço para repelir caçadores na porta do meu apartamento, lembra? — Ela assente. — Só caçadores são capturados por esse feitiço. Agora, imagine nossa surpresa ao te ver sendo arremessada uns três metros pra longe da porta. Você caiu desacordada no meu colo.

À medida que falo, a expressão de Lisa se desfigura.

Medo se transforma em terror.

— Eu...

— É. Você entendeu.

— Eu não... — Ela balança a cabeça com os olhos brilhantes, mesmo na penumbra. A sensação que ela transmite é de que ainda digere a informação. Não sei se é genuíno, ou se ela ainda está encenando, mas, se estiver, é muito cínica. Olho para a porta outra vez e volto-me para ela. — Eu não acredito... — Lisa sussurra.

— Me disseram que você é muito inteligente, então acho que agora entendeu porque está presa na minha cama, sendo interrogada por mim, certo? — Ergo o queixo. Ela treme e assente, quieta. Funga. — Pode me explicar por que o feitiço te repeliu? Os outros passaram tranquilamente, só você ficou pra trás. — Arqueio a sobrancelha. — Vou te dar uma chance de falar por bem.

— E-eu... Eu não sou caçadora. — Apesar de seu corpo todo tremer de medo, ela fala com firmeza. — Não sou.

— Certo. Digamos que eu acredito em você, me dê uma explicação plausível pra que tenha sido presa pelo feitiço.

— Eu...

— Vai ser divertido te ver tentar. — Estreito o olhar.

— Eu... — Lisa hesita, gagueja e faz uma careta. — Eu não sei... Não sei! Não sabia nem que existiam essas coisas de verdade até um dia desses. E pra mim tudo ainda é muito absurdo, porque não dá pra provar por matemática! Eu não sei. E você não faz ideia de como é angustiante não entender nada que está acontecendo, porque eu não sei como que é essa história de Alfas e Ômegas, e coisa de bruxa e caçador! Eu não sei de nada disso! Comecei a estudar pra ajudar vocês! Só sei que não sou caçadora. Não sou.

— Sabe que vai precisar ser mais convincente que isso, né?

Ela respira com dificuldade e concorda com um aceno.

— Tudo bem... — Lisa baixa o olhar e mexe os pés, desconfortável. — Se eu fiquei presa no feitiço que captura caçadores, e esse feitiço tem 100% de aproveitamento, a probabilidade de eu ter algo a ver com caçadores é de 100% também. Você está certo. Aigoo, mas eu te juro que não sou caçadora. Juro. — Mantenho a expressão limpa, ouvindo-a. — Sou péssima em atividades físicas. Você nunca me viu correndo, por isso desconfia de mim. Aish! Eu não sei nem caçar diamante no Minecraft, como poderia caçar bruxas de verdade?! 

Baixo a cabeça e respiro fundo para controlar uma vontade.

Rir.

— Péssimo argumento. Não sei o que é Minecraft.

— Você tá brincando comigo. — Ela resmunga e eu volto a olhá-la. — Aigoo. — Lisa vê que eu estou falando sério e suspira. — Seu velho. — Ela fita o teto por uns segundos e geme, com uma careta. — Minha mãe vai me matar e isso não é força de expressão. Já anoiteceu e eu ainda estou na rua. Bom, se ela souber que estou amarrada na cama de um cara, talvez ela não me mate. Vai ficar aliviada porque é na cama de um cara, e não de uma moça. Mas, isso não vem ao caso.  — A cada segundo que a escuto, sinto mais vontade de rir.

Acabei de acusá-la de ser uma caçadora de bruxas e ameaçá-la de morte.

E ela está preocupada com o que a mãe dela fará quando ela chegar em casa. É inacreditável.

Olho para a porta novamente e praguejo.

Onde está Hoseok?

— Yoongi... — Ouço sua voz e a fito outra vez. — Posso ligar pra minha mãe pra avisar que vou demorar tipo... Muito? Eu juro que não conto que estou sequestrada na casa de um cara muito bonito que ela não conhece. Eu falo que estou na casa da... Hm... Não. Ela não gosta de quando eu vou pra casa da __________. Aish... É difícil não ter amigos. — Ela fala para o nada, depois se volta para mim. — Posso?

— Não? — Respondo com sarcasmo. — Quem me garante que sua mãe não é uma caçadora esperando um chamado em código pra vir até aqui ao seu sinal?

Minha sugestão parece acender uma luz sobre sua cabeça e Lisa pestaneja, fica mais séria e engole em seco. O medo retorna a sua expressão com muito mais violência e ela parece encaixar peças de um quebra-cabeças com rapidez. Quando ergue o olhar para mim, o terror a consome novamente. As lágrimas voltam a ameaçar seus olhos, mas o choque as impede de cair.

Lisa está aterrorizada e não é mais por minha causa.

Ela confia em mim.

— Yoongi... E se... E se minha mãe... E se ela... — Seus lábios tremem. — Meu Deus... Por que eu não liguei os pontos antes? — Ela esquadrinha o quarto sob a penumbra. — O feitiço da porta não dizia que caçadores seriam pegos... Acho que ouvi o Namjoon falar que o feitiço rastreia o sangue de caçador. — Há receio em cada palavra que ela diz. — Eu sei que não sou caçadora, mas não sei se minha mãe é. E agora... Pensando bem... Por que minha avó sabe tudo sobre Wang Juran? Por que ela, minha mãe e minha tia sabem latim? Eu nunca achei estranho porque... Enfim, a gente é nerd. Eu falo Élfico porque amo Senhor dos Anéis. Mas...

Seu olhar se perde.

Entendo o que ela insinua. Ainda não sei se posso confiar em Lisa, mas o que ela diz faz sentido.

Ela pode não ser uma caçadora, afinal.

— Lisa. — Chamo-a e ela me olha. — Como eu posso confiar em você?

Não é uma pergunta. É um pedido.

Eu quero confiar nela.

— Eu não sei... — Ela meneia a cabeça devagar. — Você só está tentando proteger os seus. Faz sentido que não confie em mim. Eu também não confiaria... Se estivesse na sua posição. — Lisa suspira e encosta a cabeça no travesseiro. — Queria deitar em posição fetal, agora. Aish. Não acredito... Talvez minha mãe não goste da __________ porque sabe que ela é descendente da família que ela odeia... De bruxas. Aigoo, eu sou burra! Burra! Aigoo! — Ela fecha os punhos, mas não continua a falar.

Batidas na porta cortam nosso diálogo.

Abro-a e Hoseok aparece com um sorriso satisfeito, mostrando todos os dentes. Ele estica uma bandeja para mim, com um copo pequeno e cheio de um líquido borbulhante e amarelado. Não parece apetitoso, mas é o que eu pedi. Suspiro em alívio e pego o copo.

— Traga água também, pra ela beber.

Hoseok franze o cenho.

— O que aconteceu com o "vamos tratá-la como prisioneira pra que ela saiba que estamos falando sério"? — Hoseok fica sério, espera uma resposta. Eu o olho, monótono. Ele forma um bico com os lábios e assovia com ar de riso. — O.K. O.K. Não está mais aqui quem falou. — Ele ri. — Não esqueça de me chamar pro casamento. — Estreito os olhos e faço um sinal para que ele volte à cozinha. Hoseok ergue as sobrancelhas e sorri sugestivo. — Vou fazer o jantar.

Ele faz questão de puxar a maçaneta da porta.

Para me fechar outra vez no quarto.

Eu mereço.

Viro-me para Lisa, com o copo na mão, e me aproximo. Acendo a luz amarelada do abajur ao lado da cama e me sento na beirada. Fito outra vez o conteúdo gosmento no interior e faço uma careta. Olho-a por cima do ombro e Lisa me espera. Ela fita o copo, depois a mim. Tenta aprumar o corpo outra vez, mas percebo que seus pulsos doem demais agora, para que ela os force de novo.

— O que é isso?

— Pedi a Hoseok que fizesse algo que pudesse te obrigar a falar a verdade. Ele fez isso. — Ergo o copo e ela pestaneja.

— Tipo veritaserum? — Franzo o cenho. — Aish, você nunca leu Harry Potter?

Sorrio com um arfar pelo nariz.

— Acho que poções da verdade não foram inventadas e não são exclusividade de J.K. Rowling. — Arqueio a sobrancelha. — Vai beber?

Ela fita o copo e assente.

— Parece nojento, mas se serve pra tirar a prova, eu bebo. Só não me pergunte coisas muito pessoais, ou algo que viole minha privacidade. — Lisa exige e eu concordo. — Certo. Me dá logo. — Aproximo o copo de sua boca e entorno-o devagar. Ela faz uma careta e prende o ar. Começa a engolir o conteúdo e vai até o fim. Quando termina, respira e morde os lábios, com ânsia. Deixo o copo na mesinha de cabeceira e pego um lenço para limpar sua boca. Ela mostra a língua depois, amarelada, e faz uma careta. — Tem gosto de coisa morta.

— É. — Concordo e deixo o lenço ao lado do copo e começo a calibrar o efeito da poção. — Qual é o seu nome?

— Lisa.

— Quantos anos você tem?

— 19.

— Onde estuda? Quem são seus colegas de classe que eu conheço? Qual é sua matéria preferida?

— Escola secundária de Juggi. Terceiro ano. Eu estudo com Jungkook, Jimin e Taehyung... Acho Jungkook tipo muito bonito. O Jimin é o cara mais fofo que eu conheço e eu já tive uma queda pelo Taehyung, mas acho que ele não gosta de meninas. Só não diz pra ninguém porque tem medo do que podem falar sobre ele. — Ela arregala os olhos e me olha de lado. Inclino a cabeça e prendo a risada. — Meu Deus, alguém me segura. Química. Minha matéria preferida é química. Esqueça o resto.

Sorrio.

— Isso vai ser engraçado.

— Pra você, né? Porque eu estou morrendo de medo de que pergunte se eu tenho uma queda por você. — Ela fala, prende o ar e o rosto inteiro fica vermelho. — Cristo. Não me pergunte isso. Eu não consigo mentir e pelo jeito estou falando demais. Se me perguntar isso, eu vou dizer. Aí depois eu vou pular da janela... Se me soltar, óbvio.

Não aguento.

Eu rio.

Quando consigo me controlar, suspiro.

— Já se divertiu o suficiente às minhas custas? — Lisa pergunta. — Nunca te vi rindo.

— Eu tentei me segurar. — Dou de ombros. — Vou começar as perguntas sérias, certo?

— Tá. — Ela assente.

— Você é uma caçadora? — Pergunto, finalmente, e ela meneia a cabeça em negativa.

— Não. De jeito nenhum. Mas, acho que minha família tem diversas caçadoras. Tenho quase certeza de que minha avó é uma caçadora e tem me treinado de forma indireta, pra um dia me iniciar nesse negócio. Não teria outro motivo pra ela me ensinar a controlar a mente, sentir as energias da natureza, aprimorar minha força física e me ensinar coisas como latim, além de rituais sacrossantos. Eu não imaginava antes, mas agora que eu sei que tenho sangue de caçador, o que obviamente me prendeu no feitiço, acho que elas me treinam.

Ela toma um fôlego e baixa a cabeça, envergonhada.

Fecho o punho sobre o joelho.

Tenho medo da pergunta que farei agora.

— Você quer ser uma caçadora?

Sua resposta é firme.

— Não. Nunca. Se ser caçadora significa destruir vidas como as da família da minha melhor amiga e a sua, eu não quero.

— Você seria capaz de machucar algum de nós? Meus amigos, __________, ou a mim?

Outra vez, sua resposta é direta.

— Não.

— Lisa, eu posso confiar em você?

— Sim. — Ela diz. — Vocês todos podem confiar em mim pra ser até mesmo uma espiã. Não vai ser um sacrifício ficar contra minha mãe. Ela sempre esteve contra mim. Ela não me aceita do jeito que eu sou, a forma como me visto e me comporto. Ela me julga por ser bissexual e ser amiga da __________. Ela me julga por não ser como a Tzuyu, mas, sabe? Eu já fui como a Tzuyu. Eu era amiga dela. Nós éramos inseparáveis no fundamental. Quando fiz 14 anos, comecei a perceber que não tinha interesse só em meninos, e um dia eu falei pra ela... Pra desabafar. Ela disse que entendia, mas depois desse dia começou a se afastar de mim.

Escuto sua história em silêncio, mas quando ela para, não consigo ficar quieto.

— Aí, pararam de se falar?

— Um dia, em uma festa da escola, ela me chamou pra ir ao banheiro. Fui com ela. O banheiro estava vazio, ela me puxou pra um daqueles cubículos e me beijou. Eu a empurrei. Não queria ficar com ela. Nós éramos amigas. As pessoas tem esse preconceito, mas não é porque eu sou bissexual, que quero ficar com todas as pessoas do mundo. Não sentia atração por ela, mas ela se ofendeu. Então, naquela mesma noite, ela se vingou de mim e matou minha vida social.

— O que ela fez? — Franzo o cenho.

— Espalhou que eu usei a nossa amizade pra encurralar ela no banheiro. Ela disse pra todo mundo que eu era uma sapatão enrustida e que já tinha feito sexo com mulheres maiores de idade. Que eu era promíscua e que já tinha me visto fazer coisas sozinha no banheiro da escola, também, várias vezes. Ela disse que eu era falsa, fofoqueira, e que eu era uma "mimada do caralho". Ela falou que sempre foi legal e se preocupava muito comigo, e que eu gritava e deixava ela no vácuo... Ela disse que eu traí sua confiança e sua amizade tantas vezes, que ela cansou de tentar me consertar e desistiu de mim. Depois disso... Demorou anos até que as pessoas não fugissem do banheiro quando eu entrava. E até hoje a única nova amiga de verdade que fiz foi a __________.

Ela para de falar e toma um fôlego, baixa a cabeça. Não quer que eu veja, mas as lágrimas caem por seus olhos. Pestanejo e me levanto, sem saber o que dizer. Apresso-me e solto seus pulsos e tornozelos. Espero por sua reação, mas, em vez de se levantar, ir embora e nunca mais olhar para mim, Lisa encolhe as pernas e abraça os joelhos, encostando a testa neles. Não faz barulho, chora baixinho.

E eu entendo que não cumpri minha promessa de não perguntar nada muito pessoal, que violasse sua privacidade.

Fito o chão, sem saber como me desculpar por isso.

— Sinto muito. — Digo.

É a única coisa que poderia dizer.

— Tudo bem. — Ela fala sem erguer o rosto. Ainda chora. — Posso ficar sozinha um instante?

— Claro. — Falo sem pestanejar. Coço a nuca e saio do quarto.

Fecho a porta às minhas costas.

Caminho pelo corredor. Entro na cozinha em silêncio e vejo o que Hoseok prepara para o jantar. Bulgogi. Ajudo-o a preparar o arroz, finalizar a carne e cozinhar os brotos de feijão. Hoseok vê que estou concentrado, que não quero conversar, e respeita. Ele não faz nenhuma de suas piadas, nenhum de seus comentários bobos, nenhuma graça. E eu agradeço internamente. Mas, enquanto fito a panela borbulhante no fogão, tento imaginar uma garota de 14 anos sofrendo bullying, sendo humilhada por todas as pessoas que ela conhece.

Só porque não gosta exclusivamente de garotos.

Não deve ter sido engraçado.

Quando a comida fica pronta, volto ao quarto e abro a porta devagar. Lisa ainda está deitada, na posição fetal que ela desejou, abraçada a um travesseiro, desacordada. Entro no cômodo e vou até ela. Confiro se ela está confortável e encontro suas bochechas ainda úmidas. Passo a língua pelos dentes e busco um lençol no armário para cobri-la. Fecho as cortinas e deixo o ambiente mais aconchegante. Cubro seus pés, pra que ela não sinta frio, e paro na saída do quarto.

Não sei por quanto tempo a olho.

Saio do lugar e deixo a porta entreaberta. Mal toco no jantar e Hoseok percebe. Depois, ficamos na sala. Ele liga a TV e eu mexo no celular. Mando uma mensagem para Jungkook e outra para Namjoon. Prometi a ambos que avisaria no momento em que tivesse as informações de Lisa, e garanto que ela é de confiança. No fim, mando outra mensagem, para __________. Digo que ela pode ficar tranquila, porque Lisa é a melhor amiga que ela poderia ter, e encosto a cabeça na poltrona.

E o tempo escorre em meu silêncio.

Em algum momento, Hobi me olha de lado.

— Hyung, eu jurava que ia me deixar sozinho e ia ficar lá com ela. — Ele fala, comendo o último pacote de batatas chips do meu armário. — Já tava pensando em alguém pra ligar pra dar uma saída e tal. Já imaginou, ser rebelde e não acatar as ordens do Jin Hyung?

Não sorrio.

— Ela está dormindo. Não quis atrapalhar.

— Sei como é. Sempre bate uma bad vibes depois dessa poção. Aquele troço é um inferno. E eu peguei a última pílula do estoque pra fazer a poção pra você. Agora só daqui há seis meses vou ter estoque renovado. A gente teve até sorte de ter um pra tirar a verdade da moça. Tadinha... Ela ficou presa à toa, né? Parece ser uma menina legal.

— Ela é...

A campainha toca e eu fito a hora no celular.

Passa da uma da manhã.

— Visita a essa hora, Sr. Min Yoongi? — Hobi ergue uma sobrancelha. — Aish. Pensei que seria Sope da madrugada, hoje. Já tinha pegado até umas máscaras pra gente hidratar a pele e tomar uns sorvetes assistindo o filme dos Vingadores.

— Mas que diabos... — Resmungo. Levanto-me e vou até a porta, olho pelo olho mágico. O que vejo me assusta. Jeon Jungkook  veste uma calça preta, uma camisa de mangas longas, também preta, e carrega sua mochila camuflada gigante. Ele olha para os lados. Franzo o cenho e abro a porta. Ao ver seu rosto mais de perto, percebo os detalhes. Há um talho em seu rosto, abaixo da cicatriz em sua bochecha, e suas pupilas estão dilatadas, apesar de ele estar sob um refletor acima da minha porta.

— Hyung...

— O que tá fazendo aqui a essa hora, Jungkook?! Onde está a __________?

— Posso dormir aqui, hoje? Saí de casa.

***


Notas Finais


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Obs.: Se você não entender qualquer coisa, pode me perguntar que eu respondo e explico direitinho, não vai custar nada pra mim, só quero que vocês se divirtam. <3


~~Ghokiss


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