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História O Príncipe dos Canalhas - Capítulo I - Cobras de espartilho


Escrita por: Bad-Lady

Notas do Autor


Adoro um romance de época <3

Capítulo 2 - Capítulo I - Cobras de espartilho


CAPÍTULO I – COBRAS DE ESPARTILHO

 

Se fosse obrigada a escolher entre tomar um chá com outras debutantes ou fazer compras, Sakura Haruno preferia o suicídio. Não que ela não gostasse de tomar chá: ela adorava, principalmente os doces que acompanhavam a bebida quente, e também não era como se ela não gostasse de fazer compras, porém, aparentemente só podia colecionar vestidos, e quanto mais usava, mais ela os odiava.

Os espartilhos pareciam estar tentando matá-la, e se fosse para morrer, Sakura preferia que fosse rápido. E durante o chá, as outras debutantes pareciam querer sua cabeça, de uma forma muito mais sutil e agressiva do que uma arma de fogo.

Sakura não era burra, ela sabia que nenhuma delas gostava da sua companhia, talvez com exceção da Hinata Hyuga, filha do duque de Hilshend, e Ino Yamanaka, filha do conde de Gildon, elas ao menos eram educadas e nunca fizeram nenhum tipo de comentário maldoso ao seu respeito, não na sua frente.

Hinata Hyuga parecia ser doce demais para ser maldosa, o que em regra geral, Sakura odiava. Pessoas doces eram literalmente enjoativas, porém, isso não acontecia com a Hyuga, provavelmente porque todo o resto não passavam de cobras de espartilho. Talvez fosse por isso que elas eram umas... Qual seria a palavra menos impropria para usar? Sakura sempre esquecia.

Ah, sim, bobocas.

Sua mãe ficaria orgulhosa por não ter pensando em nenhuma palavra de baixo calão para se referir aquelas cretinas venenosas que provavelmente queimariam no inferno com razão.

Se aquelas endemoniadas fossem para o céu, Sakura desceria sozinha para o colo do diabo.

De qualquer modo, Hinata Hyuga era doce demais para ser maldosa, e Ino Yamanaka sofria do mesmo mal que a Haruno: não ser boa o suficiente para o grupo requintado das analfabetas nojentas e mesquinhas.

Ino era filha de um conde, porém, de um conde com uma modista, o que a fazia ser uma piada na sociedade. Sakura não conseguia entender muito essa lógica, pois como podiam desprezar a profissão que literalmente fazia seus lindos e glamorosos vestidos, dos quais elas se orgulhavam tanto?

Um bando de mimadas superficiais.

Depois perguntavam porque estavam se tornando umas solteironas. Como alguém poderia querer se casar com uma cobra venenosa e passar a vida com ela? Somente pelo dote, isso era óbvio. O que explicava a pequena fortuna que cada uma tinha: os pais estavam ansiosos para se verem livres das cobrinhas e do veneno que escorria toda vez em que abriam a boca.

O ponto era que Sakura Haruno preferia morrer a ter que passar mais uma tarde com elas, ouvindo comentários estupidos demais para serem repetidos, e ela sabia que faltava muito pouco para pegar uma tesoura e fatiar o cabelo de cada uma. Somente de pensar na possibilidade, ela se sentia incrivelmente feliz.

E esse era o motivo pelo qual estava pulando sua janela, se segurando no parapeito com as mãos, arrastando-se até o telhado da estufa.

Sakura não era de escalar, ou pelo menos tentava não ser. Já falavam coisas demais sobre ela, então para tentar ser aquilo que seus pais esperavam, ela ao menos tentava se comportar como uma dama.

O que não era uma tarefa fácil.

Mulheres da sociedade londrina não podiam fazer quase nada, pelo menos, nada que fosse minimamente interessante. Não que ela não fosse grata ao seu pai por ter cumprido com a sua promessa: conseguir uma vida melhor para ela e a mãe.

Durante muitos anos, basicamente durante toda a sua vida, Sakura possuiu apenas dois vestidos: um para a igreja e eventos importantes, e um para o dia a dia, que já havia sido remendado mais vezes do que ela era capaz de se lembrar. Suas refeições eram compostas por apenas um prato, dois se estivessem com sorte e ela houvesse conseguido alguma fruta fresca para fazer a sobremesa.

Não que ela se importasse com isso.

Nunca faltou comida em sua mesa, nunca passou uma única semana sem comer sobremesa – afinal, se tinha algo em que ela era boa, seria escalar, principalmente árvores frutíferas, e se tinha algo em que ela era melhor ainda, seria cozinhando.

Sakura adorava a cozinha: o calor, o cheiro dos alimentos, a emoção de pegar um punhado de ingredientes e criar algo novo e delicioso.

Sua vida era boa, muito boa, mesmo com a simplicidade.

Isso até tudo mudar, um ano antes. Seu pai havia investido todas as economias em um navio, comprado o que seria o melhor whisky de acordo com o capitão, e durante quatro meses eles esperaram o carregamento chegar.

A bebida vendeu como se fosse água entre a sociedade, e logo possuíam uma pequena fortuna que novamente foi investida. O segundo carregamento trouxe um lucro tão absurdo que foi possível investir uma boa parte em bebidas e sobrou o bastante para o pior pesadelo da Haruno começar: ela finalmente iria debutar.

Toda a sua vida tinha acabado, seus vestidos simples e confortáveis foram substituídos por rendas e espartilhos, seu cabelo sempre solto e rebelde agora ficava firmemente preso em um coque justo que lhe dava dor de cabeça todas as noites, sua cozinha fora substituída por uma nova, que acompanhava uma cozinheira experiente que não a deixava preparar nem mesmo uma pequena torta de maça, suas tardes nadando no riacho, colhendo frutas, treinando sua mira, fora substituída por compras, chás com cobras venenosas e tentativas de conseguir um marido, de preferência com um título, suas noites que sempre foram calmas e cheia de estrelas – com uma torta de uma colher – agora estava repleta de vinho – não que ela pudesse beber mais que uma taça – e música, e novamente ela ficava cercada por pessoas superficiais que a consideravam inferior.

Inferior por simplesmente não ter nascido em um berço de ouro, por vir de uma família sem títulos e riquezas, por considerar que talvez as mulheres fossem mais do que uma mercadoria a ser trocada.

Tudo nela era errado, todo o seu gosto, suas manias, até mesmo seu senso de humor era considerado errado perante a sociedade, e tudo precisava ser mudado urgentemente.

E Sakura tentava mudar, tentava de verdade.

Ela não tinha reclamado quando fora espetada por modistas, quando a expulsaram da cozinha – sua cozinha, tecnicamente, não que isso importasse – quando a enfiaram em um espartilho apertado demais e a jogaram em um ninho de cobras. Sakura até tentou ser simpática, tentou achar algo em comum, mas elas a tratavam como se fosse burra, o que de fato não era. Podia não saber quais eram os melhores tecidos pra vestidos ridiculamente grandes ou o melhor pretendente da temporada, mas ela não era burra: Sakura conseguia escalar qualquer lugar, devorava livros em uma única noite, apenas com uma vela ao seu lado, conversava sobre qualquer assunto, em qualquer momento e com qualquer pessoa, e não era se gabando, mas ela recarregava uma pistola mais rápido do que aquelas cobras conseguiam fingir um desmaio.

O fato era que ela tinha tentado, realmente tentado, mas não importava o quanto fosse agradável, ela não conseguiria um lugar na sociedade, não como seus pais queriam. Talvez conseguisse um marido – não era como se ela estivesse empolgada com a ideia, não como as outras debutantes ficavam, e não era como se estivesse caçando um nobre por aí – mas com certeza isso seria nos seus termos.

Sakura não se importava com o dinheiro ou com o título, nada disso significava alguma coisa para ela, nada disso tinha qualquer valor aos seus olhos. Se fosse para se casar, ela tinha de estar apaixonada, tinha que ser com um homem que a respeitasse, que não tentasse muda-la, e que aceitasse que ela definitivamente não iria ficar frequentando bailes e usando aquele maldito espartilho.

Qualquer um que a olhasse como uma pessoa inferior – talvez por ser mulher ou por não ser nobre – Sakura queria mais que queimasse no inferno.

E esse era o motivo pelo qual pulou no teto da estufa, se equilibrando conforme caminhava até a lateral.

Sua mãe, alheia a maldade das outras debutantes, havia tido a maravilhosa ideia de proporcionar um dia com aquelas cobras de espartilhos, e Sakura não conseguiria lidar com isso hoje.

Verdade seja dita: ela não queria.

Era necessária muita paciência e autocontrole para não retrucar ou simplesmente manter uma expressão de paz no rosto. Sakura não era boa com isso, o que restou simplesmente sair escondida de casa para ter pelo menos um único dia de paz, bem longe do ninho de cobras que logo estariam na sua residência.

Provavelmente essa sua escolha traria um grande sermão do seu pai e um drama extremamente emocional da sua mãe, porém, isso era melhor do que passar o dia com as debutantes, bebendo chá, comendo biscoitos e recebendo veneno a cada cinco minutos.

Sakura ajustou a bolsa na sua cintura e então pulou, aterrissando na grama com elegância. Se ela pudesse fazer isso em público, provavelmente todos ficariam impressionados.

E seu pai a mataria.

E sua mãe morreria.

Caminhando rapidamente ela se afastou da casa, mantendo seu rosto escondido com a capa negra. Após estar em uma distância segura, ela diminuiu o ritmo, sentindo como se um peso houvesse sido arrancado das suas costas.

Sakura tentava muito não ser ingrata, tentava gostar da sua nova vida, cheia de bailes, vestidos e sem nenhuma preocupação a não ser conseguir um marido, mas a verdade era que ela se sentia sufocada, sentia como se cada pequeno pedaço seu, que fazia ser quem ela realmente era, estava sendo arrancado aos poucos, até não restar nada além de uma casca.

Será que um dia ela se tornaria tão venenosa quanto as outras debutantes? Tão mesquinha e superficial que acabaria desprezando outras jovens que eram exatamente como ela sempre foi?

Suspirando, ela afastou essa ideia.

Não seria assim, não podia ser.

Sakura se recusava a ficar presa em um casamento sem amor, em uma vida que não suportava, com pessoas que não suportava. Uma pequena parte sua queria pegar suas coisas e voltar para o campo, onde sabia que todos gostavam dela, onde podia ser quem era de verdade, fazer o que realmente gostava.

Quando estava sozinha em sua cama tarde da noite, Sakura fantasiava em abrir uma padaria, em poder passar seus dias suja com trigo e açúcar, testando novas receitas, e suas noites deitada na grama observando as estrelas.

Essa era a vida que queria, mas ela sabia que não passava de um sonho, ainda mais com o dote que seu pai estava oferecendo. Talvez tivesse o que? Um ou dois anos antes de ser obrigada a se casar? Antes de seu pai vê-la como um fardo que podia muito bem trazer algum lucro?

Era só questão de tempo até ser jogada no meio das cobras, até não ter opção a não ser usar um espartilho que dificultava sua respiração, até ser jogada a algum nobre nojento disposto a fornecer contatos.

Tudo era só questão de tempo.

Mas naquele momento, enquanto o ar estava gelado e o sol nascia lentamente, deixando o céu em um tom alaranjado, Sakura sorriu, ignorando como sua vida estava longe de ser o ideal, e apenas observou aquela arte da natureza.

Apoiada em sua nova árvore preferida, ela ficou imóvel até o sol terminar de nascer, até seu corpo se acostumar com o frio da manhã e sua mente ficar calma.

Sakura quase não tinha muitos momentos para si mesma, quase não podia fazer ou falar o que queria, então algumas vezes quando sentia que o mundo estava lhe engolindo, ela corria até a parte afastada do parque, assistia o nascer do sol, e então escalava sua árvore, onde podia ficar lendo em paz, onde durante algumas horas ela podia se esquecer do quanto estava insatisfeita, do quanto estava cansada de fingir ser algo que não era, e do que aconteceria caso não escolhesse seu próprio marido em breve.

Não que ela não houvesse tentado.

Sakura tentou, até mesmo deixou um idiota a cortejar durante alguns meses, mas ela simplesmente não conseguia deixar sua verdadeira personalidade escondida por muito tempo, e na primeira vez que riu verdadeiramente de algo que ele disse, achando que se tratava de uma piada – afinal, quão burro uma pessoa consegue ser? – o homem simplesmente ficou magoado, encerrando o cortejo de forma repentina.

Não que ela estivesse chateada com isso, certamente foi um alivio se livrar dele, de não ter mais de passar sua tarde caminhando em um parque com aquele maldito espartilho, ouvindo o homem dizer coisas absurdas demais para serem levadas a sério, e dançando em todos os bailes quase como se fosse sua obrigação retribuir o interesse repentino do rapaz.

Ela estava completamente aliviada por poder parar de fingir, e com certeza não se incomodava em ter um pouco de tempo livre para ler e comer alguns doces roubados do jantar da noite anterior.

Sorrindo, Sakura avaliou a árvore pelo que seria a quinta vez na semana, e então começou a subir. 


Notas Finais


Pra quem estava curioso, mil libras seriam equivalentes a quase 186 mil reais. Cada libra seria em torno de 30 euros, ai eu fiz a continha basica né KKKKKKKKKKKKK

Não tenho uma inspiração especifica para essa fic, apenas alguns romances de época, alguns até foram citados nos comentários porque essas leitoras estão afiadas KSKSKSKSKSKKS

O calendário de março será liberado acho que terça ou quarta - vou enviar para minha secretaria, PORQUE SIM, EU TENHO UMA LINDA SECRETÁRIA QUE CUIDA DE BASICAMENTE TUDO KKKKKKKKKKKKKKKK

Enfim, postagem dessa fic ficaram para o sabádo


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