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História O Duque Uchiha (Reescrevendo) - Capítulo XIII


Escrita por: Kirilov

Notas do Autor


Repostado 04.10.20

Capítulo 13 - Capítulo XIII


Fanfic / Fanfiction O Duque Uchiha (Reescrevendo) - Capítulo XIII

O dia amanheceu com clima agradável, em mais uma manhã atípica de fim de inverno, sustentando a mudança gradual da temperatura que prometia uma primavera abrasadora e colorida. A luz que vinha de fora, aquecendo e iluminando a grandiosa sala onde o desjejum estava sendo servido, para a duquesa que acordara de ânimos renovados, era extremamente animadora. 

Ela riu, feliz pela caminhada que a esperava e recordações da noite passada, embora Sasuke se mantivesse em silêncio, dando mais atenção a fazer uma refeição tranquila em detrimento de iniciar e retomar a conversa interrompida pelo cansaço na noite anterior.

Pela serenidade que o Duque esbanjava, porém, ela não esperava. Especialmente naquela manhã, poderia jurar que encontraria o marido altivo e insinuante, devido às declarações e o beijo na noite passada. Sabia que tudo havia sido fruto do vinho, mesmo assim, desejou ter uma conversa amigável ou que se divertissem juntos do estado de espírito em que ele caia quando embriagado. O que desejava, em si, eram as frivolidades do matrimônio e cotidiano pacato. Estava disposta a amenizar as circunstâncias em que viviam e iniciar uma relação terna e amigável, tanto por amá-lo e se dispor a dar uma nova chance a ambos, quando já perdera muito devido ao orgulho; quanto por terem apenas um ao outro.

Passou então a pensar sobre como abordá-lo e arrancar daquela quietação. Cogitou convidá-lo para um passeio vespertino, e chegou a ensaiar mentalmente como sugeriria para que lhe apresentasse uma trilha nova ou um provável lago secreto na região. No entanto, quando estava prestes a engajar o assunto com as exatas palavras que considerou plausíveis e altamente instigantes, a Sra. Nekobaa entrou e parou ao lado do Duque; depois de reverenciar a ambos com respeito e um constrangido pedido de desculpas, entregou uma carta a ele.

Sakura o observou abrir o envelope selado e correr os olhos pelo papel amarelado. Notou, em consequência, que conforme ele avançava na leitura, uma linha dura de expressão o marcou a testa e atenuou um semblante preocupado. A alteração de semblante não seria facilmente observada por qualquer um, mas apesar de sutil, o detalhe não passou despercebido pelos olhos verdes. Assim como, quando ele virou o papel, ela teve certeza que a letra bem desenhada e espaçosa era feminina. E para sua completa agitação e desconforto, o Duque, antes mesmo de terminar a leitura, levantou-se.

 — Do que se trata... a carta? 

Sasuke parou no meio do caminho para murmurar “Negócios”, mas sequer virou-se para olhá-la. Saiu de forma insultante, abandonando-a na mesa.

O desconforto atingiu a jovem senhora com grande intensidade, devido aos criados ali presentes, cujo olhares a observavam penosos, evidentemente lamentando a rudeza e modos do Duque ao deixar a esposa. No entanto, fingindo igual indiferença, ela tornou a comer. Não gostava de ser motivo de pena, bastava-lhe a autodepreciação. 

A situação era estranha para todos. Mesmo a menos mexeriqueira das criadas não conseguia compreender e deixar de especular o motivo de um cavalheiro viril e no auge dos 28 anos, como o Duque Uchiha, não dormir no mesmo leito que a esposa durante a viagem de lua de mel, uma jovem de beleza exótica e bastante espirituosa. 

O fato de o jovem casal não compartilhar do mesmo aposento, bem como a forma de se tratarem na maior parte do tempo, que o faziam parecer completos desconhecidos ou detestáveis inimigos, era motivo de sussurros pela casa. Contudo, Sakura fingia não os ouvir, acreditava ser melhor assim. Manteve-se alheia então, e terminou a refeição sem demonstrar a tristeza em que imergiu. Mas, tão logo deixou o cômodo, apressou-se a procurar Sasuke, antes de a coragem abandoná-la. 

Para evitar a hesitação e o temor a esfriar a barriga com a possibilidade de ele recusar o passeio, foi direto a biblioteca, pois sabia que era onde o marido passava a maior parte do tempo. Encontrá-lo-ia rapidamente, antes de se acovardar pelos próprios sentimentos. Assim, tão logo se entendessem, teriam uma manhã bastante agradável.

Porém, antes de chegar ao destino e através de uma janela ampla nos corredores, Sakura o viu se distanciar da casa e adentrar a floresta sobre os galopes vorazes de um cavalo negro. 

Entristeceu-se, deixando os ombros caírem e a face padecer em torpor, enquanto o observava sumir no horizonte. Conquanto, em seguida, ficou terrivelmente furiosa, à beira de se descontrolar, como se há pouco não estivesse de ânimos exaltados e disposta a ter um dia tranquilo. Talvez a questão fosse exatamente essa, os ânimos estavam muitíssimo elevados, tanto para o bem, quanto para o mal. Qualquer coisa seria realizada em demasiada exaltação. Sua altivez não se importaria em se manifestar, fosse no amor ou no ódio.

 — De onde estava endereçada a carta? — Perguntou, percebendo a presença da governanta ali.

 — Senhora...

 — Quem a enviou? — Interrompeu, virando-se de forma tênue, mas com um tom de voz seco e brusco, exercendo o poder que sabia possuir. A mulher permaneceu muda e de olhos arregalados, pois Sakura, quando desejava, conseguia intimidar e destilar ares superiores. — Sou senhora desta casa, tanto quanto o meu marido, e ordeno uma resposta. 

 — A Srta. Yamanaka.

 — E quem é esta?

 — Eu não saberia dizer, senhora.

 — Não saberia dizer?

 — Não.

 — Então explique-me o motivo de hesitar revelar o nome.

 — A senhora poderia tirar conclusões precipitadas, é o que já parece fazer antecipadamente.

 — Diga-me quem é ela, e eu lhe direi minhas conclusões. Antes disso, não as julgue precipitadas.

 — Uma... — ela pausou, e Sakura a fitou com um olhar insistente e inquisidor. — Uma... uma mulher de caráter duvidoso.

 — O que lhe faz duvidar do caráter da moça?

A pergunta deixou a Sra. Nekobaa completamente sem jeito. Ela hesitou responder, mas acabou por fazê-lo. 

— Mora em uma luxuosa casa no condado, como amante do Sr. Sai. Ele a mantém na propriedade, mas não são casados. E antes disso era amante do príncipe Gaara, vivia na corte em serviço dele. 

Sakura não esperou a mulher acrescentar mais coisas, engoliu em seco as informações e rapidamente tentou sair dali. Ela até pretendeu ouvir tudo e se martirizar pelo resto do dia com o descobrimento, induzindo-se a sofrer pelas implicações; no entanto, preferiu fugir. Cogitou que seria melhor não ouvir, pelo menos por ora. Quem sabe à noite tornasse a especular sobre o acontecido, e assim deixasse os nervos se consumirem em vez de dormir, mas naquele momento, ela apenas buscou a saída, numa tentativa frustrada de não deixar o coração se entristecer.

— Senhora, por favor, não conclua coisas sobre isso.  

Virando-se, visivelmente perturbada, perguntou:

 — O meu marido me abandonou a mesa, saiu às pressas após receber o chamado de uma prostituta, o que devo concluir disso?

— Nada. Não pense sobre o fato. Espere o Duque retornar e pergunte. Ele não hesitará em lhe contar a verdade, pois nada tem a esconder, e ama a senhora verdadeiramente.

— Não, não me ama. Não chegou a presenciar a forma como ele tem agido? Houve dias em que não me direcionou uma palavra, tenho certeza que a senhora foi capaz de perceber isso, ocorreu hoje mesmo. Há pouco, não viu como fui ignorada por completo? Quando cheguei a crer que teríamos uma manhã divertida! Não podia compreender, mas agora entendo tudo perfeitamente, posso jurar que o Duque tem passado as tardes com essa mulher, e não tratando de negócios, como costuma dizer.

— O que percebo, é que ele a ama. Qualquer pessoa é capaz de notar como o Sr. Uchiha busca por sua presença, embora furtivamente, com tanta adoração e afeto que é impossível não perceber os sentimentos dele. Se a evita, só posso supor que o faz com o único intuito de resistir ao que sente, sabendo da sua aversão, pois isto é algo que a senhora deixa evidente. Destrata-o irrevogavelmente. Mas ele? Ele a ama! Tenho certeza. Conheço-o desde que era um menino. Espere-o e pergunte com ternura sobre o ocorrido. 

— Com ternura, mesmo na possibilidade de ser um adúltero?  Devo me humilhar a este nível: perguntá-lo com ternura sobre a possibilidade de ter me deixado para encontrar outra? Devo fingir e acatar este tipo de conduta, fechar meus olhos para tudo que possa vir a ocorrer? Meus pais não eram aristocratas, Sra. Nekobaa, assim sendo, nunca esperei fazer um casamento vantajoso, arranjar um marido nunca foi o meu principal objetivo. No entanto, apesar de não sonhar com o matrimônio, sempre soube que, se o fizesse, seria puramente por amor. A ideia de ter um marido a buscar alívio com criadas ou prostitutas sempre me soou detestável e repugnante.

— Então não seja amável, mas também não o questione com indícios de exaltação e rebeldia. Espere-o, é apenas isso que pode fazer. Espere-o e pergunte, e antes de uma resposta não faça suposições, não leve o seu coração ao sofrimento. Posso jurar: o Duque não tem mais nada com essa mulher. Sendo assim, deve haver uma boa explicação sobre tudo. 

— Não tem mais nada? Isso significa que um dia ele teve?

A governanta enrubesceu, percebendo, de súbito, que falara mais do que deveria. Enquanto tentava amenizar a situação, acabou por complicá-la. Com forçada tranquilidade, ao passo que notava a expressão pálida da mulher diante de si, respondeu:

— Há muito tempo. — Riu minimamente, como se o caso não tivesse importância e fosse algo fútil e pouco preocupante, qual não deveria ser visto com atenção. — Os cavalheiros costumam ter esse tipo de conduta, mantêm amantes antes de encontrarem uma dama que lhes roube o coração e os levem ao altar. Sabe que estas coisas acontecem, sim?

Sakura meneou, confirmando. Não queria cair em melancolia, ou pensar que Sasuke guardava algum sentimento por uma mulher com a qual, provavelmente, manteve relações íntimas. 

Ela não disse mais nada, não prolongou a conversa. Pela primeira vez, preferiu a ignorância. E isso justificou-se pela necessidade de manter o coração intacto e a cabeça sã. As implicações do fato eram muitas, e todas depreciativas. Não conseguia ver explicações ou prováveis mal entendidos, tudo estava claro e disposto diante dos olhos, uma verdade irrefutável que desesperadamente tentava ganhar forças nos pensamentos dela e rumar para um desfecho trágico, no qual seria imensamente infeliz. 

As hipóteses não eram animadoras. Supor o marido com outra e dedicando a ela um valoroso espaço no coração, a ponto de sair rapidamente para atender um chamado vindo pela manhã, deixou-a bastante cabisbaixa e melancólica, angustiada, por assim dizer.

Tentou realmente não pensar naquilo, ou não chegar a conclusões precipitadas, no entanto, apesar de se apegar a cuidar dos pupilos, o desespero crescia a cada hora transcorrida. 

Sasuke tardou a retornar. Ele passou, aliás, boa tarde do dia fora, e apenas retornou quando o sol já se punha. Por todas as dolorosas e longas horas, ela o esperou com fervor e esperança, pouco conseguindo focar no que estava fazendo. Apegou-se a qualquer sinal de incompreensão por sua parte, e torceu veemente para haver alguma explicação plausível para justificar o comportamento dele. 

A notícia do retorno do duque veio por uma das criadas, enquanto Sakura apreciava o pôr do sol e a fina chuva passageira que caia sem grandes promessas, ouvindo Moegi tirar as primeiras lições no piano e divagando sobre a possibilidade de já não ter o amor do marido, chegando a pensar que nunca o teve. Ainda pior: talvez tudo não houvesse passado de uma inflamada paixão.

Após tomar conhecimento da presença dele, apressou-se a procurá-lo, e mesmo tendo sido informada de que ele estava no quarto de banho, também apesar de hesitar e pensar esperar enquanto ia e vinha diante da porta, entrou. Era a esposa, afinal. 

Encontrou-o de olhos fechados, imerso na água aquecida e com a cabeça inclinada para trás. Não conseguiu ver muito, ainda assim, corou, chegando a sentir a face queimar e o coração iniciar um ritmo descompassado. 

Sasuke riu brevemente ao notá-la, mas logo fechou os olhos e voltou à posição inicial. 

— A Sra. Nekobaa foi assim, tão rápida? Pedi que a ajudasse, chegou a encontrá-la?

 — Não.

— Bem... — Abriu os olhos, para finalmente fitá-la. — Gosta de teatro, Sakura?

 — Sim.

— Então ficará feliz em me acompanhar e assistir a uma peça?

— Absolutamente, senhor. Mas não me recordo de algum teatro há uma distância razoável.

— Não iremos até um, exatamente. Vista-se para um sarau. A Srta. Yamanaka prometeu servir um bom jantar, também haverá música, cartas e uma peça com amigos que se dispuseram a atuar. Apenas uma noite agradável.

— Não conheço tal senhorita. Fui apresentada a todos os vizinhos, mas não a esta, há algum motivo especial para isso?

— Sim. Com certeza, há muitos empecilhos que a impedem de conhecê-la. Não seria adequado para uma dama: visitar uma mulher como a qual iremos visitar; contudo, não se apegue a isto. Vista-se, apenas. E esteja pronta em alguns minutos, sairemos em breve. 

Ela ficou feliz ao ouvir isso e, sabe lá, o coração se aquietou e bateu tranquilo, movido apenas pelo simples convite. 

Não chegou a questioná-lo sobre as questões que o fizeram passar o dia inteiro fora. Não recebeu uma explicação, porém, o fato de irem juntos ao sarau na casa da duvidosa senhorita, alegrou-a e puxou do estado de agonia. Sorriu verdadeiramente, ressurgindo dos mortos. 

Ainda sorrindo, reverenciou-o e se pôs a caminho dos aposentos. Vestir-se-ia com o mais belo vestido, apenas para o deslumbrar. E isso foi possível. Com a ajuda da Sra. Hyuga, pôde ficar ainda mais encantadora. O longo cabelo cor-de-rosa foi preso e enfeitado com uma valiosa tiara de pérolas; e o vestido, de fato, era o mais bonito que possuía.

A noite caíra completamente quando ela ficou pronta. Imediatamente ao descer as escadas, encontrou o Duque esperando. Com um torto sorriso nos lábios e olhos atentos, o Sr. Uchiha, evidentemente satisfeito e deslumbrado, inclinou-se levemente numa mesura. Ocorre que ele não podia negar e fingir não ver o quanto ela era bonita, embora isso o colocasse em uma situação extremamente difícil. Mas, depois de tê-la dado o braço, não hesitou murmurar:

— Está encantadora, Sakura.

Ela respondeu com um sorriso, um sorriso provocante e audacioso, ainda assim, apenas um vago sorriso, que era menos do que ele desejava receber. Seguiram, então, sem mais nada dizer. O desejo manifestado de partir imediatamente e findar a situação constrangedora ficou evidenciado pela disposição de ambos em permanecerem calados.

O cocheiro os esperava com a carruagem pronta para seguir. Era uma noite cinzenta, opaca e, para a senhora Uchiha, também poderia ser facilmente encaixada no que considerava uma noite fria de inverno, aquelas em que o interior do corpo estremece igualmente a pele eriçada, e os ossos são imediatamente congelados, pelo menos, era essa a impressão passada.

Sasuke, notando que a esposa não havia se preparado para o frio, tratou de ajudá-la a se acomodar rapidamente dentro da carruagem, porém não teve a oportunidade de precisar aquecê-la entre os braços; pois o problema foi imediatamente resolvido com um xale que a governanta trouxe às pressas.

O caminho foi seguido em completo silêncio. A estrada estava razoavelmente molhada e com algumas poças de lama que, ora ou outra, ameaçavam o andar da carruagem. Porém, passado o tempo previsto de viagem, chegaram à residência da Srta. Ino Yamanaka. Foram recebidos com muitíssimo afeto e afobação.

A casa estava cheia, foi o que a duquesa notou tão logo os olhos correram pela residência, mas o que mais a chamou atenção foi a própria anfitriã: uma mulher deslumbrante,  com sinuosas curvas, olhos azuis e cabelos loiros. Era também bastante alegre, frequentemente destilando sorrisos e palavras graciosas a encantar boa parte dos cavalheiros, os quais a admiravam com extrema adoração e ansiavam por cada palavra dela, como se fosse a última. 

Sempre que a Srta. Yamanaka fazia menção de se pronunciar, havia grande silêncio, os cavalheiros a fitavam ansiosos e com certa esperança nos olhos, rindo em seguida quando ela os presenteava com suas doces e engraçadas brincadeiras e piadas de trocadilhos duvidosos.

Coisas dessa natureza ocorreram durante todo o jantar, e apesar do Duque não ser um dos homens a se prestarem o ridículo papel, Sakura percebeu que ele constantemente buscava pelos olhos da mulher de beleza e modos estonteantes. E isso, é claro, deixou-a muitíssimo infeliz, com sensações perversas e o peito apertado. De início, ficou bastante triste e tudo perdeu a graça, inclusive o gosto da refeição.

Porém os ânimos renovaram-se, quando com ternura o marido indicou que agradasse a todos com o talento ao piano. Talento esse que sabia não possuir, mas o grande contentamento estava justamente nesse fato; apegou-se a crença de Sasuke, assim como Naruto, adorar a tudo que fazia e ser incapaz de perceber suas grandes falhas, enquanto maravilhado e imerso na alegria de apreciá-la. Pois bem, aceitou o desafio e tocou uma música que adorava: alegre e extremamente difícil. Errou algumas vezes, como costumava fazer. Mas de tão pequenos, os erros passaram despercebidos. A duquesa foi bastante elogiada no final.

Nem mais uma senhora se prestou a tocar, a própria Ino alegou não possuir nenhum talento dessa natureza, embora, ressaltou em tom provocativo, possuísse muitos outros. O que ficou claro se tratar de mais um gracejo de duplo sentido que irritou a Sakura profundamente. 

A duquesa não chegou a odiar a senhorita de caráter altamente duvidoso, mas nutriu por ela uma imensa antipatia que ganhou forças e embasamento conforme a noite seguia. Pensando bem, ela tinha motivos suficientes para ficar bastante perturbada, sem a necessidade de recolher mais provas do quanto à moça poderia ser desagradável, mas o fez por toda a noite, procurando muitos pontos negativos na conduta da anfitriã. 

Para grande alegria, os poucos músicos presentes logo começaram a tocar, e antes mesmo de cogitar como Sasuke se portaria, ele lhe estendeu a mão.

 — Não é adequado que dancemos senhor, na verdade, trata-se de um grande indecoro — disse, com um contido sorrisinho.

 — Não estamos num verdadeiro baile, sendo assim, acredito que não estaremos cometendo uma grave falta de educação.

Com disposto convite, Sakura mal pôde pensar em recusar. Dificilmente algo poderia inibi-la de fazer o que realmente desejava. Então ergueu a mão e prontamente o seguiu.

O Duque era um cavalheiro dos mais nobres gestos e educação, dançava muitíssimo bem, apesar de não o fazer constantemente. E tudo teria sido como um maravilhoso sonho de uma noite de verão, se ela não fosse capaz de perceber que embora o corpo dele estivesse ali, guiando-a com maestria e certa delicadeza, os pensamos estavam distantes, voando por onde odiou supor. 

Por fim, quando acabaram e rapidamente os convidados dispostos e previamente ensaiados passaram a representar a peça, ela não conseguiu mais suportar. Com enorme tristeza percebeu o sumiço do marido. Não foi difícil, depois de passar os olhos por toda a sala, notar que Ino Yamanaka também não estava mais ali.

A constatação veio na forma de tamanha angústia, era como se o coração estivesse sendo arrancado do peito aos poucos. Chegou a perder o fôlego, tamanho foi o pavor. 

Conforme valorosos minutos se passaram e ele não retornava, já completamente distante do presente e incapaz de controlar os sentimentos que lhe invadiam, viu-se forçada a deixar a casa, partindo às pressas e sem se importar com a despedida. Completamente fora de si, desesperada e ainda pouco compreendendo o significado de tudo, saiu precipitadamente a procura da carruagem. O cocheiro fez algumas perguntas, todas direcionadas a ausência do duque, ainda assim, obedeceu-a e prontamente partiu, deixando o Sr. Uchiha para trás. 

Os galopes dos cavalos e os movimentos ora bruscos, entoaram uma canção melancólica que a aprofundaram num estado absoluto de pavor. Estava confusa e se sentindo tão humilhada, que aos próprios olhos via-se como uma mulher completamente incapaz de enxergar muitos palmos diante de si. Fora tão boba e inocente, quando deveria ter enxergado tudo. 

Estava disposta a questioná-lo sobre o motivo de ter passado o dia fora, contudo, como uma tola facilmente maleável, deslumbrou-se com o convite, pensando que conhecer a senhorita Ino era um sinal de não dever ousar questioná-lo, e  como dito pela Sra. Nekobaa, tudo deveria possuir uma explicação. No entanto, não havia. Sasuke nada mais era do que um libertino, um homem vão e pecador, aquele qual estava disposta a odiar. O qual, ainda assim, lhe machucava o coração. Um marido como os quais ela constantemente ouvia falar, desrespeitoso e promíscuo.

Chegou rapidamente a Summedise Hall, sendo questionada pela Sra. Hyuga pelo motivo de ter retornado sozinha, mas não pôde responder nada, estava afobada e extremamente confusa, respirava apressada demais e mal podia suportar os pensamentos incessantes contra a cabeça. Somente pediu para ser informada assim que o Sr. Uchiha retornasse, e se retornasse.

Apesar de demorar e já ser muito tarde da noite, quando a fisionomia dela não mais esbanjava os traços da tortura, teve conhecimento de que ele retornara e estava na biblioteca. Desceu, novamente enraivecida, encontrou-o mexendo em alguns papéis. Para maior desconforto e profunda inquietação, ele apenas ergueu os olhos por alguns segundos e nada disse, voltando imediatamente a dar atenção ao que fazia. Por muito pouco, ela não enlouqueceu completamente.

 — Ama-me, senhor? 

 Abordou-o com estas palavras, a face extremamente vermelha e tão furiosa como um cão raivoso. 

— É capaz de dizer isso, como naquela noite em que descobri sobre os seus reais planos e de forma até dolorosa disse que me amava? Ainda é capaz de dizer que é sincero em todas as suas palavras? Ainda pode fazer isso? Agir com tamanha maldade e improbidade? Ainda é capaz de, em um cinismo descarado, dizer que a sua honra está na lealdade aos seus deveres, quando sequer pode respeitar a sua esposa? — Esbravejou, aproximando-se dele e o observando de perto. — Ama-me? Diga que sim, senhor, quero ouvi-lo mentir mais uma vez, quero incitar e nutrir todo o ódio que eu conseguir reunir.  

Ele sorriu em ironia. 

— Qual o significado disso? O que está pretendendo, Sakura? Primeiro me deixou para trás e agora deseja me induzir a dizer coisas para incitar o seu ódio? Quer me ouvir falar dos sentimentos que tanto odeia, é realmente isso que deseja? Ouvir-me gritar todo o amor que tenho, para posteriormente repetir, em tom alto o suficiente, o quanto despreza este amor? 

Mas ele não a olhava, falava com destreza, enquanto continuava a procurar coisas e mexer em papéis, como se ela sequer estivesse ali ou merecesse o mínimo de atenção. Isso a tornou insignificante.

— Não me ama... — murmurou, sentindo o desprezo que recebia e deixando o coração entorpecer. — Disse-me isso, já não luta pelo meu amor. Só posso supor que os seus sentimentos são vãos, supérfluos como as palavras que de forma inflamada usou para tentar me comover e arrastar a essa vida maligna. Apesar de todos os detalhes e dos seus modos durante todo o dia, forcei-me a não tirar conclusões precipitadas e não o  questionar por um provável mal entendido, no entanto, levou-me a casa da sua amante e me deixou com desconhecidos, enquanto se divertia com ela em algum cômodo. Posso ter certeza: continua mantendo-a como amante. Trouxe nas vestes o cheiro dela, o qual está mais impregnado no tecido do que o meu próprio, e apesar de entender o quão imoral o senhor é, ao deitar-se com uma prostituta, não posso deixar de me martirizar. 

Respirou pesadamente, quase sufocando com as palavras. 

— Culpo-me, ainda que imbecilmente, por tê-lo levado a cama dela. Não posso deixar de me entristecer ao pensar que se tivesse a minha cama, não iria à outra. Quão tola sou por me induzir a esse martírio, pois é a sua má índole que o torna um adúltero, e não eu. Ainda assim, culpo-me, mesmo sabendo não dever, pois estou me submetendo a esse sofrimento infundado, o que não faria, caso possuísse amor próprio. Vai embora, é o que tem repetido, e penso que será melhor assim. Vai para que eu viva em paz em sua ausência; e mesmo distante, continuaremos casados, por achar que assim me livrará do julgamento da sociedade. Mas está claro para mim: mente em todas as suas palavras, deixar-me-á para viver com essa mulher que lhe roubou o coração. Nada mais sou do que um estorvo em sua vida.

Novamente, um sorriso amargo, arrogante e frio estampou a face do Duque.

— Está sendo insensata. A princípio lhe vi com uma moça muito inteligente e sagaz, de fato, é realmente assim, e também excêntrica e caridosa; contudo, parece-me não saber lidar com si própria. Não pretendo insultá-la, mas tenho a impressão que quando se trata de mim, torna-te completamente cega, a ponto de ser incapaz de enxergar qualquer dos meus sentimentos. Que mantenho um caso com a Srta. Yamanaka e o cheiro dela está impregnado em mim, foi isso que disse? — perguntou, com desdém e ainda ocupado, pouco dando importância ao que ocorria e a exaltação dela. 

Antes que ela pudesse responder, tornou:

 — Talvez realmente esse cheiro pertença a ela, devido às circunstâncias quais estivemos envolvidos. Entretanto, o que se extrai das suas observações é uma conclusão infundada e abstrata, a qual se dispõe das suas cogitações e delírios a respeito do fato, o qual unicamente deveria interpretar a luz da própria verdade, e não extrair de meras manifestações das suas suposições depreciativas, prescindindo da realidade. O que ocorre, Sakura, é que na tentativa pífia de indevidamente ver falhas na minha conduta, procuras encontrar argumentos infundados para demonstrar a necessidade de me culpar por toda e qualquer coisa. No entanto, suas alegações não passam de um apanhado de ilações genéricas que sequer condizem com um mísero trisco da realidade. 

 — Ilações genéricas? Não só insulta minha inteligência ao dizer tais coisas, mas também a minha percepção e sanidade mental. Como eu poderia distorcer tanto a verdade a ponto de deduzir fatos completamente contrários a realidade e chegar a conclusões tão errôneas?  Partiu às pressas, assim que recebeu o chamado dela, e retornou apenas quando já era tarde. Eu não quis tirar conclusões precipitadas a respeito disso, no entanto, tudo que veio a ocorrer me mostrou o quanto o senhor é repugnante.

— Pois bem, então é exatamente isso que estou fazendo, duvidando da sua sanidade mental. Apenas estando completamente louca para acreditar que eu iria traí-la, enquanto vivendo sob o mesmo teto. 

— Então admite: partirá para viver com ela? Não no mesmo teto, mas distante de mim manterá uma amante? 

Por um breve momento ele parou, e apertando as pálpebras com evidente irritação e forçando os punhos contra a mesa, respirou pausadamente. Tentava, a todo custo, não perder a calma e falar coisas das quais provavelmente se arrependeria depois. Estava irritado por muitas coisas, inclusive, por ter sido abandonado pela própria esposa, tendo de voltar em um cavalo arranjado e sob chuva.

— Não foi o que eu disse. Está disposta a ver e ouvir apenas o que lhe fere o coração, como se tivesse a dor como uma necessidade imprescindível para viver. Não pode se dar ao deleite de se alegrar, quando sabe que partirei em breve? Acabou por dizer que prefere que eu vá, e eu irei, em menos de duas semanas. Então se force a me evitar por, pelo menos, mais estes dias. Pode fazer isso? Deixar-me em paz para que eu possa resolver coisas realmente importantes, e não me esquivar de acusações vagas? — Perguntou, com um olhar inquisidor e enraivecido, tão negro que chegava a ser pavoroso. 

A verdade era que estava envolvido em uma causa que o atingia profundamente, e pouco estava disposto a entrar em mais uma discussão com a esposa. No entanto, ocorreu que acabou por descontar todas as frustrações em cima dela, tratando-a com indiferença, quando estava claro que sua conduta havia sido evidentemente suspeita e digna de suposições. Naquela noite, a duquesa não foi a única a cogitar a possibilidade de ele ainda ter algum tipo de romance com Ino, todos os senhores e senhoras presentes também tiveram a vaga impressão.

Mas, o mais importante e talvez o mais trágico, foi que Sakura, diante da postura dele e das palavras a evidenciarem o pouco caso aos seus anseios, quando evidentemente estava sofrendo por tudo, viu-se completamente fraca e humilhada. 

Pelo visto, tudo que temia, inclusive até os piores pesadelos, ocorria-lhe agora. 

Movida por uma fúria indomável, resultado da frustração e dor que lhe atingiu o ser, lançou-se sobre ele, deferindo golpes violentos, como se aquilo pudesse esvair toda a angústia suportada. Porém, apesar de se esforçar, não tinha forças; os socos possuíam mais valor simbólico do que qualquer coisa, embora realmente o quisesse ferir e se livrar de toda raiva e medo.

Sim, estava com medo; medo do futuro, medo de tê-lo perdido para sempre, medo de não suportar vê-lo com outra. E ainda o estapeando gritou, de forma desesperada e bastante ressentida, que o odiava, desprezava etc. etc. 

No entanto, a verdade era que o amava, portanto, odiava amá-lo com tanta intensidade, a ponto de agir imprudentemente e não ser capaz de se controlar. Odiava perder a postura e deixar os sentimentos virem à tona, enquanto ele pouco se exaltava; odiava parecer fraca e supérflua, ao passo que ele detinha as forças destrutivas do caos, mantendo-se sempre indiferente aos tortuosos labirintos da mente; odiava ser tempestade, quando ele era calmaria... Odiava-se, por simplesmente amá-lo.

— Eu estava disposta a perdoá-lo, a.... — esbravejou, entre os deferidos insultos, quando ele, bastante irritado e não mais disposto a encarar a situação com imparcialidade, segurou-lhe os punhos, interrompendo a violência barata. 

— Perdoar-me? — cuspiu tal palavra, como se ela o ferisse a garganta e trouxesse uma sensação nauseante. — Acha que desejo o seu perdão, Sakura? Eu, em algum momento, pedi o seu perdão? Não, não o fiz e, de fato, não pretendo fazê-lo, pois não vejo motivos para tal, quando a quem parece que agi mal, é tão pior que eu. Naruto me contou sobre sua índole, enumerou suas qualidades; mas principalmente, ressaltou o quanto é orgulhosa e a intensidade com a qual foi amada pelos pais, sempre podendo fazer o que desejava, tornando-se assim uma moça mimada que pouco conhece da vida, além do que ler em livros e ouve falar. Ousa, em um ataque infundado de fúria e sobre suposições insanas, dizer que está disposta a me perdoar? Como se fosse alguma espécie de deus, vendo-se no direito de me julgar e sentenciar, perdoando-me quando acha necessário e tantos estragados já foram feitos... Perdoar-me? Mesmo que eu ignore a sua prepotência ao supor e dizer tal coisa, mesmo que fosse tolo o suficiente para tal, ainda assim, saberia que nunca seria verdadeiramente perdoado, pois vais sempre se forçar a lembrar da minha falha para consigo ou criar novas, quando as anteriores não fizerem mais sentido, culpando-me eternamente por qualquer suposição que venha a lhe causar agitação e desconfiança. É o que está fazendo agora, confundindo meus atos e me acusando de uma traição, quando é evidente que tenho problemas mais sérios a tratar, do que procurar a cama de outra mulher e me divertir com uma prostituta.

Houve silêncio. Ele a encarava seriamente.

— Acreditei, Sakura, piamente acreditei que ao me casar com você, estava tomando como esposa uma mulher melhor que eu. Confesso, sou tudo que ousa me acusar: orgulhoso e prepotente, mas a minha conduta não é menos odiosa que a sua. Pensar que pode cogitar me perdoar, quando é evidente que não o faz de coração e a mim não direciona nenhuma admiração ou voto de confiança. Ou pior, quando ainda se inflama e odeia o caso, acusando-me de mentiras e conduta duvidosa, quando apenas fiz o que deveria fazer. Menti porque assim me pareceu melhor, mas não mentiria de novo, porque seu rancor  e orgulho são tamanhos, que é incapaz de esquecer e seguir, ou de reconhecer a própria culpa na situação. E continuará sendo incapaz de qualquer coisa do tipo, de reconhecer suas falhas e dar o braço a torcer. Porque é uma mulher insensata, que prefere manter a honra sobre o orgulho ferido, em vez de encarar tudo de peito aberto, de seguir, ainda que suscetível a mais lástimas. 

Mais silêncio, uma nova pausa.

— Um estorvo... Um estorvo em minha vida... foi essa a palavra que usou: estorvo, e sei porque a usa, viu-se assim quando obrigada a morar com os tios, um estorno na vida deles, uma órfã sem mais ninguém no mundo e que agora precisa incomodar a todos para viver, longe do que provavelmente sonhou um dia. Posso compreender o sentimento e angústia que isso lhe provoca, no entanto, não posso compreender como ainda se vê assim. Agora acredita ser a minha pedra, quando na verdade deixo-a livre e pouco me presto a lhe atormentar, sendo a recíproca não verdadeira. Pois bem, se é assim que se ver, corra, deixe-me fazer o que tenho de fazer em completa paz. Corra para longe e busque chorar sozinha onde eu não possa ouvir os seus soluços; corra, sofra e chore, longe de tudo e de todos, pois nunca foi um ombro que desejou. Pelo contrário, a vida inteira tens procurado culpados, tendo visto em mim o seu maior alvo: alguém em quem descontar todas as frustrações. E tenho deixado que faça isso, porque para mim já não faz mais diferença, conquanto que isso amenize suas dores. No entanto, não permitirei que volte a elevar o tom ou ouse levantar as  mãos contra mim, desferindo-me socos e tapas como uma mulher fútil. Não permitirei, está me ouvindo? Não permitirei que me desrespeite de tal forma, com tanta convicção e sem receios. Ainda sou o seu marido e deve se portar diante de mim. 

As palavras, apesar de inflamadas, foram ditas em um tom seco e ameno. Soltou-a então, quando finalmente liberto de todas as declarações engasgadas.

Os braços dela caíram, com a mesma palidez e lentidão que algumas lágrimas escorreram pelo rosto outrora tão bonito e feliz, desprendendo-se dos olhos marejados depois de ela tanto tentar se manter firme, e aquecendo e entristecendo a pele avermelhada.

O chão sob os pés dela e ao entorno, pareceu frágil e prestes a desmoronar. A sensação era clara e lhe dava a impressão de que cairia, tão logo ousasse se mover. Tudo, de chofre, pareceu nada; a visão ficou completamente turva e escura, como se a própria natureza quisesse lhe ferir e privar de qualquer coisa que pudesse trazer alegria. As palavras se repetiam na cabeça de Sakura como um eco tortuoso, ferindo intensamente e machucando cada parte dela. O estômago congelara e o frio subiu, chegando a garganta, trazendo uma sensação que tanto conhecia e odiava. Estava nauseada, com o peito apertado e o coração prestes a padecer em euforia.  

Todas as expressões, a forma como minimamente se contorceu, apenas para suportar o mal estar na barriga; as lágrimas caindo desenfreadas e a feição aterrorizadora que domou o rosto, foi como um grito de socorro, uma única e última tentativa de esperança.

Ela estava em agonia e tudo poderia ser visto e ouvido pela face atormentada, molhada e vermelha; e pelos pavorosos e contidos soluços que escapavam da garganta com tamanha frenesi e necessidade de serem ouvidos, que tudo parecia ainda pior e doloroso. Não conseguia se conter. Não foi capaz de manter o controle, e mesmo achando que o mundo se partiria sob os pés e cairia ao tentar dar o primeiro passo, moveu-se, necessitada de fugir imediatamente dali e fazer exatamente o que ele sugeriu: correr e sofrer onde seu choro não o atormentasse, onde pudesse deixá-lo em paz. Palavras que feriram-lhe a alma. 

Sakura conseguiu se mover, deu alguns passos e, embora não enxergasse nada diante de si, tentou correr para fugir imediatamente do campo de visão dele. Para, pelo menos, esquecer e fugir daqueles instantes que lhe foram tão desesperadores. Que atitude poderia tomar, senão se esconder e buscar conforto na solidão?

O Duque, porém, a essa altura e diante da cena, arrependeu-se de todas as palavras usadas. Ele pôs-se atrás dela, tão mais perturbado do que poderia ficar. Alcançou-a quando ela estava prestes a subir as escadas. Sem premeditação, agindo apenas pela necessidade de protegê-la de tudo que ele mesmo a sentenciou, abraçou-a com demasiada força e dedicação, chegando a beijar-lhe o topo da cabeça enquanto desesperadamente pedia pelo perdão dela, o qual ousara dizer não desejar.

— Desculpe-me. Desculpe-me. Perdoe-me. Sim, preciso do seu perdão e o peço agora: perdoe-me, se ainda for capaz. — Repetia, encerrando-a em seus braços. — Perdoe-me. Tudo que eu disse foi sem pensar. Perdoe as minhas palavras. 

Afastou-se para observá-la e lhe enxugar as lágrimas. Ficou completamente perturbado ao notar que ela se encolhia diante dos toques, como se tivesse medo e as mãos dele estivessem sujas e prontas para manchá-la. 

— Sakura... — murmurou, quando ela deu um passo para trás, ainda de cabeça baixa e com os braços se forçando contra o corpo. — Posso lhe explicar tudo. Se ainda desejar me ouvir, posso contar. Sim, reconheço... — tentou, levando as mãos às têmporas, enquanto ela permanecia imóvel.

O silêncio e calmaria dela, nada mais eram do que uma tentativa de se reerguer, estava irritada por parecer tão frágil, por chorar diante dele. Engolia cada lágrima ansiando apenas secar todas elas, para finalmente olhá-lo sem resquícios do choro.

Diante do silêncio, depois de ter levado as mãos à cabeça e jogá-las no ar inúmeras vezes, Sasuke tornou:

—  Tem razão em duvidar de mim. De fato, a carta era da Srta. Yamanaka e fui ao encontro dela; mas apenas porque ela está me ajudando a resolver o caso do assassinato da minha família, recebeu novas pistas vindas de Londres. Não precisa compreender isso agora, no entanto, tenho sérias suspeitas contra o príncipe Gaara e o tenho investigado, sendo assim, Ino é valiosa para mim e tem me ajudado a ligar os pontos soltos. Porém posso lhe garantir que estivemos envolvidos apenas em investigações... — pausou, quando ela finalmente ergueu o rosto. 

Quis se aproximar novamente, mas não ousou. Percebeu no olhar dela que estava de ânimos revigorados.

A verdade era que todo o caso e as explicações pareciam inúteis. Pouco diferenciava se mantinha ou não uma amante, visto que Sakura jurara não tratá-lo como marido, o que ficava evidente a cada dia, embora, às vezes, tivesse a sensação de estar prestes a conquistá-la. 

— Desculpe-me — disse, mais uma vez. — Perdoe a mim e as minhas palavras, elas estão longe de expressar o que realmente desejo e sinto.

— Não se desculpe pelas suas palavras, meu senhor — proferiu num tom baixo, ainda assim, firme e claro. 

Embora estivesse recuperada e conseguisse controlar a iminente necessidade de chorar, via-se na posição de tratar o assunto com destreza e esquecer tudo tão rápido quanto pudesse. Aquele seria um dia que não se forçaria a lembrar, apagá-lo-ia facilmente da memória, conforme lhe fosse permitido.  Erguendo o nariz e destilando ares pretensiosos, quais se forçou a exibir, tornou: 

— Não deve pedir o meu perdão ou se desculpar pelas palavras proferidas, ainda que esteja arrependido por dizê-las, porque enquanto as me direcionava, vi raiva e decepção no seu olhar. E são nesses momentos, em que tudo parece distante e já não temos esperança; quando tomados pela raiva e agonia da frustração da não realização; quando, mesmo que, dispostos a ainda tentar acreditar, o outro se mostra completamente indigno de qualquer consideração; quando, veemente, acreditamos que tudo poderá ser feito sem consequências, e principalmente, no momento em que nada mais importa e a necessidade de ferir nos toma por completo, assim como,  a crença de que detemos a verdade nos dá a sensação de sermos inatingíveis… são nesses instantes, senhor, nesses exatos instantes em que proferimos as palavras entaladas na garganta, ansiado fugir e atingir ao alvo que, até então, aos nossos olhos é completamente ignorante ao espelho diante de si. As verdades são ditas assim, meu senhor, ou em tom de brincadeira ou em tom febril.  Por isso, não me peça desculpas por dizê-las, pois sei: o que me disse é exatamente o que pensa de mim, é como realmente me ver. Acha-me detestável, presunçosa, mimada e orgulhosa, e o que posso dizer? Negar que o sou, se compreendo ser exatamente assim? Não... Não posso negar, ou aceitar as suas desculpas. Temos agora as cartas na mesa, e é melhor tudo permanecer assim. Não há necessidade de amenizarmos a situação. Com qual intuito a faríamos? Se estamos suscetíveis a sermos isso.

— Eu... Não, não posso pensar dessa forma e não posso deixar que pense assim, eu realmente me exaltei, e tantas coisas foram ditas apenas no momento da raiva. Não me leve ao pé da letra, ou não tome apenas estas palavras, quando já lhe disse tantas outras, as quais parece lhe passarem despercebidas.  

— Diga-me, então, há algo que gostaria de retirar? De tudo o que disse, da minha dificuldade ao aceitar o inevitável à minha conduta odiosa, como foram as suas palavras... Dentre todas as coisas, há ao menos uma que deseje retirar? Pense, pense bem e me responda.

— Não — foi sincero. 

A duquesa, porém, já não estava decepcionada, embora ainda sofresse com o fato de o marido tê-la mandado correr para longe com suas lágrimas: de tudo, isso foi o que mais machucou, o que mais firmou na cabeça dela que nunca poderiam compartilhar de um amor terno e mútuo. 

Naquele momento acreditou que realmente o perdera. Nunca seria feliz com ele, e isso se dava por sua própria culpa. Via-se como a causadora de ter aniquilado uma provável paixão. Assim, tudo acabou daquela forma, com ambos acreditando no que o momento poderia dizer, mas não no silêncio e implicâncias dos fatos subentendidos.

O primeiro dia se passou, também o segundo e o terceiro, uma semana inteira seguiu e depois outra, anunciando o fim do inverno e partida do Duque no temeroso “amanhã”. Todos os baús estavam prontos, e a promessa de uma trégua, nas vidas prestes a se separarem, ficou definida dessa forma, como realmente sendo a melhor opção. Porque depois de o assunto não voltar à tona e ambos se encontrarem apenas raras vezes, nos corredores de Summedise, quando até mesmo as refeições eram servidas em cômodos diferentes, ficou evidente o interesse de distância, ainda que não fosse mútuo ou querido, uma vez que cada um o fazia por acreditar que o outro assim preferia. 

             



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