Alex apoiou a cabeça na mesa de seu escritório, sentindo o peso da enxaqueca intensificar-se a cada minuto. O ambiente ao redor refletia o caos do dia de merda que estava enfrentando. Um dos artigos programados para serem publicados naquela semana apresentava uma discrepância no departamento de verificação. As datas dos artigos foram impressas incorretamente, agora exigindo a retirada de todos os exemplares já distribuídos.
Todos foram convocados para a sala de redação e receberam uma repreensão firme de Sam, algo que Alex já tinha ouvido pelo menos dez vezes. Ela detestava o quanto isso era injusto, um erro cometido por uma pessoa e todos os outros sofriam as consequências. Arthur, o responsável pelo equívoco, passou a manhã inteira desculpando-se incessantemente. Isso levou Alex a suspirar várias vezes, segurando-se para não ser rude e mandá-lo calar a boca. Cometer erros nos detalhes mais importantes era uma das piores coisas que um jornalista poderia fazer.
Seu olhar vagou pelos papéis espalhados, pelos monitores piscando com notificações não lidas e pelo telefone que não parava de tocar. Ela se inclinou para trás na cadeira, sentindo a rigidez em seus ombros enquanto esfregava suas têmporas. Duas longas horas se passaram desde que fora convocada para a sala de conferências, e desde então, seu tempo foi dedicado à árdua tarefa de editar dois artigos dos estagiários. A estupidez evidente de Arthur pairava em sua mente, contaminando cada palavra que ela revisava. Os artigos estavam salpicados de vírgulas desnecessárias, erros gramaticais e frases desconexas. A ausência de café durante a manhã só somava para as persistentes batidas em sua cabeça. A cafeína tornou-se uma necessidade urgente.
Uma semana se passara desde o vibrante casamento de Nicky e Lorna, e as recém-casadas continuavam imersas na doce atmosfera de sua lua de mel no Brasil. Enquanto o casal se entregava ao romantismo tropical, Alex retornava à sua rotina exaustiva. Enquanto isso, Piper Chapman, a loira de olhos azuis que entrara brevemente na vida de Alex, tornou-se uma constante na mente de Alex nos últimos seis dias. A lembrança de sua presença continuava a assombrar a mente da morena. A incerteza pairava sobre o motivo pelo qual não se encontraram novamente desde aquela noite. O que estaria a loira fazendo agora? Estaria ela pensando nas mesmas interações fugazes que marcaram a noite em que se conheceram? Enquanto mergulhava em sua própria reflexão, Alex percebia a complexidade das emoções que Piper despertara nela. A curiosidade transformava-se em uma mistura de saudade e anseio. Aquela loira de voz doce havia deixado uma marca, uma que Alex não conseguia ignorar.
A presença de Piper não apenas proporcionara diversão naquela noite, mas também trouxera uma lufada de ar fresco ao círculo social de Alex. Observando como ela se integrava ao grupo, Alex descobrira uma pessoa calorosa, contrastando com sua própria natureza mais reservada e intensa. Era revigorante ver a loira se envolvendo nas histórias de Suzanne e lidando com as provocações de Sylvie com graciosidade. Mesmo quando o tópico de sua orientação sexual surgiu, Piper permaneceu tranquila, respondendo de maneira descontraída às perguntas curiosas de Sylvie. Aquela calma diante de questionamentos pessoais intrigou Alex, fazendo-a questionar o que mais havia por trás da fachada da fotógrafa.
*****
A atmosfera no bar estava impregnada com o aroma penetrante da vodka, e as risadas ressoavam enquanto Sylvie, Piper e Alex tomavam seus shots. Naquele momento, Sylvie, já no quarto shot, decidiu provocar Piper.
— Então, Piper, as mulheres realmente são melhores que os homens, hein?! — Sylvie indagou, parecendo divertida. Alex, que também estava no quarto shot, observava atentamente, curiosa pela resposta de Piper.
Um sorriso brincou nos lábios de Piper, ela levou um instante para ponderar antes de responder à pergunta.
— Eu estive com apenas dois caras em toda minha vida. Duas vezes foram o suficiente, obrigada. — Ela respondeu de maneira simples, mas carregada de significado.
A resposta de Piper pairou no ar, deixando um breve silêncio enquanto Sylvie processava a revelação. Alex, por sua vez, sentiu uma onda de compreensão e respeito por trás das palavras de Piper.
A provocação de Sylvie, no entanto, não terminou ali. Ela virou sua atenção diretamente para Piper, buscando uma resposta mais pessoal.
— Então provavelmente eu teria uma chance com você, o que você diz? — Sylvie balançou as sobrancelhas, lançando uma proposta ousada. Piper, ao ouvir a insinuação, automaticamente ficou envergonhada.
Alex, pronta para intervir ou afastar Sylvie, ficou surpresa ao ver que Piper não se sentiu incomodada. Em vez disso, Piper riu, deixando tanto Alex quanto Sylvie sem uma resposta clara.
— Vou levar seu silêncio como um sim. — Sylvie piscou para Piper, encerrando a provocação com um toque de brincadeira.
A paixão de Piper por seu trabalho era uma força tangível que permeava todo o ambiente ao seu redor. Cada palavra que ela dedicava a descrever sua profissão tinha um brilho apaixonado, transformando a atmosfera e despertando o interesse de todos à sua volta. Era uma experiência visual, auditiva e emocional, como se o próprio entusiasmo da loira pudesse moldar o espaço ao seu redor. Alex, observadora atenta, não pôde deixar de sentir um lampejo de ciúmes ao testemunhar esse fervor profissional. O desejo de ser olhada daquela forma por ela, com olhos radiantes e dedicados, invadiu brevemente seus pensamentos.
Ao final da noite, a loira havia conquistado não apenas a simpatia de Suzanne e Sylvie, mas também a atenção e o interesse de Alex. Uma conexão singular estava sendo forjada, alimentada pela centelha compartilhada entre ambas. A complexidade das emoções de Alex aumentava à medida que ela se via atraída pela loira, que se tornava uma figura irresistível em sua mente.
— Vou aguardar sua ligação, Piper. Obrigada por considerar isso. — Suzanne expressou seus agradecimentos antes da partida da loira.
Alex, intrigada, ergueu suas sobrancelhas. Será que Suzanne havia a convidado para sair? A resposta veio quando Piper respondeu com um sorriso amistoso, beijando Suzanne na bochecha.
— Sim, Suzanne, vou pensar nisso. — A loira respondeu, mantendo a diplomacia.
— Que tal um beijo antes de ir? — Sylvie, sempre pronta para criar um momento memorável, estendeu os braços em um convite provocativo. A tensão pairou no ar, e Alex, secretamente desejando que não ocorresse um beijo, segurou a respiração.
Piper, entretanto, optou por um abraço, uma escolha que aliviou Alex instantaneamente. O calor do abraço dissipou a ansiedade do momento, mas quando Piper se afastou, seus olhos azuis encontraram os de Alex, deixando uma marca indelével.
— Adeus, Alex. — A voz de Piper carregava uma pitada de timidez, mas seus olhos intensos adicionavam uma dimensão de profundidade à despedida, fazendo com que Alex sentisse um frio na barriga.
Alex, tentando desfazer o efeito persistente da vodka que ainda reverberava em sua cabeça, limpou a garganta com uma mistura de nervosismo e desconcerto.
— Er... sim, adeus.
A partida de Piper foi marcada pela ausência de abraços e beijos, pois a loira esperava que Alex tomasse a iniciativa. A morena se xingou mentalmente por não ter pedido o número de Piper para garantir um reencontro. Seu cérebro parecia não estar funcionando corretamente naquele momento.
— Alex, você parece surpresa. Algum problema? — Suzanne perguntou, inclinando-se ligeiramente na direção de Alex.
A morena, ainda processando a intensidade do breve encontro, lutou para encontrar palavras adequadas.
— Não... não é nada. Apenas... uma noite interessante. — Alex respondeu, suas palavras carregadas de uma complexidade não totalmente expressa.
O ambiente ao redor, agora marcado pela ausência de Piper, parecia tingido por uma melancolia sutil. A noite, que antes estava repleta de risos e conversas animadas, agora assumia uma aura de reflexão e incerteza sobre o que o futuro poderia reservar.
Mais tarde, a reviravolta aconteceu quando Alex descobriu que Suzanne lhe oferecera um emprego. Um suspiro de alívio se misturou à ansiedade enquanto ela aguardava a aceitação. O emprego não era apenas uma oportunidade profissional, mas também uma chance de reencontrar Piper.
*****
Quando a morena decidiu que iria sair para pelo menos tomar um café que fizesse a dor latejante em sua cabeça passar, seu plano foi grosseiramente interrompido quando ouviu uma batida em sua porta. Ela jurou que se fosse Arthur novamente, ela arrancaria sua garganta e esconderia o corpo.
— Entre! — Ela gritou, tentando tirar todo fio de irritação em sua voz, falhando miseravelmente.
A porta se abriu suavemente, revelando um feixe de luz que cortava a escuridão do escritório.
— Oi. — Uma voz doce ecoou no ambiente, um contraste acolhedor com a tensão que pairava no ar.
Alex ergueu os olhos e, para sua surpresa, não era Arthur quem entrava, mas sim Piper, a loira encantadora que havia deixado um rastro de pensamentos confusos e fascinantes em sua mente desde o encontro anterior. A morena congelou por um instante. Aquela era a voz que, involuntariamente, ocupava seus pensamentos com uma frequência surpreendente. A loira estava ali, parada na entrada, com um olhar preocupado em seus olhos azuis penetrantes.
— É um momento ruim? Desculpe, eu posso sair se você quiser. — Piper se desculpou, sua expressão misturando empatia e hesitação.
— Não! — Alex respondeu, talvez um pouco mais alto do que pretendia. Rapidamente, ela tentou se recompor. — Quero dizer... está tudo bem. — Ela forçou um sorriso caloroso, mesmo sentindo a tensão persistente em sua cabeça.
Piper caminhou até a mesa de Alex, observando-a com uma mistura de curiosidade e preocupação. A morena percebeu os olhos da loira vagando pelo escritório, captando detalhes que muitos não notariam. A saia branca que Piper usava deixava suas pernas à mostra, e a blusa azul escura realçava a simplicidade elegante de sua presença.
— Sente-se. — Alex gesticulou para a cadeira em frente à sua mesa. — Por favor.
— Obrigada. — Disse a loira, sentando-se. — Não é um bom dia no trabalho?
Alex suspirou, sentindo o peso do dia difícil que teve. Ela inclinou-se para trás em sua cadeira, buscando um momento de alívio para a tensão acumulada.
— Sim. Um dia de merda, para ser sincera. — Alex admitiu, ciente de que talvez não devesse desabafar sobre seus problemas, mas a presença reconfortante de Piper a fazia sentir que podia compartilhar. — Mas não é importante, o que está fazendo aqui? — Alex perguntou, embora já soubesse a resposta. — Levando a suas habilidades de perseguição para um novo nível?
Piper riu, uma risada que ecoou suavemente no escritório. Sua expressão descontraída trouxe um alívio momentâneo para Alex. Eram músicas calmas para os seus ouvidos.
— Não. Eu vim ver Suzanne, na verdade. — Piper respondeu, arqueando uma sobrancelha com uma expressão brincalhona.
— Aham, já escutei isso antes. — Alex brincou, apreciando a leveza trazida pela loira. — Isso está parecendo mais como um: eu estava aqui perto e pensei em passar, mas eu também não sabia que você também trabalhava aqui, que coincidência!
Piper revirou os olhos em resposta, mas um sorriso divertido permaneceu em seus lábios. A dinâmica descontraída entre elas continuava a se desenvolver, criando uma atmosfera mais leve no escritório.
— Você conhece muitas coisas sobre assediadores, Alex. Você já foi uma perseguidora? — Piper provocou.
— Tudo bem, você me pegou. — Alex riu junto com Piper, desfrutando da brincadeira entre elas. — Sobre o que você veio vê-la?
Piper pausou por um instante, perdendo-se momentaneamente no sorriso da morena. A expressão de Alex indicava um interesse genuíno, uma sutil ansiedade pela resposta de Piper.
— Sobre o trabalho que ela me ofereceu.
— Oh... e então? — Alex fingiu surpresa, sabendo que a resposta seria interessante. Piper passou a língua pelos lábios, um gesto que não passou despercebido por Alex, aumentando a tensão entre elas.
— Eu... não aceitei. — Piper admitiu, balançando a cabeça em resposta.
— Não? — A resposta de Alex soou ligeiramente decepcionada, revelando uma curiosidade crescente sobre os próximos passos de Piper.
— Posso perguntar por que? — Alex questionou, inclinando-se involuntariamente para frente, aproximando-se mais de Piper. Piper respirou fundo antes de responder, sua expressão revelando uma sinceridade que cativava Alex.
— Não é que a oferta não me fosse atraente. Suzanne reconheceu meu trabalho, me oferecendo algo financeiramente bom. Mas eu prefiro trabalhar ao meu próprio modo e no meu tempo. Admito que gostei de não ser limitada a um tipo de projeto. — A loira revelou, expondo uma vulnerabilidade que intrigava Alex. — Suzanne estava sendo muito legal comigo sobre isso, eu me sentiria culpada se eu lhe dissesse por telefone, então eu vim.
A confissão de Piper desencadeou uma mistura de emoções em Alex, incluindo surpresa, compreensão e um crescente fascínio pela personalidade da loira.
— Eu vejo. — Foi a resposta cuidadosa de Alex, revelando seu interesse contínuo na narrativa de Piper.
— É claro que eu também queria ver você. — Piper acrescentou, sem hesitação. Sua voz estava cheia de convicção, desencadeando uma reação inesperada em Alex, que corou intensamente. Era preciso muito esforço para fazer Alex Vause ruborizar. A honestidade direta de Piper atingia Alex com uma força surpreendente, tornando-a irresistivelmente atraente.
— Bem, hm... er... — Alex gaguejou em resposta, enquanto Piper aproveitava o momento de surpresa, sorrindo de maneira cativante. — Você reivindicou isso em propósito. — Alex acusou, apreciando a dinâmica única entre elas.
— Não, eu não fiz.
— Fez também.
— Não fiz.
Alex se inclinou novamente para trás em sua cadeira, observando Piper sorrir por seu momento em vitória.
— É bom vê-la também. — A morena expressou, enquanto deslizava as mãos pelo braço da cadeira de seu escritório, transmitindo uma sensação de confiança misturada com um toque de nervosismo.
Piper ergueu as sobrancelhas, pegando o pulso esquerdo para verificar o relógio.
— Bom, meu relógio diz que são quase duas da tarde, e eu queria saber se você quer almoçar? Comigo, é claro. — Ela deixou as mãos caírem no colo, olhando para Alex com expectativa.
— Hmm, eu não sei. Qual é a palavra mágica? — Alex brincou, desfrutando da troca descontraída entre elas. Ela não recusaria a companhia de Piper, mas também queria manter a leveza no ar.
— Lésbica?
A resposta inesperada de Piper fez Alex abrir a boca, surpresa, antes de ceder à risada. Piper riu junto com ela.
— Idiota.
— Desculpa, eu pensei que você quis dizer aquela palavra mágica. — Disse a loira, o rastro de um sorriso ainda presente em seus lábios. — Você gostaria de almoçar comigo, Alex, por favor?
— Depende.
— De quê?
— Aonde você está me levando para almoçar.
Piper mordeu o lábio, ponderando sobre a resposta.
— Cibo italiano?
— Eu nunca fui com italianos, mas a Lorna é a única meia italiana quente que eu gosto. Não diga a Nicky que eu disse isso a você.
— Eu quis dizer comida italiana, Alex. — Piper disse com insistência.
— Ah, a comida italiana parece bom para mim.
— Mas você ainda acha que Lorna é quente.
— Sim, eu acho.
— Eu não posso negar. Minha amiga é dona de um restaurante italiano aqui perto, e então?
— Tudo bem. — Alex disse, e Piper esperou em sua cadeira enquanto a morena colocava suas coisas na bolsa.
— Deixe-me esclarecer uma coisa. — Alex disse enquanto fechava sua bolsa e caminhava em volta da mesa.
— Esclareça.
— Este não é um encontro.
— Pense no que quiser, você vai almoçar comigo e isso é tudo o que importa.
Alex sentiu um leve rubor surgir em seu rosto.
— Você é realmente muito direta, não é, Piper Chapman?
— Eu tento. — Piper abriu a porta do escritório. — Depois de você, senhorita. — Ela disse gesticulando para a porta, o que arrancou um sorriso instantâneo de Alex enquanto ela caminhava para a saída com Piper a seguindo depois.
O corredor iluminado por luz fluorescente revelava um ambiente de escritório típico, mas agora parecia ter uma atmosfera diferente. A descontração trazida por Piper tornava o lugar mais acolhedor, e o sorriso de Alex indicava uma mudança positiva em seu humor.
Todo o estresse e a dor de cabeça desapareceram. O café definitivamente não era a melhor maneira da morena aliviar o seu estresse. Ela apenas precisava de uma certa loira para começar bem o dia.
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