“Naquela época eu não podia saber, mas sempre foi amor o que eu sentia por ela”
6 MESES E MEIO DEPOIS
Oxford, Inglaterra
Junho de 2019
Matteo Balsano
De: Matteo Balsano
Data: 12 de julho de 2019
Para: Luna Valente
Assunto: Páginas
"Você deve ter arrancado todas as páginas sobre mim da sua vida. Mas isso não é um problema, eu fico feliz sabendo que você está seguindo em frente, foi tudo que eu mais desejei desde que te deixei naquele quarto de hotel em Cancún. Não é porque eu me sinto triste que não vou querer que você toque a sua vida sem mim. Só em você está em busca da sua felicidade de alguma forma já me enche de alegria. Não sei se é difícil para você tanto quanto é para mim, se for, eu sinto muito por toda a dor que você sentiu e está sentindo.
Abraços,
Chico Fresa!"
Hoje era o último dia de aula do semestre antes das férias de verão. Acabara de sair da sala de aula, onde ocorria a realização da última avaliação e agora estava sentado no gramado em frente ao prédio apenas esperando a Amelia sair.
Depois de uns vinte minutos ela apareceu e seguimos rumo ao meu apartamento. Ela passou todo o percurso dizendo que eu deveria ir para a festa de início das férias pois eu precisava relaxar e não pensar todo o tempo nos estudos, mudar um pouco o foco dos meus pensamentos. Foi assim durante toda essa semana que passou e a outra também, quando não era ela, era o Gastón. Estava cansado dos dois se unirem para encher a minha paciência até que eu cedesse e fosse para as malditas festas. Por sorte, nos últimos meses eu venho tendo uma aliada, a Nina, desde que ela veio estudar em Oxford o Gastón parou mais de ir a festas, não que antes dela chegar ele fizesse coisas erradas, não é isso, é só que agora ele ocupa sua mente com outras coisas.
— Vamos Matteo, vai ser divertido. — Ela continuava insistindo. Joguei meu corpo no sofá já cansado daquele assunto.
— Nina, me ajuda aqui por favor — pedi a minha quase cunhada que estava sentada ao meu lado no sofá, assistindo a algum programa científico na televisão.
— Você acha que eu já não tentei? O Gastón me encheu a manhã todinha com esse mesmo assunto. — Ela suspirou cansada e arrumou a armação do seu óculos no rosto. — Você mais que ninguém sabe que esses dois só desistem quando têm o que querem, igual a você. Só indo mesmo para eles pararam com essa chatice. — Ames deu língua para a Nina quando ela terminou de falar. Por incrível que pareça elas gostaram uma da outra e estão iniciando uma amizade, a surpresa por esse fato só é grande por ambas serem muito diferentes, mas isso não implica em muita coisa, já que a Luna e a Nina se tornaram melhores amigas e elas não tem basicamente nada em comum. E de novo ela aparece em meus pensamentos, é sempre a mesma coisa.
— Hey, não me envolva nisso não. Já disse que não estou com ânimo para essa festa. — Amelia revirou os olhos com a minha resposta e sentou no encosto da cadeira ao meu lado.
— Ah Matteo, você está parecendo um velho falando assim. O que custa largar uma vez a rotina para se divertir um pouco? — custa minha integridade. Quis responder, mas permaneci calado. Mesmo sendo a realidade, Matteo mais bebida nunca resultava em algo bom, já comprovei isso diversas vezes. — Até a Nina que é um poço de caretice vai nessa festa, você tem que ir também. — Nina ralhou com ela fingindo ter ficado ofendida com o que disse.
— Você não vai me deixar em paz, certo? — Ela negou com a cabeça e um sorriso já surgia em seus lábios. — Você venceu, eu vou. Porém com uma condição: eu não vou beber. — ela começou a bater palmas animada mas parou quando eu falei a segunda parte.
— Ah não Matteo, retiro o que eu disse sobre a Nina, o careta aqui é você. Qual a graça de ir para uma festa e não beber nada? — ela perguntou e continuou falando, sem dar espaço para que eu respondesse. — Mas não tem problema, vamos nos divertir de qualquer forma, eu vou escolher uma garota e hoje você desencalha. — a animação dela era bastante visível e Nina que continuava sentada ao meu lado, apenas ria de toda a situação e das reações que eu tinha com o que ela falava.
— Eu tô bem assim, não preciso de namorada.
— Eu não me refiro a isso, e sim a transar. — Nina se engasgou com a forma direta da minha amiga de falar sobre esse assunto e dessa vez foi eu quem ri. — Gastón me contou que desde a sua ex que você não faz mais isso, com certeza você voltou a ser virgem, por tanto tempo que tá na seca.
— Amelia, deixa de ser bocuda. Eu não fiz porque não quis, não preciso sair transando com todas para esquecer o que aconteceu e partir para outra — disse e ela revirou os olhos.
— Eu não estou dizendo que você deve se apegar a alguém, apenas que deve se divertir. Sem contar que eu sei muito bem que nem se a Jennifer Lawrence aparecesse aqui na sua frente você iria conseguir esquecer o que aconteceu. — Estava bastante desconfortável com a menção daquele assunto. Por que minha amiga tem que ser tão fofoqueira e boca aberta? Acho que ela esquece que a Nina é melhor amiga da Luna, que no caso é a minha ex que eu deixei para trás e parti o seu coração.
— Vou para o meu quarto, cansei desse assunto. — Levantei do sofá e segui em direção ao corredor onde ficavam os quartos.
Deitei na cama de barriga para cima, pensando em tudo e também em nada. Perguntava-me porque era tão fácil a Luna ser mencionada em qualquer assunto, ela era algo constante na minha mente e no meu coração, acreditava que me mudando para o outro lado do planeta o sentimento que eu sentia também mudaria. Mas isso não aconteceu, esse sentimento apenas aumentou e a distância dela fez com que a sensação de que existisse um buraco dentro do meu peito aumentasse, como se eu precisasse preencher aquele vazio com alguma coisa e que nada encaixava, nada além dela.
Arrumava-me com uma empolgação que se eu pensasse mais um pouco sobre o assunto ela acabaria, e no final só restaria eu no meu sofá assistindo Netflix.
— Anda logo Matteo, nem adianta ficar enrolando, você vai e pronto. — ouvi um grito acompanhado de fortes batidas contra a porta do quarto. Minha paciência era quase inexistente e com aquilo ela só diminuiu.
— Não precisava quebrar a porta, já estava saindo. — meu humor se encontrava terrível, faltava muito pouco para eu desistir daquela ideia absurda, tinha a sensação de que algo indesejado aconteceria naquela noite.
Porém apenas ignorei aquilo, mesmo desanimado sabia que ela estava certa em relação ao fato de que eu, ou estou na faculdade ou estou em casa estudando. Desde que comecei o curso larguei quase que completamente a farra e não era algo que eu sentia falta, sabia que precisava amadurecer e deixar de cometer os mesmos erros do passado, porém às vezes é necessário você se divertir um pouco, e era isso que eu iria fazer hoje.
As horas passaram voando e já fazia mais de duas horas que tínhamos chegado na casa da fraternidade onde acontecia a festa, talvez eu tenha dado um perdido na Amelia pois não queria fazer parte dos planos brilhantes dela de arrumar uma garota para mim. Havia bebido algumas garrafas de cerveja, mas não o suficiente para ficar bêbado.
Agora estava aqui no telhado da casa, olhando para a lua e perdido nos meus pensamentos, talvez a sociedade diga que não é isso que se deve fazer em uma festa, mas não me importava, queria apenas ficar ali, sozinho. Senti algo gelado tocando em mim por cima da blusa de manga que usava, olhei para o lado dando de cara com Ames sentando-se ao meu lado e estendendo-me uma garrafa de cerveja que eu peguei de sua mão e tomei um longo gole.
Passamos longos minutos ali em silêncio, ninguém falava nada, apenas aproveitávamos a presença um do outro. — Enquanto eu estava aqui olhando para a lua eu pensei: ela parece tão próxima de nós, sendo que na realidade ela está a milhares de quilômetros de distância. — não sabia se aquilo fazia sentido, talvez a bebida já estivesse fazendo efeito e eu falava besteira. — Eu me sinto da mesma forma com a Luna, ela está aqui no meu coração, e parece tão perto de mim, sendo que na realidade ela está bem longe, do outro lado do planeta.
— Sinto muito... Mas então, lá de onde você vem as pessoas têm o costume de colocar nome de satélites e planetas nos filhos? — comecei a rir do que ela disse.
— Talvez. Eu nunca tinha sentido por alguém o que eu sinto pela Luna. Com ela eu podia vivenciar mil emoções diferentes. — Abaixei a cabeça e suspirei pesadamente. — A primeira vez que eu a vi uma coisa dentro de mim se agitou. Naquela época eu não podia saber, mas sempre foi amor o que eu sentia por ela.
E pela primeira vez desde que eu cheguei na Inglaterra que eu conto a alguém tudo que passou entre mim e a Luna, desde todos os momentos felizes que passei junto a ela, até as maiores tristezas. Contei sobre todas as merdas que eu causei na vida dela, cada mentira contada, cada decepção, também falei como eu me sentia e que ao fim eu tinha percebido que não fomos feitos para nos pertencemos, ela não era minha e nem eu era dela, simples e dolorosamente assim. Só perguntava-me como a vida me fez amar uma pessoa tão forte, até o ponto onde eu sentia uma parte de mim vazia quando estava sem ela, mesmo sabendo que ela nunca seria realmente minha.
Agora estava aqui, subindo as escadas indo em direção ao andar dos quartos, com uma garota extremamente gostosa presa ao meu pescoço, enquanto eu a beijava com voracidade. Não era um beijo calmo nem chegava perto disso, também não era um beijo que me fazia sentir completo. Era apenas um beijo que me fazia esquecer ou ao menos tentar esquecer.
Entramos em um quarto vazio e assim que a porta se fechou eu a joguei com brutalidade na cama, cobrindo o seu corpo com o meu logo em seguida, chupava o seu pescoço e apertava sua cintura fortemente. Afastei minha boca do corpo dela apenas para retirar a sua camisa e o seu sutiã vermelho de renda, fechei os olhos enquanto contornava o mamilo do seu peito direito com a língua e o sugava lentamente, em minha mente a pessoa que estava sob o meu corpo era a Luna, enquanto eu a tomava inteiramente para mim. Meu pênis já latejava dentro da calça jeans e eu só queria enfiá-lo dentro dela e parar apenas quando ela gozasse para mim.
Ela inverteu nossas posições e retirou minha camiseta, traçando beijos molhados e quentes do meu pescoço até a região da minha virilha, onde abriu o botão da calça e eu senti sua mão pequena cobrir meu pênis e massageá-lo, dando leves apertadas nos lugares onde mais sentia prazer. Isso era muito bom.
— Isso gostosa... mais rápido... vamos Luna...
Em um momento eu estava gemendo de prazer proporcionado por aquelas mãos tão macias e habilidosas e no momento seguinte eu estava levando a mão ao resto no lugar onde senti uma ardência causada pelo forte tapa que ela desferiu na minha bochecha. Que filha da puta, por que ela me bateu?
— Seu cretino, não me importa você ir para cama com todas, mas não quero ser confundida com essas suas putinhas. — Saiu de cima de mim e voltou a vestir sua roupa. Estava completamente perdido e sem saber o que aconteceu. Até que eu me dei conta do que eu havia falado sem ao menos perceber. Minha cabeça rodava e uma sensação terrível de mal estar se apoderou da boca do meu estômago. Se eu ainda não enlouqueci tenho certeza que já estou perto disso.
Depois do acontecimento com aquela garota no quarto, eu ainda passei bastante tempo para poder me acalmar, em todos os sentidos, se é que me entende. Neste momento eu encontrava-me no andar de baixo da casa, já havia bebido o suficiente para não conseguir contar quantos copos de vodka eu ingeri.
E apesar de totalmente bêbado eu só conseguia pensar nela. Em como ela era linda quando ficava irritada e como suas sobrancelhas se erguiam quando não entendia algo, e que logo em seguida seus olhos brilhavam intensamente quando conseguia compreender. Ela era linda de todas as formas e eu me apaixonei por cada uma delas.
O celular estava ligado, com a janela dos contatos aberta. Meu dedo pairava sobre um contato na lista com a letra C, enquanto entrava em uma batalha mentalmente para decidir se eu ligava ou não.
Primeiro toque. Matteo isso não é o correto, desliga essa chamada antes que seja tarde demais.
Segundo toque. Você sabe que depois disso as coisas só irão piorar.
Terceiro toque. Para você e, principalmente para ela.
Quarto toque. Não é isso que você deseja.
Quinto toque. Desliga imediatamente.
Sexto toque. A linha ficou muda e eu conseguia ouvir sua respiração calma do outro lado, tarde demais.
— Alô?
Ouvir sua voz foi como se eu estivesse a beira da morte e isso fosse a única saída para a minha sobrevivência. Pensava que eu sentia falta dela antes, agora eu percebo que tudo não era nem metade do que eu realmente sentia. Ouvir sua voz e constatar que eu nunca mais a teria em meus braços era doloroso, isso pode parecer hipócrita, já que fui eu quem terminei com ela. Mas a razão para eu ter tomado essa atitude vai além do meu orgulho e do que todos são capazes de imaginar. As pessoas deveriam entender que amar não é prender a pessoa em uma relação que só machuca, o verdadeiro significado de amar é você abrir mão quando percebe que não está dando certo e que a outra pessoa merece ter outra oportunidade para ser feliz. Relacionamentos não chegam ao fim apenas quando o sentimento se extingue, esse não foi o nosso caso, existem vários outros fatores, como a ausência de confiança e a falta de compreensão, foi exatamente o nosso ponto fraco.
— Matteo... Por que você está me ligando? — Tais palavras vieram acompanhadas de um suspiro pesaroso.
A linha retornou a ficar muda, nossas respirações profundas fundiam-se por meio da ligação, como se não estivéssemos a milhares e milhares de quilômetros de distância um do outro. Sentia o calor que o seu corpo emanava perto de mim e o seu hálito quente soprar contra a pele fria do meu rosto.
— Eu não sei — fui sincero com ela. Por qual motivo depois de dois anos longe eu resolvi ligar? Talvez nada mudou desde então ou talvez sim, as coisas mudaram. Era tudo muito confuso, eu podia ter mudado de país, de continente, até mesmo de planeta, mas algo dentro de mim dizia que nada mudaria. Que eu a amaria e seria dela eternamente. Parece estranho, e é mesmo, uma sensação completamente sufocante. — Talvez eu só estivesse com saudades.
— Matteo, você não tem esse direito. — sua voz era quase sussurrada e percebi que ela chorava. — Não depois do que você fez, não sei se você lembra, mas não fui eu quem fui embora e te deixei. Você tem ideia do quanto eu fiquei destruída? De quantas noites eu passei em claro sem conseguir dormir, com o celular na mão esperando uma mensagem sua ou criando coragem para te enviar uma? Mas sabe por que eu não enviei nada? Porque a escolha foi sua e eu não poderia interferir. Então não, você não tem nenhum direito de dizer que está com saudades, seu idiota.
— Eu sei e sinto muito. — Qual era o meu problema? Eu não deveria ter ligado, não deveria nem ter tido a ideia de fazer a ligação. Entendia que depois ela ficaria com isso na cabeça, torturando-se, perguntando onde foi que errou. Sei disso porque foi exatamente assim que eu fiquei, e é assim que eu vou ficar quando a ligação for encerrada.
— Acho melhor desligarmos, não temos nada para conversar — fungou e respirou pesadamente. Eu sou uma pessoa horrível.
— Só... não esquece de uma coisa. Eu nunca deixei de te amar. — A linha ficou muda e logo em seguida uma sequência de bips soou por meus ouvidos indicando o fim da chamada. Minha cabeça pendeu para trás, usando o encosto daquela cadeira desconfortável como apoio. Minha mão foi de encontro ao meu peito, massageando o local, tentando acabar com aquela dor e angústia que se apoderaram ali dentro de mim.
Não sei o que me dói mais, saber que eu nunca mais voltarei a vê-la ou o fato de que ela nunca irá me perdoar.
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