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História Marymount Institute; Interativa - ::. 0.4 - I gotta felling


Escrita por: _h3cate_

Notas do Autor


¡❞:☽¸• .¸❞ —— Opa, tudo bem com você? Aqui está mais um capítulo de Marymount! Devo avisar que os alunos do terceiro ano tiveram mais destaque (Não que os do segundo não tenham tido sua aparição), mas não se preocupe! O próximo capítulo será um esquema inverso.

¡❞:☽¸• .¸❞ —— Também gostaria de lembrar, caso tenha esquecido, que no capítulo anterior tem um formulário para relatar a relação do seu personagem com o Jason. Esse será o último aviso, pois, caso o nome do seu personagem não esteja ali na lista, irei presumir que você deixou para que eu possa decidir o rumo.

¡❞:☽¸• .¸❞ —— Sem mais enrolações, o capítulo quatro.

Capítulo 6 - ::. 0.4 - I gotta felling


 

    Uma festa de tons mórbidos da cor cinza acompanhados de detalhes vermelho escarlate cobria os corredores do prédio principal de Marymount Correctional School. O uniforme, devidamente planejado, era a forma de lembrar a todos da prisão elitizada em que se encontravam e que o escape era praticamente impossível, ou seja, todos estavam condenados a vidrar seus olhares estáticos, não de uma forma boa, para o quadro da sala de aula, o qual estava preenchido de palavras e números que certamente a turma do terceiro ano não se importava. Alguns roncavam em cima de suas mesas, outros anotavam meticulosamente em seus cadernos (poucos eram estes). Enquanto isso, Luca Vennachio se empenhava freneticamente em fazer a melhor caricatura possível do professor de química enquanto o mesmo falava sem parar sobre alguma coisa relacionada a gases, disso tinha certeza, já que alguns metidos a engraçadinhos acharam que seria a coisa mais cômica feita se relacionassem os gases da tabela periódica com a flatulência produzida pelos seres humanos. Isso fez Luca realmente questionar se precisava se submeter àquele tipo de coisa apenas para conseguir um diploma do ensino médio.

 

— Ei. — Amélia Cooper cutucou as costas do amigo e o chamou, o tom de voz baixo para não atrair a atenção do professor — Se quiser a gente pode encurralar esse papel e bater nele depois. 

 

    A garota se referia a frustração aparente que Luca descontava no material com esboços do docente de maneiras nada apreciativas. Ele não tinha raiva daquele em particular, apenas sentia-se mergulhado no mais profundo tédio de segunda-feira. Não evitou sorrir com a fala da amiga, então concordou, entrando na brincadeira.

 

— Uma ideia incrível, vou considerar sua proposta mais tarde. — O rapaz se virou de forma em que pudesse conversar com a moça, mas também que não lhe desse um passe livre para ser expulso da sala — E você? Não está interessada em elementos químicos e essa merda toda?

 

— Eu até estava, mas aquela árvore parecia mais interessante. — Ela apontou para a vegetação do outro lado da janela — É estranho pensar que estamos presos aqui vivendo nossas vidas ao mesmo tempo em que o mundo todo acontece lá fora.

 

–— Uau… — Luca expressou. — Então essa foi sua desculpa para não prestar atenção na aula?

 

—Sim, gostou? —Amélia soltou uma risada nasalada —Vou pensar na próxima para a aula de matemática. 

 

    Continuaram conversando sobre assuntos desconexos por bastante tempo, pelo menos foi suficiente para que aquele horário terminasse sem que nem um dos dois percebesse. Como era norma da escola (uma idiotice, pela concepção de Luca), cada aula era um mapa de sala diferente, isto significava que o italiano agora estava sendo obrigado a se realocar até as cadeiras da frente. Tinha sido condenado a permanecer naquele local quando, no ano passado, havia colecionado uma sequência de cochilos sem pausa entre os tempos, levando a paciência da diretora no limite de tantas reclamações a respeito do comportamento do rapaz nessas aulas específicas. Luca ainda tinha sorte que ainda poderia sentar nos fundos em aulas como a de química, por exemplo.

    A salvação dos alunos foi quando a secretária bateu na porta e informou que a direção solicitava a presença da professora urgentemente. Não tardou muito para que o silêncio logo fosse quebrado com sussurros, seguidos de conversas paralelas sobre assuntos superficiais. Entretanto, a maioria dos assuntos retornava para a festa de boas vindas que iria acontecer naquela noite e, obviamente, o anfitrião era o Vortex Club. Apesar de abrir suas portas dessas festividades, onde tudo é permitido, para terceiros que não fazem parte dessa aristocracia selecionada apenas no Completamento in stile vortex (A comemoração de todo final de mês), decidiram ser bondosos e deixar todos desfrutarem de um início de ano pecaminoso, como todos ali presente adoravam.

 

    Todos, exceto Pietro Bernardi, que fazia o máximo possível para ignorar os pedidos incessantes de Dulce Medina, que sabia a repulsa do amigo em relação às festividades, mas, como seu hobbie preferido era encher o saco do italiano, continuava a expelir argumentos sem sentido, pelo menos na concepção do garoto, apenas para ver onde chegaria. 

 

 — Dulce, você sabe que eu detesto esse tipo de coisa, principalmente se vier daquele clube. — Ele colocou o fone de ouvido, seu maior parceiro, dando um sinal para a garota que aquele assunto havia cessado — Não vou e ponto final. Se quiser ir, fique à vontade.

 

— Não aceito isso como resposta. — Na verdade, ela já havia aceitado há bastante tempo. Apenas estava sem nada mais importante para fazer — Então você vai fazer o quê essa noite? 

 

— Não sei. Talvez eu jogue, talvez eu durma.

 

— Não cansa disso? — A espanhola perguntou — Sabe, ficar jogando o tempo inteiro.

 

— Você cansa de ler?

 

—Touchè. 

 

Pietro não deixou de esboçar um sorriso mínimo, mas que o exalava como vencedor daquele pequeno debate. Em questão de segundos depois daquela conversa, os gritos da professora de matemática invadiu os ouvidos do rapaz. A mulher dava um sermão sobre comportamento enquanto os alunos retornavam aos seus lugares, já que todos haviam se levantado para conversar com os amigos, assim como a própria Dulce, que retornou para sua mesa sem pestanejar, porém dormiu assim que deitou a cabeça.

Pietro, pelo contrário, fez questão de tirar o fone e prestar atenção na aula. Não que quisesse, mas não daria nenhuma razão para que a rainha má (apelido da diretora Rosselini dado pelos alunos do terceiro ano) colocasse qualquer mancha em seu histórico escolar.

 

    O pensamento era oposto para Mateo Diaz que, apesar de ser um aluno quieto (leia-se: Não dá a mínima para as aulas), não via a hora de chegar o momento em que a professora lhe desafiava. Não era exatamente um confronto direto, mas, por parecer uma pessoa que não ligava para os estudos, os mais velhos teorizavam que ele não sabia de nada e, era exatamente aí em que se enganavam. Ao contrário desse pensamento coletivo, Mateo era extremamente inteligente em qualquer coisa que lhe propusessem. 

 

    De repente uma mão macia e delicada pousa sobre o ombro do Boliviano, que abriu os olhos assustado. Entre os dedos encontrava-se um papel pequeno. Mateo olhou para trás, percebeu que a dona era Amber Montgomery e, só por esse fato, decidiu não ignorar aquele material que ela lhe entregava.

    

Mateo sorriu de lado assim que leu o conteúdo, que não passava de reclamações da garota sobre a aula insuportável em que estavam. Aquela amizade havia se formado estranhamente após Amber ter tentado algo com Mateo, mas recebeu um fora como resposta. Semanas depois, Mateo foi atrás da garota para reaver a proposta, mas ela alegou que tinha perdido o interesse nele. Nisso, de alguma forma, acabaram criando uma piada interna a partir dessa situação, o que, por consequência, surgiu uma essa até comicidade linda de se ver, já que envolvia aqueles opostos.

 

Amber riu com aquela reação do amigo e se encostou na cadeira sorrindo. Logo, seu olhar se direcionou para Maximilian Cooper, que brincava com a caneta sem  mostrar um pouco de interesse nas falas da mulher da frente da sala. A ruiva tinha uma queda pelo rapaz, apesar de já ter sido alertada o contrário por diversas pessoas, mas era impossível evitar os pensamentos indecentes quando o assunto era ele.  

Por algum tempo, ela ficou encarando suas mãos enquanto repassava naquele momento o que faria na festa mais tarde. Óbvio, faria tudo o que desse na telha. Se divertir era o prazer de Amber, adorava entrar em êxtase com tudo que essas comemorações sem finalidade alguma tinha para oferecer, seja álcool, drogas ou apenas as músicas que a transportavam para qualquer lugar que não fosse aquela realidade dura e cruel.

 

    Mateo esticou o braço para trás e entregou um outro papel que estava entre os dedos do garoto. Amber o pegou e riu baixo quando leu.

 

    Já do outro da sala Lorenzo observou a cena toda e tentou arduamente lutar contra os impulsos de revirar os olhos diante daquela infantilidade de trocar cartas como se ainda estivessem no fundamental. Ele não sabia que aquilo se tratava de uma anedota particular pertencente apenas àquela dupla, mas Saviola também não queria saber. Estava no mais profundo aborrecimento, pois cálculo não era seu forte, então decidiu observar cada um dos colegas disfarçadamente. Claro, não encontrou nada de interessante, a não ser um lembrete mental de confrontar Amélia, uma pessoa que considerava como irmã mais nova, pelo período da tarde, se ela havia tomado seu remédio para TDAH, pois aparentava estar no mundo das nuvens mais que qualquer um ali presente. 

 

    Sinceramente? Lorenzo mal esperava para o intervalo chegar, assim como Sigrid. A diferença é que ela não se conteve de forma alguma para expressar isso.

 

— Professora? — Chamou a garota com um braço erguido.

 

— Diga, Sigrid. — A mulher ergueu a sobrancelha direita com um olhar de impaciência para a aluna, já que ela havia interrompido seu raciocínio. 

 

— Não acha que está repetitiva demais? Quer dizer, já é a terceira vez que explica o conceito de logaritmo. Poderíamos estar em outro ponto se a senhora não insistisse em algo que a maioria já compreendeu.  

 

    Alguns acharam aquela intervenção interessante, outros acharam uma tremenda falta de respeito, mas Lorenzo foi um meio termo. Apesar de abominar qualquer tipo de desacatamento, aquele pensamento dito por Sigrid também corria por sua cabeça, portanto, ele a admirou por sua coragem ao mesmo tempo que a repreendeu mentalmente pelo jeito em que ela colocou as palavras. 

 

— Se está achando ruim, senhorita, pode se retirar da sala se for do seu desejo. — Expressou a professora, se mostrando evidentemente irritada.

 

— Não quero sair da sala. Quero aprender. —Sigrid cruzou os braços permanecendo com um semblante sério —E isso não vai acontecer se a senhora continuar falando a mesma coisa pela aula inteira.

 

    No fundo a professora também sabia que Sigrid estava correta, tinha se empolgado demais em um tópico e esquecera do restante, portanto, apenas solicitou mais respeito na próxima vez em que fosse pontuar alguma coisa. Dessa forma, a aula do terceiro ano continuou com todos quietos como múmias.


 

. . .

 

Os corredores de Marymount estavam vazios e cobertos pela mais profunda escuridão, apenas sendo iluminados por fios da lua que pairava no céu como algum filme capaz de te fazer chorar horrores. Nada se escutava por perto, exceto os passos de Pietro Bernardi em direção aos dormitórios com o intuito de tirar a melhor noite de sono possível, já que o rapaz havia ficado até aquele horário apenas para poder fumar em paz sem que ninguém enchesse seu saco. Se ficasse parado e se concentrasse um pouco, sentiria as vibrações da música alta que rolava de algum canto daquele colégio. 

 

Caminhou vagarosamente perdido nos próprios pensamentos quando de repente escutou um estrondo vindo da sala ao lado, a biblioteca, se não se enganava, o que o assustou de forma imediata. A apreensão tomou conta do seu ser, afinal, quem ainda estaria naquele local pela noite? Além do mais, que barulho tinha sido esse? 

 

Sabendo que as respostas para suas perguntas só seriam dadas se o próprio fosse verificar, andou com passos receosos até a porta da sala e a abriu lentamente. Para seu alívio, ou não, o que encontrou foi Amélia Cooper sentada no chão com livros jogados ao seu redor e uma cadeira virada para o lado. 

Geralmente, como a garota não havia percebido sua entrada, Pietro sairia sem precisar anunciar sua presença, pois ele havia constatado que a ruiva estava bem. Entretanto, para seu estranhamento, abriu a boca e proferiu as seguintes palavras, tais quais se arrependeria segundos mais tarde. 

 

— Você caiu?

 

    O que ele estava perguntando? Era óbvio que tinha caído. Na verdade, o que ele estava fazendo? Nunca tinha falado com Amélia antes, então porque decidiu falar como se tivesse o mínimo de intimidade com a garota? Eram certamente perguntas que Pietro não sabia responder, mas lá estava ele com um semblante sério escondendo todos esses questionamentos desenfreados que passavam por sua cabeça.

 

Cooper, pelo contrário, expressou, sem se conter, o susto que tomou quando a voz de Pietro invadiu a sala de repente, mas logo relaxou quando percebeu de quem se tratava. 

 

— Sim. — Sorriu mostrando a bagunça ao seu redor — Tentei pegar esse livro aqui, mas fiquei com preguiça de buscar a escada, então usei a cadeira. — Ela se levantou e bateu de leve nas coxas para limpar qualquer resquício de sujeira — Não foi uma boa ideia.  

 

— Entendi. —Respondeu o rapaz —Mas você está bem?

 

— Estou, não se preocupe.

 

    Dito isso, a ruiva começou a arrumar a bagunça que tinha feito. Pietro, sem falar nada, saiu da biblioteca, andou por três passos, até parar e dar meia volta, retornando ao local. Novamente, o italiano se xingou mentalmente para entender que merda estava fazendo, já que poderia estar ligando seu pc e jogando o que quer que desse na telha, mas estava colhendo livros do chão, sendo que ele não tinha nada haver com aquela bagunça.

 

— Não preciso de ajuda, são poucas coisas. — Amélia disse para Pietro enquanto tentava colocar o objeto na prateleira de cima — E fui eu quem foi desastrada, então eu cuido disso.

 

    Pietro apenas ignorou a fala da garota e pegou o livro da mão dela para poder colocar onde pertencia sem dificuldades, já que a diferença de altura era notória. Nem um dos dois pronunciava palavra alguma, mas o silêncio não estava desconfortável, porém também não era confortante, então finalizaram aquela limpeza o mais rápido que puderam. Em questão de minutos, não havia mais vestígios que alguém tivesse caído e derrubado quase uma estante inteira, exageradamente falando.   

 

— Obrigada por não me deixar sozinha. — Disse Amélia esticando a mão em cumprimento — Me chamo Amélia. 

 

— Eu sei. — O garoto apertou a mão dela e soltou rapidamente —Me chamo Pietro.

 

— Eu sei. — A ruiva sorriu de lado antes de ambos seguirem por caminhos opostos em direção aos respectivos dormitórios. 


 

    Não muito longe dali, Dulce Medina perambulava pela festa questionando-se como os membros daquele clube repleto de jovens mesquinhos havia conseguido organizar um evento daquele porte sem que os mais velhos soubessem. Além do mais, como aquilo ocorria sem que ninguém escutasse? Era realmente um mistério para a espanhola. Havia escutado certa vez que pagavam quantias milionárias para os supervisores e guardas noturnos para que passassem vista grossa, mas nunca acreditou nessa teoria. Agora ela não aparentava ser uma realidade distante.

 

    Não era a maior apreciadora de bebidas alcoólicas em todo universo, porém aquela bancada colorida de drinques tinha chamado sua atenção. Os copos que saiam dali eram batidinha de morango, em sua maioria, mas Dulce abominava a fruta, portanto, não pensou duas vezes em pedir uma com o sabor de chocolate. Apesar de estranhar, já que é de conhecimento geral que aquela mistura não era agradável ao paladar, o barman não ponderou e logo entregou à Dulce o que ela desejava.

 

    Sentia-se satisfeita como uma criança após ganhar um presente de natal, porém logo seu humor despencou drasticamente quando foi forçada a se equilibrar ao mesmo tempo em que tentava não derrubar a taça em suas mãos. Algum idiota, já alterado, provavelmente, não estava prestando atenção no seu caminho e quase atingiu a garota. Obviamente, Medina não deixaria com que ele passasse seja lá para onde for sem que ela lhe desse, no mínimo, um puxão de orelha.

 

— Você está cego, caralho?! — A loira exclamou.

 

—Isso é um excelente questionamento. — Ponderou o rapaz — Realmente somos cegos em alguns aspectos, mas será se isso é algo que temos consciência? E se temos, será que apenas ignoramos? Por exemplo, “Se o amor é cego, ele nunca acerta o alvo”.

 

    Se o sinal de interrogação possuísse outra performance, certamente a cara de Dulce naquele momento seria o modelo ideal. O único segundo em que vacilou foi quando reconheceu a frase de William Shakespeare, de Romeu e Julieta. Definitivamente não era fã desse tipo de leitura, mas qualquer aluno do instituto Marymount sabe de cor e salteado cada palavra dita na história do dramaturgo inglês, porém o que surpreendeu foi ter encontrado um rapaz totalmente chapado que ousasse mencionar um assunto repudiado por 90% dos jovens ali presentes.

 

— É, é, foda-se, tanto faz essa baboseira shakesperiana. — Dulce realmente estava irritada, mas tentava se conter para não estragar o restante da noite — Só cuidado para não derrubar a bebida dos outros, cara.

 

— Me chamo Romeu, prazer. — Ele esticou a mão em cumprimento, que foi recebida de forma relutante pela moça — Agora pode dar um sermão sabendo quem eu sou.

 

    Dulce se conteve para não rir. Havia gostado da atitude estranha de Romeu, mas ela não podia perder sua falsa postura de modo algum, portanto, se contentou em virar o conteúdo do copo e passar a ignorar aquele em sua frente.

 

— Ei, eu disse meu nome. É justo que você me diga o seu. — Romeu sorriu — A não ser que você seja procurada, aí eu vou compreender.

 

— Medina. — A espanhola presumiu que se falasse, o rapaz a deixaria curtir a festa sozinha — Dulce Medina.

 

— Entendi, Bond — Respondeu o italiano — James Bond.  

 

    A garota revirou os olhos, mas não conteve um pequeno sorriso lateral, fato que foi percebido imediatamente pelo outro. Decidindo não continuar a conversa, Dulce saiu sem rumo, se perdendo da vista de Romeu, que continuou parado considerando firmemente em ir atrás dela no próximo dia. Ou quando lembrasse.

O rapaz deu de ombros e andou até a roda em que se concentrava a maior parte do barulho, notando que os indivíduos inseridos naquele meio já estavam partindo para outro tipo de alucinógeno, além da recorrente maconha e do álcool. O italiano não apreciava muito aquela radicalidade, portanto, contentou-se em sentar ao lado de seu amigo Maximilian Cooper, que se olhava para uma carreira de pó disposta em cima da mesa.

 

— Certeza que não quer um pouco, Romeu? — Questionou o Nova Iorquino. 

 

— Não precisa —Ele ergueu a seda que se encontrava entre seus dedos em resposta. — Já estou satisfeito. 

 

    Apesar de Romeu apreciar um bom falatório, não era assim que a amizade entre os dois fluía. Era como se conversassem por pensamento sem necessitarem de palavras para chegar em um consenso qualquer.

Max apenas concordou com um ruído da garganta e direcionou seu nariz para a cocaína que lhe esperava. Ele jogou a cabeça para trás, fazendo com que o pó descesse livremente pela mente e fizesse seu trabalho. Como esperado, rapidamente aquilo o levou a caminho do êxtase. As vozes e os problemas que perpetuavam na mente de Maximilian já eram coisas distantes.

 

    Os gritos do seu pai já não tinham espaço para ser o tormento diário que assolava o norteamericano. Tudo que existia no momento era ele e a animação que o invadiu de forma repentina. A única coisa que importava era o alívio que tomava o peito do rapaz, como planejado desde o ínicio. 

Estava cercado de pessoas, mas nenhuma delas fazia diferença em sua vida. O sorriso estampado no rosto era tão falso quanto a alegria que aparentava exalar, entretanto, ao menos aquela mentira era mais reconfortante do que encarar a dura realidade.

 

— Tem mais aí para mim? — Kurt perguntou para a dupla — Porque se não tiver, arranjo mais para todos nós em menos de cinco minutos.

 

—Tem sim. — Max esticou o pacote de cocaína para o rapaz — Só não usa tudo, isso aí é caro.

 

— Como se fizesse diferença para você, Cooper.

 

    Repetindo o ato do colega, Kurt dispôs o pó em cima da superfície plana e cheirou como se necessitasse daquela droga para se manter vivo. Harriet, já sendo naturalmente espontâneo e carismático, tornava-se uma versão melhorada e ampliada de si quando estava sob efeito de qualquer entorpecente que fosse. Não conseguia parar quieto por um tempo seguido, porém a única coisa que o mantinha preso àquele sofá, era nada menos que uma conversa filosófica. Quem melhor para acompanhá-lo naquela viagem mental do que Romeu?

 

— Eu juro que queria entender porque vocês passaram quase 10 minutos discutindo sobre a origem do universo. — Ponderou Maximilian, que já se encontrava com um baseado aceso.

 

— Porque somos frutos da imaginação de nós mesmos, cara. — Romeu passou o braço ao redor do ombro de Max — Tudo se encaixa perfeitamente, não é?

 

    Uma das coisas que Maximilian mais detestava no mundo era contato físico, desde que não fosse iniciado pelo próprio. Em seu estado mais lúcido, Cooper com certeza se desvincularia do ato de Romeu, mas estava tão absorto em sua consciência que apenas ignorou. Aquele ali não era o Max e sim uma versão enganadora que o real gostava de assumir para fugir das adversidades.

 

    Acontece que Luca Vennachio não sabia qual versão estava sendo a comandante do corpo de Max, então não pode deixar de emburrar a cara quando notou a proximidade entre o amigo e Romeu. Luca nunca foi o maior fã do Battaglia por motivos que nem ele fazia ideia. Talvez fosse o fato do outro ser avoado demais ou apenas o jeito dele. Vennachio não sabia o motivo de tanto desprezo quando o assunto era o Italiano, mas não podia evitar tamanho desgosto toda vez que o nome dele era mencionado.

Talvez o que mais o irritava era o fato de que Romeu parecia ser tão distante de Max em alguns momentos e tão próximo em outros. Quer dizer, Luca não queria parecer tóxico nem nada, mas, afinal, que merda eles tinham? Ele sempre se incomodou com o fato de Cooper fazer o maior mistério do mundo quando relacionado às suas “pessoas passatempo” e realmente temia que algum dia tivesse que aturar Romeu como namorado do seu melhor amigo. Era um cargo que Luca não queria assumir de forma alguma.

 

— Que cara de merda é essa? — A voz de Ye Jin ecoou pelos ouvidos de Luca, que o avaliou da cabeça aos pés sem alterar o semblante de tédio.

 

— Quem é você mesmo? — A pergunta sincera do rapaz abalou um pouco o ego de Park, mas o mesmo permaneceu com o sorriso sádico no rosto.

 

— Eu que deveria estar perguntando isso para você, zé ninguém. — Ye Jin balançou a cabeça desacreditado no que escutava até porque quem não conhecia sua pessoa, provavelmente era algum tipo de lunático — Enfim, você parece que está puto. Quer transar?

 

    A pergunta realmente pegou Luca de surpresa, mas era assim que Ye Jin era. Se estivesse com vontade de foder com alguém, ele iria sem se importar qual seria sua dupla. A verdade era que Park já havia selecionado Luca a muito tempo para sua lista, mas não havia conseguido oportunidade alguma para perguntar isso diretamente. Agora era a hora perfeita.

 

— O que você está falando? Eu não fico com homens. — Respondeu de forma simplista — Aliás, você parece estar bêbado demais. Porque não sai daqui e procura outra pessoa?

 

— Não, eu quero você. — Ye Jin pegou a mão de Luca e depositou em cima de sua coxa — Estamos ambos bêbados, Vennachio. Amanhã colocamos a culpa no álcool e fingimos que nada aconteceu, ok? 

 

    Luca olhou mais uma vez para a cena que o atormentava anteriormente e se virou para Ye Jin. Não acreditava nas palavras que saiam da boca do mais novo, mas, acima de tudo, não acreditava que estava prestes a aceitar aquela proposta estupidamente insana. O único sinal que o italiano deu foi se levantar dali e ir em direção ao lado de fora da festa. Ye Jin, extremamente satisfeito e nada surpreso por ter conseguido o que queria, seguiu Luca para terminar a noite com o rapaz.

 

    Lorenzo, sem notar que estava encarando aquele espetáculo discreto, ficou inconformado por saber que o destino daqueles dois não seria nada menos que o quarto em que o rapaz  dividia com Ye Jin. Não seria a primeira vez que o garoto levaria um acompanhante para dentro do local, apesar do pouco tempo de aula, mas também não seria a última. Aquela informação dava nos nervos de Lorenzo, pois, apesar de ser um grande nome, era um tremendo apreciador da privacidade, principalmente quando se tratava da sua, portanto, é de se esperar que a entrada constante de indivíduos desconhecidos não era de seu agrado.

 

— O que está fazendo, Loren? Essa festa não chega aos pés da que você geralmente frequenta? — A voz de Odette invadiu os ouvidos do rapaz.

 

— Estamos sozinhos. Me chame apenas de Lorenzo. 

 

    Para terceiros, Odette Germanotta e Lorenzo Saviola eram a amizade mais poderosa de toda Marymount, porém, os dois sabiam que aquela relação não passava de uma aliança que utilizava os nomes a seu favor. Odette sorriu cinicamente com a atitude do rapaz e deu um gole no seu copo de vodka - Talvez fosse seu décimo naquela noite.

 

— Tanto faz. Só quero saber o que está fazendo, mas pelo visto você quer ficar sozinho.

 

    Com o canto do olho, Lorenzo notou alguns murmúrios que se formavam ao seu redor. Já sabia do que se tratava: Será que eles estão tendo um caso? Será que estão brigando?

Honestamente? Aquilo cansava o rapaz de diversas formas diferentes, mas ele não pode demonstrar, uma vez que se saísse dos eixos, a notícia não sairia da boca dos tabloides. 

 

— Sim, eu quero. — Ele virou o rosto para encarar a menor — Vai fazer esse favor para mim ou precisamos fantasiar nosso teatrinho aqui também? 

 

    Se fosse outras circunstâncias, certamente Odette responderia aquele insulto à altura, porém foi impedida por estarem cercados de pessoas que sabiam muito bem quem ela era e sem contar que todos estavam armados com celulares. Qualquer deslize, pelo mínimo que fosse, poderia manchar o sobrenome límpido e próspero dos Germanottas. 

 

— Cuidado com o que fala, Loren. — A garota cuspiu o nome com desprezo e saiu de perto de Lorenzo.

 

    De longe, reconheceu uma cabeleira loira não muito distante dali. Odette até pensou, por um momento, em ir atrás da conhecida, porém decidiu tomar um caminho oposto. Enquanto isso, Sigrid observava cada um presente no local e cogitava seriamente em ir embora. Já era tarde e no dia seguinte seria aula. Ela não podia desandar por conta de uma das várias festas do Vortex Club. Sua ideia logo tornou-se concreta quando a caixa de som começou a tocar algum pop que a Islandesa desconhecia, mas apenas pelo fato de ser aquele ritmo, aquilo dava nos nervos dela de uma forma tão absurda que a garota não pensou duas vezes em sair dali. 

 

    Já estando do lado de fora, Sigrid sentiu o vento gélido da madrugada penetrando sua pele e arrepiando cada pelo do corpo. Seria algo realmente trágico caso fosse alguém que já não estivesse acostumada com aquele nível de temperatura. Entretanto, não muito distante de si, notou a presença de uma pessoa que tremia da cabeça aos pés, mas se recusava a sair do meio do pátio, já que admirava o céu como ninguém.

Sigrid achou aquilo interessante na mesma intensidade que achou estranho, portanto, sem querer puxar papo, virou-se para pegar outro caminho que não chamasse atenção do indivíduo em questão e que pudesse seguir em paz.

 

— Sabia que o nome daquela estrela é Sirius? — Perguntou Melissa a presença que escutou se afastar sorrateiramente — A mais brilhante ali.

 

    Sigrid xingou mentalmente, tanto ela própria quanto a garota, por não ter sido furtiva o suficiente. Poderia sair dali ignorando aquela pessoa que nunca havia conversado na vida e definitivamente iria, mas achou aquela informação verdadeiramente interessante. Uma de suas paixões secretas era a natureza, independente de qual fosse colocada em pauta.

 

— Ela faz parte da constelação cão maior. — A brasileira continuou ao perceber que a outra não diria nada. — É simplesmente lindo.

 

    Observando a garota da cabeça aos pés, talvez a 2 metros de distância, Sigrid certamente achou aquela desconhecida intrigante, de um jeito bom, mas também bastante falante para alguém que estava na companhia de uma pessoa estranha. Seja de uma forma ou outra, Sigrid estava cansada e necessitava estar em boa forma para o dia seguinte. Já havia enchido sua cota de curiosidades astronômicas, portanto se virou para ir ao seu quarto ao mesmo tempo em que sentia seus movimentos serem acompanhados pelo olhar de Melissa, que a observava com curiosidade.

. . .

Era quase duas da manhã, consequentemente, quase todos ali presentes não respondiam mais por si. Alguns sob o efeito de drogas, outros por álcool, porém a maioria havia feito uma mistura dos dois, sendo perceptível pela quantidade de pupilas dilatadas entre os estudantes. Exceto por Greta Giordano, que tinha bebido no máximo cinco copos de vodka, o que não era nem perto de ser suficiente para deixá-la ao menos um pouco fora dos eixos. Nem a própria sabia porque ainda permanecia ali, já que o tédio a preenchia por completo, portanto, decidiu sair dali naquele instante.

 

    Tudo teria dado certo, se não tivesse esbarrado com um rapaz que estava seguindo o caminho oposto que Greta pretendia tomar. Mateo trazia na sua mão dois copos de plástico que estavam cheios até o topo e certamente seria uma tragédia para Greta se equilíbrio não fosse uma das especialidades do boliviano.

 

— Presta atenção por onde anda, garota. 

 

—  Você que está indo para lá e sou eu quem tem que prestar atenção? —  A garota indagou —  Vai se foder, cara. 

 

    Mateo encarou a garota da cabeça aos pés sem falar uma palavra e Greta, com sua famosa paciência inexistente, fez menção em sair dali antes que optasse por brigar ali mesmo.

 

— Você manda eu me foder e sai como se não fosse nada? — Resmungou Mateo, o que chamou atenção da moça, que se virou para encará-lo  — Idiota.

 

— O que disse? — Greta semicerrou os olhos como se estivesse totalmente confusa. Ele realmente estava se direcionando a ela dessa maneira? Porque se fosse, Giordano não iria se segurar para dar uma lição de respeito àquele rapaz.

 

— Você escutou bem. 

 

Nesse ponto, ambos já se encaravam com puro ódio no olhar, apesar da diferença notória de tamanho. Todos ao redor já sentiam o que estava por vir se, por ventura, Amber não tivesse passado ali naquele momento. A ruiva foi a salvação para que aquele pequeno encontro não se tornasse uma briga verbal de dimensões inexplicáveis, pois tanto Mateo quanto Greta são indivíduos que não deixam passar nada que os ofenda sem ao menos dar o troco na mesma altura.

 

— Ei, ei. — Montgomery se pôs no meio da dupla e segurou o braço de cada um — Para que brigar agora, gente? Vamos nos divertir. — A garota expressou com um sorriso despreocupado no rosto.

 

— Me larga. — Respondeu Greta antes de puxar seu braço de volta e sair dali com passos fortes.

 

    Mateo, pelo contrário, revirou os olhos e entregou o copo que estava na sua mão para Amber, que pegou de bom grado.

 

— Quem era? 

 

— Não faço ideia. Acho que está bêbada. — Dito isso, o boliviano virou o conteúdo do seu recipiente — E nós ainda não estamos. — Diaz sorriu de lado para a amiga, que correspondeu da mesma forma.

 

— Você tem um bom ponto, Matt. Vamos mudar isso logo. — Amber rapidamente bebeu o álcool do copo sem pestanejar ou expressar algum tipo de careta.

 

— Isso é um desafio, ruivinha? 

 

— E se for? 

 

— Você vai perder.

. . .

 

    No dia seguinte, murmúrios corriam à solta por todos os ouvidos que apreciavam uma boa fofoca. Os celulares recebiam, de forma conjunta, links e prints que direcionam a um único assunto: Uma página no twitter sobre Marymount.

 

“Boa dia, boa tarde ou boa noite. Seja lá qual for o horário em que estiver lendo isso. Já souberam das novidades?”

 


Notas Finais


Espero que tenham gostado <3 sugestões são muito bem vindas.


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