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História Minha ômega - A psicologia dos esquecidos


Escrita por: Baddon

Notas do Autor


O QUEEEEEE

128 FAVORITOS EM APENAS UM CAP?
Minha gente, vcs querem infartar a escritora aqui?
Eu quero agradecer a todos vcs! Eu não pensei que a fic passaria de 20 favoritos, imagine passar de 100.

Vcs são maravilhosos e por causa disso tentei trazer um capítulo o mais rápido possível!

Ahh, vou agradecer a Luiza pela maravilhosa capa ♡ ela está sempre me salvando nesse quesitooooo

Capítulo 2 - A psicologia dos esquecidos


Capítulo 2 - A psicologia dos esquecidos

O sonho é uma realização disfarçada de um desejo suprimido – Sigmund Freud.

 

[Ponto de vista de Sasuke Uchiha]

Eu estava concentrado em meu livro. Contudo, senti que estava sendo encarado por duas esmeraldas curiosas. Deixei o livro de lado e a encarei quando não consegui mais ignorá-la.

Sempre fui observado fixamente, mas por que o olhar dela me deixa inquieto ao ponto de não conseguir ler um simples parágrafo sem ser interrompido por devaneios?

Curioso.

Sakura desviou o olhar no momento que devolvi a sua encarada. Entendo que talvez ela queira algum passatempo devido ao acontecimento anteriormente. Por causa disso, eu fiz a seguinte proposta;

- Quer assistir um filme? 

Não havia segundas intenções por trás da simples pergunta. 

Eu raramente vejo algum filme. Diante disso, vi-me surpreendido quando as quatros palavras saíram da minha boca sem relutância.

Mas, novamente, repeti mentalmente que era para ocupar os pensamentos dela com algum passatempo bobo.

Sakura concordou com a cabeça e se afundou no sofá. Ela parecia estar com frio e pensativa. Levantei, peguei o livro e os meus óculos.

Meu corpo está tão cansado que eu não sei se conseguirei assistir o filme sem dormir nos primeiros dez minutos.

- Vou pegar uma coberta para você – passei por ela e comecei a subir as escadas – se quiser alguma comida ou suco, pode buscar na dispensa. Há pipoca de micro-ondas, caso goste. 

- Obrigada. Eu vou escolher o filme – ela falou com a cabeça virada em direção à televisão. Subi as escadas e voltei em questão de minutos, não a encontrei.

A TV estava ligada e o filme na tela era um de terror. A morte do demônio. Franzi uma das sobrancelhas enquanto encarava a tela.

- A morte do demônio? – retruquei. Achei cômico Sakura escolher um filme de terror quando eu, supostamente, deduzi que ela escolheria uma comédia romântica ou simplesmente romance.

Tudo que eu deduzo que Sakura irá fazer até agora, ela faz justamente o contrário.

Fui em direção à cozinha quando senti o forte cheiro de queimado. Encontrei-a parada perto do micro-ondas. Ela encarava o objeto com as sobrancelhas franzidas, era como se a pequena Haruno quisesse trucidar meu utensílio doméstico. 

- Tudo bem? – ignorei o cheiro forte de queimado e o fato de que, pressupostamente, ela deveria estar tentando colocar fogo na minha casa acidentalmente.

- Na embalagem disse que era para deixar três minutos. Eu deixei e queimou! – ela exclamou irritada e jogou as mãos para cima. Peguei outro saco de pipoca no armário e me aproximei de Sakura. 

Ela seguiu o modo de preparo? 

Antes de entregar o saco, li o modo de preparo e coloquei nas mãos dela. Interessante o modo de preparar a pipoca, não há muitos meios incríveis para queimá-la.

Aproximei-me do micro-ondas e retirei o saco que exalava forte odor.

- Estava no superpotente, você deveria ter deixado na potência média – falei quando entendi o motivo mirabolante por trás do saco queimado. 

Uma proeza que apenas vi Sakura conseguir em meus longos trinta e dois anos de existência.

- Eu não vi isso – Sakura colocou o outro saco de pipoca no micro-ondas e mudou para a potência média. Eu estava tão perto dela que conseguia sentir o aroma doce.

O cheiro dela estava mais agradável e marcante. Respirei profundamente. Menta e morango não é a combinação que mais gosto. Contudo, nela combina perfeitamente.

- É óbvio que não – joguei o saco queimado no lixeiro e abri a geladeira procurando por alguma bebida. Vi uma garrafa de vinho que ganhei em uma confraternização da empresa há meses. Ponderei por uns alguns segundos – quer uma taça de vinho?

O vinho não tem muito álcool.

- Eu gostaria muito – ela respondeu e retirou o saco que, dessa vez, não queimou. Sakura colocou na mesa a pipoca e eu peguei duas taças, enchi uma e entreguei a ela.

- Um brinde antes de começar o filme?

Eu não pretendo beber além da primeira taça. Não que eu seja fraco para o álcool, apenas não quero ultrapassar os meus limites tendo a filha do meu sócio como visitante.

Sakura sorriu em agradecimento e pegou a taça. Notei que a mão dela é bastante pequena. 

- Brindaremos o que? – ela perguntou e de repente ficou com as bochechas coradas. Não entendi o motivo das bochechas dela terem ficado vermelhas repentinamente, mas achei uma graça.

Sakura não se parece nada com Hiroshi. Enquanto o pai dela tem cabelos castanhos e olhos azuis, Sakura tem cabelos rosados. Eu não faço a mínima ideia se é pintado ou uma mutação genética. Além disso, os olhos verdes dela são incrivelmente intensos.

Era um verde vivo que eu nunca havia visto. 

Foquei no machucado no olho dela que estava mais inchado. Senti, novamente, a raiva tomando minhas células. Estava horrível.

Não notei quando toquei involuntariamente a região machucada com cuidado.

Sakura quase não está abrindo o olho. 

- Está doendo muito? - perguntei.

Eu não consegui deduzir o que ela estava pensando. O modo como Sakura me encarou foi inquietante. Não o olhar em si, mas o efeito que teve em meu corpo. Desci o olhar e fiquei segundos, que não deveria, olhando a boca dela semiaberta.

Afastei meu dedo do machucado no olho da garota e me coloquei em uma distância segura para ambos.

- Não. A dor é razoável.

Os lábios dela parecem delicados. Não são cheios, mas nem tão pequenos. São da medida certa. 

Afastei os pensamentos antes que eu cogitasse alguma besteira.

- Se quiser remédio para dor, pode pegar, mas não poderá beber o vinho – ela negou com a cabeça e eu dei de ombros. Sakura sabe muito bem o que faz -- então brindaremos. Não precisamos de um motivo para apreciar um bom vinho.

Peguei a minha taça e bebi em goles rápidos, entretanto lentos o suficiente para degustar o sabor da bebida.

- Caso queira mais, deixarei a garrafa na geladeira - falei e coloquei a taça na pia. 

- Não irá beber mais? – Sakura perguntou com a voz baixa e me virei para trás, encontrando-a com a boca perto da taça enquanto me encarava de uma maneira diferente. Não, eu devo estar pensando idiotices.

- Não – passei por Sakura e peguei o saco de pipoca de manteiga. Esperei por ela, sentado na minha poltrona.

Sakura apareceu com uma jarra de suco e alguns copos. 

Era cômico que eu estivesse me disponibilizando para ver um filme, principalmente com um ômega ao meu lado. Uma que é desastrada e não parece ser afetada pela minha presença ou resquícios dos meus feromônios.

Sakura é intrigante. Ela não se parece com os outros ômegas.

Não sou um alfa egocêntrico, porém é fato que todos os ômegas, exceto a pequena de olhos verdes, exalaram feromônios para me conquistar em menos de uma hora de convivência.

Como se fosse funcionar uma estratégia tão primitiva e idiota.

Qualquer um fez isso, menos ela.

Dei play no filme. 

Em algum momento entre várias cenas com sangue negro e criaturas patéticas que não assustam nem uma criança, eu adormeci.

[Ponto de vista de Sakura Haruno]

Eu estava concentrada no filme. Não ousei encarar a figura que repousava na poltrona ao meu lado. Sasuke estava com o saco de pipoca. Ele não é egoísta ao ponto de monopolizar a comida, certo?

Eu estava preparada para pedir um pouco de pipoca, no entanto notei que Sasuke dormia tranquilamente.

Encarei-o de esguelha e nem mesmo o suposto demônio na tela me fez desviar o olhar da visão magnífica que meus olhos contemplaram com admiração. Com a cabeça apoiada na palma da mão esquerda e o saco de pipoca no colo, Sasuke dormia.

Ele parecia um ser de outro mundo devido à beleza masculina exacerbada. Sasuke exala virilidade bruta e eu não duvidaria que ele tenha uma pegada firme e dominadora. Sem contar seus anos de experiência.

Sasuke não é um garoto. Ele é um homem que sabe o que quer.

De fato, ele parece ser o homem ideal dos livros.

Mordi o lábio quando percebi que estava pensando coisas que eu não deveria cogitar em hipótese nenhuma. Ele é o sócio do meu pai e nunca olharia para uma garota doze anos mais nova, mesmo que ela tenha vinte anos e seja maior de idade.

Eu devo parecer uma criança aos olhos dele.

Lembrei-me que toda a sedução envolta dele talvez fosse um reflexo da minha falta de sexo e, com isso em mente, peguei o lençol que cobria minhas pernas e me aproximei sorrateiramente para não acordá-lo.

Cobri o enorme corpo dele ou pelo menos tentei.

Encarei o relógio que estava acima da porta e não havia passado vinte minutos. Ele deve estar muito cansado para dormir rapidamente. Se Sasuke trabalhar a mesma carga horária que meu pai, então é fato que ele vive para o trabalho.

Geralmente os grandes empresários vivem pelos negócios.

Meu pai, muitas às vezes, passava o dia inteiro na empresa e quando chegava de madrugada, apenas falava um boa noite e desaparecia.

Encarei Sasuke por muito tempo, mais do que eu gostaria. Passei o dedo na bochecha dele e me dei conta do que estava fazendo quando ele abriu os olhos e me encarou com seriedade.

Minhas bochechas coraram e eu senti meu dedo, que tocava o rosto dele com tanta familiaridade, formigar. Afastei a minha mão no impulso e senti meu coração acelerando rapidamente. Eu fui pega em uma posição constrangedora.

- O que pensa que está fazendo? – ele perguntou com a voz rouca enquanto se endireitava na poltrona que parecia ser pequena para o tamanho dele.

Afastei-me sem a coragem de encará-lo. Sem vontade de admitir para mim mesma que estava o tocando com intimidade enquanto ele dormia.

- Havia uma sujeira no seu rosto. Eu estava limpando – respondi quando percebi que ambos havíamos ficado em silêncio. De repente eu não queria mais assistir televisão ou ficar perto de Sasuke.

Eu só queria me afastar dele e da situação constrangedora.

Sasuke deve achar que sou uma pervertida. Primeiro o observei nu e, posteriormente, toquei o rosto dele enquanto estava dormindo.

Senti minhas mãos tremendo e desliguei a televisão. Sinceramente, eu não acerto uma.

- Eu vou dormir – andei rapidamente em direção as escadas e, sem olhá-lo uma vez sequer, fui para o meu quarto. Além de pervertida, ele deve achar que sou bipolar.

Eu não deveria me preocupar com o que Sasuke pensa de mim. Não faz o mínimo sentido. Nunca me importei com a opinião alheia, então por que me preocuparia com a de um alfa lúpus?

Ao deitar na enorme cama, várias pautas tomaram meu pequeno e caótico cérebro. Era uma mistura de pensamentos que iam do quase estupro até os meus dedos tocando o rosto pálido e belo de Sasuke.

Depois de virar e rolar na cama, eu encontrei uma posição confortável para dormir.

Confortada por um sono sem pesadelos e calmo, eu acordei quando a luz incomodou meus olhos. Espreguicei-me e bocejei enquanto encarava o relógio na escrivaninha ao lado da cama. São oito horas da manhã.

Passei a mão no olho que não estava machucado e me levantei. Encarei-me no espelho e toquei a região inchada. Estava mais sensível, horrível e demoraria um longo tempo para o edema apaziguar. Arrumei o cabelo que não estava dando trégua.

Desisto do meu cabelo. Não há mais salvação.

Sai do quarto.

Não me surpreendi quando senti o cheiro de café e vi Sasuke sentando na cadeira da ponta na mesa quadrada de mármore. Ele estava com uma caneca na mão e encarava algo na parede, parecia alheio. Não consegui deixar de afirmar interiormente que o Uchiha combina muito bem com a visão de homem de negócio.

Eu não sei como o terno consegue entrar no corpo dele sem rasgar, todavia é notório que Sasuke vira um verdadeiro Deus grego com o terno preto destacando seu corpo robusto e sua cor pálida. Além disso, os cabelos de Sasuke estavam perfeitamente arrumados, completando o pacote de beleza e sedução.

- Dormiu bem? – perguntei enquanto ia em direção à cafeteira. Peguei uma caneca com o nome “CEO do ano” e enchi de café. Bebi e fiz uma expressão de desagrado. Até no café ele não coloca açúcar? 

Encarei-o de esguelha e não precisei da resposta quando vi que duas olheiras marcavam abaixo dos olhos dele. Sasuke deve ter passado a noite em claro.

Sasuke não respondeu a minha pergunta e eu não insisti em manter um diálogo. Ele deve ser o tipo de pessoa que não gosta de diálogos em plena manhã.

- Eu irei embora daqui a pouco – declarei. Não quero ser um problema para Sasuke, ele parece irritado por alguma coisa – e não contarei ao meu pai que estive aqui, nem do quase estupro coletivo.

Sasuke continuou bebendo o café.

Peguei o pote de açúcar e  adocei o meu café puramente amargo. Mexi com a colher e me sentei um pouco longe dele. O que há com Sasuke?

Fiquei longe dele para me manter controlada. Eu poderia queimar a língua em um ato desastroso se ficasse muito perto de Sasuke. Na dúvida, previna.

- Deveria contar. Não será a última vez que alfas sedentos irão lhe atacar – ele afirmou seriamente, como se eu fosse uma criança que não entende as complicações da vida – e eu não poderei protegê-la sempre.

Ergui uma das sobrancelhas.

- Eu agradeço pela ajuda, Sasuke – ele franziu a sobrancelha. Evitei a vontade de revirar os olhos – Sr.Uchiha – corrigi tentando esconder a ironia – entretanto não pretendo ser uma garota indefesa e o senhor não será o meu príncipe encantado. Não se preocupe, não serei um empecilho na sua vida extremamente ocupada.

Bebi mais um gole. Talvez eu tenha interpretado errado as palavras de Sasuke, mas não quero levar um sermão de um homem que acha que é tão fácil assim. Ele nunca teve que batalhar pela liberdade de sair e vir sem precisar relatar onde estar, com que estar e que horas vai voltar.

Embora seja para minha segurança, sinto que é como se eu vivesse em uma casinha linda adornada por cercas e não posso ultrapassá-las. 

- Eu não disse isso – foi a única coisa que Sasuke falou. Ficamos em silêncio. Depois de alguns minutos, ele se levantou e deixou a caneca na pia – se quiser passar o dia aqui, não serei contra. 

- Eu agradeço, porém dispenso – sorri agradecida e ele me encarou por alguns segundos. Desviou o olhar para o relógio no punho e suspirou cansado.

- Tudo bem. Se tiver problemas novamente, ligue-me.

Eu não pude agradecê-lo, já que ele saiu da cozinha mais rápido que meu cérebro processasse as palavras dele. Sasuke, mesmo que seja frio e distante, é atencioso e parece se preocupar comigo.

Fechei os olhos e massageei o pescoço. Eu não deveria sentir meu coração acelerado quando, certamente, ele age assim por causa da enorme consideração pelo meu pai. Não posso ser tola. Sasuke não é um alfa comum, ele é um lúpus.

Ele pode ter quem quiser.

Este fato deveria me afastar dele. No entanto, aqui estou encarando a porta por onde ele saiu. O cheiro de Sasuke ainda está forte, impregnando meus pensamentos. 

[Ponto de vista de Sasuke Uchiha]

Eu estava sentindo uma sensação leve e boa na minha bochecha. Um afago gentil?

Abri os olhos quando a ficha caiu.

- O que pensa que está fazendo?

Perguntei com seriedade. Eu adormeci em alguma parte do filme e acordei por causa de um afago carinhoso em minha bochecha. Fiquei um pouco surpreendido quando vi Sakura perto demais com a mão tocando o meu rosto.

O que ela estava fazendo? 

Ajeitei-me na poltrona quando percebi que meu corpo estava quase caindo. Ela se afastou na hora com os olhos arregalados e não me encarou. Fiquei sem entender, a princípio. Avaliando a expressão corporal dela, pressupus que Sakura estava com vergonha.

Esperei pela resposta dela. 

- Havia uma sujeira no seu rosto. Eu estava limpando.

Ela parecia falar a verdade, mas por que está agindo como se tivesse sido pega em um ato pecaminoso e imoral? 

Não me dei ao trabalho de interpretá-la. Tenho a leve dúvida de que se eu o fizer, poderei tirar precipitações erradas.

Sakura continuava encarando alguma coisa que não era o meu rosto. Ela acha que eu irei arrancar a mão dela ou algo do tipo? Que tipo de homem ela pensa que eu sou?

Não. Deve ser outra coisa.

- Eu vou dormir – ela andou rapidamente em direção as escadas e desapareceu. Eu encarei a tela que estava desligada. Que garota confusa e intrigante. O que literalmente aconteceu aqui?

Levantei-me e peguei o lençol que Sakura me cobriu e fui para o meu quarto.

Joguei o lençol na cama e fui escovar os dentes. Encarei meu reflexo no espelho e passei os dedos no lugar que ela tocou gentilmente. Reprimi o simples gesto quando notei o que estava fazendo.

Ultimamente eu não estou no meu melhor estado de sanidade. Passei água gelada no rosto e, posteriormente, me joguei na cama. Meus olhos fecharam e o sono me abateu como uma velha e distante amiga.

Entre sussurros e gotas de suor, eu abri os olhos sentindo o coração acelerando.

- Sakura! – falei o nome dela no exato momento que recobrei a consciência. Arregalei os olhos. Que sonho foi esse?! Que grande merda.

Eu não deveria ter sonhado isso. Simplesmente não podia.

Percebi que perto do meu rosto estava o lençol que Sakura usou. O cheiro dela estava fraco, mas eu ainda conseguia sentir com clareza as nuances do aroma doce.

Afastei o lençol para longe e me sentei. Eu não aceito o fato de que tive um sonho erótico com Sakura e muito menos que meu pau se animou com esta afronta do meu inconsciente.

Encarei o despertador que estava na escrivaninha cinza e vi que ainda são três horas da manhã. Meu olhar vagueou para o livro que estava ao lado. Era uma obra de Sigmund Freud, sobre o ponto de vista do autor, que os sonhos são a realização de um desejo secreto.

Eu joguei o livro contra a parede. Eu não posso ter tido um sonho pervertido com Sakura. O fato dela ser uma garota doze anos mais nova e filha do meu sócio deveria ter causado uma sensação de nojo e desagrado em mim. Entretanto, eu não me senti um pervertido.

Eu me senti excitado para caralho.

- Dessa vez você não está certo, Freud.

As horas passaram e eu não consegui adormecer novamente. Não voltei a pensar no sonho que tive, muito menos cogitei quais motivos causaram o próprio. Foi apenas um devaneio do meu inconsciente que não voltará a se repetir. 

Quando menos percebi, meus pés já estavam fora da cama no momento que o relógio sinalizou sete horas da manhã. Passei quatro horas em claro, com os pensamentos atordoados.

Sentindo meu corpo cansado, mas a mente ativa, eu fiz todos os meus processos higiênicos. Somente falta um café amargo para começar o meu dia e depois eu irei para a empresa.

Ao chegar na cozinha, notei que Sakura ainda não acordou. Suspirei e liguei a cafeteira, desbloqueei o meu celular.

Havia muitas mensagens, incluindo as de Hiroshi.

Disseram que você saiu afoito da empresa. Não quero parecer um chato querendo saber sobre tudo o que você faz, mas está tudo bem?

Hiroshi mandou essa mensagem perto das seis da noite.

Ele mandou outra por volta da meia noite.

Você não me respondeu. Aposto que seguiu o meu conselho e está com uma mulher agora! Apesar de que não é do seu feitio sair da empresa por causa  de uma fêmea, vou me iludir pensando nisso até que me diga o contrário.

Ignorei as mensagens e coloquei o café na minha caneca com o nome “homem dos negócios”. O que Hiroshi diria se soubesse que a mulher que ele mencionou na verdade é a filha dele?

Bebi um longo gole do café enquanto sorria sarcasticamente. O sorriso estúpido de Hiroshi iria morrer na hora ao saber que a mulher é a sua inocente filha. 

Sentei-me e continuei bebendo o café, esperando chegar às oito e quinze. Este é o horário que eu vou para a empresa cotidianamente.

Escutei o som de passos e o cheiro de Sakura ficando mais forte. Inconscientemente, lembrei-me do sonho desagradável. Não me ative aos detalhes do sonho e foquei em algo que não fosse os gemidos que impregnaram minha mente insana. 

- Dormiu bem? – escutei-a perguntando. Minha língua formigou para soltar uma provocação.

Ela estava sorrindo e deve ter visto no meu rosto as olheiras, porém Sakura mal sabe que o motivo da minha noite precária de sono tinha nome e sobrenome.

Incrivelmente, o nome dela e o nome do motivo por trás da minha insônia são iguais. Óbvio que eu nunca falaria isso em voz alta.

Não a respondi e encarei o café enquanto via meu reflexo no líquido. Com o desenrolar dos minutos, conversamos sobre algumas coisas, ela não parecia contente.

Sakura citou que não era uma donzela em perigo. Sim, eu sei. Entretanto, o mundo sabe? Os alfas descontrolados sabem?

Ignorei o tom descontente dela. Encarei o meu relógio e notei que estava atrasado. Sai da minha casa e fui em direção ao meu carro. Antes de entrar, encarei a porta. Sakura é um ser único para uma ômega. 

Fechei os olhos por alguns segundos. Eu podia jurar que o cheiro dela ainda estava vivo em meu olfato.

Entrei no carro e fui em direção à empresa em velocidade média. Não estou muito a fim de ouvir os questionamentos de Hiroshi. Ao ver o enorme prédio destacando-se entre os demais, suspirei. Prevejo as mesmas irritações cotidianas e o famoso pé no saco conhecido como meu sócio. 

- Bom dia, Sr.Uchiha – uma funcionária me desejou assim que me viu entrar. Fiz um meneio com a cabeça e fui em direção ao elevador. Escutei alguns resmungos da recepcionista. Ela sempre faz isso quando apareço. Pressuponho que seja mais uma do meu fã clube.

Não sei o nome dela e não me dou o trabalho de saber.

Entrei no elevador e vi Suigetsu, o rapaz por qual minha secretária temporária nutre uma paixão gigantesca e patética. Ele é um beta. Levando em consideração a classe de ambos, eles são compatíveis.

Karin também é uma beta.

- Bom dia – falei apático e apertei o botão para o último andar.

- Bom dia, Sr.Uchiha – Suigetsu sorriu e eu o encarei, procurando o motivo por Karin ser apaixonada por ele. Não achei. Ele parece estranho, então deve combinar com ela.

Vir-me-ei para frente e quando as portas se abriram fui em direção a minha sala. Entrei e encontrei Karin sentada em sua mesa temporária separando alguns papéis.

- Fiquei sabendo da sua pequena corrida ontem – foi a primeira coisa que ela falou quando me viu. Deixou os papéis de lado e apoiou o rosto com a mão direita enquanto me encarava desconfiada – o que aconteceu?

- Minha mãe – menti descaradamente. Não pretendo explanar os detalhes. Karin conhece muito bem a personalidade de Mikoto. Afinal, ela é minha amiga desde o ensino médio.

Sentei na minha cadeira e girei enquanto pensava em qual discurso de convencimento seria o mais provável para conquistar um possível investidor importante.

Observei a paisagem por trás do vidro que constituía a parede. 

- Entendo – Karin voltou a arrumar os papéis e me ignorou. Agradeci mentalmente e liguei o meu notebook, preparado para ler os inúmeros emails. Todavia, uma figura afoita entrou na minha sala fazendo escândalo e atrapalhando minha paz mental que era pouca.

- Hiroshi – encarei-o por cima da tela do notebook – algum problema?

- Sim! Vários – ele puxou a cadeira e se sentou. Parece um adolescente que não suporta viver sem fofocas. Sério que ele é meu sócio? – o que está acontecendo? É uma mulher?

Eu estava ocupado ajudando sua filha. Fazendo seu papel.

Revirei os olhos.

- Minha mãe – menti sem encará-lo. Hiroshi suspirou pesadamente e rodopiou na cadeira, pensando em alguma besteira – por que quer tanto que eu arrume uma namorada? – retruquei sem humor.

- Porque você alimenta essa postura de que não precisa de ninguém. Imagine como seria cômico se você, o senhor da frieza e indiferença, conhecesse o calor do amor? – a vontade de rir era grande, mas a de caçoá-lo mentalmente é maior – não me olhe com tédio.

- Saia da minha sala, Hiroshi – pedi e peguei uma caneta para fazer algumas anotações – ou eu posso sair e você cuida dos meus afazeres já que tem tempo para falar idiotices.

- Eu não vim aqui para isso – ele se aproximou e colocou as mãos em cima da minha mesa. Não gostei do olhar de animação de Hiroshi – semana que vem haverá uma confraternização pequena na minha casa. Quer ir?

Ponderei por alguns segundos. Eu conheço muito bem a pequena confraternização que ele irá oferecer.

- Não, agradeço – encarei Hiroshi quando notei que ele não foi embora – está esperando o quê?

- Você nem pensou na minha proposta! Vou lhe dar um tempo para pensar.

- Mesmo que eu pense por um ano, ainda direi não – retruquei por causa da ousadia de Hiroshi em pensar que eu iria para a “pequena” festinha dele. É  muito melhor ficar em casa ou ir para alguma boate privada.

 - Desisto, por hora – ele se afastou e encarou Karin. Fiquei o observando e ele a minha secretária – Karin, não é?

Karin parou os afazeres e o encarou com um sorriso pequeno. Sorrir para Hiroshi é um erro. Embora ele prefira ômegas, o próprio não passa de um homem galanteador. Não importa se é alfa, beta ou ômega para ele.

- Sim.

- Não preste atenção nele, Karin. Hiroshi só atrapalhará seu trabalho – falei com sarcasmo. Ela riu disfarçadamente e eu poderia jurar que ele está franzindo as sobrancelhas. Até poderia escutar as ofensas mentais dele.

- Ainda me pergunto o motivo por qual sou seu amigo. Sempre mal tratado – ele sussurrou e fechou a porta em seguida. Sorri ironicamente enquanto encarava a parede.

- Você é muito ruim com ele, sabia? – Karin não perdia uma chance de provocar – vocês parecem água e fogo. Hiroshi me lembra Naruto e você no ensino médio. Provocavam-se e não paravam mais.

Naruto foi um grande amigo meu durante o ensino médio. Ele também é um alfa. Entretanto, ao contrário de mim que sempre teve uma disposição para os negócios, Naruto preferiu o mundo do esporte. Hoje ele é um surfista famoso e mais outras coisas que não faço a mínima ideia.

- Naruto é mais idiota.

- Eu soube que ele vai voltar para o Japão logo – Karin falou. Eu já sabia sobre essa informação, então não demonstrei nenhuma emoção. A ruiva, por outro lado, estava bastante animada com a informação – Naruto deve ter lhe avisado, afinal, ele sempre dorme na sua casa quando volta.

Resmunguei algo e voltei ao trabalho. Não me foquei no fato de que um furacão loiro e de olhos azuis está voltando e pretende se alojar em minha casa. Meus dias de paz e organização estão acabados.

Em algum momento do meu fastidioso dia, eu me peguei pensando se Sakura ainda estaria na minha casa. Mas é claro que do mesmo jeito que o pensamento veio, ele foi embora rapidamente.

[..]

[Ponto de vista de Sakura Haruno]

Uma semana se passou após o fatídico acontecimento. Passei quatro dias na casa de Ino esperando que os remédios que aceleram a cura fizessem efeito e, assim, meu olho desinchasse.

É óbvio que a loira de olhos azuis, vulga minha melhor amiga, perguntou o motivo por eu ter aparecido repentinamente machucada e com o cheiro de um alfa lúpus impregnado nas minhas estranhas vestes.

Agora estou na casa de Ino, uma semana após Sasuke me ajudar. Hoje eu adquiri coragem e contei toda a verdade para a diabinha loira. No fim das contas, Ino expressou um semblante de nojo e ódio. Eu pedi que ela esquecesse o acontecimento e não comentasse com ninguém.

No momento que o pensamento de estupro saiu da mente dela, Ino sorriu maliciosa e os olhos dela faltaram saltar do rosto. Ambas estávamos deitadas na cama de casal rosa.

- Sasuke Uchiha, um peixe dos grandes – ela falava como se eu tivesse um caso com Sasuke, sendo que todas as nossas interações foram causadas por acontecimentos trágicos e que não envolviam nada de sentimentos – por que não deu um beijo nele e fingiu que estava delirando?

- Ino, você acha que eu nasci com vento na cabeça? – foi a única coisa que eu consegui pensar no momento – não me olhe com essa expressão de malícia. Sasuke é um homem intocável.

- Então você estava pensando nele? – Ino falou no mesmo momento que meus lábios se fecharam.

- Não, eu não... – tentei contornar a situação precária que havia me metido. Quando Ino coloca algo na mente, nada tira.

Ela é uma fanática por romance, gosta de especular sobre tudo. Principalmente casais improváveis, beirando ao impossível.

- Eu consigo ver o interesse nos seus olhos, Sakura – ela soletrou o meu nome devagar – um alfa? E ainda mais um lúpus? Não era você que repudiava eles? 

Estreitei os olhos na direção dela.

- Eu não odeio os alfas em si, só não suporto o comportamento possessivo e implacável de quase todos eles, como se os ômegas fossem sua propriedade de cópula – resmunguei.

Ino é uma beta. Ela não sabe o que os ômegas sofrem cotidianamente.

Ela é uma sortuda por não precisar conviver com os malditos feromônios e o medo de ser abordada por um alfa insano a qualquer momento. Embora alguns betas também sejam molestados por alfas loucos. Os casos são raros em comparação aos estupros com os ômegas.

- Então Sasuke Uchiha não a trata como um objeto de cópula? – Ino não parecia pronta para esquecer o assunto. Que vontade absurda de jogar um balde água de fria no rosto dela.

- Primeiramente ele nunca me olhou com segundas intenções, mesmo que seja um alfa lúpus – falei normalmente, todavia não consegui esconder a pontada de decepção – Sasuke é um homem poderoso, Ino. Ele deve ter qualquer mulher nas mãos dele. Sem contar que ele parece ser muito ético para desejar ter algum envolvimento com a filha do sócio.

Ino pulou na cama e soltou um gritinho de pura animação. Devo admitir que fiquei com medo dos pensamentos que se passavam na mente ardilosa dela.

- Você é uma tapada, andou pensando demais nos empecilhos entre os dois – senti os olhos dela queimando minha pele. Era um olhar acusatório e cúmplice – Ele te ajudou quando Gaara tentou lhe agarrar na festa de calouros e ainda foi correndo em sua direção para lhe proteger sem pensar duas vezes – Ino pegou uma almofada e jogou na minha direção – eu não acho que ele faria isso por qualquer mulher. Sem contar que os boatos sobre ele afirmam que Sasuke não gosta de ômegas. Então, pensa comigo, por que ele seria tão prestativo com você? Uma ômega? Amiga, ele quer foder você! Talvez até queira algo a mais.

Eu suspirei e me joguei na cama, sentindo meu coração entrando em estado de êxtase.

- Eu não vou deixar que você confunda meus pensamentos. Ele não me ajudou por intenções amorosas ou algo do tipo – rebati tentando soar firme, mas meu tolo coração ainda continuava acelerado – ele não gosta de ômegas? Pode ser verdade, mas em nenhum momento ele me destratou ou me olhou com descaso. Sasuke é um homem que nunca se envolveria comigo e pode tirar esses pensamentos tolos da sua cabeça! Não estamos em um filme de romance impossível. Ele é o sócio do meu pai, lembre-se disso.

- Ele pode não ver você com segundas intenções, porém duvido que você não se sinta balanceada em relação a ele.

Peguei a almofada que ela jogou em mim e mandei em direção ao rosto dela. Acertou em cheio. Sorri, talvez assim Ino crie juízo.

- Qualquer mulher hétero se sentiria balanceada pela beleza e o jeito sério dele – afirmei. É a pura verdade. Sasuke é sedutor demais para que ninguém não suspire duas vezes demoradamente ao vê-lo – entretanto, eu não serei mais uma garota iludida.

- Eu suspiro pelas fotos, imagine pessoalmente – Ino encarou as unhas e de repente os olhos dela ficaram arregalados – a festa que seu pai vai fazer! É um momento perfeito para que você o faça lhe encarar como mulher.

Levantei-me e fui em direção ao banheiro.

- Está maluca? Eu não vou tentar conquistar o sócio do meu pai! – comentei exasperada enquanto jogava água gelada no meu rosto – não pense besteiras, Ino. Sasuke é um alfa que eu nunca me relacionaria.

Não por falta de vontade, é por causa das circunstâncias. Porém, Ino não precisa saber disso.

Ela jogou os braços para cima em um ato dramático.

- Eu admito minha derrota, não vou mais importuná-la. No entanto, é o momento perfeito para colocar esse corpinho para fora e tirar a prova se o Sr.Uchiha sente algo por você ou não – o sorriso malicioso de Ino não me enganava. Ela não esqueceria a história de Sasuke tão cedo.

Ino estava deixando de lado o assunto agora. Sem embargo, é certo que ela irá voltar ao tema em algum momento.

- Eu não estou desesperada por um homem, muito menos por um alfa.

- Eu estaria se tivesse passado quase dez meses sem transar e com um deus grego tão perto de mim como Sasuke Uchiha. Aquele homem molha qualquer calcinha apenas com uma encarada – ela rebateu com ironia enquanto fingia se abanar.

[..]

Três dias se passaram após a conversa bastante importuna com Ino. Tentei não pensar nas palavras dela, porém notei, infelizmente, que a loira de olhos azuis fez uma lavagem cerebral em mim quando passei mais de vinte minutos escolhendo o biquíni mais lindo e sedutor que havia no meu closet.

A festa que meu pai organizou hoje para os sócios e investidores será na piscina. Não sei se Sasuke virá, primeiramente. Fechei os olhos por longos segundos. Que merda estou fazendo? Não posso agir como uma adolescente idiota por causa de um homem bonito.

Bonito é eufemismo, diga-se de passagem.

Depois de uma longa indecisão, peguei um biquíni branco normal e me encarei no espelho. Eu não quero um relacionamento amoroso com Sasuke, no máximo uma transa sem compromisso para extravasar os hormônios que há no meu corpo.

Entretanto, eu também não deveria querer transar com o sócio do meu pai. É uma furada. 

- Sakura? – a voz do meu pai me fez voltar a realidade. Ele bateu na porta.

- Sim, pai? – abri a porta e o encontrei perto do batente. Estava molhado e parecia afoito. As bochechas dele estavam vermelhas.

- Eu me esqueci de convidar os pais da sua amiga Ino – ele sorriu e coçou a bochecha. Minha família e os Yamanaka são bastante unidos, afinal, eu e a loira ardilosa  nos conhecemos desde o fundamental. Este pequeno fato aproximou nossas famílias – então pode falar com eles? Não tenho o número de nenhum.

Peguei o celular do meu pai, já que o meu último foi quebrado durante o quase estupro e eu não me lembrei de comprar outro. Para meu pai, meu celular caiu na privada. 

- O Sr.Uchiha virá? – perguntei tentando não demonstrar curiosidade ou qualquer outro sentimento que pudesse causar desconfiança no meu pai. Por que quero saber tanto se o alfa de olhos negros virá?

A resposta surgiu amargamente.

- Provavelmente não – meu pai se afastou da porta. Ele cheira a carne queimada, deve estar tentando fazer um churrasco fracassado – Sasuke não gosta de confraternizações, principalmente se tiver muita gente.

Eu desbloqueie o celular e fechei a porta com a perna. Eu tentei ignorar a curiosidade de abrir a conversa do meu pai com Sasuke. Eu tentei, no entanto a vontade foi mais forte do que eu. Cliquei na conversa.

Tem certeza que não virá? – Hiroshi. 10h20m.

Eu já falei que não gosto de confraternizações – Sasuke. 10h35m.

Você é muito chato! – Hiroshi. 10h37m.

A conversa acabou. Eu estou com uma vontade de fazer algo que irei me arrepender depois. Porém, engoli qualquer pensamento coerente e comecei a digitar uma desculpa qualquer. Sasuke não irá vir. Tenho certeza. Então não custa tentar apelar.

Ele visualizou a mensagem no mesmo momento e começou a digitar.

Tsck – Sasuke. 10h45m.

Isso é um sim ou um não?

Decidi não pensar muito nisso. Mandei uma mensagem para Ino convidando-a e vesti o meu biquíni branco. Coloquei uma roupa leve por cima e já conseguia escutar as vozes dos convidados. Fui em direção à piscina e vi alguns investidores do meu pai.

A maioria dos rostos eu conhecia, exceto um até agora.

- Que cabelo lindo. Sakura, certo?

Olhei para trás e havia um alfa perto de mim. Ele tinha cabelos longos e olhos claros, beirando para um lilás quase branco. Ele devia ter um metro e oitenta. Alto, forte, bonito. Deve ser o mais novo investidor do meu pai.

Uma beleza exótica.

- Sim e você é? – estendi a mão e ele apertou. O sorriso dele era bonito, mas não é o mais bonito que já vi.

O de Sasuke é mais bonito. Nem se compara. Que merda estou pensando!

- Sou Neji Hyuga – ele beijou o dorso da minha mão. Eu consegui perceber que havia alguns traços de interesse em seus atos. Se eu estivesse em meu estado normal, retribuiria o flerte. Contudo, meus pensamentos me traem ao compará-lo com o alfa de olhos negros – você é mais bonita do que falaram.

- Obrigada – sorri forçadamente e afastei minha mão – irei falar com os demais convidados.

Neji é gostoso. Principalmente sem blusa, mostrando o corpo torneado e musculoso. Apesar disso, por que não me sinto atraída por ele?

- Quer companhia?

Insistente demais.

- Não, obrigada – afastei-me tentando não demonstrar ironia ou sarcasmo. Ele é o mais novo investidor e eu não posso irritá-lo, de certa forma. Não obstante, isso não significa que sou obrigada a escutar flertes de um alfa insistente.

Ele falou algo, mas não prestei atenção. Eu falei com alguns convidados. Quase sempre meus olhos iam em direção aos portões, esperando por ele. Depois de quase uma hora, eu soube que Sasuke não viria.

As palavras de Ino estavam vivas na minha mente. Eu não estou tão balanceada por ele. Não posso estar.

- Filha, a água está uma maravilha. Entre – meu pai gritou dentro da enorme piscina. Ele estava jogando algum tipo de jogo com os outros alfas. Eu estava sentada, comendo alguns petiscos. No momento que vi Neji se aproximando, eu retirei minhas roupas e fui em direção à piscina. 

Eu não estou muito a fim de conversar com Neji. Conheço os alfas. Sempre é uma conversa sem pretensão, depois mãos bobas e quando menos percebo, já querem me levar para cama como se eu não passasse apenas de um par de pernas lindas. Quando eu tinha dezoito anos, eu não me importava com isso.

Eu gostava de ser desejada. Durante os dois anos que sucederam meus dezoito anos, aprendi que há formas melhores de ser ansiada. Eu quero mais que sexo, embora meu corpo implore por uma transa casual às vezes.

Estou esperando o cara certo. Conquanto, enquanto ele não aparece, posso me divertir com alguns errados. 

Entrei na piscina e nadei em direção ao meu pai.

- Posso jogar também? – pedi a ele com um sorriso gentil. Meu pai não resiste ao meu sorriso brincalhão. 

- Claro – ele pegou a bola e jogou na minha direção.

- Tem certeza, Hiroshi? Ela pode se machucar – um dos alfas que jogava com meu pai comentou. Revirei os olhos ao escutar tamanha ofensa disfarçada de preocupação e joguei a bola na direção dele, com bastante força – uma frágil ômega não deveria jogar contra os alfas.

Ele segurou a bola e estreitou o olhar em minha direção.

- Não se preocupe, eu sei me cuidar.

Quando o jogo terminou rápido demais, eu sorri em direção a quem duvidou da minha capacidade. Eu fiz quinze pontos, diferente dele que fez cinco.

Não lembro do nome dele, só sei que ele é um investidor importante.

- Eu não falei que sabia me cuidar? – sorri irônica e senti as mãos do meu pai nas minhas costas. Ele estava rindo, feliz. Encarei-o de esguelha e vi que os olhos azuis brilhavam em pura animação.

- Como sempre competitiva, até me lembra uma pessoa – ele não terminou de falar quem era, afinal, os portões se abriram. Tanto ele como eu encaramos o carro preto que apareceu. Eu conheço esse automóvel.

Meu coração errou algumas batidas em antecipação.

- Sasuke? – escutei o meu pai sussurrando. Eu sei que ele vê o Uchiha como um grande amigo, talvez como irmão também. Por causa disso, senti que era errado cultivar uma pequena atração sexual por Sasuke – pensei que ele não iria vir.

Eu também pensei. 

Segui meu pai que saiu da piscina e foi em direção a Sasuke. Eu sentia algumas encaradas no meu corpo. De alfas, tanto homens como algumas mulheres, contudo, meu olhar estava focado no carro.

A porta se abriu e ele saiu. Usava óculos de sol e uma blusa branca com um casaco de couro por cima. Além disso, Sasuke usava uma calça preta rasgada. O estilo bad boy, que era muito diferente do homem de negócios que eu estava acostumada.

Ele parecia seis anos mais novo com aquelas roupas. Quase da minha idade. Eu não sabia que Sasuke gostava de usar vestes desse estilo, mas devo concordar que ele está fodidamente belo e muito mais perigoso para a minha sanidade.

- Sasuke! Pensei que não iria vir – meu pai estendeu a mão e Sasuke apertou. Mesmo que ele estivesse de óculos, eu conseguia sentir os olhos dele me encarando. Avaliando-me. Senti as bochechas começando a esquentar.

- Eu não iria vir, porém mudei de ideia – a voz dele estava mais rouca. Senti os pelos dos meus braços se arrepiando – Sakura, como vai?

- Estou bem e você, Sr.Uchiha? 

Faz dez dias que não o vejo.

- Igualmente – ele retirou os óculos e jogou dentro do carro antes de fechar a porta – Hiroshi, não me diga que é você que está cuidando da carne.

- Estou sim.

Meu pai bagunçou o cabelo. Todos sabiam que meu pai não é o homem mais adequado para cuidar de algo envolvendo comida. Ele sempre deixa passar do ponto.

- Hm – Sasuke me encarou e o sorriso mínimo abalou minhas estruturas. A barba dele estava feita perfeitamente e o cabelo não estava organizado.

Sasuke estava mais despojado e, incrivelmente, conseguia ser mais belo que a visão de homem de negócios. Por um momento, pensei que tínhamos idades semelhantes.

- Quer beber algo? – meu pai perguntou. Eu percebi que estava parada encarando Sasuke como uma tola e decidi que iria me afastar para não parecer uma garota patética – Sakura, vá com Sasuke pegar alguma bebida para ele.

Virei o rosto na direção de Sasuke. Eu quase falei que ele sabia a direção para cozinha. Contudo, ele começou a andar e eu o segui involuntariamente. Encarei as costas largas dele.

- Não está com calor usando essa jaqueta de couro? – perguntei com incredulidade. Eu, quase sem roupa, estou sentindo que há uma sauna aqui.

- Não.

Ele não falou mais nada e decidi que não seria eu a pessoa que acabaria com o silêncio entre nós. Ambos entramos na cozinha e andei até o freezer.

- Qual você quer? – perguntei. Sasuke deu de ombros, fazendo pouco caso para a bebida. Havia uma bebida que era muito boa. Infelizmente ela estava no fundo do freezer. Tentei pegar e não consegui. Estendi-me mais e fiquei nas pontas dos dedos.

Consegui pegar a bebida e me afastei do freezer. Olhei para trás e encontrei Sasuke encarando algo. Ele estava com o maxilar tensionado e parecia inquieto por algum motivo. Eu fiz alguma coisa?

Aproximei-me e entreguei a bebida.

- Boa escolha – ele pegou a garrafa e meus dedos tocaram os deles levemente. Sasuke não me encarou e se afastou. Ele continuou na cozinha.

- É uma bebida russa – observei-o e percebi que realmente havia algo de errado – quer que eu guarde seu casaco? 

Ele retirou o casaco e me entregou sem falar absolutamente nada. Que estranho. Sasuke realmente está diferente. Eu iria tocá-lo, no entanto, os olhos negros finalmente me encararam.

- Há um banheiro aqui?

Havia irritação explícita na pergunta dele. Ignorei esse detalhe. Não vou tentar entendê-lo. Ele é um livro fechado complexo.

- Segundo andar, terceira porta a esquerda.

Ele meneou com a cabeça e se afastou. Segurei o casaco dele entre meus dedos e senti o cheiro de Sasuke mais forte. Um aroma amadeirado que me faz querer aproximar o rosto do pano para sentir o cheiro dele com mais clareza.

Escutei o som da porta se abrindo.

- Sakura. 

Olhei para trás. Lá estava ele com os cabelos soltos e molhados me olhando com um sorriso aberto.

- Neji? – ele foi em direção ao freezer. Neji é o tipo de alfa que sabe que é belo e uso isso ao seu favor. Ele é galanteador. 

- Vim pegar uma bebida – ele pegou duas garrafas de vokda e se aproximou. Colocou as duas na bancada e pegou copos – acompanha-me?

Que mal faria, certo?

A festa está ficando um tédio.

- Tudo bem. Vou guardar esse casaco e já volto.

Afastei-me de Neji e do olhar dele. Fui para o meu quarto. Coloquei o casaco em cima da cama e fechei a porta. Ao passar pelo banheiro que Sasuke deveria estar, senti o cheiro dele. A porta estava semiaberta.

Encontrei-o encarando o espelho. A mão dele estava segurando a pia fortemente. Encarei-o pelo vidro e vi os olhos dele mais negros que nunca. Quando ambos nos olhamos fixamente, um reboliço surgiu em minha barriga.

Segurei a respiração quando Sasuke passou por mim rapidamente.

Sasuke parece ser um furacão imprevisível e eu não estou preparada para ele. Se eu entrar nessa, temo que eu não consiga sair intacta.

Meu olhar se focou no vidro. O olhar intenso dele estava cravado na minha mente. 

Desci as escadas.

Neji estava no mesmo lugar. Não pensei duas vezes antes de ir em direção ao copo de vokda que esperava ansiosamente por mim. Bebi em goles rápidos a bebida. Escutei uma exclamação de surpresa do alfa ao meu lado.

- Está tudo bem? – Neji perguntou enquanto colocava a mão no meu ombro. Meneei a cabeça positivamente – quer mais? 

Afastei a mão dele do meu ombro e peguei a garrafa. Bebi direto do gargalo. Limpei a boca e sorri. 

- Não deveria beber muito em pouco tempo, ficará bêbada – Neji segurou minha cintura e me aproximou do corpo dele quando eu fraquejei para o lado. Senti o dedo dele tocando a minha bochecha. 

Minha vontade era de quebrar a garrafa de vodka na cabeça de Neji.

Encarei-o e quase pensei em corresponder os lábios dele que vinham na minha direção, todavia, Neji não tem os olhos negros. Não possui a boca que eu quero beijar. Afastei-me e sai da cozinha. Encontrei meu pai perto da churrasqueira com Sasuke ao lado dele.

Sasuke estava sem blusa. Eu senti minhas mãos suando por causa da beleza dele que chega a ser absurda. As costas de Sasuke conseguem ser mais robustas e largas sem nenhum pano as cobrindo.

Aproximei-me de Sasuke e meu pai. Eles estavam conversando algo, na verdade, meu pai parecia ser o único que estava falando. Ignorei o olhar de Sasuke e as sobrancelhas dele franzidas.  

- Pai, o senhor viu se Ino chegou? – perguntei tentando manter o foco nos olhos azuis. O que meu pai diria se soubesse que estou o encarando para não focar no corpo do homem ao lado dele que está causando sensações quentes em mim?

- Não. Acho que a família Yamanaka não chegou ainda – escutei o som de passos e senti a presença de um alfa ao meu lado. Quase desejei mandar Neji para a puta que pariu – Neji! Eu estava procurando você. Quero apresentá-lo a Sasuke Uchiha, meu sócio.

- Você é o mais novo investidor – Sasuke apertou a mão de Neji. A diferença de tamanho entre os dois era mínima, todavia a diferença de beleza e presença era absurda. Embora Sasuke estivesse impassível, tive a leve sensação que ele não gostou do alfa de olhos perolados.

- E você é o famoso Sasuke Uchiha – Neji sorriu confiante e se afastou de Sasuke. Ele veio para o meu lado e me encarou, o sorriso ardiloso brincava nos lábios dele – eu já conheci a sua filha, Hiroshi. Sakura é tão maravilhosa como você descreveu.

Demorou poucos segundos para que eu entendesse o que estava acontecendo. No momento que a afirmação chegou aos meus pensamentos, afastei-me dos três alfas. Senti a ânsia de xingar todos, inclusive Neji. Agora entendo o seu comportamento insistente, sendo que ele não me conhece.

Meu pai falou de mim para ele. Provavelmente disse “minha filha é um amor, pode dar em cima dela, eu permito”. 

Meu pai me ama, entretanto nem todos os sorrisos do mundo e a personalidade mais extrovertida serão o suficiente para esconder a ferida que minha mãe deixou no peito dele.

Uma vez ele foi rejeitado por causa da falta dinheiro e pelo dinheiro ele agora vivia, em grande parte.

Hiroshi foi pai aos 15 anos. Minha mãe também tinha a mesma idade. Ele não tinha nada em relação a posses físicas e dinheiro, exceto uma pequena casa no subúrbio. Eles ficaram juntos por três anos, até que minha mãe, uma ômega, conheceu um pintor em ascensão no mundo artístico.

O amor que ela tanto sentia pelo meu pai rapidamente foi extinguido.

O pintor era um alfa rico. Minha mãe não pensou duas vezes antes de deixar meu pai cuidando de mim, assim abrindo uma ferida no peito dele que nunca foi fechada. Aos vinte e dois anos, meu pai abriu uma empresa sozinho. 

Apenas com esforço árduo. 

Com 25 anos, ele fez uma parceria com as empresas Uchiha, tornando-se sócio de Sasuke. Depois disso, a organização tornou-se uma das mais promissoras. Com apenas dez anos, eu perdi meu pai para o trabalho.

Eu não sou uma garota rica que lamenta o fato que o pai prefere o trabalho. Já me acostumei com o fato de que também perdi o pai amoroso que eu lembrava vagamente há muito tempo.

Quando eu completei quinze anos, minha mãe morreu de câncer no pulmão. A partir disso, notei que meu pai nunca a superou e de novo ele se afundou no trabalho. 

Ele nunca a superou.

Quando completei dezoito anos, meu pai começou a jogar, indiretamente, alguns pretendentes alfas ricos em minha direção. Neguei todos. Ele não entende que eu não quero um alfa?

Passei a mão nos olhos enxugando as pequenas lágrimas que insistiam em descer. Estou sentindo o gosto amargo da decepção. Eu preciso urgentemente de álcool. Talvez assim eu esqueça o fato que meu próprio pai me ofereceu como um pedaço de carne.

[..]

[Ponto de vista de Sasuke Uchiha]

Durante os dias que se passaram após Sakura dormir na minha casa, digamos que minha vida entrou em um mar tortuoso. Minhas noites de sono passaram da calmaria para o verdadeiro inferno. Eu não estava conseguindo dormir mais do que cinco horas.

Julgo que é o estresse do trabalho. Todavia, já não bastava à falta de sono, nas poucas horas que eu conseguia fechar os olhos imagens de uma figura miúda de cabelos rosa apareciam nos meus sonhos. Provocando minha sanidade.

Alguns sonhos eram confusos, outros eram devassos. 

Eu ignorei cada sonho, cada pensamento que envolvia a pequena ômega. Eu estou apenas passando por uma fase estressante e meu cérebro não está em sua melhor fase. Não importa o fato de cada sonho parece ser real demais. 

São apenas sonhos que logo irão desaparecer.

Encarei a tela do celular e lembrei que Hiroshi me chamou novamente para a confraternização que haveria na casa dele. Uma festa na piscina.

Odeio festas na piscina. Eu pretendia não ir. Porém, vi-me ponderando em aparecer por lá quando ele digitou a seguinte mensagem;

Vamos, Sasuke. Minha filha também queria que você viesse. Causou uma boa imagem na Sakura, sabia? Não vai querer me desapontar e ela também, certo? – Hiroshi. 10h44m.

Hiroshi não é do tipo que usaria a filha como pretexto para que eu fosse. Li e reli a mensagem várias vezes. Será que foi ele mesmo que escreveu? Mas quem além dele mandaria essa mensagem?

Digitei um tsck e joguei o celular na cama. Não sei se irei. Encarei o teto do meu quarto por longos minutos. Por que, de repente, fiquei com vontade de ir? Por causa de Sakura? Ela queria que eu fosse?

Coloquei o braço por cima do meu rosto. Eu estou agindo de forma diferente quando se trata de Sakura. Eu não deveria mudar de opinião fácil somente com a menção do nome dela.

- O que está acontecendo comigo?

No final das contas, eu decidi que iria. Passei por cima da minha razão e todos os pensamentos que afirmavam que seria uma má ideia. Peguei a primeira roupa que vi no guarda-roupa. Uma jaqueta de couro que não uso desde que tinha vinte e sete anos, uma blusa branca e uma calça preta rasgada.

Quase cogitei que estava vestindo aquelas roupas para me parecer mais novo, porém afastei o pensamento quando olhei meu reflexo no espelho e decidi que estava na hora de ir. Minha aparência não importa.

Não demorou mais que quinze minutos para sair da minha casa, dirigir nas ruas que estavam tranquilas, apertar a buzina e os grandes portões da mansão Haruno se abrirem. Estacionei e analisei meu rosto pelo retrovisor. Impecável. Abri a porta e a primeira coisa que senti foi o cheiro agradável de Sakura.

Ela vinha andando graciosamente em minha direção. Desviei meu olhar para Hiroshi. Notei que Sakura não possui o padrão de corpo que estou acostumado. Este detalhe me fez achá-la mais bonita do que antes.

A vontade de olhá-la pela segunda vez era intensa. Chegava a ser eloquente. Eu queria olhá-la mais uma vez, admirar seu corpo. Felizmente, não sucumbi aos meus desejos estranhos e imorais.

Eu não deveria estar olhando para o corpo da filha do meu sócio com ele ao lado dela, alheio aos pensamentos que se passavam na minha cabeça.

Eu simplesmente não deveria! Mas aqui estou tentado a olhá-la pela segunda vez.

- Sasuke! Pensei que não iria vir.

Hiroshi falou sorridente. Ao lado dele estava Sakura. Ela estava toda molhada, igual ao progenitor dela. Deduzi que ambos estavam jogando algo ou se divertindo na piscina. De toda forma, não era importante.

- Eu não iria vir, porém mudei de ideia – respondi. Desviei o meu olhar para Sakura, ela estava me encarando atentamente. O olhar dela, em consonância com sua aparência, estava me causando sentimentos quentes que começavam no final do abdômen e ia até minha genitália – Sakura, como vai?

Tentei não demonstrar que estava sendo afetado pela presença dela.

- Estou bem e você, Sr.Uchiha? 

A voz dela parecia mais doce. Mordi o lábio discretamente quando, por capricho do meu inconsciente, a voz dos meus sonhos apareceu. Gemendo. Chamando por mim. Clamando pelo Sr.Uchiha com a voz mais sôfrega.

- Igualmente – retirei os óculos e joguei dentro do carro. Vi de longe a churrasqueira cheia de carne sem ninguém supervisionando – Hiroshi, não me diga que é você que está cuidando da carne.

Se estiver, é uma irresponsabilidade. Devido a roupa molhada dele e as bochechas vermelhas, deduzo que estava jogando ou  se divertindo enquanto a carne estava assando. Daqui a pouco a carne vai queimar.

Estou vendo de onde Sakura puxou o dom para queimar comida.

- Estou sim.

Hiroshi bagunçou o cabelo, encabulado. Acredito que ele saiba o que está passando por minha cabeça. Sempre descuidado.

- Hm – encarei Sakura e não consegui esconder o sorriso mínimo quando vi que não havia mais nenhum traço de machucado no rosto dela. Ela está mais bonita. A face dela sem nada atrapalhando chegava a ser bastante bela.

Na primeira vez que a vi o rosto dela estava escondido pela forte maquiagem. Na segunda vez havia um machucado em seu olho. Agora não havia nada que me impedisse de observá-la exposta sem nenhuma barreira ocultando sua beleza natural, exceto minha capacidade racional. 

Sakura parece uma obra de arte. Que, infelizmente, todos estão apreciando. Até eu, que não sou fã de obras primas.

- Quer beber algo? – Hiroshi perguntou. Estou ansiando por álcool para descontrair os meus pensamentos que estão tomando um rumo perverso demais – Sakura, vá com Sasuke pegar alguma bebida para ele.

No mesmo momento, Sakura virou o rosto na minha direção. Ela me encarou por alguns segundos e eu devolvi o olhar. Ela não parece à vontade para me levar, sendo que eu conheço o caminho. Desse modo, comecei a andar sem esperar por ela. Olhei de esguelha e notei que Sakura me seguia.

Parecia perdida em pensamentos enquanto fazia expressões engraçadas. 

- Não está com calor usando essa jaqueta de couro? 

- Não – respondi e desviei o olhar para frente. Notei que alguns alfas me encaravam, no entanto, a maioria dos olhares estavam direcionados a Sakura. Ela, como uma das poucas ômegas daqui, está atraindo atenção indesejada.

O fato de ela ser a filha do anfitrião não foi o suficiente para colocar os alfas em seus lugares que deveriam estar. 

Chegamos na cozinha e Sakura foi em direção ao freezer. Ela não sabe que é uma provocação para qualquer um rebolar com pouco pano tampando sua bunda? Principalmente quando há muitos alfas ao redor?

É provocativo demais.

Parece que ela está provocando meu juízo, embora não saiba dos pensamentos que se passam na minha cabeça desde que ela foi embora da minha casa. Os sonhos que envolviam nós dois. 

Eu a dominando de forma selvagem e crua.

- Qual você quer? – Sakura perguntou. Eu estava tão concentrado nas costas dela que não a respondi. Desviei o olhar no mesmo momento que ela se agachou, empinando a bunda na minha direção.

Ela está tentando me provocar?

Eu que estou ficando insano mesmo. Felizmente, não encarei a bunda dela. Senti-me um alfa descontrolado quando uma vontade fugaz queimou em meu peito, incentivando-me a passar por cima da razão e olhá-la naquela posição bastante esclarecedora.

Tencionei o maxilar. Tenho que sair daqui.

Ela se aproximou com uma garrafa de bebida russa na mão. Eu já a bebi, não lembro o nome. Meus pensamentos estão focados em Sakura.

- Boa escolha – peguei a garrafa e meus dedos tocaram os delas. Eu não queria encará-la quando, há segundos atrás, estava me recriminando mentalmente para não olhar a bunda dela empinada em minha direção.

- É uma bebida russa – observei a bebida. Será que o álcool me fará sair dessa confusão mental? Se eu soubesse que vir aqui me causaria devaneios impetuosos, eu ainda teria vindo? – quer que eu guarde seu casaco? 

Retirei o meu casaco e a entreguei. Ela estava pensativa. Desviei o olhar para o chão e depois foquei nela. Sakura parecia apreensiva, inquieta. 

- Há um banheiro aqui? – perguntei enquanto sentia o cheiro dela mais forte entrando pelas minhas narinas. Prendi a respiração.

Talvez água gelada ajude.

- Segundo andar, terceira porta a esquerda.

Meneei com a cabeça e me afastei no mesmo momento. Eu preciso sair do mesmo espaço de Sakura. Estou me sentindo um alfa descontrolado. Não estou perto dela há dez minutos e estou pensando como um garoto a flor da pele. Fui em direção ao banheiro e rapidamente o achei.

Joguei água gelada no meu rosto e encarei o meu reflexo. No espelho, eu não vi um homem. Eu vi minha parte alfa. 

A minha parte que estava desejando Sakura Haruno. 

E isso deveria me parecer estranho, perverso, uma falha do meu controle. Contudo, não me senti estranho quando admiti, naquele instante, que eu estava desejando secretamente a filha do meu sócio. 

Rapidamente joguei a ideia de lado. Isso é insano demais! Meu comportamento deve-se ao estresse e a falta de exercícios para extravasar meus hormônios.

Em algum momento meu olhar focou em Sakura, pelo espelho. Eu estava tão absorto em meus pensamentos que não senti o cheiro dela ou a escutei se aproximando. Meu corpo vibrou com o olhar dela. Minhas armaduras estão jogadas no chão. Minha consciência pesou. 

Ela não deveria me ver em meu estado de descontrole. Não agora. Sai do banheiro rapidamente. No momento que cheguei à cozinha, respirei profundamente e adquiri novamente o controle sobre meu corpo.

O controle sobre os meus instintos.

Isso não voltará a acontecer novamente.

Sai da cozinha. Observei as pessoas que comiam, dançavam e nadavam alegremente na piscina.

- Sasuke – Hiroshi, que estava perto da churrasqueira, me chamou. Aproximei-me dele, a presença dele pode ser útil para trazer à tona minha sanidade novamente – quer linguiças? 

- Pode ser – retirei minha blusa e os meus sapatos quando o calor começou a fazer efeito. Ignorei os sussurros de algumas mulheres e garotas adolescentes. Elas não me atraem e parecem patéticas enquanto suspiram de uma forma engraçada e estranha – o novo investidor está aqui?

Peguei o espeto e comecei a virar a carne. Já estava quase virando torrado. Desviei o olhar para Hiroshi. Ele quer que os convidados comam pedra? Por que ele não contratou alguém para cuidar da comida?

Hiroshi sendo Hiroshi.

- Está sim.

Senti a aproximação de Sakura. Não a encarei. Decidi que a carne era mais interessante no momento.

  - Pai, o senhor viu se Ino chegou? – ela perguntou. Encarei-a de esguelha, involuntariamente.

- Não. Acho que a família Yamanaka não chegou ainda.

Senti a aproximação de um alfa e percebi que ele ficou bem perto de Sakura, quase colado ao corpo dela. Ele é um conhecido?

Parei de virar a carne quando notei que ele estava roçando a mão no braço dela, indiscretamente. 

- Neji! Eu estava procurando você. Quero apresentá-lo a Sasuke Uchiha, meu sócio – Hiroshi sorriu animadamente e nos apresentou. Não vi muita coisa no novo investidor. Pensei que ele era mais velho.

Deve ter vinte e cinco anos, no máximo. 

- Você é o mais novo investidor – falei sem animação e apertei a mão dele. Percebi que ele me encarava com animação. Entretanto, não consigo corresponder o sentimento positivo.

E nem quero.

- E você é o famoso Sasuke Uchiha – ele sorriu confiante enquanto me encarava. Neji foi para o lado de Sakura e a encarou de um jeito que eu conhecia muito bem. É o olhar de um alfa que quer marcar território, conquistar – eu já conheci a sua filha, Hiroshi. Sakura é tão maravilhosa como você descreveu.

Desviei o olhar para Hiroshi, entendendo o que estava passando. Sakura também deduziu o que aquelas palavras significavam e se afastou com uma expressão de incredulidade. Eu virei à carne e decidi ficar em silêncio. 

Eu não deveria me meter em confusões de famílias que não são da minha conta. Mesmo que seja a de Hiroshi.

- O que eu falei para ela, Hiroshi? 

A voz do novo investidor estava me causando certa irritação. Ainda continuei em silêncio, contudo, eu não me manteria em silêncio por muito tempo. Estou começando a ficar incomodado com a idiotice dos dois alfas.

- Ela é difícil no começo – Hiroshi suspirou e Neji se afastou com um sorriso de compreensão. Eu encarei o homem a minha frente com decepção estampada em meu rosto. 

- Não deveria tratar a sua filha como se ela fosse uma ação na bolsa de valores – afastei-me dele. Hiroshi não deveria jogar alfas para a filha dele esperando que Sakura arrume um parceiro. Ela não deve ser impulsionada para isso.

Sakura não é um pedaço de carne. Embora ela seja uma ômega, os mais frágeis fisicamente da nossa sociedade, ela não precisa de proteção como se fosse uma boneca. Mesmo que eu tenha insinuado isso no nosso último encontro.

Por que, no final das contas, eu me intrometi em problemas que não são do meu cunho pessoal?

 Eu desejei voltar para casa. Não há nada para mim aqui.

Estou apenas perdendo meu tempo. Antes de ir, fui para cozinha pegar uma bebida. Ainda tem minha jaqueta, mas ela está com Sakura. Depois eu pego ou a miúda Haruno pode tomar para si. Não me importo.

Não me surpreendi ao encontrar Sakura na cozinha bebendo vodka direta da garrafa. Ela parecia triste, desamparada e com raiva.

- Está tudo bem? – perguntei e me aproximei dela. Mantive uma distância segura e respeitosa para o espaço pessoal da garota. Pelo visto, a atitude errônea de Hiroshi a magoou mais do que eu pensava. 

- Meu pai me tratou como se eu fosse uma mercadoria! Eu estou com tanta vergonha – ela bebeu mais um gole – eu faço medicina, provei que sou capaz e autossuficiente. Apesar de tudo que já fiz, ele ainda teme em agir por trás das minhas costas. Um investidor? Um alfa? Sério isso?

Aproximei-me de Sakura e retirei a garrafa da mão dela.

- Se continuar assim, irá se arrepender amanhã do que poderá fazer – afirmei com a voz mais rouca. Ela deve entender que beber álcool quando está emotiva não é uma decisão sábia, principalmente quando há muita gente importante ao redor como expectador.

- Então vamos beber juntos bem longe daqui, o que acha? – ela perguntou com a voz demonstrando sinais de embriaguez. Cogitei no pedido, porém rapidamente neguei quando a razão respondeu por mim. Seria um absurdo aceitar a proposta de Sakura – então tudo bem. Agradeço sua preocupação. Eu sei quando devo parar.

Ela pegou a garrafa da minha mão e se afastou.

- Sakura, não deixe que seu pai abale você.

Ela parou de andar e se virou na minha direção com a mão na cintura. 

- E o que você sabe sobre mim e o meu pai? – ela rebateu com sarcasmo. Estreitei os olhos diante do desaforo em suas palavras. Voltei a repetir mentalmente que nada relacionado a ela é da minha conta.

- Tem razão.

Dei as costas a Sakura e já estava preparado para ir embora. Realmente não há nada aqui para mim. Parei  de andar quando senti uma mão segurando o meu braço. 

- O qu.. 

Fui interrompido pelos lábios quentes de Sakura Haruno. 

A primeira coisa que veio à minha mente foi a dedução que os lábios dela são doces e, depois, me questionei como uma pessoa que detesta coisas doces desde a infância conseguiu achar o paraíso naqueles lábios que pareciam provocar o meu descontrole? 

Fiquei por longos segundos encarando os olhos verdes de Sakura que me encaravam de volta. Não caiu a ficha que ela estava colando seus lábios nos meus em uma forma de selinho singelo. No momento que raciocinei o que estava acontecendo, afastei-me com um semblante confuso. 

- Sakura.

- Desculpe-me! Eu agi na impulsividade - Sakura falou rapidamente. 

Ela pareceu recobrar os pensamentos e se afastou no mesmo momento, correndo para longe de mim. Minha vontade era de ir atrás dela, no entanto, não devo sucumbir aos meus anseios e desejos. Eu posso não parar mais.

Toquei os meus lábios. O gosto dela ainda estava vivo em minha boca. Não me surpreendi quando fechei os olhos e a única coisa que veio na minha cabeça foi a vontade de continuar o simples gesto que ela mesma iniciou e terminou em poucos segundos.

Procurei por alguém que pudesse ter visto o pequeno acontecimento. Não havia ninguém. Baguncei o meu cabelo. O que há comigo ao ponto de permitir um ato simples que poderia acabar com tudo o que construí com bastante esforço?

Eu não serei Sasuke Uchiha, o alfa que se envolveu com a filha ômega do seu sócio.

Entretanto, por que sinto que não estou confiante com minha afirmação que deveria ser indubitável, mas mostra-se como uma certeza marcada por imperfeições que pode ser facilmente quebrada por olhos verdes intrigantes e lábios tentadores?


Notas Finais


Perdoem os erros. Esse capítulo eu me superei no tamanho. Irruuuuu

Eu tô inspirada eu

Sasuke negando o desejo, pq quando ele aceitar para si próprio, a treta vai se formar ♡

Até o próximo, xuxus

Sasuke atencioso é tudo pra mim


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