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História Não Conte Nosso Segredo - Capítulo 13


Escrita por: vauseman_damie

Notas do Autor


Oi, pessoas!
Vamos ao primeiro capítulo!
Boa leitura!

Capítulo 13 - Capítulo 13


CAPÍTULO 13

— Tia Piper, tia Piper, faz o meu! — Courtney pulava para cima e para baixo, abanando uma folha branca na frente do meu rosto.

— Você é a próxima — falei. — Deixe eu terminar o do Kevin. — Examinei o rosto gordinho do outro lado da mesa de desenho, tão angelical, mas com um brilho demoníaco nos olhos. A boca não estava certa, o lábio superior ficou torto.

— Tia Piper, tia Piper.

Judy colocou a mão no meu ombro.

— Está formando uma fila.

Olhei de lado para Courtney, depois atrás dela, onde havia um monte de crianças pegando folhas brancas de papel, tão rápido quanto a sra. Ruiz conseguia rasgá-las do bloco.

— Está muito bom, Piper — Judy disse, observando meu desenho. — Não sabia que você era uma artista.

— Nem eu — admiti.

— ‘Xa’ ver. — Kevin puxou a folha, que estava debaixo da ponta do meu lápis, e segurou em frente ao rosto. Abaixou. Os olhos dele ficaram grandes como um par de waffles. — Ah, legal! — Ele gritou.

Isso me fez rir. Fez Judy rir também.

— Próxima vítima — chamei.

Mamãe estava no porão, passando roupas, quando flutuei pelas escadas abaixo. Levantei Hannah da cadeira de bebê e brinquei com ela no ar. Ela soltou gritinhos. Mamãe franziu o cenho para mim. Uh-oh.

— Olhe isto — ela rosnou, esticando uma das camisetas pretas da Faith. DANTE estava inscrito como um brasão entre línguas de fogo. Nas costas, lia-se:

Não existe luz, senão do céu sereno e imperturbável. O resto são trevas ou sombra da carne, ou seu veneno.
(Paraíso)

Mamãe perguntou:

— O que isso quer dizer?

— Não faço a menor ideia — falei.

— É obsceno. — Ela fez uma bolinha com a camiseta e jogou-a no lixo. — Queria que você conversasse com ela, Piper. Diga como fica ridícula. Arranque-a de uma vez dessa onda gótica. Isso não é normal.

— Não posso. Nós não habitamos o mesmo planeta.

Mamãe balançou a cabeça.

— Não consigo nem imaginar o que as pessoas pensam dela. Não fazem pouco dela na escola?

— Na verdade, não. — Porque temos aquelas políticas antibullying que nutrem a paz e o amor em nossos corações.

Mamãe prosseguiu:

— Ela parece uma personagem de filme B com toda aquela maquiagem e aquelas roupas.

Bufei um pouco.

— Não, não parece. Ela só está se expressando. Este é um país livre. — Não me pergunte por que eu estava defendendo Faith.

— O Neal fica constrangido até de levá-la para visitar os avós. Ele acha que o pai dele vai ter um derrame se vir a Faith entrando em casa parecendo a morte encarnada.

Já estava na hora de mudar de assunto.

— Posso jogar meu maiô na secadora? — Acomodei Hannah na cadeirinha e retirei dois maiôs pegajosos da mochila, com a toalha encharcada que os envolvia. Lancei tudo na máquina, depois levantei a cadeira de bebê e levei-a para o meu quarto.

Mamãe apareceu alguns minutos depois. Ela pousou uma pilha de roupas limpas ao lado da minha cama e falou:

— Tomei a liberdade de responder ao convite para o jantar com o governador.

— Mãe. — Me arrepiei. — Eu ia fazer isso.

— Quando? Uma semana antes do jantar?

Não, na mesma tarde.

— Espero que em março você já saiba em que universidade vai estudar ano que vem. Tenho certeza que o governador vai perguntar.

Ele também? Não havia mesmo escapatória.

Mamãe parou na entrada.

— Acho que eu devo avisar: a Faith vem hoje à noite e vai passar o resto da semana aqui. A mãe dela precisa viajar a negócios. — Mamãe se demorou, examinando meu quarto. — O Neal e eu estamos pensando em transformar o porão em um escritório durante o verão. Colocar uma mesa com um computador. Precisamos fechar o espaço da Faith, talvez mudar a cama dela pra cá. Ou então trancá-la aqui dentro. — Ela sorriu. — O que você acha?

Fiquei piscando.

— Acho que quando eu estiver de saída é bom não esquecer de bater a porta atrás da minha bunda.

— Ah, Piper. — Ela riu de mim. — Você leva tudo tão a sério.

Eu não queria ir sozinha à apresentação da Alex e não estava a fim de chamar o Larry. Liguei para a Lorna.

— Ei, Piper! — Ela soava animada. — Estou feliz que você ligou. Senti sua falta no almoço.

— É, o Larry e eu estávamos planejando a conferência sobre liderança. — Sobre a qual eu não queria nem pensar. — Como você está?

— Bem — ela falou. — A gente não conseguiu mais conversar. Lembra quando dormíamos uma na casa da outra todos os fins de semana? A gente nunca mais fez isso.

— Eu sei. Deveríamos.

— A Polly vai vir aqui mais tarde pra eu cortar o cabelo dela. Se você vier também, vocês poderiam passar a noite aqui, já que a gente não tem escola amanhã.

— Não posso. Estou… ocupada. — Droga. Não podia convidar as duas. De qualquer forma, não acho que eu convidaria Polly. Não era minha pessoa favorita nos últimos tempos. — Só liguei pra dar um oi. Ver como você está. Ops, minha bateria está acabando. Não tô conseguindo te ouvir. Ligo pra você amanhã. — Desliguei. Droga. Agora eu tinha que ir sozinha.

Caí na cama, observando meu guarda-roupas. O que alguém veste para ir a uma performance artística? Ouvi Faith chegar, a mala dela se arrastando pelo chão. Ela suspirou de desgosto.

— Ei, Faith. — Levantei em um impulso. — Quer vir a uma apresentação de arte performática comigo esta noite? — Contornei a divisória, entrando no espaço dela.

Parecia que ela estava sendo estrangulada por uma sucuri, de tanto que seus olhos saltaram.

— Tá brincando? — A voz dela embotou. — Ou foi sua mãe que obrigou você a isso?

— Não. Ela não sabe disso. Tenho dois convites, então pensei que eu e você podíamos…

— E onde está o Larry? — Ela perguntou.

— Ocupado — menti. — Está todo mundo ocupado. — Fiz parecer que ela era minha última escolha? Fiz. — Tudo bem, é que eu não queria ir sozinha — confessei. — Quero dizer, eu poderia, mas… — Sorri, tímida. — Sou covarde, detesto fazer as coisas sozinha. Se você não quiser ir, tudo bem. — Voltei para o meu espaço rezando, por favor, por favor, diga que vem comigo.

— Tudo bem — ela disse.

Refiz o caminho até o espaço dela.

— Você já assistiu a uma apresentação dessas?

— A.P.? — Ela mordeu o dedo mindinho. — Sim, várias vezes. — E cuspiu a cutícula.

— Então, que roupa eu devo vestir?

A expressão dela não mudou.

— Coisas góticas — falou. — Vou te emprestar um crucifixo.

Eu a encarei por um momento, depois caí na gargalhada. Ou ela era a pessoa mais engraçada da face da Terra ou então eu estava descontrolada.

Levei mais de uma hora para encontrar o Teatro Rogue. Estava encravado entre dois blocos residenciais sem nome, no bairro dos armazéns, no centro da cidade.

— Tranque a porta — ordenei à Faith.

E prepare o machado.

Algumas pessoas se amontoavam ali do lado de fora, fumando e bebendo vinho em copos descartáveis. Não eram o que se chamaria de “povo do teatro”, seja lá o que isso for. Nada de peles nem roupas formais. Eram mais como grunges. Faith deve ter se sentido em casa. Meu estômago saltitava, como se todos ali já soubessem as regras do jogo, menos eu. O host sorriu e nos deu calorosas boas-vindas, pediu que assinássemos o livro dos convidados, o que me acalmou um pouco.

Logo na entrada, havia um quiosque que vendia pipocas, doces e bebidas. Faith foi em linha reta na direção dele, mas eu a icei pelo sobretudo e disse:

— Vamos achar os assentos primeiro.

O teatro era velho, gasto, reformado pela metade. Aquelas poltronas de veludo vermelho tinham mais de um século. No entanto, eram confortáveis, e ao nosso redor as pessoas batiam papo e riam. Li o folheto com a programação:

O TEATRO ROGUE APRESENTA: UMA NOITE DE PRAZER SENSORIAL

Deus do céu, será que isso era para maiores? A página seguinte listava seis atos, e eu os investiguei tentando achar uma pista de que prazeres nos aguardavam. “Cantando com Gatos” era o primeiro ato. Depois “Virgens Virtuais”, “Sincroloucos”, “Aphrodisium”, “Unidade” e “Riso Enlatado”. Olhei para Faith, que estava me observando. Odiava o jeito como ela encarava as pessoas — e a mim.

— Conhece algum desses grupos? — Perguntei a ela.

— Aham — ela resmungou, olhando de esguelha para o quiosque da entrada.

Procurei minha carteira na bolsa.

— Tome. — Passei para ela uma nota de dez. Ela debandou pelo corredor e eu gritei às suas costas: — Sem álcool.

Um sujeito com a cabeça raspada atrás de mim piscou e eu me encolhi na poltrona.

O folheto tinha uma página de anúncios, pedidos de auxílio financeiro, agradecimentos a todas as pessoas que ajudaram na execução do show. Faith voltou com um saco de pipoca e um copo de vinho tinto.

Droga.

— Você tem uma identidade falsa? — Perguntei.

— Sim, mas eles não pediram. Quer um pouco? — Ela me ofereceu o copo.

— Não. — Imaginei nós duas confinadas em uma cela de prisão. Cidade dos horrores. Na última página, havia os nomes dos artistas. Meus olhos passaram pela lista, pararam. Joanie Fowler. Por que esse nome não me soava estranho? Ela era um membro da Unidade. Ali, abaixo de Joanie, estava o nome de Alex. — Ela está na Unidade também.

— Hein? — Faith falou.

Eu realmente verbalizei isso?

— Minha amiga. Ela está nesse grupo, a Unidade.

— Quem? — Faith se apoiou em cima do meu braço.

— Alex. Alex Vause. — Apontei para o nome.

— Ah, sim. Eu a conheço.

— Como?

Faith bebericou o vinho. Degustou-o longamente, só para me irritar.

— Ela está na minha aula de vida independente.

— Em que período?

Faith piscou as pestanas.

— Terceiro. Por quê?

As luzes desvaneceram e minha atenção se voltou para o palco. Vida independente? Essa era uma aula inútil. Um holofote iluminou o centro do palco e uma mulher com um vestido longo e translúcido veio flutuando da extremidade. Ouviram-se aplausos dispersos. Ela dobrou as mãos à sua frente e esperou. Esperou. Por alto-falantes ocultos, um gato de repente gemeu. O som atacou meus ouvidos e eu os tapei com as mãos. O gemido irritante diminuiu um pouco, então a mulher abriu a boca e uivou com o gato. Em harmonia.

Espere, isso era… interessante. Quero dizer, eu não conseguiria fazer isso.

Faith murmurou no meu ouvido:

— Não tente isso em casa.

Bati no joelho dela.

— Não tente isso à noite em um beco escuro.

— Para.

— Especialmente se estiver com tesão.

Ri sem conseguir me reprimir.

Virgens Virtuais foi um espetáculo de luzes e sombras, o que era sensual, com certeza. Fiquei tentando descobrir se as três mulheres por trás da tela estavam mesmo nuas. Sincroloucos era esse misterioso grupo musical que usava sons eletrônicos e vozes digitalizadas. Aphrodisium era totalmente para maiores. Faith ficou murmurando “aaah hããã” e resfolegando, e eu fiquei dando cotoveladas nela.

As luzes do palco se apagaram e o teatro caiu na escuridão.

Unidade era o próximo. Meu coração se agitou. Uma pequena luz despontou no chão e um rosto surgiu, seguido por outro ao lado, e mais outro, até que cinco rostos apareceram para encarar a plateia. Cada rosto estava maquiado para parecer exatamente igual ao outro, mas pude identificar Alex. Era a do meio. Juntos, começaram a se mover, ou, na verdade, ondular, porque, pelo que percebi, eram todos uma coisa só. Uma gigantesca criatura em forma de polvo, dentro de um tecido elástico preto.

E havia essa música new age que emanava suave das caixas de som estéreo enquanto a Unidade pulsava em um círculo. Depois a música mudou, ficou mais estridente e dissonante. Cada elemento se libertou, abrindo um zíper que o conectava ao tecido e se afastando. Eles vestiam maiôs segunda pele com capuz em diferentes tons pastel. Alex usava amarelo.

A batida acelerou e os indivíduos, que estavam tão calmos no instante anterior, começaram a se sacudir e se contorcer em agonia. Alex abriu a boca, mas nenhum som saiu. Senti um frio percorrer minha espinha. Isso não era encenação. Ela estava sofrendo.

Continuou por excruciantes minutos. Não conseguia assistir. Mas precisava. Ela me hipnotizou. Em determinado momento, todos deram as mãos no centro do palco, suas dores abrandaram. A música ficou lenta, suave, e os elementos se moveram todos para o centro, de frente uns para os outros. Mais e mais próximos, até que se espremeram firmemente em uma coisa só, uma unidade, um ser multicolorido.

A plateia bateu palmas e pés, e eu soltei a respiração que estava prendendo. Faith arqueou as sobrancelhas para mim e disse:

— Legal.

— Muito.

Depois do espetáculo, todos se reuniram no lobby, esperando a vez de parabenizar os artistas. Localizei Alex com os outros membros da Unidade, rindo e tagarelando, seu rosto exultante como jamais vi.

Costurei através da multidão para chegar até ela. Alex obviamente conhecia boa parte dessas pessoas, que não paravam de abraçá-la e de chamá-la. Um surto inesperado de autoconsciência se apossou de mim.

Os olhos da Alex encontraram os meus e o rosto dela se iluminou. Ela abriu caminho entre as pessoas, debaixo de braços e copos de vinho.

— Você esteve fabulosa — eu disse quando nos encontramos no meio da multidão. Sentia uma vontade poderosa de lançar meus braços em volta dela, abraçá-la, mas meus músculos não queriam se mover. Percebi que ela queria me abraçar também. Mas não me abraçou, e a espontaneidade desse momento passou desajeitada por nós.

Ela olhou por cima do meu ombro, procurando.

— Ele não está aqui — falei.

Ela sorriu. Um sorriso ainda mais amplo.

— Você gostou mesmo? — Perguntou.

— Sim. Foi fantástico. Hipnótico. Eletrizante.

Ela piscou.

— Você entendeu?

— Acho que sim. Sobre nascer, e se separar, e ficar sozinho. Como a solidão pode ser dolorosa. E depois voltar a se unir, a ser um só. Ser uma Unidade. E a alegria disso. — Hesitei. — Certo? É isso mesmo?

Outro sorriso lento se infiltrou nos lábios e nos olhos dela.

— A mensagem é a que você quiser que seja. — A atenção dela mudou de direção, para alguém ao meu lado. — Ei, amiga. — Alex lançou os braços ao redor da Faith. — Como vão as coisas?

Por que ela não me abraçou?

— Bem — Faith respondeu. — Você estava demais.

— Obrigada. — O sorriso da Alex iluminou o ambiente de novo. Ela abraçou Faith uma segunda vez. — Faith, essa é a Piper — ela falou. — Piper, Faith.

Nós duas rimos.

Alex olhou de Faith para mim.

— O que foi?

— Ela é minha irmã. — Faith me apontou com o polegar.

— Meia-irmã — corrigi.

— Não pode ser — Alex disse.

— Pode ser — Faith respondeu.

— Louco. — Alex balançou a cabeça. — Mundo pequeno.

— Pequeno demais — Faith roubou minhas palavras.

Outra garota da Unidade tocou o ombro da Alex.

— Alex, vamos lá fora fumar um cigarro. Quer vir?

— Não — Alex falou. — Eu parei.

As sobrancelhas da garota arquearam.

— Você parou? Quando? Você não tinha me contado. — Os olhos da garota encontraram os meus e ela sorriu. — Oi. — Ela estendeu a mão. — Eu sou a Joanie.

Quando estiquei o braço para apertar a mão dela, Alex abaixou o braço de Joanie com um tapa.

— Bem, obrigada por terem vindo, meninas — Alex falou, apressada, girando para puxar Joanie de volta para o meio da multidão, longe de nós. De mim.

O que foi aquilo? Eu estava esperando que Alex nos convidasse — me convidasse — para fazer companhia a elas — a ela. Ou algo assim. Qualquer coisa. Eu não queria ir embora.

— Estou faminta — disse Faith. — Aqueles caras do Riso Enlatado com o feijão e o bacon me deram fome. Podemos parar no Wendy’s?

Observando Alex abraçar outra garota, dei as costas e disse:

— Claro, por que não?

 



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