Acordo em um sobressalto e me arrumo com lentidão até perceber que estou atrasada. Desço as escadas e dou de cara com Karen que me encara.
- Bom dia. – Ela diz mas me desvio dela. - É assim que você trata as pessoas? – Sua voz irritante ecoa atrás de mim. Suspiro e volto me á ela, mas não á encaro.
- Não. – Olho para ela. – Você não é uma pessoa, então... – Dou de ombros e ela apenas aperta os olhos.
- Você gosta de ser um desafio, não? – Ela se aproxima de mim e abaixo a cabeça, pois seu perfume caro e doce impermeia por todos os cantos. – Pois saiba, que adoro um, e você não será a primeira e nem a ultima á me desafiar.
- Estou te desafiando? – Cruzo os braços.
- Me diga você mesma.
- Não, não digo. – Aproximo-me dela para parecer mais convincente. – Você está na minha casa, pisando no meu chão, e dormindo no mesmo quarto em que minha mãe dormia, e com o mesmo homem...
- Então o problema continua sendo a sua mamãezinha? – Ela me interrompe.
- Ainda não terminei... – A encaro e cerro os olhos. – E o único direito que você tem aqui, é de ficar calada, pois nada aqui te pertence. Nada.
- Não é o que o documento de casamento que eu tenho com o seu pai diz.
- Uma folha de papel não diz nada. Mas eu digo, e tento parecer o mais clara possível. – Dou uma pausa e abaixo mais o tom. – Não se meta comigo Karen, você ainda é novata aqui.
- Posso ser novata aqui, mas não na vida, garota. Você não viveu nem a metade que eu.
- Mas tenho mais valor que você. Pois sei onde é o meu lugar.
- O meu lugar é aqui e agora, ou melhor. – Ela sorri. – É onde eu quiser que seja, e você não pode fazer nada, apenas sentar e chorar. Seu pai está comigo agora, e não com a defunta.
- Olha como você fala. – Cerro os dentes.
- Não irei olhar nada. Quem deveria pensar duas vezes antes de fazer as ações, é você Cindy.
- Pelo menos eu não preciso pisar em ovos.
- E eu estou? – Ela franze a sobrancelha. – Tenho muita cautela e sei onde eu devo meter os pés. Você por outro lado está metendo os pés pelas mãos. Toda cautela é pouca Cindy, deveria seguir o meu exemplo.
- Só no caixão.
- Como a sua mãe está?
- Você sempre volta á minha mãe para me prejudicar, não é?
- É nela que está a sua ferida Cindy, e irei machuca-la até você saber onde deve se opor. – Ela saí silenciosamente pela sala e tento me segurar para não pular em seu pescoço.
Suspiro algumas vezes e agarro o apoio da escada até as juntas dos meus dedos ficarem brancas. Essa mulher não deveria estar aqui, e será eu quem irá tira-la, por bem ou por mal.
- Precisa de algum remédio para se acalmar Cindy? Você parece tensa. – Ryan passa por mim com um sorrisinho na boca.
- Vai se ferrar. – Respiro fundo.
- Tem certeza de que não precisa de ajuda irmãzinha?
- Não preciso de mais ninguém para me atormentar. – Ele ri e tenta colocar a mão no meu ombro, mas a afasto de uma vez e sua mão bate no ferro do apoio da escada. Parece não o ter ferido mas ele segura o meu braço o apertando.
- Se você... – Ele tenta me ameaçar.
- Se eu o quê? Vai bater na sua irmã? – Solto do seu braço e ele me olha sem expressão. - Você chegou á esse ponto? O que aconteceu? Com o que você está mexendo Ryan?
- Vai cuidar da sua vida. – Ele saí, e encaro a sua silhueta se afastando e tento manter a calma.
O dia só está começando. Calma Cindy.
XXX
Chego á escola e vou até o corredor dos armários para pegar meus materiais, quando escuto uma voz grossa e pouco familiar ao meu lado.
- Srt. Parker? – Pergunta a voz.
- O que foi? – Pergunto distraída enquanto tento achar o livro de Física.
- Quero você na minha sala agora. – Diz a voz pouco gentil. Olho para o lado para encarar a pessoa e dou de cara com uma figura alta, negra e calva. O Sr. McCarley, o Diretor.
- Posso saber por quê? – Fecho a porta do meu armário com força.
- Por causa de ontem.
- Seja mais especifico por favor. – Coloco os livros em minha mochila e ele suspira impaciente.
- Por causa da confusão na porta da escola. – Ele me encara. – E por favor encontre seus bom modos e fale direito com o seu Diretor. – Me apoio no armário. – Você não está falando com um colega. Ah, e agradeça por eu estar vindo pessoalmente chama-la.
- Ah, claro. – Reviro os olhos.
- Me acompanhe por favor.
- Espera aí. Só irá me chamar? E aliás, por que está me chamando se eu nem estava na briga?
- Você ligou para a polícia e depois foi embora. Mas mesmo assim eles pegaram seu irmão.
- Pessoas fazem trotes o tempo todo. Porque só eu devo ser punida?
- Então quer dizer que esse não é o primeiro? – Ele levanta as duas sobrancelhas.
- Não sou eu quem deveria saber, você é o Diretor não é? Deveria saber tudo que se passa aqui.
- Não venha com outro assunto.
- Que outro assunto? Estou apenas dizendo...
- Me acompanhe Srt. Parker. – Suspirei e o segui no corredor até chegar á escada.
Quando chegamos á sua sala vi Ryan e o novato. Suspirei inquieta. O tal moreno estava sentando todo esparramado com uma cara de sono ou tédio e Ryan estava sentando com o rosto apoiado nas mãos. Fiquei em pé ignorando a cadeira ao lado de Ryan quando o Diretor pediu que eu sentasse.
- Bom, já que estão todos aqui. – Ele se ajeitou na enorme cadeira. – Quem começou? – Perguntou o Diretor. Ficamos em silêncio. – Sr. Malik? – Pelo menos agora sei que seu sobrenome é Malik. Ele levantou o olhar preguiçoso para o Diretor.
- O quê? – Sua voz ecoou.
- Quem começou a briga? – Perguntou Sr. McCarley novamente.
- Não sei se reparou, mas não estou só eu na sala.
- Eu vejo perfeitamente. Mas quero que você responda, já que causou mais estrago.
- Eu causei mais estrago? – Ele ergueu as duas sobrancelhas.
- Evidentemente. – O Diretor tornou á olha-lo.
- Se quer evitar esse tipo de estrago, peça para que seus alunos procurem briga com outro. Não é minha culpa que eles se entupam de drogas e depois saem xingando qualquer um. – Diz ele ríspido.
- Então veja primeiro com quem você se mete. – Ryan se pronunciou.
- Eu vejo otários procurando briga de graça para bancar de durões. – O novato disse novamente.
- Não permito esse tipo de palavriado em minha sala. – Disse o Diretor.
- Então vamos para outro lugar que não seja de seu domínio. – Ele retruca.
- Calcule suas palavras Sr. Malik. – Disse o Diretor.
- Então peça para que seus aluninhos de merda calculem suas ações.
- Não admito essas suas palavras em meu Colégio. – O diretor disse. O novato suspirou e ficou calado. – Sr. Parker, como entrou na briga? – Perguntou o Diretor.
- Fui defender um amigo. – Disse Ryan.
- Não se defende um amigo com violência aqui no meu Colégio.
- Parece que nem todos seguem suas regras. – Murmurou Ryan.
- Ah, é mesmo? – Disse o Diretor rígido. – Pois bem. – Ele começou a anotar algo em um papel. – E você Srt. Parker? Como entrou nisso tudo?
- Achei que já sabia. – Me encostei na parede.
- Quero a sua versão.
- Eu só liguei para a polícia para que parassem a briga.
- Mas depois foi embora, por quê?
- Porque a briga já tinha parado.
- Mas a polícia pegou Ryan e mais dois que não estão presentes. Zayn também já tinha ido. Porquê? – Sr. Mccarley tornou á olhar o novato que agora eu sabia que se chamava Zayn.
- Se fosse pra ter que fazer descrições eu preferia ter sido pego pela polícia. – Murmurou Zayn.
- Como Sr. Malik? – Perguntou o Diretor.
- Eu tinha coisas melhores á fazer do que ser pego pela polícia. – Ele tornou a falar.
- Então evite conflitos. – McCarley disse. Ele anotou mais algumas coisas em uns papéis. – E você Srt. Parker, vê se não sai por aí ligando para a polícia. – Assenti. – Vocês podem ter fugido da polícia, mas não podem fugir do Colégio e suas responsabilidades e consequências. – Ele disse enquanto continuava a anotar algo em seu papel. – Sr. Parker, irá ficar na Detenção por duas semanas seguidas, estou sendo mais ameno pois ainda estamos no começo das aulas depois do verão. E vocês dois, Srt. Parker e Sr. Malik, irão ficar com os trabalhos comunitários apenas por uma semana, a partir da semana que vem, pois ainda estamos em organização. Irei comunica-los quando eu resolver o que irão fazer e quando. Considerem-se agradecidos por eu não ter chamado seus pais e não ter tomado medidas maiores.
- Medidas maiores? – Pergunta Ryan inconformado. – Só pode ser brincadeira. – Murmura ele.
- Não, isso aqui não é uma brincadeira e você já deveria estar informado. Obrigado pela presença de vocês e os vejo depois. – Disse o Diretor rispidamente e saí da sala abruptamente esbarrando em Zayn quando fui atravessar a porta.
- Olhe para onde anda. – Disse eu e ele apenas me olhou de soslaio e saiu pelo corredor á fora.
XXX
- Trabalhos comunitários? Que pé no saco. – Grace disse olhando a sua comida. – Pelo menos é com o Zayn.
- E ser com o Zayn muda o que?
- Muda tudo ué. – Ela deu uma mordida em seu hambúrguer.
- Não, não muda nada, apenas vai ficar mais tedioso.
- Aposto que não. – Ela olhou para uma mesa atrás dela onde Zayn estava. – Ele é um gostoso e... Vai que vocês se pegam na sala da limpeza.
- Nem em sonho Grace. – Á encarei de cara feia.
- Mas talvez na vida real...
- Pare com isso.
- Isso é uma das consequências de andar comigo.
- Vou começar a repensar se isso é uma boa ideia.
- Tudo bem, eu paro. – Ela deu outra mordida em seu hambúrguer. – Mas não diga que eu não te avisei sobre você e o Zayn. – Disse ela com a boca cheia.
- Se você dizer isso mais uma vez eu faço você engasgar com esse seu hambúrguer.
- Quero só ver. – Disse ela com a boca mais cheia.
- Come de boca fechada nojenta. – Dei uma batidinha em seu queixo para que ela fechasse a boca, mas ela fez uma cara de dor e me olhou feio.
- Você me fez morder minha língua! – Ela pôs a língua pra fora.
- Então coma direito. – Sugeri com um aceno de cabeça e ela me olhou de cara feia novamente.
XXX
- Os testes para líderes de torcida irá começar daqui á duas semanas. – Diz Grace ao meu lado na saída.
- Já estão avisando? – Pergunto para ela.
- Não, é que eu estava passando na porta da diretoria e vi uma garota... – Ela olha ao redor. – Como ela chama mesmo?... – Ela tenta se lembrar. – Mary...Mellany...Meg...
- Megan? – Digo o nome com desgosto.
- Sim, acho que é isso. – Ela arruma seus materiais no armário. – Ela estava comentando com uma professora.
- Hum. – Comentei e começamos a caminhar.
- Então, você já sabe quando os seus trabalhos comunitários irá começar?
- Acho que semana que vem, não me lembro bem.
- Ainda bem que é com o moreno gostoso não é? – Ela me provoca.
- Tudo bem Grace, ele é sim bonito e pronto. – Procurei meu celular.
- Só bonito? Tem certeza que não falta mais alguma característica nisso? – No mesmo instante Zayn passou por nós e fez questão de me encarar até desaparecer ao meio dos estudantes. Respirei fundo pois tinha parado de respirar quando ele passou. – É, com certeza falta não só algumas, mas muitas características para aquele garoto. Você viu como ele te olhou? Foi como ‘’te quero na minha cama agora’’. – Ela provocou.
- Eu vou tacar aquela lixeira na sua cara se você não parar de gracinha Grace. – Disse eu séria.
- Nossa. – Ela pôs suas mãos para cima como rendição. - Desculpa aí. – Desviei o olhar e comecei a andar mais rápido. – Estamos fugindo de alguma coisa? Pois você está quase correndo.
- Até mais Grace. – Disse eu colocando meus fones.
- Espera, eu disse algo errado? Achei que achar garotos bonitos na nossa idade é normal.
- Não, você não fez nada. – Cheguei até meu carro.
- Mas...
- Tenho muitas coisas á fazer. Até amanhã Grace.
- Até. – Ela acenou e dei partida no carro.
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