CAPÍTULO 19
Ao olhar-me no espelho, poderia pensar que era a mesma Piper Chapman de sempre. Contudo, eu não era mais a mesma. Havia descoberto essa parte de mim, no centro do meu ser, que me fazia sentir genuína e viva. Mais consciente do meu lugar em relação aos outros. Em relação à Alex, claro, mas também ao restante do mundo. Consciente do que o mundo pensava de mim e do que poderia fazer comigo.
Alex tinha razão… De repente, desabou sobre mim a percepção da minha vulnerabilidade. Porque importava o que as pessoas pensavam.
Da minha cabine de estudo, nos fundos do centro de mídia, vi um carro abarrotado de gente fazendo a curva e acelerando. Provavelmente, indo para o McDonald’s ou o Taco Bell. Fechei os olhos e suspirei. Meu isolamento autoimposto estava começando a me desgastar.
Sentia falta dos amigos, da Lorna, da Polly e até do Larry. Sentia saudades do bate-papo, das risadas. Sentia falta de sair para almoçar, para patinar ou ir a qualquer lugar em grupo. Não é que Alex não preenchesse minhas necessidades. Ela preenchia. Eu só queria que mais pessoas participassem da minha vida.
— Você está guardando este lugar para alguém?
Minha cabeça girou.
— Lorna, oi. — Eu me animei. — Não. Senta. — Virei-me e gesticulei para que ela viesse se sentar na cadeira ao meu lado.
Ela se acomodou.
— O que está acontecendo com você? — Ela perguntou.
O sangue subiu ao meu rosto.
— O que quer dizer? — Abaixei a cabeça, fingindo uma tentativa de achar a página onde havia parado em Os Contos da Cantuária.
— Liguei pra você quatro vezes esta semana e você nunca me ligou de volta. O que eu fiz? Você está brava comigo?
— Não, não estou.
O olhar dela me prendeu. Havia mágoa em seus olhos.
— Lorna, você não fez nada. Não estou brava com você. Juro. — Cruzei os dedos sobre o coração duas vezes, como costumávamos fazer quando crianças.
Lorna me estudou por um bom tempo.
— A gente nunca mais viu você. Eu nunca vejo você. É como se você tivesse deixado o planeta. Parou de almoçar conosco, nunca vem à minha casa, nem me liga.
— Só estou com coisas demais a fazer — contei a ela. — Coisas demais. — Para provar, comecei a descarregar a mochila sobre a mesa da cabine. — Estou tão soterrada neste semestre que vou ficar louca.
Lorna examinou meu rosto. Eu não conseguia nem encará-la. Em uma voz mais baixa, ela perguntou:
— Você quer conversar sobre isso, Piper? Porque, você sabe, eu sou sua amiga, não importa o que aconteça. Você pode me contar qualquer coisa.
Uma pontada de medo se alojou na minha espinha. Ela não estava se referindo ao Larry. Ela sabia. Será que ele havia contado a ela? Ou era minha imaginação correndo solta? Por que me assustava tanto a possibilidade de Lorna saber?
Mais do que tudo, eu queria contar a Lorna que meu coração estava à beira de explodir com o amor que sentia pela Alex. Mas eu não podia. Não iria.
— Não tenho nada pra contar. — Fingi um sorriso alegre e dei de ombros.
— Certo, tudo bem. — Lorna se levantou para ir embora.
— Lorna…
Ela enganchou a bolsa no ombro.
— Sinto muito — eu disse às costas dela, retirando os óculos e esfregando os olhos. — Não é você. Sou eu. Eu só… não posso.
Ela se virou.
— Nós somos melhores amigas, Piper. Você pode me contar qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, que vou continuar amando você.
Lágrimas encheram os meus olhos. Não era isso. Eu me virei para a janela. Não é que eu não quisesse confiar nela.
— Piper?
Dominei o meu colapso iminente.
— Ligo pra você hoje à noite. Tudo bem? — Voltei-me para ela e sorri. — Prometo. Assim que eu chegar em casa.
Ela me lançou um olhar caloroso.
— Tudo bem. Eu vou estar lá, esperando.
Enquanto eu a observava atravessar as portas do centro de mídia, reconheci minha mentira. Não ligaria para a Lorna. Não podia. Porque, se começássemos a conversar, eu não confiava que conseguiria manter a promessa que fiz a Alex.
O clima estava excepcionalmente quente para a primeira semana de março.
Judy abriu o playground do Chalé das Crianças, e, quando cheguei, todas as crianças da Escavação dos Dinossauros se ajuntaram ao meu redor.
— Tia Piper, vem me ver escorregar — Courtney disse, pegando minha mão.
— Não — Kevin gritou, agarrando minha outra mão. — Ela vai brincar comigo na areia.
— Ei, sosseguem. Eu vou brincar com todo mundo. — Fiz um olhar vesgo para Judy e ela riu.
Depois de atender a todos, um por vez, me empoleirei à beira da caixa de areia da tartaruga, absorvendo o sol, me impregnando com o brilho da vida. Um grito lancinante vindo do balanço cortou meu devaneio. Por que as crianças pequenas têm que gritar tanto?, me perguntei, sorrindo comigo mesma. Porque elas amavam o som da própria voz. E eu adorava as vozes delas. Uma súbita onda de tristeza me agarrou. Talvez eu nunca tivesse filhos.
Essa dor me roeu por dentro. Crianças. E as crianças?
Havia algumas formas de tê-las, suponho. Não é? Adoção. Poderíamos adotar? Eu nem sabia. Inseminação artificial. Colocar no seu corpo o sêmen de um cara que você nem sequer conhece? Eca. Isso quase me fazia desejar ter engravidado do Larry. Ele teria sido um excelente pai.
Talvez eu pudesse pedir para o Larry…
Não. O que eu estava pensando? Eu o estaria usando. Assim que eu engravidasse, voltaria para Alex. Eu iria querer que nós duas criássemos nossos filhos juntas.
E se eu nunca tivesse filhos?
— Tia Piper, você tá me apertando.
Voltei à vida, soltando Courtney. Nem sequer notei que eu a estava segurando. Relutante, eu a deixei ir.
Sendo noturna, nem sempre ela conseguia, mas uma manhã Alex apareceu na piscina. Eu estava terminando uma volta de nado de costas quando percebi sua presença. Ela se sentou na borda, cotovelos nos joelhos, segurando um copo de café entre as mãos.
— O que eu não faço por amor? — Ela disse quando eu a alcancei.
Joguei água nela. Ela deixou o copo de lado e me afundou.
A perseguição continuou no vestiário, onde eu a agarrei e a prendi contra a parede. Coletei meu prêmio.
Catei uma toalha e a chicoteei com ela, antes de me dirigir ao chuveiro. Enquanto enxaguava meus cabelos, senti um arrepio percorrer minha pele. Abri os olhos.
Alex estava lá, nua.
Prendi a respiração.
— O que está fazendo?
— Lavando seu cabelo. — Ela assumiu o controle.
Começamos a rir e ensaboar uma à outra e aí não estávamos mais rindo, quando escutei:
— Piper, é você?
Cobri a boca de Alex com a mão.
— Hã, sim — respondi.
— É a Bonnie Lucas — ela falou, a voz ecoando da área da pia.
— Ah, oi, sra. Lucas. — Fiz uma careta para Alex. Ela retirou um a um meus dedos colados no rosto dela.
— Sua mãe me contou que Vassar e Brown rejeitaram sua inscrição. Sinto muito por isso.
— Não tem problema — falei. Na verdade, foi um alívio, porque tirou minha mãe do meu pé por um tempo.
— São universidades difíceis de entrar. Em todo caso, a perda foi delas.
— Certo. Obrigada. — Vá embora, rezei. Por favor, vá embora.
— Sabe, você pode tentar fazer uma transferência ano que vem.
— É uma boa ideia. — Fechei os olhos. Com o sabonete, Alex estava fazendo coisas em mim que tornavam impossível me concentrar em uma conversa.
A sra. Lucas falou:
— Gostaria que eu fosse te buscar para irmos ao jantar do governador, no sábado?
Isso era sábado? Decidi faltar, fingir uma doença terminal se Mamãe me perguntasse.
— Não — respondi. Minha falta de fôlego começava a me trair. — Encontro você lá. — Meus joelhos começaram a fraquejar.
— E em quais outras universidades você se inscreveu?
Deus. Segurei o pulso da Alex.
— Não lembro. — A água de repente começou a fluir congelante. Fechei as torneiras, ainda alvoroçada, e me apoiei em Alex. Sussurrei no ouvido dela: “Fique aqui”. Peguei a toalha e a enrolei em mim.
Saí da cabine do chuveiro.
Enquanto passava por trás da sra. Lucas, ela me olhou através do espelho. Borrando o batom, ela disse:
— Assim que decidir para onde vai, você me conta, não é?
— Com certeza. — Forcei um sorriso e marchei até os armários.
A sra. Lucas veio atrás de mim. Ela deixou cair o batom em sua bolsa, que jazia aberta sobre o banco.
— Passei na sua casa outro dia — ela falou. — A Hannah está ficando tão grande.
— Está mesmo. — Sorri de novo.
Não conversamos enquanto a sra. Lucas dobrava e guardava seu moletom na bolsa, e isso foi um grande erro. Eu deveria ter continuado o bate-papo. Alex emergiu do chuveiro, metida em uma toalha. Ela derrapou sobre o piso, paralisada ao ver a sra. Lucas. O olhar amedrontado da Alex foi de um lado para o outro enquanto ela tentava descobrir o que fazer. E o que poderia fazer? Ela correu e agarrou seu sutiã, os jeans e a camiseta do topo de nossa pilha compartilhada, balbuciando:
— Com licença.
Os olhos dela evitaram os meus e ela contornou os armários, indo para o outro lado do vestiário.
Mesmo sem os óculos, captei todo o impacto da reação da sra. Lucas. Ela não disse uma palavra, apenas fechou a bolsa e saiu. A voz da Alex ecoou esganiçada acima dos armários:
— Ops!
Durante o resto do dia, fiquei preocupada com isso. Será que a sra. Lucas estava em seu escritório ligando para minha mãe? O que ela diria? O que Mamãe diria?
Eu deveria ter contado à Mamãe. Ela não deveria ter que saber por intermédio da Bonnie Lucas; não deveria saber por meio de mais ninguém, a não ser de mim.
Depois da aula, cruzei com Polly saindo do banheiro no mesmo momento em que eu entrava.
— Ei, Pol — falei.
Os olhos dela varreram os arredores e depois pararam em mim.
— Ah! Você está falando comigo? — Levou a mão ao peito. — Achei que tinha ouvido meu nome. Mas parecia improvável que você fosse lembrar dele.
Bufei de leve.
— Desculpa por não ter ligado.
— Ouvi que você anda ocupada. Tendo uns momentos alegres, pelo que ouvi dizer.
Meu coração parou. Mesmo se eu pudesse encontrar minha voz, não saberia o que dizer. Meus olhos fugiram do rosto dela e resvalaram no chão. Não! Essa era uma admissão de culpa, e eu não era culpada por nada. Ergui a cabeça para falar, mas Polly foi mais rápida:
— Eu não acredito em você — ela disse. — Acho que agora sabemos por que estava tão entusiasmada com aquele clube.
Tive vontade de me enfiar em um buraco. Por quê? Eu não tinha feito nada de errado.
— Para com isso, Polly — consegui balbuciar. — Isso não é da sua conta.
Ela exagerou um sorriso.
— Bem, então eu vou ter que transformar isso em algo da minha conta. — Ela se virou e saiu.
O que isso significava? Foi uma ameaça? O que ela faria? Ela me assustou.
Fiquei no Chalé das Crianças o maior tempo possível, limpando prateleiras e empilhando cadeiras. O que esperava por mim em casa?, pensei. Imaginei a voz da Mamãe me saudando com um tom de precisamos-ter-uma-conversa-séria.
Porém, o que encontrei foi a casa vazia. Havia um bilhete preso à geladeira:
Estamos com os pais do Neal. Eles querem juntar todos os netos para um retrato de família. Netos. O que, obviamente, não incluía a mim. Ela havia desenhado um coração e, perto dele: Mamãe.Abaixo: Obs: Deixei frango frito no forno.
Nada muito sinistro.
Quando ela chegou, uma hora depois, parou para perguntar como tinha sido o meu dia.
— Bom — eu disse a ela.
Ela beijou minha testa e saiu.
Talvez, a sra. Lucas não tivesse interpretado o que viu do jeito que eu temia. Talvez, Polly estivesse só blefando. Fiquei preocupada com isso por uns dois dias e, como nada aconteceu, achei que tivesse sido absolvida.
Então, de repente, na escola, todo mundo sabia. Ninguém me confrontou nem disse nada. Mas, quando andei pelos corredores, senti como se as pessoas pudessem ver aquilo em mim — um rótulo, uma marca, um “L” no meu peito piscando em luz vermelha. Os olhos deles me espreitavam tempo demais, e eu podia vê-los me julgando. Me exilando. A pior parte era que eu nem sequer podia me defender. Queria gritar: “Parem! Parem de olhar pra mim! Eu sou a mesma pessoa. Vocês me conhecem, votaram em mim. Sou eu, Piper. Eu não mudei”.
Isto cheirava a Polly. Ela havia cumprido com a ameaça. Maldita. Por que fez isso comigo? Se ao menos eu pudesse me assumir e ficar assumida. Eu amava Alex. Não me envergonhava disso. Queria que todos na escola soubessem. Queria que o mundo inteiro soubesse. E queria que uma pessoa em particular soubesse: Mamãe.
Estava me matando ter que omitir a verdade dela. Todas as vezes que ela me perguntava sobre o Larry, uma sensação de traição roía minha consciência. Queria que ela soubesse a verdade. Era minha mãe. Eu devia isso a ela.
No entanto, a ideia de contar isso a Mamãe me apavorava mais do que qualquer outra coisa. Por quê? Sempre pudemos conversar. Comparada a muitas outras pessoas, tínhamos uma ótima relação. Eu só não sabia como abordar o assunto, principalmente depois que ela me mandou desistir da Alex como amiga. Mamãe e eu nunca havíamos conversado sobre homossexualidade. Quero dizer, o assunto nunca apareceu.
Por enquanto, minha promessa à Alex me protegia. Quando fosse o momento certo, eu contaria à Mamãe. Contaria ao mundo que eu a amava. Mamãe entenderia. Como ela mesma dizia: ela entendia o amor. Depois que passasse a conhecer Alex, ela a amaria também.
As noites em claro estavam cobrando seu preço. Parecia que minha vida fluía em uma correnteza longa e contínua, e eu nem sequer queria remar para a terra firme. Uma pessoa só consegue viver tanto tempo assim sob o efeito de adrenalina, apesar de que eu não conseguia nem acompanhar a passagem dos dias. Em uma terça ou quarta-feira, enquanto ia para casa depois do trabalho, doida para dormir, mas sabendo que ainda precisava terminar umas leituras antes de sair para ver Alex, encontrei Mamãe na cozinha colocando a cobertura em um bolo de chocolate.
Será que eu tinha esquecido de algum aniversário? Não era o meu, era? Não, eu não estava tão mal assim. Da Mamãe ou da Hannah? Não. Da Faith? Do Neal?
— Qual é a ocasião? — Mergulhei um dedo na tigela de cobertura.
Mamãe jogou a faca na tigela e girou para me encarar. Ela me empurrou para trás e quase me fez cair. Disse:
— Isso é verdade? Você está saindo com aquela garota?
Meu olhar tremulou na direção da Faith, que estacionou no portal entre a cozinha e a sala de jantar.
Eu podia mentir para Mamãe.
Não, não podia.
— Estou — falei.
Os olhos da Mamãe se incendiaram.
— Você está dormindo com ela?
Ah, Deus. Temos mesmo que fazer isso aqui? Agora?
— Bem, na verdade — dei um sorrisinho —, a gente não consegue dormir muito.
Senti um estouro quente na cabeça, antes de entender que Mamãe havia me dado um tapa. Lágrimas minaram dos meus olhos, mais por causa do choque do que da dor.
— Mãe, você não entende. — Aproximei-me dela. — Eu amo a Alex.
Ela me bateu de novo, com mais força, e eu caí na sala de jantar, meu quadril foi se chocar contra o aparador. Neal estava dando comida para Hannah na mesa, onde Faith voltou para se sentar. Mamãe partiu para cima de mim, batendo nas minhas costas.
— Mãe! — Tentei afastá-la, mas não consegui. Ela estava enfurecida.
Neal saltou para nos separar. Ele agarrou Mamãe por trás e disse:
— Chega! Não precisamos de violência aqui.
Mamãe gritou comigo.
— Eu não criei você pra ser lésbica! — Ela disse isso de modo que soasse a palavra mais feia da língua. — É nojento. Pervertido. Você é uma pervertida. — Neal a segurou com uma força mortal.
— Não é assim. — Ergui as mãos na direção dela, tentando acalmá-la e me explicar. — É bonito. A gente se ama.
Ela se soltou do Neal e veio para cima de mim. Me bateu de novo. Começou a me estapear e me dar bofetadas no rosto, nos braços, qualquer lugar que estivesse no caminho de suas mãos. Neal se colocou entre nós, aparando os golpes dela. Ou tentando.
— Você me dá nojo! — Ela gritou.
Ouvi Hannah começar a chorar. Meus olhos encontraram os da Faith, do outro lado da mesa, onde ela havia congelado como uma estátua. Quase. Ela sorriu?
Mamãe disse ao Neal:
— Quero ela fora desta casa.
Neal disse para mim:
— É melhor você ir.
— Ir? Ir pra onde? — Perguntei.
— Para o inferno — Mamãe respondeu.
— Mãe…
— Vai! — Ela gritou. — Sai daqui, sai daqui. Sai. Daqui!
— Certo. Meu Deus. Posso pelo menos empacotar minhas coisas?
O rosto dela estava tão roxo que pensei que ela explodiria.
— Dois minutos. — E para o Neal ela disse: — Quero ela fora desta casa em dois minutos.
Ele arregalou os olhos para mim. Hannah berrou e soluçou.
— Ah, Hannie. — Parei para consolá-la.
Mamãe me arrancou dali e gritou:
— Não ponha as mãos no meu bebê! Nunca mais toque nela!
Meu estômago revirou enquanto eu descia as escadas. Deus, ah, Deus. O que eu ia fazer?
Empacotar. Empacotar o quê? Dois minutos? Abri a mochila de natação e comecei a enfiar coisas. Tudo o que estava na minha cômoda veio em uma única leva. O que mais? Roupas. As gavetas estavam lotadas, eu jamais conseguiria empacotar tudo. Meu guarda-roupas também. Sapatos. Não havia espaço para os sapatos.
— Você tem um minuto — Mamãe guinchou pela escada.
As rosas? Não, elas teriam que ficar. Estavam mortas, de qualquer forma. Ela que ficasse com elas e fizesse bom proveito. A Faith também. Ela podia comer minhas flores mortas.
Recolhi tudo o que conseguiria carregar, ouvi coisas caindo pelo chão enquanto eu marchava pelas escadas. Sentia-me humilhada, abandonada, devastada. Faith vinha descendo as escadas e nós colidimos. Eu a empurrei para o lado, fervilhando.
— Espero que esteja feliz. É tudo seu agora.
Ela abriu a boca para falar, mas passei por ela com um esbarrão. Não conseguia acreditar que ela tinha feito isso comigo. Ela me odiava tanto assim?
Mamãe puxou a porta. Depois bateu-a atrás de mim.
Eu cambaleei até o jipe. Dirigi. Apenas dirigi. Estava trêmula e com frio e minhas mãos não paravam de escorregar do volante. Meu peito doía. Minhas bochechas queimavam. Meu quadril doía onde a ponta do aparador me acertou. O telefone no fundo da minha mochila tocou, acho. Tudo parecia retinir. Inclusive meus ouvidos, de tanto ouvi-la gritar. Eu não conseguia respirar. Não conseguia enxergar. Tudo virou um borrão. Tudo ficou preto.
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