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História Meu Inferno Particular - Capítulo 13 - I'm Meaner Than My Demons


Escrita por: Alaska_sKa e Nara20050

Notas do Autor


Olá.

Eu não tenho nem cara para começar isso daqui, sinceramente.

Passei 1 mês fora, comecei uma nova fic e agr venho com esse capítulo gigantesco. Olha, honestamente.

Me desculpa, gente. Prometo não sumir de novo.

Agora, muito, muito, obrigada pelos 500 favoritos! Eu amo vocês, de verdade!!!

● Capítulo Revisado.

Capítulo 14 - Capítulo 13 - I'm Meaner Than My Demons


Capítulo 13

Eu sou mais malvado que meus demônios

E eu me familiarizei

Os vilões que vivem na minha cabeça

Eles me imploram para escrevê-los

Então eu nunca vou morrer quando eu estiver morta

Toxic Girl

Ora, ora, ora. 

Sentiram saudades, meus queridos?

Posso dizer que passei meus dias sumida apenas por pequenos motivos pessoais, nada demais. Afinal, ainda sou uma universitária — uma universitária rica e que não deveria perder tanto tempo estudando, mas ainda assim uma universitária. 

Bem, eu ainda estou sem tempo, então irei direto ao ponto.

Algumas pessoas pensam que por eu ter uma mínima ligação com alguém, seja ela de sangue ou emocional, mude alguma coisa na minha vida e todo esse grande drama. Infelizmente — ou felizmente — isso não muda nada quando o assunto pode me gerar algum dinheiro. Porque, meus queridos, posso ser rica, mas uma garota nunca vai achar que o dinheiro é demais.

Pois bem, deixo aqui um pequeno vídeo que pode fazer a visão de vocês, pequenos vampiros sedentos por qualquer mililitro de uma fofoca, vão amar ingerir. Então, sem mais delongas, aproveitem esse pequeno mimo e façam o que vocês fazem de melhor; sejam pessoas horríveis.

[vídeo]

A câmera tremia com brusquidão, sendo balançada de um lado para o outro  e pouco tendo tempo de focar em algo. A luz do quarto, amarelada e meio apagada, mostrava apenas as decorações básicas de um quarto feminino; um suave tom bege, beirando o branco, com um desenho delicado, feito em dourado, bem acima da cabeceira da cama de casal — rebuscada, mas da mesma maneira delicada que aquela pequena parcela do quarto.

Risadas femininas sobressaiam-se a música, agudas e histéricas da mesma maneira que todas as outras estudantes do campus. A câmera mexeu mais uma vez, focando no teto branco do quarto, até uma onda de risadas explodir novamente e a câmera balançar outra vez — palavras perdidas eram trocadas, mas eram sussurradas entre as ondas de risadas.

A câmera parou, ficando com metade da sua lente coberta por um tecido felpudo, mas o rosto feminino — corado, rodeado por seus castanhos fios medianos — ficou nítido por aquele ângulo.

Tenten riu mais alto, passando sua mão em seu rosto e retirando alguns fios que caiam em frente aos seus olhos. Um ar risonho tomava suas bochechas, assim como seus lábios brilhosos.

— Eu não acredito que ele caiu nessa história. — Tenten riu mais uma vez, olhando para alguém que estava fora da câmera — Eu, uma Mitsashi, amando um Hyuuga? Logo Neji Hyuuga? Por favor — ela riu mais uma vez, colocando sua mão em frente ao rosto —, estou levando esse lance para frente apenas por curiosidade. Por mais que eu achei ele tão — ela revirou os olhos, deixando suas costas caírem para trás, até se encostar sobre a cabeceira da cama — chato! Nunca gostei de garotos bons, muito menos garotos bons e que são apenas cachorrinhos de alguém da família. — ela rodeou suas mãos em um dos seus joelhos, sorrindo de maneira debochada — Eu não preciso desse clichê.

Um som descrente soou atrás da câmera; uma surpresa forjada, fajuta da pior maneira.

— Então Tenten Mitsashi é melhor do que um Hyuuga apenas porque ele segue as regras? Que arrogante. — a câmera tremeu mais uma vez, apenas para mostrar o rosto risonho de Tenten ainda mais corado — Ele te ama, por que você não corresponde os sentimentos dele?

Tenten soltou uma lufada de ar pelo nariz, dando de ombros. 

— Eu já sou a garotinha perfeita, igual você. Por que eu iria querer alguém ainda mais perfeito? — Tenten umedeceu os lábios, pressionando-os por alguns segundos. Um brilho travesso iluminou suas esferas, um estalo soou quando ela abriu um sorriso maldoso — Eu preciso de alguém igual o Sasuke. — se ajoelhou sobre a cama, vindo engatinhando em direção a quem estava por trás do celular — Preciso de alguém que finja ser perfeito, mas seja tão ruim quanto tudo ao nosso redor. — Parou, a camera só mostrava sua mão próxima do celular. Próxima de mais. Sua voz soou mais baixa, como um sussurro — Eu jamais amaria alguém como Neji — uma pausa, uma risada maldosa — Mas isso não siginifca que eu não possa brincar, não é?

Uma risada feminina surgiu ao fundo.

— Me lembre de morrer sendo sua amiga.

Tenten se afastou, voltando-se a sentar sobre a cama. O perfil afilado foi nítido mesmo naquele ângulo.

O sorriso que estava em seus lábios também.

— Você seria esperta se fizesse isso. 

Uma porta foi aberta ao fundo, os olhos de Tenten brilharam em direção ao novo recém chegado. A câmera tremeu mais uma vez, sendo apanhada de supetão, aproveitando-se que a atenção da Mitsashi estava fixa naquele ponto, e foi virada rapidamente para a porta.

O rosto de Sasuke era nítido, completamente reconhecível para qualquer pessoa que já houvesse batido os olhos em si pelo menos uma vez. Estava sério, como sempre, mas seus olhos estavam sobre Tenten — mesmo naquela distância era possível distinguir as orbes vermelhas, irritadas, assim como o seu nariz. 

Ele estava péssimo, exalando aquela estética pós festa; suja, cansada, drogada, e todos os derivados.

Tenten murmurou em direção ao Uchiha:

— E falando no Diabo. — sorriu — Olá, Sasuke. Saudades?

Suigetsu e Naruto atravessaram a porta do quarto, ambos estando um pouco semelhantes com a figura catastrófica de Sasuke. Em suas mãos o previsível; cigarros e garrafas de alguma coisa alcoólica, possivelmente whisky.

A porta se fechou atrás dos três homens em um baque mudo. Uma risadinha surgiu atrás da câmera.

Agora, minhas crianças, aproveitem o expurgo anual de Columbia. 

Calouros, corram como se suas vidas dependessem disso.

Veteranos, saibam que eu sempre estarei a espreita para saber todos os mínimos detalhes, até os mais infames. Cuidado com quem brincam.

Boa noite, Columbia. Que todos queimem nessa deliciosa madrugada.

Postado: 8:00 PM

Por: Konan Mitsashi


•••

Columbia University; Bloco 1


Arredores prédio de administração; 9:43 PM

Não fazia ideia para onde estava indo, e se importava menos ainda com isso.

Vagava como uma alma perdida, com suas feições assemelhando-se assombrosamente a um fantasma; pálido e abatido, com seus olhos pesados fixos sobre o concreto desgastado dos pavimentos que cortavam todo o Campus. 

Um gosto amargo salpicava seu paladar, colorindo-o da pior maneira possível; como uma tela pintada de maneira agressiva, denunciando todo o ódio do artista por aquela obra. Uma peça usada apenas para ser a válvula de escape daquele mente genial, raivosa, e que beirava a insanidade.

A maioria dos artistas eram assim, e ele se sentia como uma tela usada apenas para ser uma rápida e eficiente válvula de escape. Apenas isso, facilmente descartável como qualquer lixo. Entretanto, sentia aquele gosto amargo no fundo de sua garganta, subindo e descendo por seu esôfago junto com a promessa de que iria vomitar em qualquer lugar daquele campus — respirava profundamente por esse motivo, tentando evitar qualquer cena que agravasse seu estado de humilhação.

Patético. Completamente ridículo.

Sabia que não estava chorando ainda por pura misericórdia divina, mas estava a um passo de se derramar em lágrimas. Na verdade, estava a um passo de dar as costas para todo aquele lugar, aquele ninho de cobras sedentas por qualquer mísera presa desavisada, e sumir de vez.

Que se fodesse toda aquela merda  de sobrenomes herdados, cursos renomados e aquelas coisas que serviam apenas para massagear o ego dos que vieram antes de si — no seu caso, infelizmente, servia para massagear o ego do seu tio egocêntrico.

Precisava vomitar.

Nunca pensou que andar fosse parecer tão difícil como naquele momento; arrastando-se pelos caminhos, não tendo força para erguer a arma acomodada em seus ombros, ou atentar-se em buscar alguns calouros perdidos por aqueles lados. Sua cabeça sequer pensava naquele maldito trote e tudo que aquela maravilha anual poderia representar, além de todas as consequencias que só iriam aumentar mais ainda a fama da querida fraternidade.

Kappa Alpha Gama, o paraíso em terra.

A fraternidade que prometeu irmandade acima de tudo, uma ligação por todos aqueles anos de faculdade e que iriam levar para a vida. Uma marca jamais esquecida, apagada ou superada, apenas uma lembrança dourada sobre os anos de ouro dos renomados estudantes Columbianos. Aquilo que todos um dia já quiseram, ou que um dia irão querer — era inevitável isso.

Não conseguia entender como havia sido tão burro, tão cego e tão manipulável.

Uma besta enganada da pior maneira possível, acreditando fielmente que aquele discurso hipócrita poderia um dia ser seguido e honrado. Claramente estava enganado, e isso era óbvio desde o começo; acreditar em Sasuke Uchiha, um homem que conseguia enojar até mesmo o próprio irmão, o próprio sangue, mas que o havia cativado apenas por algumas palavras ridículas e aquela promessa idiota sobre a merda de uma irmandade.

Burro era eufemismo, sentia-se o grande idiota do ano. 

Parou, erguendo sua cabeça e olhando para a fachada do prédio de tijolos vermelhos. Ao fundo, nítido sobre o silêncio daqueles lados, os gritos desesperados seguidos de tiros barulhentos, além das risadas sádicas e que alimentavam ainda mais aquele clima pesado que recaia sobre a universidade. E mais distante, para longe dos muros dos mesmos tijolos vermelhos, o som da cidade que nunca dormia chegava aos seus ouvidos.

Seus braços eram membros esquecidos ao lado do seu corpo, inertes e que serviam apenas como peso extra. Sua postura, um contraste com o padrão sempre ereto e que deixava claro que não era uma simples pessoa, muito menos um simples estudante, havia dado espaço para os ombros caído e as costas um pouco curvadas, denunciando o belíssimo fracasso que se sentia. Seu rosto era apenas uma tela de dor, agonia, mágoa e, apagando ligeiramente as outras, a raiva bruta.

Suas sobrancelhas estavam crispadas, intensificando aquele olhar perdido entre os orbes cinzentos; as palavras de Tenten repetiam incessantemente em sua mente, ecoando infinitamente por todo aquele vazio e vivendo em um loop que ele não fazia ideia de como pausar.

Balançou sua cabeça, engolindo em seco e sorrindo de maneira descrente — um sorriso torto, embebido na mágoa e daquela dor que borbulhava em seu peito. Mordeu seu lábio inferior, contendo aquela crise de riso que começava a surgir — nervoso demais para poder entender o que acontecia, ou para reparar como aquilo poderia parecer um choro estranho ao invés de uma risada desesperada.

Estava doendo demais. Uma dor inédita, que destacava-se sobre qualquer coisa que já havia sentido — não sobressaia apenas algumas dores encravadas em sua alma, feitas como tatuagens desenhadas por cacos de vidro, como a morte de seus pais —, e que o desnorteava por completo. A dor que, sobretudo, significava apenas uma coisa em meio àquele turbilhão de sentimentos; traição.

A amarga traição.

E Tenten estava longe de ser razão completa daquele sentimento, por mais que estivesse envolvida em boa parte. Uma grande parte, capaz até mesmo de quase consumir tudo aquilo.

Nunca pensou que seria daquela maneira, muito menos ouvindo aquelas coisas — com o tom debochado, risonho, e que fazia tudo parecer uma grande piada para ela. E ele obviamente, era o palhaço principal daquele circo mal feito.

Passou suas mãos de maneira ansiosa por seu rosto, contendo-se para não puxar a própria pele e sua face, para então parar suas mãos sobre seus olhos, pressionando suas pálpebras fechadas; não sabia o que fazer pois nunca esperou aquilo. Nem uma mísera vez em todo aqueles 365 dias de namoro, lado a lado de Tenten,

E muito menos aqueles outros tantos dias que passou lado a lado de Sasuke, agindo como verdadeiros irmãos.

Ouviu risadas, tiros e gritos, apenas para serem seguidos de mais risadas. Uma trilha sonora macabra para uma noite de Sexta, do estilo que às vezes gostava de ouvir — quando estava acompanhado de todos os outros, e começavam aquelas competições ridículas sobre quem conseguia acertar mais calouros em menos tempo —,  mas que agora soavam tão distantes e irrelevantes, que conseguia apenas pensar em como estava odiando tudo aquilo.

Sentia tanta raiva, um sentimento bruto e real, que corria pelo seu sangue e que tomava seu corpo cada vez mais, indo contra a ideia de que espairecer poderia aliviar-la. Parecia ter piorado tudo, na verdade.

Raiva de si mesmo e da sua ignorância, sua devoção por pessoas que sequer compartilham do mesmo sangue. A maneira que acreditou fielmente em alguém apenas por conta de um título que — notando agora — não importava de nada, além de formar um status em meio aquele bando de jovens sedentos por qualquer migalha de novidade em suas vidas. 

Raiva de Sasuke, Naruto, Suigetsu e todos aqueles outros que sempre souberam, mas agiam como amigos de anos quando estavam juntos; risadas, piadas imundas, comentários jogados e todas aquelas coisas que uma amizade tinha. Festas, conversas, bebidas e uma falsa confiança que, infelizmente, apenas Neji havia acreditado.

Sentia raiva de tudo no momento, até mesmo de Tenten.

Mordeu sua bochecha, rindo daquela maneira estranha e que poderia facilmente ser confundida com um choro. Nem ele saberia ao certo responder sobre o que era aquilo. Entretanto, tinha consciência de como sua imagem deveria estar fazendo jus a ilustrações solitárias, típicas de séries e filmes.

Sentia vergonha de si mesmo por completo, desde o momento quem viu Tenten e se encantou pelo seu sorriso, a maneira que falava de modo polido sobre qualquer assunto e sua voz, que facilmente passaria hora e mais horas escutando, mesmo que não prestasse atenção de fato no que ela dizia. Apenas escutaria, como tantas outras vezes, preso naquele canto afrodisíaco e que o embalava em uma realidade de paz.

Uma realidade deles.

Sentia vergonha pela maneira como havia se apaixonado por aquela garota, e agora pelo modo como estava destruído por causa da mesma garota.

Respirou entredentes, piscando fortemente e tentando aliviar aquela ardência em seus olhos. Balançou sua cabeça, passando sua mão novamente por seu rosto e subindo até seus cabelos, arrumando qualquer fio que estivesse fora do lugar — uma maneira de extravasar tudo aquilo que corria em seu corpo, um modo de conter suas mãos ansiosas.

Seu celular vibrava em seus bolsos, mas não sentia vontade alguma de atender. 

Não sabia se tinha vontade de algo, ou se desejava apenas ir para sua casa e passar algumas horas na cama. Sentia-se perdido, estranhamento sozinho. Uma alma vagante, largada as traças em meio a um campus vazio.

Completamente sozinho, de uma maneira nada reconfortante. 

Sabia que essa solidão ia para além do sentido romântico, pois englobava até mesmo suas amizades — pelo menos eram amizades que ele acreditava, mas que agora não faziam tanto sentido assim.

Seu celular vibrou mais uma vez, mantendo o ritmo por minutos, e que voltava após alguns segundos ausente. Uma ligação.

Suspirou mais uma vez, com seus olhos ardendo pelas lágrimas não derramadas. Seria ótimo se uma foto sua naquele estado, beirando o fracassado — para não dizer que estava sendo a personificação dele — saísse no Toxic. Poderia até rir um pouco ao ver que as pessoas descobrirem que Neji Hyuuga, aquele homem tão inalcançável com todas suas supostas camadas de arrogância, estava chorando por causa de uma garota.

E não qualquer garota.

Tenten Mitsashi.

Aquela que teve espaço para entrar e o conhecer, longe de toda aquela barreira própria e natural, mas que ele aprendeu a abaixar para que ela pudesse o conhecê-lo. Para que ele conseguisse conquistá-la, pois sabia que ela prezava sinceridade acima de tudo.

Era a merda de otário.

Pegou o celular que voltava a vibrar, atendendo com brusquidão.

— O que foi? — grosso e direto, mas com a voz soando levemente embargada.

Engoliu em seco. Precisava manter a  compostura, no mínimo. 

— Eu, Kiba e Naruto precisamos de ajuda com as Omegas. — a voz preguiçosa de Shikamaru completamente distinguível, sobressaindo-se aos gritos femininos de fundo, soou alto. Franziu as sobrancelhas — O plano deu errado, parece que alguém de nós acabou abrindo a boca para elas — ao fundo uma série de palavrões se iniciou. Alguém deve ter sido atingido. Outro palavrão mais alto, seguido de outro tiro. Alguém havia realmente sido atingido. — Merda, Naruto, não mira no rosto! — Neji abriu a boca, mas um “elas estão metendo bala na porra do meu saco!” o interromepeu. Sabia ser Naruto, isso era óbvio — Enfim, agora elas sabem que íamos armar para a polícia pegarem elas, provavelmente os Betas sabem também. 

Abriu a boca, mexendo sua mandíbula, levando sua mão livre até o ponto de seu nariz entre seus olhos,  pressionando aquela área. Fechou suas pálpebras, puxando uma grande lufada de ar, e murmurando com seriedade:

— Isso é problema do Sasuke.

Um resmungo soou.

— Sim, é. Mas o Sasuke está lidando com a Konan, capaz de levar até o Uchiha Um com ele. — Neji abriu os olhos e arqueou uma sobrancelha, mas Shikamaru continuou — É, eu também fiquei assustado quando vi a mensagem. Enfim, cara, precisamos de você aqui, ou estamos fodidos de vez. — mais alguns gritos ao fundo, conseguiu distinguir outra vez a voz de Naruto; “Filha da puta, eu quero ter filhos” — Essas garotas são loucas, você sabe.

Engoliu em seco antes de responder. 

Sentia seu coração pulsando dentro da sua cabeça, e tudo que seu corpo pedia eram algumas horas largado naquela solidação, remoendo tudo que estava sentindo.

Principalmente longe de qualquer coisa que o ligasse a KAY.

— Eu não quero mais me envolver. 

Shikamaru deve ter mutado a ligação por alguns segundos, pois ,de repente, nem mesmo aqueles gritos estava conseguindo escutar. Voltou após alguns segundos, enquanto Neji raspava a sola de seu tênis no concreto.

— Eu sei que você deve estar puto, mas eu nunca tive problema com você. Esqueça esses cuzões que estão comigo e venha aqui. — escutou um nítido “Vai se foder, Nara” ao fundo — É sério. Neji. Eu não estaria te chamando se você não fossem as últimas das minhas opções. Essa história muda o plano inteiro.

Neji revirou os olhos, apertando seus dentes a ponto de ouvir eles rangerem. Teve que  fazer um esforço para conseguir falar — soando como um murmúrio, um resmungo ou uma junção estranha dos dois.

— Eu já estou cansado dessa história de planos. Estou cansado de Sasuke e dessa merda toda.

Shikamaru bufou do outro lado.

— Cara, eu vou amar ter um DR com você, mas pode ser em outro momento? Sei que deve estar puto com o Sasuke, mas entenda que eu não tenho nada a ver com isso. — uma pausa mais longa, mais alguns xingamentos — Eu não sou advogado de ninguém, nem pretendo ser, mas você, Tenten e Sasuke eram solteiros na época do vídeo.

Franziu as sobrancelhas.

— Como você sabe disso?

Uma pausa um pouco mais longa, mais gritos.

— Eu estava com Temari nesse dia, cheguei minutos depois de Sasuke, Naruto e Suigetsu.

Naji umedeceu seus lábios, para logo em seguida rir com descrença. Só podia ser brincadeira.

— Até você, Nara?

— Neji, eu entendo que você está puto, mas nenhum de nós sabia as coisas que Tenten tinha falado sobre você. Se soubéssemos não teríamos ficado naquele quarto. Pode cobrar de Sasuke ele não ter falado sobre isso com você, mas talvez ele tenha tentado fazer isso apenas para evitar essa situação de merda. — uma pausa apenas para ele gritar um singelo “se atirar essa merda perto de mim outra vez eu vou socar essa arma na sua garganta” — A única pessoa que você deve cobrar alguma coisa é Tenten, mas eu realmente acho que isso não importa agora, esse vídeo tem mais de um ano.

Rosnou com amargor:

— Coisas assim não mudam de uma hora para a outra.

— Estamos falando de um ano, Neji. E esse um ano ela passou ao seu lado — Shikamaru gritou alguma coisa ao fundo, com seu tom estava cada vez mais pesado. A situação realmente não deveria estar boa — Agora levante essa bunda fracassada e venha aqui a ajudar a gente, nós somos seus amigos ainda.

— Eu não sei o que pensa sobre isso. — falou baixo, ainda olhando para seus pés.

Porra, Neji. Sinceramente? Não pense. Você vive preso nessa sua cabeça e esquece que tem uma vida para viver. Agora venha aqui agora, estamos próximos ao bloco dois.

— Eu vou demorar para chegar aí.

— Já estaria chegado aqui se não estivesse fazendo tanto drama. — consegui imaginar perfeitamente a careta de desagrado que Shikamaru estava fazendo — Que situação problemática, eu não tenho paciência para isso. — Neji revirou os olhos — Venha logo.

E desligou.

Abaixou o celular lentamente, ainda sentindo aquele vinco entre suas sobrancelhas, e olhou para a tela. Infelizmente havia uma foto sua com Tenten na tela de bloqueio, assim como havia com os fraternos da da pagina inical.

Não sabia como havia se metido aquela merda. Não tinha cabeça para lidar com aquilo. 

Ergueu sua cabeça, deixando com que seus olhos analisarem o céu noturno acima de sua cabeça, perdendo-se naquele infinito negrume azulado e permitindo que sua mente apenas vagasse.

Não sabia o que fazer.

Não sabia para onde seguir. 

Até sua mente ligar dois pontos óbvios, como um grande bingo de ações fodidos que deveria ter em sua consciência. 

Abaixou sua cabeça lentamente, sentindo aquela ideia, aquele pensando insano, borbulhar em sua mente. Engoliu em seco qualquer gota de orgulho que havia em seu corpo, umedecendo seus lábios e questionanado-se rapidamente se aquela merdavalia a pena.

Não precisou de mais alguns segundos pensando para saber que valia a pena sim.

Arrumou sua arma, colocando-a devidamente em seus ombros, e começou a correr na direção oposta a qual estava seguindo, indo em direção ao som dos gritos que estava escutando até então — os olhos cinzentos analisavam tudo ao redor, mas sua cabeça só conseguia assimilar, torcer, para que todo seu orgulho se tornasse paciência, enquanto levava o próprio celular ao ouvido, após procurar um número específico nos contatos.

Iria precisar de muita  paciência.

Demorou alguns toques para que ele o atendesse. O tempo necessário para Neji correr uma boa parcela de metros.

— O que é?! — o grito, ou um quase grito, soou diretamente no seu ouvido.

Revirou os olhos assim que ouviu a voz raivosa de Sai, uma reação automática do seu corpo. 

Falou de maneira ofegante, mas não alterando seu ritmo.

— Eu sei o que você fez, Hatake. — entrou em um dos caminhos de concreto rodeado completamente por árvores, ficando totalmente encoberto pelas sombras dos galhos esguios e que juntavam-se, formando um pequeno túnel natural — Preciso da sua ajuda.

O silêncio que se seguiu — do mesmo modo que o do Shikamaru, tendo gritos a fundo e alguma risadas sádicas — durou o tempo de virar outra curva. A confirmação que precisava.

— Não sei o que você está falando, mas, se me permite a  pergunta, por que você quer minha ajuda? E por que acha que eu vou ajudá-lo?

Por Deus, como detestava Sai. 

O desespero mudava as pessoas, assim como a sede de vingança. Talvez fosse esse o motivo que estivesse  fazendo ele se arriscar daquela maneira, e com pessoas que estava longe de gostar — muito longe.

— Provas são as últimas coisas que eu me preocupo, você não é alguém muito caprichoso. — parou, enfiando-se atrás de uma árvore e esperando os dois Betas passarem correndo atrás de um calouro — E você vai me ajudar através da maneira que você mais gosta: trocas.

Quase podia escutar ele sibilar igual uma cobra, ou, seguindo aquelas lendas de jogos RPG, o rosnar de um dragão, sedento por qualquer riqueza — ali estava outro ponto que detestava no Hatake; a ganância desenfreada por qualquer coisa que não o pertencesse, igualmente a uma criança mimada. E isso, infelizmente, não se limitava apenas a bens materiais.

— Que tipo de troca eu iria querer de você? Não costumo aceitar fofocas como pagamento.

Voltou a correr, mas o gosto amargo do desgosto estava em seu paladar e nítido em seu rosto. 

— Tenho mais do que algumas fofocas para oferecer.

Sai riu.

— Então Neji, façamos assim: Você me deve um favor, e quando eu precisar eu cobro. — Neji abriu a boca para responder que não fazia acordos com demônios, mas foi interrompido antes disso — Onde é para eu ir? 

Suspirou. Estava na merda já, querendo ou não.

— Perto do Bloco 2.

— O bloco 2 é bem grande, preciso que seja mais preciso.

— Eu sei que você consegue se achar, Hatake. — respondeu com descaso — Não demore.

Hyuuga filho d-

Desligou, enfiando seu celular no bolso.

Parou, vendo que havia algumas mensagens de Shikamaru e alguns áudios, provavelmente   o xingado por estar demorando. Ou talvez Naruto falando sobre seu saco e as chances de ficar estéril. Revirou os olhos, enfiando o celular no bolso e arrumando a arma que pesava em seus ombros.

Se as Ômegas e os Betas soubessem realmente do plano de Sasuke, então estavam fodidos.

Mas não era como se já não tivessem lidado com isso antes.

Ergueu seu rosto, pronto para voltar a correr e se embrenhar nas sombras do Campus, mas teve qualquer mínimo plano interrompido quando encontrou os brilhosos olhos castanhos fixos em si; mergulhados em uma dor nítida, rodeados por aquela vermelhidão característica do choro, além do modo que seu nariz parecia irritado.

Seu corpo travou completamente, seus pés grudaram-se no chão.

O  mesmo pareceu acontecer com ela, pois o corpo feminino — coberto por uma calça jeans simples e um moletom largo demais que ele conhecia muito bem, pois era o seu moletom — estava estático a sua frente. Entretanto, os olhos castanhos, aquele tom que parecia tão comum para todos, mas que lhe causavam certo fascínio, estavam fixos em si, em seus próprios olhos.

O ar entre eles tornou-se pesado, denso demais para poder ser utilizado. Segurou sua respiração, mesmo não sabendo corretamente o motivo.

Até mesmo se mexer parecia errado naquele momento.

Neji engoliu em seco, talvez junto com todo medo, raiva, ansiedade e apreensão que sentia, além de todas as outras coisas que deixavam sua cabeça confusa e que reviravam seu estômago. Mas, entre todo aquele caos dentro de si, conseguia compreender o mais gritante; não queria vê-la.

Não agora, não naquele momento.

Não quando tudo que queria era apenas descontar toda sua frustração em algo.

Tenten abriu a boca, mas a fechou. 

Segundos se arrastaram com ambos se olhando, até ela voltar a separar seus lábios, demorando-se mais um pouco antes de murmurar.

— Ne-

— Não quero suas justificativas. — a interrompeu, mantendo seus olhos sobre ela e segundo com força a arma em seus ombros. Agarrou-se a ela como se sua vida dependesse daquilo.

Pode ver as feições femininas mudarem, a maneira que ela piscou assustada e como fechou sua boca logo em seguida. Os olhos brilhosos, ainda úmidos, foram fortes o suficiente para manterem-se fixos aos seus frios olhos cinzentos — também rodeados por aquela vermelhidão, e que carregavam uma camada de pura tristeza.

Tenten abriu a boca mais uma vez, falando com um pouco mais de força, mas a insegurança ainda era palpável em seu tom — na verdade, era palpável entre eles. Parecia que estavam caminhando sobre ovos, ou indo para lados opostos em uma estreita corda bamba.

— Eu preciso falar com você. — deu um passo à frente, as sobrancelhas castanhas estando crispadas — Preciso que você me escute.

Neji cerrou seus dentes, mordendo sua língua e usando-a para descontar tudo que estava sentindo. Não piscou, não mudou seu olhar, mas sua voz saiu mais baixa e mais carregada, enquanto seus orbes ainda estavam presos incisivamente aos de Tenten.

— Eu não quero ouvir nada de você.

Soube de imediato, assim que os olhos tornaram-se mais brilhantes, que ela estava prestes a desabar à sua frente.

— Neji, por favor. — Tenten deu um passo à frente, mas Neji deu um para trás. Ela notou isso, pois parou de tentar se aproximar, mas sua voz soou embargada pelo choro contido — Eu era caloura, eu ainda estava..eu..eu era nova, Neji. Isso faz muito tempo.

Talvez por todo o peso do momento, ou por toda a merda que já estava sentindo, mas sua resposta foi um riso anasalado, assim como um balançar discreto de sua cabeça — após analisar meticulosamente os detalhes do rosto de Tenten, até mesmos as partes coradas e aquelas que estavam inchadas, mostrando que ela havia chorado antes de se esbarrarem. Provavelmente quando o vídeo acabou sendo exposto.

Mesmo assim, ainda achava tudo surreal. E não de uma maneira boa. 

Deixou um riso escapar, desviando seus olhos daqueles orbes castanhos e levando-os para qualquer ponto à esquerda. Acabou olhando para a parede de tijolos vermelhos que estava próximo do pavimento.

— É melhor você ficar quieta, Tenten.

Não olhava para ela, mas imaginou a cara que ela deveria estar fazendo. Engoliu em seco.

Sua língua já estava machucada, não demoraria para começar a sangrar se continuasse naquele ritmo.

— Neji, por favor — ela murmurou, e ele teve novamente que machucar o próprio corpo. Nenhum traço em seu rosto denunciava a maneira que ele infringia a si mesmo daquela forma, além do profundo vinco entre suas sobrancelhas —, eu era nova. Eu não sabia o que estava falando, muito menos o que estava fazendo.

Puxou uma  grande lufada de ar, voltando seus olhos para ela.

—Tenten, eu não me importo. — umedeceu os lábios ressecados, semicerrando os olhos cinzentos na direção da Mitsashi. — É melhor você ficar quieta. Apenas isso. Tudo o que você fala está apenas piorando sua situação. — ponderou, o amargor do bile subindo e descendo por sua garganta — Eu quero ficar sozinho.

Não soube como suas pernas o obedeceram, nem como seus pés descolaram-se do chão, mas começou a andar na mesma direção que seguia, erguendo sua  cabeça e olhando para o caminho a sua frente.

Passou lado a lado de Tenten, tomando o cuidado de manter uma distância entre os dois.

Precisou do máximo de autocontrole para não parar, e muito mais para não explodir ali mesmo. Não sabia nem como estava respirando.

Até a mão pequena segurar seu antebraço, e ele virar sua  cabeça de maneira lenta, olhando para a mão e correndo seus olhos pelo braço esticado, até o rosto corado e as lágrimas que estavam prestes a cair.

Ela tinha total atenção a si.

Tenten murmurou de maneira trêmula, sôfrega:

— Eu te amo, isso não basta?

Não soube quanto segundos olhos para aqueles olhos, mas pode ver a delicada lágrima se libertando e escorrendo por aquele rosto tão belo, além do próprio reflexo nos orbes de um lindo tom carvalho.

Voltou seus olhos para a mão dela.

Subiu sua vista novamente, encontrando aqueles olhos ansiosos, ainda molhados pelas lágrimas.

Sua voz soou pesada, carregada de tudo aquilo que sentia; a traição, as mentiras, e a maneira que foi apenas usado.

A maneira que foi enganado.

— Vindo de você? Agora? — podia sentir a dor em cada palavra, sendo moldada em uma frieza que machucava até a si mesmo. Afastou seu braço, retirando a mão de Tenten de si — Não.

E sem esperar, ou olhar para as lágrimas, correndo como rachaduras pelo rosto feminino, deu as costas para e ela e voltou a andar.

Estava cansado, apenas isso.

O amor era cansativo da mesma maneira que era doloroso. Extremamente doloroso.


•••

New York; U. Columbia


Bloco 1 - Biblioteca Principal; 11:00 PM

Ela sentia na própria pele, seguindo seus outros sentidos, que algo estava errado. E algo que sobressaia-se até mesmo o trote, e todas as suas consequências.

Columbia estava envolta em um silêncio pesado, angustiante e que exala a sensação de um mau presságio. 

Até mesmo as luzes pareciam mais apagadas, enquanto todo aquele gramado bem cortado que estava deserto naquele momento. Parou, fechando os braços ao redor do próprio corpo assim que colocou a mochila em suas costas.

Dentro da biblioteca estava tudo bem, um silêncio típico recobria aqueles poucos alunos presentes, mas sentia que ao atravessar aquelas portas tudo poderia mudar — medo mesclado com o amargo arrependimento, até a lembrança péssima que tremia em seu bolso, mostrando que o post já estava sendo visto, comentado e compartilhado por todos os quatro cantos daquele lugar imenso.

E as consequências deles não demorariam a vir. Sentia isso nitidamente, e talvez fosse esse o motivo que a fez arrastar os pés até as portas de madeira escura, e olhar com apreensão para todo o campus a sua frente.

Um grito distante soou, assim como risadas que estavam longe de serem simpáticas.

Quase riu de si mesma e toda sua figura patética; encolhida dentro da própria jaqueta de couro, com seus olhos varrendo todo aquele lugar, como uma ratinha assustada. Na verdade, ela iria rir de si mesma quando chegasse no seu dormitório, segura debaixo das  suas cobertas e com o e-mail a disposição para todos as fofocas que chegariam a si — sua barriga mexia-se ansiosa apenas por pensar naquela possibilidade, no conforto de seu pequeno mundinho fechado e pronto para ferrar mais algumas pessoas.

Amava o modo como todos os alunos de Columbia pareciam sempre estavam putos com alguma coisa, e o modo como sempre estavam dispostos a descontar todas as  suas frustrações em alguém — sendo através de fofocas infundadas, ou aquelas que vinham sempre acompanhadas de fotos, vídeos, mensagens e quilos e mais quilos de provas.

Amava todo essa ar de desconfiança que pairava sobre todos.

Mas enquanto estava ali, aberta em um lugar que estava parecendo — assombrosamente — algum filme de terror — quando  a mocinha estava prestes  a andar para a própria morte, e onde o público sempre gritava o quanto ela burra — , tudo que podia fazer era seguir seus instintos e a sua sensatez; temer.

Sabia que era alguém odiada, e até gostava disso. Gostava bastante, aliás. Mas, claro, não naqueles momentos.

Apertou a alça da sua mochila, olhando mais uma vez para todo aquele gramado a sua frente e a maneira que o campus parecia estar recoberto por uma densa penumbra negra e que deixava todo aquele ambiente ainda mais pesado. Puxou uma fina lufada de ar, e desceu as escadas em passos rápidos, seguindo o caminho que já conhecia de cabeça — tomando o cuidado de não colocar seus fones, e até mesmo prendeu os cabelos roxos em um rabo de cavalo baixo.

Estava um pouco arrependida por ter esperado tanto tempo naquela biblioteca, aproveitando-se de todos os segundos que poderia ficar segura no único lugar que não seria invadido pela horda de universitários sádicos e insanos. Afinal, ninguém tinha coragem de enfrentar a velha responsável por todo aquele lugar, principalmente sabendo que ela era uma das únicas que jamais saia do Campus.

Brincavam até que a velha não tinha vida, e talvez fosse verdade. Mas, independente disso, um acordo silencioso havia se firmado entre elas e os alunos; não se metam na minha vida, e eu não me meto na de vocês.

Em suma; ela estava cagando para o que acontecia atrás das grossas portas de madeira, mas isso não significava que ela era solidária ao ponto de permitir que aquele recanto seguro ficasse aberto durante toda a madrugada. Não mesmo — Konan só conseguia pensar que aquela velha até gostava de ver todo o caos, e todos os alunos desesperados correndo pelo extenso gramado.

Sádica de merda.

Se embrenhou naquela escuridão conhecida, passou pelas árvores que já havia decorado e quase — por muito pouco — sorriu ao ver que havia passado pelos blocos mais problemáticos; Economia e Administração. Estranhamente silenciosos, mas completamente desertos — para sua felicidade.

Estava apenas adiando o inevitável e tinha consciência disso, mas não poderia se importar  naquele momento — não ela, a garota que carregava uma fila de inimizades e que estava no meio do terreno inimigo.

Já havia experimentado aquele trote e não tinha nenhuma experiencia agradável com isso. Muito pelo contrário. E por mais que fosse alguém que algumas pessoas tinham medo de mexer, sabia que a maioria do topo da hierarquia fajuta Columbiana a odiava o suficiente para não se importar em mexerem justamente com ela. Alguns até sentiriam prazer em fazer isso, ela tinha certeza.

Engoliu em seco, enfiando suas mãos nos bolsos de sua jaqueta. Seu celular continuava vibrando.

Normalmente não se sentia culpada por nada, mas era impossível não abrir exceção naquele momento. Por aquele post.

Sentiu um gosto amargo em sua boca.

Virou um cruzamento de caminhos cinzentos, passando atrás de um prédio e podendo cortar caminho entre os refeitórios. Quase sorriu ao ver os dormitório distantes, com suas luzes acesas e com a promessa de que estaria segura em seu pequeno recanto.

Até que notou passos atrás de si, tarde demais para poder prever qualquer coisa.

Seu coração deu alguns saltos mais fortes, assim como o sangue em seu corpo.

— Você fica bem óbvia quando não está com a máscara de megera. 

Parou. Quase suspirou, aliviada.

Mas se conteve para não levar a mão ao peito. Não precisava se prestar mais um papel ridículo.

Se virou lentamente, mas o alívio estava desenhado detalhadamente em seu rosto. Porém, apenas para artistas que sabiam ler deus detalhes.

Infelizmente — ou não — ele era uma das pessoas que sabiam ler aqueles minúsculos detalhes de sua complexidade. Talvez fosse a única.

— Você estava me seguindo?

Itachi estava com uma roupa escura, um casaco pesado e que não condizia muito com o seu estilo. Os cabelos longos estavam presos em um coque, deixando visível as laterais raspadas em um suave degradê. O alargador em sua orelha mexeu quando ele deu de ombros, despojado e relaxado, como sempre.

— Foi inevitável não fazer isso — deu um passo à frente, ainda com os olhos negros presos aos dela. — É tentador demais vê-la nesse estado, tão preocupada enquanto anda como uma caloura assustada.

Konan arqueou uma sobrancelha, mas seus dedos relaxaram o aperto na alça de sua mochila — eles estavam até doendo, e ela não havia se tocado até aquele momento da força que está fazendo ao segura-la. Os nós estavam embranquecidos, e o couro sintético começava a fazer aquele típico som estranho do atrito entre sua mão e o tecido.

— Quem disse que eu estou assustada? — mudou o peso de uma perna para a outra, um sorriso pequeno brincando em seus lábios.

Itachi parou a sua frente, apenas alguns singelos centímetros os separando. Moveu sua cabeça levemente para o lado, com aqueles escuros olhos negros fixos em si. Curioso, mas mantendo a postura discreta costumeira; olhar despreocupado, mãos nos bolsos e aqueles ombros relaxados de sempre.

— É, realmente — um sorriso ladino, mostrando aqueles perfeitos dentes, despontou em um dos extremos de seus lábios finos. — Mas se eu não te conhecesse eu diria que me parece mais o peso da culpa — arqueou uma sobrancelha. — Konan Mitsashi arrependida de algo? Que inédito.

Teve que se esforçar para seu sorriso pequeno não sumir, e nem para voltar a segurar com mais força a alça da sua mochila, mas engoliu a própria saliva da maneira mais discreta  que conseguia — Itachi acabava de pisar em um terreno que para o bem dela, e o bem dele, era melhor que se mantivesse distante. Entretanto, agindo como estava acostumada, manteve sua sobrancelha arqueada e o seu sorriso de lado. 

Torceu para não parecer tão falsa quanto estava se sentindo. Era sempre meio difícil mentir para Itachi.

Os olhos escuros, ao ponto de não conseguir nem enxergar as pequenas pupilas naquelas esferas ausente de cor, não desviaram de si. Nem um milímetro sequer.

Falou no mesmo tom de sempre; aquele que fazia seus ouvintes pensarem realmente se estavam escutando certo, pois sempre havia uma camada de duplo sentido em cada palavra que saia de seus lábios venenosos.

— Que bom que você me conhece e sabe que eu nunca me arrependo de nada. 

Os olhos amarelos, um suave tom de mel, mantiveram presos ao negros, perdurando aquele olhar do Uchiha. A lasciva costumeira, casada com uma intensidade compreensiva, sendo presente como todas as outras vezes, e estando envolta dos corpos cobertos por roupas escuras, quase como se escondessem nas sombras que os rodeavam — o sorriso estava igual, assim como as provocações que ele tinha uma queda. Talvez uma das  suas maneiras de tentar atingi-la.

Aquela brincadeira de sempre, onde eles jogavam sem qualquer escrúpulo, intensificando ainda mais aquela tensão sensual que sempre se formava entre eles quando estavam sozinhos. 

Igual a todas as outras vezes que se encontravam.

Tudo estava igual, na real, mas ele sentia que algo estava diferente. 

Não Itachi. Talvez o ambiente? 

Não sabia dizer. Havia acordado bem paranoica naquela manhã, poderia ser apenas um reflexo disso.

— Realmente. Que bom que eu a conheço — murmurou lentamente, ainda mantendo seus olhos sobre ela. 

Tinha alguma coisa estranha ali, ela não poderia estar louca daquela maneira.

E Itachi confirmou isso quando ajeitou suas sobrancelhas, olhando para si com uma seriedade atípica — Pelo menos para ele e seu humor sempre tão invejável; sempre para cima, com seus sorrisos discretos e comentários capazes de mudarem o dia de alguém — de maneira boa.

Mordeu a parte de dentro de sua bochecha.

— Sasuke está puto com você. Muito puto — Konan crispou levemente as sobrancelhas, confusa. — Ele não gostou de nada do que viu e ficou sabendo quando voltou do hospital, principalmente com o vídeo da caloura. 

Abriu a boca em um sorriso venenoso, desenhado através da maldade que jorrava aos montes do seu corpo. Se atentou até mesmo em parecer aliviada, como se aquilo não passasse de uma simples pedra em seu sapato.

— Sasuke se importa com calouras agora? E logo Sakura Haruno? — imitou os movimentos de Itachi, movendo minimamente sua cabeça para o lado. — Eu já desconfiava que ele queria transar com ela, mas comprar brigas? — o sorriso se alargou. — Seu irmão já foi melhor, e eu acho que isso não vai mudar todo o nojo que a Haruno sente dele.

Itachi não sorriu, mas suas expressões não estavam pesadas. Parecia apenas o Itachi de  sempre, com seu rosto esculpido em feições austeras e aquela placidez invejável, até como se ele fosse alguém superior demais a todas aqueles dramas adolescentes — um dos motivos que a fez se interessar pelo Uchiha veterano, além da sua beleza invejável.

— Ele e a Haruno tem os problemas deles, e Sasuke não gosta que terceiros se metam em suas brigas — falou baixo, naquele  tom que parecia que estava sussurrando, mas sendo apenas seu timbre de sempre. — Ele não gostou de saber que se envolveu indiretamente em toda essa confusão.

Konan cruzou os braços, erguendo sua sobrancelhas. O sorriso ainda estava em seu lábios, gloriosamente debochado e venenoso.

— Sasuke resolveu fazer boas ações? É melhor avisar a ele que vai demorar um pouco até as Ações de Graça. Até lá ele pode continuar sendo babaca por um tempo. 

Isso não mudou as expressões de Itachi. Muito pelo contrário.

— Ele apenas não gosta de ter terceiros envolvidos nas suas merdas.

Konan piscou lentamente, os orbes faiscando pelas palavras maldosa que já brincavam em seu paladar.

 — Pelo que eu saiba quem não estava envolvido nessa merda era ele. Não estou entendendo a parte que ele resolveu comprar as dores de alguém, principalmente de Sakura Haruno. — pressionou seus lábios, fazendo um suave bico pensativo. Dissimulada — Eu acho que perdi alguma coisa nessa história. Pode me situar? Eu gosto de estar a par de tudo.

Itachi semicerrou os olhos em sua direção, sacando muito bem aquele jogo que ela estava fazendo; o de megera insuportável, inatingível e que era uma  das rainhas de todo aquele antro de hipocrisia — uma rainha erguida da plebe, mas que já estava afundada até a cabeça com todas as camadas de restos podres que formavam aquele lugar.

— Você ia escrever sobre overdose dele se não fosse por Naruto, e todos sabem que ele te  ameaçou de alguma forma. Você estava com o ego ferido, respondeu acertando o ponto fraco dele: a caloura. — Itachi piscou calmamente — Podemos dizer que foi um efeito borboleta.

Por estarem perto, mas não com os corpos colados, Konan teve o privilégio de ver aquelas calmas expressões de itachi, além de ser acariciada por aquela voz que soava como um murmúrio rouco e que a lembrava músicas indie, viagens baratas e madrugadas de sexo. 

Querendo ou não, seu corpo sempre estava um pouco relaxado quando estava com Itachi, e era inevitável não entrar em um jogo de palavras ácidas e comentários pesados. Era o estilo deles, e ela gostava.

— Seu irmão está bem solidário, então. Poderia dizer que está até que um tanto quanto mole. —  ergueu seu queixo, e sorriu da maneira dela; sem significado algum — Agora eu queria saber o que você está fazendo, Itachi. Defendo o irmão mais novo, e sendo o mensageiro dele? — umedeceu novamente seus lábios, olhando no fundo dos olhos dele — Que eu me lembre vocês se odiavam até semana passada. A possível morte do irmãozinho o deixou sensível?

Ah, ali estava o que tanto gostava; aquela maldade sem precedentes.

Sentia-se até mais feliz quando falava daquela maneira, até mesmo satisfeita.

Principalmente quando conseguiu arrancar uma expressão de Itachi; um vinco entre suas sobrancelhas suavemente crispadas. 

Porra, ele ficava bonito até daquele jeito. 

A tensão entre os dois apenas piorava o que já  sentia.

Não se conteve, deu mais um passo à frente.

— Eu jurava que Sasuke jamais o perdoaria. Não sabendo o quanto você foi cuzão com ele. — estalou os lábios, fingindo pensar — O que você precisou fazer para formar os laços novamente? 

Pela primeira vez naqueles minutos viu algo surgir nos olhos de Itachi, um brilho quase imperceptível. Quase.

Oh. Tinha realmente algo estranho ali.

A voz grave soou, junto com o hálito de menta:

— Quer dicas para saber como vai se resolver com Tenten depois da merda que você fez? Lamento informar, mas ela vai querer apenas a sua cabeça. E nós dois sabemos como sua irmã pode ser, principalmente quando está com raiva.

Tempestuosa. Explosiva.

Uma versão mais emotiva e incontrolável de Konan, mas bem mais destrutiva em momentos como aquele. 

Sentiu seu sorriso vacilar, mas não abaixou sua cabeça. Nunca iria abaixar a cabeça.

Falou de maneira lenta, provocativa:

— A situação minha e Tenten é bem diferente da sua com o Sasuke. — deu um passo à frente, minúsculos centímetros separando seus troncos. — Eu não abandonei minha irmã.

Conseguia sentir o calor  de Itachi contra o seu, envolvendo-a ainda mais em toda aquela bolha de olhares incisivos e comentários ácidos.

— Só foi um tremenda escrota com ela, não? — o hálito refrescante atingiu seu rosto junto com as palavras sem qualquer emoção.

Não se moveu.

Se não estivesse tão escuro, com apenas alguns singelos postes os iluminando — presente daquele blackout feito pela KAY — poderia ver seu reflexo naqueles orbes tão escuras. Um tom profundo, que conseguia se destacar até mesmo aos diversos olhos coloridos daquele campus — nem mesmo os Hyuugas com seus orbes de pedra, aquelas águas cinzentas, conseguiram se equiparar aos olhos de Itachi.

Nunca havia chegado perto o suficiente de Sasuke, mas sabia que os olhos do irmão deveriam ser ainda mais profundos dos que o de Itachi. Afinal, o caçula parecia viver sempre presos embaixo de camadas e mais camadas de drama, raiva, vícios e aquelas coisas que apenas somavam a sua figura tipicamente problemática.

Mas era apenas um palpite.

Entretanto, tinha uma leve impressão que ainda teria uma preferência por aquele olhar de Itachi.

— Somos iguais, Itachi. Igualmente cuzões, e péssimos irmãos —  ronronou, erguendo sua mão e passando  seus dedos pelo  tecido grosso do casaco que ele usava.

Sabia muito bem o que tinha por debaixo daquelas camadas de roupa; seu pequeno vício.

Itachi piscou, então sorriu. Um sorriso que conseguiu fazer com que ela se esquecesse rapidamente do lugar e a situação que estavam, com seus olhos presos aquele singelo ato.

Ela estava precisando mesmo de uma boa rodada de sexo. Que se fodesse todo aquele caos ao  redor deles.

Itachi se inclinou em sua direção, abaixando-se lentamente e mantendo aquele sorriso. Entreabriu os seus lábios no momento que sentiu a mão dele em seu queixo, erguendo com suavidade — tão facilmente guiável, sedenta por qualquer coisa que viria depois daquilo, que teve as reações e reflexos de seu organismo ocorrendo de forma automática, como se fosse programada para cada toque que iria receber.

Os lábios roçaram um no outro, de uma maneira suave que quase não era perceptível. Por sorte ela estava sensível, com seus nervos a flor da pele, e capaz  de sentir  até um fio de cabelo externo em sua pele — o estresse era o melhor ingrediente para uma transa espetacular.

Principalmente com Itachi.

— Konan.. — ele murmurou, embalando-a com a voz calma e que nem parecia ser um dos motivos dos seus orgasmos intensos durante as suas fodas escondidas, atrás das paredes de seu próprio dormitório.

Seus olhos estavam quase fechados, ansiosa pelo beijo que bem conhecia. Por aquele toque experiente.

— Hum?

O aperto em seu queixo foi suave, uma leve pressão, impulsionando-a para cima.

Ergueu seus olhos, encontrando os incríveis orbes escuros de Itachi. Aquela herança genética tão bela e que ornava com cada mínimo detalhe do seu rosto.

Piscou, um pouco confusa.

Itachi murmurou, seu hálito quente atingindo o rosto feminino:

— Você achou mesmo que eu ia trocar minha família por você? — o tom abaixou ainda mais — Não somos parecidos, Konan.

Abriu completamente seus olhos, franzindo as sobrancelhas. 

Um sorriso largo começava a surgir nos lábios de Itachi. Pelo menos largo em comparação aos sorrisos que estava acostumada a ver; pequenos, discretos, apenas um vislumbre do que estava escondido por baixo de toda aquela austeridade.

Não disfarçou sua confusão. Não tinha nem como fazer isso.

— Como?

Os dedos de itachi correram por seu rosto, subindo até suas bochechas e acomodando seu polegar ali — um toque suave, como se ela fosse uma boneca de vidro. — O sorriso ainda se mantinha naquele rosto belo, aristocrático e que exibia todos os detalhes que compunham a falada beleza Uchiha, enquanto os olhos não desviavam dos seus, analisando-a com toda a atenção do mundo.

Estava confusa, um pouco em choque.

Uma massagem suave começou em sua bochecha com aquele polegar acomodado em sua pele.

— Achou mesmo que eu ia deixar aquela história da festa passar em branco? — os dedos subiram até os cabelos roxos, colocando os fios que escapavam do rabo de cavalo, que compunham a curta franja, atrás da orelha cheia de brincos e piercings — Eu posso achar o Sasuke um lixo, mas ele tem o meu sangue. E ele é a única coisa que resta na minha vida — os dedos desceram novamente, chegando até os lábios femininos. — Nunca é tarde para tentar resolver as coisas com meu irmão.

Ela não soube o que pensar. Não naquele momento.

Sentia-se confusa, sobretudo. Mas não uma confusão boa, muito pelo contrário.

Até esqueceu que a mão de Itachi ainda corria por seu rosto, com aquele toque tão imprevisível e que sempre sabia para onde ir e quando ir. E, diferente do que estava esperando a segundos atrás, não sentia nada, nenhuma mísera reação positiva, enquanto sentia os dedos longos passarem suavemente por toda a sua face. 

Parecia desenhá-la, decorando todas aquelas partes de seu rosto.

Murmurou, incerta:

— Você odeia o Sasuke.

Isso não abalou Itachi. Não mudou nada em suas ações e suas expressões.

— Eu odeio a pessoa que ele se tornou, mas eu percebi que isso é minha culpa, afinal. — pausou, semicerrando seus olhos — Eu posso dizer que ouvi um conselho bom.

Engoliu em seco, abrindo os lábios. O vinco entre as suas sobrancelhas já começava a incomodá-la.

— Mas..

Os dedos de acomodaram-se em seu queixo.

— Mas o que, Konan? Não entendeu que eu estou aqui apenas por causa dele? — o sorriso tornou-se pesado de uma hora para outra, como uma sombra maldosa sobre aquele rosto tão belo. Algo inédito para ela. — Eu parei de te visitar desde a festa, e foi um esforço enorme ler aquele blog e ver as palavras, as indiretas — se aproximou, deixando que o hálito fresco atingisse o rosto feminino. — Você tentou de todas as maneiras falar da maldita overdose, e pensou que eu não faria nada — ele se afastou, abaixando a mão e mantendo um sorriso de lado. Colocou as mãos nos bolsos. — Mas eu esperava que um dia você fosse fazer isso.

Konan engoliu em seco, respirando por seus lábios entreabertos. Sentiu sua boca tremer, pensando em que palavras iria dizer, mas temendo qualquer merda de resposta que pudesse sair de Itachi e seu sorriso perturbador.

As perguntas que mais temiam são sempre as mais necessárias, dizia o ditado.

Balbuciou, soando tão patética quando já imaginava:

— O que você fez, Itachi?

Os segundos que se passaram, aquele tempo tão curto, foi o suficiente para começar a estranhar profundamente o sorriso  de Itachi, e para um alerta apitar no fundo da sua mente. Talvez fosse medo, já fazia algum tempo que não sentia aquilo.

Aquela ansiedade que queimava na boca do seu estômago e que deixava todo seu corpo em estado de alerta, além de fazer com que sentisse que estava sufocando. O que era ainda pior, pois estava em um lugar aberto.

Konan Mitsashi com medo. Que inédito.

Antes dele abrir a boca já sabia que estava fodida. Completamente fodida.

— Não é inteligente contar um segredo de família para um caso, sabia? — Itachi arqueou uma sobrancelha — Sempre foi só sexo. 

E foi assim que sentiu sua respiração travar, e seus olhos dobrarem de tamanho.

Não poderia ser verdade.

Não... Mas... — franziu as sobrancelhas, um vinco profundo entre elas. Seus neurônios corriam, assimilando tudo aquilo.

Naruto sabia, assim como Hinata.

Mas se eles sabiam era porque alguém havia contado, e a única pessoa que sabia… — voltou a erguer seus olhos, encontrando os orbes ilegíveis de Itachi. 

Seu estômago embrulhou.

Tudo fazia sentido agora. 

— Você não pode ter feito isso…

Itachi deu de ombros, totalmente despreocupado e indiferente às reações da mulher a sua frente.

— Eu contei para Sasuke mesmo quando ainda estávamos brigados, e ele foi esperto o suficiente para saber que essa era uma informação muito útil. A surpresa foi Naruto e Hinata usarem-a, eu não achava que Sasuke fazia linha de uma pessoa que gostava de fofocas. — sorriu novamente, parecendo que estava falando qualquer merda irrelevante — Mas o que seria de Columbia sem essas intrigas?

Não escutava mais nada.

Deu um passo para trás, meio incerto e inseguro, abaixando os olhos e olhando para o casaco de Itachi.

Sentia-se burra, facilmente enganável.

Começou a respirar por entre seus lábios, seu peito e subindo e descendo de maneira descompassada. Porra. Porra. Porra.

Mordeu seu lábio inferior, crispando as sobrancelhas. Sentiu seus olhos arderem, tanto pela raiva quanto por qualquer outra coisa que sentia.

Havia sido o motivo de tudo.

Sua cabeça fervilhava, ardia com todas aquelas ideias. Não sabia o que dizer, não sabia qual pensamento sobressaia-se a todos, mas ergueu seus olhos mesmo assim.

E dor, aquele pequeno detalhe que achou que estava blindada, foi a que se destacou em todo aquele turbilhão.

Sua voz soou baixa, nítida o suficiente para que Itachi conseguisse sentir claramente o que ela sentia.

— Eu confiei em você — falou de uma maneira sôfrega, beirando a humilhação.

Itachi respondeu com calma:

— Eu sei — ele arqueou uma sobrancelha, medindo-a da cabeça aos pés. — Mas, por mais que também tenha confiado um pouco em você, eu sabia que você poderia acabar me dando uma facada nas costas — deu novamente de ombros. — É aquela história: mantenha seus amigos perto, e seus inimigos mais ainda.

O encarou por alguns segundos, não sabendo o que pensar. 

Itachi sustentou o olhar, até desviá-lo para um ponto atrás de si.

Sentiu um arrepio subir pela sua coluna assim que o som de passos chegou aos seus ouvidos. Passos lentos, arrastados pelo concreto, mas que transmitiam uma sensação tão profunda de mau agouro para si que, mesmo antes de se virar, já sabia quem era o mais novo integrante.

Virou-se lentamente, com suas mão fechadas em punhos, tendo suas palmas molhadas e os nós de seus dedos esbranquiçados.

Encontrou aqueles olhos que conseguiam ser ainda mais escuros que o de Itachi, com aquele típico cigarro ardendo em seus lábios, enquanto a atenção estava presa por completo a si — ali estava um traço que já havia ouvido falar sobre os Uchihas, mas que só havia tido o prazer de vislumbrar em Itachi; a maneira como eles olhavam diretamente para si, sem qualquer tipo de resignação por isso.

Olhavam para seus olhos, buscando qualquer coisa que fosse.

Talvez a confirmação do quão fodida estava.

— E aí, Konan?. — Sasuke parou de andar, mantendo alguns metros de distância entre ela. Uma cortina de fumaça saiu de seus lábios, formando uma névoa cinzenta em frente ao seu rosto, mas que não era densa o suficiente para disfarçar o pequeno sorriso que  estava nos lábios dele — Sua cara não está muito boa.

Nada estava bom ali.

Absolutamente nada.

Sua cabeça fervia, assim como seu  corpo. 

Voltou-se novamente para frente, encontrando os olhos de Itachi ainda sobre si.

Sua dor, toda aquela bagunça, tornou-se algo que ela sabia lidar: raiva.

Falou alto, não se importando mais com porra nenhuma.

— Desgraçado filho da puta.

Itachi crispou as sobrancelha, repuxando um dos cantos dos seus lábios em um claro desagrado.

— Que antiprofissional, Konan.

Seu sangue ferveu, queimou.

— Eu não acredito que você fez isso comigo.

— É, mas eu fiz. —  deu de ombros — Família é prioridade.

Isso foi o estopim para si.

Avançou para cima de Itachi, erguendo seus punhos e não se importando em acertá-lo com toda sua força. Isso o pegou de surpresa, pois conseguiu acertar aquele rosto desgraçado — não forte da maneira que queria, mas o suficiente para que ele desse dois passos para trás, confuso e levemente desnorteado.

O segundo seria mais forte. Bem mais forte.

Tentou mais um soco, mas ele já estava esperando, então foi rápido em segurar sua mão.

Olhos negros contra os caramelos. Próximos o suficiente para que ele sentisse a respiração descompensada e quente de Konan tocando sua pele, além de poder ver todos os detalhes daquele olhar raivosos em sua direção.

Rosnou, ainda tentando soca-lo:

— Eu deveria te matar.

Itachi sorriu, mas não da maneira de segundos atrás. Não soube o  que sentia por aquele sorriso, pois não sabia o que ele significava.

Mas, em suma, estava puta pra caralho e queria que todos aqueles sorrisos fossem para merda.

— Você viria atrás de mim no inferno.

Filho da puta.

— Konan, chega de escândalo. — Sasuke murmurou atrás de si, mas ela prolongou o olhar sobre Itachi. — Vamos logo, tenho que te levar a um lugar.

Só isso fez com que ela se soltasse do agarre de Itachi, virando-se de uma vez para Sasuke.

— Vocês estão loucos?!

Sasuke, como já imaginava, jogou a bituca de cigarro no chão e pisou em cima dela. Então, como se ela fosse apenas mais um detalhe insignificante em sua vida, que ele voltou sua atenção para ela.

Sentia que estava tremendo pela raiva.

— Que porra voc-

— Konan, chega. — Sasuke colocou as mãos dentro dos bolsos — Você vem com a gente ou Columbia inteira vai saber sobre como Tenten é apenas uma filha bastarda, comprada de uma das prostitutas que seu pai dormia. — ele arqueou uma sobrancelha — Posso não ter um blog com milhares de leitores, mas ainda sou Sasuke Uchiha. Tenho meus meios.

Sentiu seu rosto empalidecer.

Abriu a boca, mas nenhuma palavra surgiu.

E a sua frente, olhando diretamente para si, viu Sasuke sorrir.

...

Columbia University; Bloco 1
Campo de Futebol; Arquibancadas; 12:39 AM

Os calouros quase se mijaram quando viram as armas apontadas para eles, bem em frente aos seus rostos deformados por todo o medo que sentiam, suados como porcos  e com os olhos quase saltando para fora de seus crânios.

Tremiam como se tivessem acabado de tomar um banho noturno nas águas podres de Long Island, tendo como complemento o frio que chegava perto dos 0°C mais rápido do que era de se esperar. Mas não era como se todas as noites naquela cidade não fossem uma prova de sobrevivência, ainda mais para aqueles que tentavam afrenta-la.

E para eles — para o azar dos pobres calouros — aquela noite estava realmente sendo um verdadeiro inferno individual para cada um. 

Infelizmente para eles, mas felizmente para si.

Riu sem preocupações, olhando para aquele desespero óbvio a sua frente; pareciam ratos assustados, encurralados contra a parte de trás das arquibancadas e com seus olhos atentos a qualquer mínimo movimento que fizesse. 

Não pode conter aquele largo sorriso que crescia em seus lábios — não poderia ter ficado mais feliz do que ficou no momento em que viu aquele grupo de calouros, jovens que exalavam ainda aquela cara de adolescentes perdidos, fugindo para as sombras do campo. Parecia até que havia ganhado na loteria.

Não sabia como eles conseguiam ser tão burros. Porra, nem mesmo no seu ano de calouro havia sido tão burro quanto aqueles estavam sendo — correr para trás de uma arquibancada? Por favor, pensavam que estavam aonde? Lidando com um bando de amadores?

Quase revirou os olhos, ainda sorrindo. 

Que coisa mais ridícula.

Mas não poderia de agradecer a facilidade que o grupo o proporcionou, mesmo que ainda curtisse a ideia de sair correndo atrás de alguns por todo aquele campus, aterrorizando-os um pouco mais antes  de resolver acabar com a brincadeira, dando alguns tiros estratégicos e que seriam fortes o suficiente para os deixarem imóveis por alguns bons minutos.

Aquelas balas doíam, já havia experimentado na própria pele — iludido pela ideia de que aquilo não passava de tinta compensada e que serviria apenas para marcar os calouros que já haviam sido acertados.

Ledo engano.

Deu um passo à frente, seus pés raspando contra a terra pisada abaixo de si. Em resposta e seguindo os movimentos previsíveis que já esperava, o grupo deu alguns passos para trás, terminando de colar suas costas aos degraus invertidos da arquibancada. Sequer piscavam no processo, olhando para Suigetsu como se estivessem frente a frente com algum animal — não era como se eles estivessem totalmente errados, afinal.

Sasuke poderia dizer que  aquilo era apenas uma distração para o plano inicial, mas não havia algo que pudesse melhor seu dia de uma maneira tão satisfatório e eficiente como aquela. Afinal, brincar de um pega pega mais diferenciado, com riscos de alguém sair cego e com um processo nas costas, era algo que servia mais do que motivação para toda aquela adrenalina que já corria por seus corpos.

Era algo podre, beirando a até mesmo o questionamento do caráter daqueles que participavam do ato tão grotesco, então não se importava realmente quando cultivava inimizades de universitários traumatizados, quando eles até evitavam sua presença em certos ambientes — assim como a maioria dos fraternidade que compunham a trindade —. Mas, mesmo que uma parte sua ficasse um pouco afetada com aquilo, aquela pequena parcela de consciência que falava no fundo de seus consciente, não estava apto para poder ouvi-la.

Não hoje. 

Não naquele momento.

Poderia soar como hipocrisia da sua parte, mas não estava ligando muito para isso. Sua preocupação pesava no seu bolso de trás, com seu celular vibrando a cada uma hora e com mensagens com o conteúdo similar acumulando-se naquela conversa específica; “Você não pode fazer isso”, “Você está destruindo a sua vida”, “Eu terei que tomar providências”.

Aquela pequena válvula de escape não poderia ter surgido em um momento mais oportuno, e era sincero o suficiente consigo mesmo — na maioria das vezes — para saber que aquilo seria a distração que estava precisando; uma parcela de caos sendo salpicada por Columbia, como uma receita de desgraças que apenas intensificavam todos os estigmas daquele imenso lugar.

Precisava daquilo mais do que nunca. Um motivo para poder esquecer Mangetsu e suas mensagens incessantes.

E dessa maneira, tendo seu pequena válvula sendo usada, apenas fez o que fazia com tudo na sua vida:

Ignorava.

— Por favor… — uma caloura que não se importava em perguntar o nome, pois sabia que nunca mais iria vê-la outra vez, muito menos lembrar daquele rosto contorcido, balbuciou a sua frente.

Pressionou o dedo no gatilho, ainda mantendo aquele sorriso em seu lábios, junto seus vivos olhos azuis — a luz que  transpassava as frestas entre os degraus acima de suas cabeças chegava até seu rosto, cortando sua face com faixas de luz e iluminando incisivamente aquelas esferas tão densas; o azul Cobalto mudou, chegando ao apagados tons do grisáceo, formando assim um olhar ainda mais límpido, mas não menos intenso.

As pupilas negras estavam minúsculas dentro daquela parcela de apagadas cores foscas que intercalavam entre as escuras cores pesadas. Os cabelos brancos desgrenhados, também iluminados por aquela luz esbranquiçada, adquiriam um tom ainda mais pálido sobre aquela perspectiva, transformando toda a figura do veterano em algo ainda mais assustador.

Não haviam associações para o que Suigetsu parecia naquele momento, mas não era nada simplista. Ele não ocupava essa categoria.

Sem estar cercado pelo bando de amigos de sempre, com suas risadas altas e seus comentários sarcásticos, ou estando envolto naquela camada de apreensividade de estudante modelo quando estava em sala de aula, calado e atento a todas as explicações que surgiam, Suigetsu parecia apenas algo novo. Sem a vibe que parecia sempre irradiar do seu corpo em uma promessa silenciosa de festas insanas, madrugadas regadas a álcool e problemas que gerariam boas histórias no futuro.

Sua semana havia sido uma merda, assim como o seu dia. 

Uma parte sua até mesmo esperava que tudo fosse voltar aos eixos quando Sasuke voltasse, mas a volta do Uchiha apenas provou o que seu lado racional já esperava: seu ledo engano.

Na verdade, até mesmo Sasuke estava estranho, mas não era como se ele entendesse aquela cabeça problemática.

— Implorar não muda nada — murmurou.

O rosto feminino torceu mais um pouco, suas sobrancelhas bem feitas quase se tocando tamanha a força que estava fazendo ao crispa-las. O olhar escuro intercalou entre os olhos negros e o brinquedo em suas mãos, feito de um amaneira tão realista que ele próprio não duvidava que eles pensassem que aquilo estava longe de ser apenas um singelo brinquedo — um brinquedo que poderia gerar muitas consequências, além de possíveis traumas e gatilhos para qualquer um que tivesse a cabeça um pouco ferrada. 

Mas, ainda assim, era apenas um brinquedo.

Eram uns fodidos por estarem fazendo uma coisa daquelas, mas tradições eram tradições. Não se importava de seguir algumas, principalmente as mais escrotas.

A garota fechou os olhos. Sentiu certa preguiça vendo aquilo.

— Suigetsu. 

Seu dedo estava sobre o gatilho, roçando perigosamente sobre aquele ponto e pressionando com lentidão. Uma tortura para os olhos assustados a sua frente, e aos cinco pares atrás dela.

Falou baixo, indiferente:

— Hm?

— Sasuke mandou um mensagem.

O rosto da calouro empalideceu alguns tons quando começou a pressionar o gatilho com mais força.

— E então...? — murmurou.

Sentia o calor da própria respiração batendo em seu rosto, além do hálito de café — as balas eram seu pequeno vício, então era difícil se livrar daquele odor costumeiro.

— Ele está com a Konan e quer nos ver.

As sobrancelhas claras, levemente grossas, mas desenhadas naturalmente, crisparam-se. 

Abaixou a arma no mesmo instante, virando-se em direção ao ruivo atrás atrás de si — os olhos azuis foram diretamente para aquelas claras orbes esverdeadas, acomodados em um rosto calmo e que estava indiferente a toda a situação, ao contexto, ao redor de si.

Mas isso meio que fazia parte de quem Gaara era, toda essa calma e capacidade de se ausentar espiritualmente e mentalmente de certas situações — a sua arma jazia esquecida em seus ombros, pendendo solitariamente e sendo sustentada pela alça de couro.

— Agora?

Gaara assentiu em resposta, voltando seus olhos para o celular em suas mãos.

— É, ele quer todo mundo reunido. Parece que é urgente.

Tudo era urgente para Sasuke.

Sentiu seus ombros caírem, pesados pelo desanimado repete que surgiu em si. Suspirou. 

Era a mesma sensação que a de uma foda interrompida. Uma grande merda.

— Aonde? — Gaara assentiu mais uma vez. Suigetsu revirou os olhos, abaixando a própria arma — Ele falou mais alguma coisa?

— Não, só que  quer todo mundo no ginásio. — O Sabaku crispou suavemente suas sobrancelhas enquanto relia as mensagens, logo voltou seus olhos para o Hozuki — É, ele só quer todo mundo no ginásio.

— Ele falou qual deles?

— O que tem as quadras de basquete duplas. 

Suigetsu umedeceu seus lábios, pensando. Batucou seus dedos sobre a superfície escura da arma, olhando para Gaara de maneira ilegível.

— É meio longe, no bloco dois. — suspirou, subindo suas mãos por toda a extensão do objeto em seus braços, chegando até as alças escuras e segurando-as. Começou a passá-las por seu tronco, acomodando a arma em suas costas — Tem noticias dos outros?

Gaara voltou seus olhos novamente para o celular.

— Não, mas Naruto avisou nas última mensagens que ele, Shikamaru, Kiba e Chouji estavam indo para o bloco dois. — voltou sua atenção para Suigetsu — Nenhuma menção sobre qualquer pedido do Sasuke.

Suigetsu erguer seus braços, entrelaçando seus dedos e  alongando-os acima de sua cabeça.

— Vamos ter que andar — abaixou seus braços, virando-se novamente para trás encontrando o que já esperava; calouros estáticos e com os olhos fixos em si. Suspirou. — Vocês tem trinta segundos para correrem em qualquer direção, mas lembrem que grupos sempre são mais fáceis de pegar.

Eles se mantiveram parados como estátuas, não sabia nem como estavam respirando.

Ergueu as sobrancelhas.

— Vão.

A resposta foi 6 calouros desesperados, passando por si ainda com as costas grudadas a arquibancada, apenas para saírem correndo se suas vidas dependessem disso — tropeçando nos próprios pés e sumindo por aquele corredor que ficava atrás das escadas invertidas.

Levou sua mão esquerda até o ponto entre seu pescoço e seu ombro, massageando da melhor maneira que conseguia para o momento.

Gaara se aproximou em passos calmo, silenciosos, e então começaram a andar de maneira vagarosa pelo mesmo caminho que havia sido pisoteado pelo grupo de jovens desesperados.

O ruivo falou com seu tom controlado, suave:

— Você acha que isso vai dar certo?

Suigetsu deu de ombros, usando o máximo da sua sinceridade.

— É a ideia, e eu não acho que o Sasuke vai deixar isso passar batido, ele voltou meio puto com tudo. — enquanto caminhavam os feixes de luz iluminavam aleatoriamente seus corpos, como se estivessem passando em um túnel onde as luzes corriam, acompanhando seus movimentos — Eu realmente não faço ideia do que enfiaram dele, mas deve ter sido uma droga boa os suficiente para fazer com que ele encarnasse o anticristo. — sorriu com aquilo, dando de ombros mais uma vez ao abaixar a mão — Mas isso serviu como motivação.

— Eu não conversei com ele ainda, além daquela reunião que eles fez com todo mundo depois que voltou. — Gaara murmurou calmamente, ambos andando lado a lado — Mas, chutando por cima, ele deve estar parecendo mais Lúcifer, não acha?

Saíram de trás das arquibancadas, sendo recepcionados pelas luzes intensas que iluminavam todo o gramado bem cuidado e que era frequentado pelo ruivo quase durante toda a semana. Ao redor, destoando daquele ponto de luz, Columbia estava quase que completamente escura, tirando alguns perdidos pontos que postes de luz iluminavam solitariamente todo aquele canário solitário.

Continuaram a andar sem se atentar muito com tudo aquilo, já estavam mais do que acostumados.

— Sei lá, ele voltou como a porra de um demônio, mas não era como se não esperássemos por isso — disse com sinceridade.

Depois de um tempo convivendo com as mesmas pessoas diariamente você acaba entendendo o padrão que cada uma seguia, igual como um perfil pessoal de cada, e ele estava na KAY tempo o suficiente para saber mais do que apenas o básico. Entretanto, não era como se precisasse de muito para entender os condicionamentos básicos de Sasuke.

Ele parecia agir mais sob a imersa emoção do que a total racionalidade, por mais que tentasse agir como se fosse alguém de extremo sangue frio. Foi esse um dos motivos que fizeram ele se aproximar de Naruto, além de ser um dos ponto que fizeram Suigetsu simpatizar com ele em uma festa qualquer.

Sasuke era um poço de inconsequência, além de toda a imprevisibilidade, mas ainda era possível notar um padrão até mesmo nisso.

— E Neji? — Gaara indagou, enquanto enfiava as mãos nos bolsos do sua calça e tirava de lá uma cigarreira de ferro. Abriu pegando um cigarro batizado e apanhando o isqueiro que estava no mesmo bolso.

Levou-o aos lábios, segurando-o com a boca enquanto colocava a mão em frente a ele, impedindo que qualquer vento apagasse a chama do isqueiro. Tragou longamente, acomodando-o entre seus dedos.

Suigetsu deu de ombros novamente, o cheiro conhecido da erva carburada sendo nítida ao seu olfato.

— Eu não faço ideia.

Gaara retirou o baseado dos lábios, deixando um rastro de uma fina fumaça cinzenta no ar. Franziu as sobrancelhas, oferecendo o cigarro a Suigetsu.

— Eu acho que é bem capaz que ele saia da fraternidade. — uma cortina de fumaça saiu de seus lábios, mais branca e densa que a dos cigarros conhecidos, demorando-se em diluir-se no ar — Eu sairia.

Suigetsu aceitou, pegando o cigarro.

— Hisashi iria ficar puto só de imaginar isso, foi ele que enfiou o Neji na KAY — deu um trago, repetindo o mesmo processo que Gaara. Segurou a fumaça dentro de sua boca por alguns segundos, antes de erguer sua cabeça e assopra-lá para cima. Semicerrou os olhos por aquela nuvem branca que começou a cair lentamente, densa demais — Ele vai ficar puto só com o Sasuke, o que é de se esperar. Talvez até briguem, não duvido que ele vá tirar satisfações depois disso tudo.

Gaara pegou o baseado novamente quando Suigetsu o ofereceu.

— Eu acho que ele não tem que cobrar nada. — murmurou com o cigarro próximo aos seus lábios, e logo em seguida a tragou. 

— Ele realmente gosta dela. — Suigetsu olhou de esguelha para o ruivo — Ele mudou bastante para ficar com ela, parou de fazer um monte de merda.

Gaara entregou a ponta do baseado para Suigetsu.

— Pode matar, eu não curto o cheiro que fica na minha mão. — Suigetsu não conteve o sorriso, arqueando uma sobrancelha em direção ao Sabaku de maneira provocativa — Não causa, cara. — as gemas verdes rodaram, e Gaara colocou as mãos de volta aos bolsos — Eu ainda não acho que ele deve ir cobrar nada.

Suigetsu tragou mais uma vez, segurando aquele restos de um baseado com a ponta dos seus dedos. Ponderou por alguns segundos, e murmurou por baixo da névoa que saia de seus lábios:

— Eu acho que tanto Sasuke quanto a Mitsashi foram filhos da puta. Responsabilidade afetiva, apenas isso.

Gaara franziu as sobrancelhas, virando seu rosto em sua direção.

— Caralho, aprendeu essas coisas com quem?

Suigetsu não conteve uma careta, mas virou seu rosto na direção oposta a do Sabaku, jogando os restos do cigarro na lixeira mais próxima.

Respondeu meio a contragosto:

— Karin comentou comigo e eu fui ver no Twitter. — olhou de rabo de olho para Gaara, encontrando aquele ar risonho em todo o seu rosto. Revirou os olhos, passando sua língua pela própria bochecha; deveria ter ficado quieto, apenas isso.

— E você e Karin estão próximos desse jeito? 

Foi inevitável não franzir profundamente o cenho, virando seu rosto completamente em direção ao ruivo. Uma reação tão automática que ele só percebeu o que havia feito quando já semicerrava os olhos na direção do bastado ao seu lado.

— O que quer dizer com isso?

Gaara arqueou uma sobrancelha, formando um sorriso de lado em seu seus lábios.

Suigetsu estreitou ainda mais o seu olhar.

— Nada, mas vocês aparentam estar mais próximos.

Manteve seus olhos sobre o Sabaku por alguns segundos, mas voltou-se lentamente para  frente.

O caminho escuro estava vazio, completamente deserto. Mordeu a carne de sua bochecha, focando-se em um ponto qualquer à sua frente.

Lembrou do toque de Karin, do seu abraço e daquelas palavras murmurando rente ao seu ouvido. O amparo tão real, tão humano, que o prendeu na realidade quando estava entrando novamente naquele abismo de paranoias, de um medo intenso e indistinguível. 

Sua voz calma, seu hálito morno e seu abraço que fez parecer que o mundo não era nada além de um lugar vazio.

Um lugar que não tinha o que temer.

Sorriu, mas sentiu que até mesmo isso ficou relativamente mais fraco. 

— Isso é coisa da sua cabeça, estávamos apenas conversando.

Gaara riu de maneira suave, alheio ao estado afetado do platinado — Suigetsu sentiu até certo alívio ao perceber isso.

— Então Karin está apenas domesticado você mesmo.

Suigetsu abriu a boca, soltando uma lufada de ar.

Precisava ter paciência, apenas isso.

Mas nunca havia sido alguém que esbanjasse esses atributos.

— Vai se f-

Um tiro vindo do nada, em algum ponto atrás de si, passou zunindo ao lado de sua cabeça, próximo o suficiente para que ouvisse o barulho da bala cortando o ar daquela maneira. Travou ao sentir seus seus fios chacoalhem, sendo levados por alguns milésimos de segundos, fazendo com um gelo subisse por sua espinha.

Por puro reflexo deu um passo para trás.

Segundos, apenas isso.

Não era alguém religioso, muito pelo contrário. Mas, sinceramente, não havia outra explicação pela maneira que não havia saído sem uma orelha daquilo. Foi inevitável não se sentir confuso, perdido.

Mal teve tempo para questionar alguma coisa, pois outro tiro soou logo em seguida. Novamente sendo salvo por seu reflexo, se abaixou, seguido por Gaara que parecia estar na mesma posição que si; completamente perdido, tão confuso quanto a si próprio. Entretanto, com seu corpo agindo por contra própria e seguindo apenas os estímulos externos, sabia que deveria sair dali.

Agora. Sem mais nem menos.

Se levantou em um pulo e deu uma rápida olhada para Gaara, encontrando nos olhos verdes as mesmas coisas que imaginava estarem no seus; descrença mesclada com a clara certeza de que alguma merda estava errada. Muito errada. Mas, sobretudo, encontrou o que estava esperando, aquela confirmação que mostrava que Gaara estava ciente da situação crítica em que estavam.

Correram, pulando os paralelepípedos do pavimento e subindo na grama daquela área. Embrenharam-se entre as estreitas árvores, não se importando com as poças de lama relativamente grandes que tomavam boa parte do chão de terra, desviando dos poucos bancos que havia ali e pulando até mesmos alguns — Suigetsu engoli em seco ao sentir sua testa já sendo tomada por aquela camada de suor, que secava rapidamente por conta da temperatura congelante, até que atravessou a parte engramada, chegado ao pavimento do bloco 2.

Já ofegava, com seu oxigênio saindo de maneira pesada e quente, mas seus olhos foram rápidos em fazer uma varredura em todo o lugar; o pátio amplo, com quiosques espalhados por seu meio e sendo rodeado por lanchonetes que estavam fechadas. Logo atrás, interligados por aqueles simples caminhos que cruzavam toda Columbia, os enfileirados prédios de blocos vermelhos erguiam gloriosos — divergente de que estavam acostumados, às salas estavam completamente às escuras.

Voltou seus olhos para trás rapidamente, buscando qualquer prova de que estavam sendo seguidos. Se calou, fechando os próprios lábios e extinguindo parcialmente o som da sua respiração ofegante, focando-se em qualquer mínimo sinal atrás de suas costas — desde passos até qualquer conversa.

Gaara fez a mesma coisa que si, olhando para seus olhos e selando os próprios lábios.

Após alguns segundos, quando enfim estavam em total silêncio e com seus corações não pulsando em seus ouvidos, escutaram passos sobre a grama e as folhas secas do chão — tudo soava absurdamente mais alto e, sem querer, conseguiram escutar até mesmos gritos distantes, mesclados com risadas e tiros que estalavam pelo ar.

Mas aquela não era sua preocupação no momento. 

Sua preocupação pisava com suavidade pelas folhas secas, mas que soava como um grito agudo no silêncio da noite. Aproximava-se de maneira vagarosa, até mesmo um tanto quanto cuidadosa.

Voltou sua cabeça para frente, fazendo mais uma varredura com seus olhos por todo aquele lugar. Parou sobre um ponto entre os prédios enfileirados, aquele estreito beco que os separava, e começou a andar naquela direção, seguindo por entre os quiosques e as mesas descobertas, indicando a direção com a cabeça para que Gaara o seguisse.

Foram o mais silenciosos que seus passos rápidos e suas respirações ansiosas permitiram, jogando-se contra a parede tijolos desgastados assim que foram ocultados pela penumbra daquele beco.

Gaara tinha seus olhos algumas polegadas maiores, suas pequenas pupilas negras quase sumindo em meio as lagoas cristalinas que coloriam seus orbes — ansioso como Suigetsu e tendo aquela camada de suor seco por sua pele, o Sabaku sussurrou de maneira nervosa, gesticulando  exasperadamente:

— Que porra é essa? Deram armas pros calouros?

Suigetsu puxou com brusquidão a própria arma, ainda esquecida em suas costas. Encostou na parede atrás de si, intercalando seu olhar para o caminho que haviam seguido, até o cartucho a sua frente — finos pingos de suor escorriam por sua testa, molhando sua franja que roçava em frentes aos olhos cobaltos, focados apenas em conferir o quanto de munição ainda tinha.

Se falassem que estaria passando por aquela situação um dia, provavelmente riria por alguns minutos da cara da pessoa.

Suas sobrancelhas eram apenas duas linhas parcialmente grossas, franzidas e que sombreavam aquele olhar consternado em sua face.

— Quem seria louco a esse ponto? — murmurou — E mesmo que dessem, quantos calouros você conhece que sabem mexer em uma arma de airsoft sem problemas? Até nós demoramos para pegar a prática com isso.

Gaara piscou, novamente incrédulo. Deixou sua cabeça ir de encontro com a parede fria, e seus olhos caindo para um ponto qualquer no chão.

Ambos  estavam lado a lado, olhando perdidos para o chão, ouvindo apenas suas  densas e pesadas respirações.

Até uma risada traiçoeira, beirando uma sensualidade travessa e atingindo tons que eles bem conheciam, chegou aos seus ouvidos — seus ombros tencionaram no mesmo momento, e até mesmo o ar ao seu redor pareceu se tornar mais frio, mesmo que a temperatura do seu corpo estivesse alta o suficiente para fazê-los suar.

Afastou-se da parede, virando-se com receio em direção ao ponto que a risada feminina tinha surgido — buscando apenas uma certeza que já sabia existir, mas que não se deixava acreditar, iludindo a si próprio, prorrogando apenas a constatação do óbvio.

Entretanto, como já esperava, estava certo.

Akari surgiu com suas pernas esguias, com a pele negra brilhosa e sendo um pecado aos olhos de qualquer que acabasse afeiçoado por aquele corpo e até mesmo sua voz. Seus pés calçados por um simples tênis, vestida literalmente de negro — destacando por completo em meio aqueles profundos tons escuros, seus longos fios ruivos, presos em um simples rabo de cavalo, chamavam a atenção para toda sua imagem.

Mas não isso que perturbava Suigetsu, mesmo que a beleza da Omega fosse algo capaz de arrancar um suspiro longo de si. O que o atormentava, sendo o motivo que sua boca secou e seus olhos se estreitam na direção da mulher de pele delgada, foi o simples fato que era representava.

Se Akari estava ali era porque as coisas não estavam boas. 

Ela parou em frente ao caminho que ligava o pavimento dos quiosques e lanchonetes aos dos prédios, segurando orgulhosamente a própria arma e passando seus olhos escuros por toda aquela região — Suigetsu se enfiou totalmente no beco, colando suas costas a parede e controlando sua respiração audível.

A voz atormentável, capaz de encantar qualquer pessoa com as suas melodias profanas, soou alto — nítida, clara com límpidas águas dos mares caribenhos, e dando-o a certeza que ela sabia que estava sendo ouvida.

— Nós já vimos vocês, não tem porque se esconderem. Não precisam ficar tímidos — Suigetsu olhou para Gaara, colocando o indicador na frente aos lábios e sinalizando para o ruivo fazer silêncio. — Vieram ajudar o resto dos seus amigos? Que lindo, não sabia que vocês levam a sério essa história de irmandade. — a provocação foi um dos pontos que fez Suigetsu se inclinar lentamente, saindo minimamente do seu esconderijo e buscando aquela garota com seus olhos.

Encontrou mais do que gostaria, mas apenas confirmando mais uma de suas certezas; aos poucos, vindo da mesma direção que a ruiva havia surgindo, as mulheres de passadas lentas chegavam de maneira vagarosa. Contou 4 rapidamente, incluindo a ruiva exibicionista nesse meio.

Elas nunca andavam sozinhas, mas era uma covardia um grupo contra apenas uma dupla. Entretanto, não chegava a ser uma surpresa — crispou seus lábios, murmurando tão baixo que nenhum som saiu de sua boca. 

— Vocês não vão sair? — Akari mudou o peso de uma perna para a outra, aguardando por alguns segundos. Deu de ombros, o princípio de um sorriso surgindo em seus lábios carnudos e pintados com um vivo carmesim —  Certo, isso vai deixar as coisas ainda mais interessantes — Colocou as mãos ao redor dos lábios, gritando para que qualquer um escutasse — Ei, meninas, venham aqui! Hoje vai ser diferente. — abaixou lentamente suas mãos, arqueando uma sobrancelha com prepotência — Hoje o alvo são os Alphas. Todos eles.

Suigetsu fechou os olhos, balançando discretamente sua cabeça.

— Merda.

Mil vezes merda.

Voltou a abrir os olhos quando escutou novamente o som de passos, inclinando-se de maneira discreta e fazendo novamente uma varredura pelo pavimento; as outras 3 garotas que havia contado se aproximavam calmas, do mesmo modo que Akari, tendo seu seus olhos felinos passando por todo aquele ponto e com as armas sendo seguradas em frente aos seus corpos.

Buscavam algo.

Buscavam eles.

— Gaara, vamos sair daqui. — murmurou, desencostando-se da parede, mantendo os olhos presos aquela pequena confraternização. Elas pareciam esperar algum sinal, como um bando de cachorros treinados — Venha, precisamos sair daqui.

O ruivo assentiu de maneira solene, tomado por um completo silêncio repente. Ambos começaram a andar em direção a saída daquele beco, em passos cuidadosos e evitando fazer qualquer barulho que fosse.

Suigetsu se virou, sendo acompanhado por Gaara, prestes a correr.

Akari gritou em seu tom humorado, sabendo muito bem que estava sendo ouvida:

— Vamos ver quem vai ser preso essa noite, Aphas!

Era agora ou nunca.

Saíram daquele beco o mais rápido possível, a máxima velocidade que conseguiam, pouco se importando em olhar para trás ou ao redor. Correram como loucos, pulando por cima dos  bancos de concreto e torcendo silenciosamente para que não recebessem a merda de um tiro.

Não demorou mais do que alguns segundos para que elas começassem a vir em sua direção, e muito menos para que os tiros começassem a rolar; rápidos e barulhentos, que passavam próximos demais da sua cabeça. Perigosamente próximos — Suigetsu mordeu o lábio inferior, apertando com mais força a arma que tinha em mãos.

Não conseguiria atirar até que estivesse em uma posição boa. 

Virou a cabeça rapidamente, apenas alguns milésimos de segundos, semicerrando os olhos em direção a elas; o grupo pequeno que corria em sua direção, tendo como folga apenas alguns metros de distância e intercalando as paradas para poderem mirar e atirar — uma pequena fresta entreabriu seus lábios, chocado.

Voltou seus olhos para frente, mas teve pouco tempo para reagir a tudo aquilo — poderia ser que seus reflexos enfim se mostrassem mais lentos, mas acabou esquecendo por completo que havia uma placa no meio do cruzamento de caminho. Tropeçou ao tentar parar, escorregando no concreto e sentindo a sola do seu tênis raspando sem dó pela superfície cinzenta.

Tiros voltaram a zunir perto de si, acertado-o de raspão na pele suada de seu rosto. 

— Ai. — resmungou, sentindo meus olhos lacrimejarem. Levou suas mãos rapidamente para seu rosto, pressionando a área atingida.

Ergueu seus olhos, pousando-os sobre aquela placa desgraçada que deveria ter sido posta ali pelo próprio diabo.

Gaara se abaixou ao seu lado, puxando seu braço com força.

— Merda, Suigetsu! Vamos logo, porra! — rosnou, puxando-o para cima.

Sentiu-se um boneco de pano por alguns segundos mais leve do que estava acostumado, o que era de se esperar já que o Sabaku tinham muito mais massa muscular que ele, principalmente pelo fato de que o ruivo fazia parte daquele time de futebol que faltava injetar carboidrato em suas veias. Entretanto, enquanto era puxado em direção ao caminho que os levaria até o pátio principal e a cúpula, seus olhos ainda estavam sobre aquelas placas.  

Não se moveu. Pelo menos não por contra própria, mas travou seus pés no chão, impedindo que fosse arrastado por Gaara.

Na verdade, olhando uma ultima vez para a placa, fechou sua mão ao redor do braço de Gaara e o puxou na direção oposta.

Um tiro passou de raspão pela sua perna, Suigetsu olhou para os orbes consternados do ruivo.

— Vamos por esse lado.

Sem dar tempo para que ele o respondesse ou fosse contra a sua ideia, Suigetsu começou a correr na direção oposta a qual o Sabaku estava pensando em seguir — suas pernas haviam sido salva apenas por aquela calça de tecido grosso, mas tinha certeza que um hematoma se formaria em sua pele, pois sentia uma ardência intensa no local em que a bala de borracha havia batido.

— Que merda você está fazendo, Hozuki?! — Gaara gritou, seu rosto contraído por qualquer coisa que ele estivesse sentindo.

Suigetsu não conseguia entender nem mesmo a si própria com toda aquela carga de adrenalina correndo por si, quem dirá entender o Sabaku — coisa que já não conseguia, e normalmente não queria, em dias normais.

Sua perna ardia como se tivesse acabado de mergulhá-la em litros de água fervente, piorando ainda mais o resto de paciência que ainda tinha.

Falou alto, tentando não se afetar pela maneira que estava mancando:

— Sasuke falou para irmos para o Ginásio, então vamos para o Ginásio! . 

— Você ficou louco, porra? — Gaara gritou em resposta.

Talvez estivesse mesmo, mas pouco importava naquele momento. Queria apenas sair sem mais nenhum tiro, seguir aquele plano insano de Sasuke e encerrar de vez com aquela noite — mas não conteve a revirada de olho ao escutar aquele escândalo do Sabaku e todo seu desespero palpável, agindo como se ele próprio não estivesse passando por uma montanha russa de emoções. 

A única diferença era que, infelizmente, tinha outras prioridades no momento.

Viraram em mais um curva, passando por um túnel escuro de árvores, onde os galhos se encontravam e entrelaçam-se acima de suas cabeças, não mudou um ponto sequer do ritmo animalesco que seguiam — os orbes azuis estavam rodeados por finos vasos vermelhos de sangue, intensificando ainda mais aquele globo azul que estava focado no ponto de luz logo  a frente.

Iriam chegar em um campo menor, usado apenas para treinos de menor importância, e onde, logo a frente, estria o ginásio os esperando de portas abertas — provavelmente arrombadas.

Era isso, já estavam próximos o suficiente — um onde de ânimo nasceu em seu peito, distraindo-o até mesmo daquela dor em sua perna.

Saíram no túnel de árvores, correndo como loucos, respirando como animais e suados como se acabassem de cor uma maratona. 

Entretanto, erguendo seus olhos e tendo seu próprio coração desacelerando-se lentamente em seus ouvidos, conseguiu ver e escutar aquela cena a sua frente — sua boca, com seu lábio inferior cortado por conta de todas as mordidas que havia infligido a si mesmo durante o dia, abriam-se em choque.

Parou de correr, indo para um trote e, enfim, parando no meio daquele pavimento — tendo os mesmos quiosques que era espalhados pelo campus, entre os últimos dois prédios de tijolos vermelhos daquela área, mas que não serviam para nada mais além  da administração dos cursos daquele bloco.

Entendeu o que havia rodado por sua cabeça após as primeiras duas horas de trote:.

O motivo de todo o campus estar em silêncio.

O motivo de não teres vistos outros fraternos.

O motivo de estarem levado um monte de tiros em suas costas.

Ali, parecendo uma verdadeira zona de guerra, estavam as três fraternidades reunidas; os tiros soavam abertamente, assim como os gritos e os xingamentos pesados, do tipo que estava descobrindo apenas naquele momento, sendo gritados por cima de todo aquela poluição sonora — não teve capacidade de piscar enquanto pontuava silenciosamente tudo que estava sua frente, todo aquele caos que o fez engolir secamente a saliva que se acumulava em sua boca

Pareciam um bando de demônios que haviam saído dos confins do inferno.

Não, não.

Ali era o inferno, e aqueles demônios estavam apenas em seu habitat natural.

Passou alguns segundos ainda preso a todo aquela terra, e ninguém parecia ter chegado a notar a sua presença e a de Gaara. Mas como tudo em sua vida, escutou o som do tiro, entretanto, não havia sido ele o alvo da vez.

Gaara deu um tranco para frente, apoiando-se em seus joelhos que estavam flexionados. Suigetsu franziu as sobrancelhas, assustado, até vê-lo erguer a mão até a nuca e a puxar lentamente, levando consigo um fino rastro de sangue.

Os orbes verdes desceram até a própria mão ensanguentada, demorando-se ali por um tempo até subir novamente para os olhos azuis de Suigetsu — arregalados, um destaque em toda a sua face suada e imunda.

— Puta merda. — Gaara sussurrou, piscando lentamente.

Suigetsu foi rápido, enfiando-se abaixo do ombro de Gaara e apoiando o braço tatuado ao redor do seu pescoço — crispou os lábios ao fazer uma força considerável para levantá-lo, tendo que apoiar sobre a perna que ardia como se fogo corresse pelas suas veias.

O suor escorreu lentamente, surgindo em suas têmporas.

— Gaara? Ei, Gaara! — mexeu seu ombro, fazendo com que o corpo do ruivo balançasse. As pálpebras sardentas se abriram e as gemas verdes, nitidamente atordoadas, pousaram em si. — O que você está sentindo? 

Gaara falou baixo, de maneira mole:

— Uma tontura.

Suigetsu revirou os olhos, mordendo com a ansiedade os seus lábios. Era disso que precisava para  terminar de foder tudo.

Virou sua cabeça para trás, apenas para confirmar que aquelas loucas agora vinham caminhando em sua direção, torturando-os com aquela apreensividade que queimava em seu peito — voltou sua atenção para frente, pressionando seus lábios e olhando ao redor.

Tinham que ter acertado na porra da nuca do Sabaku. Era óbvio que elas iriam fazer uma merda daquelas.

Escutou um assovio alto, agudo e que seria sobressair-se a toda aquela barulheira infernal.

Franziu as sobrancelhas, olhando para o ponto entre os dois últimos prédios de blocos vermelhos daquela parte — forçou sua vista, mas acabou se assustando quando uma bala acertou o concreto próximo ao seu pé. 

Engoliu em seco, voltando a olhar para aquele ponto, justamente no exato momento em que outro assobio soou.

Semicerrou seus olhos.

— Desgraçados... — murmurou, tendo enfim um sorrindo despontando em seus lábios. Umedeceu aquela pele seca, sacudindo Gaara mais uma vez. — Consegue correr?

O Running back voltou sua cabeça para ele com lentidão, algo que não ornava em nada com toda a situação, mas Suigetsu respondeu apenas com um erguer de suas sobrancelhas.

Gaara riu roucamente, murmurando:

— Eu tenho escolha?

Suigetsu sorriu, voltando a olhar ao redor.

— Definitivamente, não.

Outro assobio soou, alto e agudo como os outros, mas que foi acompanhado de um sequencia frenética de tiros. Um sinal.

Não esperou mais nada.

Cruzou aquele pátio em passos trôpegos, arrastando Gaara que pesava mais do que seu corpo sedentário poderia aguentar, e passando pelos quiosques e misturando-se a todo aquele caos — diferente do que havia esperado quando bateu os olhos em toda aquela bagunça, encontrou em grande maioria um bando de calouros perdidos e meio revoltados, mal sabendo segurar as armas pesadas e que faziam um belo estrago quando usadas.

Entre eles, escondendo-se como os ratos que eram, os Betas  e as Ômegas circulavam como animais cercando uma presa. Atiravam de volta, em direção origem de tiro incessantes, dando a oportunidade que Suigetsu precisava.

A luz dos grandes refletores oscilava, entrando em um jogo de pisca pica, deixando todos ainda mais tensos.

Atravessou da melhor maneira que pode, empapado sua camisa por conta do suor e deixando seus cabelos pingando, caindo em frente ao seu rosto — cruzou o beco largo entre os prédios, não se importando em deixar seus ombros caíram quando se viu sendo cercado por aqueles rostos conhecidos. Ou que pelo menos que pareciam conhecidos.

Sua visão estava meio péssima depois de correr mais do que estava acostumado.

Seu corpo, suado e pesado, caiu contra a parede, e suas costas escorregaram com lentidão pelo material desgastada. Gaara, ainda meio baqueado, foi arrastado por si.

Sua respiração e seu coração eram as únicas coisas que conseguia ouvir, e a dor no meio do seu peito competia com aquela aparência em sua perna.

Respirou profundamente incontáveis vezes, até erguer sua cabeça lentamente — uma tontura estranha o atingiu, e não precisava da experiência de vomitar ali —, acomodando-a com cuidado na parede atrás de si.

Analisou os rostos à sua frente com atenção: Naruto, Shikamaru e Kiba estavam da  mesma forma que si mesmo — suados, com os ombros meio caídos e suas feições claramente consternadas —, com seus olhos multicoloridos atentos  qualquer mínimo movimento que fizesse.

Passou seu olhar por cada um.

Ergueu uma sobrancelha, murmurando com sua voz repentinamente rouca:

— Que porra aconteceu?

Naruto desviou seus olhos para Shikamaru, sendo seguido por Kiba. 

Suigetsu não mudou suas expressões, com seus olhos atentos aquilo a sua frente.

Shikamaru suspirou, piscando com preguiça — ou cansaço, não saberia dizer — e desviando seus olhos rapidamente para o ponto mais a frente, no início do beco. Suigetsu, mesmo com seu corpo sentindo os efeitos da adrenalina sumindo aos poucos, virou a cabeça na mesma direção que o Nara.

Crispou as sobrancelhas, forçando até mesmo uma piscada — apenas para ter certeza que não estava delirando. Mas, realmente não estava, pois Shikamaru assentiu em direção a Neji e a Sai.

Eles apenas olharam para o Nara, para logo em seguida voltaram a se encostar contra as paredes e atirar em direção ao tumulto do lado de fora daquele pequeno esconderijo.

Suigetsu manteve os olhos naqueles dois por alguns segundos, antes de voltar sua atenção para a frente e encontrar os olhos escuros do moreno. Shikamaru tinha a alça de suas alma transpassando seu peito, tendo-a acomodada em suas costas.

— Estávamos aqui apenas porque vimos um bando de calouros vindo para cá, mas no meio do caminho começamos a perceber que tudo estava silencioso demais. Estávamos perto do prédio de Marketing quando as Ômegas apareceram, e o final você já deve ter imaginado. — ergueu suas mãos, levando-as até os cabelos medianos e arrumando-os de volta ao costumeiro coque — Agora só precisamos saber quem foi o desgraçado que falou demais, porque não tinha como eles saberem que estávamos planejando tudo isso. 

Desviou seu olhar rapidamente, parando nas costas do Hatake — focado demais em manter qualquer um distante da entrada daquele beco.

Já tinha até uma sugestão de quem poderia ter sido.

Voltou-se para Shikamaru, murmurando no mesmo tom:

— E o Sasuke? 

O Nara abaixou os braços, dando de ombros. Encostou suas costas na parede atrás de si, com a camada de suor seco reluzindo em sua testa, evidenciando o vinco que apareceu entre as suas sobrancelhas.

— Eu não falo com ele a algum tempo, quando ele indo atrás da Konan — ergueu suas sobrancelha, soltando uma lufada de ar por seu nariz. — Ele só me avisou que estava indo com o Itachi atrás da Mitsashi, e depois desligou na minha cara

Qualquer coisa que Suigetsu houvesse pensado naquele momento havia acabado de escapar da sua cabeça. Abriu os lábios, meio chocado.

— Itachi? — Shikamaru assentiu com a cabeça. — Itachi Uchiha? — assentiu mais uma vez. Suigetsu piscou mais uma vez, não mudando sua incredulidade. — Eu... eu achei que ele tinha resolvido as coisas com a Konan sozinho — voltou seus olhos para as orbes castanhas  a sua frente. — Ele falou que estava vindo com ela para cá.

E parecendo estar seguindo alguma atuação de quinta, as expressões de Shikamaru beiravam a igualdade com as de Suigetsu. Até mesmo deixou seus ombros caírem, junto com seu queixo.

— O que?!

Naruto que estava calado até então, preso em uma carranca que Suigetsu não se importou em analisar, deu um passo à frente. Seus orbes azuis estavam ilegíveis, mas pousados sobre o Hozuki..

— Sasuke vir aqui vai ser suicídio, é a cabeça dele que esse caras querem. 

Suigetsu sorriu de maneira branda, mas que passava a clara sensação de que algo estava errado — talvez pela maneira um tanto quanto discreta que seus lábios se ergueram apenas em uma das extremidades, ou como os olhos azuis se estreitaram em direção a Naruto. 

— E esse é a sua preocupação? Sasuke faz o que bem entende, na hora que bem entende. E, sinceramente — arqueou uma sobrancelha — eu duvido muito que ele não saiba que a porra de um X-9 soltou essa merda — ergueu seu queixo, deixando com que seu corpo relaxasse naquela posição. — Ele vai vir aqui de qualquer maneira, ai veremos que merda ele vai querer fazer.

Naruto riu de uma maneira mais expressiva, mas que tinha um claro deboche pincelado em seu tom; o modo exagerado, passivo agressivo, apenas fez com que os orbes azuis de Suigetsu estreitassem em sua direção — consciente da posição e que estava, mordeu a própria língua ansiosa dentro da sua boca.

— Nós estamos nesse jogo de gato e rato a horas, e por mais que Sasuke tenha planejado essa merda toda, eu duvido que ele consiga pensar em uma saída para isso daqui. — Naruto abriu os braços, indicando todo aquele beco — Nós vamos terminar sendo presos, ou você acha que o Sasuke é o único que tem planos?

Shikamaru ergueu sua cabeça, murmurando próximo a Naruto:

— Acalma ai, cara.

Naruto tão pouco parecia ter escutado, pois manteve seu olhar sobre o Hozuki.

— Sasuke foi longe demais dessa vez. Longe demais. — ansioso e nitidamente nervoso, levou suas mãos até os cabelos loiros e começou a penetrar aqueles fios dourados com seus dedos esguios. Não contente com aquela simples válvula, começou andar de um lado para o outro — Estamos ferrados, simples assim. Vamos nos foder se essa merda ir para frente, nós foder demais. — os orbes azuis passaram por Shikamaru, Gaara, Kiba e, enfim voltaram-se para Suigetsu — Não estamos em um filmes, tudo isso vai ter consequência.

Sim, teria. Era um ponto inevitável.

Um ponto que foi citado na reunião sobre aquilo, que foi imposto e clareado por Sasuke, além de deixar sobre as escolhas de cada um participar, ou não, de tudo aquilo.

Era uma escolha apenas deles próprios se jogaram ou não em toda aquela merda.

Suigetsu umedeceu seus lábios ressecados, murmura com aquele tom que denunciava seu cansaço:

— Engraçado que você não pensou nisso quando me levou para ver o Sasuke quando ele saiu do hospital, e nem se opôs quando ele falou desse plano da reunião. Você só ficou quieto como sempre, mas agora está surtando porque tem chances da corda apertar para o seu lado. — arqueou novamente uma sobrancelha, mas o resto de seu rosto parecia ter  sido esculpido em pedra — Você é um covarde, Naruto. Por que ainda tenta agir como se conseguisse aguentar toda essa pressão? Como se sua vida não fosse ferrada pelas suas escolhas? — enfim a frieza de Suigetsu abandonou o rosto austero, despontou-se em um sorriso pequeno, de lado — Você age como se fosse melhor que todos nós por não ter nenhuma obrigação, mas todos sabemos como você é um dependente do próprio pai e das suas escolhas. Você é igual a todos nós. — suspirou, voltando a encostar sua cabeça na parede e erguendo seu queixo, fechando seus olhos em direção ao céu — Agora pode parar de surtar.

Mal teve tempo de contar os segundos dentro daquela escuridão.

— Que merda você está falando, Suigetsu? — Naruto rosnou como um cachorro,  fazendo com que Suigetsu abrisse os olhos, mas não mudasse a posição em que estava — O que você sabe sobre mim? Quem é você para falar de mim? — Suigetsu mantinha seu rosto calmo, observando aquela imensidão negra acima de si — Você é o segundo filho problemático dos Hozuki, um fodido mental que enfiou o Sasuke nessa porra de vicio e agora está tentando consertar a própria merda sendo um amigo para todas as horas! Mas, adivinha? Amigos não passam a mão para as merdas que os outros fazem, principalmente as merdas que envolvem todos!

Suigetsu abaixou a cabeça, tendo o início de um vinco de formando entre as suas sobrancelhas.

— Você que não sabe o que está falando, Naruto.

Naruto riu de maneira histérica, movendo suas mãos de maneira exasperada.

— Eu não sei? Suigetsu, você surtou quando viu que o Sasuke quase morreu. Mas todos aqui sabemos que é por causa dessa maldita culpa que você sente. — apontou o dedo de modo acusatório ao Hozuki, ainda sentado com as pernas estiradas pelo chão. Gaara, meio sonolento e pesado, ainda se acomodava em seus ombros — Você não suportou a ideia de que teria uma morte em suas costas, e foi o visitar apenas para saber se ele ainda estava vivo — Naruto deu um passo à frente — Agora está aqui, fazendo toda essa merda e incentivando a insanidade do Sasuke, porque sabe que precisa disso para aliviar essa maldita culpa que carrega. Apenas por isso.

Suigetsu manteve seus olhos sobre os de Naruto, não piscando de maneira alguma.

De maneira lenta, sentindo os olhos azuis do Uzumaki, um tom muito mais claro que o seu, presos a si. começou a se levantar do chão — seu corpo doía, agora livre do calor do momento quando estava tentando fugir dos tiros. Então não se importou em ser rápido, mesmo que soubesse que isso apenas deixasse todo ao ambiente ainda mais tenso.

O único som que corria pelo beco era o das balas, além das palavras trocadas por Neji e Sai, em um dos extremos do beco, enquanto Chouji e Kiba cochichavam o outro extremo.

Mas ali, no meio de tudo aquilo, um silêncio pesado pairava sobre todos.

Murmurou, não alterando seu tom:

— É fácil você falar, não é?

Naruto franziu as sobrancelhas.

— Como?

Suigetsu sorriu de maneira suave, relaxado.

— É fácil para você falar essas coisas, acusar que eu só estou lado a lado do Sasuke por me sentir culpado, mesmo sabendo que ele só afundou a cara em uma carreira  de cocaína por escolha própria. É fácil demais você chegar aqui, com toda essa pose — Suigetsu moveu seus ombros, insinuando que estava caminhando. O sorriso ainda em seus lábios, debochando nitidamente do Uzumaki — e agir como se fosse o garoto de ouro, o dono da verdade. — Suigetsu parou,  o sorriso se extinguindo — Mas todos aqui sabemos que você não é, e todos aqui sabemos que você não é ninguém para falar alguma coisa de nós.

Os pares de olhos azuis se mantiveram fixos, atentos  demais a cada movimento do outro a sua frente. Bestas enjauladas, fervilhando e ansiosas presas atrás de suas grades, sedentas para poderem irromper dali e irem em busca do que mais desejavam; sangue.

Entretanto, contrariando tudo que se esperava, Suigetsu riu de uma maneira mais relaxada ainda — como se estivesse em uma roda dividindo um baseado, contando alguma experiência doida de sua vida.

— Mas, sabe? Dessa mesma droga que o Sasuke usa, essa neve que faz ele fugir da realidade, é só uma das válvulas de escape destrutivas que tem no mundo. — Arqueou uma sobrancelha, sorrindo largamente na direção de Naruto — Por que não me dá dicas de válvulas de escape, Naruto? Afinal, você fugir para o Brooklyn como um garotinho desesperado foi uma maneira, não foi? — Suigetsu deu uma passo a frente, perdurando aquele olhar — Que hipocrisia nos chamar de covardes, mesmo sendo você o garoto famoso por sempre estar fugindo por aí.

Naruto sequer piscou, mas era possível ver os vasos sanguíneos rodeando seus globos oculares, intensificando ainda aquele olhar incisivo e que estava presos as pupilas minúsculas de Suigetsu.

Shikamaru deu um passo a frente novamente, mas seus olhos estavam a um ponto abaixo de Suigetsu — provavelmente em Gaara.

— Merda, Sabaku. — murmurou, se agachando em frente a ele.

Suigetsu pensou em se virar, mas a voz de Naruto voltou a tona:

— Isso não muda o fato de que você enfiou ele nisso.

Os orbes escuros reviraram longamente, fazendo com que Suigetsu até mesmo movesse sua cabeça de uma maneira dramática.

Voltou seus olhos ao Uzumaki.

— Me dê um tiro por esse crime, Naruto — semicerrou seus olhos. — Ou crucifique a si mesmo em meu lugar, babaca.

As sobrancelhas loiras crisparam-se imediatamente.

— Vai se foder, Suigetsu.

O platinado abriu a boca para responder, mas o som de passos raspando sobre o chão — muito mais calmos do que seria caso alguém de fora houvesse entrado naquele pequeno esconderijo — fez com que todos os olhos caíssem sobre o ponto divergente.

Mas antes mesmo de assimilarem a situação a voz naturalmente rouca, baixa, e com uma camada natural de um duplo sentido, soou nítida para todos os presentes:

— Porra, vocês parecem animais.

Suigetsu esqueceu de Naruto naquele momento, assim como todo aquele drama ao redor.

Na verdade seu corpo agiu de uma maneira mais do que natural, em um modo automático desconhecido para si, mas que deveria ter alguma alavanca em seu subconsciente que foi ativada ao bater seus olhos em Sasuke.

Foi para cima dele de uma vez, fechando suas mãos ao  redor do colarinho jaqueta de couro e o jogando contra a primeira parede que encontrou — indiferente ao fato de que, assim como Gaara, se Sasuke quisesse revidar contra si ele não poderia fazer nada além de se defender da pior maneira — e única — que conseguiria.

Não curtia muito brigas, muito menos com pessoas que saberia que iria apanhar. Mas, francamente, naquele momento ele estava cego.

Cego pela raiva que sentia do maldito a sua frente.

E tinha certeza que ninguém ali esperava a sua reação, nem mesmo ele próprio.

— Você tem noção do que você fez? — falou alto, com seu rosto próximo demais aquela face ainda marcada pelos escassos hematomas que sumiram de maneira vagarosa.

Sasuke olhou ao redor, desde a parede que estava sendo pressionado, até as pessoas que o rodeavam — os orbes negros demoraram-se em um ponto em especifico, seguindo a linha que Suigetsu imaginava que levava até o inicio daquele beco. 

Onde Sai e Neji atiravam sem trégua.

As obsidianas voltaram-se para si.

— Me parece tudo bem aqui.

Suigetsu não conteve seu riso nervoso.

— Tudo bem? Tem certeza disso? — apertou mais o colarinho da roupa de Sasuke — Estamos presos na merda de um beco e que eu não faço ideia nem de como você entrou, seu sociopata de merda, e temos esse bando de gente querendo nossas cabeça por causa do seu plano, mas você ainda tem a coragem de me dizer que  está tudo bem?

Sasuke se calou por alguns segundos, mas não desviou seus olhos dos de Suigetsu. Muito pelo contrário, aliás; Os olhos negros mantiveram-se fixos aos raivosos olhos azuis a sua frente.

Murmurou de maneira que somente o platinado o escutasse:

— Eu não esperava por isso.

Suigetsu semicerrou seus olhos, falando por entre seus lábios crispados.

— E algum dia você calculou os danos de suas ações?

Silêncio.

Até Sasuke sorrir, arqueando uma de suas sobrancelhas.

— Eu sei que você já estavam esperando por isso, mas — embirrou as mãos de Suigetsu, afastando-o de si e arrumando sua jaqueta em seguida — eu consegui o que eu queria.

A dúvida se mostrou em um vinco entre as suas sobrancelhas, e Suigetsu sabia que isso não devia estar apenas estampado em seu rosto.

Murmurou:

— Como?

Sasuke sorriu mais, colocando as mãos nos bolsos, voltando sua atenção para o caminho que havia surgido.

— Veja você.

Suigetsu hesitou por alguns segundos, apenas para se virar de maneira lenta e apreensiva, até pousar seus olhos sobre os orbes amarelados e os cabelos púrpuras cortados em um corte moderno.

Sua garganta secou.

Voltou seus olhos para Sasuke, mas ele ainda estava virando em direção a Konan — que tinha uma carranca genuína ao redor de si, deixando até mesmo o ar mais pesado.

— Mas... Meu Deus, que merda você fez?

Sasuke demorou alguns segundos, mas voltou seus olhos para si de maneira vagarosa.

Arqueou uma sobrancelha:

— Mostrei que sou eu quem dá as cartas aqui.


•••

Bloco 1; Columbia University


Dormitório feminino B-1; sábado; 1:41 AM

Estava sentada naquele banco a mais tempo do que conseguiria contar, mas havia sido o suficiente para ver uma boa quantidade de pessoas cruzarem o seu caminho — por mais que não chegasse a prestar atenção, de fato, nas pessoas que passavam a sua frente.

Não sabia muito bem definir o estado que se encontrava, mas sabia que aquilo era o motivo por estar parecendo uma estátua que pertencia a universidade centenária.

Esquecendo até mesmo a própria existência do celular em seus bolsos, ignorando por completo todas as mensagens que chegavam, começando uma sessão de vibrações sem qualquer interrupção, mas que soavam com força o suficiente para ela até mesmo conseguir escutar — duvidava que teria capacidade de responder qualquer uma das coisas que haviam ali, mas ainda se agarrava aquele aparelho como se ele fosse algo que a ligasse a realidade.

Então, enquanto mantinha suas mãos nos bolsos, conseguia sentir cada nova vibração, e cada nova certeza sobre uma onda de xingamentos, questionamentos, e derivados que deveria estava recebendo.

Tentava pensar que tudo aquilo não passava de um pesadelo. Um maldito pesadelo que estava durando demais, perdendo-a naquele mudo assombroso e fazendo que a própria questionasse a sua sanidade.

Mas não era um pesadelo, ela sabia — se beliscar, fechar os olhos com força e segurar a própria respiração haviam sido ações seguidas, desesperadas, mas que tiveram o mesmo resultados que já esperava; nada.

Continuava naquele banco em frente ao seu dormitório, tremendo de frio pela temperatura que abaixava mais a cada hora. Sozinha, olhando apenas para um ponto qualquer à sua frente, mas sem enxergar de fato nada que havia ali — estática, com seu corpo esculpido em pedra, sequer se questionando todo aquele lugar que estava deserto demais, e muito menos se importando com os calouros que passavam correndo à sua frente.

Estava ali, apenas isso.

Seus ombros caídos, seu olhar perdido.  A bela personificação da inércia, mesclada com uma melancolia que parecia deixar o ar até ao seu redor um pouco mais duro, pesado, e frio — estava presa demais dentro de si própria para poder notar como estava sendo óbvia em suas ações, abandonando até mesmo toda aquela fachada que havia custado a sustentar durante aqueles semestres em Columbia

Mas não conseguia se importar com aquilo, não naquele momento.

Tudo parecia raso demais, indiferente demais.

Nada daquilo se equiparava com tudo aquilo que estava sentindo.

Todo o arrependimento, toda  a culpa.

Toda a vergonha.

Pegou o celular no bolso da blusa que usava, ignorando aquele cheiro do perfume masculino que exalava do tecido grosso e que cobria todo seu tronco. Desbloqueou com a sua digital, indo diretamente até a página que estava em pesquisas recentes — o motivo por seu celular estar vibrando incessavelmente, incomodando-a. — Semicerrou os olhos, que arderam por conta da luz forte em seu rosto.

Rolou a página, indo até os comentários. 

Cansado789: Caralho, eu sabia que eles estavam brigados desde a festa do Uchiha. Porra, que vadia.

Amigagostosa: Neji está solteiro? Hm... Tenho que fingir que estou triste?

Universitáriodeseperado: Eu sempre soube que ela só fingia ser uma pessoa boa, ela e a Konan tem o mesmo sangue mesmo. Duas putas.

Aqueladoslivros: Que vagabunda.

Sempacienciaparanomes: Eu espero que ela se foda por causa disso, puta desesperada.

Usúario1234908: Vocês deveriam ter vergonha de falar essas coisas dela, isso é algo que pertence apenas aos dois. Depois vem falar de empatia na internet, bando de hipócritas

Seu nariz ardeu daquela maneira que mostrava que estava prestes a chorar e, sinceramente, não estava ligando em cair em lágrimas da maneira que queria, muito menos no lugar em que estava — em público, sendo alvo de olhadelas para as pessoas perdidas que passavam em frente a si, não disfarçando todo o olhar assustado quando a viam naquele estado.

Só queria que tudo aquilo parasse pelo menos por alguns minutos. Que ela sentisse que não havia ninguém falando sobre si e seu namoro, que não  havia ninguém especulando o que havia acontecido naquele quarto e que não havia ninguém pensando em como ela havia sido uma  vadia por ter transado com dois amigos.

Queria apenas isso.

Paz.

Calma.

Silêncio.

E, principalmente, uma vida sem a internet e sem um vídeo seu sendo um dos pontos altos daquela madrugada.

Apertou o celular, umedecendo seus lábios e erguendo sua cabeça. Olhou ao redor de uma maneira que lembrava alguma maníaca ou uma viciada, mexendo de maneira ansiosa sua perna e engolindo em seco aquela vontade de vomitar, causada pelo seu estômago sensível que doía agudamente dentro de si.

Queria apenas sumir.

Seu celular vibrou novamente. Mordeu sua bochecha de maneira ansiosa, esperando mais uma sessão de linchamentos.

Olhou para céu  escuro, sem estrelas por conta da densa poluição nova-iorquina.

— Por favor, acabe com isso — murmurou, puxando  mais uma lufada de ar.

Abaixou seus olhos, franzindo as sobrancelhas quando viu a notificação chegando na tela, vindo do aplicativo de conversas.

Abriu rapidamente, sem sequer hesitar.

Sasuke Uchiha

Precisamos conversar.

Agora.

Venha até o ginásio do B-2.

01:07

Piscou, atordoada, para depois franzir as sobrancelhas,

Digitou rapidamente com seus dedos  trêmulos, não se importando em parecer desesperada, pois realmente estava.

Não temos nada para conversar.

01:08

Mordeu seu lábio inferior quando os três pontinhos apareceram na conversa, indicando que ele estava digitando.

Parecia  que o tempo estava passando até mais  devagar.

Eu sei que você acha que fui eu, mas eu não  teria  razão alguma para ferrar a relação de vocês.

Eu não me importo com nada que  aconteceu entre nós.

Neji ama você e ele é meu amigo, não tem lógica isso.

01:10

Então por que quer me ver?

01:10

Eu estou com a Konan.

É ela quem fez tudo isso.

Só tem que vir até aqui.

01:11

Você sendo uma pessoa solidária?

Eu não acredito nisso.

O que está pensando, Sasuke?

01:11

Dessa vez a resposta não veio imediatamente, demorou um pouco mais, mas que bastou para deixar Tenten ainda mais nervosa.

Mordeu outra vez seus lábios, respirando da melhor maneira que conseguia.

Eu tenho meus problemas com ela, você tem os seus.

Estou apenas unindo o útil e o agradável.

Venha logo, estamos esperando você.

01:13

Então o online sumiu, tirando a chance que ela tinha de fazer qualquer outra pergunta para o Uchiha.

Abaixou seu celular, olhando para a frente, para aquele grande lugar vazio.

Apertou novamente o aparelho, sentindo-se novamente ansiosa.

Não sabia o que fazer, não sabia para que caminho seguir.

Konan havia passado todos os limites dessa vez, havia mexido com uma parte sua que jamais estaria esperando. Um tiro imprevisível, mas que acertou seu coração em um dos momentos mais inoportunos, atravessando-a sem qualquer impedimento e deixando aquele grande buraco vazio sendo exposto.

Como um troféu amaldiçoado, já que todos conseguiam ver.

O arrependimento doeu tanto em si que tudo que pude fazer foi se encolher, apertando os próprios joelhos e olhando de maneira ansiosa para aquele chão cinza. Apenas isso que conseguia fazer; se diminuir cada vez mais, esperando a chance que poderia sumir dentro de si mesma, afundada em toda aquela vergonha que estava fazendo parte de seu corpo.

Uma camada grossa e que apenas deixava nítido tudo aquilo que já sentia, aquele complô que estava a puxando cada vez mais para um caminho que estava com medo de seguir.

Sua cabeça fervilhava, e de uma maneira que estava destruindo pouco a pouco.

Mas o pior de tudo, entre todas aquelas sensações horríveis, era a certeza mais gritante:

Tudo aquilo era culpa sua, apenas sua.

E não tinha nada que o destruiu mais do que isso.

Levantou sua cabeça ao escutar som de passos, mais algumas risadas femininas. O medo veio a tona rapidamente, nublando até mesmo seus pensamentos.

Não precisava ser xingada mais vezes, muito menos ser motivo de risadas.

Não precisava disso para terminar de se afundar.

Vindo em sua direção e em passos ritmados, um grupo de garotas gargalhavam abertamente. Em suas mãos, como já era de se esperar, viu as armas usadas nos trotes, mas que pareciam apenas brinquedos insignificantes enquanto elas conversavam sobre qualquer coisa.

Sentiu seu sangue gelar ao ver quem eram, endurecendo todos os seus membros de maneira automática.

Torceu para não ser vista, praticamente implorou para qualquer ser divino, mas não foi preciso mais do que 50 metros para que elas notassem sua presença — quase mais rápido do que foi a reação delas ao verem, tendo suas reações perceptíveis para qualquer um ver.

Mas ela não foi masoquista ao ponto de ver o deboche naqueles olhos, então abaixou a cabeça.

Que tudo aquilo acabasse rápido. Que tudo aquilo acabasse rápido.

Os passos se aproximaram.

Que tudo aquilo acabasse rápido. Que tudo aquilo acabasse rápido.

Os passos chegaram à sua frente.

Por favor...

Os passos pararam.

Fechou os olhos, apertando suas pálpebras. 

Merda.

— É... Oi...? 

Levantou a sua cabeça lentamente, olhando primeiramente para o grupo a sua frente, mas especificamente sobre a garota que parecia ter te chamado, pois estava minimamente mais próxima de si que as outras — entretanto, isso pouco importava, pois as outras duas olhavam atentamente para si.

Puxou uma lufada de ar, focando apenas na morena que tinha grossos cachos negros ao redor do seu rosto e concentrando-se em não piorar toda a situação parecendo afetada com toda aquela merda, sobre o olhar atento daqueles orbes castanhos escuros — mesmo que, obviamente, estivesse afetada. 

Sentiu seu estomago revirar.

— Oi — murmurou de maneira baixa, evitando olhar para atrás da garota a sua frente.

Não se sentia confortável sendo alvo daqueles olhares, muito menos queria isso. Se pudesse, pelo menos por aquele momento, tornar-se invisível para tudo e todos.

Principalmente por serem elas que, por mais de não saber seus nomes de cabeça — não se prendia a necessidade de ter que saber de cór o nome de todos que já aparecido na sua vida, principalmente naquele campus universitário —, mas sabia que se tratava de umas das integrantes da única fraternidade feminina que compunha a trindade.

E, definitivamente, não queria ser alvo de nenhuma garota — muito menos um grupo — que eram conhecidos pela pior fama que algumas pessoas poderiam ter. Mesmo sendo uma coisa óbvia, já que estavam falando de uma das fraternidades columbiana.

Todas elas eram podres, sem a menor exceção;

A garota de cabelos cacheados e olhos escuros umedeceu seus próprios lábios, apenas para voltar rapidamente para trás e dar uma olhadela para as amigas novamente — seu estômago revirou novamente nesse meio tempo, mesmo que fosse apenas alguns singelos segundos para todos ao redor.

A voz feminina soou calma, com um certo toque de delicadeza:

— Eu sou a Kurenai e aquelas ali são as minhas amigas — apontou para trás com o dedão, por cima de seu ombro —  Anko e Kin. — abaixou sua mão, voltando a acomodá-la ao redor da sua arma — Nós somos Omegas, mas eu acho que você já deve saber disso. — sorriu minimamente.

Tenten não mudou suas expressões, mesmo quando desviou seus olhos para as garotas atrás das costas  de Kurenai. 

— É, eu sei.

Só queria ficar sozinha, nem que para isso tivesse que soar de maneira ignorante, completamente sem educação — era uma das maneiras mais rápidas de conseguir o que queria, por mais que isso pudesse ter como efeito rebote um bando de garotas revoltadas vindo atrás de você.

Era um risco que teria que correr.

Kurenai umedeceu seus lábios novamente, virando-se para trás outras vez — Tenten engoliu em seco, desviando seus olhos para o início daquela caminho de concreto, obrigando sua cabeça focar apenas naquelas árvores que balançavam suavemente.

Um tosse seca chamou sua atenção, levando seus olhos novamente ao ponto a sua frente.

— Eu só queria dizer que todas aqui achamos muito errado o lance do vídeo. — Kurenai sorriu de maneira discreta, um pouco nervosa — Nós sabemos como é ruim ser chamada de vadia em momentos assim, principalmente por causa de um vídeo exposto.

Tenten piscou, um tanto quanto confusa, mas não mudando seu olhar.

Sua cabeça ficou em branco por alguns segundos.

Não estava esperando aquilo. Realmente não estava esperando sobre aquilo.

— É... — alterou seus olhar entre ela e as outras meninas — Obrigada?

Soou muito mais incerta do que desejava. Muito mais.

— Garota, foi uma tremenda merda o que fizeram com você — deixou seus olhos irem ara trás de Kurenai mais uma vez, caindo sobre uma morena de longos cabelos negros lustrosos, pintados de um tom profundo de negro e que parecia se mesclar a noite ao seu redor. Franziu as sobrancelhas confusa, mais  uma vez. — Ninguém merece passar por essa merda, mas todos nesse campus agem como se fossem  os  reis perfeitos.

A garota ao seu lado, de um apagado tom azul em seus cabelos, respondeu de maneira suave enquanto olhava para o celular em suas mãos:

— Principalmente aquele bando da KAY. Essa universidade é apenas o reflexo dos que  estão no poder dela: um bando de babacas. — fez uma careta, não tirando seus olhos do celular — Eu vou ficar dolorida pra caralho depois de hoje, não nem como vou aguentar o treino.

A morena ao seu lado franziu as sobrancelhas da mesma maneira, dando-se conta de uma dor repente em seu corpo, provavelmente.

— Eles estão fodidos. — murmurou, erguendo seus braços e os alongando — Os desgraçados sabiam que íamos correr no primeiro sinal da policia, bando de escrotos.

A de cabelo azul deu de ombros.

— Akari não sabia disso, fomos apenas atraídas para o lugar errado e na hora errada, Kin. 

A garota que — descobrindo agora — se chama Kin, abriu a boca, mas Kurenai — com seus olhos atentos em direção as duas, assistindo a conversa junto com Tenten — voltou seus orbes para a Mitashi sentada solitariamente sobre aquele banco.

Sorriu de maneira suave.

— Eu espero que tudo fique bem para você. 

Anko, atenta apenas ao próprio celular até então, ergueu sua cabeça rapidamente, deixando seus olhos recaíram sobre a morena sentada.

A voz indiferente soou audível mesmo por aquela parcial distância:

— Temos sempre vagas entre nós, caso queira saber como é ser acolhida — arqueou uma sobrancelha. — Pelo menos pude ver toda essa história como um aprendizado, e um milagre, já que você se livrou de um Alpha e toda a companhia que ele carrega.

Kurenai franziu as sobrancelhas.

— Anko!

Tenten, entretanto, cruzou suas mãos em seu colo e começou a brincar distraidamente com seus dedos, ainda olhando para aquela dinâmica estranha à sua frente.

Abriu a boca uma, duas, três vezes. Mas apenas na quarta que sua voz, ainda incerta e fraca, soou:

— Eu vou pensar sobre isso — engoliu em seco, olhando vagarosamente para as três, deixando Kurenai para o final. — Obrigada mesmo.

A morena de cabelos cacheados manteve aquele sorriso..

— Não se preocupe, ainda tem pessoas que não totalmente babacas nesse lugar — ponderou. — Na verdade tem a Anko, ela é bem babaca às vezes.

— Vai se fuder, Kurenai! — Anko respondeu imediatamente, mas seus olhos ainda no celular.

Kurenai riu, dando de ombros e olhando para Tenten mais uma vez.

— Nos vemos por aí, Mitsashi.

Começou a andar na mesma direção em que estavam seguindo, sendo acompanhada pelas outras duas e suas armas enormes. Conversas logo surgiram, mas Tenten logo se afundou naquela inércia tanto apática.

Observou as costas se distanciando, deixando sua boca ainda mais seca.

Engoliu sua saliva, apertando suas mãos.

Iria se arrepender disso, era óbvio.

Mas poderia fazer? Era sua única opção.

— Kurenai!

Kurenai parou, e Kim e Anko deram alguns passos a frente antes de pararem também, virando-se na mesma direção que a dona de cachos negros.

— Hm?

Tenten passou a língua ansiosamente pelos seus lábios, respirando da melhor maneira que poderia — da maneira mais calma.

— O que... O que vocês viram no bloco dois?

Kurenai olhou para as duas garotas ao seu lado, antes de voltar seus olhos para si.

— Olha... Estávamos todos lá, esperando qualquer chance para podermos meter bala na bunda dos mimados da Alpha. Mas... — ela apertou a própria arma, franzindo as sobrancelhas — do nada apareceram as luzes da polícia e todos nós tivemos que sair correndo. Não fazemos ideia do que aconteceu, nosso grupo acabou se separando — moveu sua cabeça com curiosidade. — Pretende ir para lá?

Tenten deu de ombros.

Kurenai começou a se virar novamente para seguir seu caminho.

— Boa sorte então, você vai precisar.

E as três se viraram, voltando a caminhar até sumirem pelos caminhos do campus.

Tenten abaixou seus olhos, levando-os pelo caminho que as garotas haviam vindo.

Abaixou sua mão, separando seus dedos e deixando que ela se acomodasse no banco frio em que estava sentada.

O vapor saia de seus lábios, mostrando o quão frio estava e que o certo era ir para casa.

Mas ela não conseguia.

Se levantou de maneira lenta, enfiando o celular no próprio bolso.

Olhou para o prédio à sua frente.

Sabia qual era o certo, mas não conseguia.

Apenas não conseguia.

Começou a andar, estalando seus dedos de maneira ansiosa.

Ela estava arrependida, machucada pelas próprias ações, poderia voltar atrás.

Tentaria disso, pois o amava. E, sinceramente, por ele valia a pena engolir qualquer orgulho que ainda tinha.


•••

New York; U. Columbia


B-2; Ginasio; 2:14 AM

Precisava fumar urgentemente.

Sentia até mesmo uma certa agonia quando colocava as mãos em seus bolsos, mas encontrava apenas aquela vazio incômodo que deixava mais claro ainda a falta de cigarros para fumar. Seus dedos ansiosos, sempre buscando aquele maço que já fazia parte do seu corpo, ficavam ainda mais nervosos dentro de suas calças, piorando ainda mais aquela sensação claustrofóbica que sentia.

Queria fumar, beber e enfiar sua cabeça em um  tanque de água, esquecendo por um minuto todo aquele barulhos ensurdecedores. Todo aquele caos desnecessário, e toda aquela necessidade de estar sempre ligado ao seu máximo, sequer dando tempo para que sua cabeça raciocinasse qualquer outra coisa. 

Era meio que um caminho destrutivo para  seu corpo, mas não poderia  fazer muitas coisas para resolver aquilo, além de seguir a corrente — torcendo que, no final, ou caísse para a morte certa em uma abismo, ou encontrasse de vez uma ajuda para toda aquela merda. Porque, sinceramente, não estava mais aguentando aquilo.

Mas sabia fingir, isso era incontestável.

Suspirou, olhando para aquela quadra de basquete a sua frente, aproveitando a escuridão que tomava todas as arquibancadas ao redor, mas que iluminava aquele simples pedaço — como um palco para uma peça de teatro. E, felizmente ou não,sabia que o gênero daquela madrugada seria o mais doloroso drama.

Não gostava, mas sua própria vida era aquilo.

Acomodou suas pernas no banco à sua frente, um pouco abaixo de si, e fechou seus braços ao redor de si mesmo. Estava meio frio, principiante agora que a adrenalina começava a sumir do seu corpo, assim como todo aquele calor que o fez suar em alguns momentos — Não poderia reclamar, mas estava longe de si querer ficar congelando no meio de um campus durante a madrugada.

Só queria alguns cigarros, apenas isso.

Na verdade queria algo um pouco mais exclusivo, mas não poderia. Não quando ainda sentia seu corpo fodido depois da última vez, ou como precisava ficar olhando meia hora pro teto do seu quarto, reunindo todas as suas forças para levantar da cama e ignorar as mensagens em seu celular — as chamadas que deixavam claro a obrigação que deveria seguir, afundando-o ainda mais naquele limbo asqueroso que o deixava cada dia mais enojado consigo mesmo.

Não conseguia se olhar no espelho, não conseguia tocar em seu próprio corpo. E, assim que viu aqueles rastros de cocaína em seu quarto, escondidas em um lugar que nem mesmo Suigetsu saberia encontrar, sentiu sua boca salivar e sua cabeça ficar branca por alguns segundos.

Todas aquelas vozes, todas aquelas palavras, e todas aquelas obrigações sumiriam. Simples assim.

Mas não poderia fazer aquilo novamente, não poderia dar o gosto para os outros.

Escutou passos atrás de suas costas, mas não se mexeu. Seus olhos estavam fixos aquele lugar iluminado a sua frente, especificamente sobre o ponto de cabelos roxos que estava parado bem no meio de toda a quadra, aguardando seu destino como tributo paciente — Konan havia debochado nos primeiros minutos, havia até mesmo gritado, mas agora estava parada olhando apenas para as portas duplas à sua frente.

Alguém sentou a duas cadeiras de distância, ambos sendo envoltos em um silêncio que deixava claro o peso das palavras que viriam a seguir — uma parte sua meio que já sabia o que viria daquilo, mas não seria ele a começar a conversa.

A voz grave soou baixo, apenas para que ele escutasse:

— O que você pretende fazer com isso?

Poderia ter ficado calado, assim como poderia não ter sequer mexido seu rosto. Mas, seguindo o que estava acostumado, murmurou de maneira sarcástica de sempre:

— Isso o que?

Neji foi rápido.

— Trazer Konan aqui, querer que as outras fraternidades fossem presas, fingir que a polícia estava chegando apenas para seguir com seu plano. — silêncio — O que pretende com toda essa merda, Sasuke?

Batucou seus dedos sobre sua perna, seus olhos não ousando de desviarem para o Hyuuga.

— Estou apenas aproveitando meus dias na faculdade.

A resposta veio no mesmo segundo:

— Ou está apenas sendo um grande filho da puta?.

Sasuke arqueou uma sobrancelha.

— Você está aqui, então está sendo um grande filho da puta também. — umedeceu seus lábios, escorrendo um pouco mais naquele banco em que estava — Ou você acha que o peso dessas ações vão só para mim?

Neji se moveu na cadeira, conseguiu ver isso pela canto dos seus olhos.

— Você é que está coordenando tudo isso.

Sasuke se conteve para não revirar os olhos, mas não conseguiu disfarçar o sorriso debochado que surgiu em seus lábios, embebidos por um sentimento tão denso entre deboche, arrogância, orgulho e descrença, que seria impossível defini-lo apenas com um palara.

Era algo que defina o  que Sasuke era;  uma incógnita.

— Eu estou obrigando vocês a participarem disso? — arqueou outra vez sua sobrancelha — Eu só queria saber Neji, sendo sincero, o que você está querendo? — se virou, olhando para o perfil do Hyuuga — O que você quer saber?

A mandíbula de Neji trincou, ficando marcada por baixo da pele levemente bronzeada de seu rosto. Hesitou, mesmo que por alguns segundos, antes de voltar seus olhos para Sasuke — as gemas acinzentadas, aquele azul absurdamente claro, tinha suas pupilas negras parecendo apenas um pequeno ponto quase extinguindo naquelas superfícies geladas de seus olhos.

— Por que você fez aquilo? 

Ah, ali estava. 

O ponto que com que todos hesitassem quando Sasuke apareceu, que fez com que todos alterassem seus olhos entre ele e o Hyuuga, e o que fez com que todos eles ficassem sempre a espera de uma briga quando o Uchiha começou a dar ordens — trazer uma sirene de policia e uma luz em sua mochila havia sido uma ideia pensada justamente para os momentos em que estivessem presos em algum lugar.

Era sempre bom sempre  ter um plano B, ou C, e até mesmo um D.

Não mudou suas expressões, mas sempre havia um ar de deboche que iluminava seus orbes negros. Sabia disso, e sabia que Hyuuga enxerga isso — assim como todos.

— Porque eu quis.

Neji não piscou, não desviou seus olhos,

— Você sabia que eu sempre gostei dela.

— Vocês eram solteiros.

Neji semicerrou seus olhos.

— Você sabe que o ponto não é esse. — um vinco já aparecia entre suas sobrancelhas — Você sabe que eu não me importo com isso, a única coisa que eu queria saber é porque você não  teve  a coragem de abrir a boca para  me contar. 

Os olhos negros se estreitaram em direção ao Hyuuga.

— Nem tudo é sobre você, Neji. — uma pausa, ambos se encarando com intensidade — Nem tudo deve ser comentado, ainda mais sendo algo que não era da sua conta.

As expressões começavam a ficar ainda mais tensas.

— Você só precisava ter me contado.

Sasuke não conseguiu se conter, então uma risada baixa saiu de seus lábios. — jogou a cabeça para trás, não se importando mais em ser discreto.

— Sinceramente, eu não entendo como isso possa ser da sua conta, Neji. — abaixou sua cabeça, voltando seus olhos para o Hyuuga — É passado, não tem relevância.

Sasuke voltou sua atenção para a frente, seus olhos caindo sobre Konan mais uma vez.

O silêncio dando por vez o assunto encerrado.

Até um ponto surgir em sua mente, borbulhando como água fervente, queimando todos seus outros pensamentos — uma curiosidade excêntrica, mas que surgiu em meio a sua mente problemática e que não tinha um padrão fios de ideias. 

Abriu a boca, mas hesitou por alguns segundos. Entretanto, sua vontade e curiosidade eram maiores do que sua noção em relação a aquilo:

— Por que você ama ela?

Neji demorou um pouco para responder, mas sua voz pesada soou lentamente:

— Eu poderia explicar, mas é impossível explicar o amor para alguém que não sabe o que são sentimentos.

Sasuke abaixou seu olhar, levando-os até as portas duplas no exato momento em que ela se abriram, mostrando Tenten — com seus cabelos bagunçados, rosto inchado e a clara certeza  que havia chorado muito antes de chegar ali — atravessando-a.

Nesse momento esqueceu a existência do Hyuuga consternado ao seu lado.

Ela demorou alguns segundos observando todo o lugar, mas como estava tudo escuro — somente a quadra sendo iluminada — os orbes castanhos logo caíram sobre o ponto destaque; Konan.

As expressões femininas torceram desgostosas, indo para a descrença, depois para a melancolia, para enfim chegar ao que Sasuke tanto esperava; a raiva.

Se moveu na cadeira, arrumando a própria postura.

Seu celular vibrou, mas sabia que deveria ser apenas Suigetsu avisando  que já  estava gravando. 

Então que começasse o show.

— O  que você está fazendo aqui? — Konan, contrariando tudo que esperavam, falou de maneira histéricas, se levantando rapidamente da cadeira que estava sentada. — Você deveria estar no seu dormitório.

Tenten tinha suas expressões muito claras, mas ao ouvir o tom de Konan e suas palavras, tornou-se ainda mais nítido tudo que ela sentia — a raiva, antes já gritante, agora  sobressaia-se a tudo que a garota sentia.

Deu passo à frente, se aproximando da irmã que estava no centro da quadra.

E contrariando o que suas expressões mostravam, Tenten falou da maneira calma.

— Não queria me ver, Konan?

A Mitsashi de cabelos roxos não desviou os olhos da irmã, seus olhos atentos a cada mínimo movimento a sua frente.

— Nós podemos conversar sobre isso depois.

Tenten riu, sua voz soando por todo o ginásio silencioso, e se aproximou ainda mais.

— Nós podemos conversar? Nós? — ela parou, erguendo uma sobrancelha — Engraçado, eu não lembro de você ter me chamado para conversar quando postou aquele vídeo, nem como isso poderia mexer com meu relacionamento, e muito menos os tipos de comentário que eu teria recebido. — sorriu, mas de uma maneira mais fria, por mais que seus olhos mostrassem que a frieza estava longe de ser o que a morena sentia — O que você vai  querer conversar agora, Konan?

Ela deu um passo para trás, segurando a cadeira a sua frente.

— Tenten, podemos fazer isso depois?

Sasuke alternou o olhar entre as duas, batucando seus dedos no próprio celular.

Tenten umedeceu seus lábios, antes de abri-los novamente em um sorriso. Seus olhos estavam abaixados, mas elas os ergueu de volta para Konan.

— Sabe, eu não faço ideia qual é a sua. — abriu a sua boca, rindo de maneira frouxa — Sério, eu acho que preciso de ajuda para te entender, — Tenten passou a língua pelos seus dentes, olhando ao redor — Você criou a merda de um mundinho seu para superar toda sua  história de caloura, e tá tudo bem, sabe? É sua válvula, então eu estou pouco me fodendo. — Tenten riu de maneira esganiçada, balançando sua cabeça — Mas você começou a foder a vida dos outros, sendo essa maldita escrota que está sendo agora. E, porra, por sua causa eu to fodida na porra do meu relacionamento, porque você sempre tem que ser a rainha das atenções!

Konan abriu a boca, gaguejando:

— Tenten, por fa-

— Por favor o caralho! — Tenten quase gritou, gesticulando exasperadamente — Você á uma escrota do caralho, Konan! Eu estou cansada de você, estou cansada das suas merdas e estou cansada da maneira como você quer ser a maldita  rainha usurpadora de todo esse lugar! — Tenten riu, jogando a cabeça para trás — Mas, sabe? A única merda que você está conseguindo ser é a puta da corte que ninguém aguenta mais, que vive de fofocas e picuinha para se sustentar, porque sabe que sem isso não é merda nenhuma!

Konan torceu suas expressões, e Sasuke não soube identificar aquilo como raiva  ou dor. Entretanto, ela saiu de trás da cadeira e se aproximou de Tenten, apontando para ela.

— Eu fiz isso por você, sua ingrata! Só por você!

Tenten riu mais alto,falando de modo risonho:

— Por mim? Sério? Como você poderia fazer algo por mim sendo que foi você a culpada dessa merda toda? — ela se aproximou, enfiando o dedo no peito da Konan. — Como pode ter sido por mim, sendo que eu estou destruída agora por conta da merda que você postou?

Konan abriu a boca, mas falou de maneira baixa:

— Foi por você, Tenten — ergueu seu queixo com orgulho, indiferente ao brilho de lágrimas em seus olhos — Mas se você não é capaz de me agradecer eu estou nem aí, pelo menos minha consciência está limpa.

Tenten a mediu de perto, até rosnar próxima ao rosto da irmã:

— Vai se foder, sua pu-

Foram interrompidas pelas sirenes conhecidas.

Sasuke ergueu sua cabeça no exato momento, olhando ao redor em busca de qualquer resposta  para interrupção do seu show, até encontrar Suigetsu do outro lado — o Hozuki começou a mexer seus braços de uma maneira estranha, fazendo que Sasuke semicerrasse seus olhos.

— Mas que porra... — resmungou, ainda tentando entender.

E quando entendeu percebeu que uma luz havia aparecido na sua cabeça, fazendo com que levantasse em um pulo — ignorando as dores agudas que atingiram seu corpo, ou até mesmo a vontade de ver onde toda aquela história iria parar

— A policia, porra! — Gritou, começando a pular as cadeiras das arquibancadas e indo até o chão. — TODO MUNDO PARA FORA! 

E todos, sem exceção, começaram a correr como loucos para fora daquele lugar, indo em direção às portas dos fundos.

Estavam fodidos.

Realmente fodidos.

...

Correu como um louco por minutos que se arrastaram como horas.

Embrenhou-se entre as árvores daquele lugar, se dispersou de todo o grupo e mandou que todos se encontrassem na fraternidade quando tudo estivesse se acalmado.

Simplesmente correu, quase morrendo sufocado em alguns minutos e tendo uma dor horrível em seu peito. Enfiando-se entre os prédios, tomando cuidado em não bater de frente com nenhum outro grupo de Betas ou Ômegas, e se atentando a qualquer barulho passos atrás de suas costas — principalmente se estivessem correndo, já que havia uma grande chance de serem um policiais.

Ele tinha muitas pessoas querendo sua cabeça naquele dia, não estava precisando de mais outro problema para se preocupar. Mas, infelizmente, as coisas não seguiam como ele queria.

Correu como um louco, tendo sua cabeça — mesmo quando agia apenas para livrar a própria pele  — fervilhando por pensamentos que estava lutando para evitar desde que havia acordado no início da semana no hospital — o motivo que o levou a fazer tudo aquilo, o motivo que o arrastou para todo aquele caos.

O motivo por estar apena querendo fugir. 

Mas não dos outros, apenas de si mesmo.

Até parar em um ponto qualquer, quando suas pernas já não estavam mais aguentando e sua cabeça estava pesando. Sua vista, mesmo em meio todo aquele breu que se apossava de Columbia, estava tomada por pontos negros que cresciam cada vez mais, quase se apossando de todo seu campo de visão.

Estava cansado, e não se referia apenas pelo seu corpo.

Sabia do que precisava e que lhe daria energia para sair dali, e ainda lidar com todas as consequências que viriam após suas ações.

Não estava mais ligando para nada, não estava mais enxergando direito.

Parou, se abaixando e levando suas mãos até seu tênis, buscando aquele pequeno pacote  de felicidade comprada — feito dos restos que havia encontrado no quarto —, de maneira afoita, ansiando por aquela pequena droga que já deixava seus dedos trêmulos apenas pela ideia de prová-la novamente. Ergueu seus olhos apenas para certificar que ninguém estava vindo em sua direção, e que poderia se drogar da maneira que desejava.

Mas parou no meio do caminho quando encontrou algo em meio a sua varredura.

Por estar com sua vista comprometida, além de ter certeza que poderia estar alucinando, ainda mais que o campus estava coberto por aquelas camadas de penumbra, que acabou piscando várias vezes consecutivas — apenas para ter a certeza que não estava imaginando nada, e muito menos que estava conferindo as pessoas em sua frente.

Puxou uma grande lufada de ar, fechando seus olhos por alguns segundos e forçando-se a ficar sóbrio de qualquer coisa que pudesse ter ingerido por mais que não se lembrasse de ter usado nada muito forte, e alguns goles em uma vodka não iria deixá-lo naquele estado.

Então, abriu os os olhos. 

E não sendo um delírio, ou um vulto da noite, nem mesmo uma brincadeira sem graça da sua vista comprometida, encontrou quem menos esperava.

Sakura.

E ela não estava bem.

Não soube o que fazer. 

Por alguns segundos apenas ficou a encarando daquela maneira, sentada sobre o paralelepípedo e sendo uma personificação do fracasso pior do que ele mesmo estava sendo, e isso por si só já era algo que deixaria qualquer pessoa alarmada. Mas, sobressaindo-se até mesmo a esses detalhes, havia algo mais ali.

Definitivamente ela não estava bem.

Hesitou, não sabendo se deveria ou não se aproximar. Afinal, para ele — com seu conhecimento quase zero daquela garota — Sakura era uma pequena bomba relógio com seu cronômetro ativado, repelindo tudo e todos que chegassem perto de si.

Uma mulher de várias faces, mas que conseguia ser incrivelmente marcante em todas elas. Pelo menos as que ele tinha visto.

Talvez fosse esse o motivo que o fez se aproximar, mesmo sabendo que ela provavelmente iria se fechar naquele casulo impenetrável. Talvez fosse isso que o deixou instigado — ao ponto de retirá-lo daquele estado que estava — imerso em todas aquelas camadas e mais camadas de problemas que o compunham.

Era engraçado.

Sakura parecia aparecer no seu caminho sempre quando estava a um passo de de jogar de vez daquele abismo, que sempre estava perto, rondando como uma criança curiosa e arteira — esperando hora que fosse tropeçar e cair de vez naquele buraco escuro, sem chances de volta.

Então se aproximou de maneira lenta, insegura, nitidamente acabado e destruído.

Até parar em frente a ela, a alguns poucos metros de distância.

Sakura exalava um fedor de álcool muito forte e seus olhos, pesados e embargado pelo álcool, demoraram para notá-lo.

Estranhamente ela sorriu, e ele não soube entender o que sentiu. Mas pouco teve tempo pra entender, pois a voz mole, nitidamente alcoolizada, soou:

— Oi, Sasuke.


Notas Finais


Sigam meu insta de autora: @alaska_rsd


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