História Heartbroken - Capítulo 17

 Acordei mais cansada do que quando eu tinha ido dormir. Levantei lentamente da cama e senti um vento forte bater contra meu corpo e fazê-lo imediatamente tremer. Eu tinha ido dormir com a janela aberta e tinha esquecido de fecha-la. A fechei e fui direto para o banheiro tomar um banho quente. Demorei o bastante para sair parcialmente disposta para o dia que me esperava.

 Coloquei uma calça jeans clara, uma blusa escura de mangas e coloquei meu casaco jeans. Passei um pouco de pó para tirar minhas terríveis olheiras e passei um batom claro pois meu lábios estavam ressecados. Enquanto passava o batom lembrei-me do dia anterior. Lembrei-me do momento que tive com Zayn e do nosso beijo. Eu não sabia o que iria acontecer se eu o encontrasse no dia seguinte. Eu só sabia que estava ansiosa, ansiosa para vê-lo.

 Por fim escovei meus cabelos, os deixei caídos em meus ombros como sempre e desci com minha mochila nas costas. Fui direto para a cozinha dos fundos pois não senti necessidade de cumprimentar quem estava na mesa, que no caso era Karen. Vi Anna na cozinha fazendo panquecas e depositei um beijo em sua bochecha.

 - Oi. – Disse ela. Ela sorriu e retribui. – Como está? – Perguntou ela se virando para mim e cruzando seus braços.

 - Bem, por que? – Derramei calda nas panquecas que estavam em um prato em cima do balcão e comecei a comer.

 - Bem, é? – Ela me observava.

 - Sim, bem. Por quê? Eu deveria estar mal?

 - Não, claro que não. Onde passou a noite anterior, mocinha? – Indagou direta.

 - Como assim?

 - Você não dormiu em casa no final de semana, então onde dormiu?

 - Na casa de uma amiga, já discuti isso Michael, por favor não me faça mais perguntas.

 - Não irei fazer, só estava preocupada com você. Nunca mais saiu de casa e de repente sai para uma festa e some de casa por quase dois dias. Achei estranho. – A ouvi enquanto comia minhas panquecas, estavam deliciosas.

 - Pois é... Parece que os velhos hábitos voltaram. – Disse eu sem dar muita importância.

 - Ah é? Então com quem você ficou? – Olhei para ela incrédula.

 - O quê?

 - Você sempre saia com garotos antes.

 - Você fala como se eu saísse sempre com um garoto diferente.

 - Não é isso, é que depois que tudo aconteceu nunca mais você teve a vida social de antes.

 - Sim, e foi porque eu mudei. As ocasiões me mudaram. Acho que prefiro quem eu sou agora, apesar de tudo...

- Então você prefere estar com as pessoas de agora, do que de antes?

 - Com algumas sim. Mas outras não. Na verdade... Depois de tudo, todos de antes foram embora. Acho que era porque eles não deveriam estar ao meu lado, de qualquer forma.

 - Isso vale para quem? – Nossa conversa estava se prolongando cada vez mais.

 - Para todos em geral. Acho que eu me conformei com tudo... Pois acho que existem pessoas com os mesmos problemas e até mesmo piores do que os meus. Não vai adiantar eu ficar sofrendo por algo que já passou. Eu tenho a mesma vida, só que de modo diferente e á vejo de modo diferente também. E tudo isso aconteceu por causa da perda da minha mãe e acho que isso aconteceu porque tinha que acontecer. Não para mostrar quem deveria ficar, mas para me tornar uma pessoa mais madura. Claro que eu daria tudo para tê-la de volta, mas agora acho que me conformei... Com tudo. – Anna ainda me observava, mas ela me olhava de outra forma.

 - Antes eu tinha minhas dúvidas, mas agora vejo que você mudou muito, Cindy. Com quem você está andando? – Sorri sem querer.

 - Apenas fique tranquila. – Tentei confortá-la e ao mesmo tempo fugir da resposta. Dei um beijo em sua bochecha e saí da cozinha indo para o estacionamento.

XXX

 Assim que desci do carro, já no estacionamento do Colégio, Grace quase pulou em cima de mim.

 - Menina do céu! Onde você esteve? – Indagou preocupada.

 - O que foi? – Perguntei.

 - Você evaporou da festa, onde foi? Fiquei sem noticias suas até hoje.

 - Sim, desculpe. Esqueci de avisar que estava tudo bem.

 - Esqueceu mesmo. Mas, onde você foi depois da festa?

 - Depois eu te conto. – Ela sorriu maliciosamente. – Não é nada disso, ou quase... – Seu sorriso aumentou e tive que rir.

XXX

 Só achei Zayn na hora do intervalo e mesmo assim, ele não pareceu me procurar nem nada. Eu não sabia se tinha posto muitas expectativas em vê-lo ou se era assim mesmo que tinha que ser. Comecei a repensar se tinha sido um erro tudo que aconteceu no dia anterior. Eu o observava com pesar do outro lado da cantina. Ele estava sentado jogado na cadeira, como sempre. E tinha um olhar sério, como se estivesse pensando em algo. Eu queria saber o que ele estava pensando, mas acho que eu já tinha ido longe demais para saber coisas sobre sua vida. Comecei a sentir como se eu estivesse me intrometendo em sua vida. E cada minuto que passava com seu silêncio, eu sentia como se estivesse mais certa disso.

 Eu apenas via Grace gesticulando, eu não estava ouvindo o que ela estava dizendo.

 - Cindy. Cindy! – Ela balançou meus ombros e fui obrigada á olha-la.

 - O que foi? – Perguntei baixo.

 - Onde você realmente está? Porque aqui, você não está.

 - Ah, desculpe. O que estava mesmo falando? – Perguntei.

 - Da festa. Foi muito bom, Niall ficou comigo a maior parte do tempo e nos divertimos muito. – Assenti. Ela estava entusiasmada e eu queria mostrar que estava feliz por ela, mas eu apenas consegui dar um pequeno sorriso.

 - Ah. Que bom. Você gosta mesmo dele, não é?

 - Sim, na verdade... Acho que quero ir devagar. – Assenti.

 - Sim... Niall é um excelente garoto, apesar de eu não o conhecer bastante. – Ela assentiu.

 O sinal bateu e percebi que eu mal tinha tocado em minha comida.

 Observei Zayn se levantar de sua mesa, sozinho. Comecei a andar com Grace e ao mesmo tempo observa-lo até que eu acabei esbarrando em alguém.

 - Cindy, não está olhando para frente? – Perguntou ela.

 - Ah, estou, desculpe.

 - Está tudo bem com você? – Perguntou ela preocupada e assenti. Eu não queria dizer que estava bem, pois eu não queria mentir, não mais. Eu já tinha mentido muito até hoje.

 Fomos para a sala e eu tinha aula com Zayn. Eu não conseguia me concentrar na aula nem que tentasse. O que diabos estava acontecendo comigo?

XXX

 Já tinha batido o sinal da saída e fiquei esperando por Grace e enquanto ela não aparecia vi Zayn passar por mim. Respirei fundo, tomei coragem e chamei por seu nome.

 - Zayn! – Ele parou e demorou um pouco para se virar, eu já estava achando que ele iria me ignorar. Ele se virou e me encarou, engoli em seco ao ter seu olhar em mim. – O que está acontecendo? – Perguntei quase baixo de mais.

 - Como assim? – Ouvi sua voz e imediatamente senti algo dentro de mim.

 - Você não... – Parei de falar.

 - Eu não o quê? Deveria estar acontecendo alguma coisa? – Sua voz estava mais rígida. Será que eu fiz algo que não deveria?

 - Não sei, deveria? – Ele demorou um tempo para responder e eu não sabia se ele deveria mesmo responder. – Eu achei que você...

 - Que eu iria falar com você? – Ele falou de uma maneira estranha e um tanto rude. – Seja o que for que você imaginou, não pense que iria acontecer.

 - Eu não imaginei nada. – Eu estranhamente estava assustada. – Você não se lembra de ontem?

 - O que aconteceu ontem deveria fazer com que algo acontecesse hoje? – Mordi meu lábio.

 - Acho que sim. É o que normalmente acontece... – Respirei fundo. – Eu fiz algo que não deveria?

 - Sim, você ficou sabendo de coisas demais. Não era para isso acontecer. – Minha incerteza sobre ter invadido a vida dele estava certa. Eu fui tola em querer me intrometer. – Mas infelizmente aconteceu e não tem como desfazer.

 - Não tem mesmo. Mas, me desculpe então, eu não sabia que não deveria tentar te entender. Eu fui uma idiota. – Minha voz fraquejou.

 - Você não foi idiota, apenas... Eu deixei que tudo acontecesse e eu não deveria. Eu que fui um idiota em te levar para minha casa. Nada daquilo deveria ter acontecido. – Me aproximei dele apesar de minhas pernas fraquejarem. Eu queria perguntar mais coisas para tentar entende-lo, mas já fui idiota o bastante.

 - Sim, você foi um idiota mesmo. E está sendo mais idiota agora, por não ter aceitado os seus erros. Ontem foi um erro, você não deveria ter me levado para sua casa, você não tinha nem o direito, você não é nada meu e eu não te pedi nada. Você é um idiota covarde, Zayn. – Virei-me para tentar seguir meu caminho, mas ele segurou meu pulso.

 - Não me chame de uma coisa que eu não sou. – Disse ele. Puxei meu pulso de sua mão e olhei para ele. Sua expressão ainda estava séria.

 - Se não é covarde, então é o que? – Ele se aproximou.

 - Eu posso ser muitas coisas, mas não sou covarde. – Murmurou ele para mim. Ele estava perto demais.

 - E não aceitar suas ações é o que? Se não é covardia, é o que? – Ele me observou.

 - Só estou tentando te proteger. – Murmurou ele se afastando.

 - Me proteger de quê? – Perguntei e ele desviou o olhar.

 - Você já passou por muitas coisas, não quero fazê-la sofrer ainda mais. – Respirei fundo ao ouvir suas palavras e o observei caminhar para longe de mim.

  O que ele queria dizer? Que iria me machucar? Se fosse realmente isso, eu queria correr o risco. Eu sentia algo em mim que queria tentar. Apertei meu punho com minhas unhas. Logo depois Grace apareceu ao meu lado.

 - Aconteceu algo? – Perguntou ela se aproximando. -                Você está diferente. – Engoli em seco e olhei para ela.

 - Sim, estou. – Respondi com seriedade.

 - Está tudo bem?

 - Não. - Suspirei com dificuldade.

 - O que aconteceu? Quer que eu te ajude em algo?

 - Por agora não, obrigada. – Ela assentiu.

 - Então, até mais... – Ela se virou para ir. Mas á chamei novamente.

 - Espere, Grace... – Ela se virou e me aproximei dela.

 - O que foi? – Perguntou ela suavemente quando á abracei. Ela retribuiu o abraço me apertando e fechei os olhos.

 - Eu só... – Tentei dizer ao me afastar. – Obrigada. – Ela assentiu.

 - Não está tudo bem, não é? – Disse ela e assenti. – Você... Você gosta mesmo dele, não é? – Franzi as sobrancelhas ao ouvi-la.

 - Como assim? – Ela deu um meio sorriso.

 - Eu vi você conversando com Zayn agora pouco. Quer contar o que aconteceu? – Assenti hesitante. – Tudo bem... Você pode vir comigo para minha casa, de toda maneira temos matérias para aprender juntas. – Assenti. - Bom... Você ficaria bem em vir comigo não é? Pode ficar tranquila, eu fico sozinha a maior parte do tempo em casa. Minha mãe trabalha o dia todo e minha casa não é tão longe daqui... Então, vamos? – Assenti.

 Fomos juntas para a casa de Grace, eram só três quarteirões longe do Colégio. Conversamos a maior parte do tempo, mas sobre coisas fúteis. Ela não perguntou nada sobre Zayn e fiquei grata por isso. A casa dela não era tão grande pois só moravam ela e sua mãe. Mas comparada á outras, era bem organizada. Fomos para a cozinha e ela esquentou uma pizza de quatro queijos que estava na geladeira e comemos.

 - Quer mais? – Perguntou ela de boca cheia e ri.

 - Não, obrigada. – Ela assentiu e pegou outro pedaço. – Você mal terminou esse e já está pegando outro?

 - Eu perguntei se você queria mais, não perguntei?

 - Não é disso que estou falando. – Ela continuou me olhando desentendida e ri. – Deixa. – A observei terminar de comer. – Então, você fica o dia todo sozinha? – Ela assentiu. – Não tem irmãos, não é? – Ela negou. – Não quero parecer indelicada, mas... E seu pai? – Perguntei e ela engoliu o último pedaço da pizza.

 - Não tem problema em perguntar. Meus pais são divorciados e eu sou filha única.

 - Não se sente sozinha demais? – Ela negou.

 - Não... Já me acostumei.

 - Algum parente seu mora aqui?

 - Em Chicago? – Assenti. – Não. Eu e minha mãe nos mudamos por causa do emprego dela. Tínhamos que nos mudar por que nossa antiga cidade era no interior da Georgia.

 - Você tinha pessoas importantes lá?

 - Meu pai.

 - E amigos?

 - Eu só tinha colegas que não davam a mínima para mim. Não me importei em deixar ninguém, meu pai já tinha me deixado mesmo... – Ela olhou para suas mãos que estavam em cima da mesa.

 - Talvez seu pai... – Tentei confortá-la mas ela me interrompeu.

 - Você não o conhece, não precisa defende-lo para me fazer sentir melhor. Ele me deixou e é isso. Não tem mais nada para se fazer.

 - Tudo bem... Mas você tem contato com ele? – Perguntei e ela voltou seu olhar para mim.

 - Não e nem quero ter. Se ele algum dia quiser saber algo de mim, terá que procurar por conta própria, pois eu não vou correr atrás dele, não fui eu quem o deixou. – Ela se levantou da mesa. – Bom, vamos parar de falar nisso... Então, você já fez o trabalho de Física? – Olhei para ela confusa.

 - Que trabalho?

 - Ah, então você não fez. Deve estar com a cabeça nas nuvens por causa do... – Ela se cortou e levou nossos pratos á pia. – Desculpe.

 - Pode terminar, talvez seja mesmo a verdade. – Eu sabia sobre o que ela estava falando.

 - Ah, então é? – Assenti. – Você ainda não contou porque estava estranha mais cedo.

 - Não, mas irei se você quiser saber. – Ela voltou-se á mesa e sentou-se á minha frente.

 - Mas é claro que sim.

 Contei tudo que aconteceu e sobre o nosso beijo. Grace estava com os olhos arregalados. Se eu não á conhecesse ficaria desconfortável, mas eu não estava. Pelo menos nem tanto. Eu só estava decepcionada. Decepcionada com a reação de Zayn, e com tudo. Eu preferiria que nada disso tivesse acontecido, pelo menos eu não me sentiria estranha, como estou me sentindo agora. Me sentir assim me irritava. Eu tinha posto muita expectativa em algo que não deveria nem ter acontecido. Fui bem mais tola do que eu achara que fosse.