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História Não Conte Nosso Segredo - Capítulo 03


Escrita por: vauseman_damie

Notas do Autor


Boa noite!
Fiquem com mais um capítulo!
Boa leitura!

Capítulo 3 - Capítulo 03


CAPÍTULO 3

Aluém havia atirado ácido nos meus olhos — ao menos, era essa a sensação. Revirei a mochila de natação procurando o estojo e tirei minhas lentes de contato. Claro, você pode nadar usando as lentes, caso não se importe de ficar cega. Droga. Agora teria que usar óculos pelo resto do dia. Eu deveria ter procurado meus óculos de natação com mais afinco esta manhã.

O armário do lado oposto retiniu ao abrir e olhei para o meu espelho. Ali estava ela, segurando um enorme copo de café na mão esquerda e um donut entre os dentes. Enquanto me abaixava para pegar alguma coisa no armário, ela sumiu de vista.

— Ai, ai, merda!

Girei. A tampa de plástico do copo havia caído, derramando café escaldante no braço dela. Ela estava pulando, segurando o pulso. Abri o zíper da mochila e arranquei a primeira coisa molhada que apareceu, depois corri e a espalmei no braço dela.

— Aqui. Use isso.

— Aaai! — Ela gritou.

Estremeci, sabendo como aquilo doía.

— Deixe-me ver. Você pode ter queimaduras de terceiro grau.

Ela soltou a atadura improvisada e espiou o braço. Sem bolhas, ainda bem. Mas com vermelhidão. Ela recendia um aroma picante, talvez canela.

Levantei os olhos para encontrá-la me fitando.

— Você sempre carrega um maiô molhado por aí? — Ela perguntou. Indicou o braço, que eu tinha embrulhado com meu maiô da Speedo.

— A gente nunca sabe quando vai precisar de um.

Ela riu, de forma contagiante.

— Obrigada, Piper. — Ela retirou o maiô. Tentou. Minhas mãos estavam segurando tão forte o seu braço que ela precisou soltá-las.

— Desculpe. — Eu a soltei rápido. Rebobina a fita. Replay. Ela sabe meu nome.

— Não consigo acreditar que fiz isso. — Ela esfregou o braço. — E, agora, como vou enfrentar a manhã sem café? — Segurando o copo vazio, ela recolheu as migalhas de donut embebidas de café e colocou todos os restos encharcados no copo.

— Tem uma máquina de café na cafeteria — avisei.

— Ah, é? — Os olhos dela se iluminaram. — Obrigada. Você é uma salva-vidas. — Ela pegou meu maiô do chão e o ergueu pela tira da virilha. — Literalmente.

Eu o peguei de volta e ela sorriu. Retornando ao meu armário, enfiei o maiô dentro da mochila e fechei o zíper.

— Onde você nada?

Levantei-me. Ela havia me seguido e agora estava encostada no armário ao lado.

— Na piscina. — Dã, Piper! Impressione-a com seu repertório brilhante. — Na piscina da escola. No andar inferior. Abre às seis e eu consigo nadar algumas raias antes da primeira hora. É meu copo de café de todas as manhãs.

As sobrancelhas dela se arquearam.

— Você tem sérios problemas psicológicos.

Meu estômago gelou. Queria que ele parasse de fazer isso.

— Eu sou Alex Vause. — Ela ofereceu a mão.

— Eu sei. Piper…

— Chapaman. Eu sei. — Nós duas soltamos risadinhas, ambas nervosas, depois apertamos as mãos. Ela falou: — Você é a presidente do corpo discente.

— Como sabe disso?

Ela deu de ombros.

— Eu perguntei por aí.

— Gata, oi. — A voz do Larry ecoou do fundo do corredor. Percebi que eu ainda estava segurando a mão da Alex e a soltei rápido. Por quê? Estávamos apenas nos apresentando. Ele atravessou o corredor com uma pilha de livros debaixo do braço. A mão livre dele envolveu a minha cintura e me puxou para perto. — Já faz tempo que não faço isso. — Ele se inclinou e me beijou.

Com o canto do olho, vi Alex bater em retirada.

Larry terminou de me beijar e disse:

— Vamos. Acompanho você até a sala.

Tirei do armário meus livros de literatura e de cálculo, que Larry pegou e acrescentou à sua pilha. No final do corredor, olhei por cima do ombro para ver se ela tinha ido na direção oposta.

Alex andara perguntando sobre mim por aí. Hum. Por que será que ela faria isso?

Fomos na direção do estacionamento na hora do almoço para nos encontrar com todos os outros no meu jipe. Tínhamos decidido almoçar fora da escola, pelo menos duas vezes por semana. No caminho, informei ao Larry sobre a regra não-transamos-nas-noites-de-estudo. Ele não pareceu feliz.

— Vou ver se posso pegar o Regal emprestado na sexta à noite. — Ele disse.

— Não, Larry. Você sabe que eu odeio fazer isso no carro do seu pai.

— Certo, eu vou verificar se a vila vai estar livre.

Ele estava chateado. Ótimo.

— Sinto muito, mas isso é bem nojento.

— Então, na sua casa.

— O Neal volta amanhã — avisei.

Larry ficou amuado por todo o caminho até o Taco Bell. Ele não se importava de transar bem debaixo do nariz da minha mãe, mas tinha horror que meu padrasto nos pegasse em flagrante. O que era isso, uma coisa de homem? Tenho que reconhecer, Neal era do tamanho de um linebacker de futebol americano, mas por dentro era um ursinho de pelúcia. Larry sabia disso.

Ele ainda estava mal-humorado meia hora depois, quando voltamos para a escola.

— Detesto isso — ele disse, segurando a porta depois de todos terem saído.

— É, eu também.

Larry levantou meu queixo com o dedo.

— Então, vamos logo nos casar.

— Ok. Mas depois da aula de economia, porque ainda tenho um trabalho pra entregar. E nós não vamos consumar o casamento no carro do seu pai.

Larry piscou.

— Você está presumindo que nós vamos esperar sair da igreja.

Desferi um chute e ele se engalfinhou comigo em seus braços.

Voltei à mesma cadeira na aula de artes. Sempre faço isso, escolho um lugar no primeiro dia e jamais mudo. O que isso diz sobre mim? Chata e previsível. Todos os outros haviam mudado de cadeira. Winslow, o geek-e-punk, sentou ao meu lado.

— Yo — ele disse.

— Yo pra você — devolvi.

Ela não estava na cadeira dela. Vasculhei o estúdio e a localizei duas mesas mais adiante, ao lado da janela. Ela estava de costas para mim, observando o lado de fora.

Olhe pra mim, pensei. Olhe pra mim, olhe pra mim. OLHE-PRA-MIM!

Meu Deus, Piper! Para. O que foi isso? Concentrei-me em rabiscar meu caderno de desenho, me esforçando em não olhar para ela.

Mackel entrou apressado no estúdio, equilibrando uma pilha de fitas de vídeo sobre um carrossel de slides.

— Desculpem, eu me atrasei. — Ele descarregou tudo em cima da mesa. — Lista de presença. Todo mundo está aqui? Ótimo. — Abriu uma gaveta e retirou uma resma de papel jornal branco. — Passem adiante — ele disse, dividindo a resma entre as duas primeiras mesas das fileiras. — Meu conjunto de lápis nos abandonou, então usem qualquer coisa que tiverem aí. Lápis, caneta, batom.

Enquanto Winslow me passava a folha de papel, vi Mackel puxar um banco alto para a frente da sala e colocar uma maçã em cima dele.

— Desenhem isto — ele disse, abrindo os braços de forma dramática por cima do banco.

Entrei em pânico. Pensei, se isso é um exame, então sou um vexame. Demorei um pouco para focar minha atenção na tarefa adiante, distraída com Brandi que estava passando um lápis para Alex e ela sorrindo em agradecimento. Alex tinha um sorriso bonito. Pensei em como estaria o braço dela e se eu deveria ir perguntar. Perguntar por que ela andou perguntando sobre mim. Examinei a minha tarefa. Maçã-verde. Azeda. Deu água na boca. Também é a melhor para fazer torta, Mamãe sempre dizia.

Alguns minutos depois, meu celular tocou.

— Droga — xinguei num sussurro. Devia ter esquecido de desligá-lo. Naturalmente, o celular tinha ido parar no fundo da bolsa, debaixo de camadas de lixo. Ele tocou e tocou. Finalmente consegui fisgá-lo.

— Quê?

— Ei, gata.

— Larry, estou na aula — murmurei e abaixei a cabeça, como se isso fosse me tornar invisível.

— Eu também. — Ele murmurou em resposta. — Só queria pedir desculpas pelo que aconteceu mais cedo. Por ter bancado o idiota.

— Tá, tudo bem.

— Amo você.

— É, eu também. Agora desliga, seu tonto. — Fechei o celular. — Desculpa! — falei para o Mackel e para todos os outros ao redor, que me olhavam boquiabertos. Inclusive Alex. Revirei os olhos e ela sorriu.

Levei um minuto para me lembrar da tarefa. Continuei. Depois que consegui concentrar minhas energias, o tempo voou.

— Ok! — Ele falou, me pegando de surpresa. — Assinem suas obras de arte em algum lugar, na frente, de preferência. Com seus nomes, de preferência. E entreguem. Não vão receber nota, só quero ver se descubro o próximo Picasso.

Olhei para o meu desenho. Nada mau. De algum modo, eu tinha capturado a essência da forma. Fiquei ali observando enquanto a essência da forma dela se esvaía pela porta junto com Brandi.

Tínhamos uma reunião do Conselho Estudantil depois da aula. Fiz a chamada de abertura e depois passei a palavra para nosso novo orientador acadêmico, o sr. Olander. Ele pediu que nos apresentássemos, disséssemos em qual turma estávamos e qual cargo desempenhávamos. Larry, ele já conhecia, provavelmente das aulas de biologia ou algo assim, pois o sr. Olander era o novo chefe do Departamento de Ciências.

Larry terminou seu discurso com:

— E eu sou o vice da Piper — o que fez todos rirem. Não sei se o Olander entendeu essa. Ele prometia ser tão divertido quanto um baú cheio de mofo.

O Conselho era formado por seis representantes de classe, mais secretários. Polly era secretária. Olander pediu que por gentileza lesse as atas da última reunião que tivemos antes do recesso. Ela leu e depois fechou seu caderno de notas, acrescentando:

— Ah, e nós decidimos por unanimidade. Nosso novo representante vai ter que ficar só de sunga e fazer a dança do pintinho amarelinho em frente a toda a congregação escolar.

Todos nós sufocamos as risadas.

Os olhos do Olander quase trincaram os óculos.

Polly disse para ele:

— Brincadeira.

— Ah! — Ele riu. — Essa foi boa.

Ai. Resgatei a reunião das mãos do cara sem noção.

— A Semana do Serviço Comunitário já é em fevereiro — anunciei. — O que queremos fazer este ano?

Polly disparou:

— Desapropriar a cafeteria? Isso seria um serviço para a comunidade. — Todos riram. Polly se irritou. — Ei, eu estou falando sério.

Certo. Nós fizemos um brainstorming procurando por ideias factíveis e decidimos por uma campanha de doação de sangue, uma de coleta de comida enlatada para o abrigo dos sem-teto e uma maratona de leitura de livros nas casas de repouso. As mesmas coisas do ano anterior. Dava para ser mais previsível e chato?

Na saída da reunião,  Polly me puxou e disse:

— Lorna me pediu para dizer que a sra. Lucas ainda está procurando por você.

— Droga. — Dei um tapa na minha cabeça.

Polly acrescentou:

— Se for até o Centro de Orientação Vocacional, pode pegar pra mim um catálogo da Western State? Obrigada. — Ela correu até o Trevor, que esperava por ela ao lado do escritório. Trevor. Devia ser o terceiro ou quarto namorado dela nesse ano. Fiquei observando enquanto ela praticamente o atacava encostado à estante dos troféus. Ele parecia tão jovem. E era mesmo, considerando que estava no primeiro ano do ensino médio. Perguntei-me se não deveria contar a ela sobre o que as pessoas andavam comentando. Sugerir que talvez ela sossegasse o facho na escola.

Larry se aproximou por trás e me cutucou nas costelas. Gritei e desferi um tapa.

— Deixe as noites de sexta livres — ele murmurou na minha orelha. — Tenho uma solução para o nosso problema. — E foi embora em direção ao laboratório de química.

Examinei o seu corpo alto e esbelto deixando escapar um suspiro audível. Uma coisa que é preciso dizer sobre Larry é que ele sempre tinha uma solução para tudo.



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