I wish that I could wake up with amnesia
And forget about the stupid little things
Regina permaneceu sentada na mesa com os filhos enquanto ambos comiam e conversavam sobre coisas aleatórias tentando ao máximo não olhar em direção à mesa da loira. Ela queria olhar, sua curiosidade gritava para que ela olhasse, queria saber se as duas mulheres sentadas há alguns metros dela compartilhavam aquela famosa conexão que qualquer pessoa pode perceber, a conexão que permite que elas se entendam apenas com um olhar. A conexão que um dia ela mesma teve com a loira. A morena respirou fundo e tentou focar sua atenção nas crianças, mas não estava conseguindo então se permitiu a dar uma pequena espiada.
Emma e a namorada comiam em silêncio, Regina apostaria em um silêncio constrangedor. A loira mal olhava para a mulher em sua frente, Mills conhecia aquela expressão, Emma estava perdida em pensamentos e irritada.
– Mãe, me ouviu? – Malia chamou e Regina se virou para ela e negou – Eu perguntei que horas o papai virá buscar a gente.
– Daqui a pouco, querida – a morena olhou no relógio e se deu conta que Daniel já deveria estar chegando – Vocês terminaram? – os dois concordaram e ela chamou o garçom para pedir a conta.
Malia respirou fundo e abaixou cabeça, sempre que passava o final de semana com o pai, acabavam indo para a casa do avô paterno – o qual ela não nutria muita simpatia – e ficavam lá durante o resto do sábado, até voltarem para o apartamento de Daniel, onde ele se enfiava no escritório e deixava os filhos soltos pelo local. Geralmente, a própria Malia que precisava mandar Henry tomar banho e o colocava para dormir. A menina levantou o olhar e encontrou sua professora encarando-a com uma expressão preocupada, mas Lia não teve muito tempo para pensar Daniel logo apareceu ao lado da mesa e ela revirou os olhos.
– Estão prontos?
– Sim! – Henry disse animado se jogando nos braços do pai – Podemos tomar sorvete?
– Claro, moleque – respondeu e olhou para a filha enquanto Regina ajeitava a bolsa no ombro sem sequer olhar para o ex-marido – Oi, Regina.
– Olá, Daniel – respondeu forçando um sorriso e logo olhou para baixo, não queria olhar para lugar nenhum, embora tenha percebido que Emma a encarava – Crianças, a mamãe já vai, ok? – os dois concordaram e abraçaram a mãe com força.
– Não quer se juntar à nós, Regina?
– Tenho coisas a fazer, mas obrigada pelo convite – disse por pura educação e após dar um beijo nos filhos se virou para sair.
– Eu não ganho um beijo também? – ele questionou alto e grande parte das pessoas pararam para olhá-la, incluindo Emma e a namorada, mas Regina apenas respirou fundo e continuou andando evitando de olhar para a loira.
Após entregar os filhos ao ex-marido, Regina seguiu para casa extremamente pensativa. Seria bom ficar um tempo sozinha, colocar as ideias no lugar e clarear a mente. Sabia que uma hora ou outra esbarraria com Emma pela cidade, tinha essa noção, mas isso não quer dizer que ela estava preparada para esse reencontro. Ao vê-la ali, sentada naquela mesa com a jaqueta vermelha e o sorriso leve no rosto, se lembrou da época do ensino médio em que suas pernas bambeavam só de olhar para aquele sorriso, se lembrou também de como as duas se divertiam juntas, de todos os momentos bons que tiveram. Das conversas pelo telefone no meio da madrugada, as declarações clichês e todos os planos para o futuro, lembrou-se de tudo isso, coisa que não fazia há anos. Mas também lembrou-se da forma como fora magoada, de como a loira quebrara seu coração em milhões de pedaços que a única solução que encontrou para superar isso foi mudar de país, ir para o mais longe possível de Emma Swan.
Regina entrou em casa com os olhos marejados, queria se trancar dentro do quarto e chorar tudo o que achou que já havia chorado. Precisava extravasar essa dor excruciante de dentro do seu peito para ficar bem novamente, afinal, esse era um assunto do passado, não era? Mas por que estava tão abalada?
– Dona Regina, está tudo bem? – Granny perguntou preocupada.
– Está sim, Granny, não se preocupe – respondeu subindo as escadas de cabeça baixa para que a senhora não visse seus olhos cheios de lágrimas – Eu estou com dor de cabeça e vou me deitar, se alguém aparecer diz que não estou.
– Claro, dona Regina.
A advogada entrou em seu quarto com falta de ar de tanto segurar o maldito choro. Nem sabia por que estava daquela maneira e queria se estapear por estar chorando novamente por algo que tinha prometido a si mesma nunca mais pensar. Regina sentou na ponta da cama e apoiou os cotovelos nos joelhos, escondendo o rosto entre as mãos enquanto deixava as lágrimas escorrerem livremente.
Desejava nunca ter conhecido Emma Swan, nunca ter se apaixonado pela loira e nem se entregado de corpo e alma. Talvez se nada disso tivesse acontecido, não teria sofrido tanto, mas também não teria as memórias da melhor época de sua vida. A época onde fora realmente feliz. Nem sequer se lembrava como era ser feliz daquela maneira, tantos anos e tantas decepções acumuladas que simplesmente afastaram todas as chances da felicidade se aproximar. As únicas luzes que iluminavam a vida da morena eram seus filhos, as crianças que trouxeram alegria para a vida da advogada.
Regina se levantou e foi até o closet, puxou a cadeira que havia ali e subiu nela para alcançar a parte mais alta. A morena retirou de trás das cobertas uma caixa branca, meio empoeirada e bem velha. Nunca tivera coragem de se desfazer dela, das coisas que haviam ali dentro e trouxera da Inglaterra junto com ela porque não conseguia jogar fora. A advogada carregou aquela caixa até a cama e ficou encarando-a por alguns, tentando decidir se abria ou não. Há quanto tempo não olhava aquelas coisas? Dez anos? Doze? Talvez mais, não sabia.
Criando coragem, puxou para cima a tampa da caixa e dentro dela viu várias fotos soltas, algumas cartas escritas à mão, um álbum de fotos do último ano do ensino médio e aquele cachecol amarelo. Regina pegou-o com todo cuidado possível como se ele fosse se desfazer a qualquer momento e o apertou entre os dedos se entregando mais uma vez ao choro.
Flashback on
– Você poderia tentar o clube de xadrez, sei que adora essas coisas de nerd – Zelena comentou abraçando a irmã pelos ombros.
– Não sei, Zelena – suspirou olhando para o quadro verde onde haviam avisos da escola e anúncios de clubes e grupos de estudos dos alunos – Tem muita coisa aqui.
– Vamos dar uma volta, logo você decide – a ruiva disse – Eu entrei para as líderes de torcida no primeiro ano, por que não tenta?
– Você sabe que eu não danço.
– Olha aqui, a genética latina não foi generosa com você te dando essa bunda enorme pra você desperdiçar esse talento – falou em tom de bronca e a morena revirou os olhos – Ingrata.
Elas estavam andando pelos corredores da escola quando escutaram passos apressados vindos da outra direção. Elas viram várias garotas correndo pelo corredor, Regina não teve tempo de desviar e uma garota loira acabou esbarrando nela e a levando ao chão.
– Puta merda! – exclamou a loira que usava uma jaqueta vermelha com um cachecol amarelo – Você está bem?
– É claro que ela não está! Você jogou minha irmã no chão – Zelena disse brava ajudando a irmã a se levantar.
– Estou bem, não se preocupem – a morena disse um tanto quanto sem graça já que todos os alunos em volta a olhavam.
– Me desculpa, alguém cortou meus freios – a loira sorriu apontando para os pés e Regina acabou rindo, mas não conseguia parar de pensar no quanto aquela jaqueta vermelha não combinava com o cachecol amarelo – Você me desculpa?
– Eu desculpo, mas com uma condição – disse cruzando os braços e Zelena arqueou as sobrancelhas.
– Qual, madame? – perguntou a loira se divertindo com a expressão zombeteira da morena baixinha
– Que você nunca mais use esse cachecol amarelo com essa jaqueta vermelha – falou e a ruiva se controlou para não rir, enquanto a loira ficou analisando a proposta durante alguns segundos.
– Tudo bem – ela disse por fim, retirando o cachecol – Mas eu só paro de usar se você pegar ele pra você.
– Eu não vou usar isso!
– Não disse para usar, disse para pegar pra você – esticou o cachecol para a morena que a olhava desconfiada.
– Minha mãe me ensinou a não aceitar nada de estranhos – Regina disse convencida e Zelena apenas observava a interação das duas em silêncio.
– Ok, sou Emma Swan e sou jogadora de futebol. Estudo nessa escola desde sempre e... – a loira parou para pensar alguns segundos antes de continuar – e eu gosto de chocolate quente com canela. Pronto, não sou mais uma estranha, pode pegar.
Flashback off
Regina respirou fundo e deixou o cachecol de lado, ainda o guardava e sabia que nunca iria conseguir jogar aquele pedaço de pano fora. Uma coisa estúpida, mas que ela era extremamente apegada. Voltou sua atenção para a caixa e retirou de lá as fotos soltas, na maioria delas, estava com Emma. Abraçando, beijando, de mãos dadas, vendo a final dos jogos, passeando no parque, tomando sorvete. Eram várias, intermináveis fotos que também nunca tivera coragem de se desfazer, haviam fotos das duas com Zelena e Ruby no aniversário dos pais de Emma, as quatro eram inseparáveis e onde uma estava, as outras também estavam. Nessa época, Emma e Ruby ainda eram melhores amigas. Nessa época também, Regina ainda era uma idiota apaixonada.
Empurrou todas aquelas coisas para o lado, mas acabou derrubando a caixa e espalhando tudo pelo chão. Bufou irritada e secou as lágrimas que ainda escorriam, não queria mais chorar, queria esquecer. A morena desceu da cama e começou a recolher tudo sem sequer olhar para os objetos, mas um deles acabou ficando embolado em seus dedos e ela foi obrigada a olhar. Era o colar que havia ganhado de Emma quando completaram um ano de namoro, o colar com o pingente de cisne coroado. Ficou alguns segundos encarando aquele pequeno objeto que um dia fez parte de todos os seus looks, o objeto que só saía de seu pescoço quando ia tomar banho e logo já o colocava novamente, se sentia incompleta sem ele. Balançou a cabeça negativamente e colocou o colar em cima da cama enquanto terminava de guardar o resto das coisas espalhadas pelo chão.
Decidiu que era hora de guardar aquela caixa novamente e esquecê-la, talvez em dez ou doze anos resolvesse abri-la outra vez, ou talvez até lá ela já tenha criado coragem para se desfazer de tudo aquilo. Não sabia, mas resolveu guardar mesmo assim. Voltou para o quarto de mãos vazias e viu o colar em cima da cama, suspirou alto e o pegou, mas ficou com preguiça de tirar a caixa novamente então apenas o largou em cima da cômoda junto com seus perfumes e maquiagens.
[...]
Emma andava de um lado para o outro dentro do apartamento enquanto Belle terminava de arrumar as malas. A loira havia prometido ajudar a amiga com isso, mas desde que chegara do restaurante estava inquieta, roía unhas e andava para lá e para cá. A francesa já não estava aguentando toda aquela ansiedade da amiga então a pegou pelo braço e a fez se sentar na cama.
– Abre a boca e começa a falar – ordenou – Não aguento mais você ciscando por esse apartamento, então abre o bico!
– Eu encontrei ela – murmurou – Ela está aqui.
– Você quer que eu te leve no psiquiatra? Eu não falo em códigos, seja clara e objetiva.
– Eu encontrei a Regina! – falou exasperada – A Regina Mills, aquela Regina.
– A sua ex? – perguntou confusa – Mas ela não mora na Inglaterra?
– Eu achava que sim – Emma se jogou de costas na cama em cima das roupas da amiga – Ela também é a mãe da Malia. E você não se deu ao trabalho de me contar.
– Você nunca me mostrou nenhuma foto da Regina – Belle se deitou ao lado da loira – Não é como se eu fosse adivinhar que elas eram a mesma pessoa.
– Regina Mills? Você não fez a ligação? – questionou virando o rosto para olhar a morena dos olhos claros.
– Eu só a conhecia como Regina Colter – falou e Emma suspirou.
– Ela fingiu que não me conhecia – falou o que estava entalado em sua garganta.
– Se eu fosse ela também fingiria.
– Obrigada, Belle, estou me sentindo muito melhor agora – ironizou.
– Eu não vou te tratar como vítima, porque você não é – a francesa usou o braço para apoiar a cabeça e olhar a amiga de cima – Ela te odeia.
– Maldito universo – resmungou.
– Não é culpa do universo ela te odiar, é culpa sua.
– Você é uma péssima conselheira.
– Eu ainda não terminei – disse brava – mas é culpa do universo vocês se encontrarem depois de dezoito anos.
– Você e suas histórias românticas – revirou os olhos.
– Não disse para vocês terem uma segunda chance, estou dizendo que talvez seja a hora de você reparar o seu erro – falou com um sorriso carinhoso – Por uma pedra nesse assunto porque claramente nenhuma de vocês está bem com isso, mesmo depois de tantos anos.
– Como você sabe que ela não está bem?
– Se ela estivesse, teria sido indiferente com você, mas ela fingiu que não te conhecia porque o assunto ainda perturba ela – constatou – Isso, minha querida, se chama segunda chance.
– Você não acabou de dizer que não disse para termos uma segunda chance? – perguntou confusa.
– Uma segunda chance para você se redimir e não uma segunda chance para vocês duas juntas – disse e Emma ficou encarando a amiga durante alguns segundos.
– Vou sentir falta de ter você para colocar juízo na minha cabeça – comentou emotiva.
– Eu sei, agora levanta e me ajuda a terminar de arrumar as malas. Guarde o choro para a hora em que estivermos no aeroporto.
Emma não estava aceitando muito bem a ideia de Belle voltar para a França, há anos a francesa era seu alicerce, a pessoa com quem ela contava nos piores momentos e também nos melhores, mas ela sabia que Belle estava certa e que estava na hora de voltar para casa, então não tinha outra opção a não ser apoiá-la.
[...]
Três semanas se passaram, três longas semanas para uma loira que agora morava sozinha e que gostava de prolongar suas aulas na casa de sua aluna só para ter a chance de esbarrar com Regina. Três semanas de frustração já que nunca conseguia ficar tempo o suficiente para ver a morena chegando. Malia não reclamava de ter aulas mais longas, muito pelo contrário, amava ficar horas e horas tocando naquele piano sob os olhos atentos de sua professora.
Três semanas que Regina sempre enrolava o máximo que podia no escritório nos dias em que sabia que Emma estaria em sua casa dando aulas para Malia. Já não aguentava mais, ao mesmo tempo que queria evitar ao máximo a loira, queria também chegar mais cedo e vê-la ensinando tudo o que aprendera. Queria ouvi-la tocar novamente, também queria cantar junto com ela como costumavam fazer e como Lia sempre dizia que elas faziam nas aulas.
– Senhorita Mills, o dr. Colter está chamando pela senhora – Ashley disse pelo telefone e Regina respirou fundo afastando os pensamentos de sua cabaça, em plena quinta-feira teria que aguentar os surtos do ex-marido.
– Mande-o entrar.
Não deu três segundos, Daniel entrou na sala da ex-mulher como se fosse dele. O peito estufado e apertado em seu terno claro que provavelmente valia uma fortuna, o nariz em pé como se ele fosse um deus grego e o resto das pessoas apenas meros mortais e o ego inflado que nunca o abandonava.
– Boa tarde, Regina – disse se sentando em frente à morena.
– Estou com a agenda lotada, com milhares de coisas para fazer e uma pilha de processos para ler – foi direta – O que você quer?
– Lhe convidar para jantar – disse calmamente ignorando o tom frio e distante da morena.
– Muito engraçado – falou irônica – agora, vá direto ao ponto. O que quer?
– Lhe convidar para jantar, já disse – repetiu como se fosse a coisa mais comum do mundo.
– Olha, eu não sei se você sofreu um acidente e bateu a cabeça forte demais ou se só está sofrendo de babaquice crônica, mas eu estou sem paciência para você, Daniel. E se está realmente falando sério sobre o jantar, a minha resposta é não – a advogada disse firmemente – Agora, se não tem mais nada para me dizer, se retire.
– Qual é, Regina, é apenas um jantar – rebateu revirando os olhos – Eu sinto sua falta, não precisamos viver em guerra, você ainda é minha esposa perante a lei.
– Que pena, Daniel – falou em um falso pesar – mas eu realmente não me importo. Agora saia, e eu não vou pedir mais uma vez.
– Vagabunda, você ainda vai implorar para me ter de volta – murmurou e a morena respirou fundo enquanto assistia o homem sair da sala com raiva.
Regina respirou fundo e se recostou em sua cadeira se sentindo esgotada. Parecia que o mundo estava testando-a para ver até onde ela aguentaria sem cometer suicídio ou matar alguém. Sua cabeça doía como nunca e a todo momento tinha vontade de chorar, as vezes nem da cama queria levantar. Ela se preocupava com isso, já havia passado por uma coisa parecida e não fora exatamente a melhor época de sua vida.
– Ashley, por favor me traga um café puro sem açúcar e uma aspirina, estou me controlando para não matar ninguém hoje – falou pelo telefone e desligou sem esperar uma resposta de sua secretária.
Continuou analisando todos aqueles casos intermináveis que pareciam nunca ter fim enquanto aguardava a senhorita Boyd trazer o que havia lhe pedido. Sua cabeça estava cheia e havia apenas uma culpada: Emma Swan.
– Senhorita Mills, seu café e o remédio – Ashley anunciou entrando na sala e Regina agradeceu à Deus por isso – A senhorita está bem? – a loirinha perguntou vendo a chefe enfiar o comprimido de uma vez na boca.
– Estou, não se preocupe – tentou forçar um sorriso, mas não funcionou muito bem – Só ando com muita coisa na cabeça, sabe?
– Eu não quero me intrometer, mas vocês deveriam conversar – a secretária disse e Regina olhou-a de repente – Por o pingo nos is, resolver tudo e enterrar o passado de uma vez por todas. Não está lhe fazendo bem, isso é visível.
– Você acha? – perguntou surpresa segurando o copo de café com ambas as mãos e a loira afirmou.
– Tenho certeza – disse com convicção – É o melhor, diga como se sente com essa situação e se tiver sorte, Daniel entenderá – Regina franziu o cenho de repente, não entendendo.
– Daniel?
– Sim, senhorita Mills, vocês foram casados durante 15 anos tenho certeza que ele levará em conta os seus sentimentos – depois de alguns segundos ela se deu conta de que elas não estavam pensando na mesma pessoa, Ashley estava falando sobre o divórcio conturbado com Daniel enquanto ela pensava na loira dos olhos verdes. Sorriu fraco para a secretária e balançou a cabeça.
– Está certa, o diálogo é a melhor forma de resolver as coisas – disse um tanto quanto desanimada – Obrigada, Ashley.
– Não há de quê – a loirinha sorriu alegremente e se retirou da sala.
Regina voltou sua atenção para o computador onde estava respondendo seus emails, que não eram poucos. Também tinha um cliente para às quatro da tarde, outro às cinco e meia e já havia passado das três. Teria pouco tempo para ler o processo da audiência do dia seguinte e teria que levar para casa, seria uma ótima ideia para se distrair já que sempre que chegava em casa ficava pensando naquele dia do restaurante, na loira com aquela estúpida jaqueta vermelha e a morena sentada na frente dela. Era perturbador e torturante ficar relembrando o passado, ficar presa em lembranças, um tempo que jamais voltaria.
Recebeu o cliente das quatro que queria entrar com o pedido de divórcio litigioso já que a esposa se recusava assinar o maldito papel. Iria receber o cliente das cinco e meia, mas o mesmo ligou cancelando dizendo que houve um imprevisto e ela teria que remarcar. Seu expediente se encerrava às sete e não havia muita coisa para fazer ali a não ser ler o processo, mas Regina já havia planejado ler ele em casa.
– Senhorita Boyd, pode vir aqui, por favor? – pediu ao telefone e logo sua assistente apareceu.
– Deseja algo?
– Ah, nada em especifico, irei liberá-la agora – falou se levantando e Ashley arregalou os olhos – Como o sr. Midas cancelou o horário, não há muito o que fazer por aqui hoje.
– Então, também sairá mais cedo? – Regina respirou fundo, era uma quinta, dia de aula de piano e ela estava indo para casa antes das seis, talvez não seja uma boa ideia, mas...
– Sim, preciso de um descanso – respondeu e Ashley concordou com a cabeça – Bom, está liberada.
– Obrigada, senhorita Mills – sorriu agradecida – Até amanhã.
– Até.
Regina separou os papéis bagunçados em cima da mesa e os guardou em suas respectivas pastas, organizando tudo perfeitamente antes de sair. Colocou o processo que precisava ler e após dar mais uma rápida checada pela sala, saiu de lá. Haviam algumas pessoas no prédio ainda afinal, o expediente ainda não havia terminado, mas ela não se importava muito. Gold não ligava muito para essas coisas e era muito amigo de Regina, então ela sair mais cedo não era um problema.
[...]
– Crianças, estou em casa! – falou abrindo a porta e viu Malia a olhando por cima dos ombros sentada no sofá com cara de descrença.
– A casa não está pegando fogo – falou e Regina franziu o cenho – Você está em casa e não é nem seis horas da tarde, só viria se alguém tivesse morrido ou se a casa estivesse pegando fogo, como não está chorando, ninguém morreu. E como pode ver, a casa não está pegando fogo.
– Meu Deus, Malia, com quem você está aprendendo a ser dramática assim? – perguntou espantada, mas sabia bem qual era a resposta.
– MÃE! – escutou a voz de Henry vinda do andar de cima e viu seu menino correndo escada à baixo para abraçá-la, nem sequer teve tempo para repreende-lo, quando viu, ele já estava grudado em sua cintura – Não acredito que veio mais cedo!
– Eu vim sim, querido – apertou o nariz do menino levemente e ele sorriu – Estava com saudade de vocês.
– Também estávamos com saudades, mamãe – ele disse olhando-a com admiração.
– E vamos ter lasanha para o jantar hoje! – anunciou. Henry gritou animado com os braços para cima enquanto dava voltas no sofá e até Lia esboçou um sorriso.
– Dona Regina, que bom que está em casa – Granny disse entrando na sala com um pano de prato no ombro.
– Granny, se quiser, pode ir para casa – falou amavelmente – Eu irei fazer o jantar hoje.
– Mas que maravilha – Henry subiu as escadas novamente dizendo que iria terminar o desenho que estava fazendo e Malia voltou sua atenção para a televisão – As crianças estão sentindo muito a falta da senhora.
– Eu sei – suspirou cansada e seguiu a senhora até a cozinha – Me sinto culpada por isso, mas minha cabeça anda tão cheia ultimamente e eu tenho medo de descontar isso neles.
– Sabe, foi exatamente isso que a professora de piano disse à Lia na terça-feira – comentou pensativa fazendo Regina olha-la surpresa.
– Ela disse?
– Sim, ela tem ajudado bastante a menina não só com o piano – sorriu para a chefe enquanto terminava de lavar a louça – Elas conversam bastante durante as aulas e nos intervalos também. Na terça eu ouvi Lia reclamando para ela que você não para mais em casa e que ela quase não te vê, a senhorita Swan conversou um pouco com ela e logo ela melhorou.
– É, ela sabe como fazer alguém se sentir bem – comentou de forma pensativa e Granny a olhou confusa, mas não fez nenhum comentário a respeito.
– Bom, eu vou indo – falou de repente atraindo a atenção da morena que estava olhando para um ponto fixo há alguns minutos – Coma algo, Dona Regina, aposto que nem almoçou hoje.
– Me conhece como ninguém, Granny – a advogada disse e acompanhou a governanta até a porta – Até amanhã.
– Até amanhã, dona Regina.
Regina voltou para dentro, passou na sala e depositou um beijo nos cabelos negros de Malia antes de subir às escadas e passar no quarto do filho mais novo. Ele estava compenetrado no desenho, nem desviava o olho. A morena caminhou até ele e beijou-o assim como fez com a filha mais velha, Henry apenas sorriu para a mãe e continuou desenhando. Ela foi para o quarto e se despiu, queria tomar um banho relaxante antes de fazer o jantar e se preparar emocionalmente para ver Emma Swan novamente. Sabia que não seria fácil e teria que engolir todo e qualquer sentimento, teria que parecer um iceberg na frente da loira e evitar olhá-la nos olhos, pois sabia que Emma a conhecia melhor que qualquer outra pessoa no mundo. Ou talvez, com um pouco de sorte, elas tenham perdido a conexão que tinham, mas sorte nunca esteve presente no vocabulário de Regina Mills.
Flashback on
– Você deveria parar de comer porcarias, sabia? – Regina comentou se sentando de frente para a amiga, que comia aquele gorduroso x-bacon como se sua vida dependesse disso – Vai morrer com uma veia entupida.
– Pelo menos morrerei feliz – a loira disse de boca cheia e dando de ombros fazendo Regina revirar os olhos – E você deveria parar de ser tão mandona, que chatice.
– O que você chama de chatice, eu chamo de cuidado – falou fazendo uma cara de cínica enquanto abria sua deliciosa salada – Deveria agradecer por isso.
– Eu já tenho uma mãe, não preciso de duas – revirou os olhos e a morena lhe mostrou a língua – Decidiu se vai ou não ser uma líder de torcida?
– Eu não sei, Emma – comentou exasperada.
Desde que se esbarraram no corredor, as duas se tornaram amigas e com a ajuda de Emma, Regina estava se enturmando mais com os colegas, afinal, a loira era muito popular na escola por ser capitã do time feminino de futebol. Ela era também muito cobiçada por vários alunos e alunas. Há alguns dias, houve uma festa na casa de Ruby, melhor amiga de Emma e a paixonite de Zelena. Regina acabou bebendo um pouco além da conta e começou a dançar em cima da mesa junto com a irmã mais velha e isso atraiu a atenção da capitã das líderes de torcida, que chamou a morena para fazer parte do grupo.
– Qual é, Gina? Você arrasa! – falou dando um leve empurrão no ombro da amiga – Vai se dar muito bem e eu vou amar ver você torcendo por mim com aquelas saias minúsculas e o pom-pom.
– Pervertida – resmungou – E eu já torço por você da arquibancada.
– Mas não usando uma mini saia – sorriu cafajeste e Regina revirou os olhos rindo da loira enquanto as borboletas no estômago dela faziam festa – Por favor! Com todo o seu rebolado, é capaz de virar a capitã em menos de dois meses.
– Não diga besteiras – Regina voltou sua atenção para sua salada enquanto pensava em ser líder de torcida ou não, a ideia de Emma vendo-a de mini saia a deixava envergonhada, mas ao mesmo tempo lhe parecia a melhor ideia de todas – Certo, eu tento, mas se não der certo eu pulo fora – Emma abriu um sorriso enorme e abraçou a amiga com força.
– Você é a melhor!
Flashback off
– Mãe! Que horas a senhora vai fazer a lasanha? – Henry perguntou abrindo a porta e encontrou a morena sentada na poltrona olhando para o nada e com uma expressão triste – Você tá bem, mamãe?
– Estou, querido – falou quando o menino se aproximou – Só estou cansada, mas já estou indo fazer a lasanha.
Henry beijou a bochecha da mulher e saiu com um sorriso no rosto, amava muito a lasanha que a mãe fazia. Ninguém fazia melhor que ela, ninguém mesmo.
A morena decidiu tirar o roupão preto que usava e foi em busca de uma roupa confortável, porém bonita. Não sabia por que seu inconsciente queria deixá-la apresentável, não aconteceria nada demais, Emma apenas apareceria, daria aula para Lia e iria embora. Apenas isso. Ela arfou irritada consigo mesma e pegou uma calça jeans azul escura apertada que marcava bem a curvatura de sua bunda, que era como dizia Zelena: uma raba gigantesca. Achou também uma camiseta vermelha de alças finas e a vestiu, estava simples e casual. Zelena sempre a chamara de louca por usar calça jeans em casa, mas ela gostava. Preferiu ficar descalça, amava a sensação gelada do chão em contato com a sola de seus pés, a fazia se sentir real, ter certeza que estava com os pés no chão a dava um tipo de segurança inexplicável.
Regina desceu às escadas e foi direto para a cozinha preparar sua famosa lasanha e viu os filhos sentados na sala assistindo Rei Leão. Sorriu com a cena, era simples, mas linda e ela amava os dois de uma forma inexplicável. Morreria pelos filhos se fosse preciso e faria isso sem pensar duas vezes. Suspirou apaixonada pelos dois e continuou seu caminho, a parte mais demorada da lasanha era no forno, o preparo era bem mais rápido e Regina fez isso com uma habilidade impressionante. Uma de suas paixões: cozinhar.
Enquanto preparava a lasanha, seus pensamentos ficavam focados somente no que fazia e por isso que amava cozinhar, a deixava centrada, mas foi interrompida pelo barulho da campainha fazendo seu coração bater mais forte. Sabia exatamente quem era, já estava na hora.
Pensou que Lia iria atender, mas olhou na sala e só encontrou Henry assistindo o filme. A campainha tocou novamente e Regina teve certeza que pode senti-la invadindo seu cérebro. Respirou fundo criando a coragem que precisava para abrir aquela porta e girou a maçaneta.
Emma não conseguiu esconder a cara de surpresa quando Regina abriu a porta. Sabia que a morena estava evitando encontra-la desde que se viram no restaurante e sabia que era por isso que nas terças e quintas a advogada chegava o mais tarde que conseguia. Por isso, tocar a campainha da casa e ser atendida pela morena em roupas tão casuais era bem chocante para Emma.
– Boa noite – Regina cumprimentou sem expressão alguma e a loira engoliu em seco, estar perto da advogada dessa maneira a deixava nervosa.
– Boa noite, Regina – respondeu e entrou na casa quando a mesma cedeu a passagem.
– Emma! – Henry exclamou ao vê-la e levantou correndo para abraçar a loira, deixando Regina incomodada com a proximidade do filho com ela – Você viu? A mamãe chegou mais cedo hoje!
– Oi, garoto. Eu vi sim e é muito legal – falou sendo contagiada com a animação do menino – Onde está Malia?
– No banho, ela já deve estar descendo.
Ele disse e Emma olhou ao redor, a loira percebeu que Regina já não estava mais na sala e escutou barulhos na cozinha. Malia estava no banho e Henry voltou a prestar atenção no desenho que passava na televisão, ainda tinha alguns minutos antes de começar a aula. Ela andou até a cozinha com as mãos suando de maneira exagerada e com a respiração descompassada. Seria a primeira vez que trocariam mais de duas palavras em dezoito anos, isso se Regina não a expulsasse de lá, mas a morena era uma mulher de classe e quase nunca descia do salto. Quase.
– Regina? – chamou pela mulher que estava abaixada perto do forno – Malia está no banho, vai demorar um pouco.
– Quer que eu a tire do banheiro para que possa dar sua aula, senhorita Swan? – perguntou irônica ao se levantar e Emma precisou respirar fundo, sabia que seria difícil, mas não tinha direito algum de reclamar se levasse patadas.
– Não, não precisa – respondeu da forma mais calma que conseguia – Eu só queria... conversar.
– Não há nada para conversar, Swan – interrompeu de forma rude tentando evitar que sua voz falhasse, mas por algum motivo, queria chorar – Pode esperar na sala de música se quiser.
– Regina, me desculpa – falou com toda a sinceridade que existia dentro dela e a morena arfou sentindo seu coração apertar dentro do peito.
– Eu não estou interessada nas suas desculpas – disse de costas para a loira.
– Eu sei que não – Emma estava se sentindo desesperada, não aguentava ver aquele olhar magoado e cheio de decepção da morena – E eu sei que já te pedi isso, mas me perdoa, por favor. Eu fui uma idiota, fui escrota com você enquanto você foi a melhor pessoa que eu poderia ter ao meu lado – Regina ainda estava de costas, não queria se virar e deixar que a loira visse seus olhos marejados. A parte mais irracional de seu cérebro gritava para ela perdoar a loira, mas o seu bom senso dizia que aquilo era a pior coisa que poderia acontecer – Eu só vi o que tinha quando perdi, você não merecia aquilo, você merecia alguém que te desse valor e te amasse incondicionalmente. Eu não fiz isso por que era uma estúpida e só me dei conta do quanto eu te amava quando você embarcou naquele maldito avião e nunca mais voltou. Não estou pedindo uma segunda chance, eu só quero que me perdoe – a professora já não se importava em segurar as lágrimas, sabia que Regina também estava chorando pela forma como os ombros dela se mexiam, a conhecia melhor que qualquer pessoa no mundo – Por favor, Regina, me perdoe.
– Nem se eu quisesse, Swan – a morena conseguiu pronunciar com raiva, mas ainda de costas – Nem se eu quisesse, conseguiria te perdoar.
Emma sentiu aquelas palavras lhe atravessarem como facas afiadas, rasgando seu interior, fatiando sua pele e machucando-a de uma maneira que ela não conseguia explicar. Regina se virou e ela pode ver todo o ódio estampado naquele rosto que um dia ela considerou o mais belo do mundo, e pensando novamente, ela continuava sendo a mais bela do mundo.
– Você não pode simplesmente achar que depois de dezoito anos eu vou te perdoar e esquecer o que você me fez como se nada tivesse acontecido – disse com a voz carregada de mágoa e Emma se sentiu pior que um lixo – Eu não vou te perdoar, Emma e sabe por que? Porque eu não quero. Você destruiu tudo o que tínhamos, tudo aquilo se foi e você foi a culpada – ela apontou o dedo para a loira, há anos queria dizer essas coisas, há anos guardava todo esse ódio dentro do peito – Você estragou tudo! – esbravejou deixando as lágrimas escorrerem – Eu te amava com todo o meu coração e você me destruiu e eu nunca mais fui a mesma. Então, não, eu não perdoo você.
As duas ficaram se encarando por alguns segundos, Emma queria se jogar no chão e chorar como uma criança pela dor que estava sentindo dentro do peito. As palavras de Regina haviam machucado-na por serem a mais pura verdade, ela estragou tudo, não tinha nenhum outro culpado além dela mesma e ela sabia disso.
– Já estou aqui! – Lia disse animada entrando na cozinha com os cabelos molhados sem notar a tenção palpável no ar, mas viu os olhos vermelhos da mãe e a expressão de raiva enquanto Emma parecia uma criança pega fazendo arte com cara de culpada – Está tudo bem aqui?
– Está sim, Lia – Regina respondeu tentando se recompor e foi até o forno checar a lasanha, mesmo sabendo que havia acabado de colocá-la ali, queria apenas ganhar tempo para se acalmar.
– Malia, por que não me espera na sala de música? – Emma pediu tentando não transparecer a voz embargada e a menina concordou saindo da cozinha logo em seguida – Regina...
– Nem mais uma palavra – interrompeu – Nunca mais tocará nesse assunto, Malia e Henry irão continuar pensando que não nos conhecemos e será assim até as aulas dela acabarem e você sumir. Nenhuma palavra sobre esse assunto. Nunca mais – repetiu encarando a loira com raiva e ela não teve outra alternativa a não ser respirar fundo e concordar.
– Estaremos na sala de música – falou tristemente antes de sair da cozinha com o coração estraçalhado, imaginava que seria difícil, mas nem tanto assim.
It's hard to hear your name when I haven't seen you in so long
It's like we never happened, was it just a lie?
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