1. Spirit Fanfics >
  2. More than a Simple Conection >
  3. Perder

História More than a Simple Conection - Perder


Escrita por: MrsKah

Notas do Autor


Oi amoreeees, eu espero MUITO que vocês gostem dessa capítulo, porque eu particularmente AMEI escrever e ler depois, eu consigo dizer fácil que até agora, ele é um dos capítulos que eu mais questão, se não, o que eu mais gosto até agora.

AVISO IMPORTANTE: Esse capítulo pode ter algumas questões psicológicas sensíveis para alguns.

Enfim, chega de falácias, espero que se divirtam e boa leitura.

Capítulo 19 - Perder


    Ravena retornou ao navio com um mau humor considerável, sentia sua cabeça latejando, mas não sabia exatamente se era por causa de toda a situação estressante que a tempestade lhe trouxe ou por causa de uma queda que certamente seria fatal para qualquer ser humano, talvez os dois. Agradeceu com um aceno de cabeça quando Erasto jogou a escada para que pudesse subir de volta e colocou seu capuz, subindo as escada até que chegasse no topo, soltando um longo e pesado suspiro, agora era um ótimo momento para ficar trancada na cabine, se não tivesse arrombado a porta. Olhou um pouco ao redor, Jeremy estava sendo cuidado por Viktor, estava com marcas intensas de cordas ao redor do corpo, alguns cortes aqui ou ali, mas nada extremamente grave, mesmo que o maior insistisse em agir como se fosse a pior situação de todas.

    Entrou na cabine, tudo estava revirado e fora do lugar, algumas coisas destruídas ou molhadas, além de todos os tesouros de Logan estarem espalhados por todo o cômodo, seria um longo dia arrumando todo o Quimera, mas queria trocar de roupa primeiro, na verdade, queria tomar um bom banho, o mais caprichado de todos que poderia tomar, mas não era como se tivesse o aval do ilustre capitão para procurar algum lugar em que pudesse fazê-lo. No final, apenas xingou baixo todos os palavrões que queria e se dirigiu ao armário, onde estavam as suas poucas coisas para que pudesse colocar outro vestido. Por sorte nada ali dentro havia molhado.

 

    Kori se aproximou da cabine, batendo no batente de madeira para anunciar que estava entrando e, procurou pela amiga, não sendo difícil ver apenas as suas pernas atrás das portas do armário; sorriu na sua direção quando a mesma colocou a cabeça para trás para ter certeza de quem era, acenou para ela se aproximou, vendo-a trocar o vestido sujo por um vestido bordô simples.







 

    — Quer ajuda? — Indagou ao vê-la pegar o espartilho e o colocando ao contrário para que pudesse amarrá-lo.

 

    — … sim. — Sua voz era monótona e um pouco fria. A rosada estendeu a mão para pegar o espartilho e então colocou-se atrás do seu corpo pequeno, ajustando a peça da forma certa e puxou as cordas para que ficasse justo, mas não tão apertado e, amarrou com facilidade.

 

    — Você está bem?

 

    — Sim.

 

    — A tempestade fez um estrago enorme.

 

    — Sim.

 

    — … você não quer conversar agora, não é?

 

    — Exato.

 

    — Está bem. Vou ficar quieta… — Suspirou, pareciam ter regressado até a estaca zero, mas compreendia que foi uma noite turbulenta demais para todo mundo, também estava mais desanimada. — … Posso ficar com você?

 

    — Por quê?

 

    — Dick está de mau humor por causa da pancada na cabeça e, da ressaca.

 

    — Também estou de mau humor.

 

    — Eu sei, mas uma companhia feminina é melhor que qualquer homem irritado. — A menor suspirou com pesar, pegando suas roupas sujas e as dobrando para guardar em outra parte do armário que estivesse vazia, as lavaria quando pudesse.

 

    — Está bem.







 

    O silêncio reinou dentro da cabine após o final do diálogo de ambas, que mutuamente começaram a arrumar a cabine sem ser necessário um acordo para tal; vez ou outra a maior perguntava onde deveria ser colocado alguma coisa, mas não era algo que deixasse Ravena necessariamente incomodada por conta da quebra de silêncio, na verdade, gostava um pouco que perguntasse, dessa forma nada estaria fora do lugar ou arrumado de um jeito que não gostasse, ou que fizesse Logan reclamar na sua orelha.

    Retornaram para o convés uma hora depois, Jeremy e Tristan arrumavam as cordas e as velas com familiaridade, conversando entre si sobre algo que não se era possível ser escutado de lá de cima; a maior parte dos destroços já havia sido jogada fora e faltava somente consertar as partes do navio que haviam se quebrado, contudo, por causa de Logan, parecia que qualquer mísera madeira fora do lugar fosse o fim do mundo.







 

    — Ah, o meu navio…. — Murmurou com a expressão triste de quem perdia um ente querido. Andou até a porta, a tocando com pesar. — A minha cabine… argh, seria um trabalho a menos se alguém não tivesse feito tanta questão de quebrar. — O seu “alguém” possuía ênfase, querendo que a arroxeada se sentisse culpada pelo seu ato, mas a realidade era que não dava a mínima, achava bem feito.

 

    — Vai começar… — Resmungou num revirar de olhos, o vendo andar até a beirada, acariciando o casco como quem tentava amenizar a dor do machucado de uma criança. “Que dramático…” pensava a menor.

 

    — Oh… como uma mulher pode fazer tanto estrago…? — Balbuciou em meio ao carinho. Se ergueu, olhando para os homens que estavam livres e falou mais claramente: — Muito bem, vou precisar do meu formão, a plaina e cem metros cúbicos de madeira. 

 

    — Ouviram o capitão, achem alguns troncos e andem logo, vamos ficar apenas alguns minutos, quem se perder, fica para trás. — Viktor disse mais alto e com autoridade. Os bucaneiros assentiram, descendo ao porão para pegar o que lhe foi pedido e os equipamentos para que conseguissem pegar a madeira. Garfield andou até a pilastra, que julgava ser a parte mais danificada de todas e a abraçou miseravelmente, balbuciando as suas lamúrias.

 

    — Argh, por Azar… — A arroxeada revirou os olhos, estava impaciente e queria sair daquele antro. Tinha perguntado à Viktor o que eles normalmente faziam quando o navio acabava ficando danificado em alto mar e ele respondeu que seiva o deixava perfeito, mesmo que ficassem meses sem conseguir restaurá-lo totalmente. — Com um pouco de seiva ele vai ficar novinho em folha. — Se aproximou de um balde que julgava ter sido usado para tirar a água do porão, se juntando aos outros para sair do navio.

 

    — Quando eu quiser o seu conselho, eu lhe… — Parou de falar ao notar que ela estava indo embora, largando a peça de madeira para andar atrás dela. — Espera aí, onde é que você pensa que vai? — Ela o ignorou totalmente, descendo pela rampa recém colocada sem nem ao menos olhar para trás, seu capuz caindo para trás pelos passos firmes — Humph, muito bem… Pelo menos leve alguém com vo…

 

    — Senhorita, Ravena, gostaria de companhia? — Cálico se aproximou, lhe ajudando a descer a rampa.

 

    — Eu também posso acompanhá-la se desejar. — Matias se colocou ao seu lado.

 

    — Sim, eu também posso ir. — Flynn ofereceu-lhe a mão para guiá-la. O capitão franziu as sobrancelhas, incomodado com aquilo, como eles estavam tão rendidos assim? Não era como se ela tivesse feito grande coisa, e a madeira que havia mandado pegarem?!

 

    — … Obrigada, rapazes. — Se esforçou para seu tom ser um pouco menos frígido e, apesar de ficar intimidada com o toque, conseguia sentir claramente a irritação crescente vinda do capitão, tiraria proveito disso. — Ah, como é bom ver que alguns homens não se esqueceram das boas maneiras. — Passou a andar com o grande grupo para dentro da floresta.

 

    — Uh… “Boas maneiras.” — A imitou em forma de zombaria, revirando os olhos e mantendo a expressão descontente enquanto a olhava ir embora, sendo seguida por Jeremy segundos depois, por que todo mundo gostava dela? Foi quando viu Viktor também se aprontar para descer. — Vai com calma. — O olhou com repreensão.

 

    — Sabe que ela está certa. — Colocou o balde que segurava no chão. — A seiva é perfeita para o… — O capitão lhe interrompeu, erguendo a mão para que ficasse quieto.

 

    — Olha, não sai do navio. — Suspirou, pulando o parapeito e caindo em pé na areia, seguindo o grupo.







 

    Andava a passos largos para não ficar tão para trás, se perguntava por que ela estava tão irritada desse jeito, não havia perdido nada, nem ao menos se machucado, além de que o que machucou foi aquele pulso de novo, que se curou inteiro como se não fosse nada! Era tudo drama, no final, era apenas mais uma das frescuras que ela tinha! Não se machucava, não tinha bens materiais para ficar triste se fossem danificados ou perdidos, ninguém havia se ferido, pelo menos ninguém que ela se importasse, com certeza não se importava com ninguém, para ser sincero. Bufou quando escutou os burburinhos dos rapazes conversando com ela, se oferecendo para carregar o balde ou para segurar sua capa, visto que o sol começava a ficar cada vez mais quente para que continuasse usando aquela coisa. Quem se oferecia para levar a capa de alguém? Aqueles animais estavam desesperados, só podia ser.







 

    — Qual é, Ravena! — A chamou, não estava gostando daquela liberdade imposta por ela mesma, pelo menos que ficasse por perto para ter certeza de que não aconteceria nada. — O que você quer ouvir? Um obrigado, de novo? — Abriu os braços, fazendo uma reverência de qualquer jeito enquanto andava. — Obrigado. É isso o que você quer, não é? — Deu uma corrida rápida, se aproximando mais do pequeno grupo, todavia, não perto demais.

 

    — Só estou querendo reparar o navio. — Falou dando de ombros, se aproximando de uma árvore que tinha um filete de seiva escorrendo pelo tronco. — Se eu quebro alguma coisa, eu mesma conserto. — Analisou a seiva com mais afinco, tateando o corpo em busca da adaga que tinha, não a encontrando, talvez tenha esquecido na cabine. Ergueu a mão no ar, como se esperasse receber alguma coisa. — Ah… faca, por favor?

 

    — Ah, tá bom, como se eu fosse te dar outra arma. — Cruzou os braços, mas sua expressão se tornou incrédula ao ver todos os seus homens, até mesmo Jeremy, oferecendo as suas mais diversas armas, por que Flynn estava oferecendo um sabre inteiro?!

 

    — Obrigada, Cálico. — Se esforçou para dar um sorriso na sua direção, fazendo o possível para ser simpática, pegando a adaga que o mesmo oferecia, tentando ignorar as outras expressões tristes feitas por quem não teve sua arma pega.

 

    — Fique à vontade, senhorita Ravena. — Sorriu vitorioso sobre os outros, se aproximando do capitão com os braços cruzados e o sorriso convencido no rosto. — Garfield, deveria ser mais cavalheiro… Hehehe. — Riu, vendo o esverdeado fechar os olhos enquanto estava com a expressão ainda impaciente, porém, seu riso fora calado ao receber com força um belo de um soco certeiro em seu maxilar, tropeçando numa pedra alta semicoberta pela terra e caindo no chão. 

 

    — Ah… que ótimo… — Resmungou enquanto chegava mais perto. — Agora eu estou recebendo aulas de etiqueta do Cálico. — Revirou os olhos, dando uma boa encarada nos outros homens.

 

    — Bom, ela salvou o navio, capitão… de novo. — Matias falava um pouco mais positivo, querendo amenizar o mau humor do líder.

 

    — Ora, obrigada, Matias. — Se virou, se esforçando para sorrir na direção do citado e então voltou sua atenção para a árvore, golpeando o tronco com força para que fizesse um corte suficientemente fundo. Afastou a lâmina, colocando o balde logo abaixo da seiva que escorria com rapidez.

 

    — E agora está ajudando a consertá-lo. — Cálico falava enquanto se levantava do chão e massageava o maxilar, ficaria com hematoma, com certeza.

 

    — E ela leva muito jeito! — Flynn comentou mais empolgado.

 

    — E é valente. — Jeremy acrescentou, estava internamente se divertindo ao ver Garfield ficando sem paciência. Era possível ver a raiva crescente no seu rosto e as mãos massageando os cabelos era apenas a certeza de que estava furioso.

 

    — ESSA… — Encheu a boca para falar, mas controlou a palavra “bruxa”. — GAROTA não sabe nem consertar uma unha quebrada! — Bufou, dando as costas, disposto a voltar para o navio. Quer saber? Tanto faz, ela tinha toda a tripulação aos seus pés, de qualquer jeito, pensou ele. A arroxeada por sua vez, bufou, se virando para trás com indignação enquanto segurava o balde agora cheio de seiva; como ele podia falar uma coisa dessas? Havia salvo a vida da tripulação e o navio duas vezes, além de morar sozinha por anos naquela ilha, ele achava que tinha construído aquela cabana como?

 

    — Argh… — Olhou na direção dele, que por sua vez, havia dado meia volta, apenas para escutar o que ela tinha a dizer. — Sinceramente, você é o homem mais teimoso e grosseiro que eu já conheci. — Revirou os olhos.

 

    — Ei, moça, eu estou vendo todos esses moleques chupadores de pau que estão à sua volta. — Sorriu de canto, um sorriso sarcástico e convencido enquanto apontava com o indicador para si mesmo. — Eu sou o único homem que já conheceu. — Riu maldoso quando viu a surpresa de todos com a sua resposta, dando as costas despreocupadamente por ter ganho a discussão. Ela puxou todo o ar que tinha em seus pulmões, sentia a raiva gritando na parte mais interna do seu peito e, sem que pudesse pensar com muita clareza, fez a primeira coisa que lhe veio à mente, arremessou 3 o balde diretamente na cabeça do pirata, sorrindo convencida ao vê-lo completamente sujo de seiva.

 

    — Ugh… — Matias balbuciou, mas tinha um pequeno sorriso nos lábios, aquele balde tinha doído, com certeza. Garfield virou-se lentamente para trás novamente, tendo o vislumbre da imagem de Ravena com os braços cruzados, mas a expressão e a pose confiante por causa do seu ato aparentemente tão incrível. Acabou abrindo um sorriso na sua direção, passando a língua pela parte interior da bochecha enquanto ia se abaixando no chão, começando a juntar lama no meio das suas mãos.

 

    — Não. — Falou enquanto via a massa de lama ficando maior no meio das mãos dele. — Não… Não. Não! — A massa espessa de lama voou diretamente no seu rosto, sendo um impulso forte o suficiente para que caísse sentada no chão. Seu corpo formigava de raiva, o mataria, o assassinaria ali mesmo. Todos olhavam pasmos para o capitão, alguns gesticulando com os lábios que deveriam correr, outros apenas completamente chocados no que estavam assistindo.

 

    — … cinco na Ravena… — Jeremy sussurrou próxima à orelha de Cálico, que precisou levar a mão para perto da boca e abafar o seu riso. A arroxeada se levantou limpando o rosto, tentando não pensar muito que o seu vestido novo e recém colocado já estava imundo de lama.

 

    — Seu egoísta… — Falava entre dentes, dando passos lentos na direção do capitão enquanto ia tirando o resto de lama que tinha em seu rosto.

 

    — Fresca. — Rebateu enquanto pegava de volta o seu chapéu, o balançando para tirar a seiva do mesmo e o colocando, a olhando por cima conforme igualmente andava na sua direção.

 

    — Abusado… — Seus olhos faiscaram em magia por alguns segundos, se abaixando para pegar a primeira coisa que estava na sua frente e pudesse o agredir com aquilo, sua arma sendo um coco seco e velho. — Pretensioso…! 

 

    — Folgada! — Ergueu o dedo o indicador, querendo a proibir de jogar aquele coco, mas teve que rapidamente desviar para o lado quando o viu ser jogado na sua direção.

 

    — Exibido! Metido!

 

    — Arrogante! — Sorriu sarcástico quando desviou, dando um passo na sua direção. Ela jogou qualquer outra coisa, começando a pegar absolutamente tudo ao seu alcance e jogando na sua direção enquanto continuava falando, mas não sendo o suficiente para amenizar o seu ódio, visto que novamente aquele sorriso maldito estava naquela cara verde enquanto desviava de tudo o que arremessava.


 

    — Traidor! Ingrato! Impossível! INSUPORTÁVEL! — Jogou por último, qualquer outra fruta que encontrou, enfim parando na sua frente, o vendo estufar o peito na sua direção.

 

    — Pelo menos eu não sou REPRIMIDO!

 

    — REPRIMIDA?! — Repetiu com incredulidade, avançando na sua direção ao escutar aquele absurdo, seus rostos estando a centímetros de distância, suas respirações pesadas chocando-se contra a pele um do outro. Ergueu o dedo indicador na cara dele. — Eu te mostro quem é reprimida… — Falou em tom de ameaça. As algemas brilharam nos pulsos de ambos, o segundo par de olhos apareceu no seu rosto enquanto os mesmos brilhavam num vermelho escarlate intenso, os tentáculos negros de magia saíram por debaixo da sua capa, fazendo o maior recuar alguns passos, estava disposta à estripá-lo nesse exato momento, até que vários gritos em uníssono fossem escutados por todos, tirando toda a atenção da briga.

 

    — Είναι αυτή! — Uma voz masculina, mas desconhecida falou alto no meio das árvores. Aos poucos, nativos segurando arco  e flecha e lanças foram saindo de seus esconderijos, falando numa língua que todos desconheciam, mas eram visivelmente hostis.

 

    A empata retornou ao normal em poucos segundos, olhando mais assustada para as pessoas que se aproximavam apontando suas armas, sua raiva sendo transformada em ansiedade; analisou as pinturas em seus corpos, os desenhos na pele variando entre preto, vermelho e branco, os acessórios com penas e algumas folhas não lhe eram totalmente desconhecidas, na verdade, tinha quase certeza de que tudo lhe era muito familiar.

 

    — ΠΙΑΣΕ ΤΟΝ ΔΑΙΜΟΝΑ — Conhecia aquela última palavra, sabia que significava “demônio”, foi então, que teve um lapso de memória que lhe fora claro. Azar havia buscado as bençãos de outros povos vindos de lugares incrivelmente distantes, para que pudessem dar proteção e para que fosse útil contra Trigon, os amuletos que lhe foram presenteados sempre estavam pendurados perto de seu quarto. Tinham penas e folhas das mesmas cores e os mesmos desenhos. Estava em perigo. Azar havia comentado que não eram povos muito amigáveis e que tratavam a maior parte de seus problemas com muito sangue. Precisava fugir.

 

    — O que fazemos, capitão?! — Flynn perguntou um pouco desesperado, segurando seu sabre na frente do corpo.

 

    — O que você ‘tá esperando?! Uma flecha na testa?! CORRE CARALHO! — Jeremy respondeu já estando há alguns metros de distância. Ravena e Garfield se entreolharam por milésimos e correram de volta para o navio logo em seguida, esquecendo-se imediatamente da discussão que tiveram pouco tempo atrás.

 

    — Agora era uma boa hora para você virar aquela coisa e tentar matar eles! — Gritou, escutando o som da corda de um arco ser puxada e instintivamente tocou as costas da arroxeada, dando um impulso para que corresse mais rápido, vendo a flecha parar alguns centímetros de distância do seu calcanhar, no chão.

 

    — Não posso! Minha magia não funciona!

 

    — Como assim?! Isso é praticamente uma emergência! — Tropeçou numa pedra, mas conseguiu não cair por ter a ajuda da menor para conseguir lhe dar o equilíbrio de volta.

 

    — Aparentemente você não considera que seja uma emergência de verdade! Era só você tirar essas malditas algemas! — Ergueu o braço, tentando abrir um portal, mas também não acontecia nada, nada além do brilhar das suas arquinimigas.

 

    — Você quer falar disso de novo, agora?! — Arfou um pouco sem fôlego, estava inconformado que não tinha nem algumas horas de descanso de tantas emoções de uma vez, qual seria a próxima? Um ataque cardíaco? Conseguia ver o sol vindo da praia através das árvores que marcavam o fim da densa floresta da ilha, porém, talvez por desespero de sair do alcance daquelas flechas e lanças, não reparou que havia uma corda suspensa perto do chão, sentindo quando seu pé passou por ela. 

 

    — Cuidado! — A moça instintivamente reagiu ao ver um grande buraco abrir-se subitamente no chão, segurando o pulso do mais alto ao saltar com força, tendo a sorte dos seus poderes obedecerem por poucos segundos para que conseguissem voar pelo menos por míseros três metros, infelizmente ainda tendo a queda da ladeira de areia. Ele, desesperado que caísse sobre ela, rolou para o lado, não percebendo que ainda estavam unidos por causa da sua mão no seu pulso e, por causa disso, resultando que um acabasse rolando por cima do outro, caindo desnorteados juntos no chão da praia.

 

    — Ai… essa doeu. — Comentou ainda zonzo, piscando algumas vezes até que percebesse a empata em cima do seu corpo. Ela massageou a cabeça, sentindo-a dolorida, mas acabou ficando perdida ao encontrar os olhos verdes cintilantes do capitão, o olhando por longos segundos até que o som da corrida desesperada das outras pessoas os lembrasse da situação atual. Levantaram-se depressa, voltando a correr. — VIKTOR! VIKTOR! — Gritou o mais alto que pôde.

 

    — ... Aquele é o amigo Gar? — Perguntou Kori, tentando ter certeza de que não o estava confundindo com alguma árvore; surpreendeu-se ao ver a amiga bem ao seu lado, ambos estavam correndo juntos, mesmo que ele ainda pudesse correr mais rápido se quisesse. Viktor olhou na direção em que a mesma apontava, arqueando uma sobrancelha em ver todo mundo correndo, até conseguir ver todos os nativos saindo de dentro da mata, os perseguindo.

 

    — VIKTOR!!!! VIKTOR SEU MISERÁVEL FAZ ALGUMA COISA! — Sua voz falhou ao final da sua frase, precisando respirar fundo para recuperar o fôlego, por que o navio estava tão longe? Parecia mais perto quando desembarcou.

 

    De repente, uma enorme lança é atirada com precisão na direção da barra da saia do vestido bordô que Ravena usava, conseguindo prender a capa e o vestido fincados na areia, lhe fazendo cair com força no chão; Garfield olhou para trás com pressa, inevitavelmente imaginando muito claramente a lança atravessando o dorso dela, um frio na espinha gelou totalmente o seu corpo, mas passou logo que a viu intacta. Ela olhou desesperada para os lados, os homem que estavam atrás passavam velozes, o quão perto os nativos estavam? Seu vestido também não se soltava da lança fincada no chão, talvez devesse cortá-lo? O maior aproximou-se com rapidez, precisando usar uma força maior do que imaginava para conseguir soltar a lança e a empunhar, a atirando com precisão num dos arqueiros que já estava com a flecha empunhada para atirar. O que eles queriam? Não entendia absolutamente nada do que diziam.

A arroxeada levantou-se com pressa, puxando-o pelo pulso de novo para que voltassem a correr, entretanto, antes que pudessem dar mais que cinco passos, uma boladeira fora capaz de prender-se nas pernas dele ao ser atirada, o derrubando com força na areia. Uma corda laçou o pescoço da arroxeada, apertando com força ao ser puxada, sentiu seu corpo fazer um movimento de ricochete antes de cair para trás, talvez tivesse sorte de morrer antes que eles lhe capturem? Não poderia ser capturada duas vezes ao mesmo tempo.

 

    — ΔΕΝ ΕΧΕΙΣ ΔΥΝΑΜΗ ΕΔΩ — Um dos nativos brandiu em alto e bom tom, erguendo um cajado para cima e fazendo um movimento preciso no ar. À princípio, não se pôde ver nada, contudo, Kori, que antes já alçava vôo para conseguir ajudar, enquanto canalizava suas esferas entre as mãos, agora caía com força no convés, não conseguindo mais usar quaisquer outras habilidades. Sabiam como bloquear seus poderes. Eram perigosos

 

    — Porra… caralho, fodeu… — Balbuciou o capitão, respirando fundo, tentando ficar menos ofegante. Seu coração palpitava por causa da corda no pescoço da empata que tinha a cabeça ao lado da sua, seus corpos estavam em direções opostas. Mirou seus olhos lilás, conseguia ler o medo evidente nos mesmos, apenas dessa forma podia perceber o quanto Ravena era indefesa e frágil, o quanto seu semblante ingênuo podia ser tão mais angustiante do que aquela feição demoníaca de olhos vermelhos. O contato fora perdido ao que ela foi arrastada pela corda, viu aos poucos o seu corpo ser puxado até que sumisse do seu campo de visão. Precisava se esforçar para levantar, contudo, alguém imobilizou seus braços atrás das costas e agarrou seu cabelo verde melado de seiva e sujo de areia, puxou com força e o arrastou para perto dos outros nativos.

 

    — Πες το όνομά σου, δαίμονα. — O líder encarava a menor de perto, mas a mesma forçou-se a ficar neutra, repetindo várias vezes seu mantra mentalmente enquanto inspirava e expirava profundamente. — Πες το όνομά σου! — O tapa arrebatador em seu rosto lhe deixou tonta e desnorteada, mas engoliu em seco, se mantendo em silêncio.

 

    — NÃO TOCA NELA! — O esverdeado rosnou com raiva, tentando se soltar para poder golpear o líder, mas outros lhe seguraram, recebendo um soco no rosto e outro puxão em seu cabelo. A dor o deixava irritado. — Selvagens!

 

    — Hm… Τι είδους δαίμονας είσαι? — O homem com o cajado falou intrigado, analisando brevemente a aparência dele.

 

    — δαίμονας ή όχι, σκοτώστε τον. — O líder fora frio em suas palavras. Ravena não conhecia quase nada da língua, mas “demônio”, “morte” e dentre outras palavras mórbidas, reconhecia como facilidade. Se perguntava se ambos morreriam ou se matariam Logan primeiro, tinha medo de morrer, mas por um lado, não se importava de morrer, talvez se morresse, Trigon nunca teria uma forma de escapar, talvez se morresse, fosse melhor para todo mundo. Porém, por algum motivo irritante, a ideia de Logan morrer por sua culpa, era pior. Não que, não desejasse matá-lo, mas porque achava injusto que morresse tentando lhe proteger, por mais que também lhe odiasse. Sem ter como pensar por muito mais tempo, buscou em sua mente as mínimas memórias que tinha sobre o conhecimento sobre as tribos que Azar visitou, a única coisa que sabia não servia de nada agora. Respirou fundo, tinha que tentar qualquer coisa.

 

    — Moriar, si moritur. — Ela falou alto e claro, olhando com seriedade para o líder. Talvez, com sorte, algum deles saberia qual língua era aquela, Azar dizia que era universal, muito antigamente. Para sua surpresa, o shaman lhe olhou com mais interesse, tirando a sua atenção do rapaz verde para se aproximar.

 

    — Diaboli lingua loquimini. — Ele se abaixou, erguia a mão sobre sua testa e fechava os olhos, era um ritual peculiar, mas teve esperança que rezar mentalmente lhe protegesse de qualquer maldição que pudesse lhe jogar.

 

    — Et tu quare loqueris lingua diabolica? — Ele surpreendeu-se com a pergunta, mas ficou em silêncio, também pouco lhe importava, talvez se eles vissem as algemas, poderiam tirá-las. — Habeo signum diaboli in articulo meo. — Intrigado com suas palavras, olhou para seus companheiros ao seu redor, explicando rapidamente o que conversavam. O silêncio era incômodo. Garfield e Ravena apenas pensavam porquê a ajuda não chegava de uma vez, estavam em vantagem numérica, de qualquer jeito. 

 

    O shaman abaixou-se próximo de suas mãos amarradas, olhou com atenção para seu pulso, chegando a sussurrar um feitiço, que revelou quase imediatamente as algemas laranjas e brilhantes que ligavam os dois; alguns assustaram-se e questionavam-o, outros ficavam quietos e mais atentos.

 

    — Δεν θα λειτουργήσει αν πεθάνει, χρειαζόμαστε την καρδιά της να χτυπά ακόμα. — Falou ao seu líder.

 

    — Φροντίστε να μην μας κυνηγήσετε. — O caçador que segurava o rapaz, olhou com malícia para os seus pés verdes, e, sem hesitar nem por um único segundo, pisou com força em seu calcanhar. O urro de dor foi alto, alto o suficiente para assustar os que estavam no navio, sendo impedidos de sair por culpa dos arqueiros que miravam em suas testas. — Έχουμε ένα τελετουργικό να ετοιμάσουμε.  Φέρε τον Δαίμονας.







 

    O caçador chutou o corpo do rapaz para o lado, os que seguravam a empata a obrigaram a se levantar e começaram a levá-la de volta para a selva densa, sendo acompanhados pelo seu líder e o shaman, antes de finalmente desaparecerem completamente com a única coisa que Garfield não podia perder: Ravena. Ele não sabia se gemia de dor por causa do tornozelo, ou se porque tentava gritar o seu nome, mas não conseguia.


Notas Finais


Espero que tenham gostado! Me perdoem os erros, às vezes passa mesmo com revisão

GENTEEEEE nesse cap tiveram muitas coisas né? Mas assim, a minha parte preferida foram eles trocando farpas, e a de vocês?


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...