CAPÍTULO 22
No domingo, Alex e eu esfregamos o apartamento desde o teto até o chão. Ou o vapor de desinfetante me deu um barato, ou me manter ocupada afastou minha depressão.
— Mamãe vai mandar mais lençóis, cobertores e toalhas — Alex falou. — E também coisas de cozinha. Acho que ela se sente culpada por abandonar você.
— Não. — Parei de raspar a crosta de cima do micro-ondas e olhei para ela. — Sua mãe é ótima. Você tem sorte e sabe disso.
Alex mergulhou a esponja no balde e continuou a esfregar a parede.
— Eu queria pedir pra sua mãe… — Engoli em seco. — Deixa pra lá.
— Pedir o quê?
Suspirei.
— Se ela me contrataria por meio período. Eu preciso de mais dinheiro. Vou precisar comprar comida, pasta de dentes e xampu, tudo. Meu trabalho no Chalé das Crianças me paga uma ninharia.
— Preferia que você tivesse me dito que estava pensando nisso. — Alex limpou uma teia de aranha que havia colado na sua cabeça. — Mamãe acabou de contratar uma ajudante de meio período. — Mas — ela estalou os dedos — aposto que meu tio contrataria você pra trabalhar no Hott ’N Tott. Ele sempre está à procura de gente pra trabalhar no turno da manhã.
— É? — Minhas esperanças aumentaram. — Isso seria ótimo.
— Vou falar com ele hoje à noite.
Vocalizei meu próximo pensamento:
— Talvez, eu tenha que largar a escola.
Alex girou nos calcanhares.
— Não. O que está dizendo? Você não pode largar. Tem que se formar! Precisa. Que exemplo seria se a presidente do Conselho Estudantil abandonasse os estudos?
Revirei os olhos.
— Quem se importa?
Ela largou a esponja no balde e veio para o outro lado do quarto. Apertando meus braços, ela me fez girar e encará-la.
— Eu me importo. Você tem que se formar. Tem que ir pra universidade. Tem que pensar no seu futuro.
— Você fala igual a minha mãe.
— Ah, por favoooor… — Alex parou. Mordeu o lábio. — Não está falando sério, está? Você não largaria a escola por causa disso. Por causa de… mim?
— Não é por sua causa. Não é culpa sua.
— Piper — ela disse, me sacudindo —, não faça isso. Não faça nada de que possa se arrepender.
Como guardar segredo sobre nós duas? Eu não disse isso. O aperto dela estava machucando meus braços e eu me virei, afastando-me dela.
— Provavelmente não vou sair — murmurei.
— Prometa.
Uma vez que não fiz isso de imediato, Alex falou diante do meu rosto:
— Prometa!
— Tudo bem, eu prometo. — Caramba.
Sorrindo, ela deu tapinhas nos meus braços e disse:
— Essa é minha garota.
Por que ela me dava a impressão de ser minha mãe, meu pai, minha amiga e minha amante, todos juntos em uma única pessoa? Porque ela era. Ela era meu tudo.
— O que você vai fazer ano que vem? — Perguntei enquanto ela voltava ao seu balde. — Ficar na Southglenn High ou voltar pra Washington Central?
— Nunca mais volto pra lá. Não posso.
— Não pode? Como assim?
Ela respondeu:
— Aumenta o rádio, adoro essa música.
Aumentei o som do rádio portátil que Alex havia trazido. Ela começou a dançar e se balançar, obviamente evitando minha pergunta.
Continuei a raspar. De todo modo, isso resolvia um problema. Eu não sairia do estado para cursar a universidade… se é que cursaria. Nesse momento, os estudos universitários eram minha última preocupação. Sobreviver um dia de cada vez havia se tornado minha prioridade.
A música acabou e a esponja da Alex caiu na água. Ela se deixou desmoronar de costas na cama e se espreguiçou com um gemido.
— Vamos sair pra comprar uma pizza ou algo do tipo. Estou exausta.
Larguei minha faca em cima do micro-ondas, me aproximei e me esparramei ao lado dela. Ficamos observando o teto repleto de infiltrações e rachaduras. Voltando-me para ela, falei:
— Você quer experimentar?
Um sorriso vagaroso se esgueirou nos lábios dela.
— Pensei que nunca perguntaria.
Abandonar a escola nunca foi uma opção, na verdade. Bem, talvez fosse, mas restavam apenas oito semanas. Não fazia sentido jogar tudo isso fora, como Mamãe havia feito. A vida dela fora arruinada. O futuro dela, destruído.
O ressentimento, a raiva que sentia dela começou a me consumir e eu não podia deixar isso acontecer. Tinha três provas e uma apresentação para a semana seguinte, sem mencionar a conferência sobre liderança. Larry havia ido em frente e organizado o evento todo, e eu me sentia terrivelmente culpada por isso. Queria agradecê-lo, dizer que ele havia feito um trabalho fantástico, mas como falar com ele. Ele agia como se eu fosse a escória do mundo.
A aula de artes era a minha salvação. Eu podia me desligar completamente enquanto Mackel achava que eu estava concebendo a próxima Capela Sistina. De vez em quando, Alex olhava para mim, com o rosto preocupado, e apertava o punho sobre o coração, fazendo-me dar gritinhos de êxtase — apenas internos, é claro.
Em uma tarde de sexta-feira, sentindo-me exaurida de tanto estresse e trabalho, deslizei minha cadeira no estúdio e dei seguimento à minha rotina de sempre. Verificar o celular, tirar meu caderno de desenho, olhar para a nuca da Alex. Mackel nos mostrou slides de vários objetos e falou sobre como desenhar em perspectiva. Como dar dimensão a prédios, salas, móveis.
Uma visão veio a mim. Meu apartamento horrível. Saquei um lápis e comecei a desenhá-lo. Isso era deprimente. Rasguei a folha.
Mackel me olhou. Fiz uma careta de desculpas. Que tal desenhar minha visão de como o lugar poderia ser?
Tudo bem, havia possibilidades. Observem além da superfície, Mackel havia dito.
O ato de criar ou de transferir minha visão alterada para a página era estranhamente consolador. Possibilidades. Elas estavam ali.
Estávamos sentadas em uma cabine, dividindo uma caixa de restos de donuts e reabastecendo os porta-guardanapos quando Alex levantou o rosto e sorriu. Virei-me. Faith estava postada diante do balcão, envergonhada.
— Eu trouxe as suas coisas — ela murmurou, empurrando duas sacolas de lixo cheias na minha direção.
Então é a isso que minha vida ficou reduzida, pensei.
Faith acrescentou:
— Ela ia jogar tudo fora.
Uma dor percorreu meu coração.
— Meu cofre está aí? — Cortei.
— Não. — Faith disse. — Ela ficou com ele. Ela disse que… — E parou.
Meus olhos se estreitaram.
— Ela disse o quê?
Faith levou o polegar até a boca e começou a roer.
— Nem precisa dizer, eu posso adivinhar. — Mesmo que ela nunca tivesse expressado esse sentimento, eu sabia que Mamãe sentia como se eu devesse a ela tudo o que eu possuía. — Como você sabia onde me achar? — Perguntei a Faith.
Ela e Alex trocaram olhares. Fitei-as.
— Acho que ouvi os enroladinhos de canela me chamando — ela disse, saindo apressada da cabine. — Vocês duas, conversem. Vocês precisam uma da outra. — Alex tocou no ombro da Faith e acrescentou: — Conte a ela.
Meu olhar abocanhou Faith.
— Me contar o quê? Por que você me expôs?
— Não fui eu. — Faith cuspiu a cutícula. — Nunca faria.
Meu olhar sustentou o dela. Ela abaixou a mão e repetiu:
— Não fui eu.
— Mas você pediu desculpas.
— O quê? — As sobrancelhas dela franziram. — Ah, sim. Por não ter defendido você naquela noite, não ter ficado do seu lado. Eu deveria ter feito isso. Mas é que tudo aconteceu tão rápido.
Examinei o rosto dela, procurando a verdade e não conseguindo encontrar nada, senão um vago sinal.
— Senta. — Gesticulei para a cadeira de plástico que havia ficado vazia à minha frente.
Faith se acomodou. Ofereci a ela um pedaço de donut da caixa. Ela balançou a cabeça, depois levou o polegar à boca e começou a roer de novo.
— É difícil falar com você enquanto faz isso — eu disse.
Ela abaixou a mão.
— Não fique brava com a Alex — ela disse. — Fiz ela me contar onde encontrar você. Eu estava preocupada.
Ela estava preocupada comigo? Meus ombros caíram. Pelo menos, alguém se preocupava comigo. Senti-me culpada por acusá-la, por xingá-la a cada vez que esmagava uma barata no meu banheiro.
— Então — eu disse, forçando um sorriso —, como está você? Como estão as coisas?
Os olhos dela encontraram os meus. Ela pôs a língua para fora como se fosse vomitar.
— Você sabe quem contou a ela sobre mim?
Os olhos da Faith resvalaram pela mesa.
— Acho que sei.
Esperei. Ela não se ofereceu para compartilhar a informação. Eu queria dar um bote, agarrá-la pelo pescoço, forçá-la a olhar para mim, falar comigo, contar…
Contar o quê? Que nada disso tinha acontecido? Que era tudo culpa dela? Culpa de outro alguém? De qualquer pessoa, menos eu? Porque era minha. Tinha acontecido. As ações, as decisões, as consequências; era tudo responsabilidade minha.
Aceite isso, Piper, minha voz interior repreendeu. Supere.
Eu estava lidando com isso. Ainda assim, queria saber.
— Foi a Bonnie Lucas?
Faith dobrou o lábio.
— Quem?
— A amiga da Mamãe. A conselheira vocacional da escola.
— Eu não a conheço.
Outra pausa longa e desconfortável. Será que eu precisaria arrancar a informação da Faith? Porque eu iria…
— Sua mãe ligou pra todos os seus amigos em um sábado, tentando achar você. Vocês tinham que sair pra comprar um vestido ou algo do tipo?
Ah, droga, o vestido, que eu tinha concordado em comprar sob um falso pretexto. Eu o usaria no jantar com o governador. O jantar em que nunca fui. Depois que me tornei uma mendiga sem-teto, o jantar com o governador parecia uma preocupação um tanto leviana.
— Polly — sussurrei. — Eu já devia saber.
— Não. A Polly não estava em casa — Faith disse. — A Lorna, sim. Ela conversou com Lorna por dois minutos. Depois ligou pra outra pessoa. Ouvi sua mãe dizer: “Que namorada?”. Tive certeza de que ela estava falando com o Larry.
— Larry? — Meu queixo caiu. — Mas… — Não, ele não contaria para a minha mãe. Não era típico dele. Ele não contaria a ninguém. Contaria? Será que foi ele quem contou para Polly e Lorna? Será que foi ele quem vazou a informação para o todo mundo?
— Depois de desligar, sua mãe ficou surtando pela casa inteira. Totalmente pirada. Ela me atacou no sofá e começou a gritar pra que eu contasse tudo o que sabia. Mas eu não falei nada. Juro. Então, ela foi pro seu quarto, tentando encontrar alguma coisa. Uma prova, acho. Ela sempre fica mexendo nas suas coisas, sabe. Abrindo suas gavetas e seu guarda-roupa.
— Você tá brincando. — Eu sabia que ela fazia isso para recolher a roupa para lavar.
— Não. — Faith se serviu de um pedaço de donut e acrescentou: — Em todo caso, parece que ela achou o que estava procurando. Um cartão? Alguma coisa assim. — Ela mordiscou um pouco do donut de chocolate granulado.
— O cartão que veio com as flores. Mas eu o tinha colocado no meu cofre.
— Então? Ela vai lá também. E verifica sua cartela de pílulas todo dia.
— O quê! — Olhei embasbacada para Faith. — Minhas pílulas anticoncepcionais?
— Aham.
— Mas isso não prova…
Uma buzina ressoou do lado de fora e Faith se encolheu. Ela enfiou o resto do donut na boca e hesitou ao falar:
— Preciso ir. Papai está esperando.
Meus olhos seguiram os dela para fora da janela, na direção do estacionamento, onde Neal esperava dentro do seu Ford Explorer, dando tapinhas impacientes no volante. Quando nossos olhos se encontraram, ele abriu um sorriso estúpido.
— Faith. — Segurei o braço dela antes que ela fosse. — Sinto muito. — Fiquei de pé e a puxei para um abraço. — Sinto muito mesmo.
— Eu também — ela falou.
— Queria que tivesse sido diferente com a gente. Queria que eu…
Lágrimas arderam nos meus olhos. Queria ter sido mais como uma irmã para você, quis dizer. Ou mesmo amiga. Queria ter confiado em você. Mas não, eu olhei de relance e fui logo colocando um rótulo em cima de você. Aberração. Esquisita. Nenhuma vez fiz um esforço para enxergar além da superfície. Fui tão hipócrita. Não era à toa que ela não me suportava.
— É — ela disse. — E eu queria ter roubado aquele CD das Dixie Chicks quando tive a oportunidade. — Faith mostrou a língua, fazendo cara de vômito.
Dei um tapa no braço dela.
Ela acrescentou, com um sorriso:
— Eu gosto da Alex. Estou feliz por vocês.
Ela foi a única pessoa a me dizer isso, e eu precisava tanto ouvir. Abracei-a de novo, com força.
— Você pode fazer uma coisa pra mim? — Perguntei.
— Claro — Faith disse. — Faço qualquer coisa por você.
Minha garganta raspou.
— Apenas… dê um beijo na Hannah por mim?
— Ah, eu tenho dado. Falo de você o tempo inteiro, principalmente na frente da sua mãe. — Faith deu um sorrisinho mau. — Não vou deixar a Hannah esquecer de você.
No borrão das minhas lágrimas, Faith desapareceu.
Perdi a briga. Alex contou que ela e seus pais tiveram um arranca-rabo quando ela falou que queria ficar comigo na Taggert House. Eles negaram totalmente. Alex ameaçou fugir. Disse que eles teriam que chamar a polícia para arrastá-la de volta para casa e que teriam que trancá-la no quarto à noite, se quisessem obrigá-la a ficar ali.
Então, chegaram a um acordo. Que escolha tinham? Alex poderia dormir aqui nos fins de semana, às sextas e sábados. Os pais dela deviam me odiar. Deviam me culpar por causar um distúrbio na família.
Fiquei deitada na minha cama de colchão nodoso, escutando os estalos das paredes, a descarga de algum banheiro no andar inferior. O ruído de um trem soou ao longe. Alex havia chegado tarde, parecendo exultante e tagarelando por uma hora, antes de cair no sono. Tudo parecia normal com ela, perfeito. Mas sei que era uma boa atriz. Queria confrontá-la sobre onde estivera nessa noite.
Ela disse que estivera trabalhando, que seu tio havia ligado e pedido para ela substituir um dos cozinheiros, que estava doente. Pensei em surpreendê-la. Passar lá com um expresso da Starbucks, o café favorito dela. Grosso como lama. E custava demais para um café, mas valeria a pena ver o rosto dela se iluminar.
Só que ela não estava trabalhando. A equipe de sempre estava toda lá. O resquício de maquiagem teatral na linha dos cabelos era revelador.
Rolei, deitando-me de costas. Por que ela estava mentindo para mim? O que estava acontecendo? Depois daquela primeira apresentação, Alex não me quis mais por perto quando a Unidade estava ensaiando ou se apresentando. Ela nem sequer me apresentou para seus amigos. Por quê? Qual era a chance disso chegar a Southglenn? Ela não estava orgulhosa de mim? Era isso? Eu não era gay o bastante?
E se ela preferisse estar com eles, em vez de comigo? E se ela me deixasse? Esse pensamento fazia meu estômago doer. Alex era tudo o que eu tinha. Sem ela, eu estaria completamente sozinha no mundo.
Ah, Deus. Examinei o seu rosto suave em estado sonhador. O que eu faria sem você?
Pare, meu cérebro gritou. Agora, ela está aqui com você. É o que importa.
Respirei fundo para acalmar minha ansiedade. Tentar acalmar. Eu precisava dela. Alex era parte de mim agora. A parte mais sólida, e decidida, e forte. Ela era o ponto de apoio na minha vida, que me mantinha em movimento, que me fazia feliz.
E essa felicidade não tinha vindo sem um preço. Eu havia desistido de muitas coisas para estar com Alex: meu lar, os amigos, a família. Talvez, até minha futura família. Além do senso de pertencimento que sempre tive. A sensação de adequação, de saber onde eu me encaixava. Eu não estaria tão mal se soubesse ser como ela. Assumida. Orgulhosa. Com um novo lugar de pertencimento dentro da comunidade gay. Com novos amigos. Uma nova família.
Mas o que eu perdi era insignificante em comparação ao que encontrei. Eu. A parte perdida de mim. E Alex. Conhecer o amor. Ser amada.
— Por favor, Deus — suspirei para a noite. — Permita-me ser amada.
Junto a mim, Alex resmungou um pouco e rolou para o lado. Ela esticou um braço ao redor do meu quadril e me puxou para perto. Alex me dava vida, me nutria, e eu me aconcheguei junto àquele casulo quente que era ela.
O sr. Olander começou a reunião do Conselho Estudantil com um anúncio: o baile de formatura precisou ser adiado em duas semanas porque o salão de festas, que geralmente alugávamos no Hotel Oxford, ainda não teria acabado de ser reformado.
Festa de formatura. Olhei por sobre a mesa para Larry, que evitava contato visual não apenas comigo, mas com todos os outros. Sinto muito, enviei a ele um recado mental. Por favor, me perdoa?
Se a expressão vazia do Larry dava alguma pista, sua mente estava fechada para telepatia.
Depois da reunião, precisei ir ao banheiro antes da aula de artes. Ao sair da cabine, encontrei Polly escovando os cabelos ao espelho.
— Olá, Piper — ela falou. O tom de voz dela me deixou apreensiva. — Você se importaria se eu fosse ao baile de formatura com o Larry?
— E ele convidou você? — Minha voz subiu uma oitava.
O rosto dela endureceu.
— Não quis dizer isso com esse tom. — Ou quis?
— Vou convidá-lo. — Ela prendeu o cabelo em um rabo de cavalo. — Acho que ele deveria experimentar sair com alguém que não seja gay.
Todo o sangue subiu ao meu rosto.
— Isso não tem graça, Polly.
— Ah, é era pra ter? — Ela perguntou.
Segui em direção à porta.
— Piranhas — ela disse às minhas costas. — Vamos falar sobre piranhas.
Fechei os olhos.
— Deixa isso pra lá, Polly.
— Pelo menos, eu só ataco de um lado do rio.
Girei para encará-la.
— Cala a boca. — Minha respiração arquejante me delatou. — Eu terminei com o Larry, ok? Sou livre para fazer o que preferir.
Ela inclinou a cabeça.
— Você é. — Deslizando a bolsa para cima do ombro, ela esbarrou em mim a caminho da porta. Antes de sair, ela se virou e acrescentou: — E, agora, todos nós sabemos quais são as suas preferências. Sapatão.
Graças a Deus eu já estava no banheiro, porque, no instante seguinte, estava soluçando dentro da cabine.
Não acreditava que meu dia ainda pudesse piorar, então Winslow me convidou para o baile de formatura. Primeiro, fiquei só olhando para ele, atordoada. Quando encontrei minha voz, gaguejei:
— Uau. Eu, hã, fico lisonjeada, Winslow. Mas eu, eu… não posso.
As sobrancelhas dele se franziram.
— Você terminou com aquele Larry, não terminou?
— Sim.
— Ah, saquei. — A expressão dele murchou. — Você já vai ao baile com outra pessoa. Eu sabia que deveria ter perguntado…
— Não é isso — cortei. — Só não posso ir com você.
Os olhos dele me atravessaram como lâminas. Percebi, tarde demais, como aquelas palavras soaram mal. Antes que eu pudesse retirar o que disse, ele rosnou:
— Achei que você fosse diferente, mas é igual a todos os outros. — Ele se levantou, empurrando os materiais da aula de artes para dentro da sua pasta. Depois esbarrou em uma fileira de cadeiras vazias, abrindo caminho em direção à frente da sala, para se sentar o mais longe possível de mim.
Todos giraram as cabeças para olhar para mim. Especialmente Alex.
Ela sinalizou com os lábios: “O que foi isso?”.
Levantei-me em um impulso e saí dali. Deus! Tudo estava uma merda.
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