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História Não Conte Nosso Segredo - Capítulo 16


Escrita por: vauseman_damie

Notas do Autor


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Capítulo 16 - Capítulo 16


 

CAPÍTULO 16

O telefone tocou três vezes. Assim que o correio de voz estava para entrar, ele respondeu:

— Alô?

— Larry, oi. Sou eu. O que você está fazendo?

— Ajudando meu pai a montar esse rack para televisão. Você achava que dois caras inteligentes, como nós, fossem capazes de enfiar o parafuso A no buraco A, certo? Esta é a terceira vez que precisamos desmontar a geringonça e começar tudo de novo.

Ótimo. Ele soava normal, feliz.

— Preciso ver você — falei. — Em algum momento hoje.

— Que tal agora?

— Agora? — Meu coração disparou. Eu estava preparada para isso agora?

— Topo qualquer desculpa para fugir disto aqui — ele falou. — Quer que eu vá até aí?

— Não. Eu vou buscar você. Daqui a dez minutos. — Desligamos. No andar de cima, roubei um muffin da mesa do café da manhã, enfiei na boca e entrei na minha blusa de moletom com capuz.

— Volto logo — falei de boca cheia.

— O quê? — Mamãe franziu as sobrancelhas por cima de sua leitura. — Ah, Piper. Você viu este catálogo de Michigan? O campus em Ann Arbor é lindo. Deveríamos inscrever você lá. Eles têm um programa pré-advocacia. Claro que a escola de direito de Stanford é mais proeminente e seria perfeito se…

— Agora não, mãe — falei, retirando o muffin da boca. — Tenho que ir ver o Larry.

Ela suspirou pesadamente.

— Pergunte a ele sobre Stanford. E não fique fora o dia inteiro. Eu sinto sua falta, e quero que me ajude a fazer aquela pintura em estêncil na parede da Hannah.

Neal espiou por cima das tirinhas do jornal e piscou para mim. Pisquei de volta.

— Bom dia, Faith — falei, entrando na sala, onde ela estava esparramada no sofá, assistindo a uma reprise de Buffy. Ela deve ter resmungado uma resposta. — Ei, Hannie. — Beijei sua bochecha de bebê, depois surrupiei mais um muffin e saí.

Meu jipe parecia querer desacelerar sozinho enquanto se aproximava da casa do Larry. Ele estava sentado na varanda, acariciando o gato, Toby. O Toby de duas toneladas. Um animal que Larry havia resgatado de uma caçamba de lixo quando era criança. Isso era tão a cara do Larry. Quando ele me viu manobrar para a entrada da garagem, levou Toby para dentro de casa e saiu correndo pelo jardim.

Eu havia decidido que a conversa seria rápida.

— Aonde vamos? — Larry perguntou, inclinando-se sobre o banco dianteiro para me beijar. Eu me virei para verificar o trânsito, os lábios dele roçaram meu rosto.

— Passear — respondi. Aonde íamos? Para a serra, onde fomos fazer trilhas off-road no último verão? Não, Deus, não. A nenhum lugar dos velhos tempos. No espelho retrovisor, materializou-se o Parque Crandell atrás da casa dele, e levei o carro até o estacionamento.

Larry descansou o braço em torno dos meus ombros.

— E aí?

Abri minha porta.

— Vamos andar um pouco.

Ele descruzou as pernas e saltou para fora do carro. Emparelhando ao meu lado, pegou minha mão e apertou. Eu apertei também. No local das churrasqueiras, parei e descansei em um banco de piquenique. Larry se espreguiçou ao meu lado. Havia duas crianças brincando nos balanços, a mãe e a avó delas estavam ali perto, entretidas com seus livros.

Não havia um jeito fácil de fazer isso. Enfiei a mão no bolso do moletom, senti o pedaço circular de metal nos dedos e o apertei. Estiquei minha mão, abri a mão de Larry, e coloquei o anel na palma dele.

— Acho que deveríamos sair com outras pessoas — falei. Tão tola.

Ele abriu os dedos e observou o anel. Apenas observou. Traumatizado. Então os músculos da mandíbula se apertaram e, piscando os olhos, ele disse:

— O que levou você a isso?

— Eu… — engasguei. — Estou gostando de outra pessoa. Não seria certo com você…

— Quem? — Ele gritou.

Isso me fez pular de susto.

— Você não saberia… ninguém que você conheça. — Minha boca estava seca como um deserto. — Larry. — Virei para encará-lo. — Isso não tem nada a ver com você. Eu amo você. Você sabe disso. Queria que continuássemos amigos. Você é um dos melhores amigos que já tive. — O que era verdade. Nunca foi o sexo que nos manteve unidos. Pelo menos, não para mim.

— Amigos — ele falou, sua cabeça começando a balançar. — Amigos. — Ele se levantou abruptamente. Seu braço chicoteou no ar e o anel saiu voando pelo playground. — Vai se foder, Piper.

Eu me encolhi, não por causa das palavras, mas pelo modo como ele as disse. Pelo veneno em sua voz. De repente, a avó começou a recolher suas coisas e reunir a tropa para debandar dali.

— Larry, por favor…

Ele segurou meus ombros com força, me inclinando de costas na direção da mesa. Disse, direto no meu rosto:

— Vai se foder!

Meu coração parou de bater.

Ele se endireitou e seus olhos se encheram de lágrimas.

— Larry. Não.

Ele saiu como um furacão, espirrando cascalho no seu rastro. Com o pulso, esfregou uma lágrima no rosto.

— Ah, meu Deus. — Minha cabeça caiu entre minhas mãos. Não era para ser assim.

Alex ainda estava na cama quando eu cheguei. O pai dela berrou do alto das escadas:

— Alex! — Depois se virou para mim e disse: — É preciso intervenção divina para arrancá-la da cama antes do meio-dia. — Como não houve sinal de que ela escutou, ele colocou as mãos em concha em torno da boca e gritou: — Cecelia!

Uma porta se abriu.

— O quê?

— Você tem visita.

Ela espiou na direção da escada. Nossos olhos se encontraram e o rosto dela se iluminou.

— Um momento — ela disse.

Não precisava se preocupar. Eu não iria a nenhum outro lugar.

Alguns segundos depois, vestida com jeans largos e uma camisa de beisebol, ela correu escadas abaixo. Agarrando-me em um abraço apertado, sussurrou:

— Ah, meu Deus, eu pensei que fosse um sonho. Foi de verdade, não foi? Me diz que é de verdade.

— É de verdade — eu disse, sorrindo. Sentindo-me aliviada.

Ela se afastou, examinou meu rosto.

— O que há de errado? O que aconteceu?

O nó ainda estava alojado na minha garganta, mas consegui balbuciar:

— Eu terminei com o Larry.

Os olhos dela se fecharam. Depois ela os abriu e fitou dentro dos meus, perguntando:

— E você se arrepende?

— Não. É que não terminou bem. — Minha vista embaçou.

Olhando por cima do ombro para o pai e o irmãozinho, que estavam boquiabertos nos olhando do sofá da sala, Alex segurou minha mão e me levou até a varanda envidraçada.

Sentamo-nos juntas no banco suspenso, o braço dela ao meu redor.

— Você contou a ele sobre nós? — Ela perguntou.

Enfiei a mão no bolso, procurando um lenço de papel, e balancei a cabeça.

— Não consegui. Desculpe.

Alex deu um tapa no próprio peito.

— Graças a Deus.

Assoei o nariz e franzi a testa para ela.

— Quero dizer… bem, não liga. Estou feliz que você está aqui. — Ela me puxou para perto e me beijou. Fez o calor se espalhar pelo meu corpo. Uma confirmação bem-vinda de que eu tinha feito a coisa certa.

A conversa foi deixada de lado por um tempo. Estar ao lado da Alex parecia tão certo. Algo que desejei com tanta intensidade e contra o qual lutei por tanto tempo. Queria saber tudo a respeito dela, explorá-la, fazer uma incursão por sua mente. Estranho. Tinha a sensação de conhecê-la desde sempre e, ainda assim, não saber praticamente nada sobre ela. A aventura de descobri-la me excitava, como nada nem ninguém conseguira antes.

Alex se afastou de mim e mostrou a língua. Não para mim, mas para a janela atrás de nós. Virei para ver Eric beijando a vidraça. Isso me fez rir. E fez Alex saltar do balanço, afastando-se de mim.

— O que foi? — Falei.

Ela olhou por cima do meu ombro, estreitando os olhos.

— Mamãe não quer que o Eric testemunhe minha perversão. Ele pode achar que ver duas garotas se beijando é natural ou coisa assim. — Ela se esticou no banco, apoiando a cabeça no braço do móvel e com as pernas dobradas acima das minhas coxas. Abracei os joelhos dela e deixei minha bochecha descansar sobre eles, observando-a. Absorvendo-a.

Ainda fitando a janela, ela acrescentou:

— Pelo menos não temos dois pesos e duas medidas, o que deixa o Greg doido da vida.

— O que você quer dizer?

Ela sacudiu um ombro.

— Eu disse para Mamãe e Papai que, se não posso ser eu mesma aqui, com minhas namoradas, então o Greg também não deveria poder. Papai disse que eu tinha razão. — Ela sorriu.

E eu sorri.

— Você é tão incrível. — Fiquei imaginando quantas namoradas ela estava incluindo nessa conta. — Desde quando você sabe, Alex? — Perguntei.

— Sobre você?

Não era essa minha pergunta, mas a resposta me deixou intrigada. Meneei a cabeça.

— Desde a primeira vez que eu te vi no armário — ela respondeu. — Dia dois de janeiro, às seis e cinquenta e três da manhã.

— Não pode ser. — Franzi o nariz.

Ela riu.

— Garota, você fez meu gaydar disparar como um alarme.

— Não pode ser — repeti.

Ela sorriu.

— Foi, sim. E meu gaydar nunca mente. Apesar de que, depois, eu pensei que você podia ser bi.

Não, eu não era bi. Tinha certeza disso agora. A profundidade do desejo… era inacreditável. Além da convicção de que isso estava certo. De que eu estava sendo eu mesma. Mas como ela podia saber disso antes de mim?

— Como você sabia disso antes de mim?

Ela riu de novo.

— Eu não sabia. Você que sabia.

Ela estava certa. Eu sabia. Só não tinha encontrado ainda a pessoa que acenderia a tocha e me guiaria pelo caminho.

— Por que você esperou tanto? — Perguntei a ela. — Por que você não foi logo, sabe, dando em cima de mim?

O rosto dela ficou sério.

— Eu não tinha certeza do que estava acontecendo com você. Quero dizer, você dava sinais contraditórios. Então caiu minha ficha, dã. Você ainda não tinha saído do armário nem para si mesma. Pensei que eu tinha que deixar você decidir como lidar com isso. Você precisava ter certeza. Você tinha que dar o primeiro passo. E, garota — ela passou o braço pela testa —, você estava me matando.

Sorri.

— E se eu nunca desse o primeiro passo?

Ela me espiou por baixo do antebraço.

— Eu estava preparada para fazer uma cirurgia de mudança de sexo.

Estapeei suas canelas e nós duas caímos na risada. A porta da frente se abriu de supetão e Kate colocou a cabeça para fora.

— Olá, Piper — ela falou.

— Oi, sra. Goddard. — Me endireitei no banco, libertando as pernas da Alex.

— Alex, você conhece as regras — ela disse.

— Mãe — Alex gemeu de desgosto. — Pelo amor de Deus, a gente só tá conversando. Estamos completamente vestidas e você pode ver onde estão nossas mãos. Mostra pra ela, Piper. — Alex ergueu as mãos para a inspeção. Eu meio que envolvi meu corpo com as minhas.

A mãe da Alex a fuzilou com o olhar, antes de voltar para dentro.

— Você é má — falei.

— Bem — Alex fez uma carranca —, ela me envergonha.

— Deixa eu adivinhar. Festa do pijama é um tabu na casa dos Vause?

Um sorriso lento se espalhou pelo rosto da Alex.

— Ah. — A cabeça dela caiu para trás. — Aqueles foram grandes dias.

Fiz cócegas até que ela se rendesse.

Conversamos e brincamos até ficarmos malucas. Eu não sentia essa vertigem desde os meus Natais quando era criança. Alex era uma alegria de viver. Tão engraçada. Um espetáculo. Era difícil deixá-la, mas eu tinha que fazer isso. Mamãe poderia ligar para o Larry, o que geraria um confronto com o qual eu ainda não estava preparada para lidar. Isso tudo era tão novo, tão inebriante.

— Ligo pra você à noite — Alex falou, com a ponta dos dedos enganchada na janela do jipe enquanto eu a abaixava. Investiguei cada anel daquelas duas mãos. Nos despedimos com um beijo e eu não conseguia parar, não queria, até que finalmente, finalmente gritei:

— Ok, chega!

Nunca seria o bastante. Fechei a janela. Dei a partida no carro enquanto nossas mãos se uniam através do vidro.

Dei a partida para uma vida nova.

 

 



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