1. Spirit Fanfics >
  2. Não Conte Nosso Segredo >
  3. Capítulo 11

História Não Conte Nosso Segredo - Capítulo 11


Escrita por: vauseman_damie

Notas do Autor


Boa tarde!
Um agora e outro mais tarde.
Boa leitura!

Capítulo 11 - Capítulo 11


CAPÍTULO 11

Fechei as torneiras do chuveiro, mas não ia desfilar seminua até os armários. No entanto…

Ela gosta de mim. Sorri comigo mesma. Imagino se ela…

Meu celular tocou. Antes que eu conseguisse pensar, Alex falou:

— Deixa que eu atendo.

Enquanto secava minha cabeça na toalha, ouvi-a dizer:

— Quem? Não, desculpe. Para que número você ligou?

Dei uma olhada no meu corpo arrepiado e enrolei a toalha em volta dele, um pouco mais baixo do que de costume. Agarrando meu maiô molhado no chão, caminhei até os bancos, perguntando:

— Quem era? Minha mãe?

— Engano. — Alex me observou de cima a baixo e deixou escapar um suspiro. Ela levantou de repente e disse: — Preciso de um café. Tenho que voar.

Caí no banco me sentindo envergonhada, exposta. Idiota. Comecei a me vestir.

No caminho até o jipe, na hora do almoço, quando íamos para o McDonald’s, Polly falou:

— Ah, mudando de assunto, Piper, o Larry. Sábado à noite está cancelado. O Trevor terminou comigo.

Estaquei no meio do estacionamento.

— Ah, não, Polly. O que aconteceu?

— A coisa mais engraçada. A mãe dele não me aprova. Disse que sou velha demais para o Trevinho. Acho que os boatos de que sou uma vadia, chegaram até os ouvidos dela. — O olhar cortante dela me atravessou.

Quê? Eu nunca…

— Ah, desculpe — ela acrescentou. — Uma piranha.

— Polly! — protestei. Depois, mais calma, falei: — Eu sinto muito.

E sentia mesmo. Ela parecia péssima. Nem sequer usava maquiagem hoje, o rosto estava pálido e manchado.

Ela fitou o horizonte.

— Nunca consigo fazer nada direito. — Os olhos dela se encheram de lágrimas. Estiquei os braços para abraçá-la, mas ela subiu no banco traseiro do jipe, se arrastando para o lado mais afastado e mantendo o olhar à frente.

Lorna e eu trocamos olhares. Acho que Lorna já sabia. Ela se acomodou do lado da Polly e deu um tapinha no joelho dela. Acho que sentia sua dor mais do que eu.

— Sábado à noite? — Larry falou ao meu lado. — O que tinha no sábado à noite?

Ops. Acho que esqueci de contar a ele.

— Nada. Não importa agora. — Ele ia dizer alguma outra coisa, mas eu o cortei dando-lhe as chaves do carro. — Você dirige. — Normalmente Larry ia no banco do passageiro, mas hoje ele havia trazido Coop, então pensei que gostaria da oportunidade de exibir a testosterona.

O McDonald’s estava apinhado de crianças pequenas, berrando e correndo atrás umas das outras no Playland. Enquanto nós cinco ocupávamos uma cabine nos fundos, falei para Polly:

— Quer que eu vá à sua casa hoje à noite? Pra conversar?

— Não. Estou bem. Ele é o filhinho da mamãe. E daí? De qualquer modo, já estava me dando nos nervos. — Ela enfiou um canudo pela tampa da Coca diet. — Então, sua amiga sapa vai enviar a proposta para uma Aliança Gay e Hétero? — Ela perguntou.

— Não — respondi, sentindo uma queimação se espalhar pelas minhas vísceras. — Não a chame assim, ok? O nome dela é Alex. — Levei o Big Mac até minha boca. — Ela não quer uma aliança, quer só um clube gay. — E mordi.

— Viu? — Polly se inclinou para beber o refrigerante. — É a agenda.

Mastiguei e engoli rápido.

— Não existe agenda gay. — Tentei controlar minha voz, meus nervos.

— Posso pegar um pouco de ketchup? — Lorna interrompeu.

Na minha frente, Larry passou para ela um punhado de sachês.

Polly falou:

— Você viu a camiseta que ela estava vestindo ontem? Aquele ASSUMIDA! E COM ORGULHO!? — Ela contraiu o lábio.

— O que tem de errado? — Falei.

Polly balançou a cabeça.

— Ela é tão óbvia. Olha pra mim, sou gay! Sou especial! — Ela zombou.

Minhas mandíbulas ficaram tensas. Abaixei o hambúrguer.

Lorna sibilou:

— Não acho que ela esteja fazendo isso por se achar especial. Acho que só está sendo ela mesma.

Mandei para Lorna um “obrigada” silencioso. Ela acrescentou:

— Eu imagino como deve ser terrível ser a única pessoa assumida na escola inteira. Acho que ela é tremendamente corajosa. Não sei como que eles se reconhecem entre si quando não são assumidos.

Coop falou:

— Eles deixam o número de telefone na porta do banheiro. “Para um momento de prazer, ligue para o Bruce, 1-800-222…”

Polly riu, fungando. Coop esboçou um sorrisinho e disse:

— Sabem o que significa “veado”, não é? “Você Espalha AIDS; Depois, Óbito”.

Larry previu minha explosão.

— Cala a boca, Coop. Não tem graça. Você não vai comer isso? — Ele apontou para o meu Big Mac.

Eu o empurrei para ele.

Polly mergulhou um nugget no molho barbecue e colocou na boca.

— Ela só está em busca de carne — ela disse com a boca cheia. Virando-se para Coop, acrescentou: — E não estou falando de linguiça.

Ele se engasgou com uma batata frita.

Foi a gota d’água. Cutuquei Larry.

— Me tire daqui.

— Quê? Mas a gente ainda nem terminou de comer.

— Eu terminei.

Ele ficou sentado ali.

— Mexa-se!

Larry zarpou da ponta do banco. Saí atrás dele e marchei em direção à saída.

Eu odiava o jeito como falavam sobre eles. Sobre ela. Polly, Coop, todos eles. Especialmente Polly. Eu compreendia que ela estava magoada, estava desabafando, transferindo sua dor para qualquer outra coisa. Ainda assim, acho que ela devia calar a boca.

Fizemos o caminho de volta em silêncio. Pelo menos, eu me mantive quieta. Coop pediu desculpas, como se isso fosse resolver alguma coisa. Larry tentou me fazer cócegas uma vez e eu bati nele. Eu ainda estava com o sangue fervendo quando cheguei à aula de artes. Chutei uma cadeira, que foi colidir com um cavalete na frente da sala.

Meu cérebro se manifestou: Calma, Piper. Meu Deus.

Por impulso, sentei na cadeira próxima à janela e esperei Alex chegar. Precisava sentir a presença dela. A força dela. Precisava protegê-la de toda a crueldade do mundo. Enquanto eu procurava meu caderno de desenho na mochila, um corpo se aproximou e olhei para cima.

— Essa é a minha cadeira — Brandi falou.

— Você se incomoda se a gente trocar? Estou tendo dificuldade pra enxergar os slides no fundo da sala. — Empurrei meus óculos pelo dorso do nariz.

Ela hesitou por um momento, depois se afastou. Alguns segundos depois, Alex apareceu. Ela me avistou e me encarou enquanto cruzava a sala. Flutuando. A cadeira ao meu lado foi puxada e um lampejo de cabelos laranja chamou minha atenção.

— Yo — Winslow falou no meu ouvido.

— Winslow, eu estou guardando esse lugar…

— Desculpem, me atrasei — Mackel irrompeu pela sala. — Vamos começar. Temos muita coisa para ver hoje. Vocês vão precisar da prancheta maior neste exercício. E das canetas hidrográficas.

Alex desapareceu. Virei-me para constatar que ela tinha pego uma cadeira vazia nos fundos, perto da Brandi. Droga!

Quando cheguei em casa, Faith estava no nosso quarto, levando um esporro. O que será que ela faz aqui?, me perguntei. Tinha vindo passar o fim de semana anterior. O que aconteceu com os fins de semana alternados? No final das escadas, ouvi Mamãe rosnar:

— É sacrílego e não vou tolerar isso na minha casa. Cresça, Faith!

— Cresça você! — Faith gritou com Mamãe. — Fica longe das minhas coisas. Para de se meter na minha vida. Você não é minha mãe e nunca vai ser!

Tropecei no cesto de roupas de propósito.

— Espere até que seu pai escute isso. — Mamãe disse, abaixando o tom de voz.

Faith retrucou:

— Ele não vai ligar e você sabe disso.

Mamãe cruzou o porão com um olhar furioso.

— Oi, querida — ela entoou entre os dentes cerrados. — Como foi seu dia?

— Quase igual ao seu.

Ela marchou escada acima e eu dei a volta na divisória. Faith falou:

— Maldita.

— O mesmo pra você — respondi.

— Não é você. Ela. — Levantou o queixo na direção do teto. Rolando sobre a cama, ela se encolheu em posição fetal e cobriu a cabeça com um travesseiro. Foi quando vi o motivo da explosão de Mamãe. No meio da cômoda de Faith, havia uma estátua da Virgem Maria aconchegando nos braços um menino Jesus sem cabeça. Que horror!

Graças a Deus, eu tinha competição de natação e não precisaria enfrentar um jantar com o Anticristo e os Cleavers. Enquanto eu enfiava um maiô limpo na mochila, meu celular tocou.

— A que horas você acha que vai estar aqui? — Larry perguntou.

— Aí onde?

Ele não falou por um bom tempo.

— No apartamento? Hoje, sexta à noite.

Eu havia esquecido completamente.

— Larry, eu tenho competição de natação.

— Eu sei — ele falou. — E a que horas você volta?

Soltei um suspiro irritado.

— Só um segundo. — Resgatei meu cronograma, que estava colado na divisória do quarto. — É em Eagle Ridge, então, provavelmente, umas dez ou dez e meia.

— Certo. O que você disse à sua mãe sobre hoje à noite?

Minha mãe? Droga.

— Ainda não disse nada.

— Piper. — A voz de Larry se alterou. — Ela vai colocar a guarda nacional atrás de você quando notar que você não voltou pra casa.

— Não se preocupe — assegurei. — Vou tomar conta disso.

A voz do Larry suavizou.

— Sinto muito. Sinto muito sobre hoje também. O Coop, às vezes, é um idiota. Sei que está chateada com tudo o que aconteceu esta semana. Eu também estou. Podemos discutir isso hoje à noite.

Discutir isso. Que coisa mais Larry. Como discutir isso mudaria alguma coisa? O mundo estava entupido de ódio.

— Amo você — ele disse. E esperou.

Perguntei-me quanto tempo ele ia esperar. Para sempre, talvez. O ruído de estática na minha mente aumentou. Por fim, não consegui suportar o barulho.

— Amo você também.

No andar de cima, encontrei Mamãe sentada em cima do aparador da sala de jantar, pagando contas, seu rádio ligado em um talk show. Com a mão na fechadura, avisei a ela:

— Estou indo para a competição. Vejo você amanhã.

Ela esticou o pescoço em volta da parede para olhar para mim.

— Amanhã?

Abri a porta.

— Vou dormir na Lorna hoje, lembra? Tenho certeza que avisei.

— Tenho certeza que não.

Droga.

— Mas posso ir, não posso?

— Lorna, né? — Mamãe lambeu um envelope e o fechou. — Imagino que você não vá estar lá quando eu ligar mais tarde. Ou vai?

Empalideci.

— Não.

— Você está tomando as pílulas, não está?

Desviei meu rosto em brasas.

— Piper?

O que é que ela tinha com…

— Olha, eu não estou brigando com você. Entendo o que é ser jovem e estar apaixonada. Já passei por isso, lembra? Só quero que tome cuidado. Não faça nenhuma besteira que vá comprometer o seu futuro.

Como ter um bebê que nunca quis? Traduzi para mim mesma.

— Eu tomo cuidado — murmurei.

Mamãe disse:

— Boa sorte no treino.

Murmurei um obrigada e deslizei para fora dali.

No caminho para Eagle Ridge, ouvi o CD das Dixie Chicks. Mais de uma vez. Eu já tinha memorizado as letras. Memorizado ela também. O rosto dela, os gestos, o sorriso. Deus, como eu amava aquele sorriso. Fechei os olhos e deixei a música me conduzir. Me arrebatar para outro momento, outro lugar.

Conforme nos reunimos na piscina para dar início à competição, meus olhos passaram pela arquibancada. Esperando, esperando… Ali. Um boné de beisebol. Era ela ali, encostada na parede de tijolos, me fitando? Estava longe demais para que eu conseguisse identificar sem as lentes de contato, que eu havia esquecido na pressa para sair de casa.

O técnico Chiang nos reuniu para uma conversa introdutória. Vamos, Estrelas-do-Mar!

Voltei a procurá-la com os olhos, mas não estava mais lá. Se era ela mesma, nunca voltou.

Larry me encontrou na porta do apartamento, com uma garrafa de cerveja na mão e um pano de prato pendurado no braço.

— Entréz, mademoiselle. — Ele gesticulou para dentro. Na sala de estar, ele havia acendido a lareira, empilhado todas as roupas sujas e o lixo em um montinho e aberto espaço sobre a mesinha de café. Dois descansos de prato foram colocados ali, com os talheres e os guardanapos.

— Uau — foi tudo o que pude dizer. Larry costumava ficar no nível um, o mais baixo na escala de romantismo. — Isso é pra mim?

— Não, é pra Polly. Ela vem mais tarde.

Dei um tapa no peito dele.

— Quer me dar seu casaco, mademoiselle? — Ele estendeu um braço.

Entreguei minhas duas mochilas e o casaco, que ele colocou junto ao montinho.

— O jantar está no forno — ele me informou, dando-me a garrafa de cerveja. — Quer ter a honra?

— De abrir a tampa?

Ele se curvou de novo.

— S’il vous plait.

Ah, caramba.

— Já retorno — ele disse, girando e dando uma corridinha até a cozinha como faria um caranguejo.

Que maluco. Entornei um gole da cerveja enquanto dava uma volta pela sala. O irmão do Larry e os colegas de apartamento dele eram uns porcos. Afastei uma embalagem amassada de bolinho recheado de cima do sofá e sentei. Bebi a cerveja com vontade. Pouco depois, Larry reapareceu com dois pratos de comida chinesa. O aroma era incrível. Estava faminta. Ele tirou dois cálices de vinho dos bolsos e posicionou-os na mesinha de café. Ops. Acho que ele tinha melhores planos para a cerveja.

Dividimos um prato de frango xadrez e um de carne de porco agridoce, mais quatro rolinhos e uma travessa de arroz. Limpando meus dedos engordurados em um guardanapo, falei:

— Qual é a ocasião?

— Nenhuma. — Larry levantou a taça cheia de cerveja para um brinde. — Só nós dois.

Fizemos tim-tim. Enquanto bebíamos, estudei o rosto do Larry. Ele era tão familiar para mim, cada marca, cada linha. A cicatriz acima da sobrancelha direita, onde ele levara uma pancada de um taco de hóquei. Eu sentia como se o conhecesse a vida inteira, o que era praticamente verdade. Íamos à escola juntos desde os primeiros anos do ensino fundamental. Foi a Polly quem nos fez ficar juntos. Ela estava saindo com o irmão dele, na época em que namorava “homens mais velhos”, ao contrário da sua atual fase “pré-pubescente”. Eu nem sequer tinha imaginado namorar o Larry. Mas funcionou. Era bom ficar com ele. Confortável.

Talvez esse fosse o problema. Essa atração pela Alex, esse crush, ou fosse lá o que fosse, era novo, interessante, imprevisível. Eu não fazia ideia de aonde isso ia me levar, nem de aonde eu queria que me levasse. Acho que sabia aonde podia me levar.

E, se acontecesse…

— Onde você está? — A voz do Larry me trouxe de volta para a realidade.

— Estou aqui. — Sorri para ele. — Com você.

Ele jogou duas almofadas do sofá diante da lareira e fez sinal com o dedo para que eu me aproximasse. Deslizei da poltrona. Ficamos juntos e aninhados perto do fogo. Larry começou a me beijar. Depois de um tempo, ele sussurrou:

— Vamos para o quarto.

— Sabe de uma coisa? Estou muito cansada. — Bocejei e me espreguicei.

— Quê? — Ele se afastou de mim. — Eu preparei tudo isso pra você. Pra nós. Qual é o problema?

O modo como ele olhava para mim… Tão bravo, ressentido. Eu não podia magoá-lo.

— Nenhum. — Balancei a cabeça, olhando para o chão. — Vem cá.

Deslizei para fora das cobertas tentando não respirar.

— Piper? — Larry se virou. — Aonde você vai?

— Pra casa. Desculpe. Volte a dormir. — Vesti minha calça de moletom.

— Mas temos a noite inteira. — Ele se apoiou nos cotovelos.

— Eu sei, mas não posso. — Minha voz soava rouca, vazia. — Não me sinto bem. Desculpe. — Cambaleei até a porta. Precisava sair, escapar. Ir o mais longe possível daqui.

Ela estava dentro de mim, no meu sangue, invadindo cada célula do meu corpo. Era ela quem eu queria. Era ela quem eu via, sentia e desejava. Isso era errado. Ele era errado. Tudo isso era muito errado.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...