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História Meu amor. Meu veneno. - Parte II


Escrita por: kungfutao

Notas do Autor


Olá gente! Uau. Sei que é pouquinho, mas pra mim é perfeito. 6 pessoas favoritaram. E eu realmente estou feliz!
O capítulo está grande, mas eu sempre fico com muita vontade de escrever... Eu realmente espero que vocês gostem! Abraços <3

Capítulo 2 - Parte II


ChanYeol POV

– Marca, Chan! Porra! – Kris reclamou logo depois que Tao fez uma cesta.

Passei uma mão no rosto e procurei me concentrar. Mantive meus olhos na bola, que por algum motivo não estava colaborando comigo. Antes que eu pudesse “entrar no jogo”, o treinador apitou.

– Park ChanYeol, vem aqui! – Gritou de fora da quadra.

Fui até ele, sentei no banco e bebi um pouco de água.

– Qual o problema, rapaz?

– Não é nada. Estarei melhor à noite.

– Eu já falei que essa história de organizar o centenário está estragando o seu desempenho. Não dá pra você fazer as duas coisas.

– Farei as duas coisas e até três se for necessário. – Levantei-me para voltar ao jogo.

– Mantenha a concentração. – Exigiu severamente.

– Deixa comigo!

Voltei correndo para a quadra.

– Minha gatinha veio me ver. – Kris me abordou, sorridente.

Não pude deixar de me perguntar o que o novato realmente estava fazendo ali. Ele não me pareceu tão interessado assim em Kris. De qualquer forma, sua presença me incomodava. Manter-se vestido como um vadio era desrespeito demais para com o sistema educacional.

– Não acredito que o convidou para a festa. – Reclamei.

– Qualé? Eu preciso de um novo “peguete”.

– Vamos treinar! – Encerrei o assunto.

Baekkie POV.

ChanYeol estava puto, e eu já sabia que no meu segundo dia de aula viria com a calça ainda mais rasgada e sexy.

Fiquei abrindo e fechando o meu isqueiro de olho em Kris, aquilo parecia deixa-lo louco. Aliás, a melhor forma de começar a minha vingança seria pelo melhor amigo dele...

(...)

Não fui ao jogo, mas por volta das 21:00h fique esperando Kyungsoo em frente à sua casa. Dentro do meu recém comprado Mustang Shelby, o qual batizei de “Sally”, coloquei uma música bacana pra tocar e acendi um cigarro.

Tinha certeza de que Soo estava trancado no quarto, tirando e colocando seu surrado sobretudo, indeciso sobre o que fazer. Parecia que conseguia vê-lo dizer a si mesmo que era suicídio, porém sua ânsia de conhecer algo além da rotina de estudos falava mais alto.

Baekkie POV.

Não o culpava. Eu também estava indeciso, não sabia se era o momento certo de me aproximar da corja do South Korea. Joguei o cigarro fora e respirei fundo.

Meu estômago congelou ao olhar para o meu reflexo no espelho retrovisor. Meu rosto, que já fora semelhante ao de um monstro, estava lindo. Infelizmente, a maquiagem escura nos olhos não podia esconder a dor incrustada em minhas íris. Meus lábios rubros serviriam de convite para os homens essa noite, e eu temia fraquejar e acabar fugindo de lá. Eu não podia dar pra trás, não agora!

– Vamos! – Kyungoo entrou no carro batendo a porta.

– Demorou muito para se decidir? – Prendi o riso.

– Troquei de roupa 6 vezes. – Revirou os olhos.

– E ainda assim veio com seu velho sobretudo? – Ri. – Ele, combinado com seus óculos, faz você parecer um cientista maluco.

– Mas eu sou um cientista maluco. – Franziu o cenho, em seguida me analisou. – Você está um arraso.

Sem querer ruborizei.

Baekkie POV.

Eu estava com uma calça jean rasgada nos joelhos e simples, o qual não era muito apertado. Acompanho de uma blusa bem largada, com uma imagem na frente de uma mulher se abrindo, e por incrível que pareça, não era nada “sexual”. Usava delineador e um pouco de sombra. Passei um pouco de batom só para meus lábios ficarem mais vermelho. Estava também com braceletes de couro e metal. O bracelete do meu punho esquerdo possuía o brasão do South Korea. Uma piada que ChanYeol, com certeza, ia adorar.

– Nervoso? – Indaguei.

– Borrando as calças. E você?

– Não vejo a hora de me depravar. – Gargalhei. – Relaxa aí, eu cuido de você D.O.

Aumentei o volume do som, dei a partida em “Sally” e pisei no acelerador.

(...)

– Vamos embora enquanto é tempo. – Kyungsoo quis fugir e não permiti.

– Seja homem! – O puxei pela manga do sobretudo. O mantive perto de mim, como se protegesse um cachorrinho assustado.

Caminhamos em direção à entrada da casa de Kris, que ficava em um bairro de classe média alta. Vários carros estavam estacionados na rua e o som vindo da casa era alto o suficiente para incomodar a vizinhança. Certamente a festinha não duraria muito, então eu tinha que tratar de aproveitar.

Assim que entramos na casa, reconheci 100% dos rostos que vi. O South Korea em peso estava presente.

– E agora? – Kyungsoo se escondia atrás de mim.

– Fica numa boa. Vou procurar o ChanYeol.

– Espera! – Segurou o meu braço. – Se ouvir gritos agonizantes e desesperados, não se preocupe... – Ironizou ajustando os óculos. – Serei eu.

– Bebe alguma coisa. – Dei-lhe um tapinha nas costas.

Me espremendo entre os alunos que dançavam e se “pegavam” na sala, consegui chegar à cozinha. Lá me encostei na soleira e fiquei observando os Falcons comemorarem a vitória com um barril de cerveja.

Tirei o isqueiro do meu bolso de trás e, quase como um tique nervoso, fiquei abrindo e fechando, à espera de um cigarro. Então, sem conseguir me conter, comecei a rir debochadamente da forma como os Falcons e suas garotas puxavam o grito de guerra do time. Eles se consideravam heróis, sentados em torno de uma mesa grande rodeados de bebidas e puxa-sacos. ChanYeol parecia contente, tinha ali tudo que queria, incluindo seus amigos ao redor.

– Ei! – Kris gritou ao me avistar.

Com a mesma ânsia que um animal no cio, afastou-se de seu bando e veio até mim.

– Vai, Falcons! – Debochei.

– Que bom que veio. – Me deu um beijo na bochecha.

– Não perderia essa festa por nada.

– O que posso oferecer à meu convidado?

– O prazer de um cigarro, uma dose de gin e... – Sorri torto. – Sua companhia. – Era divertido manipular Kris.

– Posso te oferecer isso tudo em grande quantidade. – Ele já devia estar contando comigo em sua cama. Retardado!

– Espero que sim, pois não me satisfaço facilmente.

Pela expressão que o cara fez, estava agradecendo aos céus.

– Já volto com sua bebida.

– Corre, Falcon, corre! – Incentivei tirando onda.

Logo que Kris saiu, olhei para ChanYeol e o flagrei nos observando. Imediatamente acenei, na maior cara de pau. Ele desviou o olhar, em uma tentativa inútil de me ignorar.

(...)

BAEKKIE! BAEKKIE! BAEKKIE! BAEKKIE!

Em pé, em cima do balcão da cozinha de Kris, ouvi dezenas de alunos gritarem meu nome em coro. Terminei de beber toda a cerveja da lata enquanto Tao mal conseguia tomar a dele.

– Porra, esse garoto bebe feito um profissional de bar! – Ele berrou meio bêbado, em seguida, tentou beijar meu rosto, mas Kris o puxou não querendo me dividir.

Até aquele momento ninguém tinha conseguido beber cerveja mais rápido do que eu. Era um joguinho idiota, mas foi bacana derrotar quase todo o time de basquete.

– Alguém aí se habilita? Quem vai tentar derrotar o novato? – Kris estava coordenando as apostas.

Sorri na direção do ChanYeol, o qual estava afastado do tumulto.

– Quem sabe o Sr. veterano ali não me vence?

– Vem, Chan! – Kris o chamou em voz alta. – Anda, cara!

De longe, ele fez sinal que não.

– Não seja covarde. Serei carinhoso com você... – Minha provocação fez seus colegas rirem. –Prometo!

Obviamente, chamá-lo de covarde deu resultado, pois o Park Chanyeol vivia de aparências e não podia por em risco seu título de “fodão”.

– Vamos lá, vou ganhar essa! – Passou pelo pessoal, sendo incentivado por seus puxa-sacos. Poucos perceberam que estava se fingindo de empolgado.

Ele subiu no balcão e nos entregaram duas latas de cerveja.

– Bora, pessoal! Bora apostar aqui no meu mano! – Kris queria lucrar às nossas custas e eu não dava a mínima pra isso.

– Preparado? – ChanYeol sorriu tentando me provocar.

– Não imagina o quanto. – O encarei com intensidade.

Kris encerrou a contagem regressiva e nós abrimos as latas ao mesmo tempo. Comecei bebendo muito, mas me contive para deixar o filhinho do governador vencer. Ele deu o máximo de si e o desafio acabou rápido.

– Ééééé! – Ergueu os braços se sentindo um vencedor e o lixo do South Korea o venerou como sempre. – Desculpa, novato, mas você se deu mal dessa vez. – Riu com satisfação.

– Você é um vencedor nato. – Elevei seu ego, pois os que se sentem imbatíveis são facilmente derrotados.

Depois de um tempinho, retornei para a sala em busca de Kyungsoo. E foi aí que um babaca entrou no lugar com uma mangueira ligada espirrando água em todo mundo. Muitos ficaram molhados, inclusive eu.

Chateado, olhei para a minha calça e notei que ele ficou um pouco molhada apesar de ser de couro. Óbvio que não ia choramingar por aquilo como algumas garotas e até garotos estavam fazendo. Ao invés disso, resolvi usar o contratempo a meu favor. Empurrei quem estava na minha frente e me enfiei no meio da sala, dançando loucamente ao som da batida deliciosa.

A música parecia estar entrando através dos meus poros, me proporcionando uma sensação incrível de prazer e liberdade. Era a primeira vez que eu dançava em público, por isso não existia ser humano vivo que fosse capaz de me deter. Por muito tempo fui reprimido, apenas um ser anônimo escondido nas sombras do medo e preconceito.

Rebolando como nunca fiz antes, me despi de toda timidez de uma vez por todas. Eu queria me expor e liberar toda a sensualidade através da linguagem corporal. Meu coração acompanhou o devaneio da minha mente, mergulhando também na sensação extasiante que era ver a maior parte dos homens presentes me desejando até mesmo as grotas estavam fazendo isso. Era como se eu tivesse acabado de chegar ao mundo. Tudo era tão novo, tão empolgante que eu tinha vontade de gritar.

Certamente estava parecendo um pirado jogando o cabelo de um lado para o outro, mas eu não dava a mínima. No passado, a vida me roubou a alegria de viver e, agora, quem podia me julgar por tomá-la de volta com a voracidade de um leão?

ChanYeol POV.

Agora era oficial. O novato não tinha um pingo de juízo. Ele dançava descontrolado, chamando toda a atenção para si. Será que estava drogado? Nunca vi um garoto com tanta energia, era como se estivesse explodindo de felicidade por dentro.

Será que tinha percebido que dava para ver sua cueca através da calça molhada e rasgada? Que tipo de maluco se presta a isso? O que ganha virando objeto de desejo dos marmanjos? Tudo bem que não sou santo e estou olhando como todos os outros, mas o sujeitinho era tão chave de cadeia que eu até conseguia pressentir que aconteceria uma grande merda no South Korea. Não ficaria surpreso se Baekkie fosse flagrado transando com algum professor. Involuntariamente ri, constatando que o cara tinha que ser muito burro para cair nas garras daquele “matador”.

Ele continuou mexendo o quadril enquanto passava as mãos pelas coxas. Chegava a ser ridícula a forma como eu o criticava e mesmo assim ainda ficava excitado. Pudera... Ele era lindo. Tinha uma beleza rebelde e perigosa.

Eu estava perplexo. Aquilo... Estava me deixando louco. Eu teria de fazer algo se não, eu me juntaria a ele. E isso, na frente de todos, seria loucura.

Baekkie POV.

O que não me faltou foi parceiro pra dançar. Dancei com todos que pude, me enturmando facilmente com a malandragem. Então, avistei Kyungsoo sentado num sofá no cantinho da sala. Ao seu lado tinha um casal quase se devorando, fazendo com que a festa fosse ainda mais terrível para ele. Não perdi mais tempo e me aproximei do cara.

– Viu só? Ainda está vivo. – Sentei em seu colo.

– É, parece que os retardados do time estão distraídos demais com você para me perceber aqui. – Riu. – Está bêbado? Nunca imaginei que aguentaria tantas cervejas.

– Não se preocupe. Nunca estive tão sóbrio.

– Quando vamos embora? – Estava meio entediado.

– Em breve, mas antes vamos nos divertir mais um pouco às custas dessa escoria.

– Como assim?

– Finja que estou te dizendo algo bem sacana. – Sussurrei em seu ouvido.

– Já saquei.

Rimos juntos.

– Vai ser ótimo ver esses otários se perguntando por que estou aqui com você. – Mantive meus lábios bem perto de seu ouvido.

– Parece que consigo ler os pensamentos deles: porque o novato gostoso está com o nerd? –Imitou baixinho a voz de Kris, arrancando de mim uma boa gargalhada.

– Vamos provocar mais dúvidas.

Abracei Soo e ele fez o mesmo, fechando seu sobretudo sobre mim. Com os rostos escondidos atrás da cortina improvisada, rimos deixando o povo achar que estávamos nos beijando.

– Como está indo com ChanYeol?

– Bem, só que tenho pressa. Quero fazer as coisas acontecerem logo para desaparecer do South Korea

Saímos de nosso pequeno esconderijo e logo notamos que os alunos estavam super confusos. Estava estampado no rosto dos bonitões que achavam um absurdo eu me envolver justo com o “socialmente excluído”.

– Cuidado com a Kris.

– Ele é a menor das minhas preocupações. Mesmo assim preciso que me faça um favor.

– Como assim?

(...)

Kyungsoo foi cuidar do que lhe pedi e eu fui ao banheiro, onde tive que pegar uma fila. Bem na minha frente estavam XiuMin e LuHan, os dois maiores fofoqueiros de South Korea. Eu gostava deles... Mas eu precisava ser cuidadoso.

– Oi, Baekkie. Sou LuHan. – O bocó se apresentou com um sorriso falso.

– E eu sou XiuMin.

– Olá! – Minha falsidade ultrapassou as deles. – Tudo bom, meninos?

– Sim. – Respondeu XiuMin. – Gostando da festa?

– Adorando!

– Estamos vendo. Está fazendo amizades rápido, hein? – LuHan destilou seu veneno.

Gargalhei alto.

– Eu gosto de dar a minha “amizade” facilmente. – Minha resposta atiçou a curiosidade deles.

– Então está namorando aquele ruivinho? O... Kyungsoo?

– O nome dele não é Kyungsoo... – Rindo, LuHan corrigiu o amigo. – É KyunSoo.

Cerrei o punho e quase quebrei a cara dos idiotas, mas me contive e retribuí o favor que pedi a Kyungsoo.

– Não estou namorando com ele. – Sorri debochadamente. – Só estamos transando. – A resposta direta os deixou perplexos. – Nossas personalidades nem combinam, mas não consigo fugir da cama dele. É que o cara tem “um” enooorme! – Ri alto. – Meninos, me deixem passar que estou apertado. – Furei a fila e me tranquei no banheiro.

BaekHyun POV

Tapei a boca com as duas mãos e tive uma crise de riso. Minha nossa! O que eu fiz? De onde tirei isso?

Será que devia contar para Soo que seu nome, ou seus errôneos nomes, estariam na boca de todos os alunos dentro de algumas horas? Aí, caramba!

Demorei mais tempo do que esperava no banheiro, pois ainda estava meio chocado com todos os acontecimentos. Era bom, louco e surreal. Eu estava feliz, mas ao mesmo tempo nervoso com o que estava por vir.

Me olhei no espelho e quase não acreditei que consegui continuar na festa mesmo com a calça mais rasgada e molhada. Aquilo estava sexy. Será que eu tinha perdido a cabeça? Porque sinceramente, não estava nem aí. Era bom demais me sentir um jovem forte, saudável e feliz.

ChanYeol POV

– Vai me levar para o seu quarto hoje? Poxa, nunca me leva lá. – Yuri fez biquinho.

– Não podemos ir para a seu?

– De jeito algum! Você sabe como é meu pai.

– Não se preocupe, minha linda. Nós usamos o meu carro como sempre.

– Odeio isso! Morro de medo de sermos flagrados.

Yuri idolatrava sua virgindade, mas na prática ela não era tão imaculada assim. Nós fazíamos de tudo, exceto consumar o ato. Eu não podia reclamar, era bom para nossa imagem parecermos um casal responsável. Nossas famílias e a diretoria do colégio nos usavam como exemplo de jovens de caráter que prezam os bons costumes. Mas mal sabiam eles... Que eu gostava de outra coisa.

– Não se preocupe, amor. Você sabe que sou cuidadoso. – Me preparei para beijá-la, mas um cara esbarrou em nós derramando um copo de vinho na roupa da minha namorada.

– Droga! – Gritou revoltada. – Você é cego?

– Desculpe. – O cara que o pessoal do time gostava de aporrinhar, tentou ajudá-la a limpar a mancha. – Realmente me distraí. Sinto muito. – Ele saiu e desconfiei de suas atitudes.

– Vou tentar limpar essa meleca. – Yuri marchou para o banheiro.

BaekHyun POV

Fiquei mais tempo trancado dentro do banheiro do que imaginei. Tentava alinhar as minhas ideias, planejando a primeira abordagem a ChanYeol. Eu sabia que tinha que ser algo forte, sensual e irresistível. Mas será que me sairia? E se o Park me rejeitasse? Isso ia desestabilizar os meus planos?

A momentânea fraqueza me fez olhar para o espelho e lembrar do garoto que um dia fui. Lutei contra as lembranças, só que elas eram mais fortes do que o bloqueio que criei e mantive por anos. Retornar à vida de ChanYeol estava me fazendo abrir portas que talvez nunca mais se fechassem.

Uma dessas portas me levava a um momento penoso extremamente difícil de recordar. Eu só tinha 15 anos quando tudo aconteceu...

Não era um dia como outro qualquer no South Korea. Alguns alunos comemoravam, outros se lamentavam, mas nada daquilo me atingia. Eu não estava inserido em nenhum grupo para sofrer qualquer tipo de influência.

Fui para a biblioteca e como sempre, me sentei na mesa mais isolada. Mesmo em um local geralmente silencioso, era possível ouvir os murmúrios a respeito do resultado das eleições para presidente do grêmio estudantil daquele ano. Muitos alunos pensaram que ChanYeol iria vencer, já que seu pai era um político influente e sua campanha foi simplesmente espalhafatosa. Só que, contrariando as expectativas até da direção, um candidato do último ano venceu.

Às vezes sentia como se o colégio fosse um pequeno país. As pessoas levavam muito a sério tudo que acontecia ali. Era como se não percebessem que o ensino médio durava pouco e a vida “de verdade” começaria quando nos formássemos.

Cansado das futilidades que me rodeavam, abri um livro e tentei estudar. Passaram-se alguns minutos, até que senti alguém se sentar na cadeira ao meu lado. Achando que era Kyungsoo, não me preocupei.

– Olá. – A voz baixa me assustou.

Encolhido e com o rosto praticamente escondido dentro do livro, senti um frio percorrer a minha espinha.

– Tudo bem? – Estranhamente acanhado, ChanYeol insistiu na conversa.

Com a face coberta pelos cabelos, ergui só um pouco a cabeça e verifiquei se seus colegas estavam por perto tramando algum mal contra mim.

– Estou sozinho. – Sussurrou, para que ninguém ouvisse.

Desconfiado, usei toda a minha coragem para perguntar:

– O que quer?

O fitei e ChanYeol baixou a cabeça para não me encarar.

– Só quero te fazer uma pergunta.

Fiquei totalmente confuso. Era a primeira vez em anos que ChanYeol se dirigia a mim. Na verdade, nunca fora tão educado. Quando éramos crianças, sua turminha zombava de mim como se eu fosse um tipo de cachorro perneta ou doente. Um dia ele até me cutucou com um graveto.

– Pergunte. – Minhas mãos suavam muito.

– Você pode me ajudar? Nós vamos ter aquele prova difícil de Química na Quarta e eu estou totalmente perdido nessa matéria.

– Ah... – Agora estava começando a entender seu repentino interesse em mim. Meu trabalho de Química foi o melhor da classe e ChanYeol queria tirar proveito disso. – Eu... – Não podia ajudá-lo. Não depois de tudo que fez comigo.

– Olha, sei que no passado impliquei um pouco com você. Foi coisa de criança, você sabe. Não significa que não podemos ser amigos agora.

– Amigos? – Nunca imaginei em toda minha vida que ouviria aquilo. Baixei a cabeça sem saber como agir. Praticamente ninguém falava comigo e agora o rapaz mais popular do colégio queria ser meu amigo? – Eu... eu... acho que tudo bem. – Engoli em seco.

Um pequena chama de esperança acendeu dentro de mim. Talvez, se ChanYeol falasse comigo de vez em quando, os outros alunos veriam que eu não era um monstro ou portador de uma doença contagiosa.

– Vai poder me ajudar? – Tocou suavemente minha mão direita. A mão que não tinha cicatrizes.

– Vou sim. – Dei um meio sorriso, o qual ele não pode ver por causa da cortina de cabelos.

– Obrigado.

– Quando quer estudar?

– Pode ser esta noite? É que ando sem tempo. Estamos treinando muito para os últimos jogos do final da temporada.

Refleti por um breve momento e, mesmo relutante, cedi.

– Tudo bem. Você quer ir na minha casa?

– Hãmm... – Ficou na dúvida. – Pode ser aqui mesmo na biblioteca? O zelador é meu amigo e quando não tenho tempo para estudar ele me deixa ficar aqui à noite.

– Até que é uma boa ideia.

O fato de ele querer ficar na biblioteca só podia provar que realmente estava interessado em estudar.

– Nos encontramos aqui às 20:00h?

– Err... – Ainda não estava acreditando. – Sim.

– Vou avisar ao zelador, ele te deixará entrar. Obrigado. – Deu um rápido sorriso e saiu.

Assim que fiquei sozinho respirei fundo. Estava imerso em um misto de perplexidade, empolgação, receio e curiosidade.

Logo que foi possível, contei para Kyungsoo as novidades e ele também ficou confuso. Como não estava presente no momento que ChanYeol conversou comigo, e não viu o quanto foi amigável, acabou ficando bastante desconfiado.

(...)

Assim como ChanYeol falou, às 20:00h em ponto o zelador me deixou entrar no colégio. Ansioso, mandei uma mensagem para Soo dizendo que eu estava bem e que não se preocupasse. Depois, coloquei o telefone no modo silencioso para não nos atrapalhar.

O tempo correu e nem sinal de ChanYeol. No momento que o relógio da biblioteca marcou 20:30h, desisti de esperar. Então, reacendendo a minha esperança, ChanYeol rompeu porta adentro.

– Desculpe pelo atraso. – Falou alto se aproximando.

Automaticamente me encolhi, sempre baixando a cabeça numa tentativa inútil de me esconder.

– Eu já estava indo, então...

– Ainda é cedo. Vamos estudar. – Sentou-se perto de mim e senti o cheiro de bebida.

Minha voz saiu trêmula ao questionar:

– Você... está... bêbado? – Um nó se formou em minha garganta.

– Não. – Abriu um livro, só que não o leu por estar de olhos fechados.

Sem saber o que dizer ou fazer, fiquei rabiscando em meu caderno.

– Quer conversar? – Fechou o livro com força.

– O quê? – Fui pega de surpresa.

Pigarreou olhando para minhas mãos.

– Doeu muito?

Era evidente que se referia às cicatrizes. Desconfortável com a pergunta, apenas respondi:

– Eu era muito pequeno... Lembro de pouca coisa.

O silêncio voltou a predominar. Foi quase impossível continuar ali.

– Qual a sua dúvida sobre Química? – Murmurei.

– BaekHyun...

Estremeci ou ouvir meu nome sair de sua boca, pois sempre que o pronunciava era acompanhado das palavras “duas caras”.

– Sim? – Me distanciei, ficando na pontinha da cadeira.

ChanYeol levantou-se abruptamente, me assustando a ponto de eu cair da cadeira. Ele se inclinou para me ajudar e rastejei para longe com um medo que me deixou sem fôlego.

– Calma. – Segurou-me pelos braços e me obrigou a levantar. – Shhh... – Afagou o topo da minha cabeça.

– Quero... ir embora.

Ele não me soltou, mas por sua expressão dava para notar que também não estava feliz de estar ali.

– Tudo bem. – Soltou-me só que não consegui me mover. – É a sua chance, vai! – Ordenou severamente, mas minhas pernas tremiam e meu coração parecia que ia sair pela boca.

Ele fechou os olhos com força. Então, em um ato que desafiava a lógica, beijou-me mesmo com os cabelos cobrindo a maior parte do meu rosto. Nossos lábios se tocaram por um tempo curto demais pra eu ter consciência do que significava aquilo.

Seus braços eram vigas de aço em minha volta. Eu não tinha como fugir e, para ser sincero, não queria fugir. ChanYeol foi o primeiro garoto que me tocou. Era uma sensação boa, mesmo que errada. Assim como qualquer adolescente, eu tinha sonhos românticos. Que garoto maltratada do jeito que eu fui não sucumbiria à possibilidade irreal de ser amada por alguém tão lindo quanto ChanYeol? Na época, Yuri ainda não havia chegado ao South Korea e ele era simplesmente o rapaz mais cobiçado.

Eu tinha tanto medo de ninguém nunca me querer. De nunca saber como é ser tocado e beijado, por isso o deixei passar as mãos pelo meu corpo. Ele tinha consciência de que eu não gritaria ou pediria para que parasse e, incentivado por isso, me colocou sobre uma das mesas e se deitou sobre mim.

O senti relutante, como se fosse desistir. Seus olhos estavam fixos nas minhas roupas e eu sabia o porquê. Sempre vesti roupas que cobrissem todo o meu corpo para esconder as cicatrizes. Ninguém tinha a menor ideia de como era a minha pele por debaixo das vestes escuras e grossas.

Guiado por uma motivação que eu desconhecia, ChanYeol desceu a minha a minha calça. E sem nem olhar para mim, arrancou a minha cueca. Ao se colocar entre minhas pernas, pousou seu rosto no vão entre meu pescoço e ombro, obviamente no lado que não era deformado.

Ele tocou-me intimamente, talvez querendo descobrir se eu era “estranho” ali também. Mesmo sendo doloroso passar por aquilo, senti prazer com seus dedos. Eu não podia me dar ao luxo de repudiá-lo, pois quem mais teria coragem de fazer todas aquelas coisas?

ChanYeol continuou com a carícia até que seu corpo cedesse ao que sua mente parecia estar decida a fazer. Quando finalmente abriu a calça, colocou um preservativo e penetrou-me com um único e forte movimento. A dor intensa me fez trincar os dentes e gemer. Foi uma sensação que eu realmente não estava preparado para sentir.

ChanYeol estava se esforçando para continuar, mas não deixei que o sentimento de humilhação me tomasse naquele momento. Eu queria aproveitar cada segundo, pois era possível que aquilo nunca mais se repetisse. Desejava extrair daquela experiência tudo que pudesse e, mais tarde, me arrependeria e choraria.

– Você está bem? – Sussurrou ameaçando parar.

– Estou. – Minha voz saiu embargada.

Ele passou a aumentar o ritmo de suas investidas, ficando mais compenetrado no prazer mórbido que ambos passamos a sentir. Tudo nele mexia com meus sentidos. Seu cheiro, voz, calor...Mesmo sendo a coisa mais estúpida que já fiz até aquele momento, me vi querendo ficar preso a ele. Era como trocar o sofrimento constante que era minha vida por um sofrimento onde eu era uma vítima voluntária, ligado carnalmente à pessoa que tornou minha existência ainda mais cruel. Atada a esse pensamento, abracei ChanYeol, algo que nunca imaginei que faria. Até ele se surpreendeu, mas nada falou.

O insulto sexual logo chegou ao seu ápice e fechei meus olhos, deixando que ChanYeol levasse o resto de mim que sua alma impiedosa ainda não havia roubado. Então, tarde e cedo demais, ele se foi sem dizer uma só palavra. Com a alma ardendo, me recompus e juntei minhas coisas. Ao pegar o celular, vi que tinham 9 chamadas não atendidas de Kyungsoo. Imediatamente retornei a ligação e ele atendeu, aflito.

– BaekHyun? Você está bem? Onde está?

– Estou bem, Soo. – Respondi como se tivesse acabado de acordar.

– Afaste-se de ChanYeol! Afaste-se! – Gritou preocupado e estranhei.

– Por quê? O que aconteceu?

– Quando Kris veio aqui em casa buscar o trabalho de história que fiz pra ele, o ouvi falando com alguém no celular. O Park apostou com o pessoal do time que ia vencer as eleições, mas como perdeu... – Fez uma pequena pausa com medo de continuar. – Bem, ele foi te encontrar disposto a cumprir a parte dele do acordo. – Suspirou. – Vocês... transaram? – Meu silêncio tirou suas dúvidas. – O mais repugnante é que ele tinha que levar o preservativo e uma peça íntima sua para provar que consumou o ato. BaekHyun, precisa contar para os seus pais. Alguém tem que tomar uma providência porque...

Desliguei o telefone.

Eu sabia que havia um motivo para ChanYeol ter me procurado, mas não imaginei que fosse algo tão... Não era uma brincadeira onde o cara popular ficava com o mais feinho do colégio. Eles queriam que ChanYeol sofresse e se envergonhasse. O time o estava punindo por sua presunção, ou seja, eu não era uma aposta... EU ERA O CASTIGO.

Parado no meio da biblioteca, desejei muito chorar e me descabelar. Tinha que colocar toda a dor pra fora, só que não consegui. Ficou tudo preso dentro de mim. Por fora, não esbocei nenhuma emoção, mas por dentro havia tremores e gritos, soluços e pranto. Meu espírito sofria uma agonia semelhante à de um parto. E, ali mesmo, ainda com sangue entre as pernas, Baekkie nasceu.


Notas Finais


Wow! Espero realmente que gostem... E se conhecem amigos que gostam de ler fanfic, falem pra eles! Um beijo <3


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