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História Mr Romance-Hinny - A dura realidade


Escrita por: LiviaWsleyy

Capítulo 22 - A dura realidade



— Bom, essas são todas as notícias de hoje, Nan — digo, fechando o jornal. — Caras grandes jogaram contra caras grandes em esportes envolvendo bolas.

Como eu sei que isso te entedia, vou resumir dizendo que alguém perdeu, alguém ganhou e várias pessoas ficaram felizes ou tristes por causa disso.

Termino de dobrar o jornal e o coloco no chão. Não há espaço na mesinha dela desde que a tiraram da UTI e a transferiram para um quarto, há alguns dias atrás. Se algum dia eu duvidei de que outras pessoas amam Nan tanto quanto eu e Ash, a multidão de vasos cobrindo cada canto vazio do quarto prova que eu estava errada.

Há até um buquê de rosas do Derek. Quando elas chegaram, me lembraram do quanto eu não estou ansiosa para dizer a ele que vou arquivar o artigo. Depois de ele ter sido gentil me dando mais tempo, parece até uma traição.

Pego meu celular e olho para a mensagem que ele me mandou mais cedo:

Ei, Weasley. Espero que sua avó esteja bem. Ansioso para ver seu artigo TERMINADO quando eu chegar. Não me decepcione. Eu espero grandes coisas de você. Nós precisamos disso.

Eu sei que a Pulse tem passado por dificuldades financeiras e que meu artigo geraria uma renda muito necessária, então pensar nas más notícias que tenho para dar me faz suar frio.

Ainda assim, isso precisa ser feito. Que escolha eu tenho?

Deixo meu celular de lado e engulo minha culpa enquanto espalho creme nos braços de Nan.

— Em outras notícias da semana, Asha ligou ontem pra me dizer que conheceu um cara na França. Ela vai usar um tempo das férias dela pra ficar por lá com ele antes de voltar pra casa, então, ufa.

Mesmo que Nan permaneça completamente imóvel, eu posso sentir seu julgamento pairando no ar.

— Nan, você não ouviu como ela estava feliz. Se eu estragasse a euforia dela com notícias trágicas sobre você, seria como esmagar uma borboleta com uma raquete de tênis. Além disso, ela ficou tão feliz de ouvir sobre Harry e eu que gritou “Eu sabia!” pelo menos umas cinco vezes. Eu simplesmente não queria que ela mudasse de humor e começasse a gritar comigo. Ela vai ter tempo suficiente pra isso quando voltar.

Quando eu termino e passo o excesso de creme nos meus próprios braços, meu telefone vibra com uma mensagem de Harry.

A caminho. Até daqui a pouco.

Meu corpo inteiro se acende com antecipação. Como passei os últimos dois dias ao lado de Nan e Harry trabalhou durante a noite, passamos pouquíssimo tempo juntos, então estou implorando por uma boa e dura dose de sr. Potter. Nós vamos jantar hoje e, se Deus existe, ficar sem roupa. Sendo sincera, a comida não é a estrela da noite. Eu passaria até fome para ter Harry entre as minhas pernas por mais tempo.

Dou uma checada rápida na minha aparência no espelho do banheiro, então pego a escova de cabelos de Nan para arrumá-la para a nossa visita. Ela adora tranças hippies e, assim que eu arrumo seu cabelo de um jeito complexo, ela se parece mais consigo mesma.

— Então — digo, puxando seu cabelo de lado e o desembaraçando. — Estou oficialmente namorando com o Harry faz dois dias, mas... — Eu divido seu cabelo em três e começo a trançar. — Nós já temos um obstáculo enorme. Você pode imaginar namorar um homem que trabalha derretendo calcinhas? Porque eu não vou mentir pra você, é difícil. Eu sei que eu deveria conseguir separar fantasia de realidade, mas, quando a fantasia envolve ele dar uns amassos com outras mulheres regularmente, é difícil. Eu só espero que fique mais fácil de lidar com o tempo, porque senão... — Droga, eu não quero pensar no “senão”. Dói demais.

Enrolo a trança no topo da cabeça dela, prendendo com alguns grampos, então coloco algumas de suas fivelas de margarida preferidas.

— Pronto — digo, me afastando para analisar meu trabalho. — Você é a adolescente idosa mais bonita deste lugar. — Eu me inclino e beijo a testa dela.

— É claro que você diria que um homem tão incrível como Harry vale qualquer quantidade de angústia, não é? — eu digo, me sentando e tomando a mão dela.

— E você provavelmente estaria certa.

Ouço um barulho e, ao olhar para cima, vejo Harry na porta, me observando com um sorriso contemplativo.

— Sobre o que Nan estaria certa?

Meu peito se acende com arrepios, e me pergunto se isso é normal.

— Sobre tudo. Como sempre.

Eu me levanto e seco minhas mãos suadas no meu jeans.

— Olha, Nan. O Harry está aqui. — Só dizer o nome dele faz borboletas levantarem  voo no meu estômago.

Ele sorri.

— É com satisfação que anuncio que Moby e eu assistimos a algumas horas de Animal Planet hoje. Sabe, ele adora ver como os animais comuns vivem.

Harry tem visitado Moby todas as manhãs para que ele não fique deprimido, e Moby gosta dele como um pato gosta de... bom, você sabe.

Ele olha para mim e sacode a cabeça.

— Eu não estou dizendo que você parece ter ficado mais bonita desde a última vez que te vi, mas... — ele inspira profundamente e então solta tudo de uma vez. — Deus, senti saudades.

— Foram quarenta e oito horas.

— E isso são quarenta e oito horas a mais que o necessário. — Ele se aproxima e me puxa para um abraço, e eu já não me contraio mais. Eu retribuo seu abraço com força, deixando Harry absorver um pouco da minha tensão.

Ele se afasta para me olhar.

— Seria falta de respeito te beijar na frente da sua avó?

— Não. Na verdade, o choque de me ver sendo carinhosa com um homem talvez até faça ela acordar. Vai fundo.

Ele me beija e em apenas segundos estamos profundamente entregues à boca um do outro. Senhor, isso é estranho. Sentir tudo isso. Me permitir gostar disso.

Ter um coração tão cheio que parece grande demais para o meu corpo.

Nós nos afastamos assim que uma enfermeira negra com unicórnios no uniforme entra para dar uma olhada em Nan. O nome dela é Shirley, e ela é a minha favorita.

— Não liguem pra mim — ela diz. — Eu nunca acreditei mesmo na história de que vocês eram irmãos.

Harry limpa meu gloss da sua boca e esconde um sorriso. Ele pega outra cadeira e nós nos sentamos ao lado da cama de Nan.

— Então — ele diz enquanto Shirley anota coisas e coloca um medidor de pressão em Nan. — Eu sei que a gente tinha planos pra hoje, mas vou ter que trabalhar.

— Mais um encontro? — pergunto, incapaz de esconder minha decepção. — É o quarto esta semana.

Shirley termina de anotar os sinais vitais de Nan e nos lança um olhar.

— Jesus. Eu vou sair daqui. Vocês dois parecem ter algumas coisas pra resolver.

Não posso dizer que ela está errada.

Quando ela sai, Harry pega minhas mãos.

— Desculpa. Esses encontros são os que cancelei enquanto estava tentando te conquistar. Eu estou tão decepcionado quanto você. — Ele enrosca os dedos nos meus. — As próximas semanas serão infernais, mas depois... eu farei todo o possível pra passarmos mais tempo juntos. Prometo.

Eu me sinto levemente ofendida por saber que um pato vê meu homem mais que eu.

— Eu poderia ir ao loft de manhã. Um despertador especial.

Ele baixa os olhos quando pouso minha mão na sua coxa, e eu quase consigo ouvir o sangue correndo nele.

— Eu adoraria, mas não vai dar. Chego tarde hoje e começo cedo amanhã. Talvez sexta?

Eu me afasto dele. Mesmo com todo o seu talento para a atuação, agora está tão vísivel quanto a ereção na calça dele que ele está escondendo algo. Meu cérebro me diz para abrir logo o jogo e tentar chegar à verdade, mas meu coração sussurra que a verdade é provavelmente a última coisa que eu quero ouvir. Algo está acontecendo com o Harry e, se ele está mantendo em segredo, é porque deve ser algo que vai me machucar.

— O.k. — respondo, fazendo o meu melhor para agir como se a ansiedade não estivesse transformando meu estômago em ácido. — Vou esperar você me ligar. Me avisa quando as coisas se acalmarem.

Ele se levanta e me puxa para ficar de pé, então segura meu rosto com as duas mãos e me beija tão profundamente que eu quase acredito que tudo vai ficar bem.

— Eu te amo — ele diz, me beijando de novo. — Prometo, as coisas ficarão menos loucas em breve. Te vejo em alguns dias.

Ele me abraça por alguns segundos e, com esforço, se afasta, indo em direção à porta.

Quando ele sai, eu suspiro e me sento de novo.

— Eu acho que você teve uma ótima ideia, Nan. Patos são bem menos estressantes que homens.

Quando entro no apartamento de Nannabeth, eu estranho o silêncio.

Normalmente, assim que Moby ouve qualquer barulho de chave, ele vem correndo para ver quem é, mas não vejo pato nenhum.

— Harry? Moby? — eu entro na sala e vejo a bolsa de couro de Harry, mas o apartamento está vazio. Pensando que eles devem estar no terraço, vou para as escadas.

Já se passaram dois dias desde que Harry foi ao hospital, e eu dei uma fugida na esperança de fazer uma surpresa e convencê-lo a almoçar comigo antes que ele desapareça em mais um encontro. É uma loucura que, agora que sou sua namorada oficial, eu o veja menos do que quando ele era só um personagem de uma matéria. Desde quando isso é justo?

Nós nos falamos pelo telefone, claro, mas isso não torna ficar longe mais fácil. Eu só preciso vê-lo por alguns minutos para aquietar minha paranoia natural, que não para de sussurrar que ele ainda pode estar me enrolando. Agora que concordei em cancelar a matéria, parece que ele está voltando a trabalhar normalmente, me mantendo interessada apenas o suficiente para não causar problemas. Eu não acredito de verdade nisso, mas meu lado irracional e desconfiado, sim. Quando olho nos olhos dele, essa parte de mim cala a boca por um tempo. Estar em seus braços também não é ruim.

Ao chegar no terraço, eu me xingo mentalmente por ter deixado meu celular no apartamento, já que a visão que tenho precisa ser registrada para as futuras gerações. Harry está ao lado do laguinho, usando apenas shorts e tênis de corrida, fazendo flexões com Moby sentado na sua bunda. Cada vez que ele desce e sobe de novo, o pato grasna, como se fosse um personal trainer com penas.

 Eu fico onde estou e apenas observo, segurando a risada. Há algo em quão gostoso Harry é, o que, misturado a quão adorável Moby é, faz meu coração, assim como as partes baixas do meu corpo, enlouquecer.

Aprecio meu tempo olhando Harry em toda a sua glória suada e musculosa, enquanto ele faz mais flexões do que me dou ao trabalho de contar. Senhor, esses músculos. Eu nunca havia pensado em quantos lugares para transar existem no terraço de Nannabeth, mas com certeza estou pensando em todos agora. Hoje Harry está coberto de tatuagens, e me pergunto para qual fantasia elas são. Mas então logo paro de me perguntar, porque todas as possibilidades são sexy demais para imaginar, e eu não quero pensar nele jogando toda essa sensualidade para cima de outra pessoa.

Quando Harry termina, ele se levanta devagar, para que Moby possa pular para o chão.

— Muito bem — ele diz, apontando para a piscina. — Três voltas ao redor dela e então você pode nadar. — Moby levanta o rosto e grasna para ele. — Ei, não cometa o crime se não vai pagar a pena, cara. Talvez agora você pense duas vezes antes de derrubar uma caixa inteira de aveia no chão da cozinha. Vamos. Pode ir mexendo essa bundinha emplumada. — Harry começa a correr devagar, e Moby vai desengonçado atrás dele, grasnando com raiva. — Reclamar não ajuda em nada. Vamos. Acelera.

Eu sorrio enquanto eles correm e, quando terminam, eu saio das sombras.

Moby pula no laguinho, espalhando água.

Harry se assusta um pouco quando eu me aproximo, claramente não esperando companhia.

— Ah, oi. — O choque dele se derrete em um sorriso e ele corre para me encontrar. — Eu não esperava te ver aqui. — Ele se inclina e me dá um beijo suave, mas, quando tento algo a mais, ele se afasta. — Confia em mim, você não quer fazer isso. Estou nojento.

Eu chego mais perto e coloco minhas mãos no peito dele.

— Não me importo. Me beija.

O desejo brilha nos olhos dele. Harry pega minha cabeça e a inclina de lado antes de me beijar, lenta e intensamente. Ele não se barbeia há alguns dias, e a aspereza do seu rosto é sexy pra caramba. Ele me inclina para o outro lado e geme contra os meus lábios. Assim que se afasta, ele olha para si mesmo e suspira.

— Viu o que você fez comigo? Um beijo e já estou duro. Nenhuma outra mulher já me causou isso antes.

Olho para baixo e vejo a forma saliente se esticando na frente do shorts.

— Sabe, seria realmente uma pena desperdiçar isso. Eu posso cuidar dele, se você quiser.

Eu o apalpo e Harry geme de novo.

— Você não sabe o quanto eu gostaria, mas preciso tomar banho e me vestir. Eu tenho um encontro no centro em quarenta minutos, então já estou meio atrasado. Você pode ficar aqui com o Moby um pouco?

— Sim, claro. Eu desço pra te dar tchau antes de você sair. — Eu escondo minha decepção e tento não fazer bico enquanto ele corre até a escada e desaparece.

Bom, planos cancelados. Pelo menos ganhei um beijo.

Vou até o laguinho e me agacho perto da borda para retirar algumas folhas da água. Quando olho para Moby, ele olha para a escada e grasna.

— É, cara. Ele abandonou a gente. — Ele grasna de novo. — Bom, ele tem um trabalho importante, que ajuda as pessoas a se sentirem bem com elas mesmas. Eu não deveria ter ciúmes, né? — Moby nada até mim e se esfrega na minha mão. Eu entendo a dica e acaricio a cabeça dele. — Você está com ciúmes também? Graças a Deus. É bom saber que não estou sozinha.

Ele nada por mais alguns minutos, mas continua olhando para a escada.

— O.k., certo. Vamos descer pra vê-lo, vamos lá.

Moby salta para fora do laguinho e se sacode. Eu o pego no colo e o carrego escada abaixo.

Quando voltamos para o apartamento, Harry está de banho tomado e cheirando a algo cítrico e comestível. Eu ligo a TV e coloco Moby em seu lugar favorito do sofá, então observo Harry se arrumar. Ele está usando uma gasta calça jeans preta e botas pretas também, e eu noto seus músculos se contraírem sobre as tatuagens enquanto ele passa uma espécie de gel no cabelo, para deixá-lo caótico e bagunçado.

— Caleb hoje? — pergunto, embora eu deteste a ideia. Ninguém deveria se derreter por causa daquele músico sexy, exceto eu.

— Hum... não. — Ele termina o cabelo e tira uma camiseta preta da mala. — é algo um pouco mais bruto hoje.

Depois que pega a camiseta, ele revira a mala de novo e tira de lá uma jaqueta de couro com Sons of Diablo, ou “filhos do diabo”, bordado nas costas.

— Um motoqueiro?

Ele assente e diz:

— Aham.

Harry coloca suas roupas sujas e produtos de higiene de volta na mala.

— E... como esse cenário funciona?

Ele franze as sobrancelhas enquanto fecha a mala.

— Ah, você sabe. Cara durão que só precisa do amor de uma boa mulher pra domá-lo. — Ele se senta na poltrona preferida de Nan e amarra as botas.

— Essa cliente já conhece esse cenário?

— Não.

— É uma cliente antiga ou uma nova? Ela vai interpretar um papel também?

Ele levanta os olhos para mim e então os baixa de novo para as botas.

— Ginny, eu não acho que conversar sobre o meu trabalho seja útil. Eu sei que é difícil pra você.

— Talvez se eu soubesse mais sobre o que está acontecendo, fosse mais fácil.

Ele se levanta e olha para mim.

— E talvez não. Se você estivesse fazendo isso com outros caras, eu sei muito bem que não iria querer saber de nada. — Ele vai até a cozinha e volta com uma tigela cheia de comida para Moby, deixando-a ao lado do pato. — Não coma tudo de uma vez, o.k.? Tem que durar até a sra. Schott vir te ver amanhã de manhã.

— Harry... — Ele se vira para mim e eu pego a mão dele, tentando esconder como meu estômago está revirado de ansiedade. — Eu posso te garantir que nada do que você me disser vai ser pior do que o que estou imaginando. Você esqueceu que eu tive encontros com você? Eu sei como eles são sensuais.

Ele levanta minha mão e beija o dorso dela.

— Bom, pra começar, meus encontros normais não são nem de longe tão sensuais quanto os que eu tive com você. Nossa química é fora da curva. O de hoje não é grande coisa. Minha cliente vai interpretar a namorada de Dyson, um babaca abusivo. Dyson descobriu que eu gosto dela, então nós brigamos e eu sou romântico com a cliente pelo resto da noite.

— Uhum. — Eu me esgueiro para o lado dele. — Beleza... me deixa provar um pouco desse bad boy sexy. — Eu corro meus dedos pelos músculos fortes do pescoço dele.

— Ginny... — ele tensiona o maxilar. — Eu realmente não acho que isso seja uma boa ideia.

— Por favor? Eu posso te ajudar a entrar no personagem. — Não sei o que é que estou fazendo, mas eu me sinto de fora da vida dele, como se eu estivesse só olhando pela janela, e odeio isso.

Ele examina meu rosto por alguns segundos. Acho que Harry deve ter entendido como estou me sentindo, porque logo em seguida ele me agarra com força pelos ombros e me empurra contra a parede.

— É isso o que você quer? Me ver perder o controle porque não consigo ficar longe de você? É por isso que veio aqui?

A mudança de personalidade é tão repentina que me pega de surpresa, mas, quando eu percebo que ele só está entrando no personagem, tento acompanhar.

— Eu vim aqui pra ficar com você — digo, empurrando o peito dele. — Eu não tenho seu autocontrole. Não posso simplesmente ignorar como me sinto.

A expressão dele se torna dura e incrédula.

— Você acha que eu consigo ignorar como me sinto? Você está de brincadeira? — Ele avalia meu rosto, a raiva desaparecendo enquanto ele me olha. — Me mata não estar com você todo dia... o que eu sinto está estampado na minha cara. É por isso que você não pode vir aqui. Porque todas as pessoas que me veem por aí sabem que estou loucamente apaixonado por você.

Ele segura meu rosto com as duas mãos e me beija, com força e carência. Eu retribuo da mesma forma. Nosso beijo é bruto e acompanhado de barulhos desesperados  porque nós dois sabemos que não poderemos ter a satisfação que queremos agora. A cliente dele está esperando e, diferente de mim, ela pagou pelo prazer da companhia dele.

— Eu não tenho mais tempo — ele diz, me beijando de novo.

— Eu sei. — Ele se afasta e encosta a testa na minha. Estamos os dois ofegantes quando nos olhamos uma última vez.

— Só pra saber — digo, ainda recuperando o fôlego. — Você beija suas clientes assim? — Isso escapa da minha boca antes que eu consiga impedir.

Droga, Ginny. Sua idiota.

Previsivelmente, Harry fica tenso, e parece que um balde de água fria foi jogado sobre nós dois.

Ele dá um passo para trás e ajusta sua ereção, depois coloca as mãos nos quadris e suspira.

— Ginny...

— Desculpa. Não responda. Eu não quero saber.

Ele se vira e pega a mala.

— Eu tenho que ir. Te ligo mais tarde, o.k.?

Eu me encosto na parede, me sentindo tola e mesquinha.

— Claro. Mais tarde.

— Tchau, Moby. — Harry abre a porta e se vira para me olhar. — Só pra você saber, eu não beijo ninguém do jeito que te beijo. Nunca beijei e nunca vou beijar. E, no futuro, acho que seria melhor nós não falarmos sobre o meu trabalho.

Eu faço que sim e ele fecha a porta com gentileza.

Cubro meu rosto com as mãos e grunho de frustração. Bom, isso podia ter sido melhor.

Vou até o sofá e desabo ao lado de Moby, então noto que ele está me observando com olhos apertados.

— Não me julga. Eu sei, tá bom? — Ele continua a me encarar. — Moby, você não tem ideia de como é. Este é meu primeiro relacionamento e, na maioria do tempo, eu não sei lidar com o quanto o amo. Mas a ironia é que, quando estamos juntos, eu não consigo imaginar minha vida sem ele. E, quando estamos separados, parte de mim acha que é melhor assim pra nós dois. E eu não sei se é só a forma como relacionamentos funcionam ou se eu estou ficando louca.

Moby faz um barulho suave e vem se sentar no meu colo. Eu acaricio suas penas e tento relaxar.

— Ele sabe o quanto detesto ter que dividi-lo, Mobão. É por isso que ele não quer conversar sobre isso. Mas é assim que a nossa vida vai ser? Eu guardando a raiva e ele tentando varrer tudo pra debaixo do tapete? — Moby se acomoda no meu braço, e eu não posso acreditar que estou tão desorientada a ponto de pedir conselhos a um pato.

Eu quase sinto falta dos dias em que eu não dava a mínima para Harry Potter.

Eram tempos mais simples.

Termino o último parágrafo de Grandes esperanças e fecho o livro.

— Viu, Nan? É por isso que eu sempre sou legal com mendigos. Nunca se sabe, às vezes um deles pode reconstruir a vida e se tornar um rico muito grato que quer te dar toneladas de dinheiro.

Deixo o livro no chão, em cima da pilha crescente de obras lidas, e bocejo.

Eu dormi aqui nas últimas noites. Pensei que, se não posso ficar com Harry, vou ficar com Nan. Eu só gostaria que, quando contasse a ela como minha vida está dando errado em áreas que eu nem sei como proceder, ela me respondesse.

Talvez assim eu não me sentisse tão perdida.

— Nan — digo e tiro um pouco de cabelo do seu rosto. — Eu não digo isso há alguns dias, mas... você poderia acordar? Eu sinto sua falta. — Minha garganta aperta e meus olhos se enchem de água. — Meu Deus, como eu sinto sua falta. Juro, se você acordasse agora, poderia me dar várias broncas por causa da minha vida amorosa. Na verdade, eu adoraria que você se metesse neste exato momento. — Eu enxugo uma lágrima solitária. — Eu estou com um cara incrível, mas eu tenho essa sensação horrível de que vou perdê-lo e não sei por quê.

Pego a mão dela e, por um breve segundo, eu penso sentir seus dedos apertarem os meus. No entanto, quando eu prendo a respiração para ver se acontece de novo, percebo que devo apenas estar delirando.

Me sentindo frustrada e sensível demais, eu seco meu rosto e agarro o braço dela.

— Por favor, acorda. Por favor. — Eu fecho os olhos para frear as lágrimas.

— Eu tentei viver sem você e descobri que é péssimo. Volta pra mim. Por favor.

Eu rezo em silêncio por um tempo e acho que devo ter cochilado em algum momento, porque sonho com Nan me dizendo o quanto Harry é maravilhoso.

Quando eu acordo, me agarro aos últimos vestígios desse sonho. Eu sinto tanta falta da voz dela que até ouvi-la em minha imaginação me faz sorrir.

— De verdade, Ginny. Provavelmente é só coisa da sua cabeça. Você claramente o ama. Por que está tentando sabotar as coisas antes de sequer tentar?

Meu Deus, isso é tão realista que é assustador.

Abro meus olhos e vejo Nan me encarando, seus olhos azuis e brilhantes.

— Ah, então você está acordada? E eu aqui pensando que você estava fingindo dormir só pra evitar o assunto.

Eu me sento tão rápido que minha cabeça roda.

— Nan?

Ela olha para o próprio braço.

— Ah, graças a Deus. Você estava apoiada aí há tanto tempo que ele dormiu.

Chocada, eu a olho por uns três segundos, imóvel, até que a realidade me atropela como um caminhão. Eu então toco o botão para chamar a enfermeira, ao mesmo tempo em que grito o mais alto que posso.

Nan se encolhe.

— Por favor, Ginny, fala baixo! Você vai acordar até os mortos com esse uivo.

Shirley entra correndo no quarto e, quando vê Nan consciente, o queixo dela cai, desacreditada.

— Você está vendo o mesmo que eu? — sussurro, apavorada com a possibilidade de ainda estar dormindo.

— Ah, sim, querida. — Shirley diz. — Ela definitivamente está acordada. — Outra enfermeira entra e Shirley a manda ligar imediatamente para o médico.

Nan olha de uma para a outra, como se estivéssemos loucas.

— É claro que eu estou acordada e, no mais, estou morta de fome. O que uma garota precisa fazer pra conseguir um sanduíche por aqui?

Uma risada alta e histérica borbulha para fora de mim, e então começo a chorar como um bebê enquanto me jogo sobre o peito de Nannabeth, abraçando-a o mais forte que posso sem machucá-la.

— Ah, querida — ela diz, me dando tapinhas nas costas — Está tudo bem.

Eu só estava brincando sobre o sanduíche. Mas de verdade, eu mataria por um café. E por uma explicação pra esta camisola horrorosa. Eu pareço uma velha.

Uma hora mais tarde, Nan passou por um raio X completo e por outros exames, e a seriedade do que aconteceu finalmente a atinge quando o médico anuncia que seu braço esquerdo está parcialmente paralisado.

— É perfeitamente normal algo assim acontecer depois de uma lesão na cabeça — ele diz —, mas eu não posso garantir que seja reversível.

Nan faz um gesto de desdém com sua mão boa.

— Eu vou ficar bem. Você acha que vou deixar isso me parar? Por favor.

Eu rio, porque, se alguém pode reverter um dano cérebral de nada, é a minha Nan.

— Agora — ela volta a se pronunciar. — Quando posso sair daqui? E não me diga daqui a alguns dias, jovenzinho, porque não vou aceitar. Eu tenho um pato me esperando.

Ele dá uma olhada na minha direção.

— Hum... é normal que pacientes na situação dela fiquem desorientados. Eu  não me preocuparia com pequenas alucinações.

— Ah, não estou preocupada — eu digo. — E isso não é uma alucinação. Ela realmente tem um pato de estimação.

Com um sorriso travesso, Nan se dirige ao médico:

— Agora, sobre aquela alta...

Enquanto Nan briga com ele para poder ir embora, me sinto no sétimo céu.

Ela voltou. Obrigada, Deus!

Pego o celular para ligar para o Harry, mas então lembro que ele está em um encontro, e eu realmente não quero dar essa notícia para a caixa postal. É estranho que não poder compartilhar minha felicidade com ele tire um pouco do brilho dela. Como se nada fosse verdade até eu contar para ele.

— Ginny? — Olho para o lado e vejo Nan me encarando. Aparentemente, ela expulsou o médico do quarto. — Tudo bem, querida?

— Meu Deus, Nan, eu que devia te perguntar isso. Você que estava em coma.

Ela sorri.

— Estou bem. Só de mau humor, porque querem me deixar aqui até o fim da semana. Pobre Moby, deve estar morrendo de preocupação, mesmo com Harry

indo visitá-lo.

Eu vou até ela.

— Como você sabe disso?

— Ah, eu ouvi um monte de coisas nas últimas duas semanas. — Ela aponta a cadeira ao lado da cama. — Eu não acredito que você esperou eu ficar inconsciente pra arranjar um namorado de verdade. Sério, Ginny. Você me deixou de fora de todos os detalhes picantes. Então, caso eu tenha perdido algo, quero que você me conte a história inteira, desde o início e sem esquecer nada. Quero saber tudo sobre seu belo Harry Potter.



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