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História O Verdadeiro Mundo Pokémon - Fim PARTE 1 - Capítulo Bônus - Família, Amor


Escrita por: Ersiro

Notas do Autor


Mudanças de plano. Estive conversando com o mestre em criar arcos, @Chander, sobre a possibilidade de dividir a fic em partes. Ele me ajudou muito e chegamos numa conclusão: se for para acabar a primeira parte, que acabe com um bônus de Bernardo Baker, que é o protagonista do pedaço. E foi o que fiz.
Sim, vou explicar direito. Por enquanto, pretendo dividir a fic em três partes, a primeira se chama Primeiros Passos e termina aqui, neste mesmo capítulo. Ou seja, o próximo capitulo que postarei, inicia a parte dois (que ainda não tem um nome certo), que espero trazer um pouco mais de movimento pra cá!

E é isso. Neste capitulo, agradeço muitíssimo ao @Chander, assim também àqueles que me ajudaram (mesmo que respondendo a uma perguntinha que eu faço repentinamente para eles) @IAmAnyone, @Falconni, @FlashStrike, @Kitsube, @Anangeon. E também a todos os que continuam lendo e dando um retorno maravilhoso nos comentários, com criticas e elogios que estão me lapidando cada vez mais!

Obrigado e boa leitura! :'*

Capítulo 11 - Fim PARTE 1 - Capítulo Bônus - Família, Amor


Fanfic / Fanfiction O Verdadeiro Mundo Pokémon - Fim PARTE 1 - Capítulo Bônus - Família, Amor

VER A VILA DO ALTO era maravilhoso. As casas de madeira cobertas pela neve e a fumaça das lareiras escapando calmamente pela saída dos tubos de concreto no alto de cada uma, dava aquela boa sensação de saber onde estava: no lar.

No pico de uma das colinas cobertas de branco, a vista conseguia ser bem mais panorâmica e era ali que se encontravam. Estar nos ombros do pai era a melhor parte, pois assim conseguia ter uma visão ainda melhor de tudo ao redor.

Depois de ouvir uma boa história, era bom ver as árvores, colinas, o lago e lagoas congeladas, e as casas cobertas por uma brancura extenuante. A neve que não cessava de cair, batia na touca que usava e seu toque frio passava pelo pano, chegando à cabeça. O vento gelado conseguia ultrapassar as camadas de blusas que usava, mas não sentia frio. O calor que seu pai passava era bom o suficiente para não tremelicar.

- Então agora eu vou descer todo esse caminho... correndo! - exclamou Marcelo, pai de Bernardo. - Está preparado?!

- Sim! - conseguiu responder o garoto, entre os risos. - Vai, pai, eu não tenho medo!

- Então aperte os cintos - disse Marcelo. Bernardo segurou com força a cabeça do pai, quase tapando sua visão -, que lá vou eu!

E desceu na velocidade que podia, com a neve dificultando o caminhar e com o filho pendurado nos ombros. O garoto dava gargalhadas daquelas que contagiavam, e não foi de menos: Também começou a rir.

Quando chegou nos pés das colinas, com cuidado, fingiu tropeçar e com um "Uooou", caiu, com Bernardo indo junto, por estar grudado no pai. O garoto enterrou o rosto na neve e quando o retirou, a boca estava cheia dos flocos brancos. Bernardo olhou para o pai e com carinha de quem aprontou, voltou a rir.

Também rindo, Marcelo ajudou o filho a tirar aquele amontoado de neve da boca. Quando se levantaram para voltar para casa, algo no lago congelado chamou a atenção dos dois. Era vermelho e se debatia, parecendo desesperado.

- Um Magikarp! - murmurou o pai.

Bernardo olhou para o peixe e depois para o lago; não entendeu.

- Mas papai, como ele saiu se a água não tá mole? - quis saber, curioso.

- Não, sei - respondeu Marcelo igualmente surpreso.

Teve uma ideia e se virou para o filho, forçando a voz, mudando ela para um tom mais cômico:

- Ei, que tal se nós, Os Aventureiros, formos lá descobrir o que aconteceu?!

Os olhos do menino brilharam ao mesmo tempo em que gritou um "sim!" muito contagiante.

Ao se aproximarem, Marcelo observou que em um canto do lago, o gelo havia quebrado, dando lugar a um buraco que dava para as águas gélidas. Explicou para o filho, que provavelmente o Pokémon saltou da água, caiu na camada congelada e não conseguiu mais voltar. Valente, Bernardo confirmou com a cabeça, mostrando que era um aventureiro muito inteligente e que já tinha entendido a situação.

 

VOLTARAM PARA CASA com o Pokémon peixe, e a mãe, Eva, se admirou novamente pelo marido que sempre estava trazendo coisas diferentes para dentro de casa. Além de uma boa mão para as massas, era também um ótimo caçador.

Pegou o peixe e deu um beijinho na boca de Marcelo. Bem, então o almoço de hoje seria guisado se Magikarp.

Bernardo festejou a escolha do prato. Eva sorriu e apertou as bochechas do filho. Sabia que o garoto adorava peixe, já que "a maioria das carnes dos bichos de quatro patas eram duras demais e a dos peixes desmanchavam na boca", como ele mesmo dizia.

Levou o peixe para fora de casa e o bateu contra a mesinha de madeira que ficava na varanda da casa. Fez isso, já que o Pokémon ainda se debatia, ainda que fracamente.

Ao tirar o facão - que estava preso no avental -, o peixe pareceu olhar temeroso para o objeto. Eva levantou o facão, e num só movimento, separou a cabeça do corpo.

A mulher se sentiu um pouco culpada, mas fazer o quê? Aquilo seria o sustento do dia para a família, não podia simplesmente jogá-lo novamente na água e deixar seu sogro - o Sr. Baker -, marido e filho em casa, com fome.

Fechou os olhos e rezou silenciosamente, pela vida que acabara de se esvair na sua frente.

- Cuide dessa alma que acaba de ir de encontro a você, Arceus, e, assim, também agradeço pelo alimento que tem concedido para minha família.

 

*

 

DE UMA HORA para outra, Bernardo contraiu uma gripe rara.

Seu corpo ficou fraco, sentia dores em todo canto e a febre ameaçava cozinhar seu cérebro. Já começava a dizer coisas sem sentido.

Deram de tudo para o menino, mas não adiantou.

Cansado de ouvir os gemidos do filho, Marcelo decidiu sair em busca do único ingrediente que faltava para um xarope de família que dizia curar qualquer coisa. Esse xarope era a única esperança para uma possível melhora do filho. Não aguentava ver ele sofrer daquele jeito. Vestiu seu casaco mais quente e anunciou seu veredito.

Mesmo ouvindo o pedido da mulher para ficar em casa, pois era época de hibernação dos grupos dos Beartics, Marcelo negou atender ao pedido. Precisava que essa última esperança salvasse o filho, então partiu.

Se passaram dois dias e ele não tinha voltado. Um grupo de moradores foram à sua busca e transcorridas algumas horas, voltaram com a triste notícia. Aos prantos, Eva caiu ajoelhada no chão da rua coberta com flocos de gelo. Sentindo uma leve tontura, o Sr. Baker se encostou em um dos buscadores.

Dentro da casa, Bernardo olhava curioso para o lado de fora da casa. Com a porta aberta, um vento gelado entrava e o fazia tremer por baixo das cobertas. Estava sentado desajeitadamente no sofá e queria saber que alvoroço era aquele que acontecia.

Um narizinho curioso apareceu em um dos cantos da porta e cuidadoso, foi-se mostrando quem era: Um Deerling, que se aproximava com calma, em direção ao garoto.

Bernardo sentiu um calor acolhedor emanando da criatura. Ela cheirou o garoto e com um passo para trás, começou a concentrar energia. A flor amarelada que encimava sua cabeça, começou a brilhar em dourado e dela, expeliu um pó brilhante amarelento e esverdeado. Assim que esse pó tocou Bernardo, o garoto começou a se sentir melhor. Conseguiu até estender a mão e fazer um carinho na cabeça da criaturinha.

Claro que já tinha visto outros Pokémon, mas esta fora a primeira verdadeira experiência que teve com um, a primeira vez que tocou em um.

Os passos pesados que vieram de fora pegou os dois desprevenidos.

- Ora, essa! - esbravejou o Sr. Baker segurando as duas extremidade do pescoço do Pokémon. - Você também quer matar outro Baker?!

Crack!

O som doentio de ossos se quebrando fez o corpo inteiro de Bernardo arrepiar-se.

 

*

 

- E APÓS ISSO, é só sovar a massa desse jeito, olhe... - explicava o avô, mostrando para o menino como tratar da forma certa a massa de pão.

Não fazia muito tempo desde que Marcelo tinha morrido. O Sr. Baker tratou pessoalmente de ensinar ao neto os segredos para a massa perfeita não só do pão, mas também de outras receitas de família.

Depois disso, não muito tempo depois, o Sr. Baker faleceu "de velhice", como explicou Eva ao filho.

Bernardo - sempre inteligente -, entendeu que o avô tinha ido para o céu porque já tinha feito tudo o que tinha que fazer na vida. E o que mais lhe orgulhava, era saber que uma dessas últimas coisas que o avô tinha feito, foi ensinar à ele a fazer pão.

 

~×~

 

A MÃE NUNCA falava sobre a morte do pai, e Bernardo - que agora era conhecido como Baker, por ser o único homem na família -, também não perguntava. Não sabia como ele tinha morrido, apenas que saiu e não voltou. Tinha uma impressão de que o assunto era tabu, pois toda vez que mencionava o pai, Eva perdia o olhar para o longe; o brilho dos olhos se apagava.

Se somavam seis anos desde o dia em que Marcelo saíra em busca e não voltara mais.

Baker estava com seus dez anos e não largava da mãe. Ela era sua confidente, quem podia confiar, quem podia conversar sobre qualquer coisa, era... sua amiga.

Para Eva, o filho era muito mais que um filho. Não conseguia apontar para algo que a incomodava, quando se tratava do menino.

Um dia, quando a neve caía livremente, Baker vestiu seu casaco, avisou sua mãe que iria sair e o fez.

Caminhou lentamente, seu objetivo era chegar ao alto daquele cume que estivera há alguns anos atrás. Quando puxava o ar pelas narinas, seu peito parecia congelar, mas logo ao soltá-lo, se aquecia. O ar que saía quente da sua boca se chocava contra o ar frio e parecia formar uma fumaça branda.

No prazer de pisar e afundar a bota na neve, chegou, sem perceber, ao sopé da colina. Subiu com a mesma calma, sorrindo ao perceber que o ar parecia ficar mais rarefeito a cada passo que dava para chegar ao topo. Quando chegou lá, sentou na neve e desfrutou da paisagem. Montevasca parecia não ter mudado em nada. As casas, árvores, ruelas, continuavam cobertas de neve. Estavam em época de Grande Festejo, logo, os moradores enfeitavam suas casas e árvores com coloridas luzinhas pisca-pisca, que davam um brilho à mais em toda a vila. Não podia negar que tudo aquilo era bonito.

Ainda lembrava de quando o pai o trazia ali para cima só para ler para ele. E depois quando subia em seus ombros e Marcelo descia a encosta correndo, para caírem no alvo chão fofo.

Bom, disso ele tinha pego o costume: Subir ali apenas para ler uma boa história. Tirou o livro do bolso do casaco e ficou observando a capa. Abriu na página que tinha parado e voltou a ler.

 

AO ACHAR QUE já tinha lido o bastante e que seu bumbum já estava congelado o suficiente, se levantou e desceu a colina.

No lago próximo, algo vermelho se debatia, era um Pokémon peixe. Baker também se lembrava do dia em que levaram um para casa e sob a mesma condição. O peixe, de alguma forma, tinha conseguido pular para fora e não conseguira mais voltar.

Pisou na camada de gelo do lago e foi caminhando, escorregadiamente, até o Pokémon. Pegou-o pela parte em que se interligava a cauda de seu corpo e o levou para casa.

Eva sorriu ao ver que o filho trouxera algo para comerem.

- Meu filho trazendo carne para comermos? Está virando um caçador assim como o... - ela retesou antes de completar: - seu pai.

Vendo a hesitação e tristeza da mãe, Baker soltou o peixe na mesa e abraçou sua mãe, dando um beijo em sua bochecha.

- Tudo bem, mãe. Não precisa ficar assim. Que tal eu ir trocar alguns pães por verduras e legumes com o verdureiro?

Eva vendo o esforço do filho para que ela ficasse bem, sorriu, tristemente.

- Ótima ideia, filho. O almoço de hoje será espetacular.

O garoto riu e foi para o quarto, tirar o pesado casaco. Eva se recompôs, pegou o facão na gaveta e levou o peixe para a mesinha do lado de fora da casa.

Vendo que ele ainda se debatia enfraquecidamente, bateu-o contra a mesinha para atordoá-lo. Levantou o facão e o Pokémon pareceu tremer diante da visão e num derradeiro esforço, se debateu pela última vez, quase caindo da mesinha.

Ver tudo isso, de novo, era triste, pois lembrava do Magikarp que o marido tinha trazido quando ainda era vivo. Fechou os olhos e murmurou a prece:

- Cuide dessa alma que acaba de ir de encontro a você, Arceus, e, assim, também agradeço pelo alimento que tem concedido... - não terminou a prece, pois uma luz chamativa interrompeu o momento. Eva abriu lentamente os olhos.

Magikarp brilhava num misto de branco e tonalidades azuis. Ela já tinha visto isso acontecer com outros monstrinhos. Largou o facão e correu para dentro de casa.

- Be-Bernardo! Rápido, o bicho vai evoluir! - gritou desesperada.

O menino apareceu, já vestido com sua blusa de lã e correu para fora. Ao ver o Pokémon brilhando, pegou ele pela cauda e o lançou para a rua. Aos poucos seu físico foi se alongando e dando lugar para um monstro grande, até que parou de brilhar e Baker conseguiu ver como era sua evolução.

Parecia uma serpente, Baker não sabia dizer exatamente o que era, só sabia que aquilo tinha bem mais que o dobro de seu tamanho. Sua costa era coberta por um azul claro e límpido, e em sua barriga, um amarelo quase pardo. Sua bocarra com os caninos à mostra era assustadora. Magikarp tinha evoluído para Gyarados.

Os moradores que estavam na rua começaram a gritar e a correr. O Pokémon que até então estava impassível, ao ouvir toda aquela gritaria e ver o alvoroço, se enfureceu e com uma caudada conseguiu derrubar uma árvore que pegou a ponta da varanda de uma das casas.

Baker não sabia o que fazer, estava quase entrando dentro de casa para levar sua mãe para um local seguro, quando Karen Skier - filha dos esquiadores -, uma garota da sua idade, apareceu. Ela usava o traje especial feminino dos esquiadores Skier: Jaqueta e calça acolchoada de um rosa claro, luvas, botas e touca roxa que guardava suas mechas pintadas de azul.

Karen jogou uma Pokébola para o alto e dela saiu um pequeno Cubchoo. Mas este era diferente, pois mesmo de frente ao enorme Gyarados, mantinha sua postura firme e corajosa. Seus olhos transpassavam pura determinação.

- Vamos lá, Cubchoo! - começou Karen apontando para o adversário. - Use o Vento Gelado!

O pequeno Pokémon urso levantou os braços, abriu a boca e dela, uma luz azulada começou a se acumular. Cubchoo lançou o ataque de sua senda bucal, que saiu em um vento com neve.

Gyarados pareceu nem sentir o golpe sofrido. Lançou seu corpo para frente e abocanhou Cubchoo, dando uma baita mordida nele. Ele usou o Mordida!, pensou Baker. A serpente levantou o corpo com o ursinho ainda preso em sua boca, que por sua vez, tentava se soltar.

- Ele é aquático! Ataques do tipo Gelo não vão fazer tanto dano nele! - Baker gritou para a garota.

- Ah é? Então faça melhor e me ajude! - gritou ela. - Cubchoo, Soco de Gelo!

A pequena mãozinha do Pokémon urso se envolveu em branco. Ele puxou o braço e o branco mudou para um azul brilhante. De onde estava, Baker pareceu ver uma grossa camada de gelo envolver o braço do pequeno, mas achou que estava somente imaginando coisas. Cubchoo lançou seu braço e o soco, que bateu com uma força surpreendente contra rosto de Gyarados, fez com que o grandalhão soltasse o urso da boca. O lado do rosto de Gyarados atingido pelo murro, começou a congelar, enquanto Cubchoo caía de mal jeito na neve, porém se recuperando rapidamente e se colocando de pé.

- Boa, Cubchoo! - exclamou Karen, pegando uma outra Pokébola e a lançando em direção a Gyarados. - Essa é a melhor oportunidade para tentar pegar o grandão!

A Pokébola bateu contra o Pokémon; uma luz vermelha envolveu a serpente que logo após foi sugada para dentro da bola. O objeto caiu na neve e chacoalhou por um momento.

- Vamos, lá, fique quietinho aí dentro... - murmurou Karen com nervosismo.

Mas o pedido não foi atendido e Gyarados conseguiu escapar da captura, voltando a aparecer e lançando num golpe de cauda Cubchoo longe.

O Pokémon com corpo de serpente afastou, também com uma caudada, a pokébola para longe dele, que foi lançada na direção de Baker e bateu com força contra seu peito.

O garoto caiu no impacto, com o peitoral doendo e ardendo como uma tocha acesa. Olhou para a Pokébola e a pegou com raiva. Se levantou e se preparou.

- Ei, idiota! - esbravejou, chamando a atenção de Gyarados.

O Pokémon pareceu entender o insulto e furioso, avançou na direção do garoto. Baker que não esperava que o Pokémon fosse tão rápido, só teve tempo de estender, com as duas mãos, a Pokébola para sua frente, como em um ato de proteção. Gyarados bateu com a cabeça diretamente na Pokébola, que era o que estava mais à frente. A colisão fez Baker ser lançado para trás, arrastando o menino pela neve por alguns metros. Gyarados não teve muita sorte, pois ao bater contra a Pokébola, seu corpo foi sugado para dentro da mesma. Afundado na neve, Bernardo olhou atordoado para a Pokébola que se remexia em sua mão. Estava certo de que Gyarados não iria ficar ali e sairia a qualquer momento. Tanto faz, pelo menos consegui conter ele por um momento, pensou. O tempo suficiente para alguém lançar um Pokémon que seja capaz de derrotar o grandalhão.

Não se importava caso Gyarados escapasse da captura e o esmagasse ali mesmo. Ele seria aquele que conseguiu manter o bicho preso pelo menos pelo momento necessário para que alguém desse um jeito de vez naquela situação.

Serei lembrado como um herói para a vila. Assim como as histórias que você me contava, papai...

As coisas ao redor pareceram ficar mais confusas, a ponto das imagens começarem a rodopiar e a visão escurecer. Perdeu o rigor físico e desfaleceu.

 

- ELE ESTÁ ACORDANDO, senhora Eva! - disse uma garota, animada.

- Graças ao bom céu - sua mãe agradeceu. - Veja se ele está bem. Tenho que ficar de olho aqui no forno.

Baker abriu os olhos e viu uma menina com o rosto em cima do seu. Podia sentir o cheiro de seu hálito e quando percebeu que ela estava perto demais, levantou a cabeça, assustado, batendo a testa contra a dela.

- Ai, Baker - reclamou Karen passando a mão na testa. - Se acalme, está tudo bem.

As bochechas dele estavam vermelhas quando ele se desculpou. A garota riu do embaraço dele.

- Tudo bem - disse ela. - E aliás, parabéns por ter salvo a vila.

- Oh, eu só o segurei por um tempo... - murmurou ele, passando a mão na testa que ainda doía. - Você conseguiu parar ele?

- Não... Você conseguiu parar ele - Karen pegou a Pokébola e a colocou nas mãos do garoto. - Da próxima vez, vou cobrar pela Pokébola - e com uma risada concluiu: - O Gyarados é seu.

 

A PARTIR DAQUELE DIA, Baker começou a visitar Karen cada vez com mais frequência. A companhia da garota o extasiava e conforme os dias passavam, percebia que gostava cada vez mais dela.

Nos meses em que o sol se atrevia a aparecer e o lago não estava congelado, Bernardo deixava seu Gyarados livre para nadar em toda a sua extensão e ia fazer seus deveres em casa.

Ao terminar os deveres, corria direto para a casa de Karen Skier para ficar ao seu lado e conversar.

Um dia estavam sozinhos na casa da garota, sentados no sofá, enquanto ela tagarelava interminavelmente. Baker não sabia onde os pais dela tinham ido; não importava, só queria ficar ao lado dela, sentindo o perfume de seu cabelo, o cheiro de sua pele, o calor de seu corpo...

- E então quando eu fui... - Karen interrompeu a fala quando notou que Bernardo se aproximava cada vez mais  de seu rosto. Parecia estar hipnotizado. - Baker, o que está fazendo? - indagou empurrando o garoto e franzindo os sobrolhos.

Ele ignorou o aviso e puxou Karen pela cintura, dando seu primeiro beijo de lábios inexperientes. A menina ficou rígida por um momento, mas aos poucos o corpo relaxou e ela pareceu deixar ele continuar o ato.

A sensação dentro de Baker era explosiva. Seu peito queimava de paixão e pura vontade de continuar com aquilo pelo resto de sua vida. O momento era só dele e aproveitou-o. As mãos tremiam levemente enquanto iam de encontro à nuca de Karen e os dedos se afundavam em seus cabelos macios.

Com calma, deitou a garota no sofá, sem largar de sua boca. Quando ia se preparar para deitar ao lado dela, a porta se abriu em um estrondo. O corpo de Karen estremeceu com o susto.

O Sr. Skier entrou e olhou a cena, confuso. Karen, raciocinando rapidamente, virou o rosto para o lado, fazendo uma cara de quem estava sendo abafada, empurrou como que sem forças o rosto de Baker e soltou sons sufocantes.

- Sai... Sai de cima de mim, seu monstro - suplicou fracamente. O sangue do rosto de Baker sumiu quando entendeu o que ela estava fazendo. - Eu já disse que não quero te beijar... Você está me assustando e me machucando...

O sangue do Sr. Skier ferveu quando viu o que o garoto estava fazendo com sua filha.

- Então quer dizer que você está forçando minha filha à isso?! - rugiu ele. Baker arregalou os olhos, assustado. - Ora, seu moleque! - gritou Skier, pegando o menino pela orelha e o puxando para fora de casa.

Antes de passar pelo umbral da porta, Baker deu uma última olhada para trás e viu Karen dizer um "desculpe" apenas com os lábios, sem emitir qualquer som.

O Sr. Skier colocou o garoto de pé na varanda e o impulsionou para frente com o pé. Bernardo caiu de cara na neve que estava derretendo e sumindo pelo calor do sol, enquanto ouvia os gritos do esquiador:

- Nunca mais ouse pisar nesta casa! E nem pense em se aproximar de minha filha, seu porco!

Baker se levantou e tirou a neve dos ouvidos. Com as pernas bambas, caminhou até sua casa e tentou manter a postura enquanto passava por entre os moradores que o fitavam surpreendidos e desconfiados. Os cochichos que soltavam talvez fosse a pior parte. Baker conseguia ouvir tudo. "O que será que ele aprontou com a filha de Skier?", "Logo Baker fazendo esse tipo de coisa?", "Há tempos não tínhamos um pervertido na vila", tudo isso, Bernardo conseguiu ouvir à caminho de casa.

Ao pisar dentro do próprio lar e fechar a porta atrás de si, foi como se o peso nas costas só tivesse aumentado de massa.

- O que aconteceu, meu filho?! - perguntou Eva limpando a mão no avental e correndo para socorrer o filho. - Está branco como as colinas da vila! Isso é fome? Pois se acalme porque o café da tarde já está pronto, é só você ir comer. Não, melhor! Se sente que eu vou trazer para você, querido, porque... - A mãe parou de tagarelar ao ver que o filho olhava para ela com desespero e grande abatimento no rosto.

Sentou o garoto e perguntou o que tinha acontecido. Ele demorou a responder; ficou olhando para o chão, procurando algo que não podia ver.

Eva não insistiu. Apenas pegou um copo com água, oferecendo ao garoto e voltando a sentar ao seu lado. Baker começou a falar. Explicou tudo: Desde o tempo em que começou a gostar de Karen até o chute de banimento que levara e os cochichos dos vizinhos. A mulher ouviu tudo atentamente, com um aperto no peito pela situação em que o filho se encontrava.

- Eu nunca mais vou sair de casa! - disse ele, para terminar o relato.

Eva levantou o queixo do filho com sua mão, de forma suave. Olhou profundamente em seus olhos, exalando compaixão e amor que só as progenitoras conseguem emanar.

- Escute aqui filho. É verdade que tudo isso foi uma tragédia - começou ela. - Mas não vejo o porquê de você ter vergonha em sair de casa. Você fez algo de errado?

Ele negou com a cabeça, tristemente. Eva sorriu um amoroso sorriso de mãe.

- Pois então, a única coisa que você fez foi beijar a menina, aonde não consigo ver nada de errado nisso - ela abraçou o filho e deu um beijo em sua testa. - Nunca vi alguém, onde o amor ainda arde no coração, querer se esconder por uma coisa que dizem ter feito e que nunca o fez. O amor é muito bonito para ficar trancado.

Baker sorriu. Aquela era sua mãe. Sempre dizendo as coisas certas, nos momentos certos. Por isso e muito mais amava aquela mulher; por ela valia muito a pena amar, pois sabia que não se decepcionaria.

- O meu amor está trancado, mamãe - contou Baker. Eva se assustou com a declaração, mas o garoto terminou: - O meu amor, está trancado, mas trancadinho com você!

- O que me importa é saber que você está fazendo algo que só você tenha decidido fazer, sem a intromissão de ninguém - falou ela, abraçando Bernardo mais forte ainda. - Que apenas viva sem considerar as opiniões fúteis dessas pessoas vazias.

Eva sentia orgulho de seu filho. Estava crescendo e se tornando um homem.

Olhe só, Marcelo! Já está até se apaixonando!

 

DOIS DIAS DEPOIS, quando se preparavam para jantar, alguém bateu à porta. Baker disse que abriria a porta e foi o que fez. O Sr. Skier esperava com seu traje de esquiador, com a filha Karen atrás e um Beartic ao seu lado. Então seu Cubchoo evoluiu para Beartic, pensou Baker, mas foi interrompido pelo falar grave e seco de Skier:

- Sua mãe está?

Baker disse um "sim" baixo, porém não foi preciso chamar a mãe, pois Eva já vinha da cozinha.

- Pois não, senhor Skier? - perguntou ela, indiferente, enquanto chegava à porta. Ao alcançar e olhar para os visitantes, seu corpo estremeceu e sua garganta soltou um som estrangulado que só Bernardo ouviu.

- Está tudo bem, mamãe? - perguntou o garoto, preocupado.

Eva olhou para o filho, depois para o grande urso e afirmou fracamente com a cabeça.

- S-sim, querido - ela respirou mais profundamente e se recompôs. - O que deseja? - indagou para o homem.

- Eu vim conversar sobre o que o seu filho andou fazendo com a minha Karen, não é, filha?

A menina olhou para o chão e confirmou quase imperceptivelmente com a cabeça. Baker olhou incrédulo para ela, não podia acreditar que ela insistia naquela mentira.

- Eu não sei o que você viu e o que sua filha disse para você - começou Eva, exasperada -, mas de uma coisa eu tenho certeza: Meu filho não fez o que você pensa que fez! - os vizinhos começavam a se reunir nas janelas de suas casas para assistir ao espetáculo.

- Claro que você acha que ele não fez nada! Você não estava lá, na hora, sua sem-marido que ninguém mais quer!

Depois do tapa que levou de Eva, Skier olhou cético para a mulher. Sua bochecha ardia. Os garotos estavam atônitos.

- Olhe aqui, Skier, não importa o que aconteça, você não tem o direito de dizer uma coisa dessas pra ninguém - disse ela, tentando controlar a voz que estremecia de raiva. - Inclusive pra mim, e você sabe por quê.

O silêncio que se seguiu foi lamuriante, mas por fim Eva terminou aquela conversa:

- Então, por favor, exija a verdade de sua filha e se retire daqui. Você e esse bicho grande aí - disse, se referindo a Beartic. Ela puxou o filho e bateu a porta na cara de Skier.

Dentro de casa, correu para o quarto, chorando. Bernardo foi atrás e ficou ao seu lado, na tentativa de consolá-la. Perguntou por que estava chorando e tão triste. Eva respondeu ao filho. Disse que o motivo era aquele Beartic. Bernardo não entendeu e perguntou novamente por que ela estava tão aflita. Mesmo hesitante, Eva contou tudo sobre o dia em que o pai do garoto não voltou mais e como tinha sido morto pelo bando de Beartic.

Aquilo fez um reboliço no estômago de Baker, e que depois subiu para a cabeça, acompanhando e o atormentando durante o resto da noite. Seu pai tinha sido morto por um Pokémon.

 

AO AMANHECER DO DIA seguinte, Baker já estava de pé. Não tinha dormido muito bem, pois teve terríveis pesadelos com Beartics; em um deles, o urso perfurava a barriga do garoto com suas enormes garras. Não foi uma noite nada fácil.

Eva também estava acordada, mas para assar os pães que descansaram durante noite. Tinha passado o café e ao ver que o filho ia sair sem nada no estômago, o obrigou a tomar pelo menos uma xícara do líquido preto e quente.

Bernardo estava convicto da escolha que tinha tomado. Não via outra solução.

Foi até o lago e chamou por Gyarados. O grandalhão emergiu e pareceu sorrir para o menino, mas este não retribuiu a gentileza.

Sem dizer uma palavra, Baker retirou a Pokébola e guardou seu Pokémon. Caminhou até o sul, onde o início da Floresta Congelada demarcava o fim de Montevasca e separava a vila, da costa com o mar gelado. Entrou na Floresta Congelada, que tinha esse nome por ser coberta por pinheiros que em dia de nevasca e inverno, ficavam pelados de suas folhagens e cobertos por uma camada de gelo. Caminhou lentamente por entre os compridos pinheiros, perdido em seus pensamentos. Quando notou, estava de frente para o amontoado das grandes pedras cinzentas onde o mar rebentava com força, espalhando gotículas para todos os lados. Mesmo com o sol tentando sobreviver, a área era coberta por uma tênue neblina.

O garoto subiu em uma das pedras e lançou seu Pokémon no mar. Gyarados olhou para o seu líder sem entender nada.

- Desculpe, mas um dos seus assassinou meu pai... - murmurou o garoto, em meio ao barulho da força d'água que batia contra as pedras, à medida que lágrimas desciam pelas bochechas. -  N-não posso mais ficar com você - ele virou as costas e começou a voltar para a floresta. - Espero que consiga arranjar uma parceira e que seja feliz...

Gyarados rugiu para chamar a atenção do líder, rugiu para mostrar que ele não era assim, rugiu para que o dono não fosse, mas não adiantou. Baker estava firme no que estava fazendo.

Desde então, Baker se fechou para a possibilidade de ter qualquer Pokémon. O receio era grande demais, o buraco no coração - criado pela falta do pai - fundo demais. Não conseguiria conviver com um daqueles que tiraram a vida de alguém que tanto amava.

 

~×~

 

A DOENÇA CHEGOU SILENCIOSA e assim permaneceu até eclodir em algo mais sério.

Começou com a pele que ficou mais seca. Eva pensou que era apenas o frio. Os hidratantes corporais resolveram o problema.

Quando a pele passou a esticar, Eva achou que era apenas um sinal de que a velhice estava próxima e que a qualquer momento as rugas iam aparecer.

Somente quando a epiderme começou a rachar foi que preocupou-se.

Em um dia, trancou-se no banheiro e se negou a sair até que o filho saísse de casa para fazer algo. Não queria que ele a visse assim. Baker, vendo que a mãe demorava muito, foi ver se estava tudo bem e bateu na porta, chamando-a. Eva não respondeu. Bernardo ficou muito preocupado e deu um chute na porta, arrombando e fazendo ela bater com força contra a parede.

A mãe estava sobre a pia, se olhando no espelho. A pele de seu braço parecia mais do que ressequida e se soltava em algumas pontas que Eva puxava com os dedos. Era assustador ver como a pele se desprendia facilmente. A mulher estava vidrada e assustada, por isso que não notou o barulho da porta que bateu contra a parede.

- Mãe? - perguntou o menino, vendo a situação em que ela se encontrava.

A partir daí, as coisas pareceram só piorar. A fraqueza física não demorou a chegar, as dores agudas vieram logo, o cansaço mental também teve sua participação, ainda que em menor grau.

Com o tempo, todos os sintomas se agravaram aos poucos, até chegar no momento em que Eva passava mais tempo deitada do que fazendo algo.

Bernardo estava com seus treze anos. Ver sua mãe sofrer, fez com que mais um buraco em seu coração se abrisse. Era sua mãe quem estava sofrendo e correndo risco de vida. Não podia perder mais alguém da família, a única que restara.

Foi nessa ocasião que Baker decidiu sair em busca da cura para a mãe.

Deitada, Eva olhava para o filho ajoelhado ao seu lado. Já era um homem, disso tinha certeza. Seus cabelo castanho-claro combinava com os olhos amendoados... Parecia mais do que nunca com o pai.

- Sim, claro. Pode ir. Faça o que você bem entender - murmurou ela, com os olhos e a voz cansada. - O que me importa é saber que você está fazendo algo que só você tenha decidido fazer, sem a intromissão de ninguém.

- Você sempre me disse isso, mas a questão é que não quero deixar a senhora sozinha aqui - ele disse, perdendo um pouco a sonoridade da voz.

- Deixe disso - disse ela, sempre com a voz fraca. - Eu estou doente, mas não morta. Vá e não quero que fique preocupado comigo.

Um silêncio se instalou, mas foi por pouco tempo, pois ela continuou:

- Só me promete uma coisa: que você não permitirá que a geração Baker morra. Me promete que dará continuidade à família... - Eva suplicou.

 

CORTOU-LHE O CORAÇÃO quando Drim disse que capturou um Deerling apenas para usar o Aromaterapia em sua mãe - mesmo que algo dentro dele já tivesse lhe dito que isso não funcionaria.

Seu mundo caiu quando finalmente notou que o líquido de dentro de um Cacnea não era a solução para o que estava procurando.

Mas tudo bem, ele continua firme e certo de que vai achar o que tanto procura. Não desiste tão fácil assim.

Eva, me aguarde. Ainda vou chegar em casa com a cura. E vou ver seu belo sorriso desabrochar mais uma vez.


Notas Finais


Agora entenderam por que Bake não queria ficar com Budew? :'/
Eva para Skier: "Inclusive pra mim, e você sabe por quê", eita, o que será que tem por trás desses dois? Isso remete talvez à uma bônus de Eva? Veremos em breve...

Vejo todos no próximo! Abrçs


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