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História Olimpo - Quinto quarteto do Coliseu


Escrita por: plutoniana

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 35 - Quinto quarteto do Coliseu


Naruto

A primeira vez em que vi alguém ser condenado à morte, oficialmente, foi aos dez anos de idade. 

Era noite. Minha mãe tinha saído para o plantão noturno pouco tempo antes. Meu pai estava na cozinha, terminando de lavar a louça do jantar enquanto eu e Najimi estávamos na sala, assistindo televisão. Foi quando o noticiário noturno começou, com o jornalista da Guarida de Hermes anunciando a grande bomba. 

No começo daquela semana, uma notícia terrível explodiu sobre os Campos de Pã. Um cara tinha estuprado uma garota naquela tribo dias antes e tudo estava sendo investigado nos últimos três dias. Ela tinha ido à Basílica de Apolo para fazer todos os exames e ambos estavam sendo mantidos no Covil de Nêmesis, enquanto o caso era investigado e levado à julgamento. O final do processo tinha sido dado pelo juiz naquela tarde, e o resultado foi: culpado. 

Condenação: Morte pela Basílica de Apolo. 

Naquele exato instante, eu e Najimi nos assustamos com as batidas fortes na porta. Meu pai saiu da cozinha com as mãos ainda molhadas e foi atender. Era um dos colegas de trabalho dele, do laboratório de farmacêutica. 

— Você viu? O cara foi condenado. A gente precisa ir fazer a injeção letal logo. Eles vão chegar amanhã cedo. 

Meu pai ficou pálido. 

— Merda. — ele xingou baixinho e olhou para mim e Najimi, ambos encarando ele de maneira assustada. — Me dê trinta minutos. — ele disse para o colega antes de fechar a porta. 

Ficou parado olhando para nós, sem saber exatamente o que dizer. Mas tentou sorrir e fingir que estava tudo bem, para não nos deixar ainda mais nervosos. 

— Hora de ir pra cama. — ele disse e nos ajudou a nos arrumar para ir dormir. — Eu precisarei sair agora, mas acho que você já tem idade suficiente pra cuidar da sua irmã durante a noite, não é? — ele sorriu encorajador pra mim. 

Assenti com a cabeça. 

Ele pegou o colchão da minha cama e levou para o quarto de Najimi, para dormirmos no mesmo cômodo. Depois de se certificar de que estávamos de pijama, dente escovado e confortáveis no quarto dela, ele foi se arrumar rapidamente, pegando o jaleco e trancando a porta após sair. 

Nós não dormimos naquela noite, embora nenhum dos dois tenha dito nada. Perto do amanhecer, escutamos sons do lado de fora e corremos para a varanda do quarto dela. 

Nosso apartamento ficava no quinto andar do prédio. Não era tão alto, então ainda dava pra ver o solo. Olhamos em volta, percebendo que todos que estavam nos apartamentos também estavam saindo nas varandas para ver o movimento lá embaixo. 

O trem tinha chegado na plataforma, e dois seguranças fortes e um advogado do Covil de Nêmesis desceram dele, trazendo um homem algemado e completamente desesperado. 

Ele gritava a plenos pulmões, dizendo que era inocente, completamente surtado de medo. Eles andaram pela trilha que levava em direção ao laboratório de farmacêutica.

Parecia que todos da Basílica de Apolo estavam acordados, mesmo no escuro às três da manhã. Dali, podíamos enxergar um monte de gente no hospital se aglomerando em frente às janelas e paredes de vidro para ver o cara sendo levado pela tribo. Doentes, médicos e enfermeiras. Todos curiosos para ver aquele show de horror. 

O cara gritava, implorando para que alguém o ajudasse, mas ninguém se movia. 

Najimi, que tinha sete anos apenas, se agarrou assustada em mim, me abraçando com força, mas nenhum de nós conseguiu desviar o olhar. 

— Ele merecia castigo pior. Injeção letal é muito rápido e indolor. — escutei a vizinha do apartamento de cima murmurando na varanda acima de nós. — Devia ter pego Morte pelas Florestas de Ártemis. Queria ver correr por aquela tribo enquanto era caçado como um animal pelos filhos de Ártemis. 

Nos esprememos na varanda, tentando enxergar o cara ser levado até o final da trilha, não querendo perder nada. 

— Naruto! Najimi! — escutei os berros da minha mãe lá embaixo. Olhei e percebi que ela estava saindo do hospital naquele momento, andando pelo gramado. — O que estão fazendo aí? Pra dentro, agora! 

Alguns minutos depois, ela estava conosco lá dentro. Me deu uma bronca terrível por ter assistido aquilo ao lado de Najimi. Na hora fiquei meio irritado porque não queria que ela nos tratasse como crianças inocentes E BURRAS, mas depois entendi o porquê de ter ficado frustrada por termos visto. 

Já faz oito anos que isso aconteceu, mas às vezes, eu ainda sonho com aquilo. Sonho com os gritos desesperados daquele homem. Os gritos de alguém culpado que sabia que iria morrer, mas não podia fazer mais nada a respeito. 

Porque no fim, ele sabia que merecia aquilo. E era isso que mais o desesperava. 

Dia 31 | Quinto quarteto a enfrentar o Coliseu

Sakura demorou alguns segundos para decidir qual dos garotos ela ajudaria primeiro, mas achou melhor socorrer Naruto, já que ele ainda tossia e arfava com falta de ar. 

— Vem, senta. — ela disse baixinho ao chegar perto dele, pulando por cima de Temari e Karin de maneira um pouco destrambelhada e ajudando-o a sentar, já que continua todo enrolado no chão. 

Naruto tossia de maneira forte, com um pouco de ânsia de vômito, afinal, Temari tinha acertado bem em seu estômago, e ele estivera bebendo antes de tudo aquilo acontecer. 

Ao sentar, ele arfou de um jeito que parecia que iria vomitar. Sakura se agachou e começou a passar a mão em suas costas, tentando confortá-lo de alguma maneira. Ele não vomitou, mas ainda parecia com muita falta de ar pela dor local. 

Ino tinha ido ajudar Sai a se sentar numa das camas, porém ele continuava gemendo e choramingando de dor. 

— Levanta a camisa. — ela pediu, querendo ver onde ele tinha sido acertado pelo cotovelo de Temari. 

— Amiga, escuta. — Karin dizia para Temari, ainda sentada em cima da garota no chão. — Eu vou sair de cima de você e a gente vai tranquilamente lá pro Chalé de Orfeu, entendeu? — ela falava devagar, como se falasse com um cachorro agressivo. 

Hinata e Suigetsu ainda permaneciam petrificados na mesma posição. Abraçados na cama dela enquanto seus olhos viajavam rápido por todos os outros presentes no quarto. 

— Tá bom. — Temari concordou a contragosto. Seus braços estavam começando a doer por estar sendo pressionados contra suas costas por Karin. 

Aos poucos, ela sentiu a ruiva lhe soltando e se levantando de cima dela. 

Todo mundo parou o que estava fazendo para encarar a representante de Ares, prontos para pularem pra fora do caminho caso ela surtasse de novo. As duas se levantaram devagar, embora Karin mantivesse uma pose de alerta, com as mãos estendidas e prontas para agarrar a loira, caso ela desse outro avanço brutal. 

— Vamos pro Chalé de Orfeu. — Karin disse e virou-se para Shikamaru, que estava parado perto da porta. — Manda o Sasori ir pra cozinha. 

O rapaz saiu aos tropeços do quarto, indo fazer o que ela dissera, tentando tirar Sasori do campo de visão de Temari enquanto saíam da casa principal. 

Ninguém tirou os olhos de Temari até ela sair do quarto. Os três foram direto para a porta da casa principal, porém, assim que desceram os degraus da varanda, Temari agarrou uma pedra do tamanho da sua mão e jogou na direção do lago, gritando de ódio. 

Shikamaru se encolheu de susto, vendo a pedra voar vários metros pela água até aterrissar com um barulho de mergulho violento. 

— Por que você não me deixou socá-lo? — Temari rugiu para Karin, que parecia ser a única pessoa a não querer se jogar no chão choramingando de medo com uma filha de Ares sendo agressiva tão perto dela. 

— Porque eu sei que você não ia só socá-lo. Se colocasse as mãos nele, o mataria brincando. — Karin rosnou de volta, não se intimidando com a garota. 

— E daí? Ele merece a morte por tudo que já o vimos fazer aqui. Não só com a Hinata, mas com as outras também. 

Shikamaru só se encolhia cada vez mais no lugar. 

— Uma das primeiras coisas que você me disse, quando chegamos aqui, era de que não iria mostrar seu lado explosivo porque não queria contribuir para que as pessoas lá fora achassem que o Quartel de Ares é formado só por assassinos violentos. — Karin apontou o dedo na cara dela. — Eu não vou deixar você arruinar isso por causa de um lixo como Sasori. 

— E o que você queria que eu fizesse? Batesse palmas pra ele?

— Temari, a gente decide o que fazer depois. Agora estamos todos bêbados e nervosos. — Karin apontava pro Chalé de Orfeu. — Melhor irmos dormir e mais tarde pensamos no que fazer para tirá-lo daqui o mais rápido possível. 

— E-eu levo ela pra dentro. — Shikamaru indicou o Chalé de Orfeu. 

— Vai com ele e tenta dormir um pouco. — Karin ordenou apontando para a estrutura decadente. — Daqui a pouco nós conversamos melhor. 

Mesmo à contragosto, Temari começou a andar na direção do Chalé, ignorando a mão educada de Shikamaru para conduzi-la até lá. 

— Fica de olho nela. — Karin disse pra ele antes de se virar e voltar para dentro da casa principal. 

Ainda eram quatro da manhã, e por isso estava escuro e frio lá fora. Karin torceu para que conseguissem dar pelo menos um cochilo para acalmar os ânimos. 

Do lado de dentro, Sakura tinha conseguido levar Naruto até o banheiro. 

— É só ânsia. — ele disse, meio ofegante, após sair do reservado. — Eu não vou conseguir vomitar de verdade. 

— Naruto. — Ino entrou no banheiro. — Acho que ela quebrou uma das costelas do Sai. 

Os dois encararam a representante de Afrodite, abismados. 

— Merda. — ele xingou. — Eu já vou dar uma olhada, só um minuto. 

Ino voltou para o quarto enquanto Sakura ajudava o amigo a se manter de pé, já que ele estava meio enfraquecido pela falta de ar. 

Naruto sentia que ela estava tremendo. Dava pra sentir pelo braço que o envolvia pela cintura. 

— Relaxa, tá tudo bem agora. — ele disse se apoiando na pia, procurando sua escova de dentes. 

— Bem? — Sakura perguntou com um careta. — Você viu o que aconteceu cinco minutos atrás? Temari quase matou Sasori.  

— Mas não matou. — ele replicou de maneira rígida. — E não verbalize isso. Não quero que ninguém fique usando isso contra ela. Já chega de baixaria aqui dentro. 

— Naruto, ela só não matou ele porque vocês a seguraram. — Sakura disse baixinho, entredentes. — Se ela tivesse colocado as mãos nele… 

— Mas não aconteceu, beleza? — ele murmurou de modo bem sério. — Esqueça isso, vamos dormir. 

— Não vou dormir no mesmo quarto que aquele imundo. 

— Ele vai dormir na sala. — Naruto disse de um jeito que parecia que já havia decretado isso há muito tempo, como se a palavra dele fosse lei ali dentro. 

No quarto, Sasuke tinha conseguido mancar até a cama do canto de novo. Ele ergueu a perna dolorida e subiu um pouco a calça para ver o roxo que estava se formando onde Temari lhe acertou um chute. Doía como o inferno, desde o músculo até o osso. Não estava quebrado, isso ele tinha certeza, senão estaria chorando de dor como Sai estava fazendo. Mas com certeza não seria nada fácil ter aquele machucado considerando que o próximo ciclo seria de provas pesadas e físicas. 

Naruto e Sakura voltaram pro quarto. O loiro já sem falta de ar, embora pudessem ver que ele provavelmente ainda estava dolorido pela cotovelada de Temari. Enquanto ele ia checar o machucado de Sai, Sakura veio até onde Deidara estava, tentando falar e conseguir uma resposta de Hinata e Suigetsu. 

— Gente, relaxa. Já tá tudo certo. — Deidara dizia enquanto Suigetsu e Hinata ainda pareciam catatônicos. Eles olhavam para Deidara mas não conseguiam verbalizar nenhuma resposta, completamente assustados. 

— Ei, relaxem. — Sakura veio falar com eles também. — Tá tudo bem agora, ninguém mais vai discutir com ninguém. 

Karin entrou no quarto, dando uma olhada em todos e vendo que estavam todos “calmos”.

— O Sasori vai dormir na sala, né? — ela questionou. 

— Com certeza. — Naruto respondeu com firmeza enquanto ajudava Sai a tirar camisa para que ele pudesse examiná-lo. Havia uma mancha roxa se formando nas costelas dele, bem onde Temari tinha lhe acertado. — Podem jogar um travesseiro e um lençol lá na sala, porque aqui ele não vai pôr o pé. 

#

Ninguém conseguiu dormir de fato. Alguns conseguiram tirar um cochilo, porque o álcool consumido conseguiu apagá-los por pouco tempo, e o estresse tinha causado cansaço o suficiente para derrubar alguns. Porém a maioria permaneceu apenas deitados nas camas, mas completamente conscientes. 

Suigetsu foi um dos que não conseguia nem fechar o olho. Assim que o sol nasceu, ele se levantou do chão, onde tinham jogado vários travesseiros e lençóis para que dormisse, e deu uma olhada no quarto. 

Sasuke estava deitado na cama do canto, Hinata e Sakura na cama ao lado, a morena dormindo, porém dava pra ver que Sakura estava acordada. Deidara estava acordado e deitado no chão entre as camas delas e de Naruto, que tinha também permanecia acordado. 

Nas camas do outro lado, Karin e Ino também estavam acordadas, embora deitadas. Sai tinha conseguido cochilar. Mas não havia ninguém na cama em que Sasori estava dormindo nos últimos dias, perto da porta. 

Suigetsu se levantou em silêncio e saiu do quarto. Apenas colocou uma camisa melhor e foi em direção à porta da casa principal, dando uma rápida olhada na sala e vendo sasori dormindo no sofá em formato de L. 

Na clareira, o representante de Dionísio andou devagar em direção à plataforma de madeira do lago, onde Shikamaru estava sentado enquanto os primeiros raios de sol banhavam a região. 

— Você dormiu? — Suigetsu perguntou se sentando ao lado dele. 

— Não. — Shikamaru respondeu de maneira simples. Tinha um pedaço de feno na boca, como se estivesse fumando. 

O representante de Poseidon já estava com o colar em formato de nuvem do Chalé de Orfeu de novo no pescoço. 

— E a Temari? — Suigetsu olhou na direção do Chalé. 

— Ela conseguiu cochilar um pouco, eu acho. — Shikamaru olhou na mesma direção que ele. 

Suigetsu respirou fundo, tentando extravasar todo o seu nervosismo contido até o momento. 

— Caralho, nunca senti tanta falta de um cigarro na vida. — ele comentou. 

— Nem eu. — concordou Shikamaru. — Quando você começou? 

— Com dez anos. 

— Ah. — Shikamaru sorriu de canto. — Comecei com onze. 

— E o filho de Dionísio ganhou de novo. — Suigetsu resmungou e Shikamaru conseguiu rir um pouco. 

Ambos olharam na direção da casa principal, não vendo nenhum movimento. 

— Como tá o pessoal lá dentro? — Shikamaru indagou. 

— Tão tentando dormir. 

— O Sai tá legal? 

— Pelo que o Naruto disse, ela não quebrou as costelas dele não. — Suigetsu deu de ombros. — Mas vai ficar bem dolorido por uns dias, porque chegou bem perto disso. 

Shikamaru fez uma careta. 

— E a Ino? Não fez mais nenhum escândalo, não? 

— Tá tentando dormir, igual os outros. Sasori tá na sala.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos antes de Suigetsu falar de novo. 

— E agora? O que a gente faz? 

Normalmente, mandariam uma mensagem ao Covil de Nêmesis em casos como aquele, mas estando ali dentro, no jogo, não sabiam como proceder. 

— Eu não sei. — era a primeira vez ali dentro que Shikamaru não tinha um plano. 

#

A sensação no ar era parecida com a dos dias pós-eliminação, porém era muito mais pesada. Como se alguém realmente tivesse morrido, e não que tivesse saído. 

Ninguém estava com fome, então a cozinha ficou inutilizada naquela manhã. Quando saíam da cama, todos iam para a varanda, sem dizer nada. Só ficar ali e olhar para o lago ou a floresta. 

Hinata permaneceu no quarto, mesmo depois de acordar do cochilo. Deitada na cama, encarando a parede em silêncio. 

Karin estava puta demais para ficar só divagando em silêncio. Em determinado momento, ela pegou e Ino e Sakura pelo braço e as arrastou varanda afora. 

— O que foi? — Ino perguntou assustada enquanto Karin as levava em direção ao Chalé de Orfeu. 

— Vocês vão nos ajudar a tirá-lo daqui o mais rápido possível. — ela rosnou, praticamente arrombando a porta do lugar, que quase voou fora das dobradiças. 

Temari já estava acordada, sentada perto da parede de armas. Ela se levantou imediatamente ao ver as três. 

— É o seguinte. — ela começou a falar daquele jeito incisivo, com a pose de soldado. — Eu não quero mais Sasori aqui dentro. Quero que vocês usem essas mentes pra tirá-lo logo daqui. 

Sakura não podia deixar de ficar surpresa com a afirmação. Já deviam ser umas dez da manhã. Ninguém mais estava bêbado ou tão nervoso assim para afirmar uma coisa dessas. 

— Sério? Mas ele não é da sua equipe? — a moça estava chocada com a atitude de Temari. 

— Eu não vou segurar um merdinha como ele aqui dentro só porque estouramos um balão de confetes vermelhos trinta dias atrás. — Temari vociferou de um jeito extremamente irritado, fazendo Sakura e Ino se encolheram de medo. — Dane-se a merda da equipe Cérbero, eu quero ele fora. 

— Não somos obrigadas a defendê-lo só porque somos da mesma equipe. — Karin complementou. — Seria uma desonra comigo mesma, e com a minha tribo, protegê-lo por causa de prêmios idiotas da metade do jogo. 

Ino e Sakura se entreolharam, pensativas. 

— Não dá pra mandá-lo agora. Ele tá imune. — Sakura disse. — O único jeito seria se estivesse no Chalé de Orfeu. 

— Como assim? — Ino perguntou confusa. 

— Não foi coincidência que Temari e Shikamaru pudessem participar do Desafio de Perseu. — Sakura explicou. — As imunidades parciais serviram para bagunçar o jogo. Sasori pegou o segundo lugar na prova, ou seja, imune ao Titã e à votação da casa, mas não a ser puxado do Chalé. 

— Só que ele não tá no Chalé, então de nada adianta. — Ino concluiu o raciocínio dela. 

— Exato. — Sakura pontuou e olhou para Karin e Temari. — Talvez eu ainda consiga mandá-lo pela Caixa de Pandora, se vier um poder como o que a Ino usou para mandar o Gaara na semana passada. 

— Não vai ter. — a representante de Afrodite negou, com uma careta de pesar. — Um poder nunca vem duas vezes. Provavelmente o público deve ter escolhido só porcaria depois da saída violenta do Gaara na semana passada. Não arriscariam ter altas emoções duas vezes seguidas. 

Karin revirou os olhos. 

— Então o que a gente faz? Vamos ter que ficar com ele aqui dentro mais uma semana? — a ruiva rosnou, furiosa só de pensar nessa ideia. 

Ninguém respondeu, porque a resposta era óbvia. 

— Não, isso não vai acontecer. — Temari apontou o dedo na cara delas. — É bom vocês pensarem numa estratégia que dê certo e ele seja eliminado pela votação do público. Porque se formos fazer do meu jeito, ele vai sair no estilo de Ares: num caixão. — ela disse a última palavra de maneira ameaçadora, fazendo Ino e sakura estremecerem de medo. 

— Vocês acham que ele sairia de primeira? — Sakura perguntou, receosa. 

— Por que não sairia? — Karin indagou como se ela fosse louca. 

— Eu não sei. — Sakura olhou pro chão. — E se as pessoas lá fora estiverem apoiando o que ele fez? 

— Isso é loucura. — a ruiva retorquiu. 

— Nem tanto. — Ino respondeu. — Sejamos sinceras: todas nós já sofremos algum tipo de assédio na vida e nunca pudemos falar sobre isso porque as pessoas não nos enxergaríamos como vítimas, e sim como meras garotas querendo atenção. 

Ela encarou Sakura, esperando a rosada dizer alguma coisa. 

— Já fui perseguida por um cara na minha tribo. — a rosada confessou sem graça. — Ele vivia me seguindo por todo canto, como se esperasse uma oportunidade para fazer alguma coisa. 

— Meu avô me trata como uma demente só porque nasci mulher. — Temari disse com os braços cruzados, e uma pitada de ódio na voz. 

— Meu chefe vive inferiorizando meu trabalho depois que tive meu bebê. — Ino completou. — Ele faz isso com todas as mulheres da fábrica que também tem filho. 

Karin olhou para cada uma ali. 

— Então… vocês acham que as pessoas lá fora podem estar atacando a Hinata e vendo o Sasori como a vítima? — ela perguntou em choque. 

— É isso que eu quero saber. — Ino disse prontamente. — Por isso, se vocês colocarem Sasori na votação, me coloquem junto. Eu iniciei a briga, então se estiverem falando disso lá fora, eu e Hinata estamos no centro de tudo. 

— Todas nós brigamos com ele. Se estiverem te atacando, estão atacando todas nós. — Sakura replicou. 

— Mas eu vou chamar a responsa pra mim. Podem me usar como termômetro. — Ino deu de ombros. 

— Mas se você sair pra ele, todas nós também iremos sair. — Temari respondeu. — Porque todas ficamos contra ele. 

— Eu não creio que alguém tão nojento como ele está sendo apoiado lá fora. — Karin negou com a cabeça, completamente horrorizada com a ideia. 

— Acredite, é possível que esteja. — Ino retrucou. — Não é só porque estamos em 2354 que nossa sociedade não continue sendo machista pra caralho. Nem a própria Hinata tinha se tocado do assédio até falarmos. As pessoas talvez não estejam enxergando isso do mesmo jeito que nós. 

Elas ficaram um minuto pensando em silêncio antes de Sakura se pronunciar de novo. 

— Acham que a Hinata vai sair? Independente de ir com Sasori ou não? 

Foi só então que elas se lembraram que Hinata tinha perdido o Desafio de Perseu. Estava automaticamente no Coliseu, e se não ganhasse a prova, o público poderia tirá-la na votação aberta. 

— Merda. — Ino xingou.

— Eu não aceito isso. — Karin negou de novo. — Além de ter sofrido o assédio, quer dizer que ela ainda está sendo crucificada por ter mexido com o santo Sasori? — o tom de voz dela demonstrava todo o nojo que sentia. 

— Todas nós possivelmente estamos. — Temari encarou Ino. — Se ela sair, nós iremos sair uma atrás da outra. E talvez esse acontecimento só tenha servido para que Sasori ganhe ainda mais torcida lá fora. As pessoas adoram acolher caras como ele.

— Ele já voltou contra o Neji e o Kiba. — Sakura as relembrou. — É bem possível que realmente tenha uma torcida. 

— Então não temos mais o que fazer. — Ino deu de ombros. — Se for pra sair, prefiro que seja logo. Não vou ficar aqui dentro até a final convivendo com um lixo como ele, só pra vê-lo ganhar essa porcaria. 

— Então quer dizer que teremos que ficar mais uma semana com ele aqui? — Karin estava incrédula. 

— Não tem o que fazer, Karin. Você vai matá-lo, por acaso?

— Estamos considerando essa possibilidade. — Temari respondeu. 

— Não. — Sakura retorquiu a ideia. — Nem pensem nisso, pelo amor dos deuses. 

— A gente vai ter que seguir o jogo normal hoje. — Ino suspirou exasperada. — Semana que vem, arquitetamos um plano todos juntos para tirá-lo. 

#

Naruto chamou todos os garotos para conversarem a sós. Eles entraram na floresta, andando pela trilha, até estarem a uma boa distância do acampamento, para que conversassem longe das meninas. 

— O negócio é seguinte, otários. — Naruto começou. — Precisamos combinar logo a estratégia pro próximo ciclo. Temos que tirar o Sasori de qualquer jeito, e já que não vai ser nessa semana, vai ter que ser na outra. 

— As meninas devem estar planejando isso também. — Sai comentou. 

— É, mas não podemos deixá-las lutar essa batalha. — Naruto o cortou. 

— Por que não? — Shikamaru indagou. 

— Vou repetir a vocês a mesma coisa que Hinata e Sakura disseram para nós alguns dias atrás. — Naruto indicou ele, Suigetsu e Deidara. — Estávamos no cafezal falando sobre o jogo e elas disseram que, por serem mulheres, o público sempre faz julgamentos muito mais pesados pra cima delas. — ele olhou para Suigetsu e Deidara. — E nós achamos que isso pode estar acontecendo lá fora, neste exato momento. 

— Espera aí. — Sasuke o interrompeu. — Você acha que o Sasori está saindo como a vítima da história toda? 

— Exatamente. — Naruto confirmou. — E se isso estiver acontecendo, então não podemos deixá-lo ir para uma votação com absolutamente nenhuma das garotas, nem mesmo com a Temari. 

— Pode estar acontecendo qualquer coisa lá fora. — Deidara complementou. — Nós nem sabemos se a cena do assédio passou para o público. 

— Provavelmente não. — Naruto resmungou. — É algo muito pesado para ser visto de qualquer jeito na televisão. Nem devem ter passado. 

— Isso significa que a Hinata pode estar sendo vista como mentirosa, ou coisa até pior. — Suigetsu disse de maneira nervosa. 

— Por isso que não podemos deixá-las encará-lo numa votação. Elas correm o risco de sair com ele. — Deidara disse. 

— Isso é loucura, gente. — Sai retorquiu a ideia. 

— Nem tanto. — Shikamaru discordou. — Ino também já tinha me falado sobre isso. Ela geralmente faz de tudo para evitar o Coliseu porque sabe que no momento em que cair na votação, vão tirá-la. Talvez o público esteja abraçando Sasori. 

— É por isso que precisamos combinar logo a estratégia da próxima semana. — Naruto voltou à ideia principal. — Independente do que aconteça, se um nós voltar for ao próximo Coliseu e voltar como Titã, semana que vem, vai mandar o Sasori. E não podemos deixar com que nenhuma das meninas vá ao Coliseu na semana que vem também. 

— Isso. Um de nós vai ter que perder o Desafio de Perseu de propósito, só para garantir isso. — disse Deidara. — E também o mais votado vai sair daqui, e vai puxar outro do Chalé de Orfeu. 

— Nenhuma das cinco pode ir, sacaram? — Naruto os encarou. — Eu me disponibilizo totalmente para ir com o Sasori na semana que vem. 

— Você o tira, fácil. — Sasuke respondeu. 

— É, mas os outros dois que foram ao Coliseu conosco precisam ser bons de prova também. — Naruto disse. — Pra garantir que ele não vai ganhar o Titã. E lembrando que ciclo que vem as provas serão mais pesadas. 

— Posso ir, se for assim. — Deidara se prontificou. — Se eu estiver no Chalé, podem me puxar. 

— Eu também. — Suigetsu deu de ombros. 

— Já que o fato de termos nascido com um pau no meio das pernas nos concede privilégios, então eu vou usar essas porcarias de privilégios em favor das minhas amigas. — Naruto disse de maneira agressiva. — Se o problema é as meninas irem com ele pra esse caralho de votação, então quem vai seremos nós. Aí quero ver qual vai ser a desculpa do público para mantê-lo nesse inferno. Porque eu não vou permitir que as minhas amigas fiquem com medo de estar aqui por causa daquele bosta. 

— Mas e quanto a hoje? O que vai acontecer? — Sai perguntou, meio perdido. 

— Hoje não temos muito o que fazer. — Suigetsu suspirou, parecendo derrotado. — A gente segue com o jogo normal, mas na próxima semana, estaremos todos fechados nesse plano, certo? 

Todos concordaram. 

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— Come. — Sakura levou uma tigela de cereal para Hinata no quarto. A morena estava sentada na cama, com o lençol cobrindo as pernas enquanto permanecia pensativa. 

Hinata aceitou a tigela mas não comeu. Ficou mexendo a colher entre os grãos e leite no recipiente. 

— Você está bem? — Sakura se sentou ao lado, puxando o lençol para que colocasse as pernas ali embaixo também. 

— Eu não sei. — ela respondeu baixinho, num fio de voz rouca. 

Sasori não tinha falado com ninguém ainda. Tinha se levantando para tomar um banho e comer, mas nada além disso. Pela careta que ele sustentava, parecia estar de ressaca. Ele tinha voltado para dormir no sofá, mas ficava se mexendo de vez em quando, provavelmente pensando nas merdas que falara durante a briga, quando estava bêbado, e agora tinha que encarar as consequências disso. 

— Cadê os meninos? — Hinata perguntou. 

— Estão lá fora, conversando sobre alguma coisa. — Sakura respondeu com um suspiro. 

Ino se encontrava tentando dormir numa das camas, e Karin continuava no Chalé de Orfeu, fazendo companhia para Temari. 

— Acha que eu fodi tudo? — Hinata encarou a representante de Atena. 

— Não. Nem pense nisso. — Sakura negou rapidamente. — Se tem alguém culpado nessa história, com certeza é aquele escroto.

Hinata engoliu duramente. Ela tinha um olhar dolorido no rosto, e haviam surgido alguns hematomas em seu corpo, devido ao estresse fora do comum. Sakura também estava com alguns hematomas. 

— Por que não nos disse antes sobre ele? — Sakura perguntou do modo mais delicado que conseguiu. 

— Não sei. — Hinata murmurou dando de ombros. — Eu tava bêbada quando aconteceu. Não tinha parado para pensar direito até ontem. Na verdade, ainda nem consigo raciocinar isso tudo direito. 

— Hinata, esse tipo de coisa não se esconde. — Sakura respondeu. 

Os olhos claros de Hinata encararam a amiga de maneira reflexiva. 

— Sei lá, eu… outros caras já fizeram coisas bem piores comigo. Então o que ele fez não pareceu nada demais na minha cabeça. 

Sakura não respondeu nada, porque não soube pensar em nada para responder aquilo. Afinal, era um pensamento que exemplificava a realidade de muitas como elas. 

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— Que caralhos Ares estava pensando quando resolver me mandar pra essa merda de lugar? — Shikamaru escutou Temari resmungando quando retornou ao Chalé de Orfeu. 

Karin tinha acabado de voltar para a casa principal, para ir fazer algo para comer, e a loira se encontrava sozinha lá dentro. 

— Os deuses sabem o que fazem. — ele respondeu de maneira simples, tentando ser simpático e manter um bom clima ali. — Às vezes também me pergunto porque Poseidon me trouxe pra cá.

— A coisa mais idiota que Ares fez foi me escolher como a representante dele. — Temari resmungou enquanto Shikamaru se sentava ao lado dela, ambos olhando para o lago naquele turno vespertino. Brilhante, ensolarado e repleto de angústias debaixo da superfície. 

— Não fale isso. Todos temos nosso propósito aqui. — Shikamaru rebateu. 

— Shikamaru. — ela o encarou. — Eu estar aqui fodeu com todo mundo. 

— Não é assim. Ninguém tá com tanto medo assim de você. 

— Não estou falando de vocês, estou falando da minha tribo. — ela retrucou. — Ou você realmente acha que o fato de eu ser mulher não afetará em nada? 

— Como assim? 

— Eu sou uma mulher representando o temível deus da guerra. Isso nunca aconteceu antes. Quando essa merda de jogo acabar, o Quartel de Ares não estará mais em primeiro lugar, apenas pelo simples fato de eu não ser um garoto. 

— Você realmente acredita nisso? 

— Você quer apostar? 

Ele ficou em silêncio, vendo o quanto o assunto era sério. 

— Desde o momento em que sortearam o papel com meu nome, o Quartel de Ares foi condenado a perder sua posição. — ela disse com a voz meio embargada, tanto de raiva quanto de tristeza. — Não estaremos mais em primeiro lugar por minha causa. 

Shikamaru não disse nada. Ficou esperando que ela começasse a chorar, porém Temari não fez isso. Nunca faria. Foi criada como uma soldada que nunca demonstra sentimentos. Ela só ficou sentada olhando para a água, sem expressão alguma no rosto, embora desse pra ver a angústia silenciosa em seus olhos. 

— Sabe o que mais me deixa com raiva? — ela voltou a encará-lo. — Porque meu próprio avô deve estar apoiando Sasori neste exato momento. Eles são da mesma laia nojenta que acha que mulheres são inferiores.

— Sério?

Ela confirmou com a cabeça. 

— É isso que mais dói. — ela respirou fundo. — Saber que gente podre como ele está sendo aplaudida, e que nós seremos crucificadas por ter batido de frente com ele. 

Shikamaru baixou a cabeça, experimentando a angústia dela. 

— Vocês todos me acham forte por ser do Quartel de Ares… — Temari sorriu com amargura. — Mas tenho certeza que não tenho a mesma força de torcida que os outros representantes de Ares tinham. Não vou estar nem mesmo na final, isso eu garanto. 

#

Sakura estava sentada nos degraus da varanda, perto das três da tarde. Estava com a Caixa de Pandora na mão, observando-a fechada, e se perguntando o que teria ali dentro. 

Sasuke saiu de dentro da casa principal para chamá-la. 

— Ei. Vem almoçar alguma coisa.

— Estou sem fome, valeu. — ela deu um sorriso rápido na direção dele e depois voltou a olhar para a urna em suas mãos. 

Sasuke fechou a porta e veio se sentar ao lado dela. 

— O que foi? — ele perguntou olhando para a urna grega também. 

— Você não acha sacanagem as coisas que deixam acontecer aqui dentro? 

— Tipo o quê?

— Tipo Sasori ter assediado Hinata e nada ter acontecido com ele. Nenhuma punição nem nada parecido. 

Os olhos negros de Sasuke a encararam. 

— Nada vai acontecer com ele aqui, na frente da Grécia inteira. Mas quem garante que ele não vai sumir quando chegar lá fora? — ele devolveu com outra dúvida. 

— Acha que o Covil de Nêmesis poderia levá-lo a julgamento por isso?

— Talvez. — ele deu de ombros. — Mas se eu fosse ele, me preocuparia muito mais é com o Quartel de Ares. 

Sakura franziu o cenho, confusa. 

— Por quê?

Sasuke sorriu de canto. 

— Você não sabe? — ele perguntou baixinho e olhou para o Chalé de Orfeu. — O líder do Quartel de Ares está doente. Falam muito disso na Casa de Hades, já que já mandaram preparar o túmulo dele. 

— E o que isso tem a ver com Sasori? — Sakura perguntou baixinho, no mesmo tom. 

— Tem a ver que quando ele morrer, quem assume a tribo é o neto dele. Ou melhor, neta. — ele indicou o Chalé de Orfeu. — Nossa atual representante de Ares, para ser mais exato. O que acha que ela vai fazer quando estiver à frente daquela tribo?

Sakura piscou, surpresa com a informação. 

— Com certeza, ele vai estar no topo da lista de extermínio dela. — Sasuke comentou com acidez, e certa satisfação também. 

Sakura engoliu em seco, nervosa com aquela linha de raciocínio sombria. 

— Pra mim, já é castigo suficiente saber disso. — Sasuke explicou. — Imagina o medo com que ele vai ter conviver a partir de agora, sabendo da merda que fez e podendo pagar por isso a qualquer momento. 

— Você não acha isso… pesado demais? — Sakura perguntou. — É de dar pena. 

Sasuke voltou a encará-la daquele jeito sério. 

— Eu perdi qualquer compaixão com Sasori ontem, quando ele te chamou de vadia. — ele disse com aquela voz num tom sombrio. — Na verdade, quero muito estar na Casa de Hades quando trouxerem o corpo dele pro enterro. 

#

Conforme a noite se aproximava, Naruto ia ficando cada vez mais pensativo, principalmente vendo o modo como Sai se encontrava. O representante de Perséfone continuava dolorido. Naruto teve que colocar ataduras em volta do tronco dele, porque o roxo e a dor nas costelas estava ficando pior. 

O representante de Apolo foi um dos primeiros a se sentar no sofá e aguardar o sinal sonoro para saírem da casa principal. Suigetsu veio se sentar ao lado dele, percebendo o estado calado em que se encontrava.

— Tudo bem? — ele indagou preocupado. 

— Não posso mandar o Sai. — Naruto murmurou baixinho pra ele. — Não nesse estado deplorável. 

Suigetsu olhou para o rapaz também. 

— Então quem você vai mandar? — ele indagou. 

— Estou pensando nisso. 

Ele mal tinha fechado a boca quando escutaram o sinal sonoro ecoar por todo o acampamento. 

Dentro do quarto, os que estavam se arrumando terminaram de se vestir apressados para saírem logo. 

— Mas já? Por que tão cedo? — Ino perguntou confusa. 

Quando saíram para a varanda, perceberam que mesmo sendo noite, o céu estava com nuvens carregadas por toda a sua extensão. O vento estava forte, bagunçando os cabelos de todos, e balançando os galhos de árvores da floresta com o barulho. Iria cair uma tempestade muito em breve. 

Kakashi os aguardava no meio da clareira, já em cima do palanque. Os banquinhos coloridos estavam todos distribuídos conforme as cores das equipes pela última vez.  

Foi bem estranho para Sasuke se sentar num dos banquinhos amarelos, e não num dos vermelhos como fizera nos quatro primeiros ciclos. Naruto, no entanto, estava perdido em pensamentos para se incomodar em sentar com a equipe Cérbero. 

Sasori se sentou no banco vermelho da ponta, e Naruto sentou entre ele e as duas meninas, para estar no meio caso uma delas voasse nele durante a votação. 

Kakashi esperou todos se sentarem devidamente antes de começar. 

— Boa noite, olimpianos. Bem-vindos ao quinto e último ciclo com equipes oficiais da temporada. Hoje nós vamos começar mais cedo porque seria um pouco incômodo fazer a votação debaixo de toda essa chuva, eu suponho. — ele indicou as nuvens carregadas acima de suas cabeças. — Sakura, pode abrir a Caixa de Pandora e ler os dois poderes. 

A rosada destampou a urna com as mãos trêmulas, tanto de nervosismo quanto de frio. Teve que prender o cabelo num coque porque os fios estavam voando na frente de seu rosto e a atrapalhando devido à ventania forte. 

Enquanto lia o pergaminho branco, Sakura não se alterou com o que estava escrito, mas seu rosto empalideceu ao ler o que estava escrito no pergaminho preto. 

Ela olhou na direção de Ino com os olhos arregalados. Estava prestes a dizer alguma coisa mas Kakashi a interrompeu. 

— Sem falar nada, por favor. 

Ino a olhava de maneira confusa enquanto Sakura embranquecida. 

— Com qual dos dois você vai ficar? — Kakashi questionou. 

— O preto. — Sakura indicou o pergaminho daquela cor. — E vou entregar o branco para Hinata. 

Kakashi assentiu enquanto ela se levantava para ir até os bancos azuis, onde Hinata estava sentada. A morena pegou com certo nervosismo. Quando sakura retornou para seu lugar ao lado de Suigetsu, Deidara e Sasuke, Kakashi pediu que ela abrisse e lesse o poder preto em voz alta. 

— O dono deste poder deve trocar alguém do Chalé de Orfeu por alguém da casa principal. — ela mordeu os lábios de maneira ansiosa antes de continuar. — Eu troco a Temari pelo Sasori. 

Enquanto todos ficavam confusos com a jogada que ela tinha feito, o queixo e a ficha de Ino caíram. Um sorriso começou a brotar nos lábios dela, assim como nos de Sakura, vendo que a loira tinha entendido o que ela fizera. 

— Muito bem, Temari, por favor. — Kakashi fez um sinal para a representante de Ares, que tirou seu colar em formato de nuvem do pescoço e entregou para Sasori. — A partir de agora, Temari está disponível para votação da casa. — ele anunciou. — Hinata, por ter perdido o Desafio de Perseu, pode vir pra cá, por favor. — ele esperou que a representante de Hera viesse se juntar a ele no palanque. — Naruto, pode fazer sua indicação como Titã. 

— Claro. — o loiro engoliu em seco. — Então… acho que o pessoal de casa viu a confusão recente que tivemos aqui, e isso modificou muita coisa em questões de jogo também. Eu tinha decidido mandar o Sai para tentar não deixar a prova do Coliseu tão intensa, porém não só como jogador, mas como pessoa, eu tenho princípios que não consigo quebrar. — ele respirou fundo. — Não consigo mandar uma pessoa que está debilitada no momento simplesmente porque “seria mais fácil”, porque foi o que fizeram com Gaara na semana passada e eu achei que foi um ato um tanto quanto covarde. Inclusive deixei isso muito claro em diversas conversas, então não posso repetir o mesmo feito. Por isso, a pessoa que vou mandar hoje vai ser o Shikamaru. 

Não só o rapaz quanto os outros todos pareceram surpresos, tirando Ino e Sakura, que perceberam que Naruto tinha entendido o que Sakura fizera. 

— Shikamaru, pode se juntar a nós. — Kakashi o chamou. 

— Ficou maluco? Agora quem será puxado do Chalé se o nojento aí está imune? — Karin perguntou apontando para Sasori. 

— Fica fria, vai dar tudo certo. — Naruto lhe garantiu. 

— Vamos dar início à votação. Sakura, pode começar. — Kakashi continuou. 

— Hoje o meu voto é na Ino, puramente estratégico. — Sakura surpreendeu Sasuke, Deidara e Suigetsu, que estavam perdidos novamente. Tinham entendido que ela tinha tirado Temari do Chalé para que pudessem votar na garota, então por que agora ela estava votando em Ino? O plano não era tirar alguém de Cérbero? 

— Deidara, seu voto. — Kakashi pediu. 

— Eu…  — o loiro piscou, ainda abismado com o voto da companheira de equipe. — Eu vou votar na Ino também, para acompanhar o voto da equipe. 

— Suigetsu. 

— Vai ser na Ino também. — o representante de Dionísio respondeu olhando pra Sakura, erguendo os braços querendo uma explicação da mudança súbita de planos. 

Enquanto Kakashi perguntava a Sasuke qual o voto dele — que era o mesmo dos outros três anteriores —, Ino estalou os dedos na direção de Karin e Temari, chamando a atenção delas. 

— Ei, votem em mim. — ela disse de um jeito imperativo. 

— O quê? — Temari perguntou incrédula. 

— Você vai entender daqui a pouco. Votem em mim. — Ino respondeu e olhou para Sai, que também tinha entendido que a ordem servia para si. 

— Hinata, o seu voto. — Kakashi pediu para a moça ao seu lado. 

— Eu… eu vou votar na Ino, apesar de isso doer no momento, porque ela foi muito solidária com um acontecimento que diz respeito a mim recentemente. — a morena disse nervosa. 

No exato momento em que Kakashi perguntava a Shikamaru qual seria seu voto, ele finalmente entendeu o que Sakura tinha feito. 

— Vai ser na Ino também. — ele respondeu olhando na direção da loira. — É um voto puramente estratégico. 

Ino fez um sinal de cabeça pro amigo, agradecendo aos deuses por ele ter entendido a tempo. 

— Sai, o seu voto. — Kakashi continuou. 

— Hã… vai ser na Ino. Estamos seguindo uma estratégia que não entendi muito bem mas… — ele deu de ombros. 

— Sasori. 

Era a primeira vez que ouviam a voz de Sasori desde a confusão da madrugada anterior. 

— Hã… eu vou votar na Ino, simplesmente por ela ter me acusado de coisas absurdas na noite passada, e de ter iniciado uma confusão que envolveu a casa inteira para ficarem contra mim, então… meu voto é nela. 

Ino teve que se segurar para não rir de deboche. 

Ela olhou na direção de Sakura enquanto Temari e Karin também votavam nela. A representante de Atena também estava se segurando para não cair na gargalhada. 

— Ino, seu voto. — Kakashi pediu para a representante de Afrodite. 

— Infelizmente eu não posso votar em mim mesma. — a loira disse. — Sei lá, voto no Sai. — ela disse o nome do rapaz, que era o mais próximo de si no momento. 

— Certo, então com dez votos, Ino pode se juntar a nós. — Kakashi fez um sinal para ela. — E quanto ao Chalé de Orfeu…

— Eu chamo o Sasori. — ela nem o esperou terminar de falar. 

— Certo, Sasori. — Kakashi fez um sinal pra ele se aproximar. 

— O quê? — o ruivo ficou confuso. — Mas eu estou imune. 

— Não, sua imunidade valeria apenas para o voto do Naruto e o voto da casa. Mas não para o caso de você estar no Chalé de Orfeu. — Kakashi o explicou. — E além disso, Ino não teria outra opção, já que Shikamaru já está aqui.

Sasori olhou para Ino, que sustentava um sorriso debochado na cara. Depois olhou para Sakura, que lhe lançou uma piscadinha de olho. 

A ficha dos outros finalmente tinha caído. Suigetsu começou a gargalhar como se o mundo fosse acabar, quase caindo do banco amarelo em que estava. 

Sasori engoliu em seco e se levantou para se juntar aos três integrantes da equipe Medusa no palanque com Kakashi. 

— Para finalizar… Hinata, pode ler o poder branco, por favor. 

A morena abriu o pergaminho e leu rapidamente antes de arregalar os olhos. 

— O dono deste poder deve escolher alguém do quarteto para não enfrentar o Coliseu, ou seja, o escolhido vai direto para a votação do público. 

Agora era Naruto que estava gargalhando. 

Hinata olhou para Sakura, que fez um sinal positivo de cabeça, encorajando a amiga a seguir com o que tinha que ser feito. 

— Qual de vocês quatro você vai escolher para não ter possibilidade de salvação de encarar a votação? — Kakashi perguntou para a moça, num tom levemente encorajador também. 

— O… o… — Hinata engoliu em seco, se encolhendo e gaguejando. Não tinha nem coragem de olhar pro rapaz naquele momento. — O Sasori. 

Deidara foi a pessoa a começar a bater palmas, o que foi imitado por todos os outros integrantes sentados nos banquinhos. 

— Quinto quarteto formado, olimpianos. — Kakashi só voltou a falar quando eles terminaram a salva de palmas. — Sasori já está automaticamente na votação e não participará da prova do Coliseu de amanhã. Só os três membros remanescentes da equipe Medusa terão esse privilégio para tentar se salvar e voltar como Titã.

Nem prestaram atenção no resto das palavras do apresentador. Assim que ele os liberou, todos foram em direção à casa principal, tirando Sasori e Shikamaru, que pertenciam ao Chalé de Orfeu agora. 

— Eu escolhi a mina certa para amar, sabiam? — Karin se gabou rindo e indo dar um abraço forte em Sakura. 

— Você é minha heroína da noite. — Temari disse com um sorriso enorme para a representante de Atena. 

— O que eu posso dizer, né? — Sakura passou um braço por cima dos ombros de Ino, que ainda sorria completamente satisfeita. — Podemos ser vadias, mas isso não nos torna menos inteligentes. 

Shikamaru

Na Costa de Poseidon, temos um sistema próprio de julgamento para quem faz merda. 

Meu tio sempre me dizia que, quando estivesse pensando em fazer absurdos, era só olhar para o mar, e esses pensamentos iriam logo embora. 

Porque as coisas na minha tribo acontecem da seguinte forma: quando você faz merda, eles te amarram com cordas e te mandam numa jangada para dentro do mar, quando a maré estar bem forte e violenta. Se você sobreviver à noite, significa que Poseidon te julgou como inocente. E se não… você é culpado, e não verá mais o sol nascer. 

A primeira vez que vi isso acontecer foi com um dos meus amigos de infância. Tínhamos uns dez anos na época. Ele gostava de uma menina, mas bateu nela depois que descobriu que ela deu seu primeiro beijo em outro garoto. Um mero tapa que lhe custou tudo. 

Estava chovendo muito naquele fim de tarde, e o levaram até a praia, lhe amarrando no mastro da pequena jangada de madeira. O lançaram ao mar no exato momento em que ondas de quase três metros de altura estavam se formando. A mãe dele e os irmãos mais novos permaneceram parados no píer, assistindo a tudo à noite inteira, conforme a chuva se juntava ao mar violento, naquela dança natural tenebrosa. 

Quando amanheceu, os pedaços da jangada estavam espalhados pela praia, e o corpo do garoto também estava sobre a areia. 

Estranhamente, percebi que a mãe dele não chorou. Havia muita dor em seu rosto, mas ela não chorou em nenhum momento. 

Meu tio me contou que ela tinha sido estuprada quando era mais nova, e por isso, ela levava esse tipo de assunto bem a sério. 

Violência contra mulheres. Eu aprendi sobre isso bem cedo. 

— Isso é o que acontecerá com vocês se também quiserem machucar uma menina. — ela disse aos outros filhos enquanto o pessoal da Casa de Hades chegava para levar o corpo do filho morto. 


Notas Finais


Quarteto formato, bbs. Mais tarde sai o srteio pra sabemos qual dos três da Medusa volta como Titã lá no insta. Espero que tenham gostado e até mais <3

Cronograma de atualizações: https://docs.google.com/spreadsheets/d/1t5DKJYcCh_KA6E9p385Eqy_cw1MLKYhjYMR1-lrFvi0/edit#gid=0

Instagram: writer.plutoniana

Playlist da fic: https://open.spotify.com/playlist/5GHgPG9ZkBwObsc2pRpmeA?si=JS8JtrGdTICWXMS6CHsokw


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