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História L'ultimo Ballo - Diciotto


Escrita por: lutteando

Notas do Autor


2° Parte da maratona:
6/6 💕

>>Música do capítulo: Que hubiera sido – Ventino<<

Capítulo 19 - Diciotto


Fanfic / Fanfiction L'ultimo Ballo - Diciotto

“Ainda hoje me pergunto em qual momento que a gente se desencontrou. Que o amor acabou. Que tudo chegou ao fim.”


Londres, Inglaterra
Agosto de 2021

Luna Valente

Não conseguia acreditar, já fazia algumas horas desde o acontecido e desde que cheguei ao hotel permaneci trancada em meu quarto tentando organizar os meus pensamentos. Vê-lo por poucos segundos não poderia me desestabilizar daquela forma, certo? Eu já estava bem e não sentia mais nada por ele.

A quem eu queria enganar? Ao ter seu rosto tão próximo ao meu senti todos os meus sentidos acenderem e responder aos seus estímulos. Ele estava absurdamente lindo, seus músculos estavam mais rígidos e ganhou mais destaque por causa da blusa de mangas que usava. A única diferença em seu rosto era a barba rala por fazer, porém, o sorriso ingenuamente infantil que sempre fez o meu coração bater mais forte continuava presente contornando os seus lábios. Cada detalhe do rosto dele parecia ter sido desenhado a mão.

O que acontecia comigo? Não poderia ter esses pensamentos, nada entre nós dois iria mudar e isso ficou bem claro para mim quando conversamos em Cancún. Era difícil de admitir, doía muito, mas por mais que eu o amasse, por mais que eu quisesse que as coisas entre nós dessem certo, não era a melhor opção. Era muito provável que ele já tenha se esquecido de mim, já passou tanto tempo, eu que sou uma tonta e não consigo apagá-lo da minha vida.

E se ele ainda sentisse algo por mim, qual a garantia que eu teria de que ele não fosse me machucar mais uma vez? Que me fizesse sentir especial para logo em seguida me jogar contra o chão como algo descartável. Meu coração doeu na primeira vez, foi difícil fazer com que essa dor diminuísse de intensidade, uma segunda vez eu tinha certeza que ele não suportaria.

Quando estive cara a cara com ele, parecia que eu tinha desaprendido a falar, as palavras simplesmente sumiram. Não sabia o que dizer, tampouco pensava que iria passar por aquela situação, em minha mente nunca mais nos veríamos, era quase que impossível aquele reencontro, mas ao parecer, equivoquei-me pela milionésima vez em relação ao Matteo.

Alguém bateu na porta do lado de fora e eu suspirei cansada, só podia ser o Rafael e eu não estava pronta para responder suas perguntas, talvez nem eu mesma tivesse a resposta para elas. Caminhei até a porta sem pressa alguma e a abri, diferente das outras vezes, ele entrou em silêncio e foi até a minha cama e sentou-se nela, ainda em silêncio.

Não gostava daquilo, sempre que ele ficava assim calado era porque queria perguntar algo e eu sabia perfeitamente que algo era esse. E ele também sabia que não era um assunto que me fazia bem, por isso do silêncio, mas parece que essa enrolação toda só piorava, porque mil e um pensamentos inundavam minha mente, tudo acabava se tornando uma confusão.

— Rafa, eu sei que você quer perguntar alguma coisa, então é melhor fazer isso logo porque estou ficando agoniada — falei de uma vez após minutos em silêncio. Ele revezou o olhar de mim para o lençol da cama diversas vezes antes de começar a falar:

— Como você está se sentindo?

— Eu estou bem. — Mentira? Talvez, mas tinha que me convencer disso. Eu estava bem, não seria uma simples trombada no garoto por quem eu sempre fui apaixonada e que mesmo depois de anos eu não fui capaz de deixar de amá-lo que mudaria isso. Está vendo só? Não existia nenhum motivo para que eu não estivesse bem, estou ótima.

— Você não me engana docinho, ficou estranha desde que esbarrou com o seu boy gato. Acha que eu não percebi que você desanimou depois disso? — Pronto, aí estava, negar realmente não era uma boa alternativa.

Por que tudo tinha que ser tão mais difícil? Seria tão mais simples se esses sentimentos aqui dentro de mim não existissem mais, se eu não ficasse tão nervosa ao ter o seu corpo tão perto do meu. Mas não, cada célula do meu organismo reagia ao seu toque e elas pediam por mais, queria suas mãos passeando por cada pedaço de pele que ele alcançasse, ansiava para ter a sua boca colada com a minha mais uma vez.

Masoquista? Talvez, mas não conseguia controlar esses pensamentos.

— Está tão na cara assim? — respondi a sua pergunta relacionada ao meu estado emocional, com outra pergunta.

— Sim, você ficou desconfortável. Conta, o que você sente por ele? — aquela pergunta desestabilizou-me, eu sentia muitas coisas por ele, isso era fato, porém minha cabeça era uma enorme desordem, meu coração então, nem se fala. Parecia que eles não estavam conectados, minha mente dizia uma coisa e o meu coração outra completamente diferente.

Minha mente dizia que não, que não era possível eu ainda sentir algo pelo Matteo e que a chance de voltarmos a ter algo era nula. Mas eu sentia coisas diferentes, sentia um calor inexplicável ao tê-lo perto de mim. Mas tinha a certeza apenas de uma coisa: eu não queria mais sofrer e isso só aconteceria se eu permanecesse bem longe dele, ignorando todos esses sentimentos confusos. Isso chama-se autoproteção, eu não confiava mais no Matteo e nem em suas promessas vazias.

Quantas e quantas não foram as vezes que ele disse que me amava e que nada nem ninguém mudaria isso, que nunca iríamos nos separar. Agora entendia que nunca devemos prometer algo a ninguém, tudo é complicado demais para isso, não temos certeza de nada, as coisas mudam, amores vêm e vão, nem sempre as pessoas ou os sentimentos serão fixos em sua vida, o destino irá se encarregar de mostrar o que deve ir e o que deve ficar, você apenas tem que soltar isso que não lhe pertence mais e dizer adeus.

Eu aprendi a abrir mão dessas coisas que machucam e sim, eu digo pelo Matteo. Por mais que os sentimentos por ele ainda continuem vivos em mim, nada mais é igual, eu aceitei o fim da nossa relação e passei muito tempo para chegar nisso, a todo momento a minha mente o culpava, impossibilitando-me de perceber o meu erro em toda a nossa história. Compreendo que eu não era o amor para a sua vida, que o nosso futuro não seria juntos e que antes de qualquer sentimento por outras pessoas, eu deveria amar primeiro a mim.

Mas o grande problema se encontra nos sentimentos, muito confuso, eu sei, mas vou explicar. Eu superar o fim do nosso relacionamento não significava que eu superei o amor que eu sentia por ele, por mais que eu tivesse tentado, nada adiantou. Tentei colocar outro sentimento por cima desse, não funcionou. Tentei pôr outra pessoa por cima desse sentimento e infelizmente entreguei a ela o fardo de me ter só pela metade, e ao final ela saiu machucada. Acho que é do feitio dos seres humanos, machucar quando se estar machucado. Não, não estou dizendo que isso é proposital, é algo que simplesmente acontece.

Continuando, essas drogas de sentimentos me fizeram chegar aonde eu estou agora. Por muitas vezes pensei que o meu amor por ele esfriou, porque não era algo que ainda doía. Minha mente vivia me dizendo que pouco a pouco isso ia sumindo e quando eu menos esperasse não sentiria mais nada. Esse é o momento que todo mundo rir.

Sendo que ao vê-lo, percebi que os sentimentos estavam apenas adormecidos, esperando que alguém viesse para acordá-los. Confuso, não é?

Sabe aqueles jogos de tabuleiro? Que ao errar uma pergunta você tem que ir voltando várias casas? A vida é exatamente como esses jogos, a cada equívoco você retrocede, porém da mesma maneira, deve aprender a se reerguer e não voltar a cometer aquele mesmo erro e seguir até a reta final e ganhar o jogo. É como um ciclo, e eu estou presa nesse ciclo que nunca termina.

No momento eu sou aquela pecinha do jogo que não consegue sair do quadradinho, não sabe como retornar ao início e começar tudo outra vez, muito menos como seguir adiante. Então permanece lá, parada, tentando buscar uma saída, mas falhando miseravelmente, apenas vendo todos seguindo suas vidas felizes.

— Eu não sei o que eu sinto, parece que um tornado passou dentro de mim e bagunçou algo que já não era tão arrumado — falei desviando o olhar e tentando conter a vontade de me debulhar em lágrimas.

— Eu acho que deveriam conversar, o relacionamento de vocês acabou de uma forma inesperada, ainda é um ciclo aberto. — Foquei meu olhar no seu enquanto ele dizia aquilo. Conversar com o Matteo estava fora de cogitação. — Diálogo foi algo que sempre faltou entre vocês dois, por causa disso você ainda sente esse vazio aí dentro, porque a história não chegou ao final.

— Não vai ser uma conversa que irá resolver todos os problemas entre nós dois, não quero ficar apertando na mesma tecla sem sair do lugar. Às vezes não é preciso que venha a palavra "fim" para sabermos que é o final.

— Não irei discutir Luna, você nunca escutou ninguém e não vai ser agora que vai mudar. Deveria ser madura o suficiente para ter uma conversa tranquila com ele, não estou dizendo que é para voltarem, claro que não, apenas que devem esclarecer todos os mal entendidos que ficaram no meio do caminho, é como uma pedra no sapato, por mais que você não veja, sabe que está lá e incomoda.

As pessoas diziam que devemos amadurecer e deixar as coisas no passado, que na vida adulta tudo é diferente, mas na posição que eu estou não é fácil. A todo momento tinha pessoas monitorando cada passo meu, outras que estavam sempre falando o que eu devia ou não fazer ou dizer. Sem contar que todos tratavam-me como uma criança indefesa, então não, não me julguem sem realmente saber como é isso.

Com tudo, não tive tempo de mudar meus pensamentos. A única coisa que eu sei é que devo focar sempre em mim, preocupar-me comigo e com minha saúde mental, não é nada fácil, mas eu estou tentando. A doutora Catarina sempre costumava dizer que não importava o tamanho do amor que você sentia por alguém, se isso te machucar, você simplesmente deve abrir mão, por mais difícil que possa parecer. Não precisava aceitar, isso aí já é outro estágio, apenas não deveria insistir em uma coisa que apenas te faz sentir dor. É como você tentar calçar um sapato que não é o seu tamanho, quanto mais forçar, mas irá doer.

Depois de suas palavras não soube mais o que dizer e o silêncio reinou no quarto, pouco tempo depois ele foi embora e eu dormi, tentando não pensar muito. Acordei no dia seguinte com a cabeça a mil, não tinha clima para festa ou qualquer coisa que envolvesse eu longe do meu quarto. Mas como não tinha escolha, levantei mais cedo do que eu previa e fui tomar um banho.

Passei a tarde toda presa em uma sala com pessoas mexendo em meu cabelo, no meu rosto e em minhas unhas. Tudo ali sufocava-me e eu só queria gritar e sair correndo para qualquer outro lugar. Como não era novidade para ninguém eu me atrasar, dessa vez tive um imprevisto com o vestido e ao final isso demorou mais do que prevíamos para arrumar. O costureiro teve que se virar nos trinta para fazer o vestido entrar em meu corpo. Parece que alguém engordou, oba!

Por uma razão desconhecida, estava super nervosa para esse evento, sentia meu coração batendo a mil por hora, como se algo fosse acontecer, mas não fazia ideia do que era. Então ignorei aquela sensação, devia ser coisa da minha cabeça.

Chegamos ao local do evento e o aperto no meu peito apenas aumentou, novamente ignorei aquilo. Assim que entramos no salão meus olhos foram de encontro a uma pessoa que eu reconheceria a milhões de distância. Ele estava de costas para mim e trajava um terno preto que desenhava bem os músculos do seu braço. Ele ficava extremamente sexy de smoking.

Ele começou a virar na direção que eu estava e tratei de dissimular olhando para todos os lados menos em sua direção. Não queria que ele percebesse que eu o olhava.

Por estar distraída em meus pensamentos não percebi que alguém se aproximava e acabei me assustando quando ouvi uma voz bem perto de mim. Levantei meu olhar e senti todo o oxigênio presente no ambiente evaporando lentamente e uma falta de ar se fazer presente.

Ele estava ali, a poucos centímetros de distância de mim, sentia seu cheiro inebriando os meus sentidos e pela primeira vez olhei para o seu rosto. O seu olhar não estava focado em mim, ele olhava para todos os pontos do local, tão desconcertado quanto eu.

O cara que estava ao seu lado nos apresentou e após o Matteo dizer que já nos conhecíamos ele saiu e o clima entre nós dois ficou ainda mais tenso que antes. O silêncio era constrangedor, não sabíamos o que dizer um ao outro, nem sequer nos olhávamos.

— Você está linda. — Sua voz rouca entrou por minhas vias auditivas e um arrepio se espalhou por todo o meu corpo.

— Você também está deslumbrante. — Olhei para ele por milésimos de segundos antes de dizer isso e voltei a olhar o chão.

Ótimo, o desconforto voltou e agora em dose dupla. Era muito estranho pensar em nós dois na situação que estamos agora, antes conversávamos sobre qualquer assunto, mesmo depois de uma briga, um tempo depois voltávamos a conversar normalmente. Mas dessa vez era diferente, um pedido de desculpas e palavras bonitas não resolveria o nosso problema, nada resolveria. A intimidade e cumplicidade que tínhamos acabou.

Quando Matteo me chamou para dançar, uma batalha interna entre minha mente e o meu coração foi formada. Minha mente a todo momento dizia para eu recusar, que tê-lo tão perto de mim não me faria bem, já o meu coração gritava para eu aceitar, que isso não mudaria em nada, era apenas uma dança.

Agora estava aqui sentindo o meu corpo em chamas ao ter suas mãos tocando a minha pele. O ritmo dos nossos corpos era lento, nos movíamos conforme a melodia calma da música que tocava. Não conseguia nem tinha coragem para olhar em seus olhos e encarar aquela imensidão castanha. Mas eu era capaz de sentir o seu olhar em cima de mim, sentia todos os sistemas do meu corpo entrarem em colapso, minha respiração era irregular e meu coração batia freneticamente.

Minha vontade era de falar sobre a carta que eu enviei e perguntar quais os motivos que o levaram a escrever aquelas mensagens para mim. Mas não tinha coragem. Talvez aquilo fosse um assunto mal resolvido apenas para mim e ele já tenha tudo claro em sua cabeça. Então achei melhor não mencionar nada e apenas permaneci em silêncio.

O tempo passava devagar enquanto dançávamos, era como se ninguém ao nosso redor existisse e cada segundo tivesse que ser aproveitado como se fossem os últimos. Eram os últimos para nós dois juntos, depois de hoje tudo voltaria ao normal, eu tentaria voltar a minha rotina de antes, não queria que aquilo voltasse a me abalar.

— Luna, eu... — sua voz era baixa e caso eu não estivesse perto não seria capaz de escutá-lo. Pela primeira vez desde que a dança começou eu levantei o meu rosto e encarei os seus olhos. Uma imensa vontade de chorar me invadiu e eu mordi o lábio inferior tentando controlar as lágrimas. Sentia minha garganta ardendo por cada soluço que queria sair e o meu nariz já pinicava. Pisquei os olhos algumas vezes tentando me concentrar apenas no que ele queria me falar.

Ele permaneceu calado.

Continuei o olhando em busca de respostas, esperando que ele dissesse algo.

Nosso momento foi atrapalhado por uma garota loira que chegou o chamando e ele foi junto com ela para bem longe de mim. Agradeci por isso, não sei se aguentaria passar mais um segundo tão perto dele. Analisando bem, percebi que aquela era a mesma garota que aparecia nas suas fotos, deduzi que ela era alguém muito importante para ele e me senti horrível. Engoli em seco e respirei fundo tentando controlar o meu estado emocional.

Na realidade, eu não sabia o que o Matteo fazia ali até que ele subiu no pequeno palco que foi montado no meio do salão e começou a cantar. Não prestava atenção em nada, parecia que minha mente tinha sido transportada para outro tempo. Para o passado, quando ele cantou pela primeira vez para mim.

Sem eu ao menos perceber já havia terminado a canção e agora falava algo que pelo que eu entendi era sobre uma composição original dele. Uma melodia calma e serena começou a ser tocada e ele iniciou a música. Nesse momento meu foco estava todo nele e na canção. A letra era muito linda, a cada palavra dita eu sentia uma dor atingir meu peito.

Seu olhar permaneceu no meu enquanto ele cantava aquela canção. Sentia como se ele estivesse a cantando para mim, que cada letra falava sobre a nossa relação e como ele se sentia. Pode parecer idiota pensar dessa forma, mas é impossível não o fazê-lo quando a pessoa que você ama canta uma música que fala de sentimentos, olhando diretamente para você.

Sentia o seu olhar perfurar a minha alma, nenhuma outra pessoa foi capaz de me fazer sentir daquela forma, era como se apenas com isso ele fosse capaz de fazer cada centímetro do meu corpo entrar em combustão. Terminou de cantar e eu senti lágrimas brotarem em meus olhos, antes que as pessoas vissem e perguntassem o que se passava, saí apressadamente daquele espaço e entrei em um amplo corredor.

Não me preocupei em olhar ao meu redor, apenas abri uma das poucas portas que tinham ali e adentrei. Respirava profundamente tentando controlar aquela dor e angústia. Ninguém no mundo me faria sentir daquela forma, Matteo era capaz de me destruir e ao mesmo tempo me fazer bem, o que é doentio. Eu deveria me manter o mais distante possível dele, cada palavra sua, cada olhar faziam-me ruir internamente.

Ouvi alguém abrindo a porta e rezava para que não fosse quem eu pensava que era.

— Podemos conversar? — Maldição. Sua voz preencheu todo o cômodo e fez com que as lágrimas que eu tanto lutei para segurar fossem derramadas, uma por uma, deixando a mostra toda a minha fragilidade. Ele sugava todas as minhas forças.

Não conseguia dizer nada, apenas virei meu corpo encontrando o seu belo rosto, ele encarava-me fixamente. Tratei de limpar as lágrimas, sabia que de nada adiantaria tentar esconder, já que minha cara inchada entregava que eu estava chorando. Mas não queria demonstrar fraqueza em sua frente, queria que visse que eu estava bem e feliz longe dele, mesmo não sendo totalmente verdade.

Foi aproximando-se vagarosamente de mim e eu não sabia o que fazer. Senti minhas costas entrarem em contato com algo duro e frio, concluí que não tinha para onde fugir. Estava aqui entre seus braços. Eu não queria fugir.

Sua mão foi em direção ao meu rosto, enxugando cada lágrima que retornou a descer. A pele sob sua mão queimava ao ser tocada por ele. Substituiu suas mãos por seus lábios, beijava cada parte do meu rosto e eu arfei aprovando aquela ação.

— Você não imagina o quanto eu quero te beijar agora — ele diz e eu sinto meu corpo tensionar. Droga — Mas não vou. Porque eu sei que você não quer. E eu não vou te forçar, sei que nada entre nós dois mudará. — Soltei o ar que segurava e agradeci por aquilo. A vontade que eu tinha de beijá-lo era absurdamente grande, mas não, era errado, isso só iria piorar a nossa situação. As coisas não se resolveriam com um simples beijo, deveria manter o controle da minha vida emocional e caso ele me beijasse, não teria mais esse domínio.

Suas mãos não saíram do meu rosto e ele acariciava a minha bochecha com os polegares. Suspirei com o contato e sem ter o controle das minhas ações, subi minhas mãos até a sua nuca e puxei os poucos fios de cabelo que tinham ali e arranhei o local.

— Eu não deveria fazer isso, você também não. Só irá piorar a situação. — Estava ofegante e reuni todos os resquícios de voz que eu ainda tinha para dizer aquilo.

Eu queria beijá-lo, queria muito. Antes que eu me arrependesse do que iria fazer em seguida, trouxe o seu rosto na direção do meu e rocei nossas bocas, tentando manter o minha cabeça no lugar. Seus dentes puxaram meu lábio inferior e continuamos naquela mesma posição, nenhum dos dois tinha coragem para seguir adiante ou se afastar. Sem que eu pensasse, senti sua boca indo de encontro com a minha em um beijo necessitado, a saudade que ambos sentiam era demonstrada através daquela ação.

Segurava fortemente em sua nuca para que ele não pudesse fugir e impulsionava meu corpo para mais perto do seu. Suas grandes mãos começaram a passear pelo meu corpo até chegar em minha bunda, onde ele deu um apertão, fazendo com que nossas intimidades chocarem-se e um gemido sair de minha boca.

Em um lapso de realidade, coloquei minhas duas mãos em seu peitoral afastando o seu corpo do meu. Aquilo não era certo, isso não deveria ter acontecido de forma alguma. Nossos rostos continuam próximos e sentia sua respiração quente soprando em meu rosto, pela pouca distância entre nossos corpos era capaz de ouvir o seu coração batendo rápido demais, tinha certeza que o meu não estava diferente.

Continuei com os olhos fechados, tentando colocar meus pensamentos em ordem e trazendo a sanidade de volta para a minha mente. Mesmo assim, conseguia sentir seu olhar percorrendo meu corpo e queimando minha pele. Quando abri completamente meus olhos e encarei aquela imensidão que mais parecia uma xícara de café, tentei controlar meus instintos e enfim pude falar algo.

— Matteo, o que estamos fazendo?

— Eu nã-o... sei Luna — Sua voz era fraca e ele suspirou algumas vezes no meio da frase. — Isso não deveria ter acontecido e eu sinto muito.

-—Tudo bem, isso não vai voltar a se repetir.

Ele arrependeu-se, puta merda. Sentia-me triste ao ter aquela constatação, por mais que tenha sido errado, não conseguia me lamentar em tê-lo beijado. O sabor dos seus lábios eram os melhores do mundo inteiro e eu nunca me arrependeria.

— Eu queria te pedir desculpas. Desculpa por todo o mal que eu te causei no passado. — Não, não, não e não. Não queria que ele falasse do que passou, não queria mais ninguém me lembrando disso, muito menos ele.

— Por favor, não fala nada.

— Luna, eu sei o quanto você ficou magoada e sei que nada do que eu diga vai fazer isso mudar. Mas quero que saiba que eu me importo com você e que por mais que não pareça, eu não queria te causar todo esse mal.

— Matteo para, por favor. — Minha voz saiu cortada por culpa das lágrimas que desciam por meu rosto. — Já passou, não quero lembrar.

— Meu único desejo era que você me perdoasse. — Matteo chorava e a dor dentro de mim apenas multiplicou.

Não iria aguentar passar mais nenhum segundo em sua presença, desvencilhei-me dos seus braços e saí correndo, não me importando que as pessoas vissem o meu estado. Eu só queria sair dali. Cheguei em frente ao hotel onde acontecia o evento e senti fracas gotas de água atingirem minha pele e misturarem-se com as minhas lágrimas.

Não sabia para onde ir nem o que fazer, já que vim com o motorista. Senti um toque em minha pele e sabia que era ele, não queria olhar para trás, mas o fiz. A chuva foi aumentando gradativamente e sentia meu cabelo grudando na nuca. Apesar do clima chuvosa, eu estava queimando. Engoli em seco e olhando para o seu rosto molhado criei coragem para dizer tudo que tinha dentro de mim.

— Você não imagina quantas vezes eu imaginei esse momento, você voltando e dizendo que ainda me amava. Mas isso não aconteceu e a cada dia, cada mês, cada ano que passava, eu sentia uma enorme angústia. Eu fiquei destruída, a todo instante eu buscava motivos que tivessem feito você ir embora e admito que foi difícil demais de encontrar, não queria ver nem compreender aquilo que sempre esteve diante dos meus olhos. Eu criei um bloqueio contra ti em minha mente e isso fez com que eu não enxergasse todo o mal que eu também te causei. Então não tem o que desculpar, já passou e eu te desejo tudo de melhor no mundo. — Minha voz saía pateticamente chorosa, os soluços presos em minha garganta começarem a serem libertados e eu não conseguia mais me controlar. — E por mais que eu não queira admitir, ainda hoje me pergunto em qual momento que a gente se desencontrou. Que o amor acabou. Que tudo chegou ao fim.

Eu era uma fraca, chorava feito uma criança, era patético. Não queria me sentir assim, queria libertar esses sentimentos presos dentro de mim, todo mal que eu sofri e que eu causei, doíam-me.

— Muitas vezes eu parava para pensar o que teria acontecido caso você não tivesse ido embora, se o universo estivesse ao nosso favor. Mas não é assim, as coisas aconteceram como tinham que acontecer, não podemos mudar o destino, nunca saberemos realmente o que teria passado porque simplesmente não éramos o melhor um para o outro, nosso futuro não incluía permanecemos juntos.

Por instinto, dei alguns passos para trás quando ele voltou a se aproximar de mim, mas ele simplesmente negou com a cabeça. E antes de qualquer coisa senti seus braços passarem por cima de meus ombros e levarem meu corpo para perto do seu, acolhendo-me em seus braços em um reconfortante abraço. As lágrimas continuaram a descer e eu já sentia falta de ar ocasionada pelos soluços. Meu Deus, não lembrava o quão bom era voltar a estar em seus braços.

Ele afastou nossos corpos e seus lábios encostaram em minha testa antes que ele direcionasse meu corpo para trás e senti minha bunda entrando em contato com algo fofo que logo em seguida constatei que era um táxi, não notei o momento em que ele parou ali e nem como, apenas me acomodei no assento e o Matteo se afastou e murmurou um "se cuida" antes de fechar a porta e o carro começar a andar.

Com muita dificuldade, consegui informar o endereço do hotel que eu estava hospedada e o taxista foi muito solícito comigo durante todo o caminho até chegarmos. Quando fui pagar, ele informou que o garoto — no caso o Matteo — já havia pago e agora eu percebo o quanto eu estava acabada ao ponto de não perceber o que acontecia ao meu redor.

Controlei minhas lágrimas e esforcei-me para chegar até o meu quarto. Quando senti a cama fofinha abaixo de mim, voltei a desabar em lágrimas. Eu só queria sumir.


Notas Finais




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