— Você está ouvindo o que eu estou dizendo? — Nicky, com sua voz afiada, cortou os devaneios de Alex, que se encontrava perdida em pensamentos enquanto tomava seu café no escritório. O aroma do café permeava o ambiente. A morena ergueu seus olhos cansados para encontrar o olhar inquisitivo de Nicky, que depositava seu café com um gesto decidido ao lado da mesa.
— O quê? Sim... claro. — Respondeu Alex apressadamente, mas a expressão interrogativa de Nicky indicava que algo estava fora do lugar.
— O que eu disse? — Inquiriu Nicky, suas sobrancelhas erguidas em expectativa.
— Hã? — Alex tentou disfarçar, mas a tensão era palpável.
— Você me ouviu, Alex, o que eu acabei de dizer? — Nicky pressionou, buscando uma resposta clara.
Cautelosamente, Alex tomou um gole de seu café, ajustou os óculos no rosto e mergulhou em suas memórias para lembrar sobre o que Nicky estava falando antes de se perder em seus próprios pensamentos.
— Cristo Redentor. Você está falando sobre o quão grande o Cristo Redentor é. — Alex tentou recuperar o controle da situação, mas Nicky revirou os olhos, evidenciando que não era a resposta correta.
— Não é nem do mesmo estado que eu estava dizendo. Eu estava falando de São Paulo, não do Rio de Janeiro. Eu falei do Cristo Redentor já tem dez minutos, Alex. — Disse Nicky, exasperada com a falta de atenção de sua irmã de consideração.
— Oh, me desculpe Nicky. Continue me contando, eu prometo ouvir atentamente dessa vez. — Alex tentou se redimir, mas seu pensamento já estava vagando novamente para as mensagens de Piper.
Lorna e Nicky estavam de volta da lua de mel no Brasil havia cinco dias e elas só voltaram ao jornal um dia depois que chegaram. Nicky ainda estava extremamente animada com sua lua de mel e estava sorrindo amplamente durante todo o dia, o que era bastante peculiar se fosse um dia normal. Agora lá estavam elas, as melhores amigas e irmãs, tomando café juntas, desta vez enquanto a loira falava sobre os lugares em que ela esteve com sua esposa.
Embora Alex não estivesse totalmente focada na conversa — seus pensamentos desviavam para as mensagens trocadas com Piper naquela manhã —, ela se importava com o que Nicky estava dizendo. Piper, a fotógrafa com olhos azuis matadores, ocupava seus pensamentos. Elas trocavam mensagens há cinco dias, com Piper enviando piadas e trocadilhos para iluminar os dias de Alex. Elas não tinham se visto desde o almoço no La Bella Vita porque Piper estava tendo sessões fotográficas em toda a cidade. Seu desejo por um reencontro com a loira aumentava a cada mensagem.
— Porra, eu quero vê-la novamente. Foda-se, quase uma semana é tempo demais sem ver aquela loira e seus olhos azuis matadores. — Pensou Alex, enquanto tentava manter um semblante atento à conversa de Nicky.
Claro que Piper também verificava se a decisão de Alex de ir a um encontro com ela ainda estava de pé. Alex achava encantador como Piper parecia mais ansiosa pelo encontro do que ela própria.
Alex se inclinou para trás em sua cadeira, tomando outro gole do café, aguardando que Nicky retomasse a narrativa. No entanto, o silêncio persistiu, e Nicky, sorrindo abertamente, fixou seus olhos em Alex. O olhar dela deixava Alex nervosa, como se estivesse sendo examinada minuciosamente sob um microscópio em busca de alguma descoberta. A irmã, ciente das divagações de Alex, não hesitou em apontar o elefante na sala.
— Tudo bem, Alex, eu sei em quem você está pensando.
— Em quê? — A jornalista tentou dissimular, mas seu semblante traía a verdade. Ela sabia exatamente em quem Nicky estava se referindo.
— Não o quê e sim em quem.
— E em quem? — Alex perguntou, fingindo inocência, mas uma pitada de nervosismo transpareceu em sua expressão.
— Você nunca foi boa em se fazer de lerda, Vause. — Nicky respondeu, abrindo a boca como se fingisse estar ofendida pela tentativa de disfarce.
— Certo, e em quem eu estou pensando, Nichols? — Alex desafiou, sabendo que não poderia enganar sua amiga.
— Deixe-me ver. Olhos azuis, loira, nas palavras de Sylvie: "um anjo quente e sexy", nas palavras de Suzanne: "excepcionalmente talentosa", e fotógrafa. — Nicky levou um dedo aos lábios, como se estivesse refletindo sobre algo. — Oh, sim, e provavelmente faz você ouvir sinos?
— Eu não estava pensando na Piper. — Alex negou, mas sua expressão traía a mentira.
Nicky, com um olhar perspicaz, arqueou uma sobrancelha, desafiando a tentativa de Alex de desviar o assunto. A tensão entre as duas amigas aumentou, o silêncio carregado pairando no escritório. Alex tentou manter a compostura, mas era evidente que Nicky tinha acertado em cheio.
— Vause, seja honesta consigo mesma. A maneira como você sorri ao ler as mensagens dela é comovente. — Nicky provocou, revelando um sorriso cúmplice.
Alex suspirou, rendendo-se à evidência. Nicky observou a amiga por um momento antes de responder com um tom mais suave.
— Eu também estava pensando no jantar com Diane. — A morena tentava se esquivar das observações perspicazes de Nicky, mas sua irmã sabia como apontar as fraquezas com precisão.
— Que mentira! Você sempre me lembra de jantar muito antes, não em cima da hora.
— Às vezes eu lembro em cima da hora sim.
— Nunca, Vause.
— Porra, Nichols! — Alex bufou, resignada, reconhecendo que não conseguiria vencer essa batalha verbal com sua irmã. — Eu disse que você deveria ter sido uma advogada ou detetive. Você naturalmente examina as pessoas. Sem falar que você ainda faz com que se sintam como se tivessem feito algo ilegal.
— Você sabe como subir meu ego, hein Vause? Me sinto até poderosa! — Nicky provocou, exibindo um sorriso triunfante. — Você acabou de revirar os olhos para mim, Alex? Você aumenta meu ego e depois o tira de mim.
— Vai se foder, Nicky. Não é assim que você fala com a sua chefe.
Nicky substituiu sua cara de falso desapontamento por um sorriso ainda mais triunfante.
— Porra, você está realmente pensando nela. Quem diria, hein Vause? Piper Chapman.
O nome da loira reverberou na sala, provocando uma reação em Alex. Até mesmo seu coração parecia participar da brincadeira, batendo um pouco mais rápido.
— Só um pouco. — Ela murmurou, tomando um gole de seu café, buscando uma desculpa para amenizar a intensidade do momento.
— Um pouco quanto?
— Apenas... o bastante, tudo bem? — Alex respondeu, tentando manter a compostura enquanto Nicky mantinha seu olhar aguçado sobre ela.
Nicky sorriu, satisfeita por ter provocado uma confissão de Alex. A tensão se dissipou, dando lugar a uma atmosfera mais descontraída entre as duas amigas.
— Bem, bem. Quem imaginaria que a grande Alex Vause se renderia a um "pouco" de encantamento. — Nicky brincou, mas sua expressão transmitia um genuíno contentamento pela amiga.
— Não exagere, Nichols. É só... diferente. — Alex admitiu, sua mente voltando mais uma vez para as mensagens de Piper.
— Diferente pode ser bom, Alex. Apenas aproveite. — Nicky aconselhou novamente, dessa vez com um toque de seriedade em sua voz.
As duas amigas continuaram a conversa, deixando de lado momentaneamente as provocações e entrando em um território mais ameno. O café continuava a ser consumido, e o escritório, que testemunhava a saga entre Alex e Nicky, agora vibrava com uma energia mais leve, permeada pelas emoções e expectativas da jornalista em relação ao encontro com Piper.
Nicky, sempre afiada em suas observações, continuava a cutucar Alex sobre sua interação com Piper no casamento. A morena, por sua vez, tentava resistir às provocações, mas suas reações entregavam mais do que ela gostaria.
— Você parece ter se divertido muito com ela no meu casamento. — Nicky comentou, iniciando uma nova rodada de questionamentos.
— Me diverti. — Alex admitiu livremente, sua mente revivendo os momentos daquela noite especial. — Mas o que é que isso tem a ver?
— Tem a ver com tudo, Vause. Significa que você realmente gostou da companhia dela, o que é raridade. Depois de Sylvie, você só curte e cai fora em seguida. — Nicky riu. — Soube que ela recusou a proposta de Suzanne. Isso deve ter sido doloroso para você.
— Não foi. — Alex respondeu com desdém, evitando olhar para Nicky, sabendo que sua irmã poderia detectar a mentira se encarasse. — Por que estaria?
— Porque assim não há chance de romance de escritório ou sexo na sua sala. — Nicky deu de ombros, sorrindo provocativamente.
— Porra, Nicole. Vai se foder! — Alex ajeitou os óculos e, em seguida, tentou se esconder atrás de uma folha de papel. De repente, sua mente se encheu de imagens ousadas envolvendo Piper: Alex a envolvendo em torno da cintura, caminhando até a porta do escritório, colocando-a sobre a mesa enquanto compartilham beijos quentes e desesperados, tentando satisfazer qualquer necessidade que surgisse. A cena a fez corar intensamente.
— Jesus! Quando é que minha mente se transformou em mente de uma adolescente pervertida?
— Eu não acredito que você está pensando exatamente sobre isso agora! Puta que pariu, Vause! — Nicky riu, divertindo-se com a reação de sua irmã.
— Cala a boca. — Alex respondeu, sua voz um pouco abafada pela tentativa de esconder seu constrangimento.
— Tudo bem. — Nicky havia decidido ter piedade dela e amenizou a risada. — Me fala sobre ela.
— Sobre?
— Coisas que você conhece sobre ela, qualquer coisa. Preciso saber se minha melhor amiga está em boas mãos. — Ela piscou para a morena, que riu com apreciação para suas palavras. Nicky não era de demonstrar carinho o tempo todo como Alex; ela preferia zoar ou fazer alguma piada, então quando mostrava um lado mais sensível, Alex apreciava.
— Nós não conversamos muito ainda. Mas eu sei que ela ama o seu trabalho, tem um irmão, que inclusive foi quem organizou seu casamento junto com a esposa. Seu pai é dono de uma das maiores empresas de Nova York e que ela tem uma mãe homofóbica que também ajudou em seu casamento... — Nicky ergueu as sobrancelhas. — Pois é, estranho. E que, apesar de seus pais serem bem de vida, ela não gosta de depender deles.
— Porra... os Chapman são uma família interessante. — Alex riu, apreciando a reação de Nicky.
— Parecem que são mesmo. — Alex concordou.
— Eu vi a mãe dela no casamento. Ela se apresentou para Lorna e depois para mim.
— Você conheceu? — Nicky assentiu com a cabeça. — Como ela é? Quero dizer, Piper se parece com ela?
— De cara eu vi que a mulher era homofóbica. Mas ela manteve a pose, tenho que admitir, ela sabe como manter a pose. Mas sim, Piper é como a versão mais nova da mulher.
A menção de "versão mais nova" despertou uma curiosidade sutil em Alex.
— Versão mais nova? Me pergunto se...
— Eu sei no que você está pensando, Alex.
— Porra! Você também sabe ler mentes, Nicole?
— Você tem o rosto expressivo, não precisa ser um gênio para saber. Você está pensando se Piper é igual à mãe dela, não em aparência, claro.
— Eu estava pensando se ela parece com a mãe dela, na aparência mesmo.
— Mas você também estava pensando se Piper poderia ser como a mãe dela, na personalidade. — Nicky provocou. Ela pegou Alex. Ela viu claramente que a morena tinha um interesse muito grande na fotógrafa. Tomando o resto de seu café, ela atirou o copo em direção à lixeira e se levantou em seguida. — A pausa para o café acabou. Tenho que voltar a terminar de escrever o meu artigo. — Nicky foi fechando a porta atrás de si, mas a escancarou novamente segundos depois. — A propósito, Alex, eu tenho certeza que a Piper é a mais encantadora dos Chapman. — Ela piscou para Alex antes de desaparecer novamente.
O jantar na casa dos Chapman parecia uma rotina mensal para Piper, uma tradição estabelecida pela insistência de sua mãe. Em mais uma dessas ocasiões, Piper aproveitou um intervalo nos seus ensaios fotográficos no bairro em que seus pais moravam para aceitar o convite da família. Chegou à noite para o tão esperado jantar, uma experiência que ela sabia ser desafiadora, mas que, por respeito à mãe, não podia ignorar.
Ao sair do carro, Piper deu uma rápida olhada no espelho, ajustando alguns fios de cabelo antes de suspirar, preparando-se para o que previa ser uma noite longa. A casa, onde ela havia crescido, era majestosa, com um jardim imponente na frente, fruto do gosto refinado de sua mãe pela estética. Ela teve momentos de apreciação por crescer em um lugar espaçoso com uma paisagem vasta para suas fotografias, mas também lamentou a falta de proximidade com amigos, já que os vizinhos viviam distantes. No entanto, essa circunstância aproximou ainda mais Piper de seu irmão.
A loira deu uma última olhada na casa que conhecia tão bem, refletindo sobre as memórias que ali construíra. Em seguida, dirigiu-se à porta principal e tocou a campainha, sendo prontamente atendida por Norma. A ajudante da casa era uma presença constante desde os dez anos de Piper, tornando-se uma figura maternal e paciente na vida da fotógrafa, especialmente em momentos em que a própria mãe não conseguia desempenhar esse papel.
— Boa noite, minha querida Piper! — Norma abraçou calorosamente a loira e depois se afastou para que ela pudesse entrar.
— Ei, Norma. Que saudades! — Piper sorriu, retribuindo o abraço da mulher, antes de adentrar a casa.
— Posso guardar o seu casaco?
— Sim, obrigada. — Piper retirou o casaco e entregou para Norma, que o pendurou cuidadosamente.
— Eles estão na sala de estar. — Norma informou, e Piper acenou com a cabeça, dirigindo-se à sala de estar enquanto Norma voltava para a cozinha.
Carol, Bill e Cal estavam sentados sobre os sofás de couro, desfrutando de vinho e trocando conversas animadas. Piper pigarreou ao entrar na sala.
— Espero não estar interrompendo nada.
— Piper, meu amor! Estávamos nos perguntando quando você estaria aqui. — Bill disse, levantando-se de seu assento para abraçar a filha.
— Obviamente, eu estou aqui na hora combinada, desde que o senhor me disse para estar aqui às oito, pai. — Ela sorriu.
— Olá, Piper. — Carol acenou para filha de onde estava e voltou a tomar seu vinho.
— Oi, mãe. Bom ver você também. — Ela respondeu, embora sentisse a falta de um diálogo mais profundo com sua mãe. Era difícil lidar com a distância emocional que Carol mantinha.
— Hey, Pipes! — Cal levantou-se e foi em direção à sua irmã mais nova, dando-lhe um abraço caloroso. — Bom te ver, maninha! — Ele beijou sua bochecha.
— Bom ver você também, Cal. — Ela disse sorrindo, apreciando a alegria genuína de seu irmão.
— Tome um pouco de vinho conosco, Piper. A comida ainda está terminando de ser preparada.
A fotógrafa acomodou-se no sofá ao lado de seu irmão, enquanto Bill servia vinho em uma taça para ela. O ambiente estava ameno, mas o silêncio persistia entre Carol e Piper, causando um desconforto palpável.
— E então, querida, está tendo muito trabalho ultimamente? — Bill perguntou, tentando preencher o silêncio.
— Ultimamente tenho tido várias sessões de fotos aqui por Nova York, pai. Eu estou bastante feliz com isso! Amanhã tenho mais. — Disse Piper, compartilhando suas alegrias profissionais. Seu sorriso, no entanto, desapareceu quando ouviu a expressão de desaprovação de Carol.
— Como se você conseguisse ganhar muito bem com esse tipo de trabalho. Jesus, Piper! Por que não nos deixa te dar um futuro melhor do que isso?
— Deixa ela, mãe. Pipes manda muito bem no trabalho! — Cal interveio orgulhosamente, expressando seu apoio à irmã. Piper sorriu agradecida.
— Obrigada, Cal. — Ela olhou para o irmão antes de desviar o olhar para Carol. — Eu amo trabalhar com fotografia, e eu não me importo com a quantidade de dinheiro que eu ganhe com isso, Carol. Aliás, eu ganho muito bem. Consigo me sustentar, consigo me dar uma boa vida com esse trabalho maravilhoso. Mas não importa. Toda vez que eu venho aqui, a senhora tem que falar sobre o meu trabalho. — Ela desviou o olhar para Bill. — Como vão os projetos de seu trabalho, pai?
— Hoje não. Hoje você não estraga a minha noite, Carol.
Piper tomava cuidado para não se magoar ainda mais com as alfinetadas de sua mãe. Ela desenvolveu estratégias, contava até dez, mudava de assunto ou perguntava sobre qualquer outro tópico para evitar que Carol arrancasse respostas que a fotógrafa não estava disposta a dar. A mãe de Piper tinha sido responsável por muita dor em sua vida, e a loira fazia o possível para não deixar que esse sofrimento ressurgisse durante os jantares. Cal, sempre atento, estava ciente do histórico tumultuado de Piper e fazia questão de estar presente em todos os jantares para apoiar a irmã. Ele e Bill, o pai, trabalhavam juntos para tornar as noites de Piper o mais agradáveis possível. No entanto, naquela noite, a mãe da loira encontrou uma maneira de atingi-la profundamente.
Minutos depois, todos foram para a sala de jantar quando Norma voltou para avisar que a refeição estava pronta.
— Cal nos disse que você deixou de aceitar uma proposta de trabalho no New York Times. — Bill comentou, lançando um olhar sugestivo para Piper durante o jantar.
— E ainda perdeu a chance de trabalhar com aquele ser maravilhoso, hein, Pipes? — Cal riu, provocando sua irmã. — Eu vi vocês conversando naquele casamento.
— Cal! É sério? Eu achei que você deixaria que eu contasse para o nosso pai. — Piper revirou os olhos. — Eu não quis trabalhar lá porque eu amo trabalhar no meu próprio tempo, pai. O senhor sabe, eu odeio trabalhar com pessoas que fiquem mandando o tempo todo em mim. — Bill balançou a cabeça em concordância com a filha.
— Podia pelo menos ter aceitado o emprego, já que era no New York Times, Piper. — Carol olhou diretamente para a filha. — Se pelo menos você estava conversando com algum homem que trabalhava lá, talvez fosse uma boa ideia você apresentá-lo. Quem é o rapaz?
— Não é um cara, mãe. — Piper revirou os olhos enquanto cortava um pedaço do bife em seu prato.
— Não me surpreende. Quem é essa mulher? Outra namorada? — Carol colocou a mão no peito.
— Ela não é minha namorada, tudo bem? Ela é minha amiga, eu a conheci no casamento. Embora eu tenha sugerido um encontro. — Ela deu de ombros.
— E ela disse sim sobre isso? — Bill se interessou, Cal sorriu animado e Carol estava com uma nítida raiva no olhar.
— Bill! — Ela repreendeu o marido.
— Sim. — Piper murmurou.
— Isso aí, Pipes! Ela é um mulherão! — Cal estendeu a mão no ar para que sua irmã batesse. Piper riu e estendeu a mão em direção a ele, concordando com a cabeça.
— Qual o nome dela?
— Alex.
Carol bufou e balançou a cabeça em negativo.
— O que foi, mãe? — Piper perguntou, olhando em direção à mulher.
— Até nome de homem essa mulher tem. Jesus!
— Alex é apelido. O nome dela é Alexandra. — Piper sorriu para sua mãe.
— O nome dela é lindo, Piper. — Bill sorriu para a filha. — Espero que ela seja tão linda quanto! E que esse encontro seja muito bom para ambas.
— Obrigada, pai. — Ela sorriu calorosamente para seu pai. O que seria dela sem Cal e Bill? Ao menos a fotógrafa tinha os dois que davam apoio e a aceitavam. Mesmo que não fosse o suficiente para Piper.
— É bom que esteja pensando em um novo relacionamento, Piper. — Ela balançou a cabeça. Um relacionamento com Alex talvez fosse um caminho que ela gostaria de seguir.
— E passar por tudo de novo? — Carol olhou para Bill com nítida fúria. A ideia de ver a filha envolvida em outro relacionamento, especialmente quando ela havia se relacionado com a irmã do homem que deveria se casar com Piper, era demais para ela suportar. A expressão raivosa de Carol refletia a determinação de não permitir que Piper enfrentasse novamente as dificuldades dos últimos anos. — Não se lembra que ela teve um relacionamento com a irmã do homem que deveria se casar com Piper? Eu já disse mil vezes que a Piper deveria dar chances ao Larry. Ele sim é homem para nossa filha. Tentar impor isso, esse tipo de coisa na cabeça dela só fez com que causasse tudo o que aconteceu com a Alice.
Alice. O simples mencionar do nome congelou as mãos de Piper. Uma onda de lembranças dolorosas e traumáticas começou a inundar sua mente. O corpo da loira vibrou, mas ela permaneceu paralisada na cadeira, tentando conter a avalanche de emoções. Quatros anos haviam se passado, mas as feridas ainda estavam frescas. Piper tentou manter a compostura, como se as palavras de sua mãe não tivessem tocado sua alma. No entanto, suas mãos tremiam enquanto ela deixava cair os utensílios de volta ao prato, gerando um ruído alto que ecoou pela sala de jantar. Cal, seu irmão, prontamente colocou uma mão reconfortante em seu ombro, um gesto que lembrava a Piper que ela não estava sozinha. Mas, apesar disso, ela permaneceu paralisada, afundando nas lembranças dolorosas que a assombravam.
— Carol, pelo amor de Deus, isso não é momento de falar nada disso. — Bill repreendeu a mulher, compartilhando a mesma preocupação de Cal. A mãe de Piper se levantou abruptamente e deixou a sala de jantar, expressando que não queria reviver aquelas lembranças. A frustração e a raiva do pai eram visíveis, consciente de que essa conversa podia desencadear uma regressão dolorosa em Piper. — Piper, meu amor, você está bem? — Ele perguntou, sua voz cheia de preocupação e carinho.
Piper finalmente conseguiu desviar o olhar das lembranças angustiantes e focou nos olhos preocupados de seu pai. Ela assentiu levemente, uma tentativa de tranquilizá-lo, embora os resquícios de dor ainda fossem visíveis em seus olhos. Cal continuava a oferecer apoio, sabendo que as feridas emocionais de sua irmã eram profundas e difíceis de sarar. O ambiente na sala de jantar havia se transformado de uma tensão materna para um respeitoso silêncio, carregado de emoções reprimidas e memórias dolorosas.
— Sim, pai. — Ela conseguiu dizer, diante da dor que apertava seu peito. — Eu preciso ir ao banheiro. Com licença. — Piper se levantou com a pouca força que lhe restava naquele momento, deixando Bill e Cal na mesa, envolvidos em um silêncio carregado de compaixão. Ela caminhou apressadamente em direção às escadas da casa, buscando refúgio no banheiro do corredor.
Ao trancar a porta atrás de si, Piper sentiu um suspiro escapar de seus lábios, uma tentativa de liberar a pressão que se acumulava dentro dela. As lembranças dolorosas de Alice invadiram sua mente, apertando seu coração com uma intensidade quase insuportável. O espelho à sua frente refletia os vestígios do sofrimento em seus olhos. Ela ficou encarando seus próprios demônios.
— Merda. Eu não quero lembrar... — Piper sussurrava para si mesma, como se as palavras pudessem dissipar as memórias que a assombravam. No entanto, as imagens de Alice continuavam a dominar sua mente, trazendo à tona emoções há muito enterradas.
Sua família e amigos desconheciam a profundidade do sofrimento que Piper ainda carregava em relação a Alice. Ela mantinha essa dor em segredo, evitando compartilhar com aqueles ao seu redor. As feridas emocionais eram como cicatrizes invisíveis, marcando sua alma de maneiras que só ela compreendia.
Piper permaneceu parada em frente ao espelho, encarando a imagem refletida de si mesma. Seus olhos buscavam respostas para perguntas que assombravam sua mente, tentando entender por que algumas memórias continuavam a assombrá-la tão intensamente.
Minutos se passaram, quando ela decidiu fazer uma ligação.
Alex havia passado em um bar com Nicky depois do trabalho para ficar um pouco da tarde com ela e Lorna, que as encontrariam por lá. A morena amava a companhia das amigas; para ela, viraria a noite só jogando conversa fora e bebendo. No entanto, a jornalista precisava estar de volta em casa no horário do jantar para trabalhar um pouco em alguns artigos antes de se preparar para dormir. Após chegar em casa, tomar um banho e se acomodar em frente ao notebook, amaldiçoou-se mentalmente por ter bebido o suficiente para impedir qualquer correção de artigo naquela noite. Foi nesse momento que um som familiar cortou o ar, e seu celular vibrou na escrivaninha. Levou alguns segundos para ela se lembrar que era seu telefone.
Ao pegar o aparelho e conferir o identificador de chamadas, Alex ajeitou os óculos no rosto para ter certeza de que estava lendo corretamente. Era Piper.
— Olá? — Ela respondeu, reunindo todas as suas forças para manter a compostura.
— Oi... Estou te ligando em um momento ruim? — A voz doce de Piper encheu os sentidos da morena, fazendo-a sentir um calor agradável.
— Não, é um bom momento.
— Ótimo então. Oi, Alex.
— Oi, Piper.
— Eu queria saber se você vai fazer algo neste fim de semana? — Piper perguntou, e Alex sorriu ao perceber o tom tímido em sua voz.
— Ah, não. Por que, o que vai acontecer neste fim de semana?
— Nosso encontro.
A risada da jornalista ressoou pelo telefone, ecoando a surpresa diante da capacidade de Piper de alternar entre a timidez e a ousadia em um piscar de olhos. Era um enigma que a intrigava, mas ao mesmo tempo, ela não podia negar a atração pelo encanto peculiar da loira.
— Todo o fim de semana? Eu tenho medo só de pensar sobre isso. — Ela disse, mordendo levemente os lábios ao ouvir a risada de Piper do outro lado da linha.
— Eu não quis dizer o fim de semana inteiro. Eu quis dizer neste domingo.
— Bem, você deveria ter dito logo isso. — Alex tentou reorganizar mentalmente sua agenda. Nesse final de semana, não havia compromissos marcados. — Domingo seria perfeito.
— Ótimo, porque eu não aceitaria um "não" como resposta, de qualquer forma. Você vai ou vou ter que arrastá-la.
— Realmente? Você seria presa por sequestro, sabe disso.
— Sim, mas valeria à pena. — Alex podia sentir o sorriso de Piper através do telefone. O fato de ligar para Alex deixou a loira mais calma. — Posso buscá-la às nove horas?
— Nove da manhã? Onde vamos?
— Se você não se importa, eu gostaria de manter isso como um segredo.
— Não espere que eu vá quando você estacionar sua van aqui e me obrigar a entrar.
— Não. Eu vou pedir com jeitinho para você entrar na van... com uma arma em sua cabeça.
Alex riu, envolvida pelo humor descontraído de Piper.
— Você está me ameaçando, Chapman? — Alex brincou de volta.
— Apenas um pouco. Você ainda vai? — Piper perguntou, o tom sério desaparecendo de sua voz.
— Tudo bem. Se não tiver problema em perguntar, o que eu devo usar?
— Qualquer coisa, contanto que você se sinta confortável com isso. — A loira respondeu de maneira descomplicada.
— O que eu devo levar?
— Apenas não se esqueça de se levar, só isso já está ótimo. — Piper brincou, sua voz transmitindo leveza e descontração.
— Tudo bem, enviarei meu endereço por mensagem para que você saiba onde me buscar.
— Obrigada, eu vejo você no domingo, Alex. Vou deixar você ir agora.
— Sim, Piper, vejo você no domingo.
Elas encerraram a ligação. Um sorriso persistia nos rostos de ambas, como se a antecipação do encontro já as envolvesse. A curiosidade formigava no peito de Alex, enquanto uma calmaria reconfortante voltava ao peito de Piper naquela noite. Certamente, não havia nada melhor do que a certeza de encontrar aquela pessoa em breve.
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