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História Não Conte Nosso Segredo - Capítulo 20


Escrita por: vauseman_damie

Notas do Autor


Último de hoje!

Capítulo 20 - Capítulo 20


 

CAPÍTULO 20

— Sim, alô? — Ele disse, as palavras entrecortadas.

Engoli em seco.

— Desculpe tê-lo acordado. Posso falar com a Alex? — Minha voz soou vazia, ausente.

— Quem é? — Ele perguntou.

— É a Piper. Desculpa, sr. Vause. Eu preciso conversar com a Alex.

Ele soava obviamente irritado.

— Só um minuto.

Minha testa descansou contra o volante.

— Alô? — A voz de Alex soou pastosa. Ela limpou a garganta. — Quem é?

— Sou eu.

— Piper? — A voz dela avivou. — Faz horas que estou ligando pra você. Onde você está?

Minha garganta estava seca. Dolorida. Me recostei e falei:

— Estou sentada em frente à sua casa. Preciso de você.

Uma cortina na janela do andar superior se abriu.

— Já estou descendo — ela falou. — Não vá embora.

Eu ri, amarga.

Alguns segundos depois, Alex saiu pela porta da frente, com a camisa de beisebol caindo na altura das pernas, um tênis de cano alto em um pé e o outro na mão dela. Ela correu pela calçada e cruzou a rua. A mão dela espalmou na minha janela fechada e ela espiou do lado de dentro, antes de dar a volta para o lado do passageiro.

— Piper? Querida. — Ela fechou a porta e se virou para mim. Continuei a fitar adiante. Cega. Entorpecida. — O que aconteceu? — Ela perguntou.

Olhei para ela.

— Minha mãe me pôs pra fora de casa.

— Não. — Alex saltou sobre o banco e passou os braços ao meu redor. — Piper, não. — Ela me agarrou, mergulhou a cabeça no meu pescoço. — Ah, meu amor, não.

— Ah, meu amor, sim.

Alex recuou.

— Você contou a ela? Sobre nós?

— Não. — Minha voz soou áspera, como eu me sentia por dentro. — Não precisei.

Alex franziu a testa.

— Alguém expôs você? Quem?

— Chuta. Você tem uma chance.

— Não sei.

— Amiga sua e minha.

Alex estava confusa.

— Faith — falei.

Ela balançou a cabeça.

— Não acredito nisso. Tem certeza?

Assenti. Eu tinha certeza.

— Você está tremendo. Está congelando aqui dentro. Onde está seu casaco?

Devo ter rido de novo.

— Acho que esqueci nos dois minutos que tive pra empacotar as coisas. — Lágrimas queimaram meus olhos. — O que vou fazer, Alex?

Ela me abraçou de novo.

— Fique aqui comigo, claro.

— Não posso.

— Pode, sim. Vem. — Ela saiu do lado do passageiro e correu para abrir minha porta. Me arrastou pela rua e para dentro de casa.

Os pais da Alex estavam ambos acordados agora. O sr. Vause estava parado ao lado da escada, enquanto Kate perambulava pela cozinha, amarrando o cinto do robe.

— A mãe da Piper a colocou pra fora de casa — Alex informou a eles.

— Oh, querida. — Kate correu e me abraçou. Não pensei que houvesse restado lágrimas, mas uma inundação delas escorreu pelas comportas.

— Ela pode ficar aqui, não é? — Alex disse. Havia desafio na voz dela.

Quando nenhum dos pais dela consentiu de imediato, eu disse:

— Tudo bem. Eu vou para um hotel.

— Ela pode dormir no sofá-cama — o pai da Alex falou. Eu o vi lançar um olhar a Kate. — Vamos conversar sobre isso amanhã de manhã. Agora vamos voltar pra cama e dormir.

Meus olhos se perderam na cornija da lareira, onde um relógio anunciava duas e trinta e cinco.

Por quanto tempo fiquei dirigindo? Por quanto tempo permaneci parada em frente à casa de Alex? Que dia é hoje?

Houve uma agitação pela sala e, de algum modo, o sofá se transformou em uma cama.

— Isso é idiotice, pai. — Ouvi Alex dizer em meio à névoa no meu cérebro. — Por que ela não pode dormir no meu quarto?

— Alex — ele advertiu.

Ela xingou em um murmúrio quase inaudível. Em seguida, eu já estava debaixo das cobertas. Eu tinha tirado a roupa? Depois Kate estava acariciando meus cabelos, ou era a Alex? E meu telefone estava tocando.

Alguém colocou o celular nas minhas mãos?

— Alô? — Respondi baixinho.

— Oi, amor. Sou eu. Você está bem? Que pergunta idiota, é claro que não está. Quer conversar sobre isso?

— Acho que não. — Rolei, dobrando os joelhos junto do peito. Tremendo de novo, mas não de frio.

— Queria que estivesse aqui na cama comigo. Queria poder abraçar você.

— Fala comigo, Alex. Fala comigo até eu adormecer.

— Já contei sobre a vez que meu pai me pegou beijando uma menina da vizinhança atrás da garagem? — Ela riu baixinho. — Meu primeiro amor. Eu tinha seis anos.

Sorri e me agarrei ao telefone, à voz dela, até que todos os outros sons na minha cabeça se dissipassem, calassem, desaparecessem noite adentro.

O café da manhã na casa dos Vauses era uma balbúrdia. Todos se dirigiam para a cozinha ao mesmo tempo, agarrando uma tigela do seu cereal favorito sobre o balcão. Colheres tilintavam enquanto uma caixa de leite passava de mão em mão. Alex me colocou na cadeira ao seu lado. Do outro lado da mesa, Greg falou:

— Ei — e moveu o queixo, com uma expressão solidária. Alex devia ter contado tudo a ele.

Eric apontou com a colher, a boca cheia de Froot Loops, e perguntou:

— O que ela tá fazendo aqui?

Alex respondeu:

— Ela mora aqui agora.

— Não, não moro. — Fitei Alex. As lágrimas ameaçavam transbordar de novo, então me levantei apressada.

Enquanto eu começava a dobrar os lençóis do sofá-cama, ouvi o sr. Vause dizer:

— Vamos, pessoal. Vamos nos mexer. — Senti que ele se aproximou de mim e se demorou ali. — Aguente firme, garota. — Ele segurou meu ombro. — Não é o fim do mundo.

Era fácil para ele dizer isso, ele estava vivendo o sonho americano. O relógio na cornija tocou oito horas e eu voltei para a cozinha.

— Esqueci meu dinheiro. Alguém poderia me emprestar cinco dólares pra gasolina, pra que eu possa ir à escola? — Não consegui me segurar, irrompi em lágrimas.

Alex me abraçou. Do balcão onde estava passando o café, Kate falou:

— Por que você não fica em casa hoje? Você não está bem pra ir à escola. Alex, leve-a pro seu quarto pra que ela possa dormir.

— Mesmo? — Os olhos da Alex se arregalaram.

— Sozinha — a mãe dela entoou. — Vocês duas parecem exaustas, mas vocêvai pra escola. — Ela pousou um olhar sério em Alex.

— Mãe…

— Não!

Alex pegou minha mão e me arrastou pela sala e escada acima.

Essa história de que as coisas são mais luminosas de manhã é um mito. Cada vez que eu cochilava e acordava, o pesadelo era mais sombrio. Mais desolador. Exausta demais para dormir, fiquei deitada na cama da Alex, absorvendo os arredores. O quarto dela. Nunca havia estado aqui antes. Ela tinha uma coleção de bichos de pelúcia em uma rede acima da cama. Pilhas de CDs ao lado. Armário sem portas e apinhado de roupas. O espelho da penteadeira era coberto de adesivos: triângulos cor-de-rosa, corações de arco-íris e relâmpagos. Algumas fotos estavam presas debaixo da moldura e eu me arrastei para fora da cama para olhar.

Havia uma foto de família — Alex, a irmã mais velha dela, imaginei, Greg e Eric postados diante de uma árvore de Natal. Uma da Alex em um vestido curto vermelho, posando como modelo. As outras fotos eram de amigos, pensei, uma mistura de garotas e garotos. Dois daqueles rostos eu conhecia, mas não da Southglenn High. Onde eu os vira? Retirei uma das fotos e examinei mais de perto.

Era a foto de um grupo. Havia atrás deles uma bandeira de arco-íris, onde se lia “LGBT Queer e Questionando”. Só podia ser o clube LGBT da Washington Central. Havia uns seis ou sete rapazes, e o mesmo número de garotas. Alex estava sentada no chão, à frente dos demais, abraçando os joelhos. O cabelo dela era mais comprido e mais escuro. Todos estavam sorrindo ou rindo, os braços enganchados nos ombros dos amigos. Alex sorria também, mas não era um sorriso feliz. Ela parecia distante, desconectada dos outros. Isso me levou a indagar, de novo, por que ela tinha se transferido. Mas apenas por um momento. Graças a Deus que ela se transferiu.

Recoloquei a foto no mesmo lugar. Notei um folheto sobre a penteadeira anunciando uma performance da Unidade no último sábado à noite. No sábado passado? Franzi a testa. Alex havia me dito que estava trabalhando no sábado. Por que ela mentiria? Nunca havia mentido para mim. A apresentação devia ter sido cancelada, ou remarcada.

O aroma de pão fresco envolveu meu nariz. Fome e instinto me dominaram. Calcei os tênis da Alex e desci as escadas.

Kate estava na cozinha, verificando dois pães no forno. Outros dois estavam esfriando na prateleira. O cheiro era extraordinário.

— Oi, querida — ela disse quando hesitei na entrada da cozinha. — Por que não se senta enquanto eu ponho um prato de sopa pra você? Nada como um pouco de canja para aquecer o coração.

Minha garganta apertou. Isso me lembrava o livro que dei de presente para minha mãe no Natal: Histórias para Aquecer o Coração das Mães.

Kate arrumou um enorme prato de sopa de macarrão e serviu com pão caseiro coberto de manteiga. Ela também me cortou uma fatia de cheesecake. Depois, ocupou uma cadeira à minha frente, cruzou as mãos sobre a mesa e falou:

— Ela vai mudar de opinião. Só precisa de tempo.

Olhei para ela.

— Você não conhece minha mãe.

Kate inclinou a cabeça.

— Quer que eu ligue pra ela? Posso falar com ela.

Meus olhos desabaram.

— Não. — Deus, não. Não ajudaria nada ter minha mãe gritando com a Kate. — Eu vou lidar com isso. Mas obrigada. — Engoli uma colher de sopa. Não tinha sabor de canja; não tinha sabor de nada.

Ótimo. Eu tinha perdido os sentidos.

— Está delicioso. — Forcei um sorriso.

Kate enrolou um fio solto na manga do suéter.

— Ela só exagerou. Pode ser um despertar difícil, sabe. — O timer do forno apitou e Kate afastou a cadeira. — Ela precisa se acostumar com a ideia. Só isso.

— Quanto tempo você demorou pra se acostumar? — Perguntei.

Ou ela não ouviu ou ignorou a pergunta. Observei enquanto ela retirava os pães do forno e os colocava sobre o fogão.

— Não tem sido fácil lidar com a Alex — ela finalmente disse. — Não porque ela seja… gay. — Kate hesitou, como se doesse dizer a verdade. — Mas porque ela se expõe demais. Fico temendo por ela o tempo inteiro. Não quero que ela se machuque.

Ela se virou e olhou para mim, através de mim. Não sei o que ela esperava que eu dissesse.

— Assim como o incidente dos armários? — Resolvi dizer.

— Que incidente dos armários? — Ela rebateu.

— Nada. — Droga. Enfiei um monte de pão na boca.

— Diabo. — Kate cruzou os braços. — Não entendo por que ela tem que exibir sua sexualidade, isso é um assunto particular. Ela deveria mantê-lo assim. Ser discreta, assim como a irmã dela. Eu não vejo você se expondo pro mundo.

Não porque eu não quisesse, tive vontade de dizer. E isso não tinha a ver com sexualidade. Não totalmente. Tinha a ver com identidade. Amor.

Kate acrescentou:

— Ela está pedindo pra arrumar problemas.

Eu achava que ela estava pedindo aceitação. Quase disse isso. Ainda bem que minha boca estava cheia, porque agora eu não estava no melhor momento para debater visibilidade. Não estava no melhor momento para debater nada.

Retirando o avental, Kate deixou escapar um suspiro cansado e disse:

— Eu quero que ela seja feliz. Isso é tudo o que eu e o Tom sempre quisemos pros nossos filhos. Tenho certeza que sua mãe também se sente assim, Piper. Queremos tanto que os filhos cresçam e conquistem as coisas que nós nunca tivemos. Temos grandes esperanças pra vocês. Expectativas, sonhos. E, então, uma coisa como essa… — A voz dela sumiu.

Uma coisa como essa. Certo. Sonhos despedaçados. No que diz respeito a Mamãe, sonhos despedaçados eram a minha especialidade.

 



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