And all I gave you is gone
Tumbled like it was stone
Flashback on
Como era de costume, as famílias Mills e Swan se juntavam para o almoço de domingo. Desde que Regina e Emma começaram a namorar, as famílias resolveram se unir e fazer um grande almoço com todos os membros. Bárbara e Cora se tornaram grandes amigas, fazendo quase sempre tudo juntas desde as coisas mais simples como compras no mercado até irem em consultas juntas em médicos. As duas eram inseparáveis, como as filhas.
– Onde estão as crianças, Cora? – Henry perguntou entrando na cozinha com as sacolas em mãos e Frank logo atrás.
– Eles não são mais crianças, Henry – Bárbara rebateu rindo e Cora concordou – E eles estão na piscina como sempre.
Henry e Frank foram até o lado de fora carregando as carnes e cervejas para o grande churrasco que fariam. Encontraram os filhos na psicina, jogando vôlei como se fossem irmãos. Os dois se entreolharam e sorriram, sempre quiseram uma família assim, grande e feliz.
– Vai começar o churrasco? – Emma gritou para o pai, que confirmou com a cabeça – Tá vendo, Gina? Vai poder matar esse monstro dentro do seu estômago daqui a pouco.
– Se preocupe menos com o meu estômago e mais com o jogo, seu time está perdendo – debochou a morena do outro lado da rede e todos riram.
– Jamais tire sarro de uma Mills, querida, aprendi isso anos atrás – Henry disse passando por trás da loira – Conselho de sogro.
– Muito obrigada, pelo menos uma pessoa nessa casa gosta de mim – dramatizou a loira e Rose, sua irmã, jogou água na garota fazendo-a se engasgar um pouco.
– Fale menos e jogue mais, palhaça – a loirinha revirou os olhos e Zelena piscou para ela – Vamos, Killian, jogue essa bola. Não temos o dia todo.
– Ele tava conversando com a namorada – Ruby debochou e o rapaz de olhos azuis mostrou-lhe a língua – Jesus, a maturidade – revirou os olhos para irmão da amiga – Joga logo essa merda e para de enrolação.
– Ruby Luccas, olhe a língua – Cora Mills ralhou com a nora que fez cara de inocente.
– Desculpa, tia Cora – gritou de volta e logo rebateu o saque de Emma, marcando ponto para o time dela com Regina e Killian – É isso aí, vadias! – exclamou – Desculpa de novo, tia Cora – pediu antes que a mais velha brigasse novamente e todos balançaram a cabeça negativamente.
– Ei, lembra o que meu pai disse? – Zelena falou diretamente para a namorada com uma malícia na voz – Nunca zombe de uma Mills, Ruby Luccas, nós sempre nos lembramos.
– Ta fodida, lobinha – Rose debochou rindo, mas olhou ao redor assustada com medo de que fosse repreendida igual a morena – Ufa.
– Cala a boca, distribuidora de pó mágico.
– Fica quieta, Ruby – Killian bateu no ombro da morena com mechas e Regina nadou até a namorada e a abraçou – Não vão mais jogar?
– Vocês enrolam demais – Emma disse entediada – E esse jogo já está enjoativo.
– É porque você está perdendo – Regina debochou abraçada com a loira que olhou-a como se estivesse magoada – Oh, minha criançona, é a verdade. Aceita que dói menos.
[...]
As famílias Mills e Swan estavam sentadas na mesa, almoçando todos juntos entre muitas conversas e risadas. Com os donos da casa, Bárbara e Frank, na ponta e Cora e Henry à sua direita, o resto dos membros se espalhavam pela mesa. Ruby era a única que não tinha o mesmo sangue que os Mills e Swans, mas já era amiga de Emma há tanto tempo que se considerava parte da família.
Zelena e Regina sentaram-se uma de frente para a outra e estavam em uma guerra interminável de comida. A ruiva, também não era sangue dos Mills e isso era óbvio pela falta de semelhança na aparência, mas ela fora adotada por Henry e Cora assim que os dois se casaram pois ambos pensavam que não podiam ter filhos, até que alguns anos depois, a matriarca Mills descobriu estar grávida e nove meses mais tarde, Regina havia nascido. Cora e Henry jamais pensaram em devolver a ruivinha, pois ela era tão filha deles quanto Regina e a menina havia amado ser uma irmã mais velha desde o dia em que descobrira que a mãe estava grávida.
A ligação entre as irmãs Mills era inexplicável, as duas faziam tudo juntas e sabiam de todos os detalhes da vida uma da outra. Eram confidentes e raramente brigavam como outros irmãos, como viam acontecer com Emma, Killian e Rose que viviam em pé de guerra.
– Regina, querida, você já decidiu que faculdade irá fazer? – Bárbara questionou a nora com tanto carinho na voz que a morena sentiu seu coração derreter de tanto amor que sentia pela sogra. Ela era como uma segunda mãe.
– Já sim, tia – respondeu com um sorriso e segurou na mão da namorada – Vou fazer direito na mesma faculdade que a Emma vai fazer música.
– E nós vamos procurar um apartamento pra dividir igual a Zelena e a Ruby – a loira emendou sorrindo para Regina – Pertinho da faculdade e também vai ser próximo dos nossos empregos.
– Vai dar tudo certo, meninas – Frank incentivou com um sorriso para a filha e a nora. As filhas, né? Já que considerava todas elas como suas – Vocês serão muito felizes. Killian e Melina, serão também – o senhor piscou para o filho, que estava sem a namorada por conta de uma viagem – E Rose também vai ser feliz.... Com o que quer que ela queira fazer.
Todos riram e a menina revirou os olhos, já que desde pequena sempre falava que não iria casar e muito menos ter filhos. Seu sonho era viajar pelo mundo conhecendo culturas e pessoas diferentes. Bárbara e Frank apoiavam as ideias mirabolantes da filha com a condição de que ela de formasse em algo para se sustentar depois.
Cora e Henry sentiam um orgulho enorme de ambas as filhas e a sexualidade delas jamais fora um problema. Ambos receberam-nas de braços abertos, até mesmo Regina, que antes de Emma só havia namorado com meninos e chocado a família quando aparecera namorando uma garota. Mas os dois entenderam e apoiaram a menina, sem julgamentos. E por isso, Regina era eternamente grata.
– Me avisem quando começarem a procurar apartamentos, irei ajudá-las – Bárbara ofereceu e as duas concordaram – Sei como Cora não tem paciência para a indecisão de vocês e se ela for junto vai ser só para se estressar.
– Eu também não vou, mãe – Emma comentou – Só Deus sabe o péssimo gosto que tenho para as coisas, com exceção da minha namorada perfeita.
– Nisso, precisamos concordar, maninha – Killian debochou rindo – Você era brega antes de conhecer a Regina. Se não fosse por ela, você não seria nem metade da garota que é hoje.
– Cala a boca, otário – revirou os olhos para o irmão e Regina beijou sua bochecha.
– Não liga, meu bem, você sempre foi perfeita para mim – comentou a morena carinhosamente e todos sorriram para o amor que elas sentiam uma pela outra – Você é linda.
[...]
Bárbara apareceu no portão da casa dos Mills às nove e meia da manhã, como havia combinado com a nora e buzinou para anunciar sua chegada. Logo viu os cabelos negros da menina passando pela porta e correndo em direção ao carro da sogra com um sorriso estampado no rosto. Em dois meses, ela faria dezoito anos e não via a hora de mudar para o apartamento que dividiria com Emma.
– Bom dia, minha princesa – Bárbara beijou a bochecha da menina e sorriu – Como está?
– Ansiosa – respondeu com sinceridade e com os olhinhos brilhando – Tudo o que eu sempre quis foi ter o meu cantinho com a Emma e agora estamos apenas há alguns passos de tornar isso realidade.
– Eu amo tanto vocês duas, princesa – a mais velha disse com lágrimas nos olhos, ver a felicidade estampada no rostinho da menina era impagável e ela faria de tudo nesse mundo para manter esse sorriso alegre na garota que considerava como filha – Antes de vermos os apartamentos, vamos até o shopping para comermos algo porque eu tenho certeza que você não comeu nada antes de sair.
– Como sabe? – perguntou surpresa.
– Eu te conheço há alguns anos, Regina – revirou os olhos – Como eu estava dizendo, iremos lá comer e depois passaremos em algumas lojas. Preciso comprar roupas para vocês.
– Tia Barbie, sabe que não precisa me comprar com presentes, eu já te amo e sou uma ótima hora.
– Quieta, menina, estou dirigindo. Não me distraia com suas maluquices – exagerou – Mas é claro que eu preciso te dar presentes.
– Tia, você não existe – a morena riu e logo a loira mais velha a acompanhou na risada. Era perfeita a relação entre sogra e nora, as duas se davam mais que bem e se amavam profundamente.
– Sua mãe já decidiu se vai ou não fazer a sua festa de dezoito anos? Porque se ela não fizer, eu mesma faço – falou olhando o retrovisor para entrar na pista ao lado e Regina balançou a cabeça pela forma que era mimada pela mulher.
– Ela disse que não sabe – deu de ombros – Mas é provável que faça, já que eles não quiseram fazer a minha de quinze.
– Acho muito bom que ela faça, princesa – falou séria e Regina sabia que se Cora Mills não fizesse, Bárbara Swan faria.
– Ela vai, tia, não se preocupe.
As duas chegaram ao endereço do primeiro apartamento que visitariam após saírem do shopping cheias de compras, mas Bárbara segurou a nora pelo braço e balançou a cabeça negativamente antes mesmo que ela saísse do carro.
– Minhas meninas não irão morar em um muquifo feito esse – falou irritada botando o óculos de sol na cara – Isso é inaceitável. Vamos para o próximo.
Regina não discutiu pois também não havia gostado do lugar, era bem acabado e a frente do prédio parecia abandonada, igual de filmes de terror e Regina não moraria ali nem se pagassem para ela para morar.
Bárbara dirigiu até o segundo apartamento, que era o mais próximo da faculdade e imediatamente gostou do local. O prédio era rústico, era obviamente velho, mas diferente do anterior, era extremamente bem cuidado e havia uma portaria na entrada que, aparentemente, era segura e não deixava qualquer pessoa entrar.
Bárbara se apresentou para o corretor, que as esperava na portaria e apresentou Regina a ele como uma das que moraria no apartamento.
– Por favor, me sigam – ele disse simpático e cumprimentou o porteiro com um sorriso alegre – O apartamento está em perfeitas condições, os antigos moradores deixaram tudo arrumado e ele na está mobiliado, então não haverá preocupações com móveis – Regina sorriu para a sogra que a retribuiu da mesma forma – A senhorita está interessada em um apartamento com um quarto somente, certo?
– Sim, isso mesmo – confirmou.
– Certo – ele respondeu abrindo a porta do local – Ele não é muito grande e possui somente o básico como uma suíte, um banheiro separado, sala, cozinha e lavanderia.
– É perfeito! – Regina exclamou girando pela sala enquanto gargalhava – Quando podemos assinar o contrato?
– Não irá ver o resto, querida? – Bárbara perguntou e a menina negou com a cabeça rapidamente.
– Não, tia, esse é perfeito – respondeu com convicção impressionando a sogra – Essa é a nossa casa. É o nosso lar.
Flashback off
Regina está terminando de arrumar suas malas, ainda desacreditada que Malia havia pedido para passar os três dias na casa de ninguém menos que Emma Swan. Lia nunca fora uma menina de fazer amizades fáceis ou se abrir com pessoas estranhas e a relação da menina com a professora de piano deixava um gosto estranho na boca da morena, mas nada ela podia fazer além de aceitar em silêncio. A menina já havia se despedido da mãe e ido com Emma para o apartamento da loira sob muitas instruções e regras, pois uma vez Regina Mills, sempre Regina Mills.
Henry já estava com a malinha pronta para acompanhar a mãe em sua viagem de negócios e estava dormindo no sofá da sala aguardando como sempre. A morena respirou fundo e tentou espantar todo e qualquer pensamento para longe de sua mente, mas foi interrompida pelo toque de seu celular. Revirou os olhos ao ver o nome de Cora Mills na tela.
– Oi, mãe – atendeu e colocou no viva voz para não ter que parar o que estava fazendo.
– Oi, minha querida, como está? – perguntou a mais velha e Regina já sabia somente pelo tom de voz da mãe que ela precisava contar algo, só não sabia como.
– Estou bem. E a senhora? – questionou após dobrar uma de suas blusas de seda. Não importava Pará onde fosse, nunca deixaria suas sedas de lado.
– Estou bem, estou bem – respondeu rapidamente e logo ficou em silêncio. Regina aguardou, tinha certeza que não demoraria para a matriarca Mills começar a falar – Eu recebi uma coisa hoje.
– O que? – a morena perguntou preocupada ao notar a hesitação da mãe, coisa que não acontecia muito.
– Um convite de uma festa – respondeu muito apreensiva e Regina franziu o cenho. Por que Cora estaria tão apreensiva sobre um convite qualquer?
– Mãe, mas o que tem demais em um... – a morena arregalou os olhos ao ver a data no calendário. Em duas semanas Bárbara e Frank Swan fariam 45 anos de casados – Eu não acredito – murmurou chocada.
– Pois é, querida – concordou – E nós vamos. Bom, pelo menos seu pai e eu iremos.
– Mãe, a senhora enlouqueceu? – rebateu a mulher totalmente horrorizada.
– Ora, Regina, não faça show que você não é Xuxa – ralhou – Bárbara e Frank eram nossos amigos e essa é uma comemoração importante para eles então iremos comparecer sim. Se não quiser ir, não vá.
E assim, Cora desligou o telefone sem esperar uma resposta. Regina ficou encarando o celular durante alguns minutos sem acreditar no que acabara de acontecer, estava ficando louca finalmente? A morena balançou a cabeça e começou a procurar o contato da irmã, precisava falar com Zelena e precisava fazer isso urgente. Não demorou muito para ouvir a voz estridente da ruiva pelo celular. Regina sorriu, amava demais a irmã.
– Quem morreu, sis? – perguntou sonolenta e a morena se estapeou por não lembrar do fuso horário – Espero que seja algo bom ou a morte será sua.
– Cale a boca e escute, salsicha – rebateu – Mamãe acabou de me ligar e ela me disse uma coisa... Zelena, mamãe enlouqueceu.
– Desembucha logo e me deixa voltar a dormir – resmungou emburrada e Regina arfou.
– A tia Barbie e o tio Frank enviaram um convite da festa de comemoração de 45 anos de casados para a mamãe e o papai – confessou coçando os olhos. Precisava viajar logo e estava fofocando com Zelena, aparentemente, certas coisas nunca mudam.
– ELES O QUE? – a ruiva gritou alarmada e Regina escutou Ruby do outro lado da linha perguntando o que estava acontecendo – Ruby, você estava sabendo sobre essa tal festa?
– Que festa, mulher? É cinco e meia da manhã, Zelena, volta a dormir – reclamou a morena e Regina riu do mau humor da cunhada.
– Ruby, a tia Barbie e o tio Frank vão fazer uma festa pra comemorar as bodas de rubi e enviaram o convite para a minha mãe!
– Ah, meu pai. Eu sei – disse a morena e ambas as Mills arfaram surpresas – Qual é a novidade? Vocês sabem que a tia Barbie sempre conversa comigo. E não, não é nada demais ela só faz o papel de mãe, pergunta como eu to e como andam as coisas por aqui. Agora, me deixem dormir. Saco.
Após a irmã desligar, Regina ficou sentada na cama pensativa, não estava aceitando as respostas que recebera. Era demais para sua pobre cabeça, tudo acontecendo de uma vez só, porque não poderia voltar tudo como era antes? Estava vivendo bem na Inglaterra com os filhos, mesmo que vivesse sempre em guerra com Daniel – uma coisa que não mudou – pelo menos lá isso era seu único problema.
Decidida a ignorar tudo isso por enquanto, terminou sua mala e desceu as escadas para acordar Henry e irem para o aeroporto. Precisava trabalhar para tirar os pensamentos inúteis da cabeça, ela sabia porque havia voltado aos Estados Unidos e não voltaria atrás em sua decisão. Henry Mills era muito importante para ela e gostaria de estar perto caso algo acontecesse com seu pai.
[...]
Malia havia recém chegado na casa de sua professora e já estava encantada com o apartamento, era absolutamente adorável e ela havia amado demais. Gostaria de voltar mais vezes se fosse possível.
– Seu apartamento é lindo – elogiou reparando nas decorações e Emma riu balançando a cabeça.
– Os créditos para isso são todos da Belle – confessou largando seu casaco em cima do sofá e Lia a encarou com uma expressão irritada. Odiava coisas fora do lugar, mesmo que não fosse em sua casa – Eu tenho péssimo gosto para coisas. E credo, você parece demais a sua mãe desse jeito.
Emma percebera o que havia falado, mas torceu para que Malia não notasse nada e para sua sorte, a menina riu e concordou. A loira suspirou aliviada, não queria que ela descobrisse por conta de um deslize da boca grande que tinha.
– Como não tem bom gosto? Suas roupas são incríveis – a menina elogiou novamente e Emma sorriu.
– Eu tive algumas aulas de moda com uma antiga namorada – deu de ombros se lembrando todas as vezes que pedia ajuda à Regina para comprar roupas, pois sabia que suas combinações nunca davam certo e a morena ajudava com o maior prazer do mundo.
– Ela te ensinou muita coisa? – perguntou interessada seguindo a loira até a cozinha e Emma passou a tomar bastante cuidado no tipo de informação que passava à Malia pois sabia muito bem que a menina havia puxado a inteligência da mãe.
– Várias, inclusive ela que me ensinou a tocar piano – contou e os olhos da menina brilharam – Ela tentou me ensinar a cozinhar, mas eu sempre fui um desastre na cozinha, então nunca funcionou.
– Qual era o nome dela?
– Quem sabe um dia você não descobre, madame – Emma deu uma batidinha na ponta do nariz da garota e saiu da cozinha com um copo de água em mãos – Sabe, eu tenho uma caixa cheia de coisas minhas que eu não uso mais, se quiser eu posso te dar e você pode pegar o que quiser.
– Sério? – Malia perguntou animada e Emma confirmou – Eu adoraria!
As duas andaram lado a lado pelo pequeno corredor do apartamento até o quarto da loira, que era o último. Era pequeno e com pouca decoração, haviam algumas fotos pelos cantos para lembrar de coisas boas. Fotos de Emma com Belle no dia da formatura da francesa, fotos de Emma com os irmãos e sobrinhos, da loira com os pais e também da loira com a namorada. Nessa última, Malia torceu o nariz sem que Emma percebesse e se sentou na cama aguardando a famosa caixa.
– São coisas antigas, não sei se irá gostar ou não – deu de ombros entregando a caixa para a menina – Enquanto você olha, eu vou para o banho.
Lia apenas concordou com a cabeça a abriu a caixa. Ali haviam várias roupas, das mais variadas formas e cores e a menina se pegou rindo e imaginando sua professora vestida em tudo aquilo. Ela encontrou uma blusa preta dos Ramones que estava bem batida, chegando a ficar cinza, mas que a garota achara linda e separou para levar para casa. A blusa era estilosa do jeito que ela gostava e ser de uma de suas bandas favoritas era apenas um bônus.
Ali também a menina encontrou vários tipos de lenços, de todas as cores e tamanhos e se perguntou como que Emma havia usado esse tipo de coisa.
Os lenços Lia deixou de lado e passou a fuçar ainda mais naquela enorme caixa. Encontrou um álbum de fotos bem antigo da loira com os irmãos e se divertiu durante um bom tempo rindo das palhaçadas que eles faziam nas fotos.
Emma, por sua vez, se perguntava como que passaria três dias na companhia de Malia Mills Colter sem associá-la à Regina Mills em todos os seus movimentos. A garota era uma cópia ambulante da mãe e não havia um ser humano que pudesse negar isso. Elas não eram parecidas apenas na aparência, o que já era suficientemente assustador, mas também em todos os aspectos como a forma de andar e de se portar com tamanha classe que deixaria qualquer princesa da família Real de queixo caído.
Quando a loira saiu do banheiro, arregalou os olhos ao ver o que a menina tinha em mãos. Há anos não via aquele pequeno objeto e há anos não pensava nele também.
O colar com pingente de cisne coroado balançava preguiçosamente na mão da morena e Emma coçou a garganta de maneira sem graça ao entrar no quarto. Eram muitas memórias para serem processadas de uma vez só e a professora de música precisava de um tempinho para respirar.
– Eu posso ficar com ele? – perguntou a menina olhando para Emma de maneira curiosa, mas a loira não conseguiu se virar e apenas acenou com a cabeça dizendo que sim – Ele parece ser caro. É de ouro?
– É sim – concordou enquanto penteava os cabelos só para evitar de olhar para Malia.
– E por que ele está guardado numa caixa como essa? – Lia não sabia o quanto suas perguntas eram perigosas, mas Emma sabia e não deixaria que nada escapasse sem querer.
– Eu deixei de usar ele há muito tempo atrás – deu de ombros e suspirou. Havia ficado triste de repente e com uma enorme vontade de chorar, mas se segurou e virou-se para encarar a menina com mais coragem – Eu dei um igual a esse para a minha ex namorada.
– A que te ensinou as coisas? – Emma concordou sorrindo pela esperteza da menina e se sentou na frente dela com às pernas cruzadas em posição de índio.
– Eu dei um para ela usar enquanto eu usava o outro – disse alisando o colar, mas sem tirá-lo da mão da menina – Eu disse à ela no dia em que dei esse colar como presente que enquanto nós dias ainda tivéssemos em posse deles, pertenceríamos uma à outra.
– E você ainda guarda ele? – Malia olhou para o colar. Era um cisne com uma coroa. Um cisne simbolizando o nome dá loira, mas e a coroa, teria ela algo a ver com o significado do nome da ex namorada de Emma? A menina estava decidida a descobrir tudo o que podia, mas não iria ser chata e deixaria que Swan lhe contasse tudo o que achava necessário.
– Acho que nunca tive coragem de me desfazer dele, na verdade – sorriu triste ao se lembrar da primeira vez que tentara se desfazer do colar.
Era uma segunda feira e Emma estava parada na frente de um lado profundo, sabia que se jogasse o colar ali, jamais o veria, mas simplesmente não conseguia e acabou passando a tarde sentada no gramado chorando pedindo perdão aos ventos na esperança que Regina escutasse do outro lado do mundo.
– E vai me dar ele?
– Ele nasceu para ser seu – Emma respondeu colocando o colar no pescoço da menina e depositou um beijo em sua testa – Agora sim.
– Eu pertenço à sua ex-namorada então? – Malia perguntou rindo e Emma apenas balançou a cabeça. A garota não fazia ideia do que havia acabado de dizer, talvez o destino realmente trabalhe de formas engraçadas – Você sabe se ela ainda tem ele?
– Não, eu não sei – respondeu suspirando e acariciou o rosto delicado da morena – É uma incógnita, mas eu sei que guardei o meu para lembrar que as coisas nem sempre saem da forma que imaginamos ou queremos.
– Como assim? – questionou confusa ao ver o olhar perdido da professora.
– Só me prometa que quando você encontrar alguém por quem você seja apaixonada e que esse alguém te ame na mesma intensidade, dê o valor que essa pessoa merece. – aconselhou batendo no joelho da menina de leve.
[...]
Malia acordou de manhã cedo no outro dia com barulho de gente na cozinha e sorriu ao se lembrar que estava no apartamento de Emma. A menina tocou no colar em seu pescoço antes de levantar e ir para o banheiro fazer sua higiene matinal e tomar banho para ir à escola. Emma havia arrumado o antigo quarto de Belle para que a menina dormisse confortavelmente e fora exatamente o que acontecera.
Na cozinha, Emma terminava o café da manhã enquanto Lily a encarava do balcão da cozinha. A morena havia chegado cedo para ver a namorada, pois de acordo com ela, iria passar uns dias na casa dos pais e só voltaria na próxima semana, mas a loira havia explicado que estava com Malia em casa e precisava levar a menina na escola.
– Então, agora você trabalha como babá para aquela Mills lá? – o tom de desprezo na voz de Lily não passou despercebido por Emma, mas ela decidiu que não comentaria isso.
– Não, estou apenas fazendo um favor para a minha aluna – respondeu sem tirar os olhos do fogão.
– E aquela mulher não te obrigou a ficar com a pirralha dela? – Swan respirou fundo, não queria se irritar com Lily e começar uma discussão com a menina em casa, mas a morena estava dificultando isso.
– Não, Lily, ela não me obrigou a nada. Eu ofereci. – essa última parte era mentira, mas a mulher não precisava saber disso – Malia é uma menina muito incrível e eu gosto muito dela.
– Você tá fazendo isso pra impressionar a sua chefe – desdenhou e Emma a olhou incrédula. O que deu nela? – Não me olhe assim. Você fica toda estranha toda vez que toca no nome dela.
– Você disse bem, ela é minha chefe – enfatizou desligando o fogo – E eu estou ajudando a Lia por livre e espontânea vontade, não há nenhuma intenção por trás disso.
– Não precisa ficar na defensiva – sorriu – Estou apenas comentando.
– Não está não, eu sei muito bem o que está fazendo. E não estou interessada em ter essa discussão agora – falou decidida – Então, por favor, deixe esse assunto para outra hora.
Malia entrou na cozinha bem na hora com um sorriso amarelo, ela havia escutado parte da discussão, mas preferiu fingir demência para não piorar as coisas. Gostava cada vez menos da namorada morena de sua professora.
[...]
No terceiro e último dia de Malia na casa de sua professora, as duas receberam uma visita inesperada. Pelo menos era inesperada para a loira, que ficou totalmente surpresa ao ver Bárbara Blanchard Swan parada na porta com um sorriso político no rosto.
– Bom dia, minha querida – disse beijando o rosto da filha e entrando no apartamento sem esperar um convite.
– Mamãe – falou fechando a porta tentando se recuperar do susto – Não que eu não esteja com saudade da senhora, mas o que veio fazer aqui?
– Ver a minha filha, é claro – disse obviamente – O que estava fazendo?
Antes que Emma pudesse explicar o por quê de suas roupas estarem sujas de tinta, Malia apareceu na sala com um sorriso de orelha à orelha com um pincel na mão. Bárbara não escondeu sua surpresa ao ver a menina que era assustadoramente parecida com Regina Mills.
– Mais olha que menina mais adorável – comentou sorrindo com os olhos ainda arregalados alternando entre a filha e a desconhecida – Posso saber quem é essa jovem, minha filha?
– Mãe, essa é Malia, minha aluna. Malia esta é minha mãe – disse suspirando e Lia estendeu a mão para cumprimentar a senhora, que a puxou para um abraço apertando.
– É um prazer conhecer a senhora.
– O prazer é meu, princesa – disse acariciando o rosto da menina. E Emma balançou a cabeça, sempre soube o quanto a mãe havia sofrido com a falta da ex nora e não a culpava – Pode nos dar licença um minutinho? Preciso discutir um assunto com a minha filha ausente.
Malia concordou e voltou para o quarto da loira para dar privacidade às duas. Bárbara puxou Emma pelo braço, arrastando-a até a cozinha com uma cara nada amigável.
– Explique-se, Emma Swan – ordenou cruzando os braços e a loira revirou os olhos – Quem é a menina?
– Estou dando aulas de piano para ela, mamãe – respondeu, mas Bárbara continuou encarando-a nem um pouco satisfeita com a resposta – Ela é filha da Regina, ok? Eu não sabia quando comecei, mas depois encontrei com eles em um restaurante e... Deus, eu nem sabia que ela estava de volta na cidade!
– Ela é filha da Regina?
– É, explica bastante a aparência – falou concordando – Ela é a mais velha. Regina também tem um garotinho de cinco anos.
– E você não pensou em me contar isso? Que estava frequentando a casa da minha ex nora? Qual é o seu problema?
– Mãe, eu não quero ter essa discussão aqui nesse momento. Malia nem sonha que Regina e eu nos conhecemos e muito menos que ela é minha ex.
– É, mas ela vai descobrir rapidinho – comentou – O que acha que vai acontecer quando a família Mills em peso aparecer na minha festa? Você bateu a cabeça muito forte ou é esse teu cabelo loiro que está afetando o seu cérebro?
– Mãe, a senhora também é loira.
– Cala a boca! Eu quero que vocês duas resolvam essa situação. Não quero que a minha festa vire um circo de horrores.
[...]
Regina chegou em casa beirando a meia-noite com Henry dormindo em seus braços e Malia à caminho de sua casa. Havia ligado para a menina assim que seu avião pousara para pedir que ela fosse para casa. A morena subiu as escadas com o garoto no colo e o depositou na cama carinhosamente, dando um beijo em sua testa logo em seguida. Amava demais o menino. Foi tirada de seus devaneios pelo barulho da porta da frente sendo aberta, ela desceu rapidamente as escadas e abraçou a filha com força pois a saudade estava enorme.
– Mãe, está me esmagando – a menina disse rindo e Emma ficou parada na porta meio sem saber o que fazer – Eu também estava com saudades.
– Pareceram séculos longe de você, minha menina – Regina beijou várias vezes o rosto da filha e olhou para Emma com um sorriso agradecido, que doeu no fundo de seu peito – Obrigada.
– O prazer foi todo meu.
As três mulheres se despediram e Emma entrou no carro e foi embora com o coração acelerado, como sempre ficava toda vez que ficava perto de Regina. Enquanto a morena ainda abraçava e beijava a filha com medo de soltá-la. Se afastou um pouco para olhar no rosto da garota e viu uma corrente dourada em seu pescoço, uma que ela não tinha antes. Malia vendo onde o olhar de sua mãe havia caído, sorriu e puxou ele de dentro de sua blusa.
– Emma me deu – falou mostrando o pingente e Regina ficou branca – Estava no meio das coisas dela e eu perguntei se poderia pegar para mim, ela disse que sim e colocou no meu pescoço. Lindo, não acha?
Regina não respondeu, permaneceu encarando o colar com o rosto pálido. Não conseguia sequer formar uma frase coerente naquele momento. Então Emma ainda guardava o colar? Por que? Seria pelo mesmo motivo que Regina? Por uma faísca de esperança idiota de que um dia as coisas voltariam a ser como antes e tudo não iria passar de um pesadelo horrível?
Regina balançou a cabeça, desse pesadelo havia saído duas coisas belíssimas. Seus filhos. E ela não trocaria eles por nada nesse mundo.
– É lindo, querida.
The scar I can't reverse
When the more it heals the worse it hurts
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