“Enquanto algumas crianças nascem cercadas de amor, carinho e presentes caros, frutos de gravidezes desejadas, outras vieram ao mundo por puro 'acidente', sendo assim destinadas a viver uma vida pobre e indigna, se é que isso pode ser considerado viver, não é mesmo? Mas sabe o que esses dois tipos de pessoas têm em comum? Ambas nascem sozinhas.
Não importa quantas pessoas te amem e estejam esperando por sua chegada, não importa se você nasceu em um lugar caro, rodeado de médicos e familiares, ou em um lugar sujo, apenas com uma mulher inundada em dor. Nos dois casos, vocês nasceram sozinhos e vão morrer sozinhos.
Quando crescemos, nos unimos e nos ajudamos por necessidade, porque nos é útil usar os outros em nossa própria função. Porém, nos momentos difíceis, nos momentos em que mais precisamos de alguém, estamos sempre sozinhos. A solidão é uma exclusividade de cada um de nós.”
– Manual de como voltar sozinho* 09.08.16
Eu não tenho palavras pra descrever o quanto fiquei irado com a vida, o universo e tudo mais, quando vi que o miserável do meu pai tinha mesmo pegado todo meu dinheiro, pelo menos foi só isso que ele pegou, se é que eu posso encarar isso como algo menos ruim, não é?
Sabia que ele iria querer me matar por aquilo depois, mas mesmo assim, peguei minhas coisas e voltei pra casa dos Jung, não ia limpar a sujeira ou preparar comida pro cara que roubava o próprio filho. E fora mais essa decepção paterna, que já nem era mais uma novidade, ainda havia o lindo fato de que eu não havia encontrado meu celular, o que estava me deixando verdadeiramente frustrado.
Bati novamente na porta dos Jung, um pouco envergonhado, afinal, já passavam das onze da noite, mas claro que a mãe de Hoseok me atendeu alegremente e me deu comida, enquanto repetia como gostaria que eu pudesse morar apenas lá, sem ser obrigado a suportar meu pai. Eu também adoraria isso.
Depois de comer, fui até o quarto de Hoseok, onde ele parecia concentrado em escrever algo. Tão concentrado que nem me notou passar por trás dele e pegar seu celular. Procurei meu contato em seu aparelho e tentei ligar, eu já havia tentado isso há algumas horas atrás, e assim como antes, nada aconteceu. A ligação apenas chamava várias vezes até que eu desligasse.
Se ninguém atendia meu celular, poderia existir três possibilidades: (1) eu havia esquecido ele na sala em que trabalho, e como sou um dos últimos a sair do local, ninguém reparou o aparelho lá, (2) eu havia deixado aquela droga cair em algum lugar enquanto saia apressadamente da faculdade, mas daí ele devia ter levado uma baita chuva, então não sei, e (3), também conhecida como a melhor das opções, eu tinha esquecido dentro do carro de Kim Lindão Namjoon.
Porém, nem tudo são flores nesta vida. Na verdade, quase nada é, não é? E por que eu estou dizendo isso? Porque tenho a péssima mania de nunca colocar nenhuma senha no meu celular, pois se eu fizer isso, nunca vou me lembrar de como é de primeira e vou acabar me desesperando. Ou seja, se alguém pegou meu celular, deve estar vendo todos os meus nudes agora (olha, espero que seja o Namjoon vendo meu corpo nu).
Mentira. Eu não tenho nenhum nudes, apesar de eu me achar o homem mais lindo deste mundo (e sei que sou), não vou fotografar esse meu corpinho, pois não se pode confiar na internet hoje em dia.
Mas, no meu celular, tem algo mais confidencial do que nudes: minhas várias e várias anotações, e entre elas, as anotações do Manual de como não voltar sozinho, e as pessoas não podem saber que eu sou Min Seung, isso era o que me deixava mais aflito.
Coloquei o celular de Hoseok no lugar e liguei meu notebook. Ia aproveitar aqueles poucos minutos antes de dormir para escrever algo para o Manual, mas só postaria na manhã seguinte.
“Mais alguém que teve um péssimo dia ontem, e hoje já acordou se sentindo uma grande derrota? Aposto que sim, afinal, somos todos umas grandes porcarias ambulantes. Eu fui projetado para ter dias ruins e tudo dar errado na minha vida. Tenho certeza disso.
Não vou nem perguntar se algum de vocês também têm problemas na família, pois eu tenho certeza que sim. Afinal, infelizmente, isso é algo bem comum, principalmente quando você não faz parte daquela parcela de jovens bem aceitos na sociedade. Na verdade, é meio injusto eu falar assim, eu sou homem, branco, magro... O que me faz desajustado são apenas meus problemas psicológicos e minha sexualidade.
Às vezes, eu penso que se é tão difícil pra mim, imagine pra quem é mulher, negro, gordo, surdo, paraplégico, cego, transexual e tantas outras coisas que fazem com que a sociedade te trate como um desajustado, sendo que você é só mais um que merece viver como qualquer outro. As pessoas são realmente um lixo.
Eu não quero ver as pessoas que amo sofrendo por tão pouco, eu queria poder ajudá-las de alguma forma, mas eu sou completamente incapaz. É assim que me sinto. Somos todos incapazes, porque sempre estamos completamente sozinhos, não há ninguém neste mundo por nós além de nós mesmos.
É cada um tentando resolver seus próprios problemas sozinhos, enquanto geram ainda mais problemas para os outros. Nossa solidão nos torna irreconhecíveis. E nós somos solitários o tempo todo.
Este foi Min Seung. E este é o Manual de como voltar sozinho. Até chegar ao final, um de nós dois não estará mais aqui.”
Enquanto desligava meu notebook, senti Hoseok batendo em meu braço, ele finalmente havia notado minha presença. Meu irmão perguntou se eu dormiria ali naquela noite, e quando respondi que sim, senti aquele pirralho pular em meu pescoço e beijar minha bochecha, afinal, era assim que Hoseok demonstrava sua alegria. E como ele era fofo, meu Deus!
“Vai dormir, já tá tarde.”
Gesticulei para Hoseok, como bom hyung e exemplo de vida que sou. (Do que eu tô falando? Eu não sou exemplo pra ninguém.) Ele deitou ao meu lado na cama, empolgado.
“Vamos conversar um pouquinho só. Como foi com o Namjoon?”
“Eu já disse que não rolou nada, infelizmente... mas não se preocupe, quando acontecer, vou te contar detalhadamente como é ser beijado por Kim Namjoon.”
Observei Hoseok ficar tímido e ri quando ele acertou um travesseiro na minha cara.
“Que sonso! Nem parece que vive lendo pornô gay!"
Gesticulei em resposta ao seu ataque. Eu adorava provocar Hoseok, pois no lugar de sentir raiva, ele apenas continuava rindo enquanto suas bochechas coravam.
“K-I-M T-A-E-H-Y-U-N-G.”
Gesticulei letra por letra para se referir ao garoto raivoso que havia falado comigo mais cedo. Não precisava dizer nada além daquilo, Hoseok sabia muito bem de quem eu estava falando e o porquê de estar falando. Tive certeza disso quando notei seus olhos arregalados.
“Como descobriu o nome dele?”
“Ele foi no meu trabalho hoje.”
“Droga! Eu devia ter ficado com você! Ele tem alguma necessidade especial?”
“Não, os pais só queriam que ele fizesse acompanhamento psicológico.”
“E ele é legal? ”
“Ele é um garoto fofo.”
Observei os olhos de Hoseok brilharem e seu sorriso estampar em seu rosto, como se tivesse acabado de descobrir algo muito especial.
“Vai me contar os detalhes de quando for dar uns amassos nele?”
“Claro, afinal, eu sempre vou contar tudo pra você, hyung."
Suas bochechas ficaram ainda mais vermelhas e eu tinha certeza que ele estava pensando no que eu havia acabado de falar. Não se deixem enganar pelo rostinho fofo de Jung Hoseok, afinal, ele tem 19 anos.
Hoseok encostou a cabeça em meu ombro e eu acariciei seu cabelo, ele amava que mexessem em seu cabelo, e antes de fechar meus olhos, reparei em suas mãos formando cada letra do nome de Kim Taehyung, várias e várias vezes.
Por dois fatores muito relevantes, (1) eu e Hoseok termos ficado acordados até tarde e (2) eu não ter mais meu celular pra usar como despertador, acabamos nos atrasando novamente. Antes de sair, eu precisava postar o que havia escrito na noite passada para o Manual, então, enquanto Hoseok tomava seu banho, fiz isso o mais rápido que pude.
Quando descemos pra tomar nosso café-da-manhã, a mãe de Hoseok reclamava sobre estarmos comendo rápido demais e seu pai reclamava por estarmos atrasados, como sempre. Enquanto comia, também pensei em como meu pai devia estar querendo me matar a essa altura do campeonato, mas eu resolveria aquilo de noite, quando fosse obrigado a voltar pra mesma casa que ele.
Enquanto entrávamos no carro, eu conversava com o senhor Jung, gesticulando tudo que falávamos, pois como já disse, o Hobi odeio ficar por fora das conversas.
– Não encontrou mesmo seu celular? – Me perguntou seu pai.
– Não. Vou ver se deixei no trabalho ou no carro do colega que me deu carona ontem.
– Preste mais atenção nas suas coisas, Jin. – Reclamou ele.
– Tudo bem, desculpe. – Suspirei. Odiava quando ele me dava alguma advertência, afinal, eu não tinha culpa de ser um lixo tão distraído. Na verdade, eu tinha, sim, mas vamos relevar.
– Tá. Nos avise se não encontrar, vamos ter que comprar um novo pra você.
– Ah, não se preocupem, eu dou um jeito nisso. – Não sei se já disse, mas quase tudo que eu tenho foi dado pelos pais do Hoseok, mesmo eles não tendo obrigação nenhuma comigo, já que meu pai nunca me deu nada na vida mesmo, pelo contrário, só tomou. Eu me sentia mal pelos pais dele se preocuparem tanto comigo e me ajudarem, mas eu não tinha muitas outras escolhas. Acho que a única coisa que eles não me deram foi o sobrenome Jung mesmo.
– Deixa de coisa, Jin. Vão lá, bom dia de aula. – Disse ele, estacionando o carro e se despedindo em seguida.
Antes de ir pra aula, eu e Hoseok fomos até meu local de trabalho, vasculhamos tudo, perguntei ao pessoal da limpeza, fiz drama, mas ninguém tinha visto a droga do celular. Mas que inferno inútil eu sou!
E eu nem podia quebrar tudo, me espernear, me jogar no chão e chorar em posição fetal, pois Hoseok ficava nervoso com qualquer alteração mínima que eu tivesse. O tempo todo ele repetia que eu podia ficar com seu celular, ele só estava tentando ajudar, mas eu gostaria que ele entendesse uma coisa: eu não mereço ser ajudado por ninguém.
Depois da pessoa mais derrotada do mundo, também conhecida como eu, chegar na sala de aula, me senti tão decepcionado comigo mesmo (afinal, eu era minha maior decepção) que não estava conseguindo interpretar as coisas pro Hoseok direito, e é claro que ele havia percebido isso, mas estava querendo me dar um desconto. Desconto esse que eu não merecia também.
Agradeci aos céus quando aquela aula maldita terminou e eu e meu irmão nos dirigimos até o restaurante universitário, mas antes de sairmos da nossa faculdade (vocês sabem que em uma universidade existem várias faculdades, né? Se você ainda não sabia, porque ainda está no ensino fundamental ou médio, agora você já sabe), encontrei uma figura conhecida, tentando empurrar uma cadeira de rodas, tarefa que parecia muito difícil pra ele.
– Bom dia. – Disse, enquanto pegava as muletas que estavam nas pernas dele e entregava pro Hoseok, depois comecei a empurrar sua cadeira.
– Quem é você? – O moleque parecia assustado.
– Ora, sou eu, o cara bonito do núcleo de assistência, lembra? – Como ele pode esquecer alguém como eu?
– Ah! Lembro de você. E você, quem é? – Ele se dirigiu a Hoseok, mas meu melhor amigo apenas ficou me encarando, como sempre. Hobi não sabia o que fazer quando as pessoas falavam com ele.
– Ele é Jung Hoseok, meu melhor amigo e irmão. Hobi, esse é J-E-O-N J-U-N-G-K-O-O-K. – Gesticulei letra por letra e Hoseok repetiu cada uma, assentindo que havia entendido, por final.
– Ah, ele não consegue falar... – Concluiu Jungkook.
– Ele não consegue ouvir, Hobi nasceu com a audição limitada, por isso ele não conseguiu desenvolver sua fala muito bem. – Expliquei.
– Ah, tudo bem. Prazer, Hoseok. – Jungkook estendeu a mão pro Hobi, que a segurou na mesma hora, mas me olhou em seguida.
– Ele está se apresentando pra você. – Gesticulei pra Hoseok, mas também falei pra que o mais novo de nós três pudesse ouvir. Em seguida, voltei minha atenção ao Jeon. – Vai almoçar aqui?
– Não... – Esse garoto parecia meio ácido às vezes.
– Você estava saindo da mesma faculdade que a gente, você faz o que mesmo? – Não dava pra gesticular, falar e empurrar a cadeira do Jeon ao mesmo tempo, e acho que Hoseok entendeu isso.
– Publicidade e propaganda.
– Então você deve ter aula ainda. – Ele queria ser irritante, mas eu sabia ser mais.
– Tenho.
– Ótimo, então almoça com a gente. – Jungkook não disse mais nada e nós seguimos até o restaurante universitário.
Eu e Hoseok estávamos procurando um lugar onde pudéssemos sentar os três, no geral, era fácil achar um lugar pra nós dois, mas seria complicado levar o Jeon até um lugar mais afastado do restaurante, afinal, aquele lugar era muito apertado.
– Seokjin! – Eu e Jungkook olhamos na direção em que fui chamado. Hoseok estava sem seu aparelho auditivo. Observei Kim Taehyung acenando pra mim de uma mesa vazia. – Aqui!
– Ah, você guardou um lugar pra gente? – Perguntei enquanto me aproximava do Kim, mas era difícil agora que eu tinha que empurrar a cadeira de Jungkook e puxar Hoseok, que parecia paralisado de nervosismo.
– Sim, você me convidou pra almoçar com você, lembra? – Kim Taehyung tinha um sorriso tão fofinho, entendo porque Hoseok é caidinho por esse garoto.
– Claro. – Sorri pro Taehyung e voltei minha atenção ao Jungkook. – Quer ajuda?
– Não precisa, só me dê minhas muletas. – Ele estendeu a mão e Hoseok as devolveu. Com muito esforço, ele tentou levantar. Ah, eu era um metido, então é obvio que eu passei as duas mãos por baixo de seus braços e o ajudei a se erguer, ele se apoiou nas muletas e cambaleou um pouco até sentar na cadeira, de forma apressada. – Obrigado.
– Não foi nada, cabeça dura. Pode me pedir ajuda quando quiser. – Jungkook me lançou um olhar irritado e eu apertei sua bochecha, só pra provocá-lo.
Quando notei, Taehyung olhava para nós dois de forma nervosa, me apressei em sentar e gesticular pra que Hoseok sentasse perto do amorzinho dele e, meu Deus, o Jung tava tão travado quanto um robô enferrujado.
– Acho que todos vocês já me conhecem, né? – Perguntei como se eu fosse alguém famoso. – Kim Seokjin.
– Kim Taehyung, eu faço medicina veterinária. – Taehyung apertou a mão de Jungkook e Hoseok (que parecia prestes a explodir).
– Jeon Jungkook. Publicidade e propaganda. – Aquele menino adorava parecer um recluso.
Depois de sua apresentação, Taehyung ficou encarando Hoseok, esperando que ele dissesse algo, mas meu melhor amigo só parecia que ia desmaiar a qualquer momento.
– Esse é o meu irmão, Jung Hoseok. Hobi, esse é o K-I-M T-A-E-H-Y-U-N-G. – Eu sabia que não precisava repetir aquele nome pro meu melhor amigo, mas eu tinha que fingir que Hobi não passava horas e horas falando sobre Taehyung.
– Ele... – Taehyung não terminou sua frase.
– Hobi nasceu com a audição limitada. – Gesticulei o que falava, pois ele me mataria depois se eu o deixasse de fora dessa conversa.
– Ah... tudo bem! – Taehyung sorriu pro Hoseok. – Eu posso aprender línguas de sinais também, certo?
Gesticulei o que Taehyung havia acabado de dizer e Hoseok sorriu, assentindo em seguida.
– Como eu digo que faço medicina veterinária? – Jungkook observava tudo com interesse.
– Assim. – Movi minhas mãos e Taehyung seguiu meus movimentos e Hoseok parecia ainda mais apaixonado, esse meu bebê é tão fofo.
– Não é tão difícil. – Taehyung gesticulou pra Hoseok e os dois sorriram. Shippo muito, casem, tenham filhos ou adotem, agora.
– Hobi. – Toquei em seu braço pra que ele me olhasse. – Você precisa criar sinais pro Taehyung e Jungkook.
– Como assim? – Perguntou o Jeon.
– Ele não vai gesticular letra por letra sempre que for se referir a vocês, ele precisa criar um sinal que te represente, por exemplo, o meu é assim. – Passei uma de minhas mãos pelo meu rosto. – Que significa que eu sou muito bonito.
– Concordo. – Notei as bochechas de Taehyung corarem e fingi não o ouvir. Sem essa, sem essa, sem essa. Não ouse, Kim Taehyung.
– Então, Hobi, qual sinal quer dar a eles? – Hoseok pareceu pensar por alguns minutos, depois olhou para Jungkook e imitou duas orelhas de coelho.
– O que isso quer dizer? – Perguntou Jungkook.
– Por que duas orelhas de coelho, Hobi? – Hoseok gesticulou sua resposta e eu ri. – Ele disse que você lembra um coelho, Jungkook.
– Obrigado. – Surpreendentemente, Jeon Jungkook também estava rindo.
Hoseok se virou para Taehyung e o encarou por alguns minutos, ele parecia nervoso, eu cutuquei seu braço pra que ele saísse do transe.
– Pensou em algum? – Gesticulei pra ele. Hoseok levou as duas mãos até suas bochechas e apontou para Taehyung em seguida. – Oh, esse é o seu sinal, Taehyung.
– Ah, eu adorei! – Taehyung imitou o sinal e fez um positivo para Hoseok com seu polegar.
– Por que escolheu esse? – Hoseok me gesticulou a resposta timidamente. – Ele disse que é porque você é muito fofo, Taehyung.
– Oh! Você também é muito fofo! – Taehyung sorriu para Hoseok, mas depois se dirigiu a mim. – Como digo isso a ele?
Novamente, Taehyung imitou meus gestos (e Jungkook também, mas ele estava fazendo isso de forma discreta) e sorriu para Hoseok, depois de dizer que ele era fofo.
Olha, eu conheço meu irmão, por isso eu não me surpreendi quando ele levantou nervosamente e gesticulou pra mim que precisava ir no banheiro. Ele não precisava, só estava nervoso demais com a presença de Taehyung.
– Ele é tão fofo. Só podia ser seu irmão mesmo. – Disse o Kim.
– Vocês são irmãos mesmo? – Anotem aí, Jungkook nunca tinha medo de parecer insensível com as pessoas. – Quer dizer, seu sobrenome é Kim, né? E o dele é Jung.
– Não somos irmãos de sangue. – Eu não me sentia incomodado com aquilo, sério mesmo. – Minha mãe foi embora quando eu tinha três anos e meu pai nunca me ajudou com nada, os Jung sempre foram meus vizinhos, então, eles acabaram me criando.
– E cadê seu pai agora? – Perguntou Jeon insensível Jungkook.
– Sendo um inútil, como sempre. Ele mora do lado da casa dos Jung ainda, ontem esqueci minha carteira na casa dele e ele roubou meu dinheiro. – Também não tinha problemas em assumir como meu pai era horrível.
– Nossa... não sei o que te dizer, meus pais são realmente legais comigo, a maioria dos pais são, na verdade, eu acho... – Disse o Jeon.
– Isso porque você é um cara socialmente aceito. – Rebateu Taehyung.
– Porque ser gay e viver em cima de uma cadeira de rodas é o que todo mundo adora, certo? – Jungkook lançou um olhar cortante para Taehyung.
– Desculpe, eu não tinha pensado nisso. – O Kim evitou o olhar do outro. Mal se conhecem e já se dando problemas, que ótimo!
– Olha só que coisa! – Eu ia tentar acalmar o clima. – O Taehyung também gosta de garotos, eu também e o Hoseok também. De repente, quem sabe, já podemos fazer uma festa da libertação, só nós quatro. – Eu e minha capacidade de só falar idiotice.
O rosto de Taehyung ficou completamente vermelho e Jungkook me lançou um olhar de nojo. Eu odeio esse Jeon Jungkook. Mentira, ele é fofo, adoro ele, porém depende.
– Já entendi, vocês são dois virjões. – Eu continuava rindo sozinho. – Tudo bem, eu também sou.
Preciso aprender a ficar de boca calada.
– Eu não sou... quer dizer... mais ou menos – Respondeu Jungkook.
– Não dá pra ser mais ou menos virgem... ou dá? – Tinha que pagar esse garoto na mesma moeda, claro.
– Eu tinha um rolo com um cara aí, mas ele não aguentou um estorvo numa cadeira de rodas depois do acidente e me largou. – A expressão do Jeon era uma mistura de raiva e tristeza.
– Que idiota. – Eu já disse a vocês que eu só falo idiotice?
– Então ele não gostava verdadeiramente de você, caso contrário, isso não seria um problema. – Taehyung segurou a mão de Jungkook enquanto falava.
– Obrigado por me lembrar disso, Taehyung. – Rebateu o Jeon. – É sempre bom lembrar que ele nunca gostou de mim tanto assim.
– Desculpe, não era minha intenção. – O que o Kim tinha de educado, Jeon tinha de grosso.
– Tudo bem. Mas, então, você não se dá bem com seus pais? – Nossa, Jungkook tinha uma capacidade incrível de mudar de assunto.
– Não, eles não me aceitam como eu sou. – Taehyung parecia triste agora.
– Por você ser gay? – Perguntou o Jeon.
– E trans. – Jungkook não soube mais o que falar, agora ele parecia estar analisando Taehyung e isso era umas piores coisas que ele podia fazer.
– Mas nós te aceitamos! – Eu não sabia quem estava incluindo no meu “nós”. – Você é um dos garotos mais fofos que eu já vi na vida, Taehyung!
– Obrigado. – Meu Deus, as bochechas dele estavam coradas de novo.
– Ah, então você... é um garoto. Desculpa, eu não entendi...
– Biologicamente, eu fui designado como uma garota quando nasci, mas me idêntico como um garoto. Então sou Kim Taehyung, só Kim Taehyung.
– Ah, me desculpe, eu não sei muito sobre isso. – Jeon pedindo desculpas era uma imagem linda que eu ia guardar pra vida.
– Tudo bem, eu to acostumado.
– Ótimo! Não ligue pra isso, você é nosso Kim Taehyung e pronto! – Acho que eu tava falando as coisas sem pensar, e mal tinha conhecido aqueles dois. Eu tenho que manter minha boca calada, repito.
– Obrigado. – O jeito que Taehyung me olhou parecia suspeito demais. Nem pense nisso, Seokjin, nem pense.
– O Hobi tá demorando demais, eu vou atrás dele. Podem pedir a comida de vocês logo. – Disse, enquanto me levantava e saía do restaurante.
Enquanto caminhava até o banheiro, pensei que talvez (só talvez) por eu ter perguntado ao Taehyung se ele gostava de garotos, convidado ele pra almoçar e o elogiado, ele tivesse acabado confundindo as coisas e talvez estivesse afim de mim agora. E isso era uma das piores coisas que poderia acontecer, porque (1) essa boca aqui está sendo guardada pra beijar Kim Namjoon e (2), e mil vezes mais importando: Hoseok se sentiria péssimo com aquilo e eu nunca aceitaria machucar meu filhote.
Hoseok não estava com seu aparelho auditivo, então não adiantaria muito se eu o chamasse. Bati na porta de cada um dos banheiros, talvez ele notasse a força sendo aplicada ali, e abri as portas dos que ninguém respondia, mas Hobi não estava em nenhum. Ok, aquele era só o banheiro do restaurante universitário, existiam muitos outros naquela universidade. Se bem que não faz muito sentido ele ter ido pra outro banheiro mais longe, mas não vamos pensar nisso, Kim Seokjin.
Continuei indo em todos os banheiros mais perto dali e repetindo o processo de abrir cada uma das cabines, em vão, eu não o encontrava. Encontrei um cara fumando, outro usando algum tipo de droga que não reconheci, dois se pegando, um que quase teve um infarto quando eu abri a porta de onde ele estava, uma garota que ficou sem jeito quando me viu (e tudo isso antes das doze da manhã) e não encontrei Hoseok.
Comecei a me desesperar, pois eu nem mesmo tinha um celular pra poder mandar uma mensagem pra ele. Pensei em voltar e pedir o celular de Jungkook ou Taehyung emprestado, mas decidi passar num último banheiro que já estava próximo mesmo. Próximo de mim, no caso, porque aquilo já era bastante longe do restaurante.
Olhei para a placa próxima dali e notei que era o banheiro de filosofia, entrei e repeti meu processo de bater em cada uma das cabines, porém, parei em frente a uma que estava com a porta semiaberta, dava pra ouvir alguém chorando. Pensei na possibilidade de eu ter feito Hoseok chorar e isso me doeu no coração. Empurrei a porta lentamente e tanto eu quanto a pessoa ali dentro gritamos assustados quando nos encaramos.
Pois é, eu sou um idiota.
– Me desculpe... – Meu rosto devia estar vermelho. Que droga! Por que tinha que ser logo ele ali?
– Você poderia bater antes de entrar?!
– A porta estava aberta e.... eu tava procurando meu irmão. – Tentei explicar. – Eu sinto muito mesmo.
– Poderia entrar e chamar por ele. – Namjoon parecia realmente nervoso por eu ter o pego chorando.
– Hoseok é surdo, por isso não chamei, desculpe. – Ele pareceu refletir por alguns minutos, depois se virou pra mim e segurou meu braço, me puxando pra dentro do banheiro e fechando a porta. Senhor, íamos nos pegar ali mesmo? Não sei se eu estou pronto.
– Não diga a ninguém que me viu chorando. – Namjoon estava enxugando suas lágrimas.
– Você tá bem? – Coloquei a mão em seu ombro. – Pode conversar comigo... se quiser.
Namjoon sentou na tampa do vaso sanitário e pareceu pensar por alguns minutos, enquanto eu continuava calado e o encarando. Minha cabeça ia explodir a qualquer momento. Ele estava pensando se podia confiar em mim ou não, tenho certeza disso.
– Eu não te conheço muito bem... – É mentira minha, gente. – Nem sei muito sobre sua vida. – Tá, isso era meio que verdade. – Mas... eu também tenho meus problemas e sei como é difícil lidar com eles... e.... você não precisa encarar tudo sozinho, Namjoon.
Meu Deus! Por que justamente eu estava dizendo aquilo? Eu, Min Seung, autor do Manual de como voltar sozinho, não tinha moral nenhuma pra dar aquele dongsaeng que parecia tão perdido.
Namjoon me encarou por um tempo e se afastou para que eu sentasse na tampa do vaso junto com ele. Olha que lindo, gente, nosso primeiro encontro num banheiro, sentados em uma privada juntos.
– Não é nada demais, na verdade. – Até fungando e com as mãos nas bochechas ele era bonito. Que se exploda o mundo!
– Não acho que você choraria se não fosse nada demais.
– As pessoas me veem como alguém muito durão, né? – Sim, seu macho durão.
– Não acho isso. – Eu tenho sensibilidade, ok? – Quer dizer, por mais que você aparente isso às vezes, não acho que seja exatamente assim. Nem sempre aparentamos ser o que somos de verdade. – Eu to que to um filósofo hoje, hein?
– É.... porque não sou tão durão quanto gostaria de ser.
– Eu sei que não me conhece e não deve confiar em mim pra contar seus problemas, mas você deve ter outras pessoas próximas, devia tentar conversar com elas.
– Meus pais são muito ocupados, meu melhor amigo é meio... insensível às vezes. – Concordo. – Mas meu primo até parece alguém mais compreensível.
– Então tenta falar com ele.
– Você também parece alguém confiável. – Ai, eu vou chorar também agora. – Só não somos tão próximos... – Porque você não quer, porque se fosse por mim...
– Entendo. Eu te acho um cara legal, apesar de toda essa imagem de cara durão que você passa pras pessoas. – Só estava sendo sincero agora.
– Você também é legal, Seokjin. – Namjoon bateu em meu ombro, socorro, estamos nos tocando muito ultimamente.
– Pode me chamar de Jin. – Ou de amor da sua vida, você que escolhe. – Ou de hyung.
– Você não é mais velho do que eu. – Ele soltou uma risadinha, que fofo, vou bater nele.
– Eu acho que sou. – Eu sabia que era, mas ele não sabia que eu sabia, né. – Tenho 20 anos.
– Sério? Você parece mais novo que eu, tipo... uns 18. – Ele tava me encarando, eu ia desmaiar a qualquer momento.
– E quantos anos você tem? – Eu sabia muito bem disso também.
– 19.
– Uau, que diferença enorme, Namjoon! – Rimos juntos.
– Ok, Jin hyung. – Teria eu morrido e ido pro céu? – Vou te chamar assim agora.
– Muito bem, dongsaeng. – Baguncei o cabelo sedoso, macio, cheiroso e hidratado dele.
– Mas e o seu irmão? – Meu Deus! Que espécie de ser humano sou eu que esquece do próprio irmão por causa de macho? Alguém me mata! – Já tentou ligar pra ele... ah... ele não iria ouvir...
– Mas ele leria minhas mensagens, só que... eu perdi meu celular ontem. Na verdade, pensei na possibilidade de ter ficado no seu carro.
– Ah, eu não reparei, mas posso ver agora, se você quiser.
– Se não for te incomodar. – Eu pagando de tímido.
– Não vai. – Namjoon levantou e me olhou de forma séria. – Deixa eu sair primeiro e ver se não tem ninguém... pode parecer estranho nós dois juntos aqui. – Não acredito que sou apaixonado por um idiota.
– Deixa que eu vejo. – Levantei e meu ombro bateu no dele propositalmente só pra ele se tocar que eu tava pistola com essa atitude idiota dele. Olhei o banheiro inteiro e não havia ninguém lá. – Não tem ninguém.
Namjoon saiu e começou a caminhar até onde presumi que estava seu carro, não falamos nada durante o caminho, eu sabia que aquele garoto não queria ser visto de papinho comigo pelos corredores da universidade.
O estacionamento ficava perto do restaurante, olhei para o lugar onde havia deixado Taehyung e Jungkook, mas os dois não estavam mais lá. Fiquei nervoso quando pensei em Hoseok, mais um motivo pra conseguir meu celular de volta logo.
Chegamos até onde seu carro estava e ele o abriu, procurando ele mesmo pelo celular, eu ia me oferecer pra fazer isso, porque (1) o celular era meu e (2) eu podia vasculhar o carro dele e encontrar algo significativo. Mas lembrei que ele era idiota, então deixei que ele mesmo procurasse.
– Procurando algo? – Senti minha raiva aumentar mais ainda quando notei Min Imbecil Yoongi do meu lado.
– É da sua conta? – Cuidado que hoje eu to venenoso.
– Claro que é, Kim Seokjin. Ou eu deveria dizer... Min Seung. – Se um raio quiser cair na minha cabeça, pode cair agora mesmo, eu agradeceria.
– Como você...
– Você e o Namjoon têm um caso ou algo do tipo? – Queria eu, né, Min Yoongi.
– Por que está perguntando isso?
– Porque vi que você tem todas as fotos dele salvas no seu celular. – Alguém me mata, por favor. – E você esqueceu o celular no carro dele, ontem. Aonde vocês foram?
– Devolve meu celular, por favor. – Seja educado, Kim Seokjin, seja educado.
– Você não me respondeu. – Yoongi parecia uma serpente de três línguas quando sorria.
– Ele me deu uma carona pra casa ontem, porque tava chovendo e eu tava a pé. Foi só isso. Agora me devolve, por favor.
– Mas você gosta dele, certo? Na verdade, tenho certeza disso pelas mensagens que manda pro seu amigo, “Hobi Hobi”. – Ele tava rindo da minha cara, alguém me segura.
– Me devolve.
– E sobre o tal Manual de como ser um idiota? – Ele riu novamente. A situação era divertida demais pra aquele imbecil.
– Se existisse um manual de como ser idiota, certamente, ele seria escrito por você, Min Yoongi.
– Devolve logo, Yoongi. – Me assustei com a voz de Park Jimin atrás de mim. De onde esse garoto surgiu? Esteve aí o tempo todo? Ele é um fantasma?
– Fica na sua, Jimin. – Pude ouvir o primo de Namjoon suspirar e lançar uma careta pro Min, já gostei desse garoto.
Mas parando pra pensar agora, como eu vim me meter nessa corja de gente rica que se acha, composta por: Kim Namjoon, Min Yoongi e Park Jimin?
– Não posso devolver seu celular ainda. – Continuou aquele maldito. – Ele pode ser útil. Vai que eu resolvo mostrar tudo pro meu amigo ali. – Ele apontou pra Namjoon, que ainda estava procurando meu celular e nem deve ter notado o amigo e o primo chegando. – Namjoon! – Ele colocou a cabeça pra fora do carro.
– Yoongi? O que foi? Oi, Jiminnie. – Gente, Namjoon é muito fofo, amo ele.
– Oi, hyung. – Jimin sorriu pro primo.
– Vim cumprimentar o Seokjin. – Esse Yoongi não presta.
– Não sabia que conhecia o Jin hyung. – Disse Namjoon.
– Não sabia que vocês saiam juntos e se chamam por apelidos até. – Vou dar na cara desse Yoongi.
– O Jin hyung é legal. – Namjoon se aproximou de nós e eu queria abraçar ele, me segurem. – Algum de vocês dois viu o celular dele no meu carro?
– Eu não vi. Você viu, Jimin? – Era óbvio que Yoongi estava pressionando Jimin a não contar a verdade, mas Namjoon parecia lerdo demais pra perceber isso.
– Não. – Jimin abaixou a cabeça e respondeu tão baixo que eu quase não pude ouvir ele.
– Eu sinto muito, hyung. – Namjoon me lançou um sorriso forçado e Yoongi parecia a pessoa mais alegre do mundo.
Minha situação era a pior possível. Min Yoongi estava com meu celular. Ele sabia que eu era apaixonado pelo melhor amigo dele. Ele sabia que eu escrevia o Manual de como voltar sozinho. Ele não tinha intenção de devolver meu celular, pelo menos não agora. Eu estava no meio dos amigos dele e não podia fazer nada. Eu estava só, como sempre.
– Tudo bem. – Minha voz quase não saiu.
– Não fica tristinho, cara, quem sabe... ai! – Me assustei com a elevação na voz do Min. Olhei por cima de seu ombro e notei Jungkook, que estava com sua muleta contra as costas daquela lagartixa maldita chamado Min Yoongi. Não acredito que ele havia batido em alguém mais velho com aquela muleta.
– Deixa ele em paz, idiota. – Meu Deus, esse moleque é radical mesmo. E eu não era o único nervoso, encarei Taehyung, que segurava a cadeira de rodas do Jeon, e Hoseok, que segurava sua outra muleta, e ambos pareciam nervosos também.
– Quem você pensa que... – Yoongi arregalou os olhos quando encarou o garoto que havia lhe acertado. – Jungkook? O que aconteceu com você?
– Não finja que se importa, Yoongi. – Como assim aqueles dois se conheciam? Eu to muito chocado. – Você simplesmente sumiu.
– Você que sumiu! E nem mesmo me avisou nada! – Yoongi parecia ter se transformado em outra pessoa. – Por que não me contou o que aconteceu com você, Jungkook?
– Você sumiria se eu contasse. Vamos embora, Seokjin. – Jungkook tentou mover a cadeira de forma desajeitada. Taehyung parecia tão surpreso que nem mesmo notou. Me aproximei e comecei a empurrar sua cadeira.
– Tchau, Namjoon, Jimin. – Não me virei só pra me despedir, eu também precisava ver aquela expressão arrasada de Min Yoongi mais uma vez.
– Tchau. – Namjoon acenou pra mim e eu sorri.
Enquanto eu empurrava Jungkook de volta pro restaurante e Taehyung e Hoseok nos acompanhavam, cada um parecia preso em seus próprios pensamentos e constatações. Mesmo que Hobi não tivesse ouvido nada, ele podia ler expressões muito bem. Espera aí... Hobi!
– Taehyung. – Chamei a atenção do garoto.
– Sim.
– Empurra pra mim. – Taehyung ficou no meu lugar pra empurrar o Jeon e eu bati no braço de Hoseok.
“Onde se meteu? Eu te procurei por todo canto!”
“Eu estava nervoso! Mas depois eu voltei e você não estava lá! E eles dois não entendiam o que eu falava, sabe como foi difícil?”
“Você não me respondeu! Pra onde foi?”
“Fiquei atrás do depósito de comida do restaurante.”
“Isso é perigoso! Não faça de novo! Você já comeu pelo menos?”
“Eu não consigo pedir a comida sem você. Eu fico nervoso.”
“Devia ter pedido ajuda ao Jungkook ou ao seu querido Taehyung.”
“Eles não entendem línguas de sinais!”
“Escreva! Não pode contar só comigo, eu não vou estar aqui pra sempre. Logo não vou estar mais aqui e você precisa contar com alguém, peça ajuda.”
Percebi que havia exagerado quando notei os olhos de Hoseok começarem a se encher de lágrimas. Por que eu era sempre tão idiota? Eu só queria que ele tivesse mais amigos e não se sentisse sozinho.
“Desculpe, eu sou um idiota. Só fiquei preocupado com você.”
– Tá tudo bem entre vocês? – Desviei minha atenção pro Jeon. Os dois garotos nos olhavam de forma confusa. Por um momento, esqueci que eles não podiam nos entender.
“Jungkook perguntou se está tudo bem entre nós.”
“Está, hyung.”
“Obrigado. Eu te amo.”
“Eu também te amo, hyung.”
Hoseok sorriu e eu o abracei, apertando com força só pra não esquecer de como era bom ter ele sempre por perto.
– Agora estamos bem. – Respondi, finalmente. – E você, Jungkook? Tá bem depois dessa discussão ou reencontro com Min Yoongi? – Eu sou curioso, por isso faço jornalismo.
– Talvez fosse melhor não ter visto ele. – Confessou o Jeon.
– Vocês se conhecem há muito tempo? – Perguntou Taehyung.
– Sabe o cara do qual falei antes? Pois é... – Estou mais chocado por Yoongi ter sido um rolo do Jungkook do que por também gostar da mesma fruta que eu.
– Mas você não disse que ele tinha te largado depois do seu acidente? – Obrigado por fazer minha próxima pergunta no meu lugar, Taehyung. – Ele parecia não saber de nada.
– É como eu disse, ele teria me largado do mesmo jeito se soubesse, porque Min Yoongi é um grande idiota.
“Dizer que estamos sozinhos é uma verdadeira ofensa a todos aqueles que sempre tentam nos ajudar. Nem sempre as pessoas vão conseguir te ajudar da forma que você gostaria. Não conseguimos adivinhar o que o outro mais precisa naquele momento. Mas existe uma solução para isso. Experimente contar o que sente para alguém que você realmente confia ou que faça você se sentir melhor.
Nós criamos nossa própria solidão, nos isolamos, afastamos, excluímos, porque nos sentimos incapazes de manter qualquer tipo de relação que seja. Mas não somos incapazes, acredite nisso. Acredite que você merece que as pessoas se importem com você e que te façam companhia.
Deixe as pessoas te ajudarem, eu sei que há alguém que quer te ajudar, lembre-se disso, não continue se diminuindo e se excluindo cada vez mais. Eu sei que somos melhores do que isso. Somos melhores que pessoas que acham que não precisam de ninguém para viver.
A solidão nos sufoca e nos faz nos sentir ainda pior. Deixe que alguém te ajude com isso. Vamos começar agora? Ótimo. Então, me deixe te ajudar agora e te dizer algo:
Você nunca está sozinho.
Diga isso para alguém que você gosta, diga para você mesmo. Vamos destruir nossa solidão e também a solidão dos outros. Mas lembre-se, só podemos fazer isso se estivermos juntos.
Você precisa sobreviver.”
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