História Kai é apenas um YôKAI - Único.

Lá está ele com o seu kimono azul marinho e suas orelhas felpudas. Kai está sentado na beirada do lago, bem onde o conheci quando eu tinha apenas cinco anos.

Hoje é seu aniversário e combinei com os espíritos da floresta em organizar uma festa surpresa para o mais velho, embora que não sei quantos anos o mesmo está fazendo. Desde que o conheci ele nunca mudou a aparência, sempre foi alto e de musculatura atraente, sua pele é bonita e bronzeada. Quando eu era criança eu não ligava sobre sua corporatura, mas agora com vinte e cinco anos eu me sinto ainda mais atraída por ele.

— Kaaaaaaaai. — prolonguei seu nome enquanto o chamava.

— Aurora? — se virou para mim.

— Levanta essa bunda da beirada dessa água e vem comigo. — o puxei, mas o mesmo é tão teimoso que por um descuido meu cai no lago junto com ele.

— Seu Youkai miserável. — emburrada, bati na água.

— Sua tampinha. O que falei para você durante todos esses anos? — falou me pegando no colo e me tirando da água fria.

— “Aurora cabelo de mola vá embora.” — digo o imitando. Me apelidou desse jeito por causa dos meus cachos definidos.

— Não é isso bobinha, já é uma mulher adulta, tem que tomar mais cuidado. — fomos até a casa do templo e nos secamos com a toalha que fica pendurada na porta.

Kai abaixou seu kimono até sua cintura e ali pela primeira vez, vi todas as passagens de tempo estampada em sua pele reluzente. Ouvi essa história por algum espírito da floresta quando eu era criança. Claro que ouvi escondida eu era uma garotinha muito atrevida.

— YAAAH, vai ficar aí só olhando? — me deu um cascudo.

— O QUEEEE? Kai YouKAI. — apontei rindo escandalosamente para a sua cara. Sei que ele detesta o seu nome, porque segundo ele não tem nada de atrativo, mas isso não importa para mim, pois ele é bem atraente aos meus olhos.

— Kai Kai balão, Kai Kai balão, aqui na minha mão. — cantarolei.

— Heeh? Sua pirralha miserável. — gritou comigo, eu amo irritá-lo.

— Não vou lá, não vou lá, não vou lá
Tenho medo de apanhar! — cantei enquanto corria dele pelo templo.

— Você vai apanhar é de mim se continuar a me insultar. Não será possível que uma “entidade” como eu não tenha um pingo de respeito, ainda mais por uma jovem humana, puff. — disse se rendendo.

— Kai, Kai orelhas felpudas e rabo fofo. — quando eu disse ele me alcançou e caiu sobre mim. — O-orelhas felpudas e r-rabo fofo. — repeti olhando no fundo de seus olhos. Estamos muito próximos, consigo ouvir sua respiração pesada sobre meu pescoço.

— Francamente garota! — disse se levantando de cima de mim. Puxei sua cauda longa e ele deu um grito, me fazendo rir da situação.

— Cauda fofa. — não tem jeito, por mais que Kai me atrai como homem, ele sempre será o meu Youkai felpudo.

— Vamos lá, logo você tem que ir embora e só a verei novamente na primavera. — disse um pouco triste.

— É tenso ser uma idol. — fiz drama.

— Kai-sama, Aurora-sama venham comer. — Lupith um dos espíritos da floresta nos chamou. Então com certeza está tudo pronto para comemorarmos o aniversário de Kai.

— O que essa pirralha tem na cabeça? — passou a mão entre os cabelos.

— Estamos indo Lupith, vou só trocar de roupa. E você senhor youKAI — dei ênfase — não vá antes de mim. Está me ouvindo?

— Tá garota. — se virou e entrou em seu quarto.

Não trouxe uma roupa reserva, então peguei um kimono vermelho com florzinhas amarelas que Hawa me deu. Não sei se é certo usá-lo pelos costumes, mas é a única peça que tenho para vestir enquanto as minhas secam.

Terminei de me arrumar, quando abri a porta do “meu” quarto vi que Kai estava a minha espera. Ele está usando agora um kimono azul claro, seus cabelos estão penteados para trás, e não sei porque está com uma espada de dois gumes amarrados nas costas.

— Au-ro-ra. — falou meu nome pausadamente me olhando. Confesso que fiquei com um pouco de vergonha pelo seu olhar sobre meu corpo.

— Não seja inconveniente. — tampei o corpo com as mãos.

— Pirralha desgraçada. — bagunçou os meus cachos.

— Youkai felpudo! Por que está com essa espada nas costas? Idiota! — gritei.

— Está de noite, não está vendo? — pegou o meu rosto erguendo minha cabeça para o céu. Quando que as estrelas apareceram tão de repente?

— Idaí? — tirei suas mãos de meu rosto o repreendendo.

— Idaí que tenho que te proteger, ou algo do tipo... — falou fazendo suas bochechas levemente corarem.

— Está bem. — fomos andando um do lado do outro até chegar ao salão de festas, único lugar que está com as luzes acesas.

— Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida. — os espíritos cantaram a música em suas respectivas línguas. Não entendi muito bem, mas fiquei feliz que esses pequenos “bichinhos” se importam tanto com o Kai.

— Ah, vocês querem me matar do coração? — falou assustado.

— Assopra logo as velas. — digo com o bolo em mãos.

— Você não tem jeito mesmo, não sabe nem a minha idade. — assoprou as velas.

— Isso não importa você nunca muda. Fez um pedido antes? — digo animada.

— Talvez. — fez biquinho.

— Vamos comer. — Lupith e Hawa pegaram o bolo de minhas mãos, logo os espíritos se empanturraram de comida e bebida. Kai e eu fomos para a fora da casa para conversarmos.

— Como não desconfiei disso? — se sentou na escada, me sentei também ao seu lado.

— Foram anos me programando. — bateu um vento forte e olhamos para o céu. A lua e as estrelas estão iluminando a grande floresta.

— Anos? — se virou para mim.

— Sim, anos. — afirmo. — Você não muda. — bati em seu ombro.

— Não, mas você sim. — disse cabisbaixo.

— Eu não, sempre serei sua “pirralha cabelo de mola.” — digo e ele tocou em minha mão enquanto novamente olhava para o céu.

— Quero continuar sendo o seu Youkai. — disse isso e deitei minha cabeça em seu ombro. Os espíritos soltaram fogos de artifício aos céus e ficamos juntos observando. Espero que esse seja o seu desejo de aniversário.

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Assistimos os fogos se abrirem em um brilho de luz