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História Nós sempre teremos Paris - Nós sempre reconheceremos nós mesmos


Escrita por: iambyuntiful

Notas do Autor


Oi, estrelinhas! Chegando um pouco atrasada, mas chegando ainda no sábado <3

Como cês passaram essa semana? Espero que muito bem porque, dessa vez, esse capítulo chegou para abalar coraçõezinhos (assim como abalou o meu e o da beta). Esse é meu capítulo favorito entre todos e pelo qual eu estava ansiosa pra escrever e postar desde o início porque eu quero muito saber o que vocês vão achar dele. Ele é super importante para a construção do Baek (será se deu o braço a torcer logo, hm?)

Tem uma música muito importante nesse capítulo que é Never let me go, da Florence and the machine, que é indicada na última cena. Caso queiram ler ouvindo-a, pode melhorar a ambientação~

Sem mais delongas, boa leitura e até lá embaixo~!

Capítulo 5 - Nós sempre reconheceremos nós mesmos


NÓS SEMPRE TEREMOS PARIS

Capítulo 5 - Nós sempre reconheceremos nós mesmos

 

Chanyeol conseguia ser irritante para Baekhyun mesmo quando não estava sequer acordado.

 

O clima estava estranho após chegarem do passeio à Torre Eiffel, mas fizeram o possível para ignorá-lo. Pediram comida pelo serviço de quarto, já que não comiam nada desde os macarons e ambos estavam reclamando de fome, e comeram em silêncio, diferente da primeira noite em que dividiram pratos e puderam recordar os dias passados juntos. Chanyeol sentia-se estranho em não falar nada por tanto tempo, mas respeitava o espaço de Baekhyun e sua necessidade de pensar no futuro.

 

Baekhyun, por sua voz, só queria que Chanyeol continuasse a falar e falar por toda a noite, porque não aguentava a bagunça em que sua mente estava se metendo. Tantos pensamentos conflitantes estavam deixando-o confuso, perdido entre as escolhas que tinha à sua frente, e Baekhyun não gostava da forma como se sentia. Sempre esteve muito seguro de seus atos, de cada passo que daria por toda sua vida, e sentir-se confuso o recordava de quando era apenas um colegial sem saber o que esperar de seu futuro.

 

Não era mais um adolescente e não devia agir como um. Fugir de Chanyeol como estava fazendo era uma atitude infantil, seu ex-namorado não tinha nada a ver com sua bagunça e estava se esforçando para ser um companheiro de quarto legal. O escritor, por sua vez, não estava colaborando para que isso se concretizasse já que, quando tinham algum progresso e podiam ver a luz no final do túnel para a amizade que perderam com os anos, Baekhyun mais uma vez fugia e destruía tudo.

 

O passeio à Paris deveria ter sido apenas divertido, e de início fora bastante; Chanyeol conseguia fazer com que pensasse fora de seus roteiros, esquecendo de seus personagens por um momento e vivendo sua própria história, mas havia, mais uma vez, estragado tudo.

 

Apesar de não transparecer, Baekhyun sabia que havia deixado seu ex-namorado magoado com suas palavras, com a forma como havia falado a respeito dos seus desejos do passado sobre o namoro que tinham, mas sentia-se apavorado com a ideia de ter o passado colocado a posto novamente e que Chanyeol voltasse a culpá-lo; Baekhyun já o fazia há muito tempo. Fazia pouco tempo que deixou de culpar somente a si, mas também a Chanyeol, porque não havia deteriorado seu relacionamento sozinho. Mas ver o mais novo falando o fazia pensar que a culpa era, sim, exclusivamente sua.

 

Chanyeol já não falava com mágoas, mas era inevitável que pensasse que, caso cometesse algum deslize, seu ex-namorado voltaria a jogar tudo em seu rosto novamente. Não queria isso, queria que pudessem manter a boa relação que estavam construindo, mas seu medo estava conseguindo arruinar até mesmo isso.

 

Queria poder voltar no tempo e arrumar a bagunça que fez durante o passeio, mas isso não era possível e deveria consertar seus erros. Baekhyun costumava saber o momento exato em que o mais novo se mostrava magoado, mas, em algum momento durante o tempo em que estiveram separados, essa capacidade se perdeu entre seu rotina. Ele só precisava reencontrá-la dentro de si mesmo.

 

Com o silêncio de Chanyeol, seus pensamentos conflitavam entre pedir desculpas e deixar as coisas como estavam; pensava em se desculpar também pelo beijo trocado, mas sentia que poderia magoá-lo mais uma vez caso Chanyeol pensasse que não desejava beijá-lo e Deus sabe como Baekhyun o quis; pensava em se desculpar pelo ano em que estiveram separados, mas seu orgulho batia em seu peito o mandando parar. Pensava, sobretudo, em como estava odiando não ter mais controle sobre a caixinha tão bem organizada de seus sentimentos, que Chanyeol conseguiu bagunçar e jogar tudo para o alto.

 

Baekhyun sequer conseguia detestá-lo por isso porque Chanyeol não tinha culpa de nada. Era a forma como sua presença o afetava e sobre como os dias ao seu lado estavam reacendendo os sentimentos que Baekhyun pensou ter queimado dentro de si.

 

A noite se encerrou sem que nenhum dos dois trocasse nada mais que poucos cumprimentos e dizer boa noite um para o outro. Quando as luzes se apagaram, Baekhyun imaginou que conseguiria dormir e finalmente seus pensamentos dariam paz, deixando para que voltasse a pensar em sua vida na manhã seguinte. Ledo engano; embora Chanyeol ressonasse em paz ao seu lado, o escritor não conseguia pregar os olhos nem por um minuto.

 

Seus dias estavam se passando ao lado de Chanyeol e Baekhyun sabia que precisava entender a si mesmo antes que voltasse a Nova York e as chances de reencontrar Chanyeol voltassem a se tornar instáveis. A indecisão sentimental deveria ser apenas de seus personagens, mas, passando tanto tempo imerso em roteiros e criações de personalidades, Baekhyun pensou que não havia mais um limiar entre sua ficção e sua vida amorosa.

 

Riu, desgostoso. Havia perdido completamente o controle de seus sentimentos em tão poucos dias.

 

Pensou em ligar para Joonmyeon, mas não conseguia se recordar da diferença de horas devido ao fuso horário e não queria ouvi-lo reclamando consigo mais uma vez por acordá-lo sem necessidade. Ainda mais porque Joonmyeon provavelmente o diria que estava ainda apaixonado por seu ex-namorado e que deveria aceitar seus sentimentos de uma vez, quem sabe pudessem dar certo mais uma vez. Joonmyeon entrou no mundo editorial por ser um romântico incorrigível, mas nem tudo termina em felizes para sempre como seu agente buscava acreditar.

 

Virou-se de lado, encarando Chanyeol dormir. Lembrava-se dos dias em que se levantava para fechar seus olhos devido a xeroftalmia, sempre preocupado com seu namorado para que conseguisse dormir em paz. Suas noites seguiam uma rotina incansável e Chanyeol sempre o acordava com beijinhos na manhã seguinte, como um agradecimento mudo pela preocupação inata. Mesmo que tentasse ser silencioso, Baekhyun sabia que Chanyeol sempre soube que fechava seus olhos todas as noites.

 

O mais novo dormia de forma tão tranquila que Baekhyun sentiu-se invejoso. Chanyeol parecia tão resolvido consigo mesmo, sem nenhum dilema interno, que Baekhyun desejou pedir-lhe seu segredo de como lidava com seus sentimentos sem se sentir uma bagunça. Não conseguia decifrar pelas palavras de Chanyeol se ainda havia alguma coisa dentro de si porque por vezes Chanyeol parecia querê-lo novamente, por vezes o tratava como o velho amigo que era, gentil como sempre fora com todo mundo. Não conseguir decifrar Chanyeol fazia com que Baekhyun tivesse medo de decifrar a si mesmo.

 

Caso pensasse demais a respeito de seus sentimentos e descobrisse que ainda sentia algo por Chanyeol, o que faria caso o mais novo não sentisse mais nada por si? Preferia continuar na dúvida sobre si mesmo do que ter que lidar com sentimento unilateral, embora já parecesse tarde demais para escolher essa opção. A presença de Chanyeol o bagunçou por inteiro e, mesmo que voltasse a Nova York com as mesmas dúvidas em sua mente, em algum momento a verdade viria à tona.

 

Os dias em Paris o mudaram completamente e sequer estavam acabados ainda.


 

Na manhã seguinte, quando Baekhyun acordou, Chanyeol não estava mais em sua cama.

 

Por um lado, o escritor agradeceu. Sua noite já fora conturbada o suficiente até que conseguisse pegar no sono, sem que seus pensamentos não o deixassem em paz nem sequer por um instante. A presença de Chanyeol logo pela manhã faria com que tudo voltasse à tona e Baekhyun só queria uns minutos de sossego antes que a vida voltasse e lhe mostrasse como tudo ao seu redor estava uma bagunça e ele estava apenas fingindo não ver nada.

 

Precisava aproveitar sua manhã sem Chanyeol para focar em seu livro, desenvolver seus personagens e dar-lhe motivações convincentes. O dia anterior deu-lhe boas ideias do que fazer e esperava que, enquanto pudesse criar os caminhos a serem trilhados, encontrasse um pouquinho de rumo para sua vida também. Se já estava misturando tanto ficção quanto sua vida, que ao menos uma influenciasse positivamente na outra.

 

Sentou-se à escrivaninha com o notebook aberto no arquivo de texto que deixou incompleto graças à insistência de Chanyeol. Ainda havia frases pela metade, anotações perdidas pelo canto da tela, pontos de interrogação em locais que precisava procurar sobre… Teria um trabalho e tanto pela frente, mas essa era sua parte favorita no processo criativo. Depois que tivesse tudo esquematizado, bastava sentar-se e escrever tudo que seus personagens pediam para ser dito.

 

As coisas estavam caminhando bem demais até para que Baekhyun não desconfiasse. Afundou-se tanto em suas ideias, prendendo em seu próprio mundo como estava acostumado a fazer quando planejava alguma coisa, que não percebeu o momento em que seus caminhos começavam a se tornar sinuosos e perigosos demais para sua sanidade. Não bastasse o relacionamento mal resolvido de suas criações, agora até mesmo sua indecisão estava posta a prova por um deles.

 

Hipoteticamente, Baekhyun pensou o que seus personagens fariam se estivessem em seu lugar. Talvez colocar-se no lugar da ficção lhe fosse mais fácil de encontrar suas respostas porque não havia uma responsabilidade real como a que estava em seus ombros. Era apenas literatura e nem toda história de amor precisava ter um final feliz para ser real; às vezes as coisas simplesmente não davam certo do jeito que as pessoas esperavam, mas aconteciam exatamente como deveriam ser.

 

O Byun pegou-se pensando que aquele não era o jeito que queria que as coisas acontecessem. A quem estava tentando enganar, afinal de contas? Talvez Joonmyeon estivesse certo quando disse que poderia não ter superado seu relacionamento como imaginou ter feito. Talvez o fato de Chanyeol mexer tanto consigo não significasse que estava se recordando de seu passado, mas de que seu presente ainda não havia esquecido o mais novo, tampouco sua versão futura.

 

Talvez estivesse usando de seu trabalho como uma forma de escapar do que seus sentimentos representam e, por isso, seu bloqueio criativo apareceu tão intenso, porque não se força a arte de qualquer forma; recordava-se realmente de dizer isso a Chanyeol. Quanto menos tempo tivesse, menos pensaria em todas as possibilidades perdidas com seu ex-namorado e menos tempo teria para deixar com que a culpa se abatesse sobre si.

 

Talvez não fosse a solução mais madura de sua parte, mas era a única que pensou dar certo e a única que resolveu investir. Estava disposto a arcar com as consequências, como afastamento de seus amigos e o estresse contínuo, contanto que mantivesse sua mente ocupada com aquilo que fora o estopim para seu relacionamento implodir: seu trabalho.

 

A presença de Chanyeol, contudo, conseguiu desestabilizar seu trabalho bem feito durante o ano em que estiveram separados, como se, ao ver aquele sorriso gigante mais uma vez, todo seu esforço caísse por terra e Baekhyun se visse mais uma vez balançado. Mesmo enquanto brigava com Chanyeol, sentia que era melhor do que não mais ouvi-lo ao seu lado; quando conversavam como velhos amigos, sentia que Chanyeol nunca o deixou realmente e que era ali que deveria estar de qualquer jeito.

 

Seu medo ainda era parte incessante de seus devaneios porque não queria fazer com que as coisas acabassem dando errado novamente, embora nada estivesse concretizado. Estavam se divertindo juntos, sim, mas como poderia ter certeza de qualquer coisa quando Chanyeol não o dizia nada? Estava focado em ajudá-lo com seu bloqueio criativo como nos velhos tempos, mas Baekhyun não conseguia se aproximar suficiente para entender suas entrelinhas.

 

Até mesmo sua confusão na noite anterior passava a se tornar mais clara conforme seus pensamentos se organizavam, sua mente trabalhando a todo vapor para solucionar o problema que propôs aos seus personagens. As palavras de Joonmyeon voltavam a ecoar em sua cabeça, fazendo coro às palavras de incentivo de Chanyeol enquanto o sorriso do mais novo era a única coisa que via quando fechava os olhos. Sim, estava claro o bastante para si, embora não quisesse dar o braço a torcer; às vezes, lutar contra si mesmo é uma batalha perdida e Baekhyun perdeu para si mesmo vezes demais para insistir.

 

Seus olhos voltaram a se focar nas linhas escritas na tela do notebook, ciente, de repente, do futuro que entregaria às suas criações. Nenhuma história de amor precisa de um final feliz para ser real, é claro, mas nada os impede de tentar até o último instante para que seja. Baekhyun sabia que seus personagens só precisavam lutar um pouco mais um pelo outro, entregar-se mais e desconfiar menos, até que as coisas dessem certo. Eles encontrariam um consenso entre suas personalidades, saberiam completar as falhas um do outro de uma forma que nunca imaginaram fazer, e, dessa forma, a felicidade seria apenas uma consequência do esforço de querer estar junto.

 

Tornar-se subitamente consciente do que estava acontecendo consigo e com as coisas ao redor fora importante para o desenvolvimento final de seu roteiro, concluindo o que não conseguia imaginar dias antes e esperando que, seja lá quem fosse o responsável por fazer o roteiro de sua vida, também pensasse da mesma forma, nem que fosse só um pouquinho. Baekhyun finalmente entendeu o que significava felicidade.

 

. . .

 

Chanyeol não estava brincando quando disse que o deixaria em paz caso aceitasse sair consigo no dia anterior.

 

Desde que retornou de seus afazeres na capital francesa - Baekhyun por vezes se esquecia que o rapaz estava ali a trabalho e não de férias, como era seu caso -, Chanyeol não disse mais do que duas palavras, empoleirado em sua cama com um caderno de desenho em suas mãos. Baekhyun, de início, achou incrível como o quarto ainda estava silencioso como gostava para trabalhar e continuou focado em seu manuscrito.

 

As palavras começam a surgir com muito mais facilidade em sua tela, deixando-o mais feliz do que se recordava em muito tempo. Caminhar por Paris serviu para reacender sua luz interior, mostrar-lhe o caminho certo para algumas coisas e dar-lhe motivação para continuar escrevendo, agora que sabia exatamente o que devia fazer e estava sendo incrível, como há muito tempo não se sentia em frente a um notebook.

 

Queria poder chamar Chanyeol para comemorar consigo, mas o ruivo estava tão focado em seu trabalho também que Baekhyun achou melhor não. Talvez quando conseguisse concluir mais algumas cenas, material suficiente para dizer que tinha um bom primeiro capítulo, e então Chanyeol poderia se gabar consigo de que aquilo só estava acontecendo por sua causa - Baekhyun sequer poderia negar, caso acontecesse.

 

Controlou sua curiosidade para saber o que Chanyeol estava fazendo; reclamou tantas vezes com o mais novo olhando por cima de seu ombro que sentia-se julgado por si mesmo em querer saber o que tanto tinha a atenção de seu ex-namorado. Parando um pouco para apanhar mais café, Baekhyun pôde analisar a expressão mais concentrada do ruivo, os movimentos precisos de sua mão com o lápis utilizado, o mini sorriso em seus lábios.

 

O que poderia estar desenhando? Quais recordações o faziam tão feliz para que sorrisse sem perceber para um desenho incompleto?

 

As perguntas continuavam em sua mente quando Baekhyun se propôs a voltar a escrever. Precisava continuar focado em seu trabalho para ter material suficiente para apresentar à editora quando voltasse para sua cidade natal e não seria pensando no desenho de Chanyeol que conseguiria fazer isso. Provavelmente o mais novo viria lhe mostrar o que tanto estava fazendo, só precisava esperar um pouco. Era sempre assim que as coisas funcionavam.

 

O clima no quarto era ameno e confortável e Baekhyun sentiu como se os dias de dormitório realmente estivessem de volta. Conseguia visualizar perfeitamente a cena onde Chanyeol estava em sua cama, quieto demais para seu feitio e, dessa forma, saberia que estava aprontando alguma coisa; estaria no mesmo lugar onde estava, em frente à escrivaninha, digitando algum trabalho cujo prazo de entrega sequer estaria próximo. Embora nenhuma palavra fosse trocada, ambos entendiam um ao outro através do silêncio deixado no ar, sem que fosse necessário qualquer som para que conseguissem transmitir qualquer que fosse a mensagem.

 

Deixava-o feliz pensar que conseguia se sentir assim novamente com Chanyeol porque imaginou que os dias mais calmos e tranquilos do dormitório seriam para sempre apenas uma memória sua. A tranquilidade que o silêncio confortável trazia era a maior recompensa que esperava naquele momento; sentir que não estava mais pisando em ovos com seu companheiro de quarto era o final do longo caminho que percorreram em poucos dias, agora onde estavam verdadeiramente em paz um com outro.

 

“O que você tem hoje que está parando tantas vezes de digitar?”, Chanyeol perguntou, assustando-o. “O combinado é que eu o deixasse trabalhar em paz hoje, mas você não está fazendo isso. Sabe o quanto é difícil não falar contigo, como parte do acordo?”

 

Baekhyun virou-se para o rapaz, que agora tinha o caderno em seu colo com o desenho virado para baixo. “Estava pensando em como esses dias têm sido malucos”, explicou. “Você também sente que é como se estivéssemos de volta ao início da faculdade?”

 

“Onde estamos focados em nossos próprios trabalhos, mas conscientes um do outro?”, Chanyeol retrucou. “É uma boa sensação, se quer sabe. Faz com que eu sinta que nunca tenhamos nos afastado.”

 

“Acho que perdemos tempo demais até que as coisas acontecessem, Yeol”, Baekhyun deu de ombros. “Realmente gosto de como estamos agora.”

 

Chanyeol sorriu às costas do Byun. “Eu também, Baek”, respondeu.

 

Agora que o desenho estava completo, Baekhyun esperava que o rapaz viesse todo sorridente contar-lhe o que estava fazendo e toda a história que sabia que ouviria a respeito daquela situação desenhada. Chanyeol nunca mudava, sempre passava tempo demais explicando sua arte antes de mostrá-la, quando Baekhyun conhecia-o tão bem que saberia o que quis passar antes mesmo que pudesse explicar

 

Porém, isso não ocorreu e Baekhyun ainda se sentia curioso.

 

“O que tanto você estava desenhando?”, perguntou, por fim.

 

“É segredo”, Chanyeol respondeu. “Você conseguiu finalizar seu roteiro hoje de manhã?”

 

“É segredo”, Baekhyun retrucou, fazendo o mais novo rolar os olhos. “Você me mostra o seu desenho e eu te conto o que quer saber.”

 

Chanyeol pareceu envergonhado mais uma vez, de uma forma que Baekhyun não estava mais acostumado a ver. O mais novo abria e fechava a boca diversas vezes, olhando para o caderno em suas mãos sem saber se deveria mostrar ou não. Baekhyun já estava se arrependendo de ter colocado-o nesta situação e estava pronto para contar-lhe sobre seu roteiro quando Chanyeol se levantou em um suspiro e caminhou até a beira de sua cama, a mais próxima da escrivaninha.

 

O caderno estava bem seguro em suas mãos, com o desenho escondido por seu peito. Chanyeol o olhava de forma séria, sem que houvesse nenhum resquício da zombaria anterior em seus olhos. Baekhyun se perguntou se era algo sério o suficiente para que Chanyeol deixasse de lado a alegria inata de seu ser.

 

“Não quero que você brigue comigo, mas você mesmo disse que está se recordando dos nossos dias no dormitório, não é?”, Chanyeol perguntou. “Eu me senti da mesma forma, então eu estava… Bom, fazendo o que eu fazia de melhor alguns anos atrás.”

 

O caderno foi virado para si e Baekhyun encontrou a si mesmo no desenho. Chanyeol o desenhou enquanto estava escrevendo, com uma riqueza de detalhes que Baekhyun nunca conseguiu alcançar mesmo em seus textos mais premiados; os traços eram exatamente como se recordava, do estilo único que Chanyeol possuía e que parecia ficar ainda mais bonito quando era algo apenas dos dois.

 

“Você me desenhou?”, Baekhyun perguntou. “Como nos velhos tempos?”

 

Draw me like one of your french girls”, Chanyeol respondeu, com um riso preso. “Eu nunca poderia perder a chance de fazer isso logo onde estamos.”

 

“Eu devia me recordar do quanto você é fã doente de Titanic”, Baekhyun riu. “Seus desenhos continuam tão bonitos quanto antes. Sempre admirei a forma como você tem talento para isso. Os traços são decididos, mas delicados, e você retratou algo tão cotidiano de uma forma tão bonita…”

 

Chanyeol deu de ombros. “Não é nada demais”, disse. “Eu só… Senti saudades de poder desenhar você. Não queria perder a chance.”

 

Baekhyun sorriu. “Posso ficar com o desenho?”, perguntou. “Se sou seu modelo sem sequer ter consciência disso, tenho direito a ao menos isso!”

 

Chanyeol concordou, destacando a folha do caderno e entregando a Baekhyun, que continuou olhando para ela por mais algum tempo. O desenho era tão bonito, apesar de tão simples; não havia mais do que sua silhueta olhando para o notebook, mas só por ter sido feito por Chanyeol já trazia uma gama de sentimentos muito maior. Aquele desenho simbolizava o reinício, o conforto readquirido na presença um do outro, e por isso se tornava tão especial.

 

Guardou o desenho da melhor forma que pôde dentro da mala de seu notebook para que não amassasse. Quando retornasse à Nova York, deixaria no mesmo lugar que os antigos desenhos de Chanyeol estavam. Assim como o mais novo, não era porque ambos terminaram o relacionamento que tinham que Baekhyun teve a necessidade de se desfazer de tudo que o recordava. Os desenhos eram uma parte da alma de Chanyeol entregue a si, exatamente como fazia com suas palavras, e guardaria sempre cada pedacinho que lhe fora confiado.

 

Se juntasse cada pedacinho de Chanyeol que havia em cada um dos desenhos feitos, em épocas diferentes, contextos diferentes, mas o mesmo sentimento presente em todos, conseguiria ter vislumbres de Chanyeol em sua totalidade, como costumava ter ao seu lado. Baekhyun esperava que fosse suficiente para que pudesse tê-lo mais uma vez, nem que precisasse reunir ainda mais desenhos.

 

“Agora você me deve contar de seu roteiro”, Chanyeol o recordou.

 

Baekhyun já sequer se recordava disso. “Eu consegui conclui-lo hoje mais cedo”, respondeu. “As coisas fizeram um pouquinho mais de sentido e o caminho que eu não conseguia encontrar de nenhum jeito desenhou-se de forma tão óbvia na minha frente que eu não poderia ignorá-lo.”

 

“Suponho que você não me contará qual é”, Chanyeol deduziu.

 

“Qual seria a graça, afinal de contas?”, Baekhyun confirmou. “Você estava certo, de novo. Nem tudo precisa de um final triste nessa vida.”

 

“Estou me provando certo em várias coisas ultimamente”, Chanyeol deu-lhe um sorriso de lado, descansando seu peso na cama às suas costas.

 

Baekhyun não pôde impedir-se de rolar os olhos para aquilo. “Eu deveria me recordar de que você não sabe receber um elogio sem soar todo convencido”, respondeu. “Mas vou dar-lhe uma colher de chá hoje porque você foi uma parte importante para que meu processo criativo não me abandonasse mais uma vez.”

 

“Quero dedicatória nas notas do autor”, Chanyeol exigiu. “Você me deve isso desde o ensino médio, para falar a verdade.”

 

Se Chanyeol soubesse que sua influência era direta inclusive no texto… “Vou agradecer-lhe nas letras miúdas”, zombou, “e não poderá dizer que não me recordei de você.”

 

“Você já me amou mais no passado, Baekhyun”, Chanyeol o respondeu, tentando manter o tom magoado embora o riso nascesse em seus lábios.

 

Baekhyun estava se divertindo com a conversa trocada com seu ex-namorado; as coisas estavam fluindo de forma tão fácil e espontâneo entre os dois, com Chanyeol praticamente deitado em sua cama e rindo para si de suas piadas idiotas a respeito de sua personalidade, exatamente como faziam anos antes, que Baekhyun mal podia acreditar que era real. Gostava do clima como estava, gostava do som das risadas voltando a soar ao seu redor, tirando um pouco de seus ombros a pressão de ter algo para entregar. Ainda tinha mais dois dias em Paris, teria tempo suficiente para terminar o primeiro capítulo de sua nova obra; no momento, queria apenas observar Park Chanyeol.


Vê-lo relaxado em sua cama, o riso frouxo em seus lábios, tão despreocupado como aparentava, apenas o dava ainda mais certeza sobre o que sua bagunça significava. Chanyeol realmente conseguiu fazê-lo ir de um extremo ao outro, confundiu sua mente tão milimetricamente organizada por inteiro e fez de seu coração moradia por tempo indeterminado pela forma como seu coração se comportava quando o via dessa forma. No momento em que não acontecia nada demais e ele era apenas Chanyeol à sua frente, era esse o momento em que Baekhyun poderia reconhecer que talvez ainda fosse apaixonado por seu ex-namorado.

 

Sempre soube como controlar seus sentimentos e desejos muito bem, mantendo-os em uma linha organizada e de onde não sairiam. Chanyeol, como fazia com tudo ao seu redor, desorganizou tudo, encontrando seu próprio espaço e instalando-se ali, fazendo de seus sentimentos seu novo jogo de montar, equilibrando-os da forma que mais lhe aprazia. Talvez sempre tenha estado apaixonado por Chanyeol e não notasse, talvez tenha se apaixonado novamente ao revê-lo e ter vislumbres do que poderia ter tido se o passado não tivesse sido tão ruim para os dois, talvez fosse se reapaixonar de qualquer forma, mesmo que se não se encontrassem em Paris.

 

A única coisa que sabia era que o efeito Chanyeol continuava o mesmo, bagunçando-o por inteiro e, ainda assim, encontrando sentido perfeito em sua bagunça.

 

“O que você foi fazer hoje de manhã? Eu acordei e não o vi aqui”, Baekhyun perguntou, retirando Chanyeol do torpor em que também se encontrava.

 

Chanyeol parecia com sono quando voltou a encará-lo. “Eu recebi um chamado de última hora do museu, parece que o empresário que me contratou não havia especificado o que exatamente eu deveria avaliar e precisavam que eu fosse até lá”, explicou. “Eu estava tão cansado de ontem…”

 

“Nem me fale sobre isso, as minhas pernas ainda estão doendo”, Baekhyun disse. “Da próxima vez, vamos pegar um táxi.”

 

“Você não tem espírito de turista, Baek”, Chanyeol zombou. “Precisávamos aproveitar cada pedacinho da cidade e não vê-la pela janela de um carro!”

 

“Você diz isso agora, mas aposto que estava se odiando por isso quando precisou ir até o Louvre de manhã”, Baekhyun retrucou no mesmo tom, voltando a encarar o notebook.

 

“Talvez eu tenha reclamado um pouquinho”, Chanyeol concordou, “mas você é uma pessoa de coração tão bom, não é, Baek? Você não negaria se-”

 

“Eu não vou fazer massagem em ninguém, minhas pernas também doem!”, Baekhyun negou antes que Chanyeol completasse a frase. “A menos que seja recíproco.”

 

“Você é um malditinho manipulador”, Chanyeol estreitou os olhos.

 

“Você acha que sempre bati no peito dizendo que sou Slytherin por que?”, Baekhyun deu de ombros.

 

Chanyeol riu, a mesma risada cristalina da qual sentira tanta falta e com a qual estava começando a se habituar novamente. Percebeu quando o rapaz se levantou, aproximando-se e colocando-se atrás de sua cadeira, as mãos apoiadas em seus ombros e aproveitando para bisbilhotar um pouco seu trabalho. Baekhyun sequer reclamou; as mãos de Chanyeol operavam milagres em seus ombros tensos e se o preço daquilo fosse algumas palavras na tela do notebook, Baekhyun pagaria de bom grado.

 

Fechou os olhos para aproveitar do momento, embora soubesse que seria finito. Chanyeol só estava curioso para saber o que estava escrevendo e estava tentando distrai-lo para que conseguisse ler, Baekhyun conhecia muito bem seus joguinhos por ter caído em muitos deles nos anos passados. Dessa vez, deixaria que Chanyeol pensasse que estava no controle quando seus planos eram tão transparentes quanto ele mesmo.

 

“Até quando eu penso estar em vantagem você sai ganhando”, Chanyeol resmungou. “Você sabia desde o início que eu só queria distrai-lo, não é?”

 

“Eu não quis estragar sua felicidade contando”, Baekhyun concordou. “Mas se você quiser continuar, não tem problema nenhum.”

 

“Você me nega massagens quando estou tão cansado, mas quer que eu continue?”, Chanyeol perguntou. “O que você acha que está escrito na minha testa?”

 

“A bondade da sua casa de Hogwarts”, Baekhyun respondeu. “Não é você o meu lufano favorito?”

 

A intimidade imposta naquele diálogo surpreendeu Chanyeol de uma forma boa, ao perceber que Baekhyun já não tinha mais pés atrás com o passado de ambos sendo recordado sem nenhuma pretensão, inclusive fazendo referências por si mesmo. Suas mãos continuaram desatando nós nos ombros tensos de seu ex-namorado, disposto a manter o bom clima entre ambos agora que Baekhyun já não mais dificultava as coisas.

 

“Ainda sou seu lufano favorito?”, Chanyeol perguntou, não resistindo a curiosidade.

 

Baekhyun pareceu perceber o que havia dito porque seus dedos pararam de tamborilar pelo teclado. “Sim, você é”, concordou. “O único lufano.”

 

“Vou considerar que sou seu favorito por outro motivo além de ser o único”, Chanyeol brincou.

 

“É o único de muitas formas”, Baekhyun corrigiu. “Deve haver a verdadeira bondade lufana em você para que tenha conseguido superar suas mágoas a meu respeito tão rápido.”

 

Chanyeol deu de ombros. “E você não é tão slytherin quando pensa porque, bom, você também não me detesta mais e o rancor das serpentes é pra sempre.”

 

“Eu nunca detestei você, idiota”, Baekhyun reclamou, voltando a digitar. As mãos de Chanyeol não exerciam mais pressão em seus ombros, mas continuavam repousando ali como quem não quer nada. “Se quer saber, acho que até mesmo senti sua falta.”

 

Baekhyun pensou que era cedo demais para admitir isso, cedo demais para expor tudo que havia descoberto dentro de si e que Chanyeol fugiria de si ao pensar que estava tentando reatar o que tinham. Embora não fosse ficar descontente caso Chanyeol o desejasse novamente, não queria que o mais novo pensasse que só estava sendo legal para consegui-lo ao seu lado mais uma vez. Queria realmente conseguir sua amizade novamente, e isso era o que mais importava.

 

“Também senti sua falta, Baek”, Chanyeol respondeu e Baekhyun pôde ver seu sorriso pelo reflexo no notebook.

 

Abaixou o rosto para que Chanyeol não visse o sorriso que também brotou em seus lábios e focou em voltar a digitar de onde havia parado. O mais novo também deixou seu posto às suas costas e voltou à sua cama, apanhando seu caderno abandonado para voltar a desenhar o que quer que fosse, talvez um novo retrato de Baekhyun como costumava fazer. A sensação de lar começava a se apoderar dos dois rapazes, que não sabiam o que fariam quando não mais estivessem na bolha que aquele quarto de hotel representava.

 

Baekhyun esperava levar um pedacinho de Paris consigo de volta a Nova York e esperava que esse pedacinho envolvesse um monte de Park Chanyeol.

 

. . .

 

Já era noite quando Baekhyun conseguiu finalmente terminar o primeiro capítulo de seu novo manuscrito.

 

Chanyeol estava sentado ao seu lado, disposto a ajudá-lo com palpites nas cenas em que o escritor travava e não conseguia encontrar uma resolução boa o suficiente para seus dilemas. Costumavam fazer dessa forma quando Baekhyun não conseguia terminar os textos de suas matérias na faculdade e dava muito certo, então por que não repetir a fórmula do sucesso mais uma vez?

 

Estava dando certo e a ajuda de Chanyeol fora imprescindível para que conseguisse concluir o capítulo naquele dia. Não era tão grande quanto o que costumava escrever, talvez pudesse considerá-lo um prólogo, mas era material suficiente para que seus editores avaliassem a ideia e lhe dissessem se era o suficiente para que pudesse investir naquilo. Baekhyun esperava sinceramente que fosse suficiente; estava apegado a seus personagens como se fossem seus filhos, talvez por se sentir próximo demais de seus dilemas pessoais.

 

Chanyeol também parecia estar bastante satisfeito com seu trabalho, encorajando-o com seu roteiro a cada minuto de dúvida que tinha ou quando pensava estar escrevendo drama demais para uma solução tão simples (“Você não pode dizer que os sentimentos de alguém é drama demais só porque para você é algo simples, Baek”). Duvidava que tivesse conseguido sair da estaca zero caso Chanyeol não o tivesse incentivado desde o início.

 

Maldito Park Chanyeol. Mesmo quando estava focado em seu trabalho, a maneira que encontrou para substitui-lo em sua mente, ele conseguia infiltrar-se mais uma vez, tomando o espaço que era seu por direito.

 

Era engraçado para Baekhyun pensar em como as coisas estavam evoluindo desde que chegara a Paris. No primeiro momento em que viu Chanyeol parado no mesmo quarto e soube que ele seria seu companheiro pela semana, Baekhyun pensou que teria a pior semana de sua vida. Os primeiros dias foram difíceis, mas necessários para que ambos pudessem expor suas mágoas e superá-las, tentando criar uma boa convivência. O terceiro dia fora um divisor de águas com o passeio a Paris, trazendo dúvidas demais para Baekhyun que estava acostumado a não mais tê-las.

 

Agora, em seu quarto e penúltimo dia na cidade, as respostas escreviam-se de forma clara em seu monitor, como se sempre estivessem ali e Baekhyun só não as tivesse notado ainda. Em cada um desses momentos, Chanyeol esteve envolvido de alguma forma e sua presença voltou a tornar-se uma constante para o escritor. Para quem imaginava que teria a pior semana ao lado de seu ex-namorado, descobriu que surpreender-se era ainda melhor quando se tratava de Chanyeol.

 

Chegara a Paris frustrado consigo mesmo por precisar viajar para reencontrar sua inspiração e vontade de escrever como antes e estava quase se despedindo dela com a certeza de que fora a melhor decisão que Joonmyeon já tomou por si. Além de ter se livrado de seu bloqueio e ter material para um novo livro, Baekhyun conseguiu reencontrar dentro de si mesmo facetas das quais não mais se recordava, mas que estavam ali adormecidos. Reconheceu a si mesmo no meio do caminho, reencontrando partes importantes de sua jornada que deixou de lado para focar em seu trabalho.

 

Sairia de Paris ciente de que não era o mesmo Baekhyun que deixou Nova York, mas uma versão melhor de si mesmo.

 

“Minhas costas estão doendo de ficar sentado por tanto tempo”, Chanyeol reclamou, encostando-se à escrivaninha, descansando o rosto em seus braços cruzados.

 

“Você está aqui não faz mais do que duas horas”, Baekhyun pontuou.

 

“Tempo demais sentado em uma posição só!”, Chanyeol retrucou. “Suas costas não doem ou você já está em processo de robotização?”

 

“Eu acho que já me acostumei tanto com a dor que eu nem a sinto mais”, Baekhyun respondeu, dando de ombros. “Mas agora que finalmente pegamos o ritmo, posso continuar por mais uns dois ou três capítulos hoje.”

 

“Ah, mas você não vai mesmo”, Chanyeol retorquiu, apanhando o notebook de suas mãos. Salvou o arquivo com cuidado para não perder nada - Baekhyun o jogaria pela janela se uma só palavra fosse apagada e ele sequer duvidava disso - e fechou o notebook, sob os olhares chocados de Baekhyun. “Você vai descansar agora porque está aqui desde manhã!”

 

“Chanyeol!”, Baekhyun exclamou. “Você disse que me deixaria trabalhar hoje caso saíssemos ontem.”

 

“E eu cumpri a minha palavra, você trabalhou o dia inteiro”, Chanyeol respondeu. “Não disse nada sobre deixá-lo em paz à noite, então vai sair dessa mesa sim antes que você crie raízes nela.”

 

“Por que você sempre me interrompe quando estou finalmente conseguindo chegar em algum lugar?”, Baekhyun grunhiu, deixando-se levantar por Chanyeol.

 

O mais novo deu de ombros. “Porque você sempre conseguirá chegar lá de novo, eu confio em você”, deu de ombros. “Mas hoje é sua última noite em Paris, não é? Amanhã você irá embora.”

 

“Os dias realmente voaram”, o escritor observou. “Parece que foi ontem que eu pensei que não poderia ter mais azar na vida do que tive ao ter você como companheiro de quarto.”

 

Chanyeol rolou os olhos. “Quanto amor”, soltou. “Não vou deixar que sua última noite aqui seja com você escrevendo, isso você vai fazer de qualquer forma quando voltar pra Nova York, por todos os seus dias.”

 

“Você me conhece tão bem”, Baekhyun ironizou. “O que você quer que a gente faça, então, gênio? Eu não vou sair de novo, preciso estar bem pra ir ao aeroporto amanhã.”

 

“Não precisamos nem sair desse quarto para nos divertimos, se você é um velho chato que não sabe aproveitar as noites em outros países”, Chanyeol respondeu, com um bufo insatisfeito. “Podemos assistir alguns filmes.”

 

“É sério?”, Baekhyun ergueu as sobrancelhas. “Me devolve meu notebook, eu vou voltar a trabalhar.”

 

“Você vai se encaminhar até aquela cama”, Chanyeol apontou para a sua cama, “e esperar até que eu decida o melhor filme para nossa noite. Qual é, Baek, você vai embora amanhã!”

 

Tomar ciência de que o próximo dia seria o último ao lado de Chanyeol, ao menos na redoma de vidro em que estavam vivendo, fez com que Baekhyun suspirasse e desistisse de argumentar, caminhando em direção a cama do mais novo para se acomodar ali. Costumavam fazer sessões de cinema na faculdade quando não estavam cansados demais; talvez aquela fosse mais uma delas, com a exceção de que não dormiria nos braços de Chanyeol como adorava fazer.

 

Ter a nostalgia dos dias de cinema de volta já seria suficiente.

 

Acomodou-se nos travesseiros de Chanyeol, ignorando o cheiro que aspirava cada vez que respirava próximo às fronhas. Chanyeol estava agachado em frente ao móvel do canto do quarto, analisando quais seriam os filmes para aquela noite; Baekhyun sequer tentou argumentar para escolher algum também, sabia que Chanyeol era teimoso igual uma mula quando colocava algo em sua cabeça. Além do mais, se nada tivesse mudado em um ano, possuíam gostos muito semelhantes para que não gostasse de alguma escolha do mais novo.

 

Quando o Park deu-se por satisfeito com suas escolhas, voltou feliz da vida com dois dvds em mãos, mas com os títulos voltados para si para que Baekhyun não os visse. Queria manter a surpresa até o último instante quando Baekhyun não poderia mais brigar consigo por ter escolhido aquele filme. Não era nada que ambos não gostassem, mas talvez trouxesse recordações demais.

 

“Preparado?”, Chanyeol perguntou quando colocou o dvd no aparelho e deitou-se ao lado de Baekhyun. A televisão estava disposta logo ao lado da escrivaninha, sendo melhor vista da cama do maior, por isso estavam dividindo-a.

 

“O que você escolheu?”


“Você já vai ver”, Chanyeol sorriu, dando play no filme.

 

Baekhyun focou sua atenção na tela à sua frente, tentando adivinhar qual seria o filme escolhido por Chanyeol. Conhecia seu ex-namorado como a palma de sua mão, sabia que provavelmente era algo que significou algo para ambos no passado, mas devia confessar que estava ansioso justamente por isso. Queria saber como reagiria frente a exposição do passado mais uma vez, se não fugiria como fora automático fazer no dia anterior.

 

Quando finalmente pôde reconhecer o filme logo em seu início, olhou incrédulo para Chanyeol. Entre todos os filmes, ele escolhera logo aquele?

 

“Não acredito que você quer me fazer ver Never let me go mais uma vez”, Baekhyun disse. “Qual seu prazer sádico em me ver chorar?”

 

“Eu posso dar abraços pra consolá-lo depois, como nos velhos tempos”, Chanyeol sorriu. “Eu sei que você ama esse filme, apesar de tudo. Também quero que entenda a mensagem que deixo com ele.”

 

Never let me go.

 

Baekhyun assentiu, voltando a focar no filme que passava à sua frente. Chanyeol se manteve em silêncio, assistindo com igual atenção, mas ambos estavam conscientes demais um do outro para que conseguissem manter total atenção à televisão. Seus braços encostados um ao outro enviavam arrepios por suas peles, fazendo-os buscarem por ainda mais contato, embora estivessem grudados. Baekhyun sentia em cada parte sua o desejo de poder tocá-lo mais uma vez sem pretensões, sem precisar de uma desculpa para fazê-lo; Chanyeol, por sua vez, queria poder agir com Baekhyun como antigamente, passar o braço por seus ombros e mantê-lo por perto, mas sentia medo de arriscar o movimento e fazê-lo fugir.

 

O filme continuava passando, a história dos três amigos sendo apresentada e o romance impossível que sustentavam em um triângulo amoroso. A história era bastante dramática, como Baekhyun gostava, repleta de momentos onde conseguia sentir a dor dos personagens. Contudo, não estava sendo o melhor momento para assisti-lo, quando não conseguia se concentrar em suas dores e seus problemas quando sua mente não conseguia desconectar-se da ideia de que era sua última noite ali e que Park Chanyeol estava há centímetros de distância.

 

Aquele poderia ser um de seus filmes favoritos, mas ao seu lado estava a pessoa que por muito tempo fora sua favorita. A pessoa que o apresentou a diversos de seus gostos atuais, com quem brigou por tanto tempo, mas com quem também tinha os melhores momentos de seus dias. Baekhyun finalmente entendeu porque sentia tanto medo dos momentos que representavam seu passado e porque fugia de cada um deles - representar o passado significava mostrar-lhe aquilo que não mais teria, aquilo que perdeu porque não fora forte o bastante para lutar e deixou que partisse.

 

Chanyeol havia deixado uma mensagem bastante clara com o filme escolhido e Baekhyun estava disposto a não errar pela segunda vez.

 

Sabia que deveria arriscar para ter o que queria; Chanyeol não daria um passo porque suas reações anteriores aos movimentos de seu ex-namorado não auxiliavam em mostrar que agora as coisas estavam diferentes. Contudo, o medo ainda era parte de sua companhia, sussurrando em seu ouvido que talvez Chanyeol quisesse mostrá-lo o que havia perdido e não que estivesse também desejando uma segunda chance, induzindo-o a pensar que estava sozinho nesse quesito e que a vida seguiria para Chanyeol após sua partida como aconteceria de qualquer forma, diferente do que sabia que seria consigo.

 

Baekhyun só precisava conciliar dentro de si mesmo sua vontade e medo, colocando-os em medidas proporcionais para que pudesse, enfim, dar o primeiro passo.

 

O filme já caminhava para sua metade quando Baekhyun conseguiu reunir coragem dentro de si para chamar por Chanyeol e acabar com sua curiosidade de uma vez por todas. Poderia ser um passo arriscado, mas estava vivendo de provas de risco naquele dia; sempre fora um rapaz decidido, que sabia muito bem o que queria. Se aqueles eram seus últimos momentos em Paris, não deixaria que a oportunidade passasse, afinal, não tinha ideia se algum dia a teria novamente.

 

A chave final para suas descobertas em Paris estava nas mãos de Chanyeol, na decisão que o mais novo tomaria a seu respeito. Sabia que não era algo que precisaria esperar por muito tempo, Chanyeol era tão transparente como se recordava, mas a sensação do desconhecido transmitia-lhe adrenalina há muito tempo não sentida. Tomado pela euforia do reconhecimento de seus próprios sentimentos e pelo redescobrimento de si mesmo naquele dia, Baekhyun virou o rosto para encarar seu ex-namorado, que mantinha a atenção no filme à sua frente.

 

“Chan”, Baekhyun o chamou. “O que você quis dizer com o filme?”

 

Chanyeol o olhou, uma sobrancelha arqueada. “O que você entendeu do que eu quis dizer?”

 

“Tenho medo de interpretar errado e estragar tudo”, confessou em um sussurro.

 

O filme jazia esquecido enquanto ambos se perdiam nos olhos um do outro, tentando passar mensagens sem precisar de nenhuma palavra como costumavam fazer. Baekhyun queria que Chanyeol conseguisse captar todo seu desejo e, quem sabe, encontrar um pouquinho do mesmo nas orbes escuras de seu ex-namorado. Se Chanyeol mostrasse a mais remota que fosse chance de querê-lo mais uma vez, Baekhyun sabia que não perderia sua chance, não de novo.

 

“Você nunca saberá se não tentar”, Chanyeol respondeu, com um meio sorriso. “Você pode fazer o que você quiser fazer, Baekhyun.”

 

E Baekhyun fez.

 

Exatamente como na torre Eiffel, o escritor juntou seus lábios aos do mais novo em um selar inocente e cauteloso, como se tivesse medo do que poderia acontecer após sua ação. Esperava que Chanyeol não o repelisse, exatamente como no dia anterior, e não pôde impedir o sorriso que se desenhou por seus lábios ao perceber que seu ex-namorado levava a mão até sua cintura, dando-lhe passagem para aprofundar o beijo como gostaria.

 

Agarrou-se aos cabelos ruivos como se fosse seu sopro de esperança, feliz por Chanyeol estar retribuindo-o na mesma intensidade. Beijar Chanyeol era exatamente como da primeira vez que o fez: eufórico e eletrizante, fazendo com que seu coração batesse rápido em ansiedade, tão alto que poderia jurar que o rapaz poderia ouvi-lo. Contudo, essa era a última preocupação de Baekhyun naquele momento; que Chanyeol o ouvisse, que Chanyeol tirasse suas próprias conclusões. Baekhyun estava cansado de negar.

 

Queria que Chanyeol percebesse em seus pequenos atos o que já estava cansado de negar para si mesmo. Joonmyeon estava certo, o maldito romanticozinho. Ainda mantinha Chanyeol dentro de si em um cantinho especial de seu coração, onde poderia resgatá-lo em suas memórias mais doces a respeito do passado, onde poderia sentir saudades do que nunca mais teria por consequências da vida, em um tempo onde aceitava que as escolhas necessárias para o sucesso que almejava implicavam em alguns sacrifícios importantes.

 

Estar com Chanyeol por poucos dias depois de tantos meses separados o ensinaram que não, alguns sacrifícios não são necessários. Fora ao lado de Chanyeol que Baekhyun conseguiu reencontrar o que tinha de mais precioso, que era dar asas a sua criatividade e entender que, para si, o céu era o limite, mas não precisava fazer toda a viagem sozinho. Às vezes, ter uma mão onde segurar e um ombro onde se apoiar fazia toda a diferença no percurso.

 

Separaram-se entre sorrisos discretos, com Chanyeol ainda depositando selos em seus lábios. Baekhyun manteve seus olhos fechados, mantendo o sorriso em seus lábios porque queria mostrar que estava feliz. Ao inferno que não quisesse agir como um adolescente apaixonado, esse era o efeito de Chanyeol em si, fazê-lo sentir como se os dezessete anos fossem eternos e que sua paixão fosse o clímax de sua vida, a força que lhe faria conquistar tudo ao seu redor. Não duvidava de nada quando se sentia daquela forma, tão vivo como não se recordava de já ter estado.

 

And its over and I’m going under”, Baekhyun sussurrou, “but I’m not giving up, I’m just giving in…

 

Chanyeol sorriu e havia toda a beleza do mundo naquele gesto. “Never let me go, never let me go…

 

I found the place to rest my head”, finalizou. Assim como a escolha de filme de Chanyeol, Baekhyun esperava que, com aquela música que Chanyeol costumava cantar para si nas noites em que não conseguia dormir no dormitório, o ruivo também conseguisse captar sua mensagem.

 

“Nós podemos recomeçar”, Chanyeol disse em um sussurro, como se dizer em voz alta pudesse soar como uma sentença de morte. “Nós podemos…”

 

“Nós também podemos aproveitar agora”, Baekhyun o interrompeu, aproximando-se novamente. “É a minha última noite em Paris, não é? Quero que me mostre porque a chamam de cidade dos apaixonados.”

 

Chanyeol entendeu o recado, ele sempre entendia, e Baekhyun permitiu-se afundar mais uma vez em seus beijos, afogar-se em seus braços sem perspectiva de retorno. Já não se importavam mais com o filme que continuava a falar sozinho quando tudo que importava eram os sussurros trocados entre os selos, as mãos que voltavam a se reconhecer depois de tanto tempo, os olhares que não desviavam um do outro em nenhum momento. Era sua última noite em Paris e queria recordar-se daquela viagem como a vez em que teve tudo de Chanyeol novamente.

 

O dia seguinte chegaria com decisões importantes, Baekhyun sabia. Como seu último dia na capital francesa, tinha muita coisa que deveriam conversar, decisões a serem tomadas e um futuro a ser escolhido, mas deixaria para pensar nisso quando o momento chegasse. Agora, tudo que Baekhyun desejava era não perder nem um só momento do rapaz ofegante abaixo de si, que lhe sorria como se nada tivesse acontecido, como se um ano nunca tivesse passado, como se ainda pertencessem um ao outro como costumavam pertencer.

 

Chanyeol era tão bonito e Baekhyun se sentia tão apaixonado.

 

Agarrar-se-ia ao pedido de Chanyeol, prometendo a si mesmo de que não deixaria com que fossem palavras em vão. Tanto a música quanto o filme ganhariam um novo sentido, uma importância maior em suas mentes quando se recordassem do momento que partilharam juntos, onde suas almas voltaram a reconhecer-se através dos toques saudosos, dos ofegos trocados e do som de seus corações batendo tão forte que era quase audível. Naquele momento, uma única frase rondava a mente dos dois, em meio ao redemoinho de sensações que enfrentavam.

 

Never let me go.


Notas Finais


NEVER LET ME GO NEVER LET ME GO aaaaa Aaaah, eu amo tanto esse finalzinho ;333;

Espero que tenham gostado! qualquer coisa estou aí embaixo nos comentários, no twitter que é o @iambyuntiful e aceitando recadinhos de toda natureza no https://iambyuntiful.sarahah.com/ <3 Estamos (in)felizmente acabando a fanfic, assim como a viagem do Baek, então muito em breve daremos tchau a esses dois ;;; Mas espero tê-los comigo até lá <3

Até o próximo sábado e beijinhos~! <3


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