"A última vez em que estivemos nessa situação, não acabou muito bem, ambos saíram com os corações apertados pela dor e a garganta rasgando por palavras que não deveriam ter sido ditas."
Luna Valente
Talvez eu estivesse perdida por ser tão dependente dele e de tudo que o envolvia. Porém, eu não via problema em me perder nele, queria mergulhar mais profundamente nesses sentimentos. Embebedar-me dos seus beijos e saborear do seu amor. Tudo o que eu mais pedi por tanto tempo, tornava-se real naquele momento.
Eu esperava um dia não me arrepender disso tudo que acontecia, queria ficar com ele. É isso, faz tempo que não adiantava negar. Matteo me tirava de órbita, seus toques me fazem viajar pelas mais belas constelações. Seus olhos pareciam aquelas xícaras de café cheias até a borda e nossa, nunca amei tanto café na minha vida como depois de ver seus olhos.
Seus lábios bem desenhados moviam-se agilmente contra os meus e uma onda de arrepios espalhava-se por cada parte do meu corpo. Apertava uma perna contra a outra tentando conter a excitação que pulsava em minha intimidade apenas com um beijo seu. Aquele homem era quente, muito quente.
Uma tosse forçada acabou com o encanto e Matteo separou os lábios dos meus. Permaneci com os olhos fechados e escondi meu rosto na curvatura do pescoço dele, tentando esconder meu rosto vermelho de vergonha e de excitação. Cada inspiração e expiração minhas eram fortes e desregulares.
— Eu não estou acreditando nisso. Logo ele, Luna? — A pessoa que interrompeu nosso momento perguntou. E aquilo parecia mais com uma acusação que qualquer coisa. Senti o meu corpo todo estremecer.
— Acho melhor você falar direito com ela. — o corpo do Matteo ficou rígido e eu conseguia imaginar seu maxilar travado, enquanto ele segurava-se para não avançar em cima dele.
— Simón... Não é dessa forma — minha voz saiu carregada de tristeza.
Meu amigo estava em minha frente e eu não sabia o que dizer nem como agir. Faz anos que não o via e com o tempo e a distância, fomos perdendo o contato, e agora chegamos nessa situação. Nem sabia se ainda éramos amigos, acho que nem isso, acredito que somos apenas dois conhecidos que tiveram uma história no passado.
— Você pode não ter me dito, mas eu sei que parte da tristeza que você sentiu no passado, foi causada porque esse babaca que foi embora e te largou. — Um nó formou-se em minha garganta e lágrimas acumularam-se abaixo dos meus olhos.
— Nós nem estávamos mais juntos, você está falando besteira. — Claro que ele estava certo, mas não iria piorar ainda mais a situação. Aquilo ficou no passado e eu não queria abrir a ferida que pouco a pouco cicatrizava, já estava com problemas demais no presente. — E não sabia que agora você mandava na minha vida e que eu precisava de autorização sua para ter relacionamento com quem for.
— Não diga isso porque as coisas não são assim. Eu apenas desejo o melhor para você. — Senti mágoa exalando de sua voz e me arrependi de ter dito o que disse. — O que me entristece é saber que você recusou minha ajuda e nem sequer me deixava falar contigo. Enquanto que com esse cara você não pensou duas vezes antes de abrir as portas do seu quarto, e não duvido que tenha aberto outras coisas também.
Minha boca abriu em choque e eu queria muito não ter ouvido aquilo, não dele. O corpo de Matteo afastou-se bruscamente do meu e eu tinha noção do que poderia se desenrolar ali. Levantei antes que qualquer coisa ruim acontecesse, e por sorte ele não havia se afastado muito. Então segurei forte seu braço. Antes que ele pedisse para soltá-lo, abracei seu corpo com meus braços finos e fiquei na ponta dos pés para beijar sua bochecha e sussurrar no seu ouvido para não fazer nada e ignorar aquilo.
Conseguia sentir a tensão em cada músculo seu sob minhas mãos. Seu peitoral estava rígido e seus ombros firmes e elevados, apenas esperando o momento certo para atacar.
— Você é inacreditável. Ganhou o prêmio de melhor idiota do ano, parabéns. — Escutei barulho de palmas e sabia que era o Matteo, pois seus braços estavam movendo-se ao redor do meu corpo. — Acho que você esqueceu que ela está passando por um momento difícil e que só precisava do apoio de todos, e com certeza não é isso que você está fazendo.
— Luna, de-desculpa... Não foi o que eu quis dizer, falei por impulso. — Sentia o arrependimento na sua voz, mas agora eu não queria ouvir mais nada vindo dele, meu desejo era ficar sozinha.
— Não fala mais nada. Eu acho que o melhor é você ir embora, quem sabe outro dia possamos conversar normalmente, agora só quero ficar sozinha — falei firme, por mais que a minha maior vontade fosse chorar.
— Tem certeza que não podemos conversar agora? — Matteo bufou ao meu lado e eu segurei sua mão com medo de que ele fizesse algo.
— Você a ouviu, é melhor ir embora logo — falou presunçoso e eu conseguia imaginar o sorriso de vitória estampado em seu rosto bonito. Revirei os olhos disfarçadamente com aquela atitude, parecia que aquela rixa entre ele e o Simón não acabou.
— Quando eu disse que eu queria ficar sozinha eu falava sério. E isso inclui você também — indaguei quando percebi que o Simón foi embora.
— Está louca se acha que vou deixar você ficar se lamentando. — Passou um braço por meus ombros e mesmo comigo resmungando, ele arrastou-me para a área fora dos armários. — Vamos fazer o que tínhamos planejado, patinar. Não será o guitarrista quem vai estragar nosso começo de noite.
Bufei mas segui com ele até a pista. Na verdade eu precisava mesmo espairecer a mente e esquecer todos os problemas, e a única maneira que eu conseguiria fazer isso era patinando.
Sabia que estava na TPM e meu humor era bastante inconstante nesse período, em um momento poderia irradiar felicidade e no segundo seguinte já estaria irritada por qualquer coisa. Achava que tudo era o fim do mundo. Até os meus pensamentos são confusos, estão vendo só?
— Vamos fazer o seguinte — A voz do Matteo me despertou dos meus devaneios e comecei a prestar atenção no que falava. — A Juliana fez algumas demarcações na pista e iremos contar quantos passos você terá que dar para chegar ao meio, ao final, e nas extremidades da direita e da esquerda. Combinado?
— Tá certo — aquiesci.
— Agora estamos no começo da pista, perto da arquibancada — voltou a explicar. — E primeiro iremos contar as medidas de comprimento e espessura. Pronta? — Balancei a cabeça afirmando e já fiquei em posição para iniciar o treinamento. — Patine na minha direção e conte alto.
— Um mil, dois mil, três mil…
— Pronto, está na metade. Continue.
— Quatro mil, cinco mil, seis mil.
— Aí, agora para. Seis metros, ótimo.
O começo do treinamento foi apenas isso, comigo fazendo as contagens mentais para saber em que parte da pista eu estaria. E por mais que no começo eu estivesse insegura e achando que não daria certo, surpreendi-me ao perceber que tudo ocorreu perfeitamente. Fazia dez minutos que estava sentada em um banco da arquibancada, descansando.
— O que acha de fazer uns giros ou saltos? — Aproximou-se e ouvi quando o metal do seu anel bateu contra o ferro que separava a arquibancada da pista.
— Você acha que estou pronta? — questionei receosa, por mais que estivesse mais confiante, ainda tinha medo do que poderia acontecer.
— Claro que está, agora vem comigo. — Voltei para a pista e seguindo o mesmo processo anterior, fui até o centro.
Respirei fundo algumas vezes e lembrei de todos os momentos que passei ali, da paixão que eu sentia cada vez que calçava meus patins. Lembrei de todas as quedas, mas principalmente de levantar depois delas. Como o Matteo já disse: a maior fraqueza não é tentar e errar, a maior fraqueza é desistir dos seus objetivos sem a tentativa. Errar é algo natural e em muitos momentos da vida isso vai acontecer, o que você não devia era render-se ao erro.
Fechei os olhos e deixei que a música guiasse o meu corpo, comecei a deslizar pela pista. Um salto, depois um giro e um salto de novo. Continuei patinando, agora com meus músculos relaxados e sem o medo de antes. Era isso, eu apenas precisava de um impulso, um incentivo, porque eu ainda sabia patinar, só tinha a necessidade de adaptar essa técnica a minha situação.
— Se você é capaz de saltar e esticar os braços e pernas, pode tentar um giro sentado. — sua voz preencheu todo o espaço e ecoou pela pista, que estava em silêncio.
Fiz alguns giros em um mesmo ponto antes de abaixar o corpo. Tomei impulso para realizar o rodopio, minha perna esquerda ficou dobrada com o pé quase encostando na minha nádega, e a direita ficou semi esticada e comecei a girar. Não consegui finalizar o passo, quando estava pronta para levantar, acabei por desequilibrar e meu corpo entrou em contato com o piso duro da pista. Comecei a rir.
Levantei e voltei a deslizar ao redor da pista, tomando cuidado para não bater de cara com a parede.
— Está ultrapassando a linha do centro.
— Não me diga — falei irônica.
— Aah, então você sabia? — disse brincalhão. Eu adorava esse clima agradável que se formou entre nós dois. — Patine em minha direção.
— O que foi isso? Uma piada de cego? — brinquei, fazendo relação ao fato dele ter me mandado ir em sua direção, sendo que eu não podia enxergar onde ele estava.
Depois de quase uma hora patinando, senti meu corpo clamando por descanso e resolvi interromper o treinamento. Fiz o caminho para a arquibancada e assim que cheguei lá, Matteo colocou uma garrafa com água gelada em minhas mãos e eu agradeci antes de começar a beber o líquido.
— Você foi incrível. — Respirei cansada ao terminar o conteúdo da garrafa e sorri com a fala do Matteo.
— Obrigada, por tudo. Por estar ao meu lado no momento mais difícil, por me ajudar a vencer meus medos. Obrigada por simplesmente continuar aqui comigo. — Sabia que meu sorriso chegava até os olhos, tamanha era a emoção que eu vivenciava naquele momento.
— Não precisa agradecer, eu faria tudo de novo se isso significasse ter você para mim. — Seus lábios chocaram-se contra os meus antes mesmo que eu formulasse alguma resposta em minha mente.
Diferente do beijo nos armários, esse era urgente e frenético. Ele emaranhou uma de suas mãos no meu cabelo e puxava os fios com certa força. Sua outra mão encontrava-se em contato com a pele da minha barriga, arranhando e dando leves apertões. Aquele beijo estava fazendo todo o meu corpo entrar em combustão e clamar por ele. Esse homem era a minha maior perdição, essa era a única certeza que eu tinha.
Sabia que deveríamos parar agora, poderia chegar alguém a qualquer momento e nos flagrar nesse momento tão comprometedor. E tinha noção de que se começássemos algo, não teríamos forças de parar e iríamos até o final, pelo menos eu não teria tanto autocontrole. Mas eu não sabia se estava pronta para ter esse tipo de relação tão íntima, tinha medo do que poderia acontecer depois. A última vez em que estivemos nessa situação, não acabou muito bem, ambos saíram com os corações apertados pela dor e a garganta rasgando por palavras que não deveriam ter sido ditas. Receava que se caso acontecesse, ele fosse embora e me deixasse sozinha novamente, eu não iria aguentar.
Apesar de admitir para mim mesma que não era o certo, não conseguia parar. Meu corpo já estava aceso, parecia que ele recebia os alertas enviados pela minha mente, mas ou os ignorava ou interpretava de uma maneira errada.
Sua boca desgrudou-se da minha e traçou uma linha de beijos e mordidas do meu queixo até a região mais sensível do meu pescoço. Ele passou a língua naquela região e depois soprou a pele quente, causando uma sensação de frescor no local, o que arrepiou todo o meu corpo. Sem que eu pudesse controlar, um gemido alto saiu por meus lábios.
— Ma-Matteo... Acho... Acho que... Devemos parar. — Coloquei as duas mãos em seu peitoral tentando afastá-lo do meu corpo, porém, ele apenas grunhiu em protesto e continuou com as carícias e os beijos. Segurei seu rosto, afastando-o do meu pescoço, deixei um selinho demorado em seus lábios. — Acredito que seja melhor irmos embora. — minha voz era ofegante e não falei nada mais que isso. Meu rosto já queimava de vergonha e se eu dissesse alguma coisa relacionada ao que aconteceu ali, com certeza iria querer enfiar a cara dentro de um buraco. Como um avestruz.
Tirei por conta própria os patins e Matteo os guardou na minha bolsa. Falávamos de diversos assuntos descontraidamente, mas não voltamos em nenhum momento ao que aconteceu minutos atrás na pista. Preferia assim, não saberia o que dizer.
Quando chegamos na mansão, ele levou-me para o quarto e antes que saísse para eu poder ir tomar banho, entrelaçou nossas mãos e acarinhou minha bochecha.
— O que acha de sair comigo esse final de semana? — sua voz saiu baixa e caso não estivéssemos tão próximos, provavelmente não escutaria.
— Eu adoraria. — O sorriso que estampava meu rosto era o mais sincero.
— Te pego às oito. — Conseguia vislumbrar um sorriso nos seus lábios, o que fez o meu sorriso alargar.
Ele foi embora e eu continuei parada na porta do banheiro, ainda com o sorriso no rosto. Tomei banho com a ajuda da minha mãe e não deixei de sorrir durante todo o momento. Fui dormir e o sorriso ainda estava em meus lábios, Não conseguia medir a minha felicidade por aquilo finalmente está acontecendo.
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