História O Ritmo da Aposta - Vamos falar de apostas

POV YOONGI

Aquela fila estava infernal e tudo porque Seokjin não queria comer o lanche do Bob's. O que tinha de errado no lanche do Bob's? Só porque ele era todo certinho e fitness, com essa coisa de "tenho que estar em forma pra academia de dança"? Agora, eu enfrentava uma fila imensa só pra poder pegar o lanche natural com o suco que não podia ser de caixinha.

Bufo e rolo os olhos, recebendo um olhar desaprovador do outro. Ele cruzou os braços e sorriu, porque ele não conseguia ficar irritado comigo muito tempo, e isso que me salvava dos gritos que Jin podia dar quando estava irritado. Conseguimos, finalmente, ser atendidos e com os pedidos em mãos, nos sentamos em uma das mesinhas do outro lado do Shopping, pertinho do cinema que não iríamos ver porque ele tinha aula.

— Jinie! Faz tanto tempo que a gente não assiste um filme juntos!

— Faz. — Ele suspirou. — Mas eu não posso, Yoon, você sabe que o semestre começou agora e é meu penúltimo ano, eu preciso me dedicar.

Rolei os olhos mais uma vez, bagunçando meus cabelos verde-claro com a mão. O que tinha nesse lugar que fazia com que ele quisesse ir todos os dias, religiosamente, para que dispensasse o cinema comigo, eu que era seu vizinho e amigo desde muito, muito tempo? Jin fazia aulas de canto e de dramatização, queria muito ser um ator e com certeza conseguiria bons papéis, com aquele rosto lindo de capa de revista. A escola era enorme, tinha competições e apresentações durante o ano todo, mas a mais especial — para ele e para todos os outros — era o Festival de Chuseok.

Chuseok é a festa tradicional de agradecimento pela colheita, acontecia entre Setembro e Outubro e durava três dias.

Perto disso, os alunos se preparavam para apresentações em comemoração, Seokjin já tinha participado de duas delas e me arrastado para ver as duas. Era lindo, sim, mas era trabalhoso e só de pensar me dava um pouco de cansaço.

— Eu sei que precisa, Jinie. — Eu sorri antes de dar uma bela mordida no meu Double Cheese. — Mas também... Precisa do seu melhor amigo... Perto de você. E você... Não anda tendo tempo pra mim. — Reclamo de boca cheia.

Ele comeu uma folha de alface e pensou um pouco antes de responder. — Okay, é justo. Então, que tal uma maratona de jogos na minha casa hoje à noite? Faz séculos que a gente não joga Worms!

— Faz mesmo. Você vai perder feio!

— Vou nada. — Ele rebateu, gesticulando com a colherzinha que mexeu o suco. — Você que vai, você é péssimo jogando Worms, é uma ofensa com o clássico!

— E eu sei lá calcular força com atrito de vento? — Reclamei, brincando com o canudo do copo de refrigerante. — Mas eu topo. Quer bater uma aposta?

— Quero. Vou pensar no meu prêmio. — Ele deu um sorriso que eu me arrependeria em algumas horas.

***

Terminamos de comer, o Shopping estava se esvaziando aos poucos, mas ainda não era bem uma hora da tarde. Jin pediu companhia até a academia e eu não tinha nada melhor para fazer mesmo, então, fui. Eu só entrava depois das duas no trabalho, ajudando meu pai na loja de instrumentos musicais.

Eu não tinha pensado em uma faculdade, ou escola, especializada depois que eu me formei, porque eu gostava de tocar e fazia isso de vez em quando em algum barzinho da cidade, por diversão e acabava ganhando uns trocados a mais do que meu pai me pagava, além de eu poder ficar escrevendo letras de rap o dia todo.

Acompanhei Jin até a entrada do local, à frente tinha um pé-direito alto, coisa de três andares e tinha algumas janelas espelhadas; a entrada era um portão gradeado com um porteiro de meia idade, sorrindo para quem entrava — e só entrava quem passava o cartão prateado pela catraca da mesma cor.

O prédio de um amarelo pálido era tão lindo que eu já tinha parado ali só pra tirar algumas fotos, mas nunca tinha entrado.

— Entregue. — Eu disse, sem olhar para ele, estava novamente babando por aquele lugar.

— Por que não entra comigo e conhece a escola?

— E o que eu vou fazer aí?

— Bom, você gosta de dançar e de cantar rap, podia pelo menos tentar alguma coisa, não são formados só bailarinos clássicos aqui.

Eu ri do rapaz. — E eu vou fazer o que aqui? — perguntei, novamente.

— Dança Contemporânea. — ele abriu um sorriso maior do que o rosto.

Segurei a risada o quanto pude, mas não consegui muito. Depois de alguns segundos, gargalhava de ter que segurar a minha barriga enquanto me abaixava no chão.

— Tá louco, Seokjin? Bateu a cabeça, é? Eu não vou fazer dança contemporânea na melhor academia da cidade não sabendo sequer dar dois passos pro lado sem tropeçar no meu pé!

— Para com isso, você dança bem, sim. Eu já vi.

— Não foi uma dança que você viu, era apenas eu tendo um ataque com o meu irmão. Nem vem com essa, eu não vou fazer aula aí.

Jin fez uma carinha triste, eu odiava as carinhas tristes dele porque eu sempre acabava cedendo. Mas depois de olhar por alguns segundos a entrada do local, se decidindo se entrava de vez, ou não, ele olhou para mim com olhos brilhantes de quem tinha acabado de planejar algo muito perverso.

— Eu já sei o que eu quero apostar com você hoje à noite, Yoongie!

Céus, o que era agora?

— Diz... — Apesar de eu não estar tão certo assim se queria saber.

— Se eu ganhar, eu vou matricular você em dança contemporânea e você vai fazer o primeiro mês. Se não gostar, você sai, mas se gostar, continua. O que acha?

Encarei o rapaz que falava sério demais para que eu voltasse a cair na gargalhada; ele realmente queria que eu fizesse alguma coisa da minha vida, mas... Dança? Sério?

— Você nunca vai me vencer.

— Então, você não precisa ter medo de apostar comigo, certo? — Ele sorriu, era um maldito filho da puta por saber exatamente como me encurralar.

— Feito, apostado, então. — Estendi minha mão para ele que aceitou sorrindo.

— Tenho que ir, Yoongie. Então, eu te vejo mais tarde, na minha casa. Leva pipoca.

— Quero chocolate. — Eu ditei, enquanto me afastava aos pouquinhos e ele entrava no local com seu cartão prateado.

— Feito. — Ele sorriu e acenou com a mão.

Lá dentro da minha consciência, bem no fundo dela, eu sabia que não devia ter feito essa aposta.

 

POV JIMIN

Estava andando pelo corredor lotado da escola, meio dormindo e meio acordado; tinha ido dormir tão tarde ensaiando que tinha perdido completamente a hora, e mesmo agora, depois de um cochilo de meia hora após o almoço, ainda estava com muito sono. Sinto um peso cair sobre mim, quase que literalmente, alguém se apoiando sobre meus ombros e, então, aqueles dentinhos de coelho apareceram em meu campo de visão.

— Kookie!

— Como vai, laranjinha, o Zumbi da A.D.A.?

— Aish. — Eu o empurrei, mas ele sequer saiu do lugar. — Para de zoar meu cabelo. Eu dormi pouco.

— Mas isso eu estou vendo. — Ele riu. — O que você ficou fazendo?

— Ensaiando.

— Mas você nem vai participar do festival. — Ele chegou na sala e me soltou, então, nos sentamos em nossos lugares habituais no fundo dela.

— Não, mas... eu estou preocupado comigo, com o meu corpo, com a minha dança. Não está do jeito que eu quero, Jungkook. Não está mesmo. — Eu suspirei.

— Não adianta eu te dizer como você dança bem, não é? Parece que você não me ouve.

— Eu aprecio seus elogios, Kookie, sério; mas é comigo.

Ele estendeu a mão espalmada para cima, suspirando com aquela cara de "tudo bem, mas conta comigo" e eu a segurei com a minha, agradecendo com o olhar, o mesmo que correu para a porta e um pequeno sorrisinho se formou em meus lábios. Taehyung.

— Olha, olha, quem chegou...

Jungkook, que estava sentado do meu lado, parecia ter congelado no lugar. Ele olhou lentamente para o lado, vendo o rapaz de cabelos castanhos com algumas pontas verdes sorrir para nós. Na mesma velocidade, ele se endireitou na carteira, enquanto o outro caminhava com o seu sorriso quadrado.

— Boa tarde. — Ele sorriu.

— Boa tarde, Tae. — Eu sorri para o rapaz.

— Boa. Tarde. — Kook deu uma pequena travada seguido de um engasgo quando o rapaz o olhou. Eu via coraçõezinhos saindo deles, só digo isso.

— Boa tarde, Jungkook. — Ele sorriu para o mais novo e se demorou um tantinho fazendo isso. — Como passaram de férias? Animados para o Festival?

— Passei treinando como sempre. — Eu dei de ombros. — E eu não participo do festival.

— Você ganhava fácil, Jiminie – Tae sorriu quadradinho para mim. — Então, porque não se inscreve?

— Talvez por isso. — eu sorri convencido.

— Ele está naquela bad com o próprio corpo de novo. — O garoto com cara de coelho me entregou.

— Aish, Jiminie... — Tae me repreendeu. — Eu quero participar do Festival e eu acho que vou na categoria de duplas.

Acho que o coraçãozinho do Jungkook acelerou, porque ele o olhou com tamanha atenção que eu achei que nem respirando ele estava.

— Ah, e... Você... Tem... Uma...

— Se eu tenho uma dupla? Ainda não... — Ele olhou para o chão e pude jurar que ele estava corando. — Mas... Você... Não quer ser minha dupla, Jungkook?

Lentamente, eu me virei para os dois e apoiei a mão no queixo, assistindo pertinho aquele pedido que o tímido Jeon desejou por… Quanto tempo mesmo eles se conheciam? Dois anos? Então, eram dois anos desejando uma aproximação que ele não tinha coragem pra fazer.

— E-eu? Claro. Claro que eu quero.

É claro que quer, Jungkook, eu esfrego sua cara no asfalto se você não aceitar!

— Então, nós podemos combinar! — Ele sorriu abertamente. — Me passa seu número?

— C-claro!

Aish, para de gaguejar, Jeon! Parei de prestar atenção nos dois e voltei o cérebro para a aula, tentando esquecer também minha frustração em não ter conseguido realizar aquele passo de dança.

 

POV YOONGI

Só faltava uma. Uma só. Eu tinha apenas uma minhoquinha estrategicamente colocada perto dele, mas não tão perto assim, para que ela explodisse e eu ganhasse aquele jogo. Nós estávamos empatados em três para cada um e eu estava em desespero porque, de tudo que podia dar errado, a minha poderia cair em um buraco a qualquer momento.

Jinie estava concentrado, analisava os dados do jogo como um agente da NASA e, então, veio a bomba. Dois a menos. Eu só tinha uma guerreira comigo, céus, como ia conseguir?

— Vai desistir? — ele sorriu. — Pensa bem, estudar lá não deve ser muito ruim pra você.

— Eu até posso ir, mas desistir, nunca na minha vida. — Eu respondi olhando a tela da TV onde a imagem do computador era jogada. Eu tinha uma chance e, obviamente, eu não acertei.

— Filho da puta! — eu gritei.

— Ah! Você perdeu! — Ele se levantou e começou a dançar de forma engraçada, com os braços para cima.

— Tá, tá, senta essa bunda aí que eu já entendi.

Rindo, ele voltou a se sentar do meu lado e pegou um punhado de salgadinho, levando na boca e mastigando sem pressa, enquanto eu olhava para aquelas minhoquinhas comemorando a vitória de Jin.

— Então... Vai se matricular, né?

— Tenho escolha?

— Tem... Sua cara ralada na rua da sua casa, ou ir lá e fazer a matrícula.

Pensei um pouquinho, juro. Meu rosto era lindo demais para que ele ficasse ralado e, do jeito que Seokjin era, com certeza ele cumpriria.

— Que horas abre?

Ele largou os salgadinhos e me abraçou. — Oito.

— Muito cedo, chego às dez.

Ele riu e colocou o pote de sorvete lacrado do meu lado, me comprando para que não ficasse muito irritado com ele.

— Você vai adorar aquele lugar.

Uhum... Claro.

 

*X*X*X*X*X*

 

POV YOONGI

Por mais que eu estivesse com preguiça, me levantei e tomei um banho, coloquei uma roupa decente e fui para a tal escola. Na noite anterior, tinha conversado com meus pais que, é claro, estavam mais do que felizes em me enfiar naquela escola, já que há muito eu não tinha escolhido nada para fazer da vida.

Entrei no prédio e o senhor que sempre cumprimentava o Jin me cumprimentou com um bom dia. Que simpático. Assim que entrei no prédio propriamente dito, fui na recepção — ou quase uma — e conversei com uma mulher alta com o cabelo preso em um coque elegante.

Tudo ali era elegante.

Fiz minha matrícula, afinal, e recebi todas as recomendações; os horários, as matérias, os materiais, até mesmo roupas e sapatos — e a falta deles também — para cada coisa. E era muita coisa, eu tinha apenas um dia para providenciar tudo aquilo.

Já passei em uma papelaria e comprei o que precisava, junto com uma mochila e joguei tudo dentro, mas a roupa foi mais complicada. Aquele negócio colava e era tão estranho, eu me sentia sem roupas.

— Tem certeza que é isso que eles usam? — perguntei para a vendedora que me indicaram ser a licenciada da academia.

— Sim, tenho, essa é a roupa padrão.

— Aigoo, pelo amor de Deus, me diz que eu posso usar outra coisa.

Ela riu do meu desespero. — Você pode usar qualquer roupa que te deixe à vontade para se mover, essas que você está vestindo agora são para eventos específicos.

— Graças! — Eu respirei aliviado e ela riu novamente. — Eu posso usar o que, então?

— Qualquer roupa esportiva. — Ela me puxou para outra sessão, realmente bem mais interessante do que a primeira.

Comprei algumas roupas, já que provavelmente eu não ia poder aparecer de jeans; depois de tudo comprado e a tarde inteira andando para a rua, voltei para casa, mostrei as novidades para meus pais e Jin — que vivia enfiado lá — e eles pareceram animados. Até mais que eu. Agora, só precisava coragem para acordar cedo e ir, porque, detalhe, era integral.

 

POV JIMIN

Estava andando pelo corredor com a mochila apenas em um dos ombros, esfregando o olho direito que teimava em me incomodar.

Entrei na sala de aula sem me importar muito com quem já estava nela e fui direto para um dos cantos, deixei a minha bolsa em um dos nichos vazios e fui até um local mais aberto, ainda que não fosse o meio do estúdio de dança e comecei a me alongar; braços, pernas, coluna. Me estiquei sentindo os músculos e o corpo latejarem um pouquinho, mas era assim mesmo, já que eu me exercitava um pouco mais do que eu devia.

Algumas pessoas foram chegando e eu terminei minha série e me sentei no chão, as pernas cruzadas nos tornozelos, os braços apoiados nas coxas. Corri meus olhos pelo local e foi aí que eu o vi. Do outro lado de onde eu estava sentado, encostado na parede com fones de ouvidos tão brancos quanto a sua pele pálida, o rapaz que tinha uma touca na cabeça escondendo um pouco dos fios que me pareciam verdes, me olhava com os lábios entreabertos, rosados e não muito finos.

Era um aluno? Nunca o tinha visto ali, com certeza lembraria do seu rosto; ao ser pego me olhando, ele desviou e quase sorriu de lado, olhando para qualquer coisa enquanto os outros alunos e o professor chegavam.

— Céus, que atraso. Me desculpa. — Jungkook chegou perto de mim e se jogou do meu lado, mas eu não tinha ideia que ele tinha sequer entrado por aquela porta.

— Ahn? Ah... T-tudo bem.

Desviei o olhar, agora eu que encarava descaradamente o rapaz que estava ali, com uma calça de moletom preta com alguns riscos em branco e uma camiseta branca, deixando-o mais pálido ainda.

— Você gaguejando, Park Jimin? O que você estava...

Ele se interrompeu e eu o olhei, é claro que ele tinha batido os olhos no outro e agora sorria de lado, entendendo perfeitamente.

— Aluno novo?

— Eu nunca vi aqui. — Voltei a observa-lo e logo voltei minha atenção para o professor que reunia as pessoas no centro da sala.

— Bom dia, alunos. — ele sorriu. — Nós temos um novo aluno que se matriculou ontem. Todos deem as boas-vindas a Min Yoongi, nosso mais novo colega de sala.

Ouvimos murmúrios enquanto ele vinha até o professor e nos olhava, correndo os olhos escuros por todos nós e parando novamente em mim. Senti um choque passar pelo meu corpo, um arrepio que eu não sabia ao certo explicar, só sabia que nunca tinha sentido isso.

— Pode contar um pouco sobre você, Min?

— Bom... Meu nome é Min Yoongi, sou de Busan, moro com meus pais em um bairro próximo.

A voz dele era tão calma e clara que prendeu completamente meus sentidos e até mesmo que Kookie me disse "tá escorrendo baba aqui", eu sequer o olhei para espantá-lo com a mão.

— O que gosta de fazer, Yoongi? — o professor perguntou.

— Gosto de ouvir música, de escrever, tocar piano e dançar. Mas eu não faço isso como vocês aqui. Eu só... Gosto.

— Freestyle?

— Nem isso, senhor. Eu gosto de dançar por diversão, com meus amigos, imitando coreografias de grupos, nada de mais.

— Por que veio fazer dança contemporânea no A.D.A?

Ele olhou para o professor e sorriu. — Curiosidade.

Eu tomei um tiro bem no meio da cara com aquele sorriso.

— Gostaria de mostrar um pouco da sua dança?

— Tudo bem. — Ele deu de ombros.

O professor colocou uma música mais calma e ele torceu o nariz, olhando para ele até que ele trocou por uma música mais animada. Yoongi começou a dançar, e era um jeito... Único.

Os movimentos eram mais curtos do que tecnicamente deveriam ser, menos suaves do que deveriam e um tantinho engraçados. Melhor, graciosos. Sim, ele era gracioso de uma forma diferente de todos ali, porque dançava fora de todos os padrões engessados que aprendemos naquela escola. Ele terminou com um dab.

O professor e alguns alunos riram, inclusive Jungkook, mas eu estava prestando toda atenção do mundo em cada timbre do rapaz e em cada movimento dele e não consegui rir, apenas um sorriso, talvez. O corpo não era muito musculoso, ele chegava a ser mais magro do que eu, por exemplo, e era isso que trazia tanta leveza, mesmo que parte dos movimentos tenham sido um tanto sexy para mim.

Ele se sentou e o professor começou a falar qualquer coisa, mas eu não prestava muita atenção, apenas deixava minha mente vagar e ela não estava indo para um caminho muito são nesse momento. Coisas como o corpo dele sem aquela camiseta.

Meia aula já tinha se passado e o professor não parava de falar. Foi nesse pequeno intervalo de tempo que eu quase dormi com tudo aquilo que ouvi meu nome e por reflexo me levantei. Ele pediu que eu improvisasse, porque ele adorava que eu improvisasse; na verdade, ele gostava de me fazer passar vergonha e sempre me chamava na frente dos alunos para que eu fizesse alguma coisa.

— Não pode ser o Jungkook?

— Para de ser tão tímido, Jimin. — O professor riu e colocou a música.

Certo, tudo que eu tinha que fazer era dançar e eu fazia isso desde os meus três anos, então, devia ser fácil, mesmo com aquele novo par de olhos me encarando.

Comecei a dançar no ritmo da música, sem me importar muito com o que fazer, apenas fechei os olhos e deixei que o meu corpo fosse levado pela música, era a melhor forma que eu tinha para relaxar, e estava precisando; o olhar de Min Yoongi me deixava tenso.

 

POV YOONGI

É feio encarar as pessoas. Eu sei. Céus, eu sei. Mas não dava. Era impossível parar de olhar para ele. Os cabelos laranja eram cheios e bonitos e ele passava a mão por eles, vez, ou outra, jogando os fios divididos no meio para trás, mas eles sempre voltavam, mas o meu foco, não. Tinha me perdido completamente da aula, principalmente depois que fiz a minha apresentação e não preocupava mais em ser chamado. Mas ele foi.

Park Jimin, como ele foi chamado para dançar. Tentou fugir, talvez por ser tímido, mas eu estava enganado sobre isso e descobri no exato momento que ele fechou os olhos e se deixou levar pela música — levou meu ar junto. As coxas grossas e torneadas estavam bem visíveis na calça apertada e escura do rapaz e a camiseta larga, também escura, subia levemente enquanto ele dançava, o que mostrava um pouquinho do corpo perfeito de Jimin.

Eu precisava parar de prestar tanta atenção.

Ele terminou e eu segurei firme minhas mãos para não aplaudir freneticamente, mas o professor mesmo puxou as palmas e eu acompanhei, fazendo as minhas soar mais animadas do que as dos outros alunos e o relance que Jimin olhou para mim, sorrindo, me fez — de novo — ficar sem ar. Seus olhos se fecharam quando ele sorriu, um eyesmile tão fofo que eu — que sempre me irritava com Jin fazendo aegyo — sorri junto.

Ele se sentou e o professor continuou a aula normalmente; depois de um tempo, ele passou alguns passos de dança e pediu que fizéssemos, então, eu os acompanhei da melhor forma que podia, mas depois de ter visto Jimin dançar, eu sabia que precisaria de muito treino pra chegar sequer perto dele.

Quando a aula acabou, eu juntei o material, queria conversar com aquele rapaz, mas um garoto com cara de coelhinho por conta dos seus dentes o abraçou e elogiou sua dança, o que me fez afastar deles. Péssima ideia. Senti alguém me puxar para trás e três garotos maiores do que eu me impediram de continuar. Um deles era loiro e alto, o outro era loiro e mais baixo e o terceiro era da mesma altura do mais baixo, só que de cabelos escuros, e os três vestiam roupas esportivas, com as suas mochilas caras.

— Olha só... Um novo brinquedinho, pessoal. — disse o loiro mais alto.

— Da onde você veio não tinha sol? — perguntou o outro, de cabelos escuros e mais baixo.

— Claro que não, não está vendo que ele nem cresceu? — O alto respondeu, segurando meu braço e eu bufei. Justo no primeiro dia?

— Irritadinho, Yoongi? De onde você tirou aquela dancinha, hein? Aprendeu num circo?

— Sério? — eu perguntei. — Você tem cinco anos? Dois?

Ele me empurrou contra a parede, mas eu sequer desviei meus olhos dele.

— Algum problema aqui? — ouvi a voz de Jimin atrás do rapaz. — Sehyun?

O rapaz alto e loiro respondeu, então, o nome dele era Sehyun.

— Esse moleque... — Ele apontou para mim. – por que ele está aqui? Ele nem sabe dançar!

— Está para aprender, como nós todos. — disse o rapaz mais alto que Jimin, com cara de coelho.

— Aprender? Aprender?! Nem nascendo de novo. — Ele me olhou com desdém e eu o encarei, cerrando os olhos.

— Aprender, sim. Ele é bom. — Jimin se pronunciou, mas era evidente que eu não era.

— Vai proteger o novato, Jimin? — O rapaz encarou o ruivo, mas ele sequer se deu o trabalho de olhar muito tempo para ele.

— Eu? Não, ele sabe se defender, só que eu estou esperando o Yoongi para sair daqui e você está nos atrasando.

Sehyun fechou a cara e me olhou com raiva.

— Não vai sobreviver uma semana aqui.

— Quer apostar?

Rosnando, o rapaz saiu e me deixou ali com uma camiseta amassada e os dois rapazes do meu lado, bufando.

— Você está bem? — O rapaz moreno me perguntou. — Jeon Jungkook, prazer em te conhecer. — Ele estendeu a mão para mim e eu aceitei.

— Min Yoongi. Estou, é só um idiota irritado com alguma coisa.

— Parece que ele não foi com a sua cara. — disse Jimin, um tanto sério demais e também me estendeu a mão. — Jimin.

— Yoongi. Em todo caso, obrigado por terem vindo.

— Jimin tem um problema com esse Sehyun desde que ele entrou aqui, é claro que ele viria em seu socorro. — explicou Jungkook, enquanto pegava a mochila e por reflexo eu caminhei junto com eles.

— Ele te importunou também?

— Ele sempre me importuna, sempre vem me criticar, ou me irritar, com minha altura e essas coisas.

— Jimin odeia que falem da sua altura. — Jungkook disse em tom de confidência.

— Só quero paz, tá bem? — Ele olhou o amigo e fez uma careta.

— Eu sei. — Ele riu. — Minha aula é do outro lado, eu vou nessa. Até mais, Yoongi. — Ele se despediu de mim e bateu de leve no ombro do rapaz, deixando apenas nós dois no corredor.

— Por que você veio estudar aqui, Yoongi? Ninguém tem curiosidade de fazer dança assim, do nada.

— Perdi a aposta com meu melhor amigo e tive que me matricular.

Ele me olhou por alguns segundos, incrédulo antes de começar a rir, primeiro timidamente, depois alto e com as mãos, que eu notei serem pequenas, sobre os lábios cheinhos.

— Que foi?

— Você apostando uma coisa dessas. — Ele respondeu ainda risonho. E ele ficava lindo assim. — Não pode fazer dança por uma aposta, Yoongi.

— É claro que posso.

— Não, não pode. Se você não gostar realmente disso aqui... Você não aguenta a pressão. Você não tem ideia de como pode ser um inferno estudar no A.D.A.

— Quer apostar comigo que eu consigo? — Eu sorri para ele e vi seus olhos passearem pelo meu rosto.

— E se eu quiser?

— Apostado. — Sorrio e tudo que ele fez foi sorrir de volta e, mesmo assim, senti o coração aquecido com isso.

 

UMA SEMANA DEPOIS

 

POV YOONGI

Inferno? Eu queria ir para lá, parecia mais tranquilo do que estudar no A.D.A. e eu me arrependi de duvidar do Jimin.

Algumas aulas eram com ele, o que me fazia gostar de ir, outras, eu estava sozinho e chegava a me desesperar, porque, como eu já tinha noção desde o começo, eu não era bom como eles.

Estava tendo dificuldades, meu corpo doía e eu senti a necessidade de começar a me exercitar — com pesos mesmo — para que meu corpo aguentasse melhor tudo que eu fazia. Chegava em casa exausto e apenas tomava banho e dormia. E o mais surreal nisso tudo, era que eu estava gostando.

Gostando não só de dançar, que nessa semana acabou se tornando um escape do estresse que sofria com as outras matérias, mas também da escola. O lugar era enorme e as aulas extras que eu podia participar eram inúmeras — uma apostila delas. Me aproximei de Jimin nessa semana com a velha desculpa de "estou perdido, me ajuda?" e ele sempre me ajudava com um sorriso no rosto.

Infelizmente a semana passou rápido e a última aula da sexta tinha chegado. Já era de tardezinha e estávamos naquela mesma sala da segunda-feira, e quando o sinal soou, é claro, aquele rapaz veio me encher o saco. Sehyun. Queria estourar a cara dele.

— Foi bom te ver essa semana, Yoongi-ah. — Ele disse apenas para me irritar.

— Te vejo na segunda, Sehyun-ah. — respondi, no mesmo tom de deboche.

Peguei minha mochila e esperei os outros alunos saírem da sala enquanto Jimin conversava com o rapaz que eu conheci como Taehyung. Ele e Jungkook estavam em um projeto e precisavam da ajuda de Jimin.

Vinte minutos depois, estávamos os dois saindo da escola, nossas casas eram no mesmo bairro e voltávamos juntos desde quarta-feira, conversando. Por pura falta de sorte, tinha uma pedra chamada Sehyun no nosso caminho.

— Eu acho... Que você não entendeu que não queremos você no A.D.A. — Ele disse, ladeado pelos seus "seguranças".

— Só me deixa, Sehyun, que implicância. — Eu pedi, evitando briga, mas ele não era da mesma opinião.

— Sai daquele colégio, Yoongi, antes que você manche o nome da nossa escola com sua dancinha escrota.

— Eu danço melhor que você.

Ele riu de forma debochada e eu quis socá-lo.

— Ah é? Aposta isso?

— Aposto. — disse em tom firme. — Eu ganho de você de olhos fechados.

— Então, cai dentro, tampinha. — Ele deu um passo pra frente e eu também, mas senti o braço de Jimin sobre minha barriga, me afastando.

— Vamos resolver isso de forma civilizada. No Festival. — Ele cortou qualquer coisa que eu pudesse querer dizer.

Sehyun riu alto. — Eu te venço naquilo sem sequer me esforçar.

— Ótimo, então, vão ser dois contra três. — Jimin disse e se colocou do meu lado, quase na minha frente. — Eu e Yoongi contra vocês três.

— Não me faça rir, Jimin, você nunca entrou nesse festival e agora vai querer entrar com ele? Por causa dele?

— Exatamente. Eu vou entrar nesse festival e a minha dupla é o Yoongi.

O rapaz bufou.

— Se nós ganharmos, ele sai. — O loiro alto apontou para mim.

— Se nós ganharmos, vocês param com tudo isso e nos deixam em paz.

— Feito. — Ele sorriu de lado e chamou os outros dois. — Temos insetos para esmagar, rapazes, vamos nessa.

E eles se afastaram. Jimin me olhou e se curvou um pouco, pedindo desculpas.

— Sinto muito, Yoongi, mas eu não pude deixar que eles te irritassem mais.

— Você estava falando do festival de Chuseok? — perguntei, voltando a andar pelo nosso caminho.

— Sim... É a festa de agradecimento pela colheita, todo ano tem.

— Eu já vi duas apresentações do Jin nesse festival, e é enorme!

— Sim. — Ele deu de ombros.

— E nós vamos participar? Tá sabendo que eu danço como um robô enferrujado, Jimin? Vai ser a maior vergonha que você já passou na vida.

— Como o Sehyun disse, eu nunca participei, porque eu nunca quis participar. Mas agora eu vou te ajudar nisso e, mesmo que a gente não vença todos os participantes, pelo menos eles nós vamos vencer.

— Isso é insano, Jimin, você consegue ver a diferença de nós dois dançando? Você é incrível, eu nunca vou chegar sequer perto.

Ele andou um pouquinho mais rápido e parou na minha frente.

— Está com medo? — Ele perguntou num sorriso que fez os olhos fecharem. Maldito.

— Não, é que... — Eu bufei e passei a mão pelos cabelos. — Eu não vou acompanhar você.

— Eu posso te ajudar. Se quiser. E a gente pode ensaiar juntos depois das aulas, a escola fica aberta até tarde todos os dias e nos sábados.

Meu coração deu um pequeno salto ao imaginar todo o tempo que eu podia passar ao lado dele.

— Eu vou tomar muito o seu tempo...

— Estarei treinando. — Ele sorriu mais uma vez. — Eu quero fazer isso se você quiser fazer isso e vamos esfregar a cara daqueles três no asfalto.

Comecei a rir da animação com que o rapaz disse que ia esfregar a cara deles e, então, concordei. Eu não tinha muito o que fazer e estar com ele tinha se tornado, aos poucos, a melhor coisa que eu tinha dia. Que Jin não soubesse disso.

— Precisamos de uma música... — Ele disse, enquanto se contorcia para pegar uma caneta na mochila que levava. — Então, você me manda mensagem e nós escolhemos juntos, tudo bem?

Concordei com a cabeça enquanto ele anotava seu ID na minha mão com uma caneta azul clara; as suas eram quentinhas e os dedos um pouquinho gordinhos, o que me pareceu muito fofo. Depois de tentar como um louco não deixar aquele sorriso bobo muito tempo nos meus lábios, me despedi dele e segui para casa. Precisava contar o que tinha acontecido para o Jin.

 

POV JIMIN

— Tá, mas... Por que você aceitou entrar nessa competição e por que você aceitou ajudar o Min? — Jungkook tinha ido até a minha casa para me pedir ajuda com Taehyung e com a coreografia, mas o maldito não fez a inscrição para mim e para o Yoongi sem perguntar sobre.

— Que parte do "faça e não pergunte" você não entendeu, Kook? — Eu perguntei, me colocando ao lado dele que estava sentado na cadeira do meu computador no meu quarto, rodando de leve para os lados.

— A parte que eu implorei pro meu melhor amigo participar comigo por dois anos e não consegui e esse cara chega, assim, do nada e consegue. — Ele arqueou uma sobrancelha.

Suspirei. — Não sei, Jungkook... Eu só... Quis. Quis ficar perto, quis ajuda-lo com a sua dança e... Você mesmo disse que eu sou travado, quem sabe ele pode me ajudar?

O rapaz deu um sorriso de lado, mostrando parcialmente os dentinhos de coelho. — Você está gostando dele.

— Não diz besteiras, Jungkook. — eu me afastei e me joguei na cama.

— Está sim e está bobo com isso, com o quanto ele é diferente de você e você quer tê-lo perto, você tem interesse.

— Acho que ele vai ser um bom dançarino. — Dei de ombros, tentando não concordar freneticamente com ele. Olhei o teto, estendendo os braços ao lado da minha cabeça.

— Certo, certo...

— Vamos falar de você e Taehyung. Esse beijo é pra esse ano ainda? — Eu me levantei para vê-lo.

O rapaz ficou sem graça e escondeu o rosto nas mãos finas. — Eu quero, mas eu não sei o que fazer.

— Chega, puxa e beija. Melhor forma.

— Lembre-se disso quando sentir a mesma vontade com o Yoongi. — Ele disse num sorriso safado.

Eu fiz meu melhor para ignorar isso e ignorar que eu queria concordar com ele.

 

Já tinha jantado e tomado um banho, estava começando a duvidar que Yoongi fosse me mandar mensagem quando o Kakao fez o barulhinho e eu fui louco ver quem era. Meu coração deu um salto com a foto do rapaz, pálido e de sorriso lindo com aquele cabelo esverdeado; era apenas um "Olá, Jimin.", mas foi uma pequena festa no meu estômago.

Yoongi: Olá, Jimin.

Jimin: Olá, Yoongi! Pensei que tinha apagado meu ID -.-

Yoongi: Eu salvei assim que cheguei em casa pra não correr esse risco. Eu quis procurar uma música primeiro e fazer meus deveres para não ficar dividindo a atenção.

Meu coração deu um salto; ele não queria dividir sua atenção enquanto falava comigo. Isso, se ilude mais, Jimin.

Jimin: Que fofo... Quero dizer, fez muito bem. Tem uma música?

Yoongi: enviou um arquivo.

Yoongi: Eu não tenho ideias de coreografia, então... acho que a parte difícil é sua. E a sua sugestão? Quero!

Abri o audio, eu conhecia aquela música e acabei rindo com ela. Booty man era bem a cara dele, uma batida rápida de um remix que provavelmente ele fazia a tarefa ouvindo, algo que contagia e gruda na mente. Eu era tão clássico e ele tão rap. Ia ser divertido.

Jimin: A minha é essa aqui.

Jimin: você enviou um arquivo.

Jimin: Não somos nada diferentes kkkkkkkkkk.

Ele demorou um pouquinho para responder, coisa de cinco minutos e eu imaginei que tivesse desistido de mim.

Yoongi: Tenho um amigo que é produtor, se você me disser que consegue fazer coreografia para Booty man e Thinking Out Loud, ele faz o remix.

Wow, rápido assim?

Jimin: Eu faço!

Yoongi: Ok dado, até domingo eu tenho o arquivo e eu posso te ajudar com o que você precisar. Não é muito, mas eu ajudo.

Jimin: Feito!

Meu sorriso não podia ser maior.

 

UMA SEMANA E MEIA DEPOIS

POV YOONGI

— Já cansou? — Ouvi a voz de Jimin e abri os olhos.

Eu tinha me jogado no chão da sala de ensaio, meu corpo inteiro doía e estava ensopado em suor, enquanto Jimin tinha apenas alguns pontos mais escuros da camiseta que evidenciava que ele também suava e os cabelos naquele laranja quente um pouco colados na testa, mais escuros por estarem quase completamente molhados também — como os meus.

— Não zoa... Um pobre mortal. — Eu disse puxando o fôlego.

Ouvi a risada dele e depois fui içado para cima; me sentei no chão e ele se sentou ao meu lado, me entregando uma garrafinha de água.

— Você está indo bem. — Ele sorriu.

— Eu não tenho técnica nenhuma comparado com você, Jimin!

Ele riu baixinho. — Por que você sempre diz isso? Por que sempre me elogia?

Bebi um pouco de água, olhando para ele pelo canto do olho. — Eu nunca elogiei você.

Jimin me olhou com um sorriso, mas era evidente a sua dúvida a respeito do que eu tinha falado. Eu vivia dizendo que a sua dança era boa, mas eu não via como elogios e sim como constatações.

— É fofa a forma como seus olhos fecham quando você sorri e o seu sorriso é bonito, me faz querer sorrir junto. Isso é um elogio. — Eu ri, ele ficou vermelho como os cabelos.

— Quando me deixa sem graça é um elogio?

— Quando é um detalhe que precisa de tempo para vê-lo, é um elogio. — Entreguei a garrafinha com um sorriso e ele a pegou, olhando para qualquer coisa que não fosse eu e bebeu um pouquinho. — Acha que eu vou conseguir?

— Tenho certeza que sim. — Ele respondeu rapidamente. — Você tem tudo que precisa, mas precisa de treino também. Acha a coreografia boa? A gente pode mudar algumas coisas.

— Já que você disse isso... Eu quero mudar umas coisas sim. — Eu me levantei e ele me acompanhou. — Sabe aquela parte, da música do Ed Sheeran, que faz isso, isso e isso? — Eu mostrei o passo clássico que eu não conseguia fazer. — Que tal a gente fazer só isso aqui. — mostrei um passo mais simples, com menos braços. — Ou, se você quiser, eu posso tentar um salto, mas não vai ser bonito igual o seu, vai ser tipo isso aqui. — dei o salto, e eu sabia que era todo desengonçado.

- É um passo tão clássico, como você não consegue?

Ele deu um espaço e executou perfeitamente.

— Da mesma forma que você não consegue fazer isso aqui. — eu me abaixei um pouquinho e deixei a mão mais alta, em direção ao meu joelho e a movimentei, levando o joelho junto como se a mão executasse o movimento. — É absurdo, Jimin!

— Aigoo! — Ele disse, esperava outra frase, mas ele apenas começou a rir, rendido. — Você é muito leve dançando. Eu queria isso.

— Você? Que parece uma pluma?

— Eu. — Ele disse num sorriso, olhando para o enorme espelho que nos mostrava naquela bagunça de cabelos e suor que tinha se tornado o ensaio. — Eu não sei esse passo como vários outros, eu não danço break como eu queria, eu não conheço os ritmos que eu queria conhecer. Eu sou a versão clássica da dança, a versão dos meus pais, a versão que eu tenho que ser. E você... é o seu sentimento por ela.

Ele suspirou e continuou olhando o seu reflexo.

— Não é porque você dança perfeitamente coreografado que você passa o que sente. Você dança para outra pessoa, Jimin, esperando que essa outra pessoa aprove. Eu sei que as pessoas não vão aprovar minha forma de dançar, porque ela não é técnica. Então, eu danço pra mim. Se eu estou feliz, coloco uma música feliz e danço. Se estou triste, coloco uma lenta e danço também. Mas se eu estou com raiva... Eu também deixo que saia. Você tem que colocar seus sentimentos para fora do corpo, sem se preocupar se vai ser aceito ou não.

— Isso não vai me levar pra Broadway. — Ele disse rindo.

— Hey, é exatamente isso que vai te levar pra Broadway. Quantas pessoas você conhece lá que fazem esse passinho de abrir garrafa? — Eu fiz o passinho que encerrava booty man e ele caiu na risada. — Você vai ser único.

— Você não existe, sabia?

— Eu existo. — Sorri. — Vai, deixa a sua emoção sair independente se vai ser tecnicamente certo, ou não, e vamos quebrar aquele lugar. — Eu fui até o som e o liguei novamente. — De novo, do começo.

 

POV JIMIN

Duas semanas se passaram desde aquele dia e as coisas só se tornaram mais fáceis; conversar com Yoongi era fácil, leve, tranquilo e era quase um vício. Ficávamos conversando até tarde por mensagens sobre qualquer coisa, apenas nos conhecendo e o assunto não acabava, tanto que sempre um de nós dormia com o celular na mão e acordava com mensagens de risada do outro. No fim, ele sempre aguentava ficar mais tempo que eu e acostumei a acordar com suas mensagens de bom dia.

Treinávamos todo o tempo que tínhamos, isso fazia com que passássemos maior parte do tempo juntos e, assim, juntos, passamos por provocações de Sehyun e seus rapazes, por outras pessoas fazendo piadinhas sobre nós e até mesmo Jungkook e Taehyung que gostava de nos chamar de casal Yoonmin.

"Eu gosto de Yoonmin." Ele disse uma vez, o que fez meu coração palpitar. Eu estava apaixonado e aconteceu aos pouquinhos, sem sequer que eu pudesse notar e me parar antes disso. A coreografia foi criando corpo, peso e agora tínhamos algo que passava do hip-hop para o contemporâneo e de volta ao hip-hop com a mesma leveza de transição que Yoongi fazia na vida.

Em um desses jantares que fazíamos juntos — porque começamos a almoçar e a jantar juntos, voltar para casa juntos e até trocamos apelidos bobos na nossa convivência — ele me chamou para visitar um lugar em específico.

— Você vai gostar de lá. — ele sorriu para mim e me pegou pelo braço, puxando em direção contrária a que sempre íamos.

O caminho foi tranquilo e nem era tão longe, conversamos sobre o festival que já estava perto e eu estava ficando nervoso com isso. Quando chegamos, pude ouvir o som, pude ouvir gritos também e muitas pessoas animadas com isso.

— Bem-vindo ao Break. — Ele me disse e sorriu. — Eu sempre venho aqui, era o único lugar que eu dançava antes de entrar na A.D.A. e... Eu quero te apresentar alguém.

Aceitei com um sorriso porque estava muito curioso para conhecer alguém que fosse do seu círculo de amizade; ele conhecia Jungkook, meu melhor amigo desde muito tempo, então, eu queria conhecer alguém também. O lugar animado estava cheio, mas foi com uma salva de palmas que minha atenção se voltou para o lado certo. Em um dos grupos de pessoas, um rapaz de cabelos escuros recebia calorosas palmas depois de não sei o que. Ele sorriu ao ver Yoongi e veio até nós.

— Yoongi-ah! Sabia que viria. É ele?

Ele? Então ele tinha falado de mim?

— Sim, é ele. Minie — como ele começou a me chamar porque sabia que me irritava. —, este é Jung Hoseok. Hobi, esse é Park Jimin, meu amigo, meu parceiro de dança.

Ele deu um sorriso radiante e eu não pude deixar de sorrir junto. Apertei a mão estendida e ele ainda ficou alguns segundos olhando para o meu rosto.

— É um prazer ter você aqui, Jimin. Veio ver a arte da dança de rua?

— Claro! — Mas na verdade eu nem sabia que eu estava ali para isso.

— Então, Yoongi vai dançar comigo e você pode nos assistir do melhor lugar da casa. — Ele sorriu mais uma vez.

Fui puxado para a frente de um palco baixo, tinha menos de quarenta centímetros de altura e habilmente os dois subiram ali. As pessoas começaram a se aglomerar quando eles começaram a conversar qualquer coisa e uma garota veio com o som, colocou alguma música que eu não conhecia e aumentou o volume.

Quando eles começaram a dançar, eu não sabia para quem olhar. Yoongi tinha melhorado muito dançando comigo e Hoseok era perfeito em tudo que fazia, mesmo que ele, assim como Yoongi, não respondesse à uma regra de braços, pernas e ângulos, mas eram lindos de se ver, completamente livres e rindo um do outro.

Eles sorriam, como se amassem cada momento que fizessem aquilo, como se a vida deles estivessem completas naquele momento. Então, tudo que o rapaz de sorriso doce veio me dizendo todo aquele tempo sobre sorrir e se deixar levar, fez sentido. Eu havia entendido.

 

DUAS SEMANAS E MEIA DEPOIS

POV YOONGI

 

Já fazia quase um mês que eu e Jimin estávamos dançando juntos para a apresentação que estava cada vez mais perto. Ele estava mais solto, mais calmo, mesmo que ainda ficasse apreensivo quando falava sobre ela; seus movimentos com o tempo se tornaram mais abertos e mais calmos, ele não se preocupava tanto com estar tecnicamente certo, o que o fez dançar de forma... Única. E era exatamente isso que eu estava tentando fazer com ele.

Naquela tarde, tínhamos uma apresentação para mostrar aos professores que não estávamos fazendo nada pornográfico, ou ilegal; ele estava nervoso e eu mais ainda.

— Hey, hey, calma... Tá bem? — Eu tentei confortá-lo segurando suas mãos e atraindo sua atenção para mim. — Está tudo bem, Minie.

— Suga-ah. — Ele me chamou baixinho, apreensivo, com medo.

O apelido tinha surgido despretensiosamente, quando ele disse que meu sorriso era doce como açúcar e eu tinha achado fofo.

— Vai dar tudo certo. Vamos fazer nosso melhor, só isso, tá bem?

Ele concordou e com muito custo para conseguir se acalmar, nós caminhamos até o centro do palco, lado à lado; os professores estavam lá em baixo e notavam ainda algo da equipe anterior. Sorri tentando acalmar o rapaz e ele sorriu de volta, respirando fundo.

— Min Yoongi e Park Jimin... Comecem.

Recebemos o “OK” e nos viramos de costas. A música começou e eu fechei os olhos, estava tão acostumado com ela e com os passos que não precisava olhar; um dois, um dois, senti a mão de Jimin se encaixar perfeitamente com a minha enquanto ele compensava meu peso, puxando para o lado oposto que meu corpo se inclinava e dali eu puxá-lo com a força que demoramos duas semanas para calcular, de forma que ele pudesse girar algumas vezes antes de nos jogarmos no chão e simularmos que estávamos sendo içados para cima; saltos de Jimin, perfeitos, enquanto eu fazia qualquer outra coisa no chão — porque eu não consegui fazer igual ou sequer aceitavelmente parecido. A música continuou e aos poucos foi falhando; olhei para Jimin e sorri, enquanto ele tentava me alcançar e algo invisível impedia.

A música mudou e nos viramos para frente, acompanhando os passos que tínhamos montado de booty man; a coreografia era um tanto engraçada e fez com que começássemos a rir e, assim, continuamos até terminar o remix. Ainda rindo, olhamos para os jurados que estavam um tanto boquiabertos.

— Ahn... Jimin... — Começou a mulher que era professora dele. — Você... Foi ótimo e tudo, mas... Você perdeu muita técnica, querido. Você não queria ser um bailarino contemporâneo? Não foi para isso que entrou aqui?

— Sim, professora. — Ele respondeu ainda rindo, tentando recuperar o fôlego.

— Então... Por que está se distanciando dele?

— Estou mais perto de fazer o que eu amo da forma que eu amo, senhora. Livre.

Ela fechou a cara e apenas esperou o outro professor falar.

— Eu gostei. Autêntico, engraçado, vibrante. Seus saltos, Jimin, foram perfeitos. Incríveis. Eu acho que vocês têm muitas chances, muitas mesmo.

— Sério, professor? — perguntei animado.

— Sim. — O terceiro respondeu. — Mas estão arriscando muito, muito mesmo. Vocês assumem os riscos?

— Assumimos. — dissemos juntos.

— Podem ir.

Mesmo que eu esperasse que Jimin não fosse aceitar fazer aquilo novamente depois que a professora disse que ele estava se afastando de seu sonho, eu fiquei feliz ao sentir o rapaz pular em minhas costas, gritando de felicidade e segurei suas coxas grossas, mantendo-o ali, e levando-o para fora enquanto suas mãozinhas seguravam-se perto do meu pescoço. Ao chegar no corredor, eu estava pronto para deixá-lo descer quando alguém esbarrou em nós com violência, nos derrubando no chão. No mesmo momento, meu cotovelo bateu com violência e eu não segurei um grito de dor, o mesmo ouvi de Jimin atrás de mim.

— Olhem por onde andam, casalzinho. — disse Sehyun, olhando para nós com desdém. — Não pensem que aquela apresentaçãozinha barata vai nos derrubar. Estamos muito melhores.

— Seu idiota! Você machucou a gente!

— Sério? Que pena. — Ele respondeu num sorriso.

Eu me levantei, mas meu braço estava dormente e eu não tinha forças nele, ainda bem que era o esquerdo, mas um gemido de dor de Jimin me fez voltar completamente minha atenção para ele. Seu pé estava machucado.

— O que... Eu vou estourar a cara daquele...

— Não, Suga! — Jimin me parou, segurando meu braço com força. — Foi só uma torção, eu estou bem.

— Mas, Minie...

— Deixa eles irem. Seu braço...

O cotovelo estava roxinho e eu sentia dor nele, mas nada estava pior do que ver o tornozelo do rapaz inchar. Segurei sua mão com a minha boa e o ajudei a se levantar, escorei seu peso até a enfermaria e lá fomos medicados. Nada muito complexo, uma torção e uma luxação pela pancada, em alguns dias estaríamos bem; esse era o esperado. Jimin me olhava com ar de culpa, mas foi proposital de Sehyun fazer isso. Mas nada, nada iria impedir nós dois de participar dessa competição.

 

POV JIMIN

A apresentação era em uma semana e eu ainda sentia meu tornozelo doer; Yoongi tinha uma tira de elástico bem presa no cotovelo que o auxiliava, e mesmo que estivesse com uma no pé, eu sentia dor ao fazer o salto e isso estava preocupando o rapaz. Eu não ia conseguir e precisava dizer isso pra ele agora.

— Suga... Eu não vou...

— Você vai, Minie. — Ele apenas sorriu. — Você vai porque eu estou aqui com você. E vou te ajudar.

Ele pegou uma garrafinha de água e veio até mim, esperou que eu bebesse antes de deixá-la em um canto.

— Eu vou sustentar você nos seus saltos.

— O que?! — olhei para ele incrédulo. — Seu braço...

— Não está doendo tanto e eu posso sustentar você. Qual é, olha o quanto você é magro, não deve sequer ter meu peso.

— É claro que eu tenho e tenho mais até. Isso é abs...

Antes mesmo que eu pudesse dizer que era absurdo, ele me ergueu do chão e girou comigo.

— Você pesa menos. Credo, você nem pesa! — Ele riu, seu rosto pertinho do meu.

— Tá, agora dá pra me soltar? — pedi mais baixo e ele fez, ainda rindo.

Meu coração tinha disparado e as mãos ficaram frias.

— E agora, acredita?

— Tá... Tudo bem, eu vou te ensinar como fazer isso.

E com aquele maldito sorriso bonito, ele aceitou. Céus, eu estava perdido.

 

DIA DO EVENTO

POV YOONGI

Jimin ia surtar a qualquer momento. A camisa branca de botões tinha alguns brilhos e era bem larga, como costumavam ser as de apresentações, o que fazia com que elas subissem um pouquinho e mostrassem partes do seu corpo enquanto dançava.

Eu quase tive um enfarto quando ele veio treinar com uma dessas. A calça parecia couro, como a minha, estava bem apertada em nós dois e a minha camisa era de um cinza bem escuro. Estávamos descalços, dava para ver o suporte que ele usava no tornozelo e, com sorte, não veriam o meu no cotovelo. Estávamos nos aquecendo e Jimin tremendo.

— Vai ficar tudo bem. — Eu disse.

— Tem mais de mil pessoas ali fora, Suga, mais de mil pessoas. Como você quer me fazer acreditar que vai ficar bem?

— Você se apresentou pra mais gente, que eu sei.

— Mas não valia a sua permanência na escola. — Ele disse rapidamente, se arrependendo logo depois.

Eu tinha me esquecido do porquê no processo, eu não lembrava mais que acima de tudo eu tinha que ganhar deles para continuar ali. Eu tinha mudado meu foco para ele e não importava mais nada, só agora que eu tinha tomado consciência disso.

— Minie... Não importa, tá bem?

— Como assim "não importa”? — Ele me olhou irritado.

— Se perdemos dele, o que eu acho difícil acontecer, eu vou bater de frente e não vai ser um moleque crescido que vai me fazer ficar longe de você, longe do A.D.A.. — Fui para perto dele e segurei suas mãos com as minhas. – Eu juro que não vou sair daqui, nem que eu tenha que fazer da vida deles um inferno.

Ele sorriu, um pouquinho mais confiante com tudo que eu disse enquanto eu apertava gentilmente suas mãos com as minhas. Mais uma vez durante aquela semana, eu controlava uma absurda vontade de beijar aqueles lábios cheinhos.

— Vamos conseguir, tá bem? — Eu repeti, enquanto ouvia nossos nomes serem chamados.

— Uhum...

— Confia em mim? Confia em mim com tudo que você tem, porque eu confio em você, completamente. É só isso que precisamos, certo?

— Certo.

Segurei sua mão com a minha, olhando em seus olhos castanhos e, mesmo quando Sehyun passou e disse qualquer coisa que eu fiz questão de não ouvir, eu não a soltei. Caminhamos assim para o centro do palco onde as pessoas olhavam com sorrisos e torcidas. Lá em baixo, Hoseok, meus pais, Jin com a sua roupa brilhante que já tinha se apresentado, os pais de Jimin, a irmã mais nova dele. Todos esperando. As luzes se apagaram e nós nos viramos de costas, ainda de mãos dadas; a luz fraquinha nos permitia ver um ao outro e somente isso.

— Suga. — chamou Jimin.

Antes que eu pudesse responder, ele se aproximou e selou nossos lábios por alguns segundos antes de se separar sussurrando boa sorte.

— Fique calmo. – sussurrei de volta.

Mas como eu mesmo ficaria calmo se Park Jimin tinha acabado de roubar um beijo meu? Um sorriso bobo brotou em meus lábios enquanto a música começava e ali ficou o tempo todo.

Um dois, um dois, puxei Jimin para mim ao invés de deixar que ele girasse para longe e segurei sua mão enquanto ele dava apenas dois giros, então, apoiei suas costas com firmeza e ele deu uma suave volta nele e se afastou, se jogando no chão. Ao invés de nos içarmos para cima, eu segurei sua mão e o puxei, dessa vez deixei que meu corpo encostasse no seu e ele sorriu.

Apoiei todos os saltos dele, mesmo que fosse apenas a sua volta ao chão e fizemos um que ele passava pelas minhas costas. A música fez aquela pausa, foi trocada e eu corri até perto do palco onde uma das meninas segurava dois bonés. Vesti um e o outro coloquei em Jimin enquanto ocupava a parte inicial que ele mais teve problemas chamando a plateia com os braços. O mais incrível? Todos se levantaram gritando.

O restante da coreografia não era tão complicada e ele conseguiu executar muito bem, apenas o seu último salto, uma estrela sem as mãos que eu tive que executar. Fiz com as mãos sim, não queria cair ali. Terminamos perto um do outro, abaixando os bonés e o lugar explodiu em aplausos. Tínhamos conseguido!

Abracei Jimin, girando-o várias vezes enquanto gritava e depois de deixá-lo no chão e agradecermos os aplausos, puxei o rapaz pela mão para trás do palco.

— Você foi incrível! Olha isso! – Ele elogiou.

Ainda dava para ouvir os gritos.

— Não, você foi incrível. Aqueles aplausos são seus. – Eu sorri ao olhar novamente para o lado do palco, de onde vinha toda a barulheira.

— São nossos. – Ele me corrigiu num sorriso, ainda ofegante.

— E você tem algo que me pertence.

Talvez ele perguntaria o que, mas eu segurei gentilmente sua nuca e o puxei, roubando de volta o selinho. Aprofundei o beijo de forma lenta, abraçando sua cintura com as mãos e o trazendo para mais perto.

— Hey, casal. – Taehyung apareceu gritando e nos fez separar o beijo com um sorriso um tanto sem graça.

— Oi, TaeTae. – Sorri.

— Vocês foram incríveis. Nada menos.

Sorri para ele e Jimin o abraçou. Jungkook veio logo depois, sorrindo abertamente.

— E o beijo? Sai esse ano? – perguntei para ele.

— Tae me beijou. Me puxou e roubou.

— Fui assaltado também... Mas eu roubei de volta.

Sorri para ele e puxei Jimin para perto do palco, que puxou Tae, que puxou Jungkook. Por fim estávamos todos ali, esperando, ansiosos.

— A última dupla se apresentou... – disse o MC. — Então vamos aos resultados. Em primeiro lugar... SanHee e Christian Jong.

Aplausos e mais aplausos para o casal que tinha tocado piano e violino. Realmente, foi maravilhoso e a música era tão complexa que eu mesmo não ousava tocar no piano. Não naquela velocidade que ele fez.

— Em segundo lugar... Sean, Shaw e Kinshasa Kong.

Os três haviam cantado Charlie Puth e foi lindo, tão afinado que relaxava o corpo ouvir algo tão bom.

— Em terceiro lugar... Jeon Jungkook e Kim Taehyung.

Gritamos até deixar os dois surdos, confesso. O casal pulou um no outro e eu pulei sobre eles, esquecendo completamente do braço que doía por estar apoiando o mais novo a todo momento, enquanto Jimin assoviava freneticamente para eles. O casal foi pegar o prêmio de terceiro lugar, eles não podiam estar mais felizes com isso; acho que o novo cantor preferido de Jungkook agora é Justin Bieber, porque se não fosse isso, talvez eles nunca estivessem próximos de verdade.

As demais colocações apareceram no telão; eu e Jimin ficamos em quinto e Sehyun, com seus colegas que dançaram BigBang, ficaram em décimos. Então... Nós ganhamos. Antes mesmo que pudéssemos comemorar, eles vieram até nós.

— Ora, ora... O passarinho está com a asa quebrada, Park? – Ele perguntou, se referindo ao pé que Jimin evitava colocar no chão quando estava parado.

— Sim. Você me machucou, mas mesmo com um dos meus pés em mau estado, eu tive o Yoongi que me apoiou. Você disse que eu estava sem uma asa... Ele era a minha enquanto eu estava lá.

Jimin se apoiou em mim e sorriu; eu abracei sua cintura, apoiando seu peso em mim para que o pé não se forçasse mais.

— Nós ganhamos, Sehyun. – Eu disse encarando o rapaz. – Só nos deixe em paz agora.

Ele se aproximou ameaçadoramente de nós e tocou meu peito com o dedo.

— A apresentação foi boa, baixinho. Vocês se saíram bem.

Eu parecia não ter ouvido direito, ou ter tomado um tapa bem dado no meio da cara, porque eu não acreditava no que tinha ouvido. O que? Ele estava elogiando?

— Vamos, rapazes. – Ele chamou os outros.

— Foi muito bom, Park. Melhoras pro seu pé.

— Melhoras pro seu braço, Yoongi.

Os outros disseram, enquanto se afastavam com Sehyun.

— Eu... Bati a cabeça também e não estou sabendo? – perguntou Jimin, olhando-os se afastarem.

— Acho que eu também... Bom, o importante é que eu ganhei o melhor prêmio da noite.

— Mas foi o Taekook que ganhou em terceiro lugar. – Ele respondeu um tanto inocente, o que me fez rir.

— E eu ganhei você.

Com um sorriso, desviei o olhar dos seus olhos para os seus lábios e naquela bagunça de pessoas comemorando e gritando, estávamos nós dois, abraçados e mergulhados no nosso mundo, com o beijo e o mundo inteiro no nosso ritmo.

— Preciso apostar mais coisas. – Eu disse num sorriso contra os lábios dele.

— Idiota. – Ele riu e me abraçou.

Afinal, tudo tinha começado com uma.