História Laços Inquebráveis - Practikal

Aquele lugar era simplesmente incrível. Pra começar, não parecia só uma dessas casas de fliperama que você vê nos filmes por aí. A Practikal era enorme. Tinha uma área grande onde ficava localizada a lanchonete, com mesas vermelhas e cadeiras de espuma e sem espuma, do jeito que você podia escolher qual era melhor.

Havia um degrau, que separava a lanchonete da área de jogos, e lá você podia ver todos os tipos de jogos possíveis que consegue lembrar, desde fliperama e acerte o alvo, até jogos 3D de dirigir/atirar, além de Just Dance e Guitar Hero – onde ficava várias TVs enormes juntas.

A Practikal tinha luzes coloridas em todos os lugares, como se você estivesse participando de um show ao vivo em que na verdade, o astro era você. Na frente do local, tinha “Practikal” escrito em néon na cor azul.

Newt e Thomas estavam sentados numa das mesas redondas de espuma na área da lanchonete. Dali dava pra ver tudo e todos. O lugar não estava tão cheio, mas já tinha bastante gente.

– Parece que você gostou. – Thomas falou com as sobrancelhas levantadas e sorrindo para Newt. O louro estava olhando para todos os lados desde a hora em que chegaram, não sabendo para o que olhar primeiro. Até o teto o garoto olhou.

Newt então olhou para Thomas e mordeu os lábios. O moreno riu.

– É difícil não gostar. – Newt respondeu e Thomas sorriu.

– É mesmo né Newt? Aqui parece um paraíso adolescente! – eles ouviram a voz de Teresa ao lado deles, ao mesmo tempo em que ela empurrava Thomas e Minho empurrava Newt para se sentar. – Adorei sua jaqueta! – ela apontou pra Newt. – É de Brandon, não é?

– Obrigado, e é sim. – Newt sorriu torto.

– Mas que demora vocês hein? – Thomas reclamou. – O que ficaram fazendo pra esquecer a hora?

– Jogando videogame. – Minho respondeu.

– Lendo. – Teresa falou fazendo bico. – O que ficaram fazendo nesse tempo? Não jogaram nada sem mim, é claro. – enquanto Newt e Thomas balançavam a cabeça, Teresa revirou os olhos para Minho que a encarava. Ele levantou as sobrancelhas ainda mais e mexeu a cabeça em direção a Thomas.

– Fala logo. – Minho falou baixinho, de forma que só Teresa que estava a sua frente percebeu, mas ela deu-lhe um chute por debaixo da mesa. – Mas que cacet...

– Olha lá, a vadia não está com ela Tom. – Teresa falou em cima de Minho, atrapalhando-o. Enquanto isso, Minho estava praguejando.

Os garotos olharam pra onde Teresa estava olhando.

Uma garota da idade deles estava em pé conversando com Brandon um pouco afastado deles. Eles estavam conversando perto do fliperama do Star Wars.

Ela tinha um cabelo castanho escuro bem curtinho e olhos castanhos bem grandes e bonitos. Ela não era tão magra como Teresa, tendo as pernas pouco mais grossas que as dela e um pouco menos de busto. Ela tinha um estilo mais romântico, com colete jeans claro manchado e um vestido florido curto. A garota com certeza tinha um charme indiscutível.

– O que quis dizer quando disse que a vadia não está com ela? – Minho perguntou baixo e incisivo para Teresa ouvir, então ela levantou a cabeça.

– Ah, você não entendeu? Achei que fosse óbvio, mas Lynn não está com ela. – Teresa respondeu despreocupada levantando as sobrancelhas. Minho bufou.

– Não fale assim dela.

– Falo do jeito que eu quiser.

– Então faz o seguinte, não fala, só cala essa boca.

Teresa riu debochado.

– Tsc. – Minho soltou se irritando.

Brandon apontou para onde o grupo estava e a garota olhou, dando um sorriso lindíssimo e acenando, vindo até eles em seguida.

Thomas sorria de volta, enquanto Teresa fitava a mesa pensativa e a garota andava até eles.

– Acho que vou vomitar. – Teresa falou de repente.

– Você está bem? – Newt perguntou franzindo a testa.

– Não, não estou. – ela respondeu e olhou a morena chegando. – Vou sair. – ela levantou rapidamente com a mão na boca e andou até sair da loja.

Era verdade que o estômago de Teresa estava embrulhado, mas não era pelo motivo que os garotos pensavam que fosse.

– Você fez alguma coisa? – Thomas perguntou baixinho para Minho.

– Eu não! – ele respondeu fazendo careta.

– Falou alguma coisa?

– Não, Thomas! Saco.

– Acho melhor eu ver como ela está... – Newt falou preocupado quase se levantando.

– Não precisa, ela deve ter ido ao banheiro.

– Tem certeza? – o louro olhou para Thomas que balançou a cabeça em afirmação, então olhou pra frente novamente.

– Olá meninos! – a morena olhava todo mundo acenando e se abaixou dando um beijo no rosto de Thomas.

– Oi, Bren. – Minho deu um sorriso forçado, ainda de mal humor.

– Hey. – Thomas sorriu. – Senta aqui. – ele abriu espaço pra ela que se sentou.

– Seu cabelo é bonito. Fica bem em você. – Newt estava olhando a garota. Ela olhou pra ele e sorriu.

– Obrigada! Faz pouco tempo que cortei. – ela agradeceu nem um pouco chocada com o elogio do louro.

Newt sorriu.

– Bren, esse é o Newt. – Minho apontou.

– E Newt, essa é a Brenda. – Thomas colocou o braço em volta do pescoço da menina.

– Oi! Sou a namorada do Thomas. – ela estendeu a mão por cima da mesa que Newt apertou. – Você é novo por aqui não? – Newt deu um sorriso tímido.

– Isso. – Newt respondeu mordendo os lábios.

A garota não parava de sorrir. Ela era muito simpática.

– Onde a Teresa foi? – ela perguntou.

– Vomitar. – Minho respondeu sem pudor.

– Ela está passando mal? – Minho deu de ombros e Thomas revirou os olhos começando a se irritar com a postura do asiático.

– Ela estava se sentindo mal e saiu. – Newt falou. – Se bem que... Já faz um tempo, não é? Ela já devia ter voltado.

– Mas o melhor seria checar ela, de qualquer forma. – Brenda sugeriu.

– Eu vou lá. – Newt se levantou.

– Para de se preocupar. – Minho falou mal humorado e puxou Newt fazendo-o sentar novamente.

– Mas ela não parecia bem... – Newt respondeu.

– Ta a fim de limpar o vômito dela?

– Minho, não fale assim. – Brenda o repreendeu e ele olhou pra ela franzindo os lábios.

– Ela me irritou.

– Quando ela não te irrita? – Thomas falou irritado.

– Tsc. – ele soltou desviando o olhar dos outros, mas não aguentou por muito tempo. – Ta bom! Vou checá-la. – ele se levantou suspirando e foi saindo da loja.

– Então Newt, me fala um pouco de você. Quero saber tudo! Da onde você é?

Newt olhou para Thomas com olhar significativo. Thomas franziu os lábios.

 

– Teresa, você está aí? – Minho perguntou batendo na porta no banheiro feminino, mas não teve resposta. Ele abriu olhando lá dentro, mas não tinha ninguém perto das pias. – Teresa? – ele perguntou mais uma vez, logo percebendo que as cabines estavam abertas e ela não poderia estar ali. Ele saiu fechando a porta e olhou a sua volta pegando o celular do bolso e segurando o número dois para discagem rápida.

Ele ouviu o barulho do celular um pouco longe, tocando Sweet Child O’Mine na versão instrumental. Ele seguiu o som rapidamente e quando viu Teresa na lateral da loja encostada no muro ela desligou olhando para Minho.

– Vomitou? – ele perguntou chegando perto. Ela estava sentada no chão de pernas dobradas, daquele jeito que ela ficava sempre, com os braços entre as pernas segurando o celular.

– Nem cheguei a entrar no banheiro. – ela respondeu e desviou o olhar de Minho.

– Você melhorou?

– Não. Eu só não quero ficar lá dentro agora.

– Por que não?

– Porque a Brenda está lá dentro e não quero ficar perto dela no momento.

Minho fitou Teresa. De repente, sua irritação anterior tinha ido embora. Ela não estava nada bem. Teresa parecia triste e com raiva ao mesmo tempo. Ela olhou para Minho com aqueles olhos azuis que pareciam brilhar com a pouca luz que a lua refletia.

– Você pode entrar e ficar lá.

– O que houve?

– Não deixe Newt sozinho.

– Thomas está lá. O que houve? – ele perguntou novamente.

– Minho, por favor...

– Você está escondendo alguma coisa de mim.

– Eu estou escondendo de todo mundo, não só de você.

– Não interessa. Eu não sou todo mundo.

Os dois se encararam.

– Vai embora daqui antes que eu te dê um soco no olho e ele fique menor do que já é. – ela advertiu encarando-o, mas parou de olhar. Ela realmente não estava bem. Uma coisa que Teresa faz bem é encarar, de forma que a pessoa ficava com medo dela antes de qualquer coisa, assim todo mundo pensava duas vezes ou até três, antes de tentar qualquer coisa.

Minho suspirou e sentou-se ao lado dela.

– Deixa disso. Me conta o que aconteceu. – ele pediu olhando-a.

– Eu não posso.

– Por quê?

– Como por quê? Porque é segredo. Eu prometi que não ia contar.

– Você não pode prometer uma coisa dessas sendo que uma hora ou outra você vai contar tudo pra mim.

Teresa olhou pra Minho. Ela quis sorrir, mas virou pra frente novamente sorrindo apenas internamente.

– Você é um idiota. – ela falou e ficou em silêncio, mas olhou pra ele novamente. – Eu peguei Brenda traindo o Thomas.

– COMO É QUE É?

– Shhhhh! – ela fez o gesto olhando em volta. Não tinha ninguém ali do lado da Practikal.

– Não tem ninguém aqui.

– Tem algumas coisas que precisam ser ditas em voz baixa. – ela falou quase sussurrando. – Essa é uma delas!

– Ok, ok... Quando foi isso?

– Hã? Você não está nem um pouco chocado de ela ter feito isso? Ainda mais você que é todo amiguinho dela. – Minho quis revirar os olhos, mas só fitou Teresa.

– Você ia mentir sobre algo assim?

– Não, nem brincando!

– Então, é por isso. Além de que o choque inicial já passou. Agora fala o que aconteceu.

Teresa suspirou pensando em como começar.

– Sabe na quinta-feira passada, quando eu tive que ficar pra treinar porque o idiota do treinador Cunningham me obrigou? – ela perguntou olhando para Minho e guardando o celular no bolso atrás da calça ao mesmo tempo. Minho riu.

– Aquele treino extra, não é? – Minho sorria.

– Isso. Depois disso, eu tinha combinado de encontrar o Thomas na casa dele pra conversarmos sobre o projeto, mas acabamos cancelando porque ele teve que fazer um favor pra mãe dele, então eu ia embora, mas recebi uma mensagem de Brandon me chamando pra vê-lo, então fui até a Practikal... Aí...

– Espera, espera, espera... – Minho a atrapalhou.

– O que foi?

– Você já estava ficando com Brandon aí?

– Não... – Teresa massageou as têmporas e olhou de soslaio para Minho. – Foi nesse dia que ficamos a primeira vez... Não estamos ficando, aliás. Agora só estamos conversando, entendeu?

– Mas  vocês se conhecem há anos... Eu pensei que estavam... Você disse aquele dia que... – ele olhou pra ela e a encarou por um tempo. – Você ta gostando dele?

– Minho, por favor! Dá pra focar no que importa? – ela disse irritada. Ele mordeu os lábios.

– Ta bem, entendi. Continua.

– Quando eu cheguei à Practikal eu fui procurar o Brandon. Já era tarde, não sei bem que horas, mas já estava noite... Então eu entrei, mas parei quando vi Brenda com um garoto que eu não conhecia. Eu ia falar com ela, mas eles começaram a agir como...

– Como se já fosse comum?

– Isso. Meio romântico, com o cara pegando na mão dela e essas coisas...

– Ela não tava ligando?

– Estava. Ela tirava e recusava, mas o cara era persistente... Se fosse comigo já tinha levado um soco...

– E então?

– E então, Minho? Sério? O que você acha? – Teresa falava sarcástica levantando as sobrancelhas. – Eles se beijaram né, gênio. – ela revirou os olhos. – Apesar de que ela pareceu realmente surpresa... – Minho fitou Teresa. Ela estava com as mãos na cabeça, massageando seus cabelos pretos.

– O que você fez? – Minho perguntou pausadamente. Teresa franziu os lábios.

– O que você acha?

– Você não ia ver essa cena toda sem reagir.

Teresa ficou em silêncio e tampou a cabeça com o capuz do casaco. Minho empurrou a cabeça da garota daquele jeito mesmo.

– Merda, Minho! – ela tirou o capuz olhando-o. – Tsc. – ela estava olhando para o outro lado, deu um suspiro e voltou a olhar pra ele novamente. – Quando eles se beijaram eu agarrei o cabelo dela e puxei ela da mesa. O cara reclamou muito, mas mandei ele calar a boca e levei Brenda lá pra fora.

Minho ficou encarando-a.

– Você ficou louca?! – Minho estava se segurando muito pra não surtar de vez. – Ela é nossa amiga!

– E namorada do Thomas. E olha a merda que ela fez mesmo assim.

Minho suspirou e recebeu um empurrão de Teresa de repente que o quase fez cair para o lado.

– Esse é o troco. – mas Minho ainda fazia careta sem entender. Teresa suspirou e empurrou a cara do garoto de leve. – Para de fazer essa cara... Deixa eu continuar... Eu levei ela pra fora. À força é lógico. Daí eu fiquei pedindo um motivo pra não dar um murro na cara dela e bem... Ela deu suas explicações e eu caí na dela.

– Você acha que foi por querer?

– Não, mas mesmo assim eu caí. Igual patinho.

– Ta mais pra ganso... Puxando briga desse jeito...

– Cala a boca ok? No fim eu a ameacei se ela não cumprisse o que disse.

– O que ela disse?

– Que ela mesma ia falar pra Tom, mas precisava de tempo. Dei duas semanas pra ela.

– Por que você concordou?

Teresa ficou em silêncio.

– Porque ela estava certa sobre uma coisa: não é da minha conta. – Teresa terminou olhando Minho. – Posso ser a melhor amiga dele e tal, mas... Isso é assunto deles, não meu. Eles que se resolvam.

– Hum... Então por que você deu um prazo?

– Porque se ela valer alguma coisa, vai falar pra ele e resolver essa situação.

Minho olhou de soslaio para Teresa, mas acabou encarando-a.

– Você tem que parar de guardar segredos. – Minho falou e Teresa bufou. – Principalmente de mim. Como você consegue segurar essas coisas por tanto tempo só pra você?

Teresa estava olhando Minho. Ela mordeu os lábios com o rosto meio aflito, mas acabou sorrindo fraco.

– Segredo. – ela dava aquele sorriso pequeno que obviamente escondia alguma coisa por trás dele. Minho teve que sorrir de volta.